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ADPF 6327 - Inteiro Teor Do Julgado - ED

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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 10

05/10/2020 PLENÁRIO

EMB.DECL. NO REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE 6.327 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


EMBTE.(S) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : SOLIDARIEDADE
ADV.(A/S) : GUILHERME PUPE DA NOBREGA E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM REFERENDO DE


MEDIDA CAUTELAR. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. AUSÊNCIA DE OMISSÃO,
CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE NO ACÓRDÃO RECORRIDO.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
1. Os embargos de declaração não constituem meio hábil para
reforma do julgado, sendo cabíveis somente quando houver no acórdão
omissão, contradição ou obscuridade, o que não ocorre no presente caso.
2. As omissões e contradições apontadas tratam na realidade de
questionamentos operacionais acerca da aplicação do julgado.
3. Por ora, a análise se circunscreve ao pedido de medida cautelar em
sede abstrata. A provisoriedade que lhe é própria desafiará nova análise
enriquecida pelos debates advindos da instrução do processo.
4. Embargos de Declaração conhecidos e rejeitados.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária virtual de 25 setembro a 2
de outubro de 2020, sob a Presidência do Senhor Ministro Luiz Fux, na
conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por
unanimidade de votos, em conhecer dos embargos de declaração e rejeitá-

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los, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 5 de outubro de 2020.

Ministro EDSON FACHIN


Relator

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05/10/2020 PLENÁRIO

EMB.DECL. NO REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE 6.327 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


EMBTE.(S) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : SOLIDARIEDADE
ADV.(A/S) : GUILHERME PUPE DA NOBREGA E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

RE LAT Ó RI O

O Senhor Ministro Edson Fachin (Relator): Trata-se de embargos de


declaração opostos pelo Advogado-Geral da União contra acórdão
proferido pelo Plenário desta Corte, assim ementado:

REFERENDO DE MEDIDA CAUTELAR. AÇÃO DIRETA


DE INCONSTITUCIONALIDADE. ADI. IMPUGNAÇÃO DE
COMPLEXO NORMATIVO QUE INCLUI ATO ANTERIOR À
CONSTITUIÇÃO. FUNGIBILIDADE. ADPF. ARGUIÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL.
REQUISITOS PRESENTES. CONHECIMENTO.
PROBABILIDADE DO DIREITO. PROTEÇÃO DEFICIENTE.
OMISSÃO PARCIAL. MÃES E BEBÊS QUE NECESSITAM DE
INTERNAÇÃO PROLONGADA. NECESSIDADE DE
EXTENSÃO DO PERÍODO DE LICENÇA-MATERNIDADE E
DE PAGAMENTO DE SALÁRIO-MATERNIDADE NO
PERÍODO DE 120 DIAS POSTERIOR À ALTA. PROTEÇÃO À
MATERNIDADE E À INFÂNCIA COMO DIREITOS SOCIAIS
FUNDAMENTAIS. ABSOLUTA PRIORIDADE DOS DIREITOS
DAS CRIANÇAS. DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR.

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MARCO LEGAL DA PRIMEIRA INFÂNCIA. ALTA


HOSPITALAR QUE INAUGURA O PERÍODO PROTETIVO.1.
1. Preliminarmente, assento, pela fungibilidade, o conhecimento
da presente ação direta de inconstitucionalidade como arguição
de descumprimento de preceito fundamental, uma vez que
impugnado complexo normativo que inclui ato anterior à
Constituição e presentes os requisitos para a sua propositura.
2. Margem de normatividade a ser conformada pelo
julgador dentro dos limites constitucionais que ganha
relevância no tocante à efetivação dos direitos sociais, que
exigem, para a concretização da igualdade, uma prestação
positiva do Estado, material e normativa. Possibilidade de
conformação diante da proteção deficiente. Precedente RE
778889, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno,
julgado em 10/03/2016.
3. O reconhecimento da qualidade de preceito
fundamental derivada dos dispositivos constitucionais que
estabelecem a proteção à maternidade e à infância como
direitos sociais fundamentais (art. 6º) e a absoluta prioridade
dos direitos da crianças, sobressaindo, no caso, o direito à vida
e à convivência familiar (art. 227), qualifica o regime de
proteção desses direitos.
4. Além disso, o bloco de constitucionalidade amplia o
sistema de proteção desses direitos: artigo 24 da Convenção
sobre os Direitos da Criança (Decreto n.º 99.710/1990), Objetivos
3.1 e 3.2 da Agenda ODS 2030 e Estatuto da Primeira
Infância(Lei n.º 13.257/2016), que alterou a redação do Estatuto
da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069/1990), a fim de
incluir no artigo 8º, que assegurava o atendimento pré e
perinatal, também o atendimento pós-natal. Marco legal que
minudencia as preocupações concernentes à alta hospitalar
responsável, ao estado puerperal, à amamentação, ao
desenvolvimento infantil, à criação de vínculos afetivos,
evidenciando a proteção qualificada da primeira infância e, em
especial, do período gestacional e pós-natal, reconhecida por
esta Suprema Corte no julgamento do HC coletivo das mães e

