Adriely Dos Santos Matos
Adriely Dos Santos Matos
Adriely Dos Santos Matos
CACHOEIRA - BA
FEVEREIRO/2017
ADRIELY DOS SANTOS MATOS
CACHOEIRA - BA
FEVEREIRO/2017
“Pés, para que os quero, se tenho asas para voar?”
Frida Kahlo.
AGRADECIMENTOS
Acredito que nessa vida, tudo que fazemos tem um propósito, um motivo para
acontecer. Por isso compartilho esse momento ímpar da minha vida com todos
aqueles que de alguma forma permaneceram ao meu lado, ou que mesmo longe
puderam transmitir energias positivas para que meus sonhos e objetivos fossem
concretizados. Tenho certeza que essa etapa acadêmica que se encerra, servira
como ponto de partida para a realização de novas conquistas.
Não cheguei aqui sozinha, algumas pessoas foram fundamentais e essenciais
para que esse momento se tornasse inesquecível. E são pra essas pessoas que
dedico todo meu sucesso.
Primeiramente, aos meus amores, meu pai Adilson e minha avó Mariazinha
que se foram antes que esse momento chegasse. Dedico essa conquista e todas as
outras a vocês, que se mantiveram presentes nos meus sentimentos me
fortalecendo a cada dia. Saudades eternas!
Agradeço imensamente a minha mãe, pelo esforço, pelo carinho e dedicação
que tem comigo, não tenho palavras suficientes para expressar tudo que minha mãe
representa na minha vida. Tudo que consegui e conquistei foi pra ela e por causa
dela. Te amo mãe!
Sou grata também, a todos meus familiares que se propuseram em ajudar
sempre que fosse preciso. Em especial meu tio Carlinhos (Charles) não poderia
deixar de expressar minha imensa gratidão por tudo que fez por mim, esse sucesso
e todas as outras compartilho com o senhor também, meu tio. Obrigada por tudo.
Agradeço aos meus irmãos que se mantiveram presentes, me dando forças e
incentivos para que esse dia fosse concretizado. Vocês são essenciais para
realização de todos meus objetivos.
Serei eternamente grata a minha banca Márcia Clemente, Simone Brandão e
Leandro Azevedo que tiveram paciência comigo, me incentivando e me mostrando
que sou capaz de ir muito mais longe do que imaginava. Obrigada vocês fazem
parte desse sucesso.
Por fim e não menos importante, dedico essa conquista as minhas amigas,
Itana Jamille, Cristiane Coelho e minhas “thucas” Carolina Nascimento e Ágata
Magalhães. Obrigada manas, pela compreensão, paciência e por estarem sempre
comigo. Amo vocês!
RESUMO
O objetivo desse estudo é analisar como equipe interdisciplinar do CAPS Ana Nery
de Cachoeira - BA lida com casos de usuárias vítimas da violência. Para isso,
buscamos através de referências bibliográficas literárias e documentais, sobre o
tema saúde mental, gênero e violência contra a mulher, a fim de tecemos
considerações acerca da violência e o efeito na saúde mental das vítimas. Nossa
questão de investigação neste trabalho indaga sobre: como a equipe interdisciplinar
do CAPS Ana Nery lida com os casos de usuárias vitimas da violência? Para
responder esta indagação realizamos uma pesquisa em campo do tipo qualitativa,
utilizamos para coleta de dados entrevistas semi - estruturada, com quatro
profissionais do CAPS Ana Nery. Utilizamos também para coleta de dados a
netenografia. Para o tratamento dos dados utilizamos como recurso a análise de
discurso, dessa forma buscando analisar como a equipe desta instituição lida com
as usuárias no referido contexto. Todavia, os dados levantados na pesquisa
permitiram compreender, sobretudo na insuficiência de políticas públicas em torno
da questão apresentada. Sendo assim, a falta dessas políticas tem impacto negativo
na formação dos profissionais da área da saúde mental para lidar nos casos de
usuárias vítimas da violência.
