Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

CTG Recomendaçoes

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

PROTOCOLO

Monitorização
fetal intraparto
Sheila Koettker Silveira1, Alberto Trapani Júnior1

Descritores
Monitorização intraparto; INTRODUÇÃO
Ausculta intermitente;
Cardiotocografia; Sistemas de A monitorização fetal intraparto, por meio da avaliação da frequência car-
classificação CTG; Interpretação díaca fetal, visa diferenciar os fetos bem-oxigenados, que não necessitam
da frequência cardíaca fetal de intervenções, daqueles mal-oxigenados, que necessitam de intervenções
rápidas para evitar lesão permanente do sistema nervoso central, especial-
mente paralisia cerebral e óbito fetal.(1) A manutenção da frequência cardíaca
fetal é complexa, sendo regulada pelo sistema nervoso somático e autônomo
mediante ativação do sistema nervoso simpático e parassimpático e estímu-
lo dos quimio e barorreceptores.(1) A monitorização fetal intraparto pode ser
realizada por ausculta intermitente dos batimentos cardiofetais, cardiotoco-
grafia contínua (externa ou interna), ou intercalando os dois métodos pe-
riodicamente. Outros métodos de monitorização, tais como cardiotocografia
interna com avaliação do segmento ST, oximetria de pulso e coleta sangue
do escalpe fetal para mensuração do pH e/ou lactato, ainda, necessitam de
comprovação de sua utilidade na prática clínica. A determinação do volume
e do aspecto do líquido amniótico também pode auxiliar na avaliação do
bem-estar. O termo “sofrimento fetal” é inespecífico e não deve ser emprega-
do rotineiramente sem a confirmação de que o feto está acidótico, devendo
ser substituído pela expressão “situação fetal não tranquilizadora’’.(2) O feto
vive em ambiente relativamente hipóxico. O suprimento adequado de oxigê-
nio e de nutrientes (especialmente de glicose) e a remoção de metabólitos
através da placenta são fundamentais para manter a vida intrauterina.(3) Ape-
sar da glicose poder ser armazenada e metabolizada quando necessária, o
suprimento de oxigênio deve ser contínuo, pois sua interrupção, mesmo que
por poucos minutos, pode colocar o feto em risco. Qualquer alteração que
interfira nesse equilíbrio pode levar o feto à hipóxia/acidose. Na ausência
de oxigênio, a produção de energia a partir da glicólise cai drasticamente.(4) O
trabalho de parto é um processo estressante que exige que o feto se adapte
Como citar? às mudanças no suprimento de oxigênio. A resposta cardiovascular fetal à hi-
Silveira SK, Trapani Júnior A. póxia depende da intensidade, da frequência e da velocidade de instalação
Monitorização fetal intraparto.
São Paulo: Federação Brasileira
do insulto hipóxico e da reserva fetal e placentária.(5) É importante rastrear
das Associações de Ginecologia desde o início do trabalho de parto, com base em fatores de risco, aqueles
e Obstetrícia (Febrasgo); 2018. fetos com pouca reserva de oxigênio que requerem maior atenção durante o
(Protocolo Febrasgo – Obstetrícia, trabalho de parto por tolerarem mal as contrações uterinas e apresentarem
nº 100/Comissão Nacional
maior risco de evoluir com hipóxia e acidose metabólica.(6)
Especializada em Assistência ao
Abortamento, Parto e Puerpério).
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL INTRAPARTO
1. Hospital Universitário,
Universidade Federal de Santa Ausculta intermitente
Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
Método mais utilizado de monitorização fetal intraparto. A ausculta intermiten-
te pode ser realizada com estetoscópio de Pinard ou de DeLee ou com a avalia-
* Este protocolo foi validado pelos
membros da Comissão Nacional ção da frequência pelo detector Doppler dos batimentos cardiofetais. Existem
Especializada em Assistência ao diversas técnicas descritas de como realizar o monitoramento. De modo geral, a
Abortamento, Parto e Puerpério frequência cardíaca fetal deve ser avaliada a cada 15 a 30 minutos, no primeiro
e referendado pela Diretoria período, e a cada 5 a 15 minutos, no segundo período do trabalho de parto,
Executiva como Documento Oficial
da Febrasgo. Protocolo Febrasgo de
durante 1 minuto antes, durante e após duas contrações (pelo menos 30 segun-
Obstetrícia nº 100, acesse: dos após a contração).(7,8) É importante mensurar a frequência cardíaca basal e
www.febrasgo.org.br/protocolos observar a presença de acelerações, desacelerações e movimentos fetais.

