Modalidades Organizativas Do Trabalho Pedagógico
Modalidades Organizativas Do Trabalho Pedagógico
Modalidades Organizativas Do Trabalho Pedagógico
Alfredina Nery1
1 Formada em Letras e Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo – Professora universitária, formadora e consultora
pedagógica na área de linguagem/ língua/leitura.
Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã; ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a
outro: de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros se
cruzem os fios do sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.
.......................................João Cabral de Melo Neto
O PLANEJAMENTO
Por entender que a realidade precisa ser observada, analisada, comparada e reinserida no todo,
tendo em vista o processo, as contradições e as aproximações sucessivas, o planejamento pedagógico
do(a) professor(a) começa,coletivamente, a partir do que toda a escola pensa e realiza em seu projeto
pedagógico.
O planejamento da escola contempla, assim, desde os critérios de organização das crianças em
classes ou turmas, a definição de objetivos por série ou ano, bem como o planejamento do tempo,
espaço e materiais considerados nas diferentes atividades e seus modos de organização: hora de sala de
aula, brincadeiras livres, hora da refeição, saídas didáticas, atividades permanentes, sequências
didáticas, atividades de sistematização, projetos etc.
Um outro aspecto, muitas vezes negligenciado, é a participação dos pais/ comunidade no
planejamento escolar. Não se pode esquecer que são suas histórias, suas profissões, seus modos de
entender e agir no mundo que constituem a identidade das crianças, nossos estudantes na escola.
E mais: se entendemos que o currículo escolar é construção da identidade do estudante e espaço
de conflito dos interesses da sociedade, o planejamento precisa ser compreendido como processo
coletivo e como ferramenta de diálogo em que se considere a participação também dos estudantes no
trabalho a ser constituído, bem como da comunidade escolar.
O(a) professor(a) planeja seu curso, levando em conta o plano/projeto da escola e as crianças
concretas de sua turma: seus conhecimentos, interesses, necessidades. Considera ainda as condições
reais de seu trabalho, sua trajetória profissional, bem como os objetivos pedagógicos para os estudantes
dos anos iniciais do ensino fundamental.
Em se tratando de planejamento, sabemos que uma questão fundamental a ser enfrentada no
trabalho cotidiano diz respeito ao tempo, que é sempre escasso, por isso, há necessidade de qualificá-lo
didaticamente. Nesse sentido, o tempo deve ser organizado de forma flexível, possibilitando que se
retomem perspectivas e aspectos dos conhecimentos tratados em diferentes situações didáticas. Outro
aspecto é o fato de as pessoas aprenderem de formas diferentes, porque têm tempos também
diferentes de aprendizagem. Variar, então, a forma de organizar o trabalho e seu tempo didático pode
criar oportunidades diferenciadas para cada estudante, o que pode representar um ganho significativo
na direção da formação de todos, sem excluir nenhum estudante.
AS MODALIDADES DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO
As atividades discutidas a seguir levam em conta algumas possibilidades de
integração/articulação entre as áreas do conhecimento, não só como processo de trabalho do(a)
professor(a), na sala de aula, como da própria escola, como coletividade. Selecionamos quatro
modalidades que podem contribuir bastante para a organização do tempo pedagógico: atividade
permanente, sequências didáticas, projetos e atividades de sistematização.
Ressalte-se, já de início que, no texto Avaliação e aprendizagem na escola: a prática pedagógica
como eixo da reflexão, há um instrumento sugerido, denominado diários de classe ampliados.
Acreditamos que as quatro modalidades, a seguir discutidas, podem constar dos referidos
diários, como forma de avaliação e acompanhamento do processo dos estudantes, com ênfase tanto no
engajamento de cada criança da turma, quanto em suas aprendizagens conceituais mais específicas.
ATIVIDADE PERMANENTE
1 - O que é
Trabalho regular, diário, semanal ou quinzenal que objetiva uma familiaridade maior com um
gênero textual, um assunto/tema de uma área curricular, de modo que os estudantes tenham a
oportunidade de conhecer diferentes maneiras de ler, de brincar, de produzir textos, de fazer arte etc.
Tenham, ainda, a oportunidade de falar sobre o lido/vivido com outros, numa verdadeira
“comunidade”.
2 - Sugestões
Você sabia? – momento em que se discutem assuntos/temas de interesse das crianças. “Como
viviam os dinossauros?” “Por que a água do mar é salgada?” “Como as crianças indígenas brincam?”.
Cada estudante ou grupo pode se encarregar de tentar descobrir respostas para as perguntas. O
professor também pode trazer, para esse momento, suas observações sobre o que mais mobiliza sua
turma, em termos de curiosidade científica. É hora de trazer conteúdos das outras áreas curriculares:
história, geografia, ciências, matemática, educação física, como objeto de leitura e discussão.
Notícia da hora – momento reservado às notícias que mais chamaram a atenção das crianças na
semana. Hora de exercitar o relato oral da criança que, por sua vez, vai aprendendo, cada vez mais, a
fazê-lo, fazendo. Momento organizado para também o professor selecionar notícias que não mobilizaram
as crianças, mas que podem ser discutidas em sala, na tentativa de ampliar as referências do grupo-
classe.
Nossa semana foi assim...momento em que se retoma, de forma sucinta, o trabalho
desenvolvido e se auxiliam as crianças no relato e na síntese do que aprenderam; em que a memória de
um pode/deve ser complementada com a fala do outro; em que o professor faz uma síntese escrita na
lousa ou em cópias no papel ou no retroprojetor. Enfim, é hora de sistematizar, um pouco mais, as
aprendizagens da semana:o que sabíamos? O que aprendemos? O quequeremos aprender mais?Vamos
brincar? – momento em que se “brinca por brincar”, em pequenos grupos, meninas com meninos, só
meninas, só meninos, em duplas, em trios, sozinhos. É hora de o(a) professor(a) garantir a brincadeira,
organizando, com as crianças, tempos, espaços e materiais para esse fim. É hora de observar as crianças
nesse “importante fazer”. É hora de registrar essas observações para que possam ajudar o(a) professor(a)
a planejar outras atividades, a partir de um maior conhecimento sobre a turma, sobre cada criança.
