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CORROSO INTERGRANULAR EM JUNTAS SOLDADAS

DE AOS INOXIDVEIS AUSTENTICOS
Humberto Jorge Valosio valosio@hotmail.com
Jferson da Silva jef.silva@bol.com.br
Jos Ivanildo Miranda Oliveira jose_ivanildo.oliveira@legrand.com.br
Wagner de Campos Sabor wagsag@ig.com.br
Orientador: Prof Luiz Gimenes Jr. gimenes@infosolda.com.br

1 INTRODUO A faixa de temperaturas crticas entre

400C a 900C, e quando o ao for
A corroso intergranular talvez, o pior aquecido dentro dessa faixa ainda que
tipo de ataque que um material pode por um tempo muito curto (poucos
sofrer, pois a sua ocorrncia, multas minutos ou mesmo segundos) pode
vezes, s possvel de ser detectada sofrer uma quase completa
quando da ruptura do material. desintegrao aps algumas horas de
exposio numa soluo corrosiva.
Como o prprio nome sugere, o ataque
preferencial na regio do contorno do gro A temperatura que produz o fenmeno
de uma liga. De uma maneira geral, varia com o tempo de aquecimento
somente as ligas metlicas esto sujeitas a assim, por exemplo, num ao inoxidvel
este tipo de corroso e a sua causa , do tipo 18-8 (18% de cromo e 8% de
normalmente, atribuda as precipitaes de nquel) com 0,08% de carbono, com
alguns dos componentes da liga aquecimento de poucos segundos ou
preferencialmente no contorno de gro. minutos, a temperatura mais perigosa
em torno de 750C; com um tempo de
Os materiais mais susceptveis a este tipo aquecimento de uma hora, esta
de ataque so os aos inoxidveis e as temperatura fica compreendida na faixa
ligas de alumnio. Para o caso dos aos 550C-740C.
inoxidveis, a suscetibilizao ocorre
devido precipitao do carboneto de 2.1- O MECANISMO DE CORROSO
cromo na regio do contorno de gro com INTERGRANULAR
conseqente empobrecimento do cromo
na matriz. A explicao mais aceita do fenmeno
a seguinte:
2- A CORROSO INTERGRANULAR
Certos constituintes, principalmente
Os aos inoxidveis cromo-nquel (tipos um carboneto complexo de cromo e
austenticos) esto sujeitos, quando ferro, dissolvem-se na austenita com
tratados termicamente ou aquecidos para facilidade cada vez maior, medida
trabalho a quente ou para soldagem numa que a temperatura sobe alm de
certa faixa de temperaturas, a uma 900C. Um ao inoxidvel aquecido
precipitao de um constituinte de nessas condies apresenta, quando
contorno de gro que pode provocar um resfriado rapidamente, uma estrutura
dos tipos mais danosos da corroso, a homognea temperatura ambiente;
chamada corroso intergranular. Esse estado estrutural , entretanto,
instvel em temperaturas inferiores

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linha de solubilidade slida do carbono havendo ataque aprecivel no restante

na austenita (ver grfico 1, da amostra.
correspondente aos aos 18-8), de
modo que quando se reaquece o ao A figura 3 mostra as faixas de
acima de 400C, o carboneto, pelo temperaturas que foi exposto pea de
aumento da solubilidade dos tomos teste.
de carbono, precipita-se e essa
precipitao, mais acentuada na faixa O tempo e a temperatura esto muito
entre 600C a 800C, se d ao longo relacionados com o tamanho e/ou
dos contornos dos gros; espessura do material soldado. Por
Esses carbonetos, precipitados ao exemplo, chapas finas so rapidamente
longo dos contornos dos gros, no soldadas, enquanto chapas espessas
constituem em si zonas mais precisam de vrios passes. Para chapas
suscetveis corroso, mas como eles de mais ou menos 1/32 , o tempo
so muito mais ricos em cromo (s exposto na faixa de sensitizao curto,
vezes at 90%) que o metal do seio do portanto no causa a corroso quando
qual precipitam, para sua formao este esta em meio agressivo.
houve uma retirada de cromo das
regies vizinhas. Essas regies, que O efeito do tempo e temperatura a
correspondem aos contornos dos razo pela qual a soldagem a arco
gros, empobrece-se, portanto, em eltrico mais usada do que a soldagem
cromo, tornando-se menos resistentes a gs para aos inoxidveis. O primeiro
ao ataque qumico por parte de certos produz aquecimento maior e mais
reagentes: produz-se assim a corroso intenso em tempos menores. O segundo
entre os gros, provocando sua mantm uma zona termicamente afetada
separao e conseqente mais larga por um tempo maior, o que
desintegrao da liga. significa maior precipitao do carbono.