The objective of this study is to analyze how CAPS 'interdisciplinary team Ana Nery
de Cachoeira - BA deals with cases of users victims of violence. For this, we search
through literary and documentary bibliographical references on the subject of mental
health, gender and violence against women, in order to make considerations about
violence and the effect on the mental health of the victims. Our research question in
this work asks about: how the CAPS interdisciplinary team Ana Nery deals with the
cases of female victims of violence? In order to answer this question, we carried out
a qualitative research in the field, using semi - structured interviews with four
professionals from CAPS Ana Nery. We also use for data collection the
netenography. For the treatment of the data we use as a resource the discourse
analysis, in this way trying to analyze how the team of this institution deals with the
users in that context. However, the data collected in the research allowed us to
understand, especially in the insufficiency of public policies around the issue
presented. Thus, the lack of these policies has a negative impact on the training of
mental health professionals to deal with cases of users who are victims of violence.
INTRODUÇÃO.........................................................................................................9
CONSIDERAÇOES FINAIS.....................................................................................95
REFERÊNCIAS........................................................................................................98
APÊNDICE A...........................................................................................................104
APENDICE B...........................................................................................................106
9
INTRODUÇAO
Nesses últimos anos, a sociedade tem debatido com mais freqüência sobre
as questões da violência contra mulher, o que pode levar a pensar que é um
fenômeno recente na humanidade. Entretanto, este não se constitui como um fato
novo, muito pelo contrário, a violência contra a mulher pode ser considerado um
fenômeno tão antigo quanto às primeiras civilizações.
De fato o que vem ocorrendo nos dias atuais é que esse fenômeno tornou-se
alvo de grandes preocupações levando a judicialização como criminalização do
problema e mobilizando não apenas o setor jurídico, mas também grande parte da
sociedade civil.
No Brasil, em agosto de 2006 foi sancionada a lei Maria da Penha – Lei
11.340 (BRASIL, 2006) do qual busca medidas de proteção as vítimas e a punição
do agressor, destacando em seu Art. 1º:
a equipe interdisciplinar do CAPS Ana Nery lida com os casos de usuárias vitimas
da violência?
Dessa forma, para buscar responder a pergunta acima, foi realizada uma
pesquisa em campo, sendo utilizados os métodos exploratório/descritivo,
exploratório, pois visa uma maior aproximação com o problema, tornando mais
esclarecido e descritivo na medida em que também através das coletas de dados
posso descrever com mais precisão as características desse problema.
A pesquisa tem característica de natureza qualitativa. Segundo Minayo
(1996), a pesquisa de caráter qualitativa possibilita principalmente na área da saúde
entender as questões em torno do contexto socioeconômico, políticos e ideológicos
do qual os sujeitos pesquisados estão inseridos. Podendo assim, relacionar o saber
teórico e prático sobre saúde e doença. Essa forma de intervenção se configura
como uma estratégia para uma melhor avaliação dos serviços e dos usuários nos
sistemas de saúde.
Tendo como instrumento de coletas de dados entrevistas semi-estruturadas
que se caracterizada por perguntas básicas, seguindo a elaboração de um roteiro
base que pode ser alterado no decorrer da entrevista. Para Triviños (1990) a
entrevista semi-estruturada é uma das principais maneiras que o investigador pode
utilizar para coletar dados dos quais são sustentados em hipóteses e teorias que os
levam para um extenso campo de indagações, assim podendo surgir novos
questionamentos.
Inicialmente a pesquisa seria direcionada as próprias usuárias do CAPS Ana
Nery, porém por questões éticas que deveriam ser avaliadas antes da realização
das entrevistas pelo comitê de ética da saúde, principalmente por se tratar de
mulheres em tratamento psicossocial, assistidas por uma instituição de saúde
pública o procedimento da pesquisa iria requerer muito mais tempo que o esperado.
Dessa forma, para não perder o foco principal: “violência contra a mulher e saúde
mental” do qual o presente trabalho abrange, buscamos outros meios para analisar
essa questão. Então, uma saída encontrada foi fazer as entrevistas com a equipe
interdisciplinar do CAPS Ana Nery sobre o tema em questão, em busca de
informações que pudessem contribuir para sustentar os fundamentos teóricos
embasados nesse trabalho.