Fazendo arte – momento reservado para as crianças conhecerem um artista específico (músico,
poeta, pintor, escultor etc.), sua obra, sua vida. Pode ser hora ainda de “fazer à moda de...”, em que as
crianças realizam releituras de artistas e obras. Pode também ser momento de autoria de cada criança,
por meio de sua expressão verbal, plástica, sonora.
Cantando e se encantando – momento em que se privilegiam as músicas que as crianças
conhecem e gostam de cantar, sozinhas, todas juntas. É hora também de ouvir músicas de estilos e
compositores variados, como forma de ampliação de repertório e gosto musical.
No mundo da arte – momento em que se organizam idas dos estudantes a exposições,
apresentações de filmes, peças teatrais, grupos musicais. Para isso, planejar com as crianças toda a
atividade, fazendo o roteiro da saída, o que e como observar. Na volta, avaliar a atividade, ouvindo o que
as crianças sentiram e pensaram a respeito e organizando registros, com blocões, cadernos coletivos ou
murais.
Comunidade, muito prazer! – momento em que se convidam artistas da região ou profissionais
especializados (bombeiros, eletricistas, engenheiros, professores, repentistas, contadores de histórias
etc.) para irem à escola e fazerem uma apresentação/palestra/conversa. O evento demanda ação das
crianças junto com o(a) professor(a): elaborar o cronograma, selecionar as pessoas, fazer o convite,
organizar a apresentação da pessoa, avaliar a atividade etc.
A família também ensina...momento em que se convidam mãe, pai, avô, avó, tio, tia para contar
histórias, fazer uma receita culinária, contar como se brincava em sua época, cantar com as crianças. É a
família enriquecendo seus laços com a escola e com as crianças. É a família compartilhando seus
saberes.
Descobri na Internet –para as crianças que têm acesso em casa ou na comunidade à rede
mundial de computadores, é possível reservar um momento para as descobertas que realizam,
a partir dessa ferramenta de informação. Devagar, o(a) professor(a) pode ajudá-las a selecionar
informações e a ter uma visão mais crítica sobre o que circula na Internet.
Leitura diária feita pelo(a) professor(a) – momento em que se lê para as crianças.É momento
de o leitor experiente ajudar a ampliar o repertório dos leitores iniciantes. É possível, por exemplo, ler
uma história longa em capítulos, como se liam os folhetins, como se acompanha uma novela na TV, mas
também se pode ler histórias curtas, como fábulas, crônicas etc. Ou ler poemas, com muita
expressividade, enfatizando aqueles cuja sonoridade das palavras, cujo jogo verbal são as tônicas da
construção poética. É possível ler ainda o quadro de um pintor: suas formas, cores, linhas.
Roda semanal de leitura –com as possibilidades referidas e outras ainda, como, por exemplo,
quando as crianças selecionam, de própria escolha, em casa, na biblioteca (de classe, da escola ou da
cidade), livros/textos/gibis para ler em dias e horários predeterminados. Podem depois conversar sobre
o que leram para seus colegas. São leitores influenciando leitores.São leitores partilhando leituras.
OLHO VIVO
É possível planejar uma atividade diária ou semanal de leitura cuja finalidade seja fazer o
estudante conhecer melhor um determinado gênero de texto. Escolhido o gênero textual, determinar
por quanto tempo e como se vai lê-lo, em situações em que:
o(a) professor(a) leia com a turma, de forma compartilhada; a criança, individualmente, tenha
autonomia de leitura. Nesse caso, o(a) professor(a) pode também ler, neste momento, uma vez que ele é
um importante modelo de leitor para o estudante — é possível explicitar, inclusive, aos(às) menino(a)s
por quais razões todos lerão, inclusive ele/ela;
os estudantes leem em dupla, negociando sentidos.
Mas é preciso tomar cuidado! Entendemos a leitura, nessa modalidade de organização didática,
como uma atividade em si, na direção de formar leitores, por isso o importante é o convívio com os
textos. Não é ler para ...dramatizar, resumir, responder perguntas sobre o lido, fazer um desenho do
que se leu. É ler por ler. É ler para ampliar o repertório textual. Ou seja, a ênfase aqui é no processo de
leitura e não no produto; assim, a avaliação desse trabalho toma outro caráter. Assim, priorizamos duas
sugestões de avaliação:
1 - elaboração de uma “Ficha de leitores”, com dados sobre as leituras feitas. Em dias, previamente
marcados, comentam-se com a turma as fichas, instigando comentários gerais sobre os assuntos lidos e,
ainda, se quiser, os próprios processos de leitura dos estudantes (como tem sido a atividade
permanente? têm gostado? têm aproveitado? de que forma? etc.);
2- ao término de um tempo determinado (mês? bimestre? semestre?), o(a) professor(a), com as
crianças, avalia o trabalho realizado. Assim também o faz com seus pares professores. Então, a
escolaavalia o processo e todos decidem sobre a continuidade da atividade e eventuais
alterações/ampliações etc.
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
1 - O que é
Sem que haja um produto, como nos projetos, as sequências didáticas pressupõem um trabalho
pedagógico organizado em uma determinada sequência, durante um determinado período
estruturado pelo(a) professor(a), criando-se, assim, uma modalidade de aprendizagem mais orgânica.
Os planos de aula, em geral, seguem essa organização didática.
