Sarcoma Histiocítico Disseminado em Lhasa Apso
Sarcoma Histiocítico Disseminado em Lhasa Apso
Sarcoma Histiocítico Disseminado em Lhasa Apso
Tonial GL, Cerdeiro APS, Rech H, Werner J. Medvep Dermato - Revista de Educação Continuada em Dermatologia e Aler-
gologia Veterinária; 2016; 4(12); 1-XXX.
Resumo
O sarcoma histiocítico é uma neoplasia de células redondas que ocorre raramente em cães, gatos e
seres humanos. Em caninos, acomete mais comumente raças de grande porte, sobretudo o Bernese.
As lesões caracterizam-se como nodulares e são prevalentes na região da cabeça e extremidade de
membros. Sinais inespecíficos como apatia e anorexia acompanham o quadro clínico. O diagnósti-
co é obtido unindo-se sinais clínicos, histórico de progressão das lesões, citologia, histopatologia e
análise imuno-histoquímica. A doença tem um curso rápido e geralmente fatal, sendo a eutanásia
muito comum pela severidade do quadro clínico dos pacientes. Estudos com quimioterápicos têm
sido amplamente realizados e atualmente têm gerado sobrevida aos animais acometidos por essa
neoplasia. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de sarcoma histiocítico disseminado em
um cão da raça lhasa apso.
Abstract
The histiocytic sarcoma is a rare round cell tumor that occurs in dogs, cats and humans, being
rare. In dogs, is more common in large breeds, especially in Bernese Mountain Dog. The le-
sions are characterized by nodules more prevalent on the head and extremities. Nonspecific
signs like apathy and anorexia follow the clinical condition. The diagnosis is made by joining
clinical signs, progression history of lesions, cytology, histology and immunohistochemistral
analyses. The disease has a fast course and it is usually fatal. Euthanasia is very common be-
cause of the poor clinical condition of patients. Studies with chemotherapy have been largely
made and at present generate increase of survival rate of animals affected by this tumor. This
study aimed to present a report of disseminated histiocytic sarcoma in a Lhasa apso dog.
Ao exame citológico, foi possível visualizar cé- e trombocitopenia (51000/μL). Demais exames san-
lulas redondas (Figura 1D) com alto grau de anisoci- guíneos estavam dentro dos valores de referência
tose, anisocariose, cromatina irregularmente dispersa para a espécie. O exame ultrassonográfico revelou
e figuras de mitose. Com suspeita de tumor de células fígado com alteração de ecogenicidade e massa que
redondas com alto grau de malignidade, realizaram- media 1,59cm X 1,34cm e uma área com alteração da
se exames hematológicos básicos da paciente, ul- ecogenicidade em rim esquerdo medindo 1,04cm de
trassonografia abdominal exploratória e radiogra- diâmetro. Na radiografia foi constatado cardiomega-
fia torácica para pesquisa de metástase. Os exames lia, não sendo evidenciado sinal de metástase pulmo-
hematológicos mostraram leucocitose (32.400/μL), nar. Outro sinal clínico foi auscultação indicativa de
anemia (hematócrito 24,1%, hemoglobina 7,8g/dL) sopro cardíaco grau IV.
A B
C D
Figura 1 - Sarcoma histocítico disseminado em cão. (A) Nódulo cutâneo não ulcerado em região de cabeça. (B) Múltiplos nódulos ul-
cerados em região axilar, torácica e inguinal esquerda. (C) Múltiplos nódulos ulcerados em região axilar e torácica direita. (D) Citologia
aspirativa por agulha fina revelando células redondas com acentuado grau de anisocitose, anisocariose e nucléolos evidentes.
Para a coleta de material para exame histopa- anisocariose, atipia nuclear importante, nucléo-
tológico morfológico foi realizada a intervenção los evidentes e atípicos (B), com índice mitótico
anestésica utilizando anestesia local com lido- de 31 f.m./10 campos de 40x e figuras mitóticas
caína 2%, coletando amostra de pele na região aberrantes e infiltração difusa intensa de eosinó-
posterior a axila, sobre as costelas por exérese. O filos por entre as células neoplásicas. A coloração
material foi fixado em formol tamponado a 10% e especial para mastócitos (azul de toluidina) foi
enviado para o Laboratório de Patologia Animal negativa. O diagnóstico do exame histopatológi-
Werner & Werner (Curitiba/PR). Enquanto aguar- co revelou neoplasia maligna de células redondas
dava-se resultado da biópisa, foi iniciado trata- indiferenciadas. Para o diagnóstico diferencial
mento sintomático com firocoxib 5mg/kg/SID, e determinação da origem celular foi realizada
omeprazol 10 mg/kg/sid, cefalexina 30mg/kg bid análise imuno-histoquímica sendo positivo para
e mupirocina pomada nas lesões duas vezes ao E Caderina, Lisozima e HLA-DR (Figura 3), com
dia, além de tratamento para cardiopatia (bena- perfil indicativo de doença histiocítica. Os acha-
zepril 5mg/kg/sid e furosemida 2mg/kg/bid). Na dos clínicos de lesões com caráter extremamente
semana seguinte a paciente diminuiu a ingestão agressivo, análise citológica, histopatológica
de alimentos, sem cessar o prurido nos nódulos e perfil imuno-histoquímico permitiram a con-
cutâneos. Novos exames sanguíneos foram real- clusão do diagnóstico de Sarcoma Histiocítico.