FEMINA 2020;48(1): 59-64 | 59


Silveira SK, Trapani Júnior A

Cardiotocografia de acidose metabólica ou de intervenções obstétricas. As


alterações precedentes à acidose são progressivas.(17) En-
A cardiotocografia permite o registro gráfico e a avaliação
quanto a variabilidade estiver normal, o feto está com-
do bem-estar fetal, importante em questionamentos mé-
pensado e os órgãos nobres, adequadamente perfun-
dico-legais. A cardiotocografia externa é a mais utilizada
didos com a utilização dos mecanismos de adaptação.
por ser um método de monitorização não invasivo que
Quando o insulto se instala gradualmente, para proteger
registra com razoável precisão os batimentos cardiofe-
os órgãos nobres, há, inicialmente, desacelerações tar-
tais, o número de contrações (mas não sua intensidade)
dias ou variáveis cuja amplitude e duração dependem da
e os movimentos fetais. A realização de cardiotocografia
severidade e da duração do insulto hipóxico, seguidas de
de rotina na admissão da parturiente, especialmente nas
aumento da frequência cardíaca, ausência de aceleração
parturientes de risco habitual, pode estar associada ao
transitória e perda progressiva da variabilidade. Se hou-
aumento da taxa de cesariana, sem melhora do resultado
ver acidose metabólica e depressão do sistema nervo-
perinatal.(9) Ainda não há evidências robustas que com-
so autônomo e do coração, progride para variabilidade
provam existir real benefício no emprego da cardiotoco-
mínima ou ausente (ou acentuada) e bradicardia.(17) No
grafia contínua de rotina, tanto em parturientes de alto
como de baixo risco para hipóxia intrauterina.(7,10) Uma re- insulto subagudo, surgem desacelerações variáveis com
visão sistemática comparou a cardiotocografia contínua recuperação lenta da linha de base, cada vez mais longas
com a ausculta intermitente, e com esta se obteve redu- e profundas (menos de 30 segundos na linha de base;
ção na taxa de convulsão neonatal, sem alterar a taxa de desaceleração maior que 90 segundos). No insulto agudo,
mortalidade perinatal e de paralisia cerebral, e na taxa de aparece bradicardia súbita precedida ou não por desa-
cesariana e de parto instrumentalizado.(11) Apesar disso, celerações prolongadas, profundas e sem variabilidade.
quando disponível, é sugerido que a monitorização con- Fetos previamente comprometidos apresentam linha de
tínua possa ser considerada nas situações de maior risco base fixa (perda da ciclicidade), tendendo à taquicardia,
para hipóxia/acidose fetal, tais como: alteração na aus- variabilidade mínima ou ausente, podendo ter desacele-
culta intermitente; presença de líquido meconial; tempo rações tardias ou variáveis, geralmente, de pequena am-
de ruptura prematura de membrana prolongado (após 24 plitude, se consequente à hipóxia. Qualquer insulto leva
horas); febre intraparto ou corioamnionite; sangramento à bradicardia. O traçado cardiotocográfico deve ser inter-
anteparto; uso de ocitocina ou analgesia de parto; fase pretado de acordo com o quadro clínico e a fase do tra-