A sequência didática permite, por exemplo, que se leiam textos relacionados a um mesmo tema,
de um mesmo autor, de um mesmo gênero; ou ainda que se escolha uma brincadeira e se aprenda sua
origem e como se brinca; ou também que se organizem atividades de arte para conhecer mais as
várias expressões artísticas, como o teatro, a pintura, a música etc.; ou que se estudem conteúdos das
várias áreas do conhecimento do ensino fundamental, de forma interdisciplinar.
2 - Sugestões
Lendo Fábula
Objetivo: trabalhar com as estratégias de leitura, no sentido de a criança ir tomandoconsciência de que
o processo de ler prevêseleção, antecipação, inferência e verificaçãode aspectos do texto que se lê.
O urso e as abelhas
Um urso topou com uma árvore caídaque servia de depósito de mel para umenxame de abelhas.
Começou a farejaro tronco quando uma das abelhas doenxame voltou do campo de trevos.
Adivinhando o que ele queria, deu uma picada daquelas no urso e depoisdesapareceu no buraco do
tronco.O urso ficou louco de raiva e se pôs a arranhar o tronco com as garras na esperança de destruir
o ninho. A únicacoisa que conseguiu foi fazer o enxame inteiro sair atrás dele. O urso fugiu atoda a
velocidade e só se salvou porquemergulhou de cabeça num lago.
Moral da história: Mais vale suportar um só ferimento em silêncio que perder o controle e acabartodo
machucado (Fábulas de Esopo/compilação: Russel Ash e BerbardHigton; tradução de Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia
dasLetrinhas, 1994)
Desenvolvimento do trabalho
Os três momentos de trabalho, a seguir, representam um modo de ler diferente, por exemplo,
do que foi proposto na atividade permanente.Agora se trata de fazer uma espécie de “modelagem”
das estratégias que um leitor proficiente faz para compreender o que lê. Um bom começo é acomodar
as crianças de forma que se sintam confortáveis para a leitura.
Momento A - antes da leitura
Atividades cujo objetivo é trazer o repertório do leitor (seus conhecimentos prévios) para a
compreensão textual, discutindo os elementos contextualizadores do texto: autor, portador, título,
sumário, capas, assunto/tema, ilustrações.
1 – Mostre a capa e quarta-capa do livro em que está publicada a fábula, discutindo suas ilustrações
(ou então use outro livro de fábulas, em que há essa fábula, mesmo em outra versão, ou outra fábula
ainda...). Mostre também as ilustrações internas. Provavelmente, as crianças já conseguirão relacioná-
las a histórias de seu repertório. Pergunte, a partir dessas primeiras indicações, se sabem o que se vai
ler, nesse momento.
2 – Quando ler o título do livro, “Fábulas de Esopo”, é bem possível que muitas crianças explicitem
que conhecem fábulas sim. Peça, então, que algumas contem algumas histórias que conheçam. Não há
problema se foreme não, exatamente, fábulas. Essa é apenas umaboa oportunidade de os leitores se
aproximaremdo gênero textual “fábula” – afinal, aclassificação dos gêneros textuais também não é tão
tranquila, mesmo entre os especialistas.
3 – Em relação ao autor, conte às crianças quem foi Esopo: um escravo que teria vivido na Grécia,
no século V a.C., considerado omaior divulgador de fábulas. No entanto, não se sabe nem se ele
realmente existiu. Pode serque algumas crianças se lembrem de Monteiro Lobato, que também
escreveu suas versões dealgumas fábulas. Incentive-as para que falema respeito.
4 – Em seguida, leia os títulos de algumas fábulas presentes no livro, perguntando seas crianças
conhecem algumas delas. Seriainteressante ouvir algumas dessas históriascontadas pelas crianças.
Se esse momento, em que se explicitam os conhecimentos dos estudantes, for rico em
discussão,as crianças possivelmente estarão maismotivadas, inclusive, para prosseguirem coma leitura.
Se você registrar as reflexões feitas,em forma de cartaz, por exemplo, poderão, nomomento C, discutir
as hipóteses levantadas, oque é fundamental para o processo de leitura:fazer antecipações iniciais que
se vão ou não confirmando ao longo da leitura.
Momento B – durante a leitura
Atividades cuja finalidade é apresentar alguns objetivos orientadores do ato de ler, por meio de
um levantamento de aspectos que auxiliem a construção dos sentidos do texto: o tema, o gênero
textual em suas funções e características, os recursos expressivos utilizados pelo autor. Dessa forma,
você estabelece com os estudantes alguns objetivos para antecipar aspectos importantes do texto, por
meio de um mapa textual que os ajude na compreensão global do que vão ler.
1 – Antes de realizar a leitura da fábula, em voz alta, para as crianças, peça que prestem atenção
- em quem participa da história e como agem;
- nos três momentos da narrativa;
- no ensinamento presente na fábula.
2 – Leia, expressivamente, a história.
Momento C – depois da leitura
Atividades cujos objetivos são ampliar as referências culturais dos leitores, especialmente
osconteúdos das várias áreas do conhecimento implicadas no texto, refletindo sobre seus aspectos
polêmicos e, ainda, discutir as perspectivas do narrador e do leitor. É também momento de ensinar o
estudante a fazer paráfrases(orais ou escritas) do que leu e produzirtextos em outras linguagens
(desenho, pintura, dramatização etc.);
1 - Discuta as hipóteses das crianças levantadas no momento A: confirmaram-se? Totalmente?
Parcialmente? Não se confirmaram? Por quê? Veja que não é reduzir ao “acertou ou errou”, mas
valorizar os conhecimentos dos leitores.
