Oficinas de Formação em Palhaçaria Hospitalar
Oficinas de Formação em Palhaçaria Hospitalar
Oficinas de Formação em Palhaçaria Hospitalar
RESUMO
ABSTRACT
This report seeks to analyze in a descriptive way the aspects addressed in clown training
workshops, which are crucial for the training and performance of a hospital clown, bringing
the experience of the PUC Dá Alegria Project in the training of extension workers. This
experience report of the clown training workshops in the Project was based on research in
databases, case reports and relevant books in the area. The clown in the hospital environment
must know how to deal with numerous situations that address the psychological and social
aspect of a patient. The way of behaving, the way of achieving laughter, the acting process and
the transition between comic paradoxes are items to be explored. Training in clowning provides
a means of improving the clown actor's imagination and behavior towards patients. Therefore,
the need for volunteers and other participants to participate in workshops is reinforced, for a
better exchange of learning and experiences, which configure the clown's identity.
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Mestre em Educação em Diabetes (Santa Casa). Especialista em Fisioterapia Neurológica (UFMG). Docente de
Fisioterapia da PUCMG. Betim, MG. E-mail: jacreisfisio@hotmail.com.
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Graduanda em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Betim). Extensionista do
Projeto PUC Dá Alegria.E-mail:lelaprandini@hotmail.com.
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Introdução
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2 Metodologia
3 Discussão e resultados
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Nas oficinas de capacitação, foi possível entender melhor os motivos de cuidado com
o figurino e com a personalidade do palhaço do hospital, que se diferencia do palhaço circense
em seu exagero (Figura 3). Isaacs (2021) explica que muitas crianças possuem medo de
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palhaço, talvez por causa da ambiguidade de seu visual, que remete a pessoas disfarçadas:
rostos pintados semelhantes a máscaras e sorrisos fixos que lembram filmes de terror.
O mesmo autor ainda confirma sua explicação, tomando como exemplo o figurino do
médico Hunter Doherty Adams, também conhecido como Patch Adams: “...ele acreditava em
compaixão e humor. Utilizava um nariz vermelho e é muito famoso por ser o primeiro médico
palhaço.” (ISAACS, 2021, tradução nossa). A importância do Patch Adams também foi
ressaltada pela sua flexibilização médica, por fugir dos termos científicos e tratar os pacientes
de forma acolhedora, com cuidado (BUHRING, 2019). A figura do palhaço de circo pode, por
vezes, causar medo. Esse sentimento pode estar relacionado ao fato de não conseguirmos ver
as expressões de pessoas maquiadas. No que tange ao palhaço de hospital não podemos perder
essa humanidade, sendo por isso sua imagem relacionada a alegria e redução do estresse:
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Nessa vivência das oficinas, as atividades realizadas tinham como objetivo levar o
aluno a captar o que possui de ridículo em suas atitudes e maneira de agir (Figura 4). O palhaço
está sempre nesse estado de tolice e ingenuidade, sendo exatamente isso que desperta o sorriso
no público, pois, conforme descreve Puccetti, (2007), ele “não é um personagem, mas a
dilatação da ingenuidade e do ridículo de cada um de nós, revelando a comicidade contida em
cada indivíduo”.
A palhaçaria hospitalar, como dito anteriormente, é um tipo de arte. Ela busca construir
relações saudáveis junto aos pacientes, acompanhantes e profissionais de saúde e se enquadra
nas artes cênicas, já que manifesta formas de expressão e representação de sentimentos. Assim
como no teatro e na palhaçaria circense, há uma plateia; porém o palhaço do hospital transforma
o paciente em protagonista, e a sua realidade, em palco. Isso quer dizer que, no hospital, o
palhaço se encontra em nível de igualdade com o paciente, por desfazer hierarquia de poder e
por se colocar como um telespectador, diante da condição do doente. Além disso, essa inversão
de papéis faz com que o protagonista também se utilize da imaginação, a ferramenta principal
do palhaço (CAIRES, 2014).
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Dessa forma, a imagem e a ação fazem parte da rotina do palhaço do hospital, não
apenas para a construção do personagem, mas para atuar e intervir de forma empática na vida
do paciente, de acordo com a sua realidade socioeconômica e psíquica. O palhaço hospitalar, é
o retrato da sociedade, diversificada, mas dotada de expressividade e individualidade. Por isso,
exercícios, como o de prontidão, são utilizados em capacitações. Eles são responsáveis por
treinar a percepção do real e gerar estados de mutabilidade ─ o de contração, angústia; o de
expansão, prazer. O treinamento aguça a improvisação, possibilitando que o indivíduo seja
adequado a cada situação, de forma única (HERMIDA, 2012).
Pode-se dizer que a ação do palhaço é o que permite a mutabilidade, o que causa o
paradoxo da felicidade, mesmo em momentos de dor. Nesse sentido, a dualidade antagonista
também faz parte da imagem do palhaço, tanto que ensinam nas oficinas que palhaços atuam
em duplas.
