Gotas de sabedoria para a vida
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Gotas de sabedoria para a vida - Hernandes Dias Lopes
Provérbios de Salomão, filho de Davi, o rei de Israel. Para aprender a sabedoria e o ensino; para entender as palavras de inteligência (Pv 1.1,2).
Salomão transcendeu a todos os reis de Israel em conhecimento, sabedoria e riqueza. Como Davi, seu pai, fora o grande rei de Israel. Ao sucedê-lo, Salomão pediu a Deus sabedoria para governar. Recebeu não apenas sabedoria singular, mas também riquezas incontáveis. Tornou-se um homem erudito, perito em ciência e douto nas questões práticas da vida. Escreveu a maior parte do livro de Provérbios, inspirado pelo Espírito Santo, a fim de repartir com as gerações pósteras princípios eternos de sabedoria que devem reger nossa vida em todas as suas áreas. Estudar o livro de Provérbios é matricular-se na escola da sabedoria. Mergulhar nas profundezas dessas verdades eternas é alargar a mente para entender as palavras de inteligência. É mister destacar que conhecimento nem sempre desemboca em sabedoria, embora a sabedoria sempre venha acompanhada de conhecimento. Sabedoria é o uso correto do conhecimento para alcançar os melhores fins. Sabedoria é aplicar o ensino recebido para viver de forma maiúscula e superlativa. Sabedoria é olhar para a vida com os olhos de Deus. É andar segundo o conselho de Deus, fazer sua vontade e deleitar-se nele. A sabedoria que afasta o ser humano de Deus é consumada loucura, mas o conhecimento que anda de mãos dadas com a sabedoria conduz o homem à felicidade.
Para obter o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo e a equidade (Pv 1.3).
O positivismo de Augusto Comte diz que o problema básico do ser humano é a ignorância. O ser humano, porém, precisa não apenas de informação, mas sobretudo de transformação. O ser humano besuntado de conhecimento, mas sem generoso procedimento, pode transformar-se num monstro. No século 20, do topo do mais refinado conhecimento, a humanidade provocou duas sangrentas guerras mundiais. Mais de 100 milhões de pessoas foram ceifadas de forma cruel. Na contramão desse conhecimento divorciado da bondade, Salomão fala sobre o ensino do bom proceder que deságua na prática da justiça, no exercício do juízo e na manifestação da equidade. Onde reina a injustiça nos relacionamentos e a opressão nos tribunais, aí fracassa o bom proceder. Onde o juízo é torcido, onde a verdade é sonegada e o culpado é tratado como inocente, aí o bom proceder cobre a cara de vergonha. Onde a equidade está ausente e o forte tripudia sobre o fraco, onde o rico prevalece sobre o pobre e os desonestos ajuntam os tesouros da impiedade, aí abrem-se largas avenidas para toda sorte de corrupção e violência. Precisamos não apenas de conhecimento, mas de ensino, ensino que desemboca no bom proceder. Não basta informação, precisamos de transformação. Não é suficiente termos luz na cabeça, precisamos ter amor no coração. Conhecimento sem bom proceder gera soberba opressora e não ação misericordiosa.
Para dar aos simples prudência e aos jovens, conhecimento e bom siso (Pv 1.4).
O livro de Provérbios não é apenas um manual de sabedoria humana, mas sobretudo uma fonte inesgotável da sabedoria divina. É um livro inspirado por Deus e, portanto, inerrante e infalível. Contém princípios eternos que oferecem prudência aos simples e conhecimento e bom siso aos jovens. Prudência é a percepção lúcida daqueles que compreendem o âmago das coisas e não se deixam enredar pelas meras aparências. Ter prudência é evitar o caminho escorregadio do erro e colocar os pés na estrada da virtude, mesmo quando se é instigado pela pressão da maioria. Até as pessoas mais simples, quando governadas pela palavra de Deus, agem com prudência. Os jovens, por sua vez, são naturalmente afoitos, atirados e às vezes lhes falta a maturidade suficiente para enfrentar os embates da vida. Porém, um jovem que pavimenta seu caminho pela instrução da palavra de Deus tem não apenas conhecimento, mas também bom siso para viver vitoriosamente. Juventude não é sinônimo de imaturidade. Há jovens sábios e maduros e idosos insensatos e tolos. O salmista chegou a confessar que, embora jovem, era mais sábio que os idosos: Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos. Sou mais prudente que os idosos, porque guardo os teus preceitos (Sl 119.99,100). A obediência à palavra de Deus é o caminho mais seguro para a bem-aventurança!