2 - Converse com as crianças sobre as personagens da história: urso e abelhas. Pergunte se
sabem qual é uma das comidas prediletas dos ursos, para que percebam que esse é o motivo inicial da
discórdia entre o urso e a abelha que o picou primeiro. Aproveite para retomar o título da fábula, o qual
confirma o tema da história. Se as crianças se lembrarem de outras fábulas, vão perceber que, em geral,
muitas delas têm como título o nome dos animais que são personagens: “A lebre e a tartaruga”, “O leão
e o rato”, “O burro e o cão”, “O galo e a raposa” etc.
3 - Discuta como a abelha agiu para defender sua moradia e como o urso agiu sob o comando da
raiva. Problematize a questão, falandotambém sobre os comportamentos humanos em determinadas
situações. As crianças conhecem algum filme em que essas situações também são apresentadas? Como
foi isso? Essa discussão vai deixando claro para os estudantes uma das características da fábula como
gênero textual.
4 - Converse sobre os três momentos da história: a ação do urso procurando mel; a picada da
abelha e a reação do urso; o ataque maciço das abelhas. Sabemos que o enredo de uma narrativa
ficcional tradicional articula-se em torno de uma situação inicial, uma complicação/desequilíbrio e um
desfecho.
Evidentemente que essa nomenclatura não precisa ser explicitada para as crianças, mas
provavelmente, ao conhecer mais essas narrativas, eles irão se apropriando da concepção de que esses
elementos fazem parte do gênero textual.
5 – Faça com as crianças, oralmente, alguns exercícios de substituição de certas palavras ou
expressões do texto, para que percebam certos recursos linguísticos usados pelo autor:
a) “O urso começou a farejar o tronco”. Que outra palavra poderia ser usada? Cheirar? Qual a
diferença entre “cheirar” e “farejar”? Parece que “farejar” é mais próprio de bicho, de animal.
b) “A abelha deu uma picada daquelas no urso”. Como seria outra forma de dizer isso? A abelha deu
uma enorme picada no urso? A abelha deu uma picada muito grande no urso? Outras possibilidades?
c) “O urso ficou louco de raiva”. Como as crianças diriam isso, com outras palavras? O urso ficou
muito bravo mesmo? O urso ficou com muita raiva? Outras possibilidades?
6 - Proponha uma questão para as crianças: se houvesse um diálogo na fábula entre o urso e a
abelha, como poderia ser ele? Essa é uma boaoportunidade de discutir as formas de diálogo das
narrativas e, se quiser, até mesmo a diferença entre um diálogo oral e um escrito.
7 - Faça uma lista de títulos de fábulas que as crianças conhecem, salientando quem são os
personagens e que comportamentos humanos representam. Sabemos que a fábula é uma narrativa
curta, que faz uma crítica a certos comportamentos humanos por meio de personagens que são
animais. Nela há sempre uma moral, que pode vir explícita no texto ou não.
8- Leia de novo a moral da fábula “O urso e as abelhas” e peça que as crianças comentem-na:
concordam com ela? Por quê? Discordam? Por quê? Já viveram alguma situação parecida? Conhecem
alguém que viveu? Como foi? Faça uma lista de provérbios que os estudantes conhecem, explicando
que os provérbios são frases prontas que vieram das fábulas e acabaram por ficar independentes das
histórias.
9-Peça que as crianças façam paráfrases orais da fábula. Lembre-se de que esse momento é para
recontar com as próprias palavras, sem fugir do texto. Um leitor pode ajudar o outro.
10 - Peça que as crianças imitem a cena em que o urso corre para o lago, com as abelhas
atacando-o. A expressão corporal é uma importante linguagem humana, especialmente na infância.
Aproveitem o momento para se divertir com as diferentes maneiras por meio das quais as crianças
representam o urso em seu desespero para se safar do ataque das abelhas.
11 - Solicite, depois, que os estudantes desenhem esse mesmo momento. É enriquecedor que as
crianças possam se expressar a partir de várias e diferentes linguagens. Em seguida, se tiver a edição
indicada, mostre a ilustração da fábula no livro em que há exatamente esse episódio. Conversem a
respeito, especialmente sobre as diferentes possibilidades de ilustrar uma mesma cena.
12 - Organize com as crianças uma maquete da floresta onde teria acontecido a história do urso
e das abelhas. Solicite que, primeiramente, as crianças falem a respeito. Depois, anote aspectos que
devem ser considerados numa descrição mais minuciosa desse espaço. Não se esquecer de que a
“floresta”, nas histórias tradicionais, que tanto encanta as crianças, tem toda uma magia que aflora
nossa imaginação, nossas sensações e até mesmo nossos medos. Assim, a maquete poderia contemplar,
de alguma forma, as representações sobre esse espaço tão especial.
BRINCADEIRAS DE ONTEM E DE HOJE: OUTRA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
Objetivo: compreender o brincar como ação humana fundamental para o desenvolvimento da
pessoa e dos grupos sociais, em diferentes épocas e espaços.
Desenvolvimento do trabalho
1 – Comece perguntando quais são as brincadeiras preferidas das crianças. Faça uma relação dos
nomes das brincadeiras citadas, em um cartaz, e guarde para uma discussão posterior.
2 – Reserve dias, horários e materiais (se for o caso) para as crianças vivenciarem as brincadeiras
mais citadas.
3 – Durante as brincadeiras – das quais você pode participar ou não – registre como as crianças
se organizam para brincar; quem fica de fora e por quê; quais as negociações mais frequentes entre
elas; como vai a sociabilidade da turma etc. Procure analisar esse momento a fim de que sejam
incorporadas as contradições e as tensões sempre presentes nas relações humanas.
Ou dito de outra forma: tomar cuidado para não ser moralista e “pregar sermão”, na direção de
um “bom” comportamento das crianças, de modo que simplifique o que é complexo.