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gestantes presas (HC 143641, Relator(a): Min. RICARDO


LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 20/02/2018,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-215 DIVULG 08-10-2018
PUBLIC 09-10-2018).
5. É indisputável que essa importância seja ainda maior
em relação a bebês que, após um período de internação, obtêm
alta, algumas vezes contando com já alguns meses de vida, mas
nem sempre sequer com o peso de um bebê recém-nascido a
termo, demandando cuidados especiais em relação a sua
imunidade e desenvolvimento. A alta é, então, o momento
aguardado e celebrado e é esta data, afinal, que inaugura o
período abrangido pela proteção constitucional à maternidade,
à infância e à convivência familiar.
6. Omissão inconstitucional relativa nos dispositivos
impugnados, uma vez que as crianças ou suas mães que são
internadas após o parto são desigualmente privadas do período
destinado à sua convivência inicial.
7. Premissas que devem orientar a interpretação do art. 7º,
XVIII, da Constituição, que prevê o direito dos trabalhadores à
licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a
duração de cento e vinte dias. Logo, os cento e vinte dias devem
ser considerados com vistas a efetivar a convivência
familiar, fundada especialmente na unidade do binômio
materno-infantil.
8. O perigo de dano irreparável reside na inexorabilidade
e urgência da vida. A cada dia, findam-se licenças-maternidade
que deveriam ser estendidas se contadas a partir da alta, com o
respectivo pagamento previdenciário do salário-maternidade,
de modo a permitir que a licença à gestante tenha, de fato, o
período de duração de 120 dias previsto no art. 7º, XVIII, da
Constituição.
9. Presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora ,
defiro a liminar , a fim de conferir interpretação conforme à
Constituição ao artigo 392, §1º, da CLT, assim como ao artigo 71
da Lei n.º 8.213/91 e, por arrastamento, ao artigo 93 do seu
Regulamento (Decreto n.º 3.048/99), e assim assentar (com

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fundamento no bloco constitucional e convencional de normas


protetivas constante das razões sistemáticas antes explicitadas)
a necessidade de prorrogar o benefício, bem como considerar
como termo inicial da licença-maternidade e do respectivo
salário-maternidade a alta hospitalar do recém-nascido e/ou de
sua mãe, o que ocorrer por último, quando o período de
internação exceder as duas semanas previstas no art. 392, §2º,
da CLT, e no art. 93, §3º, do Decreto n.º 3.048/99.”

Aduz que o acórdão embargado possui omissões e contradições que


poderiam acarretar a ampliação da judicialização da matéria em
decorrência da insegurança jurídica criada pelo julgado.
Alega que, em aparente contradição, o acórdão determina a
prorrogação do benefício, porém fixa como termo inicial do benefício a
data da alta hospitalar, não restando claro se a decisão prorroga o
benefício ou apenas posterga o seu termo inicial. Assim, requer que se
esclareça se o direito à prorrogação se restringe aos casos em que a
segurada já vinha recebendo salário-maternidade, visto que, caso
contrário, não haveria que se falar em prorrogação.
Defende que, caso se entenda que o acórdão embargado posterga o
início da proteção previdenciária das seguradas para o momento da alta
hospitalar, ocorrerá um vazio protetivo, pois a segurada nem receberá o
salário-maternidade, nem tampouco outros benefícios de incapacidade,
por inexistência de previsão legal para seu pagamento.
Clama para que o Plenário expresse qual será a fonte de custeio que
cobrirá o tempo de afastamento do trabalho anterior à alta hospitalar, sob
pena de ofensa à segurança jurídica e orçamentária e ao art. 195, §5º, da
Constituição, pois caso se entenda que o acórdão embargado determina o
pagamento de salário maternidade também durante o período de
internação (da segurada ou de seu filho), terá ocorrido uma ampliação do
prazo de recebimento do benefício de salário-maternidade para além dos
prazos normativamente previstos.
Destaca a necessidade se colocar como dever da segurada apresentar
o requerimento de prorrogação, sob pena de cessação do benefício pelo