Ouça o sábio e cresça em prudência; e o instruído adquira habilidade para entender provérbios e parábolas, as palavras e enigmas dos sábios (Pv 1.5,6).
O segredo de uma vida vitoriosa é inclinar os ouvidos para dar atenção às verdades divinas. Pessoas são destruídas todos os dias por seguirem conselhos ímpios, andarem com pessoas perversas e se assentarem em rodas de escarnecedores. O sábio tapa seus ouvidos à voz dos pecadores e inclina-os à voz de Deus. Sabe que precisa crescer e não pode estacionar no território do comodismo espiritual. O prudente quer sempre crescer em prudência; o instruído sempre anseia adquirir mais habilidade para entender provérbios e parábolas, ou seja, as palavras e os enigmas dos sábios. Num mundo cinético, estacionar é dar marcha à ré. O conformismo com o bom é o maior inimigo do melhor. O comodismo é a morte do progresso. A falta de crescimento é o sinal mais evidente da decadência. Quem não cresce, atrofia. Quem não progride, recua. Quem não busca excelência no que faz, torna-se medíocre. Se nas áreas comuns da vida precisamos demonstrar esse espírito empreendedor, quanto mais nas questões eternas. Nosso alvo é chegar à estatura do varão perfeito, uma vez que fomos predestinados a sermos conformes à imagem de Cristo. Para fazermos uma caminhada rumo a essa plena maturidade, devemos afinar nossos ouvidos pelo diapasão da verdade, avançando de fé em fé e sendo transformados de glória em glória.
O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino (Pv 1.7).
Qual é a diferença entre um sábio e um louco? O sábio teme a Deus e anda nos seus conselhos; o louco despreza a sabedoria e o ensino. O que é sabedoria? Sabedoria é olhar para a vida com os olhos de Deus. É viver regido pelo ensino da Palavra de Deus. É andar nos conselhos de Deus, e não segundo os ditames do mundo. O louco é aquele que se julga mais sábio do que Deus e despreza sua Palavra. O louco substitui a cosmovisão divina pela sua própria visão. O louco vangloria-se no seu saber e escarnece do ensino que emana da palavra de Deus. O louco assenta-se no tribunal e julga a Deus, em vez de humilhar-se sob sua poderosa mão. O sábio é aquele que tem consciência que deve viver na presença de Deus, governado pela verdade de Deus, sabendo que prestará contas a Deus. O sábio não se estriba em seu próprio entendimento, nem em sua riqueza, nem mesmo em sua força. Reconhece sua dependência de Deus e anda humildemente com o Senhor. Longe de vangloriar-se de seus feitos, de aplaudir a si mesmo e satisfazer todos os desejos do seu coração, afasta seus pés do mal para viver para o inteiro agrado de Deus. O temor a Deus é o maior freio moral que uma pessoa pode ter na vida. Foi o temor a Deus que livrou José do adultério e Neemias da corrupção.
Filho meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe (Pv 1.8).
A obediência aos pais é uma receita segura para a bem-aventurança. Os filhos que honram aos pais e lhes obedecem têm a promessa de uma vida longeva e bem-sucedida. Porém, aqueles que tapam os ouvidos ao ensino e à instrução de seus pais, esses pavimentam o caminho do desastre. Muitos filhos, seduzidos por más companhias e arrastados por paixões mundanas, enveredaram-se por caminhos sinuosos e caíram em abismos profundos. Quantos jovens vivem hoje prisioneiros das drogas, cativos do álcool, presos no cipoal da impureza, porque não escutaram o conselho dos pais! Quantos casamentos acabaram em desastre porque os filhos não ouviram a orientação dos pais! Quantos fracassos morais, quantas lágrimas amargas, quantas mortes precoces, porque os filhos preferiram ouvir outras vozes em lugar de escutar seus pais! A desobediência aos pais é um sinal evidente da decadência da nossa geração. O conflito de relacionamento entre pais e filhos é uma prova insofismável do fracasso da nossa civilização. A única forma de termos famílias sólidas, igrejas saudáveis e uma sociedade justa é voltar-nos para os preceitos da palavra de Deus, que estabelece como lei moral a necessidade de os filhos obedecerem a seus pais.
Porque serão diadema de graça para a tua cabeça e colares, para o teu pescoço (Pv 1.9).