3- SOLDAGEM Deve ser enfatizado que a sensitizao

em aos inoxidveis, no provocar
Muitas falhas nos aos inoxidveis 18-8, corroso sem um meio agressivo, porque
ocorridos desde o inicio da historia destes muito destes aos so utilizados onde a
materiais, antes do mecanismo da resistncia total a corroso no
corroso intergranular foram entendidos. requerida. Alguns exemplos so:
equipamentos de culinria, pia de
Falhas ainda acontecem, porque este cozinha e peas automotivas
efeito no freqentemente considerado. decorativas. Entretanto, aconselhvel
A regio da solda fragilizada ter sempre o metal em sua melhor
freqentemente uma faixa na chapa base, resistncia a corroso para as mais
a qual, mostrada nas figuras 1, 2 e 3. severas condies corrosivas.

Esta zona tem uma aparncia

esbranquiada, devido aos pequenos
gros alongados que so quase expulsos.
As amostras foram expostas a um ataque
de acido ntrico depois da soldagem. No

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Figura 1
Corroso Intergranular

A figura 1 mostra a viso geral de uma amostra de tubulao de ao inoxidvel SAE 316,
com reduo de 2X, a qual foi soldada pelo processo eletrodo revestido apresentando na
regio indicada a corroso intergranular.

Corroso Intergranular
Figura 2

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A figura 2 mostra o detalhe de uma amostra de tubulao de ao inoxidvel SAE 316,

com aumento de 3X, a qual foi soldada pelo processo eletrodo revestido apresentando na
regio indicada a corroso intergranular.

900 a 1200C

600 a 800C

Crescimento
dos Gros (ZTA)

Figura 3

A figura 3 mostra o detalhe de uma amostra de tubulao de ao inoxidvel SAE 316,

com aumento de 4X, na qual est indicada a faixa de temperaturas imposta pelo processo
eletrodo revestido.

4- FATORES QUE INFLUENCIAM Deformao a frio;

Presena de determinados
Em face das explicaes feitas a respeito elementos de liga.
do fenmeno da corroso intergranular
nos aos inoxidveis do tipo austentico,
pode-se dizer que a suscetibilidade A discusso da influncia desses fatores
desses aos corroso intergranular ser feita concomitantemente com os
depende de uma srie de fatores, entre meios que podem ser empregados para
os quais poderiam ser enumerados os combater o fenmeno.
seguintes:
Tempo de permanncia dentro da Esses meios so, entre outros, os
faixa de temperaturas consideradas seguintes:
crticas;
Teor de carbono; Reaquecimento do ao, que havia
Granulao do ao; sido anteriormente aquecido na faixa

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perigosa 400C-800C, a Para o traado da curva representada no

