A Alma E Sua Origem
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A Alma E Sua Origem - Santo Agostinho
Santo Agostinho
A Alma
e sua
Origem
Tradução: Souza Campos, E. L. de
Teodoro Editor
Niterói – Rio de Janeiro – Brasil
2018
A alma e a sua origem
Santo Agostinho
O grande Doutor, por diversas vezes em seus escritos, confessou sua impotência em resolver, simplesmente através do raciocínio lógico, o problema da alma. Um jovem africano, recentemente convertido dos donatistas à confissão católica, ficou espantado que uma pessoa como Agostinho mantivesse dúvidas sobre uma questão cuja solução lhe parecia tão fácil.
Vicente Vítor (este era o nome do noviço filósofo) tinha encontrado na casa de um padre espanhol chamado Pedro, uma das obras em que Agostinho expunha suas incertezas sobre a questão. A este padre espanhol Vicente enviou dois livros contra o grande bispo.
Um amigo de Agostinho __ o monge Renato __ encontrou em Cesarea os dois livros de Vicente Vitor, mandou copiá-los e os enviou ao bispo de Hipona, acompanhados por uma carta cheia de desculpas pela liberdade que tomava. Agostinho respondeu a ele através de quatro livros: o primeiro, dirigido ao monge Renato; o segundo, ao padre espanhol e os dois últimos ao próprio Vicente Vítor.
Introdução
¹
Um certo Vicente Vítor encontrou na Mauritânia Cesarea, na casa de um sacerdote espanhol chamado Pedro, um livrinho meu onde eu admitia, com relação à origem da alma de todas as pessoas, que ignorava se essas almas provinham da alma do primeiro ser humano e depois da de nossos pais ou se elas são criadas para cada ser humano, sem nenhuma propagação, como aconteceu com Adão. Eu declarava saber somente que a alma não é um corpo, mas um espírito.
Esse Vicente Vítor enviou a esse mesmo Pedro dois livros contra minha opinião e o monge Renato os enviou para mim de Cesarea. Após tê-los lido eu os respondi em quatro livros; um dirigido ao monge Renato, outro ao Pe. Pedro e os dois últimos ao próprio Vítor. O que eu escrevi ao Pedro é uma carta, embora, por sua extensão, seja mais um livro. Mas eu não quis separá-la dos outros.
Em todos estes livros, que tratam de temas muito graves, eu defendi minhas dúvidas sobre a origem das almas que são concedidas a cada pessoa e mostrei os numerosos erros e falsidades da presunção de meu detrator.
No entanto, como era um jovem que não poderia crescer muito rápido, mas que precisava ainda ser instruído, eu o tratei com a maior suavidade que pude e recebi dele uma retratação.
O livro a Renato começa com estas palavras: Bem-amado irmão Renato! Tivemos a prova de sua sinceridade com relação a nós, a sua fraternal benevolência e a afeição que une você a nós.
Aquele que foi enviado a Pedro, com estas: Ao nosso bem-amado confrade e sacerdote Pedro.
Os dois últimos foram dirigidos a Vicente Vítor. O primeiro começa assim: Bem amado filho Vítor. Eu quero que, ao receber este texto, você se convença de que, se eu tivesse para com você algum desapreço, eu jamais faria isso.
Livro I
Os erros de Vicente Vítor
Agostinho observa a imprudência e os erros de Vicente Vítor sobre a natureza e a origem da alma. Ele examina os testemunhos das santas Escrituras, citadas por Vicente e prova que eles não estão a favor da tese de seu debatedor.
Capítulo 1
Agradecimento a Renato.
Bem-amado irmão Renato! Tivemos a prova de sua sinceridade com relação a nós, a sua fraternal benevolência e a afeição que une você a nós. Mas você acaba de me dar um novo testemunho de sua afeição e devotamente ao me enviar dois livros escritos por um homem que eu não conhecia de forma alguma e que, nem por isso, estimo menos.
Recebi então, no último verão, os dois livros de Vicente Vítor; pois este é o nome que vejo escrito na capa dessas obras. Mas, como eu estava ausente naquele momento, eles só puderam chegar a mim lá pelo fim do outono.
Não somos unidos por uma amizade bem estreita, para que não fosse possível a você deixar de me comunicar os escritos de qualquer autor que fosse, nos quais meu nome estivesse envolvido e minha doutrina atacada? Pois você fez então o que um amigo sincero e generoso deve fazer.
Capítulo 2
Amor ao adversário e correção de seus desvarios.
No entanto, lamento vivamente ainda não ser conhecido por você, como eu gostaria de sê-lo. De fato, você não temia me ofender, me informando sobre as injúrias que um escritor se dignou me cobrir?