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O público, entretanto, ria mais dos nossos erros e da nossa ingenuidade do que da
nossa habilidade interpretativa do texto. Os erros causavam improvisos espontâneos
e deixavam-nos num estado de desespero e desconcerto naturais. Na nossa
ingenuidade, desconsiderávamos esses momentos, porque achávamos que o certo era
que o nosso palhaço devesse se manifestar, e não nós mesmos; por outro lado,
abrimos discussões primordiais para o nosso relacionamento cênico. (OLIVEIRA,
2012).
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tem sido compreendida como uma habilidade social com base em um modelo
multidimensional, que corresponde à capacidade que uma pessoa tem de compreender,
compartilhar ou considerar sentimentos, necessidades e perspectivas de alguém”. No mesmo
sentido, Silva (2019) também compreende que, entre as habilidades e competências necessárias
para a formação de acadêmicos que trabalharão na área da saúde, a empatia é uma entre as
necessárias para o futuro exercício profissional.
A política nacional de humanização (PNH), lançada em 2003, visa à melhoria da
assistência em saúde de forma humanizada e compartilhada entre profissionais de saúde e seus
pacientes (BRASIL. HumanizaSUS, 2006). Sendo assim, a humanização supõe o aumento do
diálogo e a capacidade de enxergar o outro além de sua condição biológica. Nessa esteira, a
atuação de palhaços de hospital favorece o estabelecimento de “vínculos afetivos na relação
palhaço doutor e criança hospitalizada diante do cenário vivenciado”. Preparar o aluno
extensionista para lidar com esse ambiente, inspirado na figura humanizada do palhaço, cria a
possibilidade de ele realizar um bom relacionamento entre o palhaço doutor e seu paciente
(SILVA; ROMEIRO, 2016 apud SILVA, 2019, p. 86).
Além disso, a dinâmica do palhaço e do paciente possibilita não apenas a humanização
e a empatia. Ela também promove a individualidade de cada caso, ou seja, a visualização do
indivíduo como um todo, de forma integral. Deve-se ressaltar que a integralidade é um
princípio básico do SUS, previsto no art. 7 do 2º capítulo, da lei 18080/1990, que auxilia na
promoção do cuidado do indivíduo e da sociedade. Dessa forma, durante as oficinas de
palhaçaria, os alunos puderam perceber, pelos relatos de experiências dos palhaços mestres,
como as intervenções eram diferentes para cada grupo e para cada pessoa. Elas eram adequadas
a depender do ambiente, nacionalidade, estado emocional e idade dos pacientes.
Favorecendo o conceito da integralidade, as atividades propostas e realizadas durante
os cursos de capacitação oscilavam entre dinâmicas em grupos e em duplas (Figuras 5 e 6).
Percebemos que a individualização é facilitada com as interações pessoais, desde simples
conversas até brincadeiras. Jogos de imaginação e atuação facilitaram a percepção do subjetivo
de cada integrante.
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Essa avaliação subjetiva é crucial para o doutor palhaço, tendo em vista as práticas
realizadas nos hospitais e o contato constante com diversos tipos de emoções pessoais. Por esse
ambiente e situação, o palhaço hospitalar utiliza muito os sentimentos de dor e de felicidade,
mas esse uso não ocorre apenas para a construção do personagem. Essa transição de emoções
também é utilizada com os pacientes, já que a prática visa a transformar a dor em uma outra
sensação, desde que traga alívio.
Entre as mudanças de estados emocionais, pode-se dizer que os comportamentos não
verbais são os mais perceptíveis durante as intervenções hospitalares. Os pacientes alteram sua
postura, geralmente se apresentam menos ansiosos, mais sorridentes e mais relaxados
(ALCÂNTARA, 2016). Essa mudança de procedimento também foi percebida durante e após
as oficinas de formação em palhaçaria. Extensionistas que se apresentavam introvertidos se
adaptaram melhor ao ambiente e se sentiram mais confortáveis com as dinâmicas, segundo
seus relatos.
Outros sinais e sintomas também puderam ser percebidos em crianças após o contato
com os palhaços de hospitais, como redução no tempo de internação; melhor evolução clínica
de crianças com quadros respiratórios; redução de scores de dor em procedimentos dolorosos
e menor período de choro. (LOPES-JÚNIOR, 2020). Yldirim (2019) afirma que crianças
possuem melhor adesão à troca de curativos de queimadura na presença de um palhaço, já que
ficam mais comunicativas, menos resistentes e com um melhor humor. Os resultados foram
observados durante as visitas dos palhaços do PUC Dá Alegria no Hospital Público Regional
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de Betim e na APAE. As crianças mudavam o humor e, por alguns instantes, conseguiam mudar
a relação dor e sofrimento para alegria e descontração.