Os filhos que honram aos pais e lhes obedecem são bem-aventurados na vida. A obediência é o caminho seguro para a longevidade e a prosperidade. Essa disposição de obediência livra os filhos de muitos perigos e adorna-lhes a vida com muitas honras. O sábio compara essa obediência a um diadema sobre a cabeça e a um colar no pescoço. As imagens remetem a honra e beleza. A obediência aos pais traz honra aos filhos. A obediência aos pais torna a vida dos filhos mais suave, bela e feliz. A obediência aos pais não apenas protege os filhos de perigos mortais, companhias nocivas e lugares escorregadios, mas também os toma pela mão para levá-los a um lugar alto de segurança, a um jardim engrinaldado de felicidade e a uma sala adornada de honra. Filhos, escutem seus pais! Honrem a seus pais! Os pais são a autoridade de Deus em sua vida. Rejeitar essa autoridade é insurgir-se contra o próprio Deus. Obedecer aos pais é colocar-se debaixo da própria autoridade de Deus, que delegou a eles a responsabilidade de criar os filhos na disciplina e admoestação do Senhor. Você quer ser bem-aventurado na vida? Escute seus pais! Quer fazer um casamento feliz? Escute seus pais! Quer ser bem-sucedido em sua vida profissional? Escute seus pais! Quer viver de forma maiúscula e superlativa? Escute seus pais!
Filho meu, se os pecadores querem seduzir-te, não o consintas (Pv 1.10).
Muitos filhos criados com amor e desvelo pelos pais perderam-se nos labirintos da vida, porque em um dado momento foram seduzidos por más companhias e arrastados para as regiões escuras e lôbregas dos vícios mais destruidores. Aqui há uma exortação solene aos filhos. Eles precisam ficar precavidos. Há pecadores que andam espreitando crianças, adolescentes e jovens com o intuito de arrastá-los para o abismo da iniquidade. A arma que esses pecadores usam para capturar os incautos é a sedução. Eles mostram o prazer imediato do pecado e escondem suas trágicas consequências. Apresentam o pecado como uma pílula dourada, mas escondem que esta possui um veneno mortal. O pecado é uma fraude. É assaz enganoso. Promete felicidade e traz desgosto. Promete liberdade e escraviza. Promete vida e mata. Os pecadores não se contentam em caminhar sozinhos pelas veredas sinuosas do pecado; querem atrair outros para engrossarem essas fileiras. Por isso, armam sua rede na porta das escolas, jogam seu laço sedutor sobre filhos desapercebidos a fim de capturá-los e arrastá-los para o reino da escuridão e da morte. O conselho de Deus é: não caia nessa rede sedutora. Fuja do conselho dos ímpios, afaste-se do caminho dos pecadores e não se assente na roda dos escarnecedores. Livre sua alma da morte!
Se disserem: Vem conosco, embosquemo-nos para derramar sangue, espreitemos, ainda que sem motivo, os inocentes (Pv 1.11).
O convite para se matricular na banda pobre do crime é estranhamente sedutor. Os agentes do mal transformam a violência em coisa atraente e lucrativa. Fazem uma propaganda entusiasta do crime e apontam os benefícios de uma vida que caminha ao arrepio da lei. O sábio alerta os jovens a taparem os ouvidos à voz desses arautos da violência. Mostra-lhes o perigo de cederem a essa sedução perigosa. O convite não esconde seus propósitos nefastos. O convite é para se juntar a gente que já perdeu a sensibilidade e se rendeu ao crime. O convite é para entrar num estilo de vida marcado por tramas, mentiras e engano. Ou seja, para viver de emboscada em emboscada, nas regiões lôbregas da falsidade. O convite é para tornar-se uma fera selvagem, um monstro social, que derrama sangue não de gente culpada, mas de gente inocente, por motivos torpes. Andar com pessoas cujas vestes estão manchadas de sangue e ceder às suas palavras sedutoras para aderir ao crime é entrar por um caminho de desastre, cair num abismo profundo e antecipar irremediavelmente a morte. Ah, quantos jovens foram arrastados por essas torrentes da impiedade! Quantos pais choram amargamente por ver seus filhos jogados nas prisões ou assassinados precocemente, porque caíram nessa armadilha mortal! O princípio permanece: Não ande com gente violenta!
Traguemo-los vivos, como o abismo, e inteiros, como os que descem à cova (Pv 1.12).