Mas tais sentimentos me são tão estranhos que nem mesmo me passou pela cabeça a ideia de me lamentar pelos ultrajes que eu pudesse ter recebido da parte dessa escritor. Pois, se ele, em alguns pontos, não compartilha de minhas ideias, por que ele seria condenado ao silêncio?
Declaro então, sinceramente, que lhe sou grato por ter falado, pois me deu a oportunidade de ler seus escritos.
Sem dúvida que ele deveria ter se dirigido diretamente a mim, antes de me acusar diante de terceiros. Mas, como ele não me conhecia, ele não ousou estabelecer comigo a refutação de meus escritos. Ele nem mesmo julgou necessário me consultar, por que estava bem seguro com todas as opiniões que ele emitia.
Acredito, enfim, que ele agiu para agradar um amigo que o forçou a pegar na caneta. Suponho então que, no calor do discurso, tenha escapado algumas palavras ofensivas a mim. Creio que a injúria estava longe de seu pensamento e que ele só obedeceu à empolgação das opiniões diretamente opostas às minhas.
De fato, já que um homem desconhecido se coloca como meu adversário, estou convencido de que seu pensamento vale mais do que sua linguagem e que, antes de ser um acusador, ele é um profundo convicto.
Talvez ele só tenha agido em meu interesse, pois ele sabia muito bem que seus escritos chegariam até a mim. Compreendo então que ele tenha se recusado a me ver no erro, em uma matéria na qual se acreditava possuidor da verdade.
Assim, mesmo refutando suas opiniões, devo manifestar-lhe minha gratidão por sua benevolência. Por isso o refutarei com doçura, invés de repreendê-lo com amargura. Creio estar obrigado a isso, na medida em que ele abraçou recentemente a fé católica e eu o felicito por isso. De fato, soube que ele acaba de deixar a seita dos donatistas __ ou melhor, dos rogatistas __ e se ele quer que sua conversão nos propicie uma alegria verdadeira, ele deve compreender e abraçar corajosamente a verdade católica.
Capítulo 3
A eloquência perniciosa.
Palavras não lhe faltam, para desenvolver suas opiniões. Assim, tudo o que se pode desejar é que essas opiniões sejam justas, que ele não torne atraente o que é inútil e que todos os seus arroubos de eloquência só tenham por objetivo a verdade.
Portanto, eu reprovaria em seu estilo algumas incorreções e, sobretudo, uma grande redundância. Vejo em sua carta que sua maturidade ficou chocada com esses erros. Mas eles podem ser facilmente corrigidos e, aliás, sem realizar nenhum atentado à fé, tais erros podem ser amados por mentes superficiais e tolerados pelas mentes profundas.
Temos homens espumosos em seu discurso, mas que não deixam de ser puros em sua fé². Esperemos, portanto, que esses defeitos __ que ainda seriam toleráveis, mesmo que perdurassem __ sejam corrigidos e desapareçam com o tempo. Nosso escritor ainda é um jovem. A idade e a aplicação suprirão sua inexperiência. A maturidade dos anos remediará a crueza de sua linguagem.
De fato, seria triste e perigoso, se a eloquência fosse colocada a serviço do erro. Isso seria beber veneno em um copo muito caro.
Capítulo 4
Primeiro erro: a alma nascida da substância divina.
Eu começo por assinalar os principais erros encontrados em seu texto. Ele afirma __ e com razão __ que a alma foi criada por Deus e que ela não é nem uma parte e nem da natureza de Deus. Mas, como ele não quer que ela tenha sido tirada do nada e ele não cita nenhuma criatura de onde a alma pode ter sido criada, somos levados, necessariamente, a concluir que foi de sua própria natureza que Deus tirou a alma, já que ele não a tirou do nada e nem de nenhuma criatura.
Vicente acredita ter escapado desta conclusão e não sabe que ela decorre naturalmente de seus princípios, de sorte que a alma não seria outra coisa além da própria natureza de Deus. Seguir-se-ia daí que Deus teria se servido de sua própria natureza para fazer alguma coisa e que o criador dessa coisa teria sido ele próprio sua matéria. Por consequência, a natureza de Deus teria sido submetida a uma mudança e condenada pelo próprio Deus a decair de seu estado de imutabilidade primitiva e absoluta.
Sua inteligência é bem correta e muito fiel para não compreender logo que tal doutrina é diretamente contrária à fé e, como tal, deve ser energicamente rejeitada.
Dirão que essa alma foi feita do sopro de Deus ou que o sopro de Deus se tornou a alma e que, assim, a alma não foi criada de Deus, mas, do nada, por Deus?
Quando uma pessoa sopra, ela não tira seu sopro do nada, já que ela só faz devolver ao ar ambiente o que ela tirou dele. Suporemos então que Deus estava rodeado de ar, que aspirou uma certa quantidade dele e em seguida o expirou sobre a face do homem e, desta maneira, lhe criou uma alma. Nesta hipótese, o sopro de Deus não poderia ser uma parte dele mesmo, mas uma quantidade mais ou menos grande do ar ambiente que o rodeava.