ativa de trabalho de parto acima de 12 horas ou perío- balho de parto. Mudanças na frequência cardíaca basal
do expulsivo acima de 1 hora; cesariana prévia; qualquer durante a evolução do trabalho de parto, especialmente
doença materna que possa influir na oxigenação fetal diminuição da variabilidade e taquicardia, e presença de
(diabetes, pré-eclâmpsia, colestase gravídica etc.); gesta- desacelerações com duração maior que 60 segundos e
ção pós-termo ou prematura; oligoâmnio ou alteração no com recuperação lenta da linha de base, devem causar
Doppler; crescimento intrauterino restrito (tanto precoce preocupação.
como tardio); gestação múltipla.(12,13) Quando empregada
de forma intermitente, a duração do exame é de aproxi- CLASSIFICAÇÃO DO TRAÇADO
madamente 20 minutos, podendo-se prolongar em casos DA CARDIOTOCOGRAFIA
suspeitos. Diante de variabilidade ausente ou diminuída
Existem diversas classificações do traçado cardiotoco-
e/ou ausência de aceleração transitória, pode-se realizar
gráfico na literatura, sendo a mais utilizada no Brasil a
estímulo vibroacústico ou mecânico sobre o polo cefálico,
de NICHD/ACOG (National Institute of Child Health and
que pode ser repetido três vezes, a cada minuto, se não
Human Development/American College of Obstetricians
houver resposta. Apesar de ser amplamente utilizada e
and Gynecologists) e, mais recentemente, da FIGO (In-
ter alta sensibilidade, a cardiotocografia apresenta baixa
ternational Federation of Gynecology and Obstetrics).
especificidade e alta taxa de falso-positivo para acidose
Em ambas, são observadas cinco variáveis (Quadro 1).(3,18)
e baixa concordância intra e interobservador, especial-
Dependendo das varáveis encontradas, os traçados são
mente devido à dificuldade na definição da variabilida-
classificados em três categorias distintas (Quadro 2).(3,18)
de próxima de 5 bpm (batimentos por minuto) e do tipo
Diante de avaliação alterada, deve-se tentar elucidar a
de desaceleração.(14-16) Isso significa que o método é bom
causa e adotar medidas para revertê-la, se possível, me-
para confirmar que o feto está bem, porém, na grande
lhorando a oxigenação fetal (Quadro 3).(19-23)
maioria das vezes, quando sugere que o feto está acidó-
tico, ele não está. A cardiotocografia computadorizada foi
desenvolvida para diminuir sua subjetividade na inter- OBSERVAÇÕES:
pretação do traçado. Existem diversos programas capazes • Taquicardia: isoladamente tem pouco valor
de mensurar precisamente a variabilidade da frequência preditivo para acidose, mas pode estar presente
cardíaca fetal e o tipo de desaceleração, assim, alertando nas fases iniciais da resposta ao estímulo
o profissional de possível alteração do bem-estar fetal. hipóxico de instalação não aguda. Descartar
Apesar de ser uma tecnologia promissora, seu emprego outras causas, tais como febre (infecção materna
não alterou os resultados perinatais nem reduziu as taxas e fetal, analgesia de parto), prematuridade,

