Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Tribos de Israel 2

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 21

AS TRIBOS DE ISRAEL: EXEMPLO HISTRICO DE

EMPODERAMENTO DOS MARGINALIZADOS

William Csar de Andrade

As narrativas bblicas que tratam do perodo tribal em Israel apresentam


um processo de ampla durao histrica, quando os pobres, em grande
parte migrantes, se recusaram a continuar submissos ao imprio egpcio
e seus operadores regionais os reis em Cana. Por quase 200 anos as
tribos resistiram ao estado tributrio e aos diversos mecanismos sociais,
econmicos, religiosos e polticos que o sustentavam. Fizeram isso a partir
de uma experincia ampla de empoderamento, expressa nas diversas
instituies vigentes nas tribos de Israel. Essa memria pode nos inspirar
em nossas buscas por um outro mundo possvel e necessrio.
Palavras-chave: Empoderamento; Tribalismo; Histria de Israel

Introduo:
Diante dos desafios da globalizao e mundializao econmica
neoliberal, os movimentos populares e as diversas articulaes que atuam
em vista da construo de um outro mundo possvel e necessrio encon-
tram srias dificuldades em gerar formas de organizao e poder que sejam
alternativas ao modelo vigente, apresentado como nico e desejvel.
No so de hoje as tentativas de imposio de caminhos nicos. Os
imprios sempre se utilizaram de ideologias totalizantes e, por isso, avessas
crtica interna e a processos de mudana social, econmica e poltica.
fato conhecido como o imprio romano, no tempo de Jesus Cristo, fazia de
seu discurso ideolgico a Pax romana a nica possibilidade de estabili-
dade social e desenvolvimento para os povos submetidos e/ou vinculados
a Roma. A mesma lgica esteve presente na globalizao helenista que se
seguiu ao breve reinado de Alexandre (330-323 a.e.c). Simultaneamente
* Professor de antropologia da religio e tica na Universidade Catlica de Braslia, membro do Centro
de Estudos de Histria da Igreja na Amrica Latina (CEHILA-BR), da Sociedade de Teologia e Cincias
da Religio (SOTER-GO) e da Associao Brasileira de Histria das Religies (ABHR). Braslia / Brasil.

Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009 269
As tribos de israel: exemplo histrico de empoderamento dos marginalizados

s vitrias dos gregos nos campos de batalha ia ocorrendo a assimilao


e/ou a destruio de resistncias e identidades locais.
Hoje, bem como no passado, a expanso dos imprios e de seus in-
teresses econmicos e polticos se faz custa de pessoas e grupos humanos
subalternizados, sendo muitos forados migrao. Por um lado, a mobilidade
dos pobres, ao contrrio da mobilidade dos capitais e das elites mundiais,
vista como um problema e algo que precisa ser resolvido por leis severas de
controle migratrio. Por outro lado, perpetua-se nos pases desenvolvidos
uma significativa populao de indocumentados e ilegais, usados, entre outras
coisas, como mo de obra barata descartvel e sem direitos sociais.
Na Bblia encontram-se, alm das memrias e feitos dos imprios
(Egito, Assria, Babilnia, Prsia, Grcia e Roma), uma permanente presena
de enfrentamentos a esses poderes e a seus aliados locais. Para muitos estu-
diosos da Bblia a tradio literria um indicativo de processos histricos
de longa durao marcados pela Aliana entre os segmentos marginalizados
e empobrecidos de Israel e a divindade, vista como dinamismo libertador e
fonte geradora de uma nova ordem social, poltica, econmica e religiosa.
Na histria de Israel, no perodo anterior s tribos, mas diretamente
relacionado com seu surgimento, ocorre um perodo de extrema mobilida-
de humana. Isso fica evidenciado em alguns dos grupos que constituram
Israel, tais como:
a) Os grupos seminmades por sua condio de pastores de rebanhos
de pequeno porte (ovelhas e caprinos) viviam uma mobilidade
cclica em busca de pastagens e gua. Sua movimentao cclica
e percorre um territrio tradicionalmente estabelecido. Contudo,
a expanso urbana em Cana, bem como a presena de exrcitos
na regio, tornam ainda mais difcil a continuidade de seu estilo
de vida.
b) Camponeses empobrecidos e sem condies de continuar a trabalhar
a terra, vem na migrao para as montanhas de Cana uma sada
vivel para se proteger das cidades-estado e fugir da cobrana dos
tributos e das dvidas acumuladas. Migrantes internos estes pobres
so vistos pelas autoridades como vagabundos, desordeiros e at
mesmo bandidos perigosos (hapirus).
c) No Egito, apesar de no ser grande o nmero de escravos, sua
populao constituda por pobres de diversas etnias, que
chegaram l por dvidas ou mesmo como do esplio das guerras.
So conhecidos pelos egpcios como hebreus = estrangeiros e no
gozam de nenhum direito ou proteo social por parte do estado.

270 Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009
William Csar de Andrade

O grupo constitudo por Mriam, Aaro e Moiss, juntamente com


os chamados ancios do povo, em sua origem multitnico, fruto
dos deslocamentos populacionais forados pelo imprio.
esta realidade migratria e de opresso que leva Comblin a afirmar
categoricamente que o povo que origina as tribos de Israel colocou-se a
caminho e produziu uma organizao social inovadora: No Egito o povo
de Israel um povo de pobres, oprimidos, marginalizados. O povo que
conquistou a terra de Cana, destruiu as cidades-estados que a predomi-
navam e criou uma nova sociedade, era um povo de pobres.1
Israel em sua origem era um povo de pobres diante da suntuosidade
do Egito e seus faras. O impossvel, ou pelo menos improvvel, ocorreu:
os marginalizados derrotaram o opressor e abriram caminhos viveis para
a realizao de um outro mundo. Para que essa possibilidade histrica
de mudana e, portanto, ruptura com a ordem vigente pudesse existir, foi
preciso um processo de empoderamento dos pobres. Uma definio sim-
plificada de empoderamento pode fornecer elementos interessantes para
essa reflexo:
...desenvolvimento das capacidades (capabilities) das pessoas pobres e
excludas e de suas organizaes para transformar as relaes de poder
que limitam o acesso e as relaes em geral com o Estado, o mercado e a
sociedade civil. Assim, atravs do empoderamento visa-se que essas pessoas
pobres e excludas venham a superar as principais fontes de privao das
liberdades, possam construir e escolher novas opes, possam implementar
suas escolhas e se beneficiar delas.2

No Israel tribal, bem como no caminho percorrido pelos diversos


grupos que nele resultaram, h diversas formas de superao das realidades
que oprimiam os pobres e excludos dentro do imprio egpcio. As relaes
de poder ao interior do movimento de libertao que originou as tribos de
Israel tinham que ser qualitativamente diferenciadas da lgica dominante.
Exemplo disso est no modo como a liderana entre os que caminharam
pelo deserto foi estabelecida: E Moiss escolheu homens capazes em todo
o Israel, e os ps por cabeas sobre o povo chefes de 1000, chefes de
100, chefes de 50 e chefes de 10. E julgavam o povo a toda hora: as coisas
pequenas julgavam eles. (Ex 18,25-26).
Evidentemente as estratgias de empoderamento no esto dadas
num determinado modelo. Elas brotam da realidade social concretamente
vivida pelos segmentos sociais empobrecidos e alienados dos principais

1
COMBLIN, Jos. Os pobres como sujeito da histria, p. 40.
2
ROMANO, Jorge O. Empoderamento: recuperando a questo do poder no combate pobreza.

Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009 271
As tribos de israel: exemplo histrico de empoderamento dos marginalizados

espaos de poder existentes numa determinada sociedade. Nas tribos de


Israel possvel perceber algumas dessas estratgias, tais como:
a) O estado tributrio era representado pelo fara e pelos reis das
cidades-estado de Cana, sendo que qualquer possibilidade de
mudana passava necessariamente pela ruptura com estes govern-
antes. Da a busca por um poder poltico no centralizado e nem
mesmo hereditrio;
b) A dominao exercida pelo estado tributrio se dava a partir de
dois canais, a coero aos opositores e o controle ideolgico dos
subalternos realizado em grande parte pelo sistema religioso cen-
tralizado nos templos e nos ciclos da natureza. A superao da
dominao passava necessariamente pela capacidade de resistir ao
fara e seus sequazes e de produzir um novo conjunto de exper-
incias religiosas que legitimassem esse processo;
c) O estado tributrio detinha em suas mos o controle em torno dos
meios de produo da poca (a terra, a mo de obra) bem como
da distribuio/comercializao dos excedentes, por meio da cor-
veia, dos dzimos pagos nos templos e de outras taxaes. Para que
as tribos fossem uma efetiva alternativa de poder dos empobreci-
dos essa lgica no poderia existir.
Estas e outras questes relativas ao empoderamento dos grupos/
segmentos sociais que originaram o Israel tribal estaro presentes na sequ-
ncia desta reflexo, de modo que, ao se fazer memria dos relatos bblicos
desta experincia popular de resistncia e efetiva construo de um outro
mundo possvel, tambm possamos nos desafiar a fazer o mesmo em nossa
realidade atual.

O lugar das tribos no oriente antigo


Uma afirmao central sobre as tribos , sem dvida, seu carter
de oposio ao estado, no modo como ele estava organizado na regio de
Cana. Schwantes explicita essa relao de oposio ao afirmar que: Nestes
ltimos tempos, voltamos a entender o tribalismo como uma estrutura social
e econmica oposta ao tributarismo estatal. Neste caso no existe transio
natural de um ao outro, pois o tribalismo no um sistema pr-estado,
ele antiestado.3

3
SCHWANTES, Milton. As monarquias no Antigo Israel. Um roteiro de pesquisa histrica e arqueol-
gica, p. 11.

272 Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009
William Csar de Andrade

As tribos foram uma proposta real e efetiva de enfrentamento do


modelo dominante de organizao da sociedade ao efetivar novas relaes
sociais, econmicas, polticas e religiosas. Ainda que existam grandes di-
vergncias entre os estudiosos da histria de Israel quanto ao modo como
as tribos agiam enquanto entidade poltica, consensual a percepo de
que no perodo tribal houve uma articulao entre tribos e h inmeros
relatos bblicos que sustentam essa posio, como por exemplo Js 24; Jz 4
e 5, dentre outros.
O enfraquecimento do controle egpcio sobre a regio de Cana
apontado como um dos fatores significativos para a crise que se estabeleceu
na regio. Nas correspondncias de Tell El Amarna, enviadas por alguns reis
das cidades-estado, aparecia o clima de intranquilidade e violncia local. Um
historiador faz um balano da situao ao estudar essas cartas: Os vassalos
mandam cartas hipcritas de submisso a Tebas ou a horizonte de Atom
(Tell El Amarna); outros, desesperados, imploram sem xito por socorro
militar contra usurpadores, hapiru, nmades sutu e sabe-se l quem.4
Os hapirus sempre tm sido relacionados s tribos de Israel. Alguns
autores acreditam que esse termo pode ser usado como equivalente a
hebreu. Entretanto, preciso ressaltar que os hapirus eram claramente
apresentados como inimigos do imprio Egpcio e aparecem em textos an-
tigos, tais como o de Tell El Amarna, atacando cidades em Cana, atuando
como mercenrios ou em interesse prprio. No se submetem ao controle
de ningum e usam o deserto como seu principal lugar de refgio. O grupo
de Moiss certamente se assemelha em diversos aspectos aos hapirus.
Outro fator que precisa ser levado em conta foi a pauperizao
da populao local, que efetivamente ficou sem condies de cumprir
com as obrigaes econmicas (a corveia e outros tipos de tributos) e no
usufrua da proteo que originalmente as cidades-estado prometiam aos
camponeses que estavam estabelecidos em suas proximidades. Schwantes
detalha as consequncias advindas desta conjuntura:
No podendo aumentar os tributos ou at no tendo o que arrecadar, o
estado aperfeioa a corveia, de sorte que o agricultor passa a trabalhar mais
intensamente para os senhores da cidade; (2) no podendo pagar seus
tributos e suas dvidas, o campons pressionado para dentro da escravido,
isto , vende a si mesmo e a sua famlia para saldar as dvidas em tributos
e emprstimos.5

4
DONNER, Herbert. Histria de Israel e dos povos vizinhos. Dos primrdios at a formao do estado,
p. 43.
5
SCHWANTES, Milton. Histria de Israel. Local e origens, p. 49.

Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009 273
As tribos de israel: exemplo histrico de empoderamento dos marginalizados

Em sntese, as tribos esto em estreita conexo entre a resistncia


ao opressor egpcio, a caminhada pelo deserto e o incio das tribos em
Cana. Este processo fundamentou-se numa compreenso diferenciada
sobre Deus, de tal modo que o Altssimo, ser o Senhor dos escravos, das
prostitutas (veja a histria de Raab em Js 2 e 6), dos seminmades (como
era o povo de Jetro, o sogro de Moiss) e dos camponeses marginalizados
em Cana. A Aliana com o Altssimo ser um dos temas fundamentais na
histria e na religio do povo de Israel.
O perodo tribal em Israel durou aproximadamente 200 anos, indo
de 1250 a 1050 a.C, sendo que pouco conhecemos sobre o cotidiano das
tribos, pois os textos bblicos que tratam desse perodo, em sua maioria,
foram escritos bem posteriormente aos acontecimentos e, quase sempre,
olhavam para o passado como um momento difcil e confuso de Israel,
marcado por muitas guerras os principais juzes foram tambm chefes
militares. Entretanto, pode-se afirmar que nas tribos deu-se continuidade
ao caminho iniciado com o xodo.