Mas, longe de nós o pensamento de negar que Deus pôde tirar do nada o sopro de vida que fez do ser humano uma alma viva! Longe de nós as cruéis angústias no seio das quais estaríamos reduzidos a pensar que Deus precisou de outra coisa além dele mesmo para formar esse sopro ou mesmo que foi de sua própria natureza que ele formou essa alma que vemos essencialmente sujeita à mudança!
Tudo o que é feito dele deve necessariamente participar de sua natureza e ser essencialmente imutável. Ora, todos concordam que nossa alma é sujeita à mudança. Ela não é, portanto, feita da natureza de Deus, já que Deus é, essencialmente, imutável. Se então, nossa alma não foi tirada de nenhuma outra natureza, ela foi tirada necessariamente do nada e criada por Deus.
Capítulo 5
Novo erro: o ser humano composto por três elementos corpóreos.
Ele afirma em seguida que nossa alma não é um espírito, mas um corpo. Podemos duvidar desta afirmação, quando o ouvimos afirmar que somos compostos, não de uma alma e de um corpo, mas de dois e até mesmo de três corpos?
Somos formados, ele diz, de um espírito, de uma alma e de um corpo e estes três elementos são realmente três corpos. Isto não é o mesmo que dizer que somos um conjunto de três corpos? É a ele e não a você que eu gostaria de demonstrar todos os absurdos que decorrem de um princípio assim.
No entanto, este erro ainda é tolerável em uma pessoa que não sabe ainda que pode existir tal substância que, sem ser um corpo, pode apresentar exteriormente uma semelhança a ele.
Capítulo 6
A alma maculada pela carne antes de unir-se a ela.
Mas, podemos tolerar, em seu segundo livro, a solução que ele tenta dar à difícil questão do pecado original, no que diz respeito ao corpo e à alma, se supusermos que a alma não nos é transmitida por via da geração, mas é, em nós, o resultado de um novo sopro de Deus?
Eis então o caminho que ele propõe para resolver essa profunda e fatigante questão: Não é sem uma razão bem sábia que a alma recobre pela carne o antigo hábito que ela parecia ter insensivelmente perdido para a carne e é assim que ela começa a renascer pela carne, como foi por ela que ela mereceu ser maculada
.
O que pensa você de uma pessoa que ousa desafiar as profundezas do precipício e decidir que foi pela carne que a alma mereceu ser maculada? Ele pode então nos explicar como a alma, antes de estar unida à carne, mereceu ser maculada por ela? De fato, se foi pela carne que a alma mereceu a mácula do pecado, que ele nos diga, se puder, como a alma, antes de seu pecado, mereceu ser maculada pela carne.
Essa triste condenação de ser jogada em uma carne culpada, para nela contrair uma mácula, ou bem lhe vem de sua natureza ou bem __ o que é pior ainda __ ela recebeu de Deus. Não se dirá, eu penso, que essa condenação ela o recebeu da carne antes de estar unida a ela e que foi por ela que ela mereceu ser jogada na carne para contrair sua mácula. Se essa condenação ela deve a ela mesma, como ela pode tê-la adquirido, já que antes de sua união com a carne ela não cometeu nenhuma falta? Ela a teria recebido de Deus? Mas isso é uma blasfêmia que ninguém tolerará e que não se pode cometer impunemente.
Eu não pergunto aqui qual falta a alma pôde cometer depois de sua união com a carne, para merecer ser condenada; mas como, antes de ser unida à carne, ela pôde merecer ser unida à carne para contrair sua mácula. Eu espero uma resposta da parte daquele que ousou dizer que a alma mereceu ser maculada pela carne.
Capítulo 7
Fujamos de fazer de Deus cúmplice do pecado original.
Em outra passagem do mesmo livro, querendo resolver essa mesma questão na qual ele se envolveu imprudentemente, Vicente Vítor atribui aos seus adversários as seguintes palavras: Por que Deus golpeou a alma com um castigo tão injusto a ponto de relegá-la a um corpo de pecado e condená-la a se tornar pecadora através dessa união com a carne, quando ela não podia pecar sem essa carne?
Envolvido nesse abismo cheio de armadilhas, ele teve que procurar escapar do naufrágio e não se lançar em um impasse de onde só poderia sair recuando, ou seja, repensando sua imprudência.
Ele quis então, mas em vão, se livrar da presciência de Deus. Essa presciência conhece antecipadamente os pecadores que Deus deve curar, mas não é ela mesma que os torna pecadores. Supor que Deus livra do pecado as almas que ele mesmo jogou, inocentes e puras, no pecado, seria supor que ele próprio cura o ferimento que