O CAPS Ana Nery é uma instituição composta por uma psicóloga, uma
assistente social, uma psiquiátrica, uma pedagoga, uma educadora física, uma
13
O presente estudo tem como objetivo trazer alguns conceitos para entender
como se manifesta dentro das relações sociais as diversas formas da violência
contra mulher. Portanto, será remetido a um breve contexto histórico do qual faço
uma análise sobre o tema a partir de algumas referências bibliográficas. Contundo,
para não ficar uma leitura cansativa e repetitiva, esse estudo será feito apenas para
conhecimento prévio, pois trabalharei mais detalhadamente com alguns conceitos no
decorrer do trabalho.
1
“A origem da monogamia não é tecida por frutos do amor sexual individual, mas sim, por condições
econômicas, que preservavam a propriedade privada e sua retenção na família. Os casamentos eram
de conveniência, eram acordos (...) este tipo de família já surge sobre a forma de escravização de um
sexo pelo outro, como proclamação de um conflito entre os sexos. Sua origem está atrelada a
escravidão e as riquezas, e seus desenvolvimentos, implicam a máxima repressão dos homens sobre
as mulheres.” (SILVA, 2015, p. 9/10)
17
determinadas pelo sexo. O autor ainda ressalta que existe um discurso dos oficiais
que faz a linguagem do trabalho uma das mais sexuadas possíveis. “Ao homem a
madeira e os metais. A mulher, a família e os tecidos”, declara um delegado operário
da exposição mundial de 1867. (PERROT, 1988; p.178)
Assim, diante desse argumento, percebe-se o quanto se torna marcante as
determinações nas divisões das diferentes funções, papéis e tarefas sob a
perspectiva da situação sexual que o individuo representa na sociedade. Em outras
palavras, os comportamentos nos espaços sociais são moldados de maneiras
diferenciadas para homens e mulheres. Enquanto para eles são posto os trabalhos
considerados “mais pesados”, para elas ficam as funções considerados “mais
maleáveis” sendo na maioria das vezes restritas ao lar.
Com a chegada da família real portuguesa nas colônias brasileiras, aos
poucos foi proporcionando o processo de urbanização e conseqüentemente de
movimentação do comércio na cidade, possibilitando o apogeu do capitalismo que
dava requisitos para o neocolonialismo2. Com isso, surgiram novas percepções de
mudanças significativas no modelo familiar e no universo feminino, principalmente
na inserção da mulher na participação social. (FOLLADOR, 2009)
As mulheres começaram a freqüentarem os ambientes públicos que antes
não podiam como o salão de beleza, lojas, teatros. E cada vez mais se distanciando
do encarceramento doméstico. (FOLLADOR, 2009)
Dessa forma, o processo de urbanização no período colonial pode ser
considerado como um dos aspectos importantes para a transição das mulheres dos
espaços privados para os espaços públicos. Assim, surgindo novas configurações
no eixo familiar, mas não perdendo a essência do patriarcalismo.
Segundo, PERROT:
2
Segundo o dicionário online: Neocolonialismo significa medidas econômicas e políticas com que
uma potência mantém ou estende indiretamente sua influência sobre outras áreas ou povos.
Disponível em: https://www.dicio.com.br/neocolonialismo/
20
3 O modo de produção escravista pode ser considerado um tipo de economia que reduz tudo a
mercadoria. Tudo passa a ser visto sob a ótica do que pode ser comercializado. Assim, as pessoas
são reduzidas a objetos de mercado. São compradas e vendidas como qualquer outra mercadoria.
Pode-se dizer que os escravos valem pelo corpo que têm e pela capacidade de produção. A
escravidão se torna a base da economia. (ROSSI, 2005 p.32)
21
Nesse item, serão abordadas algumas autoras das quais considero as mais
influentes nas questões de gênero, bem como nos estudos e fundamentos que
envolvem toda a complexidade desse tema. No entanto, não remeterei de forma
cronológica, mas abordarei de maneira atemporal algumas das principais obras
dessas autoras, das quais utilizei como referência nesse trabalho. Diante disso,
serão apenas citados resumidamente seus posicionamentos e sua influência nos
diferentes contextos.
Judith Butler foi uma filosofa pós – estruturalista dos Estados Unidos e
considerada uma das principais teóricas nos estudos sobre as questões feministas.