60 | FEMINA 2020;48(1): 59-64


Monitorização fetal intraparto

Quadro 1. Variáveis da cardiotocografia

NICHD/ACOG FIGO

Média aproximada dos valores da frequência cardíaca Média de nível menos oscilatório da FCF
Linha de base

observada em 2 minutos, não necessariamente estimada em um período de 10 minutos.


consecutivos, em um traçado de pelo menos 10
Normal: de 110 a 160 bpm.
minutos, excluídas as acelerações, desacelerações
ou período de variabilidade aumentada. Taquicardia: acima de 160 bpm por pelo menos 10 minutos.
Normal: de 110 a 160 bpm. Bradicardia: abaixo de 110 bpm por pelo
menos 10 minutos; valores entre 100 e 110
Taquicardia: acima de 160 bpm por pelo menos 10 minutos.
podem ser normais em fetos pós-termo.
Bradicardia: abaixo de 110 bpm por pelo menos 10 minutos.
São oscilações da linha de base, irregulares em Oscilação da FCF avaliada como média da amplitude
Variabilidade

amplitude e frequência, observadas em um período de de largura de banda em segmentos de 1 minuto.


10 minutos, excluindo acelerações ou desacelerações.
Reduzida: abaixo de 5 bpm por mais de 50 minutos
Ausente: não detectada a olho nu. ou por mais de 3 minutos durante desaceleração.
Mínima: amplitude menor ou igual a 5 bpm. Normal: de 5 a 25 bpm.
Moderada ou normal: amplitude de 6 a 25 bpm. Acentuada (saltatório): acima de 25
bpm por mais de 30 minutos.
Acentuada: amplitude maior que 25 bpm.
Aumento abrupto (menos de 30 segundos) de pelo menos 15 bpm da linha de base com duração de 15 segundos a
Acelerações

10 minutos; considerada prolongada se durar entre 2 e 10 minutos. Em fetos com menos de 32 semanas, a amplitude
pode ser menor (10 bpm com duração de pelo menos 10 segundos). Geralmente associadas ao movimento fetal.

Queda da FCF. Podem ser periódicas (quando associadas Queda de 15 bpm por pelo menos 15 segundos. Recorrentes
Desacelerações

às contrações) ou episódicas (quando não associadas se presentes em pelo menos 50% das contrações.
às contrações); recorrentes (em mais de 50% das
Precoce: rasas, curtas, com variabilidade normal durante
contrações em 20 minutos) ou intermitentes (em
a desaceleração e coincidentes com as contrações.
menos de 50% das contrações em 20 minutos).
Tardia (forma de U e/ou com variabilidade reduzida):
Precoce: queda e recuperação lenta da linha de base
queda e/ou recuperação lenta da linha de base (mais
(mais de 30 segundos); simétrica; coincidente com a
de 30 segundos) e/ou variabilidade reduzida durante
contração; duração de 15 segundos a 2 minutos.
a desaceleração; inicia após 20 segundos do início
Tardia: queda e recuperação lenta da linha de base; simétrica; da contração com nadir após o pico da contração e
início, nadir e recuperação ocorrem após início, pico e retorno da linha de base após o término da contração.
final da contração; duração de 15 segundos a 2 minutos. Em traçados com variabilidade reduzida e sem
aceleração, também, é considerada desaceleração
Variável: queda e recuperação abrupta da linha de
tardia quando a queda for de 10 a 15 bpm.
base (menos de 30 segundos); queda de pelo menos
15 batimentos com duração de 15 segundos a 2 Variável (forma de V): queda e recuperação rápida
minutos; quando associada à contração, apresenta da linha de base (menos de 30 segundos); boa
aparência variável em contrações sucessivas. variabilidade durante a desaceleração, variando em
formato, tamanho e relação com a contração uterina.
Prolongada: queda de 15 bpm, por 2 a 10 minutos.
Prolongada: queda por mais de 3 minutos. Está
associada à hipóxia se duração maior que 5 minutos,
atingindo e mantendo 80 bpm ou menos e com
variabilidade reduzida durante a desaceleração.
Normal até 5 contrações em 10 minutos.
Contrações

Taquissistolia se 6 ou mais contrações.

Padrão sinusoidal: 3 a 5 ondas regulares por minuto em forma Padrão sinusoidal: padrão regular, semelhantes a
Observação