Veja o que diz a respeito um trecho do texto O brincar como um modo de ser e estar no mundo.
Compartilhando brincadeiras com as crianças, sendo cúmplices, parceiros, apoiando-as,
respeitando-as e contribuindo para ampliar seu repertório. Observando-as para melhor conhecê-las,
compreendendo seus universos e referências culturais, seus modos próprios de sentir, pensar e agir,
suas formas de se relacionar com os outros. Percebendo as alianças, amizades, hierarquias e relações de
poder entre pares.
Estabelecendo pontes, com base nessas observações, entre o que se aprende no brincar e em
outras atividades, fornecendo para as crianças a possibilidade de enriquecerem-se e enriquecerem-nas.
Centrando a ação pedagógica no diálogo com as crianças e os adolescentes, trocando saberes e
experiências, trazendo a dimensão da imaginação e da criação para a prática cotidiana de ensinar e
aprender.
Enfim, é preciso deixar que as crianças e os adolescentes brinquem, é preciso aprender com eles
a rir, a inverter a ordem, a representar, a imitar, a sonhar e a imaginar.
E, no encontro com eles, incorporando a dimensão humana do brincar, da poesia e da arte,
construir o percurso da ampliação e da afirmação de conhecimentos sobre o mundo. Dessa forma,
abriremos o caminho para que nós, adultos e crianças, nos reconheçamos como sujeitos e atores sociais
plenos, fazedores da nossa história e do mundo que nos cerca.
4. a- Quando terminarem de brincar e de conversar a respeito do que se passou, é momento de
ouvir as crianças: o que fizeram,como se sentiram, o que tiveram que negociarcom o outro etc. Lembre-
se de que o comentário é um gênero textual que prevê uma certa explicação (sobre um fato, um texto
escrito, um filme etc.) e a opinião de quem comenta.
Novamente, veja que há uma diferença entre o que se propõe aqui e a atividade permanente,
anteriormente explicitada. Na atividade permanente, é “brincar por brincar”. É “brincar como
experiência de cultura”, mesmo considerando que o espaço escolar é um contexto específico que
também constrói suas relações com as crianças, diferentemente da rua, da casa etc.
4. b - Uma outra maneira de trabalhar o “depois da brincadeira” é solicitar que as crianças façam
colagens, pinturas, modelagens que representem o que viveram, o que experimentaram, o que sentiram
quando estavam brincando.
5. a - Solicite que a turma pesquise – em casa, na biblioteca da escola/da cidade, na Internet,
com familiares e amigos – livros que tratem de brincadeiras de crianças. Marque um dia para que todos
tragam suas contribuições e socializem uns com os outros. Converse a respeito das brincadeiras
pesquisadas e compare-as com as da lista feita no item 1 desta sequência.
5. b - Se possível, mostre às crianças uma reprodução do famoso quadro de Bruegel“Brincadeiras
de rapazes”, que foi pintado em 1560 e está em um museu de Viena, na Áustria. É uma aldeia medieval,
pequena e antiga, em que há muitos brinquedos e brincadeiras. Veja, então, se sua turma reconhece
algumas delas: pula-sela? Roda arco? Cambalhota? Quais mais?
5. c – Se possível, mostre também reproduções de telas de Portinari, como “Jogos infantis”
(1945), “Brincadeiras infantis” (1942), “Meninos soltando pipas” (1943), “Menino com pião” (1947),
“Futebol” (1935) cujos temas são a infância e o brincar. Discuta formas, imagens, cores usadas pelo
artista.
Obs.: há um livro muito interessante, chamado Brinquedos e Brincadeiras, de Nereide Schiaro Santa
Rosa (Editora Moderna, 2001), que traz muitas reproduções de pinturas e esculturas de artistas
brasileiros e estrangeiros sobre o tema. Vale a pena conhecer!
6 - Peça que os estudantes pesquisem a respeitodas brincadeiras dos pais, avós, tios, primos mais
velhos, em seus tempos de criança.
Solicite que gravem, escrevam ou peçam para alguém escrever as regras de como se brincava cada uma
das brincadeiras.
7 - Em dia e hora, previamente marcados,organize a turma em pequenos grupos para que
contem uns para os outros a respeito das brincadeiras pesquisadas.
8 - Solicite que cada grupo explique para o grande grupo uma ou duas brincadeiras, entre todas
as trazidas pelas crianças, em momento reservado especialmente para isso.
9 - Proceda, junto com as crianças, a uma seleção das “brincadeiras de antigamente”,entre
aquelas que foram apresentadas. Aproveite para categorizar as brincadeiras trazidas, com alguns
critérios, como brincadeiras com o corpo, brincadeiras com bola/sem bola, brincadeiras de
meninas/meninos/ambos (e outros critérios estabelecidos por você e sua turma).
Façam depois uma votação das brincadeiras já conhecidas e experimentadas pelas crianças, usando,
para a contagem dos votos, gráficos e tabelas. Essa é uma boa oportunidade para trabalhar a linguagem
gráfica da matemática.
10 - Organize espaço, tempo e materiais paraque as crianças brinquem as “brincadeiras de
antigamente”. Se possível, convide familiares dos estudantes para esse momento. Cada familiar pode
ficar em um pequeno grupo para também brincar.
OLHO VIVO
É possível proceder a um processo de escolha das brincadeiras, pelas crianças, para que se elabore uma
coletânea, cujo títulopoderia ser, por exemplo, “Brincadeiras de sempre: as brincadeiras preferidas da turma.....”.
Mas agora é outra história. O trabalho pode ser um projeto de produção de livro. Essa escolha passa, é lógico por
todo um procedimento de escrita que pressupõe um planejamento: para que se vai escrever, quem é o leitor
previsto para o livro, o que e como escrever. Prevê ainda versões do mesmo texto até se chegar à versão final
para que as regras estejam bem explicadas tendo em vista o leitor. E, finalmente, pensar no dia de lançamento do
livro, junto à comunidade escolar.