A organizao social tribal


A tribo, em geral, o conjunto de cls que possuem em comum os
antepassados, as divindades e o territrio que ocupam. Winters detalha o
que estava na base dessa sociedade:
Na sociedade agrria do Israel pr-monrquico a unidade bsica era a famlia
extensa, denominada geralmente bet-ab (PL. bet-abot) ou casa paterna,
embora s vezes aparea tambm o termo bet-im, casa materna. Este grupo
normalmente se baseava em relaes de sangue e consistia em duas ou mais
famlias nucleares que incluam vrias geraes de parentes. O bet-ab pode
ter abrangido at cinquenta ou cem pessoas no total, embora os problemas
de doena, guerra, fome e esterilidade significassem que muitas famlias
contavam com nmeros mais reduzidos e lutavam para sobreviver.6

A famlia em sua expresso mais ampla os cls est na base da


sociedade. a partir dela que se organizam a vida econmica, o culto, o
recrutamento para as guerras e tambm a prpria poltica. Enquanto con-
junto de famlias extensas (mispahah) cada tribo perpetua a memria de um
pai e me fundadores do povo, busca controlar um territrio, estabelece
lugares coletivos de culto um santurio e se mantm em contato com as
demais tribos existentes na vizinhana. isso que est presente na imagem
dos 12 filhos de Jac como fundadores das doze tribos. A mispahah deve ser

6
WINTERS, Alcia. O Goel no Antigo Israel, p. 19.

274 Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009
William Csar de Andrade

entendida tambm como uma associao protetora e tinha vrias funes


de proteo e de continuidade dos direitos sociais entre as famlias:
Essa unio pretendia proteger as famlias, quando estas enfraqueciam ou
empobreciam. s vezes o enfraquecimento se dava por falta de filhos. Neste
caso, a associao protetora devia preocupar-se com casamentos e com a
descendncia. Outras vezes famlias empobrecidas perdiam o direito terra
por causa de dvidas ou da morte dos homens. Mulheres no tinham direito
terra. Neste caso, a associao devia resgatar a propriedade da famlia. Um
bom exemplo disto encontramos no livro de Rute.7

visvel nos dez mandamentos, tambm conhecidos como as dez


palavras (Ex 20; Dt 5,22ss), aspectos relevantes da ordem social tribal, e,
por isso, eles podem ser considerados como a carta magna de Israel. Os
mandamentos so codificao fundante para o conjunto das leis que Israel
foi elaborando ao longo de sua histria. Mesters, numa linguagem bem
simples e direta, indica o que estava na origem destes mandamentos:
A Bblia diz que Deus conhece as angstias do seu povo. Ele ouviu o clamor
e escutou nele vrias angstias (Ex 3,7). Em cada angstia descobriu uma
causa. Para cada causa, por assim dizer, ele colocou uma lei, um mandamento.
Assim, cada mandamento combate uma das muitas causas de opresso que
faziam o povo chorar e gritar l no Egito e, at hoje, fazem o povo chorar e
gritar no Egito de sempre!8

As angstias trazidas por uma realidade de excluso social e subal-


ternidade de povos inteiros mencionados de forma esquemtica a partir
dos pais fundadores de tribos, num longo processo de resistncia abriu
caminho a uma nova ordem e jurisprudncia. Nos mandamentos esto os
fundamentos de todo o ordenamento jurdico, as bases do direito consuetu-
dinrio em Israel. claro que a constituio destes dez mandamentos deve
ser vista como algo processual e de longa durao9, e entre muitos aspectos,
comum a todas as sociedades humanas, da alguns afirmarem que so leis
naturais. A linguagem bblica situa o surgimento destes mandamentos no
contexto da revelao no monte Sinai, e os vincula a Moiss, considerado
pelo povo como o seu maior legislador.

7
DREHER, Carlos A. O livro de Juzes. Um subsdio para a sua leitura, p. 19.
8
MESTERS, Carlos. Os dez mandamentos. Ferramenta da comunidade, p. 12.
9
WESTERMANN, Claus. Teologia do Antigo Testamento. O autor reconhece que os cdigos legais
formaram-se aos poucos e trabalha com uma noo interessante de mandamento, lei e preceitos, de
modo que: pela forma...o mandamento simples: No fars...; a lei dupla, composta de fato e da
conseqncia legal: Quem fizer tal coisa, ter que arcar com tal ou tal conseqncia. O preceito evento
direto entre Deus e o homem, orientao ou indicao do caminho a seguir (cf. Gn 12,1); a lei, porm,
sempre ligada a uma instituio humana em dependncia de uma instncia executiva (p. 152).

Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009 275
As tribos de israel: exemplo histrico de empoderamento dos marginalizados

Nos dez mandamentos encontramos preceitos que legislam sobre a


totalidade da vida social daquela poca, mas esquematicamente podemos
situ-los com relao divindade, aos grupos primrios e ordem social:
Mandamentos referentes relao com Deus: exigem fidelidade
absoluta ao Santo e nico Deus, probem a idolatria e o fabrico
de imagens. Estes mandamentos tm sua origem no processo de
libertao dos escravos no Egito - xodo, na consolidao da Al-
iana tribal na Palestina em oposio s cidades-estado cananeias,
e de modo tardio na afirmao do Todo Poderoso como o Deus
do Estado de Israel, no perodo monrquico. Entretanto, preciso
salientar que s se pode afirmar o monotesmo como uma f tpica
do povo judeu aps o sculo IV a.e.c, com as atuaes de Esdras
e Neemias.
Mandamentos referentes relao com os grupos primrios: a
famlia e o cl - mishparat, constituem a base de todo o Israel tribal
e a prpria sobrevivncia do grupo est condicionada continui-
dade da solidariedade e da fraternidade entre as diversas famlias.
Mandamentos como honrar pai e me, no matar etc., funda-
mentam vnculos que estabelecem limites violncia interna e as-
seguram em termos igualitrios a aplicao da justia nas tribos.
A figura do Goel (vingador, defensor de sangue) funciona como
mediador entre os conflitos e porta voz dos mais fracos ou menos
favorecidos10. O livro de Rute demonstra o quanto podia ser feito
pelo Goel.
Mandamentos referentes ordem social mais ampla: aqui se legisla
sobre a propriedade e o necessrio cuidado para no se romper o
delicado equilbrio social. Preservar os bens pessoais, incluindo-se
aqui esposa e filhos efetivamente garantir ao interno das famlias
e das tribos um mnimo de paz.
Este ordenamento jurdico de fato nasce na sociedade tribal, mas
continua sua formulao no decorrer do perodo monrquico de Israel.
Deste modo, livros como o Levtico e o Deuteronmio expressam o pro-
cesso histrico de codificao da justia em Israel. As leis continuaram a ser
elaboradas na medida em que novas situaes iam surgindo, igualmente
ia-se reformulando a prpria legislao.

10
Algumas referncias sobre a figura do goel e sua atuao em Israel: WINTERS, Alcia, op. cit.; LPEZ,
Rolando. Redeno da terra e do povo.