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seu prazo de duração ordinária, já que não haveria como a Administração


ter ciência, de ofício, de eventual internação dela ou do filho.
Defende que o acórdão foi omisso quanto à possibilidade de o INSS
regulamentar mecanismos de controle administrativos das prorrogações
de acordo com a sua capacidade operacional, de modo a evitar o
pagamento do benefício por período de tempo superior ao devido.
Alega ainda que a parte dispositiva do julgado embargado não
estabeleceu expressamente a imprescindibilidade da verificação do nexo
causal nas hipóteses de reinternação após a alta, para que se esclareça que
eventuais prorrogações somente serão admissíveis quando decorrentes de
complicações associadas ao parto, mediante apresentação de novo
requerimento.
Com base no art. 1026, §1º, do CPC, requer a atribuição de efeito
suspensivo aos embargos de declaração, tendo em vista, os potenciais
prejuízos à efetividade da política pública decorrentes da dificuldade
operacional na concessão ou prorrogação dos benefícios de salário-
maternidade e licença-maternidade, ou mesmo da sua concessão
indevida, com prejuízo ao erário.
Por fim, postula o acolhimento dos embargos, para o deslinde do
alcance e extensão do acórdão recorrido nos pontos supra citados.
O Solidariedade postulou a rejeição dos aclaratórios (eDOC 41). Os
demais interessados, devidamente intimados, não se manifestaram.
É o relatório.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR): O recurso do


Embargante comporta conhecimento, visto que tempestivamente
apresentado. Entretanto, não lhe assiste razão.
Como é sabido, os embargos de declaração são cabíveis para
esclarecer obscuridade, eliminar contradição ou suprir omissão em
decisão judicial.
Como explicam Marinoni, Arenhart e Mitidiero, a contradição a que
aduz o art. 1.022 do CPC:

(...) Representa incongruência lógica entre os distintos


elementos da decisão judicial, que impedem o intérprete de
apreender adequadamente a fundamentação dada pelo juiz ou
tribunal. Há contradição quando a decisão contém duas ou
mais proposições ou enunciados incompatíveis. Obviamente,
não há que se falar em contradição quando a decisão se coloca
em sentido contrário àquele esperado pela parte. A simples
contrariedade não se confunde com a contradição.

A omissão, por sua vez, segundo os mesmos autores:

(...) representa a falta de manifestação expressa sobre


algum ponto ou questão sobre a qual devia se pronunciar o juiz
de ofício ou a requerimento . Como deixa claro o próprio
parágrafo único do art. 1.022, o conceito de omissão relevante
para fins de embargos declaratórios é dado pelo direito ao
contraditório (art. 5º, LV, da CF, 7º, 9º e 10) e pelo dever de
fundamentação analítica (arts. 93, IX, da CF, 11 e 489, §§ 1º e 2º).
(MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel. Curso de Processo Civil Volume 2 : Tutela

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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dos Direitos Mediante Procedimento Comum. São Paulo:


Revista dos Tribunais, 2015. p. 539-540)

Referidos vícios não se observam no presente caso, uma vez que a


parte embargante não trouxe qualquer argumento que não tenha sido
enfrentado no julgado embargado, inclusive em relação ao art. 195, § 5º,
da Constituição.
Da simples leitura do pedido lavrado nos embargos, verifica-se que
as omissões e contradições apontadas tratam na realidade de
questionamentos operacionais acerca da aplicação do julgado. Explicita-
se, apenas, que a referência à prorrogação não contradiz o termo inicial
do benefício, uma vez que se denota dali a necessidade de reinício do
prazo interrompido. No mais, a remissão no acórdão ao artigo 93, § 3º, do
Decreto n.º 3.048/99, permite à Administração valer-se de previsão já
existente para fins de implementar a decisão.
Por fim, destaca-se que por ora a análise se circunscreve ao pedido
de medida cautelar em sede abstrata. A provisoriedade que lhe é própria
desafiará nova análise enriquecida pelos debates advindos da instrução
do processo.
Diante do exposto, voto pelo conhecimento e pela rejeição dos
Embargos de Declaração.
É como voto.

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Extrato de Ata - 05/10/2020

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

EMB.DECL. NO REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE 6.327
PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. EDSON FACHIN
EMBTE.(S) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : SOLIDARIEDADE
ADV.(A/S) : GUILHERME PUPE DA NOBREGA (29237/DF) E OUTRO(A/S)
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu dos embargos de


declaração e rejeitou-os, nos termos do voto do Relator. Plenário,
Sessão Virtual de 25.9.2020 a 2.10.2020.

Composição: Ministros Luiz Fux (Presidente), Celso de Mello,


Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia,
Dias Toffoli, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e
Alexandre de Moraes.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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