de sino, de pequena amplitude, que persiste por 20 minutos. sinos com amplitude de 5 a 15 bpm e frequência de
3 a 5 ciclos por minuto com duração de mais de 30
minutos e coincide com acelerações ausentes.
Padrão pseudossinusoidal: aspecto mais dentilhado
que o sinusoidal, duração geralmente menor que 30
minutos, precedido e seguido de padrão normal.
FCF: frequência cardíaca fetal; bpm: batimentos por minuto.
Fonte: Ayres-de-Campos D, Arulkumaran S; FIGO Intrapartum Fetal Monitoring Expert Consensus Panel. FIGO consensus guidelines on intrapartum
fetal monitoring: physiology of fetal oxygenation and the main goals of intrapartum fetal monitoring. Int J Gynaecol Obstet. 2015;131:5-8. (3)
Macones GA, Hankins GD, Spong CY, Hauth J, Mooreet T. The 2008 National Institute of Child Health and Human Development workshop report
on electronic fetal monitoring: update on definitions interpretation and research guidelines. Obstet Gynecol. 2008;112(3):661-6.(18)

FEMINA 2020;48(1): 59-64 | 61



Silveira SK, Trapani Júnior A

Quadro 2. Classificação dos traçados da cardiotocografia

Classificação NICHD/ACOG Classificação FIGO Interpretação e manejo

Categoria 1 Normal Traçado normal. Altamente preditivo


- Linha de base – 110-160 bpm de ausência de hipóxia ou acidose
Deve incluir todas as variáveis abaixo:
no momento do exame.
- Linha de base – 110-160 bpm - Variabilidade – 5-25 bpm
Sem necessidade de intervenção.
- Variabilidade moderada - Sem desacelerações recorrentes
- Sem desacelerações tardias ou variáveis
- Com ou sem desacelerações precoces
ou acelerações transitórias
Categoria 2 Suspeita Traçado indeterminado. Baixa
- Bradicardia sem variabilidade ausente probabilidade de hipóxia e acidose.
Falta uma das características
Necessita de acompanhamento
- Taquicardia de normalidade, porém sem
e reavaliação após instituição de
características patológicas.
- Variabilidade mínima ou aumentada medidas de reanimação intrauterina.
- Variabilidade ausente sem Corrigir causas reversíveis,
desacelerações recorrentes monitorização contínua ou uso de
- Ausência de aceleração outros métodos de avaliação da
após estímulo fetal oxigenação fetal, se disponível.
- Desacelerações variáveis recorrentes
com variabilidade mínima ou moderada
- Desacelerações prolongadas
- Desacelerações tardias recorrentes
com variabilidade moderada
- Desacelerações variáveis com outras
características: retorno lento à linha
de base, overshoot e shoulder
Categoria 3 Patológica Traçado anormal. Alta probabilidade
- Variabilidade ausente com - Linha de base abaixo de 100 bpm de hipóxia e acidose.
desacelerações tardias ou variáveis - Variabilidade reduzida ou acentuada Corrigir causas reversíveis e adicionar
recorrentes ou com bradicardia outros métodos de avaliação da
- Padrão sinusoidal
- Padrão sinusoidal oxigenação fetal, se disponíveis (exceto
- Desacelerações tardias recorrentes nas situações emergenciais como DPP,
- Desacelerações prolongadas com mais ruptura uterina e prolapso de cordão.
de 30 minutos ou com mais de 20 Indicada interrupção imediata se não
minutos com variabilidade reduzida houver reversão em poucos minutos.
- Uma desaceleração prolongada
com mais de 5 minutos
DPP: descolamento prematuro de placenta; bpm: batimentos por minuto.
Fonte: Ayres-de-Campos D, Arulkumaran S; FIGO Intrapartum Fetal Monitoring Expert Consensus Panel. FIGO consensus guidelines on intrapartum
fetal monitoring: physiology of fetal oxygenation and the main goals of intrapartum fetal monitoring. Int J Gynaecol Obstet. 2015;131:5-8. (3)
Macones GA, Hankins GD, Spong CY, Hauth J, Mooreet T. The 2008 National Institute of Child Health and Human Development workshop report
on electronic fetal monitoring: update on definitions interpretation and research guidelines. Obstet Gynecol. 2008;112(3):661-6.(18)

movimentação fetal excessiva, ansiedade apresentação, ao uso de medicamentos


materna, hipertireoidismo, anemia fetal, (b-bloqueadores, anestesia) e à taquissistolia.
taquiarritmia fetal (geralmente acima de 200 • Variabilidade:
bpm) e uso de medicamentos (b-adrenérgicos,
bloqueadores parassimpáticos) e de cocaína. ࢔ Ausente: padrão geralmente terminal;