276 Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009
William Csar de Andrade

Tendo em vista a historicidade do processo que gerou os manda-


mentos bblicos, devemos evitar a mera transposio literal dos textos para
o dia de hoje. Crusemann no deixa dvidas a respeito disso:
Na aplicao do Declogo a outros tempos e a outras pessoas, deve-se atentar
para o fato de que, originalmente, ele se destinava a pessoas libertas, contendo
regras para a preservao da liberdade: o Declogo no deve se tornar um
instrumento de subjugao, domesticao e privao da liberdade.11

A organizao econmica tribal


No aspecto econmico o ponto de partida a inexistncia da pro-
priedade privada da terra. Segundo Dreher
na sociedade tribal no existe propriedade privada. O meio de produo
sempre coletivo. A terra entre os camponeses, ou as pastagens e rebanhos
entre os pastores, so sempre propriedade do cl ou da tribo, o que quer
dizer, de toda a comunidade. A nica condio para que as pessoas possam
fazer uso dos meios de produo e do seu produto que pertenam
comunidade.12

A terra no pertence a nenhum segmento da elite (reis, nobres, sacer-


dotes, comerciantes) e sua propriedade est nas mos da prpria divindade:
a terra promessa (cf. Gn 12,6), esperana de fartura (cf. Ex 3,8) e herana
do Eterno (cf. 1Rs 21). Um relato bblico, colocado ainda no caminho pelo
deserto, explicita como que devia funcionar a economia nas tribos. Em
Ex 16 esto afirmadas as condies bsicas para que o man continuasse a
existir: a) recolher a poro adequada para cada dia (v. 4.16); b) coletar na
sexta-feira o dobro de modo a que ningum trabalhe em dia de sbado; c)
no acumular em hiptese alguma (v. 20).
evidente que no acumular riquezas era algo muito difcil de ser
implementado, pois era prtica corrente nos imprios, nas relaes mercantis
e mesmo dentro de muitas famlias da poca. Para que o projeto das tribos
seguisse adiante foi afirmado um antema, uma proibio religiosa em torno
da acumulao de riquezas. Em Js 7 isso aparece na narrativa sobre Akan e
os despojos de guerra: e vi entre os despojos um bom manto babilnico e
200 siclos de prata e uma cunha de ouro do peso de 50 siclos; cobicei-os
e os tomei, e eis que esto escondidos na terra, no meio da minha tenda,
e a prata est debaixo dela (Js 7,21).

11
CRSEMANN, Frank. Preservao da liberdade. O declogo numa perspectiva histrico-social, p.
73.
12
DREHER, Carlos, op. cit., p. 18.

Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009 277
As tribos de israel: exemplo histrico de empoderamento dos marginalizados

Mas como resolver o problema do excedente de produo?


As tribos, mesmo no tendo boas condies de produo, se compa-
radas s cidades-estado das plancies de Cana ou aos imprios do Egito e
da Mesopotmia (constitudos a partir do controle das guas), desenvolviam
uma produo razovel de cereais (trigo e cevada), frutas (uvas e azeito-
nas), criao de gado mido (ovelhas e cabras), alm de um significativo
artesanato. Dentro desta realidade, apesar de pequeno, podia surgir algum
excedente. Nestas ocasies segundo Dreher: Quando a produo maior
do que a necessidade, organizam-se festas, para consumir o excedente. Com
isso, busca-se evitar que pessoas ou grupos possam acumular o produto
para si, enriquecendo mais do que os outros.13
Sem nenhuma idealizao o prprio texto bblico indicar que no
decorrer dos 200 anos de experincia tribal houve at mesmo autoridades
do povo que chegaram a acumular riquezas. No livro dos Juzes so men-
cionados Gedeo (Jz 8,22-27), Ibsan (Jz 12,8-10) e Abdon (Jz 12,13-15) que
efetivamente tiveram em suas mos ouro, prata, jumentos e a possibilidade
do controle de cidades e casamentos arranjados para seus filhos e filhas.
A igualdade em torno da produo, da distribuio e da circulao
da riqueza nas tribos condio fundamental para a sobrevivncia desse
modelo alternativo. A desigualdade no econmico se estendia no estado
tributrio a toda a sociedade.
No estado tributrio havia centralizao do poder nas mos dos
reis, na elite que estava na corte, nos templos e no exrcito. O estado se
sustentava a partir da cobrana de impostos/tributos/taxas, em diferentes
formas. Assim, havia a corveia trabalho obrigatrio executado por uma
parcela do povo a servio das obras e/ou outros investimentos do Estado;
havia tambm impostos em produtos tanto da lavoura, quanto da pecuria
e existiam taxas e impostos diversos que deveriam ser pagos em dinheiro,
incluindo-se aqui os dzimos pagos aos templos.
Nas tribos havia a possibilidade da escravido por dvidas, como
existia nas mais sociedades da poca. Era possvel tambm que uma fam-
lia perdesse seus direitos de trabalhar a terra. Entretanto isso no resultava
em escravido e perda da terra por toda a vida. O resgate das pessoas e
das terras no ano sabtico e no jubileu fazia parte das obrigaes sociais e
religiosas tribais:
a) O cancelamento das dvidas:
Ao fim de cada 7 anos fars o ano sabtico. E este o modo do ano sabtico:
que todo credor que emprestou a seu companheiro o deixar; no reclamar
13
Ibidem.

278 Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009
William Csar de Andrade

a seu companheiro nem a seu irmo, porque chegou o ano sabtico para o
Eterno. (Dt 15,1-2)

b) A alforria dos escravos:


Se for vendido a ti teu irmo, o hebreu (ou tua irm, a hebreia), servir a ti 6
anos, e no 7 ano o deixars livre de ti. E quando o deixares ir livre de ti, no
o deixars ir de mos vazias. Carreg-lo-as, fornecendo-lhe do teu rebanho,
da tua eira e do teu depsito de vinho; e do que te abenoou o Eterno, teu
Deus, lhe dars.(Dt 15,12-14)

c) A libertao da terra:
E a terra no ser vendida em perpetuidade, porque a terra minha, pois vs
sois peregrinos e moradores da terra para mim. E em toda a terra de vossa
possesso concedereis redeno terra. (Lv 25,23-24)

No h consenso entre os estudiosos da histria de Israel se as leis


relativas ao sabtico e ao jubileu foram efetivamente aplicadas, mas sua
presena no livro sagrado indica que algum peso essas tradies tiveram e,
por isso, ficaram na memria do povo. possvel ao leitor de hoje afirmar
que as tradies do sabtico e do jubileu fundamentam experincias de
empoderamento dos camponeses israelitas e o funcionamento de estruturas
de proteo social dos mais fragilizados na sociedade tribal.