A proposta dos agentes do mal é conseguir adesão ao projeto sanguinário deles, ou seja, emboscar contra pessoas inocentes, por motivos banais, a fim de derramarem sangue. Esses embaixadores da morte não apenas maquinam o mal, mas também o executam com requinte de crueldade. Não nutrem nenhum temor a Deus nem respeito pela vida humana. Desde que seus caprichos nefandos sejam atendidos, estão dispostos a sequestrar, roubar e matar. Não querem, porém, fazer isso sozinhos. Buscam engrossar suas fileiras, atraindo para seu grupo da morte jovens descuidados. Usam o instrumento da sedução para alcançar seu intento maligno. Buscam atrair para sua rede de morte aqueles que tolamente deixam de ouvir o conselho de seus pais. Os que andam na região cinzenta e nebulosa do perigo, flertando com o pecado e buscando saciar o coração nas taças borbulhantes das aventuras, tornam-se vulneráveis às investidas dos promotores da violência e dos protagonistas da morte. Que Deus conceda discernimento aos nossos jovens, dando-lhes prudência para afastarem seus pés desses caminhos escorregadios, rompendo qualquer vínculo com os falsos amigos, que só puxam para baixo, só influenciam para o mal e só provocam destruição por onde quer que passam.
Acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos de despojos a nossa casa (Pv 1.13).
O dinheiro adquirido com violência é uma maldição. A riqueza que vem como resultado do roubo e do derramamento de sangue torna-se o combustível para destruir os próprios transgressores. Não é pecado ser rico; pecado é amar o dinheiro. Não é pecado termos dinheiro; o problema é o dinheiro nos ter. Não é pecado carregar dinheiro no bolso; o problema é entronizar dinheiro no coração. Muitas pessoas, por amor ao dinheiro, mentem, roubam, sequestram e matam. Outras, por amor ao dinheiro, casam-se e se divorciam, corrompem e são corrompidas, distorcem a lei e pervertem o direito. A motivação para a violência é o desejo de acumular bens. O brilho da riqueza tem fascinado multidões, transformando homens em feras, jovens em monstros, pessoas de bem em ladrões incorrigíveis. A ganância insaciável é o útero no qual se gestam crimes hediondos. Desde o narcotráfico até o assalto aos cofres públicos, temos visto delinquências inspiradas por esse desejo insaciável de pilhar o próximo e acumular o que é alheio. Os bens roubados não são preciosos, nem a casa pode ser verdadeiramente feliz quando cheia de despojos oriundos do crime. Essa riqueza produz tormento. Essa fortuna desemboca em vergonha, opróbrio e prejuízos irremediáveis. Esse pacote tem cheiro de enxofre, e o seu fim é a morte.
Lança a tua sorte entre nós; teremos todos uma só bolsa (Pv 1.14).
O segredo de uma vida feliz é apartar-se daqueles que deliberadamente andam no caminho da perversidade. Esses agentes da ilegalidade, protagonistas do crime, feitores de males são proselitistas perigosos, que lançam sua rede sedutora para arrastar incautos para seu cartel do crime. Nesse projeto de engrossar suas fileiras, buscam alianças e fazem promessas. Querem parceiros e garantem vantagens. Chamam para a aventura e dizem que esse caminho é lucrativo. A bolsa coletiva na qual se acumula o dinheiro da iniquidade é, entretanto, maldita. Os valores que entram nela vêm do roubo, da opressão, da violência e do derramamento de sangue. Essa riqueza entorpece a mente, calcifica o coração, enceguece os olhos e coloca tampão nos ouvidos. Faz do homem um monstro celerado, uma fera sanguissedenta, um lobo selvagem. Ser sábio é não dialogar com esses arautos do crime. Ser prudente é nem mesmo se aproximar daqueles que vivem na marginalidade. Ser feliz é fugir não apenas do mal, mas até mesmo da aparência do mal. A felicidade não habita nas tendas da perversidade, mas está presente na casa daqueles que vivem em retidão e justiça. Não faça alianças com perversos; junte-se a pessoas que podem ajudar você a viver mais perto de Deus.
Filho meu, não te ponhas a caminho com eles; guarda das suas veredas os pés (Pv 1.15).