• Bradicardia: quando associada à acidose, ࢔ Mínima: pode estar associada à acidemia,


geralmente, é precedida por outras alterações, especialmente, na ausência de acelerações
especialmente variabilidade mínima ou ausente transitórias e presença de desacelerações
e ausência de acelerações. Pode ocorrer devido tardias e variáveis. Descartar período de
a evento catastrófico (prolapso de cordão, sono fetal (duração de 20 a 60 minutos;
ruptura uterina, descolamento prematuro reverte espontaneamente ou com emprego
de placenta) ou à hipotensão materna, à de estímulo vibroacústico ou do polo cefálico
hipotermia, à hipoglicemia, ao pós-datismo, com o toque vaginal), uso de medicamentos
à bradiarritmia fetal, à descida rápida da (opioides, sulfato de magnésio, bloqueadores

62 | FEMINA 2020;48(1): 59-64


Monitorização fetal intraparto

Quadro 3. Medidas de reanimação intrauterina

Manejo Efeito Benefício potencial

Reposicionar a gestante Evita compressão aorto-cava e Reversão de desacelerações


em decúbito lateral melhora perfusão uteroplacentária. tardias, variáveis e prolongadas
Alivia compressão do cordão umbilical.
Suspensão de puxos maternos Diminui a compressão do polo cefálico. Reversão de desacelerações precoces
Suspensão de ocitocina e Reduz taquissistolia, melhorando Reversão de desacelerações
administração de uterolítico a oxigenação fetal. tardias, variáveis e prolongadas
Tratamento da taquissistolia
Administração de oxigênio para a mãe Aumento do aporte de Melhora da oxigenação fetal
oxigênio para o feto. (eficácia questionável)
Hidratação endovenosa Correção de hipovolemia materna. Melhora da perfusão uteroplacentária
Amnioinfusão Alivia compressão de cordão. Reversão de desacelerações
variáveis e prolongadas
Fonte: American College of Obstetricians and Gynecologists. ACOG Practice Bulletin No. 106: Intrapartum fetal heart rate monitoring: nomenclature,
interpretation, and general management principles. Obstet Gynecol. 2009;114(1):192-202. (19) American College of Obstetricians and Gynecologists. Practice
bulletin no. 116: management of intrapartum fetal heart rate tracings. Obstet Gynecol. 2010;116(5):1232-40. (20) Clark SL, Nageotte MP, Garite TJ, Freeman RK, Miller
DA, Simpson KR, et al. Intrapartum management of category II fetal heart rate tracings: towards standardization of care. Am J Obstet Gynecol. 2013;209(2):89-
97. (21) Timmins AE, Clark SL. How to approach intrapartum category II tracings. Obstet Gynecol Clin North Am. 2015;42(2):363-75. (22) Raghuraman N, Cahill
AG. Update on fetal monitoring: overview of approaches and management of category II tracings. Obstet Gynecol Clin North Am. 2017;44(4):615-24. (23)

parassimpáticos), prematuridade extrema, aceleração antes e/ou depois da desaceleração