A organizao poltica nas tribos


Os imprios da poca (Egito, Mitanni, Assria, Babilnia e os hititas)
esto organizados como estados tributrios. No territrio colonial esto como
vassalos os reis das cidades-estado, que na prtica reproduzem em suas
sociedades a mesma estrutura existente no centro metropolitano. Balancin
descreve as cidades-estado como
uma cidade governada por um rei. Era independente, como se fosse um
pequeno pas, cercada de muralhas para evitar as invases dos inimigos.
Tinha uma parte alta, chamada acrpole, onde ficava o palcio do rei,
o templo, e onde morava a classe dominante, gente da elite. Na parte
baixa ficava o mercado e o casario de gente mais pobre, como pequenos
comerciantes, artesos e pessoal de segundo escalo. Ao redor da cidade
havia terras cultivadas por camponeses, que a moravam em casas pequenas,
desprotegidos, pois estavam fora das muralhas O rei dava certa proteo
com soldados, mas exigia em troca completa submisso. Com seu trabalho e
lavoura esses camponeses sustentavam os grandes, que viviam na parte alta,
pagando a eles tributo. Na maioria das vezes, sobrava para eles muito pouco
da colheita e, por isso, viviam como escravos e numa situao miservel.14

14
BALANCIN, Euclides M. Histria do povo de Deus, p. 11.

Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009 279
As tribos de israel: exemplo histrico de empoderamento dos marginalizados

As cidades-estado em Cana esto instaladas nas plancies e con-


trolam os camponeses que ali se instalaram em funo das terras frteis.
tambm nas plancies que se d a passagem das caravanas de comrcio.
De fato em Cana por volta de 1500 a.e.c as demais regies as matas
que existiam nas montanhas, a estepe e o deserto apresentavam grandes
dificuldades para a sobrevivncia de grupos humanos. Foi somente por
volta do sculo XII que alguns aperfeioamentos tecnolgicos (a introduo
do ferro, o processo de caiao das cisternas e o uso do boi como parte
da produo agrcola) permitiram uma significativa mudana na forma der
povoamento da regio.
Nas plancies esto as principais cidades-estado cananeias e filisteias15
da poca. Os filisteus eram povos recm-chegados regio e tinham grande
habilidade com a metalurgia do ferro. Eram guerreiros e suplantaram os reis
locais no que tange ao controle da regio, tornando-se inclusive o brao
operacional do imprio egpcio. As dificuldades encontradas pelos exrcitos
populares em suplantar o inimigo filisteu sero apresentadas nos textos bblicos
como uma das grandes motivaes para a necessidade de que houvesse um
rei entre os israelitas: e ns tambm seremos como todas as naes, e nosso
rei nos julgar, e sair diante de ns e far as nossas guerras (1Sm 8,20).
Os reis tinham a seu servio um exrcito profissional, armado e or-
ganizado a partir de uma hierarquia estabelecida a partir das elites locais.
Quando convinha aos reis, havia tambm a possibilidade de utilizao de
exrcitos mercenrios, cuja lealdade estava em relao direta aos benefcios
e pagamentos obtidos na guerra. O prprio Davi esteve por um perodo
como mercenrio de Aquis, rei filisteu de Gat (cf. 1Sm 27). De fato os
valentes de Davi eram um exrcito permanente com 600 homens, e du-
rante seu longo reinado em Israel, sempre estiveram presentes a seu servio
mercenrios os cereteus e os feleteus (cf. 2Sm 8,18).
No que se refere aos exrcitos as tribos em Israel no possuam
tropas profissionais e/ou permanentemente constitudas. Dreher descreve
brevemente como era esse exrcito:
At o momento da convocao, tais guerreiros eram camponeses. Trabalhavam
a terra com seus arados, de cujas relhas faziam espadas. De suas pequenas
facas de podar videiras, faziam lanas, afixando-as a hastes de madeira (cf. Is
2,4; Mq 4,3; Jl 4,10). Depois da guerra, voltavam a seu trabalho normal.16

15
FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN, Neil A. A Bblia no tinha razo. Ao referir-se aos filisteus afirma
que eles eram: grupo de migrantes do Egeu ou do leste do Mediterrneo, estabeleceram seus povoa-
mentos na plancie litornea de Cana algum tempo depois de 1200 a.C. Nos sculos XI e X, suas cidades
prosperaram e continuaram a dominar a rea durante parte considervel do perodo assrio (p. 59).
16
DREHER, Carlos. A. Resistncia popular nos primrdios da monarquia israelita, p. 60.

280 Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009
William Csar de Andrade

As narrativas em torno de Dbora (Jz 4 e 5) relatam bem como fun-


cionava o processo de constituio do exrcito popular e das dificuldades
inerentes a sua articulao. Nestes textos fica evidente que nem todas as
tribos responderam solicitao de fornecerem homens para a guerra de
10 tribos mencionadas somente 6 delas enviaram soldados e, os motivos
para a falta de solidariedade indicam que no dia a dia as tribos viviam re-
almente sem maiores vnculos umas com as outras. Dreher demonstra isso
ao situar as tribos que no corresponderam ao chamado:
Tudo indica que a unidade real acontea apenas sob a ameaa concreta que
se abate sobre os camponeses. A iminncia do confronto armado e a sua
causa, a cobrana do tributo excessivo, parecem no dizer respeito s tribos
omissas. Ruben pastor de ovelhas (v. 16). Tem outro tipo de economia que
no parece estar ameaada. D estrangeiro em navios (v. 17ab). Alm de
estar distante, tem outro tipo de trabalho. L no mar, seu sustento no est
sendo posto em jogo. Gileade est do outro lado do Jordo (vv. 17aa), longe
da rea em conflito. No tem motivos para envolver-se. E Aser? Est junto
costa dos mares, talvez a pescar ou, como D, a trabalhar em navios.17

Do mesmo modo que no existe uma centralizao no processo


de constituio do exrcito popular, a prpria liderana intertribal tambm
no segue os padres hereditrios da poca aplicados aos reis ou mesmo
para segmentos sacerdotais. Destacam-se como instncias de poder tribal
a assembleia e os juzes.
As assembleias so constitudas no mbito local a partir da vida
em cada aldeia, podendo inclusive chegar a ter propores tribais. Podem
ocorrer com carter cltico e de renovao de alianas religiosas (cf. Js 24),
bem como com vistas a estabelecer estratgias de defesa das tribos. So
formadas pelos ancios os chefes de cada famlia extensa cujas interven-
es vinculam todo o grupo por eles representado aos encaminhamentos e
afirmaes apresentado. No se pode afirmar que essas assembleias eram
populares, isto , lugares onde todos os homens e mulheres adultos po-
diam expressar livremente seus pensamentos e igualmente se submetiam
s decises da maioria.
No livro dos Juzes so mencionados dois grupos de juzes como
portadores de uma autoridade tribal e/ou pan-tribal. No fcil determinar
exatamente as competncias jurdicas e polticas presentes na distino
entre juzes menores e maiores, mas minimamente pode-se afirmar que
os primeiros tinham como atribuio julgarem Israel e, no caso dos cha-
mados maiores, sua funo propriamente dita era serem libertadores do
povo. Estes heris do povo, independentemente da designao literria
17
Idem. A formao social do Israel pr-estatal, p. 23.

Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009 281
As tribos de israel: exemplo histrico de empoderamento dos marginalizados

de juzes, tinham sido fundamentais para a sobrevivncia poltica e para a


continuidade da existncia das tribos de Israel.
Os estudiosos do perodo tribal consideram que os textos bblicos
referentes aos juzes no decorrer da poca tribal no reproduzem uma
realidade histrica, isto , tal como aconteceu, mas sim, uma releitura
feita poca do rei Josias (640 a 609 a.e.c) conhecida como OHD obra
historiogrfica Deuteronomista. Donner explicita como isso foi feito:
No programa e nas partes da moldura os deuteronomistas falam sempre
de ameaas e salvamentos da existncia do Israel todo na terra cultivada
palestinense: o esquema deuteronomista se coloca desde o princpio sob uma
perspectiva pan-israelita...Ademais, os deuteronomistas atriburam aos Juzes
Maiores, alm de seu respectivo ato de salvamento, uma funo permanente
na poltica interna; pode-se dizer que os interpretaram conforme o modelo
dos juzes menores.18

No possvel atualmente reconstruir se os juzes, menores e


maiores, tiveram uma atuao que efetivamente envolvia a todas as tribos
de Israel. Tambm de difcil afirmao o alcance, ou mesmo os limites,
da moldura da OHD. O que fica evidenciado, em termos de partilha do
poder e uma estrutura poltica diferenciada frente aos estados tributrios
estabelecidos, a estreita relao entre a continuidade da sociedade tribal
e de seu modelo de organizao como uma ao realizada pelo Eterno,
pois ele era o nico e verdadeiro juiz e heri de Israel.
Tanto o estado tributrio quanto as tribos em Israel so teocracias, a
fonte ltima de poder est na divindade e/ou no panteo cultuado em cada
sociedade. Entretanto, na origem de Israel h uma memria libertadora de
escravos, pobres urbanos das cidades de Cana, camponeses em fuga do
tributo cobrado pelas cidades-estado e grupos de seminmades.

A organizao religiosa nas tribos


A religio o principal fator dentro da ideologia nos estados tribu-
trios, e mesmo a oposio a este tipo de organizao da sociedade e das
relaes de produo tambm se dava em torno do horizonte religioso.
A pergunta aqui no se existia ou no f religiosa, pois ela era sempre
suposta, o que realmente contava em que divindade, ou divindades, se
acreditava e o que significava na prtica prestar-lhe culto. Whitlelam destaca
como isso acontecia naquela poca:
Os estados s podiam sobreviver se conseguissem legitimidade, com
frequncia mediante manipulao de smbolos religiosos, uma vez que

18
DONNER, Herbert, op. cit., p. 183.

282 Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009
William Csar de Andrade

o apoio na coero e na fora destruiria as relaes mesmas de que


dependia a elite governamental para sua riqueza e seu poder. A ideologia
rgia proporcionava justificao para o controle do poder e dos recursos
estratgicos, proclamava que o direito do rei de governar era garantido
pelas divindades do Estado. Frisavam-se fortemente os benefcios da paz,
segurana e riqueza para a populao do Estado que fluam da posio do
rei no esquema csmico das coisas.19

O deus do fara em hiptese alguma pode ser o Deus das parteiras


(cf. Ex 1,15-22), bem como praticamente impossvel o dilogo entre essa
autoridade e Moiss, pois os sinais e milagres feitos pelo Eterno aos olhos
dos poderosos do Egito eram apenas truques e magia barata (cf. Ex 7). Os
escravos e demais empobrecidos que viviam no Egito eram provas vivas, pelo
menos para a religio do estado egpcio, de que, na luta entre os deuses,
o fara havia vencido e a verdadeira religio era aquela que assegurava a
seus adeptos paz, segurana e riqueza. Rebelar-se contra a ideologia domi-
nante libertar-se de uma religiosidade alienante, e para tanto era preciso
reconstruir por completo as noes relativas ao amor a deus, o poder e a
glria divinos e o modo como o ser humano podia tornar-se um amigo ou
protegido da divindade.
A condio de escravos, submetidos em seus corpos e tambm em
seus deuses, serviu como elemento de unidade, pois, todos tinham no Egito
o inimigo comum, a ameaa de ruptura de seus laos tribais e de tudo o que
tinham de mais sagrado. A solidariedade entre os escravos foi o primeiro
passo na resistncia, pois, unidos na dor, vivenciavam a mesma esperana
de um dia serem livres. claro que nem todos os escravos partilhavam desta
proposta, o que significou na prtica a continuidade da escravido no Egito,
mesmo depois da fuga do grupo mosaico.
Romper o particularismo religioso, isto , rever as prticas religiosas
e seus rituais, bem como o rosto de Deus, foi certamente um dos maiores
desafios para os escravos. Neste caminho foi fundamental a proibio do
uso de imagens como representao do Deus supremo e nico, pois estas
poderiam remeter ao domnio de um grupo de escravos sobre os demais,
alm de possibilitar manipulaes, inclusive por parte dos sacerdotes egp-
cios, pois, colocar uma imagem no Panteo em lugar inferior, equivalia a
estabelecer efetivamente esta inferioridade.
O tetragrama nunca pronunciado, mas reconhecido como o nome
do Altssimo, foi outro instrumento poderoso na luta contra o Fara e seus
deuses. Sem um nome definido para a divindade, era possvel que cada um
dos grupos de escravos refletissem nela uma nova expresso do deus a que
19
WHITELAM, Keith W. Realeza israelita. A ideologia rgia e seus opositores, p. 121.

Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009 283
As tribos de israel: exemplo histrico de empoderamento dos marginalizados

originalmente estavam vinculados. Deste modo, o Santo e digno de louvor


pode ser percebido em cada tradio como nico e redentor daqueles que
lhe prestam culto.
No contexto religioso da experincia tribal tinha grande importncia o
culto aos antepassados, pois neste se afirmava a prpria identidade do grupo
e se assegurava por meios de rituais sagrados, as condies adequadas conti-
nuidade das famlias, a proteo diante dos perigos e crises. Quando os textos
bblicos apresentam Abrao e sua descendncia: Isaac, Jac/Israel e seus filhos,
de fato nos colocam diante dos antepassados venerados em cada tribo.
As regras essenciais para a vida do grupo, quase sempre esto re-
feridas a situaes vividas pelos antepassados ou a costumes legitimados
em mitos do conhecimento de todos. As situaes novas so tratadas pelos
mais velhos (homens e mulheres) e podem ser fruto de revelao em sonhos
ou vises. Assim, surgem novas regras, que o conjunto tribal assume como
sagradas e necessrias a vida do povo.
As leis no esto escritas, e quase sempre so transmitidas em ritu-
ais de renovao da vida: colheita, nascimento das crias dos animais etc.
O calendrio litrgico flexvel e prev momentos fortes de afirmao
da identidade tribal: iniciao, casamentos, memria das batalhas, rituais
fnebres etc. neste processo que se pode afirmar como expresso de em-
poderamento dos pobres as instituies tribais: a famlia extensa, o usufruto
coletivo da terra a propriedade era do Eterno , a liderana constituda
por ancios e juzes escolhidos nas assembleias porta da aldeia, santurios
populares e um sacerdcio sem tributos ou templos, etc.
Quando uma tribo submetida ao controle de uma cidade ou im-
prio, suas leis so ignoradas e seus deuses colocados em lugares inferiores
do Panteo. Do mesmo modo que so tratados os escravos, sero tratados
os deuses dos vencidos. Cabe religio oficial do Estado o papel de assi-
milao dos vencidos, seja pela destruio dos altares e lugares santos de
seus deuses, ou pela transferncia dos atributos dos deuses vencidos para
o deus do Estado.
temendo esse risco que diversos textos bblicos apresentam a
monarquia, expresso poltica do estado tributrio, de modo pejorativo e,
tambm como uma recusa ao amor ao Eterno20. Em Jz 9 somente o espi-

20
Dois textos bblicos, independente da poca em que foram redigidos, sempre so lembrados quando
se trata de indicar como as tribos viam com clareza a opresso presente no estado tributrio esquema-
ticamente representado pelo rei: a) o rei no pode multiplicar esposas, cavalos, prata e ouro pois isso
leva o povo de volta ao Egito - Dt 17,14-17; b) Aos que pedem por um rei em Israel Samuel responde
indicando uma ampla lista de direitos do monarca e os custos sociais, econmicos e religiosos que isso
trar para as tribos 1Sm 8,10-22.