izados, mostrando leucocitose, anemia e trom- Por ser um tumor de caráter extremamente ma-
bocitopenia persistentes além de creatinina sérica ligno e com potencial metastático alto e dadas as
aumentada (1,92 mg/dL). condições da paciente que já apresentava lesões
O exame histopatológico revelou proliferação ulceradas profundas ao longo do corpo, alterações
neoplásica nodular infiltrativa na derme e parte ecogênicas focais em fígado e rim, bem como es-
do panículo adiposo (Figura 2A) de limites pou- tudos de sobrevida curta pós-quimioterapia, não
co definidos e não revestida por cápsula fibrosa. apresentando qualidade de vida e perspectiva de
As células tumorais eram redondas indiferencia- melhora, a responsável optou por realizar a eu-
das, apresentando núcleos grandes pleomórficos tanásia da paciente. A eutanásia foi feita com a
ocasionalmente reniformes, citoplasma mod- aplicação endovenosa de propofol na indução,
eradamente abundante e basofílico claro, pro- seguida por aplicação endovenosa de associação
pagando-se de maneira compacta e frouxa por a base de iodeto de mebezônio, embutramida e
entre os feixes de colágeno e adipócitos. Havia cloridrato de tetracaína.
A B
Figura 2 - Sarcoma histiocítico. Pele. Cão. (A) Proliferação de células redondas a discretamente alongadas por entre os feixes de colágeno
da derme (Hematoxilina de Harris e Eosina. Aumento de 100x). (B) Anisocariose, anisocitose, atipia nuclear, nucléolos evidentes e figuras
mitóticas (Hematoxilina de Harris e Eosina. Aumento de 100x).
A B
C D
Figura 3 - Sarcoma histiocítico. Imunohistoquímica. (A) Marcação e E caderina positiva nas células neoplásicas. (B) Marcação HLA-DR
positiva nas células neoplásicas. (C) Marcação de lisozima positiva nas células neoplásicas. (D) Triptase negativa nas células neoplásicas.
histoquímica foi necessária para juntamente com 8. Zavodovskaya R, Liao AT, Jones CL. Evaluation of dysregulation
demais sinais e exames, confirmar o sarcoma his- of the receptor tyrosine kinase kit, Flt3, and Met in histiocytic
sarcomas of dogs. Am J Vet Res 2006; 67: 633-641,
tiocítico (16,21). Por haver imunomarcação nega-
tiva CD3 e lisozina positiva no presente relato, o 9. Court EA, Earnest-Koons KA, Barr SC. Malignant histiocytosis in
a cat. J Am Vet Med Assoc. 1993; 203(9):1300–1302.
diagnóstico de SH foi estabelecido.
10. Freeman L, Stevens J, Loughman C. Clinical vignette. Malignant
Para os casos de Sarcoma Histiocítico dissemi- histiocytosis in a cat. J Vet Intern Med. 1995; 9(3):171–173.
nado, o curso é rápido e normalmente fatal. O trata-
11. Friedrichs KR, Young KM. Histiocytic sarcoma of macrophage ori-
mento com quimioterápicos como doxorrubicina gin in a cat: case report with a literature review of feline histiocytic
lipossomal, paclitaxel, ciclofosfamida e vincristina malignancies and comparison with canine hemophagocytic his-
tiocytic sarcoma. Vet Clin Pathol. 2008; 37(1):121–128.
pode ser indicado, visando sobrevida (18). Cães que
apresentam a forma localizada da doença possuem 12. Heath JL, Burgett SE, Gaca AM, Jaffe R, Wechsler DS. Succes-
sful Treatment of Pediatric Histiocytic Sarcoma Using Abbre-
prognóstico mais favorável do que cães com doença viated High-Risk. Pediatr Blood Cancer 2014; 61:1874–1876.
disseminada, porém, os responsáveis devem estar 13. Favara BE, Feller AC, Pauli M. Contemporary classification of
cientes da possibilidade de disseminação do tumor histiocytic disorders. The WHO Committee on Histiocytic/Reti-
além do sitio principal. Alguns autores consideram culum Cell Proliferations. Reclassification Working Group of the
Histiocyte Society. Med Pediatr Oncol. 1997; 29(3):157–166.
que a forma clínica localizada e disseminada são
apenas estágios diferentes da doença. No desfecho 14. Erich SA, Rutteman GR, Teske E. Causes of death and the im-
pact of histiocytic sarcoma on the life expectancy of the Dutch
muitos cães acabam eutanasiados em decorrência population of Bernese mountain dogs and Flat-coated retrie-
da grave condição clínica (3). vers. The Veterinary Journal 198 (2013) 678–683.
15. Skorupski KA., Rodriguez CO, Krick EL, Clifford CA, Ward R,
Kent MS. Long-term survival in dogs with localized histiocytic
16. Santos IFC. Cardoso JMM. Shian C. Marujo RB. Silva LF. Sar-
O Sarcoma Histiocítico Canino é uma neopla- coma Histiocítico em cão: relato de caso. Vet. E Zootec. 2013;
sia de células redondas rara, prevalente em raças de 20 (4): 576-581
grande porte, podendo esporadicamente acometer 17. Peleteiro MC, Marcos R, Santos M, Correia J, Pissarra H, Carve-
raças de pequeno porte, como neste relato. Sua pro- lho T. Atlas de citologia veterinária. Lisboa: Lidel; 2011. p. 42.
gressão é rápida e geralmente fatal. A doença é de 18. Miller WHJ, Griffin CE, Campbel KL. Neoplastic and non-neo-
difícil diagnóstico, que pode ser obtido unindo-se plastic tumors. Small animal dermatology. Missouri: Elsevier,
2013; p. 820-821.
sinais clínicos e históricos de progressão da doença,
19. Souza TM, Fighera RA, Irigoyen LF, Barros CSL. Estudo retros-
exame citológico, histopatológico e análise imuno- pectivo de 761 tumores cutâneos em cães. Cienc Rural. 2006;
histoquímica. 36:555-60.