infecção, má-formação do sistema nervoso ou da variabilidade durante a desaceleração,
central e coração, e dano neurológico prévio; recuperação lenta ou sem recuperação da
࢔ Moderada ou normal: geralmente, linha de base ou seguida de taquicardia
indica ausência de acidose, mesmo compensatória (overshoot), ou morfologia
se associada à desaceleração; geminada. Nesses casos, pode estar associada
à acidose. A presença de variabilidade normal
࢔ Acentuada: significado indeterminado. e/ou acelerações transitórias sugere que o
Pode ser decorrente de movimentação feto não está acidótico. Associada à circular
fetal intensa ou de depressão do sistema de cordão, ao período expulsivo, ao cordão
nervoso central consequente a evento curto, ao oligoâmnio e à amniorrexe;
hipóxico de instalação rápida.
࢔ Precoce: geralmente sem significado clínico.
• Desacelerações: Está associada à compressão do polo
࢔ Tardia: resposta reflexa à hipóxia mediada pelos cefálico no final do trabalho de parto;
quimiorreceptores. Isoladamente, tem pouco ࢔ Prolongada: reverte espontaneamente em
valor preditivo para acidose, mesmo quando 6 a 9 minutos se causada por reflexo vagal,
recorrente. Sugere insuficiência uteroplacentária porém pode ser decorrente de evento
se não houver recuperação com as medidas catastrófico (prolapso de cordão, ruptura
de reanimação intrauterina, evoluir com uterina, descolamento prematuro de placenta,
aumento da frequência cardíaca basal ou se ruptura de vasa prévia, colapso/hipotensão
associada à variabilidade mínima ou ausente e materna etc.), taquissistolia, descida rápida
ausência de acelerações transitórias. Descartar da apresentação fetal, toque vaginal e outros.
taquissistolia, hipotensão e hipóxia materna; Pior prognóstico se durar mais de 5 minutos,
࢔ Variável: é a mais frequente. Resposta reflexa houver variabilidade mínima/ausente antes
à hipóxia mediada pelos barorreceptores ou durante a desaceleração, desaceleração
após compressão do cordão e aumento da tardia/variável prévia, queda maior que 60
pressão arterial. Considerada típica quando bmp ou atingir basal abaixo de 80 bpm.
apresenta pequena aceleração antes e após a
desaceleração (shoulder), queda e recuperação RECOMENDAÇÕES FINAIS
rápida à linha de base. É considerada atípica monitorização fetal intraparto pode ser
1. A
se recorrente, que progride em profundidade realizada por meio da ausculta intermitente,
e duração (especialmente se duração maior da cardiotocografia ou intercalando os dois
que 60 segundos e queda maior que 60 métodos. Nas parturientes de risco habitual,
bpm ou que alcança 60 bpm), com perda da é recomendada a ausculta intermitente.

