Três Retratos
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Três Retratos
Qual deles é o Meu?
Um tratado avulso publicado por volta de 18811
pela Drummond Tract Deport, de
JOHN CHARLES RYLE
1° Bispo da Diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool
LEITOR,
1
Este tratado contém a substância de um sermão pregado em abril de 1881, na Igreja de St. Mary,
Oxford, diante da Universidade, e na Capela Real de St. James, Londres. (Nota do Autor)
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seus conteúdos. Este grandioso Livro antigo, que por dezoito sé-
culos tem deixado perplexos os ataques da ética hostil, não é
apenas um depósito de doutrina, preceito, história, poesia e pro-
fecia. O Espírito Santo também nos legou uma série de retratos
fidedignos da natureza humana, em todos os seus vários aspec-
tos, que merecem nosso exame meticuloso. Quem não sabe que
frequentemente aprendemos mais de padrões e exemplos do que
de afirmações abstratas?
2
N.T.: Thomas Gainsborough (1727-1788), Sir Joshua Reynolds (1723-1792) e George Romney
(1734-1802) foram pintores ingleses influentes, que lideraram a retratística na segunda metade do
século XVIII.
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rante tanto em relação ao judaísmo quanto ao cristianismo. Ele
mencionou “questões acerca da sua superstição, e de um tal Je-
sus, morto, que Paulo afirmava viver.” (Atos 25:19) Com grande
probabilidade, como muitos romanos orgulhosos na era do declí-
nio do Império Romano, ele julgava todas as religiões — em se-
creto desprezo — como todas igualmente falsas, ou igualmente
verdadeiras, e todas semelhantemente indignas de serem do co-
nhecimento de um grande homem. Quanto ao fato de um judeu
falar de mostrar a “luz para os gentios”, a própria ideia era ridí-
cula! Manter-se com o mundo, ter o favor dos homens, não se
importar com nada senão as coisas visíveis, agradar ao “meu se-
nhor” Augusto; esta era, provavelmente, toda a religião de Pórcio
Festo.
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freiras; mas não para eles! Se vão a algum lugar de adoração, é
apenas por uma questão de formalidade, para parecerem respei-
táveis; e, muito costumeiramente, nem mesmo frequentam tais
lugares, exceto por ocasião de alguma grande cerimônia pública,
ou em um casamento, ou um funeral.
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Bolton Abbey3, onde há vestígios suficientes de arcos magníficos,
de colunas, de torres e de janelas ornamentadas para mostrar o
que o edifício já foi uma vez, e o que poderia ter sido agora, se
Deus não o tivesse deixado. Mas agora tudo é frio, silencioso e
sombrio, e sugere decadência, porque o senhor da casa, o Senhor
da vida, não está lá. É exatamente assim com muitos dos segui-
dores de Festo. Com frequência, você sente ao observar sua capa-
cidade intelectual, seu dom de eloquência, seu gosto, sua energia
de caráter, “o que os homens como esses poderiam ser se Deus
tivesse Seu lugar legítimo em suas almas!" Contudo, sem Deus
tudo está errado. Ai do poder esmagador da descrença e do orgu-
lho, quando têm pleno domínio de um homem e reinam sobre ele
descontroladamente! Não é à toa que a Bíblia descreve o homem
não convertido como "cego, dormindo, fora de si e morto."
Será que Festo estaria lendo este artigo hoje? Receio que
não! Livros e tratados religiosos, como também cultos domini-
cais e sermões, não fazem parte de seu estilo. Aos domingos, Fes-
to provavelmente lê o jornal, ou examina suas contas terrenas, ou
visita seus amigos, ou viaja, e deseja, secretamente, que os do-
mingos ingleses fossem mais semelhantes aos domingos no res-
tante da Europa, e que os teatros e museus estivessem abertos.
Nos dias úteis, Festo está constantemente ocupado com negócios,
ou política, ou divertimentos, ou em matar o tempo com ativida-
des triviais da sociedade moderna; e vive como uma borboleta,
tão impensadamente como se não houvesse nada como morte, ou
julgamento, ou eternidade. Ah, não: Festo não é o homem que
leria este artigo.
3
N.T.: O autor refere-se aqui às ruínas da Abadia de Melrose e da Abadia de Bolton, ambas constru-
ídas no século XII. A Abadia de Melrose, caracterizada pelo estilo gótico, está localizada na Escó-
cia; já a Abadia de Bolton é um vilarejo localizado em Yorkshire, norte da Inglaterra, cujo nome
alude ao convento fundado por uma ordem agostiniana e denominado Bolton Priory.