temperaturas entre 950C e 1150C, grfico 1, amostras de ao 18-8 com
de modo a ter-se uma redissoluo carbono crescente foram
dos carbonetos existentes nos propositadamente aquecidas a
contornos dos gros. preciso, para temperaturas que provocaram, no maior
evitar sua nova precipitao, resfriar- grau possvel, a precipitao de
se rapidamente atravs da faixa carboneto.
perigosa.
Nota-se que medida que o carbono
Esse reaquecimento, nem sempre decresce, diminui o ataque corrosivo, o
conveniente, pois pode ocorrer oxidao mnimo verificando-se quando o mesmo
e empenamento ou mesmo deformao atinge 0,03%. At 0,03% de carbono,
das peas a essas temperaturas. qualquer que tenha sido o tratamento
trmico usado, o carbono ou permanece
Por outro lado, toda vez que for preciso dissolvido sem qualquer efeito nocivo, ou
reaquecer o ao dentro daquela faixa de precipita-se nos contornos dos gros na
temperaturas, devido a uma soldagem, forma de um carboneto de cromo, em
por exemplo, pode ocorrer nova quantidades, entretanto, ainda
precipitao de carboneto com as insuficientes para formar um invlucro
conseqncias indesejveis j contnuo em torno dos gros, de modo
conhecidas. que no resulta qualquer prejuzo. Acima
de 0,03%, o carboneto de cromo
Reduo do teor de carbono do ao a formado comea a envolver de modo
teores que o tornem ineficaz na contnuo os gros, ocorrendo ento o
formao de carbonetos ou na empobrecimento do metal adjacente a tal
remoo do cromo dos gros. O ponto que sua inoxibilidade fica
grfico 1 ilustra de modo claro o prejudicada.
efeito do carbono na resistncia
corroso do ao inoxidvel
austentico tipo 18-8.

Grfico 1 - Corroso x Teor de Carbono

Teor de Carbono, %
4,2

3,5
Corroso, em mm/m

2,8

2,1

1,4

0,7

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O grfico 1 foi compilado de Chiaverini, precipitao dos carbonetos ao longo

Vicente, Aos e Ferros Fundidos, pgina dos planos de escorregamento.
391, 7 edio, 1998, Associao
Brasileira de Metalurgia e Materiais, O mtodo mais comum e mais
Brasil. satisfatrio consiste na adio de um
elemento de liga que tenha maior
4.1- A INFLUENCIA DOS ELEMENTOS afinidade pelo carbono do que o cromo,
DE LIGA evitando, pois, que este precipite como
carboneto e deixando-o em condies de
Estudos tm sido feitos para determinar agir como elemento realmente promotor
o teor de carbono compatvel com a da passividade. Os elementos de liga
resistncia a corroso intergranular. empregados para esse fim so o titnio,
Verifica-se, por exemplo, que para uma o nibio e o tntalo, os dois primeiros
probabilidade de 99,8% de resistncia sendo os preferidos.
corroso intergranular, o teor de carbono
deve ser inferior a 0,02% com 18% de Por outro lado, a presena de 1% a 3%
cromo: aumentando-se o teor deste de molibdnio torna o ao inoxidvel
metal, o teor de carbono aumenta at austentico menos susceptvel corroso
cerca de 0,03%; para 20% de cromo, o intergranular, pois, sendo o molibdnio
ao ainda apresenta excelente um elemento estabilizador da ferrita,
resistncia corroso intergranular, com favorece a formao de estrutura
cerca de 0,04% de carbono. austentico-ferrita. Sua ao, entretanto,
somente no sentido de diminuir
Em resumo, normalmente para os aos ligeiramente a suscetibilidade dos aos
18-8 comuns o mximo recomendvel de ao fenmeno em discusso.
carbono seria em torno de 0,03%.
Manter um tamanho de gro Com a precipitao do carboneto de
pequeno, pois a granulao grosseira cromo na regio de contorno do gro, o
torna o ao mais suscetvel teor de cromo nesta regio pode atingir
corroso intergranular que a teores Inferiores a 13%, portanto
granulao fina. perdendo as caractersticas inoxidveis.
Promover deformao a frio aps a 0 ataque ser preferencial na regio de
solubilizao; admite-se, de fato, que precipitao, isto no contorno do gro.
a precipitao de carbonetos,
responsvel aparente pela corroso 5- CONTROLE DE QUALIDADE DE
intergranular, se dar preferivelmente AOS INOXIDAVEIS AUSTENTICOS
ao longo dos planos de
escorregamento originados na Para caracterizar a agressividade de um
deformao a frio no interior dos determinado meio corrosivo e fornecer
gros e no nos seus contornos, fundamentos bsicos para o controle da
resultando uma disperso dos corroso, realizam-se os chamados
carbonetos dentro dos gros, o que ensaios de corroso. A corroso dos
diminuir a suscetibilidade corroso materiais metlicos influenciada por
intergranular. necessrio, aps a vrios fatores que modificam o ataque
deformao a frio aquecer o ao qumico ou eletroqumico, no havendo,
dentro da faixa crtica para forar a portanto, um nico mtodo de ensaio de
corroso; na prtica os fenmenos de