Há um ditado popular que diz: Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és
. Davi abre o livro de Salmos mostrando que o primeiro passo rumo à felicidade é fugir do conselho dos ímpios, não se deter no caminho dos pecadores nem se assentar na roda dos escarnecedores. Agora, Salomão, filho de Davi, na mesma toada, reforça outro lado da questão. Não é mais o justo que age positivamente ao se afastar. Agora, o justo reage positivamente não atendendo ao chamado sedutor daqueles que são veteranos no crime. Não há maior insensatez do que pensar que o crime compensa. Não há maior loucura do que se matricular nessa escola maldita para auferir vantagens imediatas. Ajuntar--se a pessoas aliançadas com a desonestidade e dar as mãos a indivíduos cuja vida está manchada de sangue é lançar a sorte numa aventura perigosa e lançar a alma num abismo profundo. O crime não compensa. Ainda que fique encoberto aos olhos das pessoas e passe ao largo da justiça humana, jamais ficará impune diante do tribunal de Deus. Portanto, aqueles que são regidos pela sabedoria fogem das más companhias e desviam seus pés dessas veredas sinuosas. As vantagens transitórias do pecado trazem prejuízos eternos. As alegrias fugazes do pecado produzem sofrimento permanente. A riqueza acumulada pela prática da violência é a mais consumada miséria!
Porque os seus pés correm para o mal e se apressam a derramar sangue (Pv 1.16).
O cartel do crime é articulado. Agentes de propaganda e marketing atraente seduzem com propostas mirabolantes. Numa sociedade em que os valores morais são invertidos, o crime ronda os palácios e a impunidade se esconde nos tribunais, muitos acreditam que o crime compensa. Alguns creem que a melhor maneira de aproveitar a vida é explorar o próximo, saquear-lhe os bens e tirar-lhe a vida. O caminho do crime, porém, é sinuoso. Sua rota é turbulenta. Seu destino é desastroso. O lucro do crime é perda; as taças borbulhantes que se levantam ao redor das mesas do crime transbordam de veneno letal. Aqueles que fazem do crime um meio de vida espalham a morte e rumam na sua direção. Provocam desastres e são o maior desastre. O conselho do sábio é oportuno: fuja daqueles cujos pés correm para o mal e se apressam para derramar sangue. Não ande com gente cujas mãos estão cheias de sangue e cujos pés não se afastam da rota da violência. Não faça aliança com aqueles que andam ao arrepio da lei, transtornam a sociedade e espalham a morte por onde quer que passam. Esses são agentes do mal e inimigos do bem. Andar com eles é entrar num beco sem saída. É se intrometer numa encrenca que acabará mal.
Pois debalde se estende a rede à vista de qualquer ave. Estes se emboscam contra o seu próprio sangue e a sua própria vida espreitam (Pv 1.17,18).
Salomão contrasta com as aves aqueles que, por ganância, se rendem ao crime. Quando o pássaro vê o caçador montar a armadilha, foge imediatamente, mas com essas pessoas acontece exatamente o contrário. Elas montam armadilha contra a própria vida e planejam a própria destruição. O pecado entorpece o ser humano e tira-lhe a lucidez. Despoja-o de discernimento e prudência. Aqueles que preparam uma armadilha para os outros caem nesse mesmo laço. Aqueles que abrem covas para os outros caem nessa mesma sepultura. Aqueles que maquinam o mal contra o próximo tornam-se vítimas de sua própria violência. O mal que intentam contra os outros cai sobre sua própria cabeça. Andar ao arrepio da lei e maquinar o mal contra o próximo é preparar uma emboscada para a própria alma. O lucro do crime tem gosto amargo. O prazer do pecado pode ser doce ao paladar, mas é amargo ao estômago. Aqueles que colocam os pés na estrada escorregadia do crime, esses descerão a um abismo profundo e terão de beber o cálice da maldade que prepararam para seu próximo. Você quer ser feliz e viver de modo seguro? Fuja daqueles que armam ciladas para seus próprios pés. Não engrosse as fileiras dos protagonistas da morte. Não faça aliança com aqueles que andam de mãos dadas com a violência!
Tal é a sorte de todo ganancioso; e este espírito de ganância tira a vida de quem o possui (Pv 1.19).
A ganância é uma sede insaciável de ter, ter sempre mais, ter de qualquer forma, ter até o que é dos outros. Ganância é amor ao dinheiro, e o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Aqueles que querem ficar ricos caem em tentação e cilada e atormentam a si mesmos com muitos flagelos. O destino de todos aqueles que são dominados pelo desejo de possuir riquezas a qualquer preço é uma vida de perturbação contínua, na qual não existe alegria verdadeira nem paz real. Essa ambição sem limites acaba destruindo a vida de quem a possui. Esse vazio que a pessoa gananciosa sente, em vez de ser preenchido com a posse de bens materiais, acaba aumentando. Quando a ganância toma o controle da vida, quanto mais a pessoa tiver, menos feliz e segura se sentirá. Na verdade, a ganância desestrutura completamente a vida de quem a ostenta. Desarticula seus valores morais. Por ganância, há pessoas que casam e descasam. Mentem e roubam. Corrompem e são corrompidas. Matam e morrem. Por ganância, há pessoas que vendem a alma ao diabo e afogam sua vida num tormento eterno. Salomão não poderia ser mais enfático: Este espírito de ganância tira a vida de quem o possui. O ganancioso perde não apenas os bens que adquiriu como fruto da violência contra o próximo, mas perde também a própria vida. Sua perda é irremediável. Sua ruína é total. Sua memória torna-se maldita para sempre!
Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz; do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras (Pv 1.20,21).
A sabedoria aqui não é uma atitude, é uma pessoa. Não uma pessoa humana, mas divina. A Sabedoria é uma personificação do próprio Deus. A Sabedoria anda pelas ruas e praças, levantando sua eloquente voz e querendo ser ouvida. A Sabedoria fala ao povo nas ruas, aos juízes nos tribunais, e por toda a cidade faz ouvir a sua voz. Num mundo encharcado de violência, numa sociedade levedada pela maldade, num contexto em que as pessoas por ganância espreitam o próximo para saquear-lhe os bens e tirar-lhe a vida, a Sabedoria ergue-se pujante e sobranceira e conclama todos para que a ouçam. Essa voz que ecoa nas ruas, nas praças, nas casas de leis, nos salões dos governantes, nas cortes, na imprensa, na mídia, nos lares e nos púlpitos, não emana da terra, mas do céu. Mesmo em face das atrocidades orquestradas por aqueles movidos à ganância, mesmo diante de uma sociedade que se bestializa, rendendo-se à violência, Deus não desiste do ser humano, mas ergue sua voz para confrontar o erro e oferecer perdão. Onde o pecado trouxe morte, a Sabedoria oferece vida. Onde o pecado trouxe escravidão, a Sabedoria oferece liberdade. Onde o pecado afastou o homem de Deus e do seu próximo, a Sabedoria oferece reconciliação. Você tem ouvido o eloquente discurso da Sabedoria?
Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento? (Pv 1.22).
Deus, personificado pela Sabedoria, dirige-se agora aos néscios, escarnecedores e loucos. O néscio é desatento e tolo. O escarnecedor é aquele que propositada e insolentemente rejeita a Deus e rende-se ao escárnio. O louco é aquele que, por causa de sua rebelião contra Deus, perdeu completamente a lucidez moral e espiritual e passou a desprezar completamente o conhecimento. Esses três níveis de decadência são um retrato da sociedade sem Deus. A pergunta do eterno Deus é: até quando? Por que o ser humano, a despeito de perceber que o pecado é uma fraude, que o crime não compensa, que os prazeres desta vida não preenchem o vazio do coração nem satisfazem a alma, continua mergulhando de cabeça nas mesmas práticas que o arruínam? Deus chama os pecadores à reflexão. Convoca-os a pensarem sobre seus valores, práticas e colheitas. Dá-lhes a oportunidade de colocarem o pé no freio e de fazerem um retorno rumo à sensatez. O caminho da salvação passa inevitavelmente pelo reconhecimento do pecado. Ninguém pode ser salvo a menos que entenda que está perdido. Ninguém pode chegar à fé salvadora a menos que se arrependa de seus pecados. Agora mesmo, Deus conclama você a uma profunda reflexão. É tempo de você virar as costas para o pecado e a face para Deus!
Atentai para a minha repreensão; eis que derramarei copiosamente para vós outros o meu espírito e vos farei saber as minhas palavras (Pv 1.23).
A Sabedoria, ou seja, o próprio Deus, clama aos nossos ouvidos e nos encoraja a atentarmos para sua repreensão. Os pecadores usam a linguagem da sedução para atrair as almas humanas para uma rede de morte, mas Deus usa a linguagem da repreensão para livrá-las da morte. Deus promete não apenas derramar, mas derramar copiosamente sobre nós e para nós o seu Espírito. O resultado desse enchimento do Espírito é que, longe de vivermos nas sendas sinuosas da transgressão, conheceremos e obedeceremos à palavra de Deus. O derramamento do Espírito é uma promessa de Deus: segura e abundante. Segura, porque quem faz a promessa é fiel para cumpri-la e, quando Deus faz, ninguém pode impedir sua mão de fazê-lo. Abundante, porque Deus não nos dá seu Espírito por medida.