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assim como o grande sino da Catedral de St. Paul à meia-noite,
quando o ruído da agitação da cidade cessa, por vezes, faz-se ou-
vir. Tal como Felix, Herodes, Acabe e Faraó, os seguidores de
Festo têm seus momentos de visitação e, diferentemente destes
últimos, às vezes, eles acordam antes que seja tarde demais, e
tornam-se homens diferentes. Há épocas em suas vidas em que
são movidos pela introspecção, e sentem “os poderes do mundo
vindouro,” e descobrem que o homem mortal não pode viver sem
Deus. Enfermidade, solidão, decepções, perdas de dinheiro e
mortes de pessoas amadas podem, às vezes, fazer o mais orgu-
lhoso dos corações curvar-se, e confessar que “o gafanhoto é um
peso”4. Manassés não é o único que "em tempos de angústia"5
voltou-se a Deus, e começou a orar. Sim, leitor, há muito tempo
considero que nunca devemos nos desesperançar a respeito de
ninguém. A era dos milagres espirituais não é passada. Com Cris-
to e com o Espírito Santo, nada é impossível. O último dia mos-
trará que houve alguns que começaram como Festo e eram como
ele, mas, finalmente, voltaram-se, arrependeram-se, e termina-
ram como São Paulo. Enquanto há vida, devemos ter esperança e
orar pelos outros.
4
N.T.: Eclesiastes 12, versículos 5-7: “Como também quando temerem o que é alto, e houver espan-
tos no caminho, e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e perecer o apetite; porque o
homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andarão rodeando pela praça; Antes que se
rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se
quebre a roda junto ao poço, E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”.
5
N.T.: 2 Crônicas 33, versículos 10-12: “Falou o Senhor a Manassés e ao seu povo, porém não de-
ram ouvidos. Pelo que o Senhor trouxe sobre eles os comandantes do exército do rei da Assíria, os
quais prenderam Manassés com ganchos e, amarrando-o com cadeias de bronze, o levaram para
Babilônia. E estando ele angustiado, suplicou ao Senhor seu Deus, e humilhou-se muito perante o
Deus de seus pais”.
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dessa expressão. Estou bem consciente de que de que muitos
pensam que a nossa Versão Autorizada da Bíblia em inglês apre-
senta uma falha aqui, e que não consegue expressar o verdadeiro
sentido do original grego. Eles asseveram que a frase seria mais
corretamente expressa como "em um curto espaço de tempo" ou
"com fraco e débil argumento tu estás me persuadindo”. Ouso
dizer que não posso aceitar a visão desses críticos, embora admi-
ta que a frase é um tanto obscura. No entanto, em questões desse
gênero, não ouso intitular qualquer homem de mestre. Sustento,
juntamente com uma série de comentaristas excelentes, tanto an-
tigos quanto modernos6, que a tradução dada em nossa versão
autorizada está certa e correta. Estou fortalecido em minha cren-
ça pelo fato de que esta é a visão de alguém que pensou, falou, e
escreveu na língua do Novo Testamento, e refiro-me ao famoso
grego João Crisóstomo. E por último, mas não menos importan-
te, nenhum outro ponto de vista, a meu ver, parece harmonizar-
se com a exclamação do Apóstolo São Paulo no verso seguinte.
"Quase!", ele parece dizer, retomando as palavras de Agripa. "Eu
não quero que sejas quase, mas completamente cristão”. À luz
desses argumentos, defendo nossa versão antiga.
6
Lutero, Beza, Grotius, Poole Bengel, Stier, e Dean Howson. (Nota do Autor)
7
N.T.: Atos 26, versículos 26-27: “Porque o rei, diante de quem falo com liberdade, sabe destas
coisas, pois não creio que nada disto lhe é oculto; porque isto não se fez em qualquer canto. Crês tu
nos profetas, ó rei Agripa? Sei que crês”.
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teve coragem de agir. Ele sentia; mas não tinha a vontade de se
mover. Ele não estava longe do reino de Deus; mas permaneceu
do lado de fora. Ele não condenou nem ridicularizou o Cristia-
nismo; porém, como um homem paralisado, ele só podia con-
templá-lo e examiná-lo, e não tinha a força de espírito para a ele
se aferrar e recebê-lo em seu coração.
8
N.T.: Isaías 49, versículo 8: “Assim diz o Senhor: ‘No tempo favorável eu lhe responderei, e no dia
da salvação eu o ajudarei’ [...]”.
9
N.T.: Provérbios 4, versículo 18: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai bri-
lhando mais e mais até ser dia perfeito”.
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razão e a consciência podem fazer tal progresso em relação ao
Cristianismo, e, mesmo assim, o coração e a vontade podem ficar
para trás?
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meterem com alguma "escola de pensamento” em particular. Is-
so é o que não querem fazer. Esquecem-se de que o caso de Agri-
pa não é referente à doutrina, mas à conduta, e de que a ação de-
cidida sobre o dever é o caminho mais seguro para se obter luz
sobre a verdade doutrinal. "Se alguém quiser fazer a vontade de-
le, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus” (João 7:17).