Segundo Daniel Dias Cruz (2016), os palhaços doutores também alteram o
comportamento dos profissionais dos hospitais, que acabam se inspirando na desierarquização,
rechaçando atitudes agressivas e impositivas. Durante as visitas, os profissionais interagem
com os extensionistas do PUC Dá Alegria e entram no processo lúdico. Além disso, há maior
interação entre os próprios pacientes, que muitas vezes estão internados no mesmo quarto e
não conversam entre si.
As atividades de capacitação em palhaçaria são similares ao aprendizado humanístico
das áreas de saúde. Assim sendo, o desenvolvimento interdisciplinar, psicossocial, artístico e
ético dos extensionistas deve ser estimulado durante as oficinas práticas, a fim do aprendizado
ser condizente com a realidade durante as intervenções hospitalares. O autor João Victor
Moreira (2021) ressalta que a palhaçaria hospitalar auxiliou os extensionistas em sua futura
formação profissional, já que ficaram mais sensíveis, aprenderam a lidar com o erro,
aprimoraram a relação médico-paciente e aprenderam a ressignificar momentos difíceis, como
a situação de morte.
Somado a isso, a oficina em palhaçaria hospitalar gera impactos em diversas instâncias.
Uma delas é a relação de instituições hospitalares com o projeto de extensão. Elas
demonstraram interesse em convidar os alunos capacitados para intervenções breves com os
pacientes e funcionários. Além desses convites, a própria Universidade convida o PUC dá
Alegria para eventos estudantis. Neles, a comunidade se diverte, um vínculo afetivo é gerado
e se aprende sobre interdisciplinaridade e a humanização das relações. Por isso, percebe-se a
importância de uma boa formação em palhaçaria, já que os palhaços hospitalares não precisam
explicar com palavras sobre suas intervenções, eles utilizam o respeito, a imaginação e a
atuação para afetar o público. Esse impacto é o que intriga a comunidade externa sobre o
projeto, fazendo-o crescer e receber apoio.
As atividades realizadas durante as oficinas de capacitação em palhaçaria são
apresentadas no Quadro 1, e os resultados alcançados durante as oficinas estão listados no
Quadro 2.
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Oficina sobre o visual do Nessa aula, havia material que exemplifica brinquedos, vestimentas e
palhaço de hospital maquiagem de um palhaço de hospital. Destacou-se a importância do nariz
vermelho e das maquiagens suaves, que devem contornar as linhas de expressões
faciais, para aumentar a expressividade do palhaço. Também foram descritas as
normas de biossegurança, como usar jaleco e calçado fechado e não se vestir
com roupas inadequadas, que expõem o corpo.
Oficina sobre o Nessa prática, descreveram como os alunos devem se portar nos hospitais,
comportamento do palhaço principalmente durante a interação com os pacientes. Alguns comportamentos
no ambiente hospitalar devem ser destacados. A exemplo, não é permitido tirar o nariz de palhaço na
frente do paciente; é obrigatório sempre pedir permissão para fazer as
intervenções, tratar todos com respeito e utilizar a imaginação.
Atividade prática de Nessa atividade, os alunos se espalharam pela sala e andaram em várias
atuação direções. No sinal indicado, todos paravam de andar, se direcionavam ao
colega mais próximo e atuavam. As atuações dependiam do comando. “Ser
uma flor” e “chorar de forma muito triste” são dois exemplos de atuações
propostas.
Atividade de olhar nos olhos Nessa atividade, os alunos também andavam pela sala e paravam ao sinal
indicado. De imediato, os alunos faziam duplas e se olhavam nos olhos. O
objetivo é aprender a dar atenção ao outro, ter empatia e perceber as reações
que o olhar causa, seja de constrangimento, riso ou seriedade.
Atividade de imaginação Na imaginação, os alunos utilizaram tanto da imagem quanto da ação para
realizarem mímicas. Eles se dividiram em trios ou quartetos e criaram uma
história para apresentar, sem o uso da fala, apenas com gestos e expressões
faciais. Os demais colegas deveriam adivinhar o teor da história. Essa atividade
incentivou a teatralidade.
Batismo dos palhaços Nesse momento, o palhaço que coordenou a oficina, a partir de uma lista de
características pessoais informadas pelo extensionista, batizou cada um com
um nome que fazia referência à personalidade, aos gostos e à história de cada
um.
Fonte: Elaboração das autoras, 2022.
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Individual
● Protagonismo nas atividades
● Flexibilidade teatral
● Reconhecimento do nome de palhaço
● Aprendizado com os erros
Efeitos imediatos ● Uso da imaginação
Social
● Comportamento em grupo
● Improvisação com a dupla palhaço
● Formação humanística
Individual
● Percepção do ridículo do palhaço pela sua forma cômica
● Empatia
● Compaixão
● Altruísmo
● Conforto com atividades em grupos
● Experiência profissional
● Relação entre o profissional de saúde /o paciente
Efeitos esperados
Social
● Aplicação das normas de biossegurança
● Transdisciplinaridade
● Incentivo ao uso da imaginação, pelos pacientes
● Individualização do cuidado
● Relação entre o profissional de saúde / o paciente
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
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