284 Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009
William Csar de Andrade

nheiro aceitou ser rei e sua primeira exigncia j trs sinais de morte para
as tribos: vinde e abrigai-vos debaixo da minha sombra. Mas se no, fogo
sair do espinheiro e consumir os cedros do Lbano (Jz 9,15).
Entretanto, no se pode afirmar que inexistiam contradies e limites
na sociedade das tribos de Israel. Aos olhos de um observador de hoje fica
evidente o patriarcalismo, o peso de tradies que limitavam as relaes
humanas, a precariedade de uma sociedade centrada na vida rural. A Bblia
tambm traz diversos textos que indicam a fragilidade e tambm a ruptura
nas relaes que a sociedade tribal buscou construir.
Uma leitura dos livros se Juizes e 1 e 2 Samuel mostra que ocorreram
vrias situaes em que o sistema tribal foi colocado em xeque21, e para os
redatores deuteronomistas, no tempo em que no havia reis, era impossvel
para Israel ter segurana e servir fielmente ao Altssimo. Segundo Donner
de acordo com esse programa, a histria de Israel entre a tomada da terra e
a formao do Estado foi uma incessante alternncia de altos e baixos, um
constante retorno de tempos de apostasia de Jav, de castigo, de salvamento
e de paz. Os israelitas faziam o que desagradava a Jav; adoravam os Baais,
divindades da terra cultivada, e os deuses de outros povos, e com isso
suscitavam a ira de Jav. O castigo vinha em seguida. Jav os entregava nas
mos de inimigos externos, que os assediavam, escravizavam e os ameaavam
em sua existncia. Em consequncia disso, os israelitas clamavam por auxlio
a Jav, e ele, em sua longanimidade, se comiserava deles, despertando-lhes
heris, figuras de salvadores que conseguiam afastar o perigo e expulsar os
inimigos. Aps um perodo de paz, porm, a apostasia recomeava, uma vez
aps a outra, e isso por todo o perodo at a formao do Estado.22

Considerando-se os relatos bblicos como uma fonte razovel de


informao sobre o perodo que precede a implantao da monarquia
em Israel, podemos afirmar que o perigo representado pelos filisteus era
real, pois alm de manejarem armas mais modernas, entre elas os carros
de guerra, espadas, lanas, escudos e capacetes feitos de ferro, eles eram
conhecidos por suas habilidades militares, pois eram soldados profissionais,
enquanto que os exrcitos tribais eram convocados somente para a defesa
de seu territrio.
H uma crise no sistema de solidariedade entre as tribos, e isto
aparece claramente em Jz 19. As imagens so fortes, apresentam a falta

21
Cf. DE VAUX, Roland. Instituciones del Antiguo Testamento. Demonstra que difcil pensar em termos
de uma articulao tribal que fosse de fato eficiente, considerando-se os relatos escritos: Contudo,
os relatos do livro dos Juizes mostram a confederao de tribos sem rgos governamentais e sem ver-
dadeira eficcia poltica. Os membros formam um mesmo povo, participam do mesmo culto, porm
no tem um chefe comum, e a tradio mais antiga no conhece nesta poca nenhuma personalidade
comparvel com Moiss ou Josu (traduo nossa), p. 141.
22
DONNER, Herbert, op. cit., p. 181.

Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009 285
As tribos de israel: exemplo histrico de empoderamento dos marginalizados

de respeito pelo sacerdote levita, que chega na aldeia e ningum o acolhe


ou se interessa por sua situao, a no ser um ancio. A situao se agrava
com a chegada do grupo de desordeiros, desocupados que desafiam
a autoridade do dono da casa e ameaam destruir todos os princpios de
hospedagem vigentes nas tribos. A expresso conhecer tem conotao
sexual e se levada a cabo, tornaria o levita perpetuamente impuro sem
condies de exercer seu ministrio, contudo, evita-se este mal ao entregar
a concubina do levita aos desordeiros.
A pesquisa bblica atual no tem como saber at onde esse relato
reproduz um acontecimento histrico. Entretanto, a intencionalidade dos
redatores ao coloc-lo no final do livro dos Juzes bem evidente no ltimo
versculo: Naqueles dias no havia rei em Israel e cada um fazia o que
parecia certo aos seus olhos (Jz 21,25). Os redatores acreditavam que
somente a figura poltica do rei e um estado monrquico poderiam dar
estabilidade e assegurar a paz em Israel.

Consideraes finais
Na histria de Israel as tribos efetivamente significaram o nasci-
mento de Israel enquanto povo e sociedade organizada. A passagem da
condio de hebreu estrangeiro no imprio egpcio para israelita s
se d com a entrada na terra e a implementao do sistema tribal como
estrutura fundamental de uma nova sociedade em Cana. Estes migrantes,
antes explorados e marginalizados, agora constituem uma nao Israel e,
reduzem a mobilidade humana aos limites da continuidade do modo de
vida existente em cada tribo. Em suas liturgias e leis de proteo ao estran-
geiro esto registradas uma memria: Meu pai era um arameu errante. Ele
desceu ao Egito, onde viveu como migrante, com um pequeno nmero de
pessoas que o acompanhavam (Dt 26,5).
Atualmente grande o debate em torno da historicidade das narrati-
vas bblicas e, portanto, se vlido academicamente usar estes textos como
fonte histrica23. Contudo foi em torno destas narrativas que boa parte da
profecia e mesmo das tradies legais de Israel foram constitudas. A histria
da salvao vai sendo tecida teologicamente em cada narrativa e a Aliana
com o Eterno torna-se acontecimento libertador. De modo que o processo
do xodo do Egito, a entrada na terra prometida e o estabelecimento das
tribos indicam resistncias, articulaes populares e efetivo estabelecimento
de novas estruturas de poder e organizao social.

23
So representativos deste debate: LIVERANI, Mario. Para alm da Bblia. Histria antiga de Israel;
FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN, Neil A, op. cit.