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ção muito perigosa. Desejos, sentimentos, pretensões e propósi-
tos não constituem uma religião salvífica. Nada mais são do que
rolhas pintadas, que lhe permitem flutuar na superfície por um
tempo, e mantêm sua cabeça acima da água, mas não vão impe-
di-lo de ser levado pela corrente, e de ser, finalmente, arrebatado
por uma cascata pior do que a de Niágara.
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escreveu em um lugar, “porque eu sei em quem tenho crido, e es-
tou certo de que Ele é poderoso para guardar o meu depósito
até aquele dia”; e em outro lugar, “porque estou certo de que,
nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coi-
sas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem
a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá sepa-
rar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (2
Tm 1:12; Rm 8:38-39.)
17
N.T.: 1 Timóteo 3, versículo 16: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele
que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado entre os gentios,
crido no mundo, e recebido acima na glória”.
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ria viver; que a graça de Deus era mil vezes melhor que o favor do
homem; e que nada era demais a se fazer por Ele, que o amara e
que por ele se dera a Si mesmo. Paulo completou sua carreira
sempre “fitando os olhos Jesus”18, e gastando e se deixando gas-
tar por Ele19 (Heb. 12:2; 2 Cor. 5:13; 11:15.).
Isso é o que Paulo quer dizer com “tais quais eu sou”. Sobre
os fatos, as doutrinas, as práticas, e as recompensas de vir ao
Cristianismo, ele tinha uma convicção firme, estabelecida e en-
raizada; uma convicção que desejava ser partilhada por todos os
homens. Estava confiante de que queria que outros desfrutassem
da mesma confiança. Não tinha dúvida ou receio sobre o futuro
estado de sua alma. De bom grado, ele teria visto Festo, Agripa,
Berenice, e todos à sua volta, na mesma condição feliz.
18
N.T.: Hebreus 12, versículo 2: “fitando os olhos em Jesus, autor e consumador da nossa fé, o qual,
pelo gozo que lhe está proposto, suportou a cruz, desprezando a ignomínia, e está assentado à direita
do trono de Deus”.
19
N.T.: 2 Coríntios 12, versículo 15: “Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas
vossas almas. Se mais abundantemente vos amo, serei menos amado?”
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muitos”, sejam ricos ou pobres, altos ou baixos, “são chamados”.
“E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à
vida, e poucos são os que a encontram.” (1 Cor. 1 :26; Mat. 6:14).
Olhe para onde desejar, busque onde quiser, na cidade ou no
campo, há poucos “inteiramente” cristãos. Festo e Agripa estão
por toda parte: encontramo-nos com eles a cada passo. Contudo,
há alguns poucos seguidores de Paulo, inteira e sinceramente de-
dicados. Todavia, uma coisa é bastante certa. Estes poucos são
“sal da terra”, e “luz do mundo” (Mat. v. 13, 1 4.). Estes poucos
são a glória da Igreja e servem para mantê-la viva. Sem eles, a
Igreja seria pouco melhor que uma carcada decadente, uma casa
caiada sem luz, um motor a vapor sem fogo, um castiçal de ouro
sem vela, uma alegria para o diabo, e uma ofensa a Deus.
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Esse homem inteiramente cristão sim que estará seguro e
preparado para encontrar seu Deus a qualquer momento, ao final
da tarde, ao cantar do galo, ou pela manhã,— ele sim que se ale-
grará com a paz sentida em sua religião, paz não afetada por en-
fermidades, lutos, falências, revoluções e pelo soar da última
trombeta; ele sim que fará o bem em seus dias e em sua geração,
e será uma fonte de influência cristã para todos ao seu redor, in-
fluência conhecida e reconhecida ainda por muito tempo depois
que tiver jazido em seu túmulo; deixe que esse homem se recorde
do que lhe digo hoje, e nunca o esqueça. Você não deve se con-
tentar em ser “quase” cristão, como Agripa se contentou. Você
deve se esforçar, trabalhar, agonizar e orar para ser um cristão
“completo”, como Paulo.
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vantar e começar com Cristo, se nós nunca começamos antes.
Vamos continuar com Cristo até o fim, se já começamos com Ele.
Com a graça de Deus, nada é impossível. Quem teria pensado que
Saulo, o fariseu, perseguidor dos cristãos, algum dia se tornaria o
próprio cristão “completo”, o grande Apóstolo dos gentios, e vira-
ria o mundo de cabeça para baixo? Enquanto há vida, há espe-
rança. O seguidor de Festo e de Agripa ainda pode ser convertido,
e viver por muitos anos, e jazer na sepultura finalmente como um
"completo" cristão como Paulo.
HINO
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Mostra-nos a luz, certamente seguiremos descan-
sando
Nos teus caminhos mais escuros;
Dê-nos a fé, certamente seguiremos confiando
Através dos dias tristes e maus.
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ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO USE ESSE SERMÃO
PARA TRAZER UM CONHECIMENTO SALVÍFICO DE JESUS
CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA
FONTE:
http://www.tracts.ukgo.com/three_pictures.doc
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