FEMINA 2020;48(1): 59-64 | 63


Silveira SK, Trapani Júnior A

Nas de alto risco, há preferência pela 10. Nelson KB, Sartwelle TP, Rouse DJ. Electronic fetal monitoring,
cerebral palsy, and caesarean section: assumptions versus
monitorização contínua, se disponível. evidence. BMJ. 2016;355:i6405.
cardiotocografia apresenta alta
2. A 11. Alfirevic Z, Devane D, Gyte GM, Cuthbert A. Continuous
sensibilidade, baixa especificidade e alta cardiotocography (CTG) as a form of electronic fetal monitoring
(EFM) for fetal assessment during labour. Cochrane Database Syst
taxa de falso-positivo para acidose e baixa Rev. 2017;2:CD006066.
concordância intra e interobservador. 12. Ayres-de-Campos D, Spong CY, Chandraharan E; FIGO Intrapartum
iante de traçado alterado, deve-se
3. D Fetal Monitoring Expert Consensus Panel. FIGO consensus
guidelines on intrapartum fetal monitoring: cardiotocography. Int J
tentar elucidar a causa, instituir medidas Gynaecol Obstet. 2015;131(1):13-24.
de reanimação intrauterina e seguir 13. Pinas A, Chandraharan E. Continuous cardiotocography during
protocolo de conduta específico. labour: Analysis, classification and management. Best Pract Res
Clin Obstet Gynaecol. 2016;30:33-47.
14. Vintzileos AM, Smulian JC. Decelerations, tachycardia, and
REFERÊNCIAS decreased variability: have we overlooked the significance of
longitudinal fetal heart rate changes for detecting intrapartum
1. Ayres-de-Campos D. Introduction: why is intrapartum foetal
fetal hypoxia? Am J Obstet Gynecol. 2016;215(3):261-4.
monitoring necessary – Impact on outcomes and interventions.
Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2016;30:3-8. 15. Clark SL, Hamilton EF, Garite TJ, Timmins A, Warrick PA, Smith S. The
limits of electronic fetal heart rate monitoring in the prevention of
2. Committee on Obstetric Practice, American College of Obstetricians neonatal metabolic acidemia. Am J Obstet Gynecol. 2017;216(2):163.e1-6.
and Gynecologists. ACOG Committee Opinion. Number 326,
16. Holzmann M, Wretler S, Cnattingius S, Nordström L.
December 2005. Inappropriate use of the terms fetal distress and
Cardiotocography patterns and risk of intrapartum fetal acidemia. J
birth asphyxia. Obstet Gynecol. 2005;106(6):1469-70.
Perinat Med. 2015;43(4):473-9.
3. Ayres-de-Campos D, Arulkumaran S; FIGO Intrapartum Fetal 17. Ugwumadu A. Understanding cardiotocographic patterns
Monitoring Expert Consensus Panel. FIGO consensus guidelines associated with intrapartum fetal hypoxia and neurologic injury.
on intrapartum fetal monitoring: physiology of fetal oxygenation Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2013;27(4):509-36.
and the main goals of intrapartum fetal monitoring. Int J Gynaecol
18. Macones GA, Hankins GD, Spong CY, Hauth J, Mooreet T. The 2008
Obstet. 2015;131:5-8.
National Institute of Child Health and Human Development
4. Yli BM, Kjellmer I. Pathophysiology of foetal oxygenation and workshop report on electronic fetal monitoring: update on
cell damage during labour. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. definitions interpretation and research guidelines. Obstet Gynecol.
2016;30:9-21. 2008;112(3):661-6.
5. Rainaldi MA, Perlman JM. Pathophysiology of birth asphyxia. Clin 19. American College of Obstetricians and Gynecologists. ACOG
Perinatol. 2016;43(3):409-22. Practice Bulletin No. 106: Intrapartum fetal heart rate monitoring:
nomenclature, interpretation, and general management principles.
6. Lewis D, Downe S; FIGO Intrapartum Fetal Monitoring Expert Obstet Gynecol. 2009;114(1):192-202.
Consensus Panel. FIGO consensus guidelines on intrapartum
fetal monitoring: intermittent auscultation. Int J Gynaecol Obstet. 20. American College of Obstetricians and Gynecologists. Practice
2015;131(1):9-12. bulletin no. 116: management of intrapartum fetal heart rate
tracings. Obstet Gynecol. 2010;116(5):1232-40.
7. Mullins E. Lees C, Brocklehurst P. Is continuous electronic fetal
21. Clark SL, Nageotte MP, Garite TJ, Freeman RK, Miller DA, Simpson
monitoring useful for all women in labor? BMJ. 2017;359:j5423.
KR, et al. Intrapartum management of category II fetal heart rate
8. World Health Organization (WHO). WHO recommendations: tracings: towards standardization of care. Am J Obstet Gynecol.
intrapartum care for a positive childbirth experience. Geneva: 2013;209(2):89-97.
World Health Organization; 2018. 22. Timmins AE, Clark SL. How to approach intrapartum category II
9. Devane D, Lalor JG, Daly S, McGuire W, Cuthbert A, Smith V. tracings. Obstet Gynecol Clin North Am. 2015;42(2):363-75.
Cardiotocography versus intermittent auscultation of fetal heart 23. Raghuraman N, Cahill AG. Update on fetal monitoring: overview
on admission to labour ward for assessment of fetal wellbeing. of approaches and management of category II tracings. Obstet
Cochrane Database Syst Rev. 2017;(1):CD005122. Gynecol Clin North Am. 2017;44(4):615-24.

64 | FEMINA 2020;48(1): 59-64

Você também pode gostar