Em seu artigo, “Problemas de gênero – feminismo e subversão da identidade”,
Butler apresenta uma crítica ao fundamento da identidade vista apenas de forma
única, defendida por muitas feministas. A autora argumenta que a categoria de
gênero deveria ser pensada e analisada de maneira ampla e não apenas restrita ao
singular. Dessa forma, sua obra em questão, é considerada uma das melhores
críticas para a categoria de gênero na atualidade. Sendo, “Problemas de gênero” a
4
Serão analisados esses movimentos feministas com mais detalhe no decorrer do trabalho.
22
sua primeira obra a ser publicada no Brasil, contribuindo de forma significativa para
a renovação no pensamento do movimento feminista.
Segundo a autora Judith BUTLER (2003), os processos do sistema patriarcal
baseada no conceito de gênero no eixo familiar e doméstico são insuficientes para
entender as desigualdades e a divisão sexual do trabalho. Pois, entende-se que a
estrutura para a organização da família está ligada aos arranjos sociais que impõe
que as mulheres cuidem da casa e dos filhos e os homens sejam responsáveis pelo
trabalho, mas não se explicam como esses fatores sociais se articulam com outros
sistemas sociais, políticos, econômicos e de poder.
As interpretações para as questões de gênero são vastas, fazendo com que
os estudos sobre o assunto tenham diferentes posicionamentos. Segundo Saffiot,
mesmo sendo limitado, existe um senso comum para o conceito: o gênero é a
construção social do masculino e do feminino. O conceito de gênero não explicita,
necessariamente, desigualdades entre homens e mulheres. Muitas vezes, a
hierarquia é apenas presumida. (SAFFIOT, 2004; p.45)
Heleieth Saffioti, escritora brasileira, considerada uma das mais influentes nas
questões feminista no país. Socióloga marxista dedicou grande parte da sua vida
aos estudos sobre violência de gênero. Em seu livro “Gênero, Patriarcado e
violência”, a autora atribui o conceito de gênero como algo mais complexo que o de
patriarcado, ou seja, segundo a mesma, entende - se sobre gênero desde a
existência da humanidade e, portanto esta longe de ser um conceito neutro.
Entretanto, o patriarcalismo é considerado um fenômeno recente, paralelo ao
advento da industrialização do capitalismo.
Contudo, mesmo que não se resuma ao patriarcado todas as formas de
desigualdade, violência e opressão contra o gênero feminino, a desvalorização da
mulher e os privilégios do homem no passado, marcado por esse sistema, refletem
nos tempos remotos e, portanto, exige uma compreensão de como se constitui o
conceito de gênero traduzido nos diferentes comportamentos social entre homens e
mulheres.
Em contrapartida, a socióloga Jean Scott, remete a crítica de que as relações
de gênero estão também paralelas as relações de poder. Assim, a autora Scott,
historiadora estadunidense e pós – estruturalista, buscou através de seus estudos
sobre gênero, desconstruir alguns pensamentos ocidentais em relação às oposições
de poder entre homem e mulher. Dessa forma, seu artigo “Gênero enquanto
23
5
O movimento feminista teve início no século XIX, o que chamamos de primeira onda. Nesta, as
reivindicações eram voltadas para assuntos como o direito ao voto e à vida pública. A segunda onda
teve início nos anos 70 num momento de crise da democracia. Além de lutar pela valorização do
trabalho da mulher, o direito ao prazer, contra a violência sexual, também lutou contra a ditadura
militar. Na terceira onda, que teve início da década de 90, começou-se a discutir os paradigmas
estabelecidos nas outras ondas, colocando em discussão a micropolítica. Disponível em:
https://www.cartacapital.com.br/blogs/escritorio-feminista/feminismo-academico-9622.html
24
6
Observações adquiridas nas reuniões do grupo de pesquisa “Violência de gênero- Metendo a colher na Lei
Maria da Penha” orientado pela docente: Simone Brandão.