Lembrar que todo esse trabalho deve envolver as crianças integralmente, tanto na elaboração das regras das
brincadeiras que constarão da publicação e na confecção do objeto “livro” – capas, página de rosto, dedicatória,
prefácio, sumário, ilustrações –, quanto na organização do lançamento do livro: convites aos familiares, às outras
turmas da escola, à imprensa local; o papel do “mestre de cerimônia” que faz a abertura do evento e explica
todos os momentos etc.
PROJETO
1 - O que é
Essa modalidade de organização do trabalho pedagógico prevê um produto final cujo
planejamento tem objetivos claros, dimensionamento do tempo, divisão de tarefas e, por fim, a
avaliação final em função do que se pretendia. Tudo isso feito de forma compartilhada e com cada
estudante tendo autonomia pessoal e responsabilidade coletiva para o bom desenvolvimento do
projeto.
O projeto é um trabalho articulado em que as crianças usam de forma interativa as quatro
atividades linguísticas básicas — falar/ouvir, escrever/ler —, a partir de muitos e variados gêneros
textuais, nas várias áreas do conhecimento, tendo em vista uma situação didática que pode ser mais
significativa para elas. Marcamoscom um asterisco (*) alguns gêneros textuaisque serão mais
detalhadamente trabalhados na modalidade “Atividade de sistematização”.
Ressalte-se que isso poderia ter sido feito também nas outras modalidades organizativas, uma
vez que a atividade de sistematização é entendida como uma “parada” para estudar mais, para enfatizar
e sistematizar conhecimentos das crianças relativos a temas/assuntos, gêneros textuais, aquisição da
base alfabética, convenções da escrita etc.
2 - Sugestões
Projeto: Nossa cidade, nossa casa
Produto:uma mostra que expresse a cultura e a produção artística do bairro, da cidade ou do município
em que a escola se localiza.
O acervo pode ser verbal (oral e/ou escrito), imagético (fotografias, colagens, desenhos etc.), fílmico
(gravações em fitas de vídeo). Pode ser também uma exposição de obras da cultura local: esculturas,
quadros, peças de tecido, utensílios variados etc.
Objetivo: propiciar que o estudante conheça mais o lugar em que vive, percebendo-se como parte dele.
Desenvolvimento do trabalho
1 - Discuta com os estudantes o projeto: objetivos, etapas, necessidade de envolvimento de todos,
responsabilidade de cada um e produto final. Discuta o projeto com os pais/comunidade no sentido de
ter a adesão deles em relação à finalidade desse trabalho, assim como possíveis contribuições.
2- Organize as crianças em grupos para que cada um faça uma pesquisa. As categorias poderiam ser, por
exemplo:
- a breve história da cidade;
- o museu;
- a biblioteca;
- os grupos de dança;
- os grupos musicais;
- as comidas típicas;
- o teatro (ou grupos de teatro mesmo sem sede física)
- o artesanato local;
- os artistas da região: poetas, cantadores,contadores de histórias, repentistas,pintores etc.;
- as atrações turísticas (toda cidade as tem, mesmo que seus moradores, muitas vezes, não saibam ou
não percebam esse potencial...).
3 - Auxilie os grupos com a sua pesquisa e também peça para que as crianças pesquisemcom familiares,
amigos e moradores mais antigos seus conhecimentos sobre a cultura local e até mesmo se há
disponibilidade de objetos que possam ser emprestados para a mostra cultural/acervo. Um gênero
textual para esse momento pode ser a entrevista oral ou escrita (*).
4 - Proporcione ainda visitas a locais da cidade que possam contribuir para a pesquisa das crianças,
como a sede da prefeitura, o jornal da região etc. Para essa saída da escola, é possível elaborar com as
crianças uma carta requerimento (*) para reservar/marcar a ida a esses lugares.
5 - Enfatize bastante com os estudantes a questão das mudanças históricas havidas entre o
“antigamente” e o “hoje”. Organize com eles um cartaz em que possam ir registrandoas contribuições
das pesquisas, ao longo do desenvolvimento do projeto, na direção de compreenderem um importante
conceito que se refere às permanências e mudanças do contexto histórico e geográfico.
OLHO VIVO
A partir do século XX, são considerados fontes históricas vários registros como músicas, mapas, gráficos, pinturas,
gravuras, fotografias, ferramentas, utensílios, festas, rituais, edificações, literatura oral e escrita etc. Nesse
sentido, os estudantes podem enriquecer suas pesquisas com um farto material, entendendo, inclusive, não só
que são parte da história que está sendo construída, como também podem viver o papel do historiador, quando
investigam e encontram documentação histórica, a partir dessas fontes variadas.
6 - Ajude os estudantes nos planos de trabalhopara que possam ter autonomia de trabalho e cumprir o
cronograma estabelecido. Defina com eles quais os dias da semana serão reservados para o projeto,
quanto tempo o projeto vai durar, que grupo vai fazer o quê, para quê, onde, como e quando.
7 - Ao longo do desenvolvimento do projeto, marque as datas em que discutirão os andamentos das
pesquisas, os registros (orais ou escritos) do que as crianças estão aprendendo com o trabalho, o
trabalho em cada grupo, bem como os produtos finais: painel fotográfico?
Audição de músicas, declamadores, contadores de histórias? Apresentação de dança e/oude teatro?
Exposição de objetos culturais? Feira de comidas típicas? Enfim, são muitas as possibilidades...
8 - Os produtos finais podem ser apresentados tanto num mesmo dia, previamente estabelecido,
quanto em dias diferentes, também acordados em consonância com os estudantes e a comunidade.