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corroso se multiplicam, obrigando visando a dar uma certa uniformidade

variedade dos ensaios. Para satisfazer execuo dos ensaios de corroso,
exigncias de reprodutibilidade de criaram-se especificaes detalhadas
resultados, os ensaios de corroso s para processamento.
devem ser efetuados ps-consideradas
as suas exatas possibilidades e o Annual Book of ASTM Standards
desenvolvimento do processo corrosivo. A 262 - suscetibilidade de aos
Para se evitar concluses errneas, e inoxidveis a ataque intergranular.

6- TABELA DE MEIOS CORROSIVOS QUE INDUZEM A CORROSO

INTERGRANULAR

Acido actico Acido fosfrico

Acido actico + Acido salicilico Acido fetalico
Acido crmico Soluo de sulfato
Acido frrico Acido sulfrico + acido ntrico
Acido hidrocianidrico Acido sulfuroso
Acido hidrocianidrico + Dixido de gua + amido + dixido de enxofre
Enxofre
Acido hidrofluoridrico + sulfato frrico gua + sulfato de alumnio
Acido latico Acido ntrico + acido hidrocloridrico
cido maleico Acido ntrico + acido hidrofluoridrico
Acido ntrico Acido oxlico
Cloridrato de Cromo Dixido de enxofre
Cloridrato frrico Acido sulfrico + sulfato ferroso
Fenol + acido naftenico gua do mar
Nitrato de amnia Hipoclorito de sdio
Nitrato de clcio Acido sulfrico + acido actico
leo cru Acido sulfrico + sulfato de cobre
leo gorduroso Hidrxido de sdio + Sulfato de sdio
Suco de beterraba Nitrato de prata + acido actico
Sulfato de amnia Bisulfato de sdio
Sulfato de Amnia + H2SO 4 Acido sulfrico
Sulfato de cobre Acido sulfrico + metanol
Sulfato frrico

6- MEIOS DE MINIMIZAR

Para minimizar este tipo de corroso, o que se faz normalmente, utilizar aos
inoxidveis contendo nibio (AISI-347) ou titnio (AISI-321) estes elementos possuem
afinidade maior com o carbono, precipitando os respectivos carbonetos e evitando assim
a precipitao do carboneto do cromo. Outra maneira de evitar a corroso do tipo
intergranular diminuir, o contedo de carbono, abaixo do valor crtico que de 0,03%.
Os aos Inoxidveis com teor de carbono abaixo deste valor so classificados como "ao
de carbono extra baixo" e recebem a designao L (AISI 304 L ou AISI 316 L).

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7- BIBLIOGRAFIA

Welding Handbook, American Welding Society, 8th edition, 1998, vol 4, USA.

Fontana, Mars Guy, Corrosion Engineering, 3rd edition, 1986, Mc Graw -Hill, USA.

Gentil, Vicente, Corroso, 4 edio, 1990, Brasil.

Coleo SENAI, vrios autores, 1 edio, 1997, So Paulo.

Chiaverini, Vicente, Aos e Ferros Fundidos, 7 edio, 1998, Associao Brasileira de

Metalurgia e Materiais, Brasil.

Weiner, Emilio, Brandi, Sergio D., Mello, Fabio D. H. de, Soldagem Processo e Metalurgia,
1 edio, 1992, Edgard Blucher, Brasil.

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