25
7 “Algumas das formas de o poder masculino se manifestar são mais facilmente reconhecidas do que
outras, ao reforçar a heterossexualidade sobre as mulheres (...) O cinto de castidade, o casamento
infantil, o apagamento da existência lésbica (exceto quando vista como exótica ou perversa) na arte,
na literatura e no cinema e a idealização do amor romântico e do casamento heterossexual são
algumas das formas óbvias de compulsão, as duas primeiras expressando força física, as duas
outras expressando o controle da consciência feminina.” (RICH, 2010 p. 26)
26
8 Esse item será para uma explicação superficial sobre algumas legislações da qual considero
importante para compreender de forma cronológica como o território brasileiro lida com os casos de
violência contra mulher no âmbito jurídico, entre os avanços e desafios presentes no contexto
histórico. Por tanto não pretendo aprofundar nas legislações citadas, sendo que algumas delas serão
analisadas com mais detalhes no próximo item.
27
9
DECLARAÇÃO E PROGRAMA DE AÇÃO DE VIENA Conferência Mundial sobre Direitos Humanos.
Viena, 14-25 de Junho de 1993. Disponível em: http://www.cedin.com.br
10 A presente declaração universal dos direitos humanos, como o ideal comum a ser atingido por
todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade,
tendo sempre em mente esta Declaração, se esforcem, através do ensino e da educação, por
promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter
nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva,
tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua
jurisdição. (BRASIL, 1998)
11 Vulnerabilidade social é o conceito que caracteriza a condição dos grupos de indivíduos que estão
a margem da sociedade, ou seja, pessoas ou famílias que estão em processo de exclusão social,
principalmente por fatores socioeconômicos. Disponível em:
https://www.significados.com.br/vulnerabilidade-social/
28
Percebe-se com isso, que foi preciso percorrer longos caminhos judiciais ate
consegui abranger todos os países, inclusive o Brasil. Por tanto, essa convenção
simboliza um documento importante no combate a discriminação contra a mulher de
forma mundial.
No Brasil, a constituição federal de 198812, (BRASIL, 1988) significou um
marco histórico na democracia no país, pois adota princípios fundamentais para a
dignidade e cidadania da pessoa humana, inclusive favoreceu no reconhecimento do
direito da mulher, prevista no seu artigo 226, § 8º colocando o estado como
responsável pela assistência a família, bem como de cada um de seus membros, ao
mesmo tempo em que buscou mecanismos para reprimir qualquer tipo de violência
no contexto de suas relações.
Em Viena em junho de 1993, foi realizada a conferencia Mundial dos Direitos
humanos, da qual, buscou não apenas dar visibilidade aos direitos humanos das
mulheres, como também, analisar as questões especificas e particulares da
condição social de cada mulher. Colocando, em relevância as identidades próprias
proporcionado pela perspectiva de gênero, ou seja, se torna necessário repensar,
revisitar e reconceitualizar os direitos humanos de forma transversal diante das
relações entre os gêneros. (PIOVESAN, 2012)
12
No inicio de 1988, após um ano e sete meses de trabalhos da Assembléia Constituinte, o projeto
constitucional foi finalmente levado para uma primeira votação em plenário. Após intensos debates,
uma segunda votação ocorreu e a nova Constituição foi promulgada em 5 de outubro de 1988,
buscando consolidar a democracia e dar uma nova forma à ordem política brasileira. (PERLATTO,
2009 apud. SOUZA & LAMOUNIER, 1990)
29
elaborar proposta de medida legislativa e outros instrumentos para coibir a violência doméstica contra
a mulher, e dá outras providências.(BRASIL, 2004)
30
Com essa lei, foi possível tomar medidas imediatas em relação à essa violência,
como por exemplo, o afastamento do agressor, vista como uma das medidas
protetivas de urgência.(BRASIL, 2006)
A Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340/2006) tem esse nome por causa da
situação de violência doméstica de Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de duas
tentativas de homicídios por parte do marido, em que uma dessas tentativas a
deixou paraplégica. Sendo assim, depois de 20 anos sofrendo a violência dentro de
casa, com ajuda de grupos de mulheres pode ser feita a justiça, sendo realizada a
prisão do agressor. Esse caso deu tanta visibilidade à violência contra a mulher que
se tornou exemplo na defesa dos direitos das mulheres vitimas dessa violência e por
isso a Lei nº 11.340 recebeu o nome da Lei Maria da Penha. (BRASIL, 2015)
Recentemente foi adota a Lei do feminicídio (Lei nº 13.104), entrando em
vigor em 9 de março de 2015, essa lei altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7
de dezembro de 1940 para prever punição aos crimes mais graves em que leva o
assassinato da vítima e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990
considerando também como crime qualquer forma de discriminação contra o sexo
feminino. (BRASIL, 2015)
Tanto a lei Maria da penha, como a lei do feminicídio são legislações
fundamentais e de grande importância para a diminuição e enfrentamento da
violência contra a mulher no Brasil, sobretudo, na conquista dos direitos humanos
das mulheres. Com isso, cabe ao estado a responsabilidade em criar medidas
eficientes para prevenir, fiscalizar, reparar, combater e punir nos casos da violência
contra mulher.