OLHO VIVO
É bom lembrar que um projeto pode demandar outros projetos para ampliação de alguns aspectos. Um
projeto comporta, assim, uma grande flexibilidade no seu desenvolvimento, a depender dos nossos
objetivos, dos interesses e necessidades das crianças e, por fim, do envolvimento de todos.
- LISTA
Quanto à situação de produção do texto Crianças e professor(a) vivendo o cotidiano de trabalho na sala
de aula, necessitando organizar dados.
Organização do texto
Identificação da necessidade da lista cujos critérios e disposição gráfica (vertical? horizontal?) são
discutidos com as crianças, bem como o título da lista que representa a unidade temática do texto.
A linguagem
Seleção de objetos, nomes de pessoas, ingredientes (a depender do que trata a lista). E ainda seus
quantitativos como, por exemplo, o acervo da classe - 6 livros de fábulas, 8 gibis, 4 livros com imagens
etc. (em diagramação horizontal ou em diagramação vertical):
- 6 livros de fábulas;
- 8 gibis;
- 4 livros com imagens etc.
c) Um suporte de texto para o Projeto: “Água: minha vida/nossa vida”
- CARTAZ
Quanto à situação de produção do texto
O cartaz, socialmente, é usado para divulgar eventos: festas, exposições, espetáculos etc. Na escola, o
cartaz é usado também para registrar e divulgar estudos/descobertas dos estudantes. Em ambos os
casos, há a necessidade de ser bem compreendido pelos leitores e bem trabalhada sua finalidade. No
caso do projeto acima referido, ele prevê diversos “cartazes temáticos” que divulgarão as várias
descobertas das crianças.
Organização do texto
Analisar cartazes variados, selecionados pelo(a) professor(a) e pelos alunos, atentando para suas
condições de produção e suas características. As produções podem ser feitas em duplas, em forma de
primeira versão e, depois revisadas, coletivamente, para elaboração de uma segunda versão, levando
em conta tanto o sistema de escrita e suas convenções, quanto a organização do gênero textual.
A linguagem
As várias questões linguísticas para a produção textual de um cartaz precisam ser discutidas/ensinadas
para as crianças:
- necessidade de a informação ser sintética, para poder ser lida, rapidamente, por um leitor
transeunte;
- palavras e expressões argumentativas para convencer o leitor a se interessar pelo tema do cartaz;
- expressões chamativas para atrair a atenção do leitor;
- diagramação/tamanho e tipo de letra que sejam legíveis a distância;
- presença ou não de ilustrações.
B - JOGOS PARA ALFABETIZAÇÃO OU OUTRAS ÁREAS
Podemos considerar atividades de sistematização,como foi sugerido no texto Letramento
ealfabetização: pensando a prática pedagógica:
- atividades com palavras significativas;
- brincadeiras com a língua – músicas, cantigas de roda, parlendas, poemas, quadrinhas, adivinhas,
palavras cruzadas, adedonha etc.;
-“três tipos de jogos: (1) os que contemplam atividades de análise fonológicasem fazer
correspondência com a escrita; (2) os que levam a refletir sobre os princípios do sistema alfabético,
ajudando os estudantes a pensar sobre as correspondências grafofônicas (isto é, as relações letra-
som); (3) os que ajudam a sistematizar essas correspondências grafofônicas.”
No texto O brincar como um modo de ser e estarno mundo, há sugestões de atividades lúdicas
como recursos pedagógicos: “bingos, enigmas, palavras cruzadas para trabalhar conhecimentos de
leitura e escrita, jogos matemáticos envolvendo conceitos de número, jogos de perguntas e respostas
sobre conhecimentos científicos, jogos teatrais com ênfase no uso da linguagem verbal e gestual”, que
também constituem atividades de sistematização.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES AINDA
Como o princípio maior que regeu a elaboração deste texto é que “todo professor é professor de
linguagem”, espera-se que as questões do ler/escrever e do falar/ouvir tenham sido compreendidas, em
relação a todas as áreas do conhecimento do ensino fundamental — ciências sociais, ciências naturais e
as linguagens —, na perspectiva de que os conteúdos estejam articulados a partir do eixo da linguagem.
Esclareça-se também que as modalidades de organização do trabalho pedagógico sugeridas não se
restringem ao trabalho com as crianças de seis anos, por isso podem estar presentes em todo o ensino
fundamental e outros segmentos, a partir dos mesmos princípios, na perspectiva de aprofundar e
sistematizar de ter minados conteúdos ou trazer outros tantos considerados relevantes pelo grupo, pela
escola e/ou sistema de ensino ao qual essa está vinculada.
Outro aspecto do trabalho com as modalidades organizativas é a sua extrema flexibilidade, a
depender dos objetivos e necessidades do(a) professor(a), da turma, da escola. É possível escolher uma
modalidade para uma determinada área do conhecimento, outra para um gênero textual ou outra ainda
para um certotema/assunto, durante um tempo fixado e isso se alterar, num outro momento. É possível
trabalhar com as quatro modalidades para um mesmo tema/assunto ou área ou gênero.
Evidentemente, não se trata de mudar de uma modalidade para outra, como forma simplesmente
de variar, mas sim de o(a) professor(a) ir pesquisando as potencialidades dessas práticas, no que se
refere à realidade de seu trabalho pedagógico e ao tempo de aprendizagem de cada estudante, em
particular, e da turma, em geral.
As sugestões feitas são apenas possibilidades que não substituem as intenções e ações do(a)
professor(a) em seus conhecimentos e sua atitude investigativa em relação aos estudantes, uma vez que
é ele(a) quem conhece sua turma, observa-a, registra suas descobertas e debate-as com seus pares,
também educadores.