286 Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009
William Csar de Andrade

As reflexes, ainda que de modo sumrio, em torno da organizao


social, econmica, poltica e religiosa do Israel tribal, partiram do protago-
nismo dos pobres na busca de reverter a alienao e as inmeras formas
de escravido as quais estavam submetidos. Nos textos bblicos esse empo-
deramento dos fracos uma constante: o fara foi derrotado por escravos,
os reis cananeus viram suas cidades fortificadas serem destrudas (tal como
Jeric - cf. Js 6), os filisteus foram incapazes de por fim s tribos.
Uma leitura mais detalhada dos textos em que se mencionam as
tribos e o modo como elas se organizaram, indicar idas e vindas, acertos
e erros, tal como acontece hoje em dia na construo de alternativas ao
que predomina como modelo de sociedade e de desenvolvimento. Os
textos no devem ser vistos como algo esttico ou meramente como parte
do passado, pois eles refletem um amplo processo teolgico e uma longa
trajetria de releituras feitas pelos fiis do Eterno diante do desafio de viver
fielmente a Aliana.
Certamente estas leituras podem nos ajudar no presente a pensar/
buscar estratgias para os caminhos de empoderamento que os pobres e
excludos do sistema neoliberal, bem como migrantes e refugiados, esto
fazendo ao se recusarem a aceitar a imutabilidade das regras econmicas e
polticas. Para os diversos grupos e pastorais que atuam junto s migraes
e outros processos de mobilidade humana, o processo que culminou na
organizao das tribos de Israel oferece oportunidade de reflexo sobre
os preconceitos e a precariedade que cercam os migrantes. E simultanea-
mente dar passos nas articulaes e construo de instituies que possam
assegurar-lhes dignidade e direitos fundamentais.
Mobilizados pelas experincias do passado e pautados pelos desafios
do presente, caminhamos na direo oposta ao discurso nico, pois este
esconde divergncias entre os poderosos, desmobiliza oposies e tende a
apostar na morte da utopia. A inrcia favorece a continuidade da desordem
atual e pode nos impedir de perceber que os modelos de desenvolvimen-
to escondem o risco da morte do planeta e de tudo o que a humanidade
construiu em sua histria.
Boff ao refletir sobre a utopia de uma nova forma de vida humana e
social indica a urgncia de criao de uma biocivilizao. Os fundamentos
desta nova ordem, ressalvando-se a distncia histrica e cultural, tm muito
do que foi vivido na histria das tribos de Israel:
(1) um uso sustentvel, responsvel e solidrio dos limitados recursos e servios
da natureza; (2) o valor de uso dos bens deve ter prioridade sobre seu valor
de troca; (3) um controle democrtico deve ser construdo nas relaes
sociais, especialmente sobre os mercados especulativos; (4) o ethos mnimo

Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009 287
As tribos de israel: exemplo histrico de empoderamento dos marginalizados

mundial deve nascer do intercmbio multicultural, dando nfase tica do


cuidado, da compaixo, da cooperao e da responsabilidade universal; (5)
a espiritualidade, como expresso da singularidade humana e no como
monoplio das religies, deve ser incentivada como uma espcie de aura
benfazeja que acompanha a trajetria humana, pois ancora o ser humano
e a histria numa dimenso para alm do espao e do tempo, conferindo
sentido nossa curta passagem por este pequeno planeta.24

Bibliografia
BALANCIN, Euclides M. Histria do povo de Deus. So Paulo: Paulinas, 1989.
BOFF, Leonardo. A ltima trincheira: temos que mudar economia e ecologia,
in BEOZZO, Jos Oscar; VOLANIN, Cremildo J. (orgs). Alternativas crise. Por
uma economia social e ecologicamente responsvel. So Paulo: Cortez, 2009,
p. 35-51.
COMBLIN, Jos. Os pobres como sujeito da histria, in RIBLA - Revista de
Interpretao Bblica Latino-Americana, Petrpolis, n. 3, 1989, p. 36-48.
CRSEMANN, Frank. Preservao da liberdade. O declogo numa perspectiva
histrico-social. So Leopoldo: CEBI/Sinodal, 1995.
CRUZ, Llia Dias Marianno Lima. Planejar, agir, perpetuar. Excertos de Rute sobre a
sobrevivncia em tempos de crise, in REIMER, Ivoni (org). Economia no mundo
bblico. Enfoques sociais, histricos e teolgicos. So Leopoldo: CEBI/Sinodal,
2006, p. 33-50.
DE VAUX, Roland. Instituciones del Antiguo Testamento.Volume 1. Barcelona:
Herder, 1976.
DONNER, Herbrt. Histria de Israel e dos povos vizinhos. Dos primrdios at a
formao do estado. Vol. 1. Petrpolis: Vozes/Sinodal, 1997.
DREHER, Carlos. A. Resistncia popular nos primrdios da monarquia israelita,
in RIBLA - Revista de Interpretao Bblica Latino-American, Petrpolis, n. 32,
1999, p. 58-84.
________. O livro de Juzes um subsdio para a sua leitura. Belo Horizonte: CEBI,
1995.
________. A formao social do Israel pr-estatal. Belo Horizonte: CEBI, 1992.
FINKELSTEIN, Israel e SILBERMAN, Neil A. A Bblia no tinha razo. So Paulo:
A Girafa, 2003.
LIVERANI, Mario. Para alm da Bblia. A histria antiga de Israel. So Paulo: Paulus/
Loyola, 2008.
LPEZ, Rolando. Redeno da terra e do povo, in RIBLA Revista de Interpretao
Bblica Latino-Americana. Petrpolis, n. 18, 1994, p. 35.
MESTERS, Carlos. Os dez mandamentos. Ferramenta da comunidade. 11 ed. So
Paulo: Paulus, 2003.

24
BOFF, Leonardo. A ltima trincheira: temos que mudar economia e ecologia, p. 50.

288 Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009
William Csar de Andrade

ROMANO, Jorge O. Empoderamento: enfrentemos primeiro a questo do


poder para combater juntos a pobreza. Documento de apoio apresentado no
International Workshop Empowerment and Rights based approach in Fighting
Poverty together. 2002.
SCHWANTES, Milton. Histria de Israel: local e origens. Vol 1. So Leopoldo:
Oikos, 2008.
________. As monarquias no Antigo Israel. Um roteiro de pesquisa histrica e
arqueolgica. So Leopoldo/So Paulo: CEBI/Paulinas, 2006.
WESTERMANN, Claus. Teologia do Antigo Testamento. So Paulo: Paulinas,
1987.
WINTERS, Alcia. O Goel no Antigo Israel, in RIBLA - Revista de Interpretao
Bblica Latino-Americana, Petrpolis, n. 18, 1994, p. 17-26.
WHITELAM, Keith W. Realeza israelita. A ideologia rgia e seus opositores, in
CLEMENTS Ronald E. O mundo do Antigo Israel. So Paulo: Paulus, 1995, p.
119-138.

Abstract
The Tribes of Israel: historical example of the
empowerment of the marginalized ones
The biblical narratives, mentioning the period of the Tribes of Israel, show
a broad historical length, when the poor refused to continue submissive to
the Egyptian empire and to its regional operators the kings of the Land
of Canaan. For almost 200 years the tribes resisted to the tributary State
and to the diverse social, economic, religious and political mechanisms
that supported it. It was accomplished due to a wide empowerment
experience, expressed at the many effective institutions in the Tribes of
Israel. This memory can inspire our pursuit for a different, possible and
necessary world.
Keywords: Empowerment; Tribalism; Israel history

Received for publication in October 6th, 2009.


Accepted for publication in October 13th, 2009.

Recebido para publicao em 06/10/2009.


Aceito para publicao em 13/10/09.

Rev. Inter. Mob. Hum., Braslia, Ano XVII, N 33, p. 269-289, jul./dez. 2009 289

Você também pode gostar