De forma geral, a criação dos direitos humanos das mulheres significou um
dos maiores avanços nas ultimas décadas, pois foi através de muitas lutas que as
mulheres puderam conquistar direitos, dignidade e justiça. Mas sabemos que para a
efetividade desses direitos ainda precisamos superar os estereótipos e preconceitos
postos por uma cultura com ideologia patriarcal, impregnada em nossa sociedade.
como ela se constitui em um problema social que atinge as mulheres, sendo elas
suas principais vítimas.
Segundo a autora Saffiotti, trata-se da violência como ruptura de qualquer
forma de integridade da vítima: integridade física, integridade psíquica, integridade
sexual, integridade moral. (SAFFIOTTI, 2004. p. 17)
Sendo essas agressões muitas vezes, legitimadas nas práticas sociais
baseadas em uma cultura machista em que disseminam a discriminação e violência
contra a mulher.
De acordo com a Política Nacional, a definição da violência contra a mulher,
determinada na convenção do Belém do Pará (1994), afirma: A violência contra a
mulher constitui “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte,
dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público
como no privado” (Art. 1°). (BRASIL, 2011)
Portanto, diante desses dois conceitos exposto anteriormente, podemos
perceber que a violência contra mulher se constitui também como uma violação dos
diretos humanos, em que atinge a integridade física, psíquica e moral das vitimas,
causando danos na saúde e no bem estar da mulher.
No Brasil, a visibilidade da violência contra a mulher, ganha destaque no inicio
dos anos 80, quando grupos de feministas dão ênfase a esse problema em busca
dos direitos das vitimas. Esse processo se deu principalmente por causa dos
movimentos sociais e políticos, impulsionado pelo processo de redemocratização no
país. (SANTOS; IZUMINO, 2005)
Dessa forma, os grupos feministas foram essenciais para compreensão do
fenômeno da violência, sobretudo para entender toda a complexidade em que nós
mulheres estamos emaranhada. Entretanto, mesmo com as implicações que
envolvem esse fenômeno na sociedade, os movimentos feministas através dos
estudos de gênero, possilibitou também a conquista de alguns direitos para
mulheres.
Em meados dos anos 80, (CORTES, at.,2015) tem-se o surgimento das
delegacias da mulher mediante aos estudos sobre a violência de gênero, do qual
tinha como objetivo identificar os tipos e a freqüência da violência, bem como o perfil
dos agressores e das vítimas na busca por estratégias públicas para o
enfrentamento da violência.
32
Esse tipo de violência que pode ser causado por maridos, companheiros,
sendo ex - conjugue ou atuais, que convivem ou não no mesmo espaço que a
mulher, não se restringe apenas a essas relações amorosas, ou seja, a violência
doméstica e familiar pode ser cometida também por algum membro da família como,
pai, mãe, tio, tia, irmão, Irmã entre outros. Sendo assim, a conseqüência da
violência, trazem danos na saúde e na qualidade de vida das mulheres.