Enfim, as possibilidades de trabalho foram sugeridas neste e nos demais textos, sem perder de
vista que as decisões finais quem toma é sempre o(a) professor(a), o que, sem dúvida, será
potencializado se ele(a) o fizer, junto com seus pares, num permanente processo de aprender e de
ensinar, coletivamente. Nosso propósito foi contribuir com nossas reflexões, estudos e práticas, tal qual
um artesão que tece seu trabalho, no diálogo com outros profissionais.
Bem-vindos à roda!
Algumas possibilidades para a formação continuada
Tendo em vista uma concepção de formação continuada de professor que tem na prática docente
o seu foco de reflexão e de ação, as sugestões a seguir podem ser desenvolvidas, tanto em situações de
formação dos professores na própria escola, em horário coletivo - em que os educadores discutem suas
práticas - quanto em formação orientada pelo sistema de ensino local. Para isso, é necessário que se
constitua um acervo de formação, não só com esses materiais, mas também com outros que possam
contribuir para essa finalidade.
Como o material Letra Viva é videográfico, há de se pensar na especificidade dessa linguagem,
bem como formas de abordá-la, em situação de formação continuada de docentes.
O trabalho com vídeos pedagógicos pressupõe debater seus objetivos, conteúdos, metodologia e
linguagem específica, o que demanda preparação prévia, para que se possa antecipar questões, levantar
temas e estabelecer relações entre o programa e a formação.
No que se refere à linguagem, os programas em vídeo e os filmes articulam texto escrito, falado,
som e imagens, e esse entrecruzamento de linguagens pode ser objeto de reflexão na formação, uma
vez que a leitura de várias linguagens é essencial na sociedade em que vivemos. Saber ver uma imagem,
um filme é tão necessário quanto aprender a ler e a escrever. “...as imagens, assim como as palavras são
as matérias de que somos feitos” (Manguel, 2001).
O uso desse material pode ser uma boa oportunidade de trabalho coletivo. Os próprios
professores/professoras de uma mesma escola ou ainda de escolas diferentes, numa mesma Diretoria
de Ensino ou Secretaria de Educação, podem elaborar pequenas resenhas e/ou roteiros de discussão,
com os filmes e vídeos aqui apresentados. Esse material produzido pode fazer parte do acervo da
biblioteca ou videoteca das escolas.
Novamente, enfatizamos que apresentaremos sugestões de trabalho com vídeos e filmes,
entendendo-as como processos de ensino, sempre contextualizados, sempre inacabados, e não
exemplos únicos e definitivos para serem seguidos.
Sugestões de filmes comerciais com temáticas que interessam a educadores e programas
educativos específicos dos Programas “Proinfantil” e “Letra Viva”
Filmes relacionados a “infância e cultura”
1 - A hora da estrela – direção: Suzana Amaral - 1985
2 - Adeus meninos – direção: Louis Malle - 1987
2 - Anna dos 6 aos 18 – direção: NikitaMikhalkov - 1979
4 - Kiriku e a feiticeira – direção: Michel Ocelot– 1998
5 - Linéia no jardim de Monet – direção: Christina Bjork e Lena Anderson – 1992
6- Quando tudo começa – direção: Bertrand Tavernier – 1999
Coleção Crianças Criativas – Vídeos Multirio:
-Shakespeare: histórias animadas Produção: S4C / BBC / Soyufilm /ChristmasFilm
-Um sonho de criança Título original: A child´sdreamDireção: Danièle Roy
-Viva a diferença Título original: DifferentisbeautifulDireção: Anne Bramard-Blagny
-O que é isso? Título original: What is that? Direção: UlpuTolonen
- O mundoencantado de Richard ScarryTítulo original: The Busy World of Richard ScarryDireção: Greg
Bailey e Pascal Morelli
Filmes relacionados a crianças, adultos e à gestão da educação para a infância
1- A classe operária vai ao paraíso – direção: Eliso Petri – Itália – 1971
2 - A invenção da infância – direção: Liliana Sulzbach – Brasil – 2000
3- O garoto – direção: Charles Chaplin – Estados Unidos – 1921
4- Tempos modernos – direção: Charles Chaplin – Estados Unidos – 1936
5- Cinema Paradiso– direção: Giuseppe Tornatore– Itália – 1989
6 - O carteiro e o poeta – direção: Michael Radford – Itália – 1994
7 - O nome da rosa – direção: Jean-Jacques Annaud, baseado em livro homônimo de Umberto Eco1999.
8 - Sociedade dos poetas mortos – direção: Peter Way – 1989
9 - Abril despedaçado – direção: Walter Salles – 2001
10 - Jardim secreto – direção: AgnieszkaHolland – 1993
11 - Dá um sorriso pra titia – direção: Diane Paterson
12 - Haroldo vira gigante – direção: Crokett Johnson
13 - Estatuto do futuro – CECIP – 1997
14 - O lobo que virou bolo – Realização: CINDEDI
15 - Promessas de um novo mundo – Direção: B. Z. Goldberg, Justine Shapiro e Carlos Bolado2001
16 - Um ambiente para a infância – Realização: CINDEDI
17 - Vídeos do acervo da Central de Produções UFRGS/FACED/Porto Alegre:-no 401 - Do Brique ao
Brincar e aprender- no 421 - Caixas temáticas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Secretaria de Educação a Distância, 2005.
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FERRES, J. Vídeo e educação. Porto Alegre: Artmed, 1996.
GERALDI, J. W. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
JOLIBERT, J. (Coord.). Formando crianças produtoras de texto. Porto Alegre: Artes Médicas,
1994.
LERNER, D. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed,
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MANGUEL, A. Lendo imagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
MARUNY CURTO, L. et al. Escrever e ler: materiais e recursos para sala de aula. Porto Alegre:
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