16No primeiro semestre de 2016, o Ligue 180, serviço gratuito e confidencial que recebe denúncias de
violência e orienta mulheres sobre seus direitos e sobre a legislação vigente, recebeu 67.962 relatos
de violência, sendo 4,3% relatos de violência sexual. Disponível em:
http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2016/11/relatos-de-violencia-sexual-crescem-123-no-
primeiro-semestre-de-2016. Acesso: 30.11.2016
36
17
No dia 23 de novembro de 2016, jovem sofre abuso sexual em cinema de Recife. Vítima ainda enfrentou
descaso por parte de policiais e teve que relatar o caso para 5 homens. Noticia na integra disponível
em: http://noticias.r7.com/cidades/jovem-sofre-abuso-sexual-em-cinema-de-recife-30112016. Acesso:
30.11.2016
38
18 Quando a mulher em situação de violência passa por outro tipo de violência, acontece geralmente
nos estabelecimento de atendimento quando procuram ajuda.
19A inquisição no Brasil ocorreu por volta da segunda metade do século XVIII (...) A mulher era
considerada pelos Inquisidores como propensa a constituir pactos com o Demônio. A Igreja invocava
o mito de Eva, que foi tentada pela serpente (o Mal) atraindo para a Terra a fúria divina. Assim, desde
o inicio dos tempos, a mulher era a parceira do mal, instrumento utilizado pelo Diabo na sua luta
contra Deus. (SILVIA, 2011)
39
20Pesquisa Instituto Avon / Data Popular Violência contra a mulher: o jovem está ligado?.versao:
02.12.2014 disponível em: http://agenciapatriciagalvao.org.br/wp-
content/uploads/2014/12/pesquisaAVON-violencia-jovens_versao02-12-2014.pdf
41
Tabela 1.0. Número e taxas (por 100 mil) de homicídio de mulheres. Brasil. 1980/2013
Gráfico 1.0. Evolução das taxas de homicídio de mulheres (por 100 mil). Brasil. 1980/2013
especifica para esses crimes, sendo assim em 2005 foi sancionada a Lei do
feminicidio - Lei 13.104/2015.
Em 2009 foi implantado pelo mistério da saúde o SINAN – Sistema de
Informação de Agravos de Notificação, tendo como objetivo, realizar a notificação de
forma transversal, continua e compulsória nos casos da violência doméstica, sexual
e outros tipos de violências nos atendimentos por violência no sistema único de
saúde (SUS). Sendo o gestor da saúde do SUS o responsável por essas
notificações através de uma ficha especifica de acompanhamento. (WAISELFISZ ,
2015)
No estado da Bahia, segundo os dados divulgados pela secretaria de
segurança Pública do Estado (SSP- BA)21, somente nos três primeiros meses de
2016 foram registrados quase 10 mil casos de violência contra a mulher, sendo
contabilizados ao todo 9.795 ocorrências, entre eles homicídios, tentativas de
homicídios, lesão corporal, estupro e ameaça.
Percebe-se que a violência contra a mulher em todas as suas estâncias
constitui em um problema social e de saúde pública do qual causa grandes danos na
vida das vítimas, pois elas são humilhadas, desprezadas, excluídas do convivo
social, levando muitas das vezes à depressão e ao isolamento dessas mulheres.
Portanto, dar-se a importância da implementação de ações voltadas para o
enfrentamento da violência contra a mulher, de maneira a serem concretizadas,
fiscalizadas e executadas por todos.
De acordo com a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as
Mulheres, o conceito de enfrentamento esta voltada para a implantação de política
que visem buscar alternativas para combater todos os tipos da violência contra
mulher, bem como também na prevenção, na assistência e na defesa dos direitos
delas. Para isso, o enfrentamento precisa ser intrínseco com os diversos setores de
serviços: saúde, assistência social, educação, segurança publica, justiça, na
intenção de desenvolverem ações contra as desigualdades, discriminação de gênero
e violência contra a mulher. Busca-se também, criar medidas de atendimentos
qualificados e humanizados que promovam uma melhor segurança para a mulher
vítimas da violência. (BRASIL, 2007)
27
Esses aspectos serão mencionados no decorrer do texto.
28 Anotações feitas nas aulas da disciplina de Saúde Mental.
47
29
Anotações feitas nas aulas da disciplina de Saúde Mental. Professor Leandro Azevedo.
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – Centro de Artes, Humanidades e Letras.
48
Nos primórdios da profissão do Serviço Social, não era tão notório a inserção
desse profissional na área da psiquiatria, tendo em vista do pequeno número de
assistentes sociais trabalhando com exclusividade no âmbito da loucura.
Segundo BISTENETO (2011), devido à escassez de profissionais do Serviço
Social no Brasil nos primeiros 30 anos da profissão, houve um número reduzido dos
profissionais trabalhando em áreas especificas da psiquiatria, em hospitais,
manicômios, clinicas. Apenas, eram chamados algumas vezes para trabalharem em
hospícios dos grandes estados brasileiro, do qual também eram atendidas as
demandas do interior do estado.
(...) O Serviço Social entrou na saúde mental como mais uma das
medidas racionalizadoras do sistema saúde – previdência. Para
ilustrar, em 1974 foi criada a DATAPREV, Empresa de
Processamento de Dados da Previdência Social, para através da
informática chegar a objetivos semelhantes: racionalização
institucional, controle de custos organizacionais, controle dos autores
sociais, aparência de modernização, imitação de modelos do
Primeiro mundo, controle da internação indiscriminada entre outros.
(BISNETO, 2011, p. 28)
51
30 No próximo item, abordarei como se constitui esses serviços psicossociais, bem como as bases
conceituais que emerge a política da saúde mental.
53
31LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diponivel
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10216.htm
55
Diante disso, MATEUS (2013) fragmenta todos esses itens acima, mostrando
como esses serviços são articulados na Rede de Atenção a Saúde. Contudo, para
nível de conhecimento sobre o assunto, apenas remeterei dessa referência de forma
resumida. Então, seguindo a ordem dos itens acima, iniciarei com a Atenção Básica
em Saúde.
Na Atenção Básica em Saúde, são desenvolvidas ações de promoção,
prevenção e cuidados no âmbito da saúde mental, bem como, redução de danos e
cuidados com pessoas que usam drogas como o CRACK, álcool entre outras, e
articulando, quando precisa, com os outros pontos da rede.
O NASF - Núcleo de Apoio à Saúde da Família constitui uma das redes que
tem como base atuar junto com as outras equipes das unidades de saúde,
aumentando a capacidade resolutiva da atenção básica à saúde mental.
O CAPS- Centro de Atenção Psicossocial se encontra na atenção
psicossocial especializada e mesmo não existindo um centro fixo, podemos perceber
que a maior dos serviços principalmente em situações mais graves estão vinculadas
aos serviços do CAPS, fazendo com que haja uma centralização nas redes voltadas
para saúde mental.
O CAPS surge como uma peça chave na montagem da rede de assistência,
sendo classificado de acordo com suas demandas em três categorias: CAPS I, II e
III, podendo também ser direcionado a alguma população especifica como o CAPS i,
voltada as crianças e adolescentes e o CAPS AD, para problemas ligados ao uso de
álcool e outras drogas. Todas essas categorias buscam a mesma função, atender e
acompanhar o publico com transtornos mentais. (MATEUS, 2013)
Os CAPS devem atender urgências, acompanhar os pacientes mais graves,
oferecer oficinas de oferta de trabalho, orientar a Atenção Básica, controlar
medicações psicotrópicas de alto custo, realizar atividades culturais e educativas
para a comunidade, entre tantas outras funções. (BRASIL, 2004, Apud MATEUS,
2013).
57
Criada pela política de saúde mental brasileira, o CAPS é uma instituição que
visa à mudança no tratamento das pessoas com transtorno psíquico grave,
buscando assim, suprir as diversas demandas da saúde mental em que oferta
gratuitamente o serviço de atendimento e acompanhamento das pessoas com
transtornos mentais. No entanto, essa instituição continua em processo e por tanto,
existem muito desafios a serem vencidos.
Os serviços a Atenção de Urgência e Emergência, são direcionados para as
situações consideradas mais graves. Nos casos de emergência psiquiátrica, por
exemplo, estão relacionadas à confusão e distúrbio mental, tentativa de suicídio,
doenças em que afetam o funcionamento do celebro, etc. e como nesses casos,
existem riscos de extrema agressividade, o CAPS, na maioria das vezes não lidam
com essas demandas. Contudo, o CAPS não fica totalmente isento desses serviços,
pois, mesmo contando apenas com o apoio dos serviços de emergência pouco
especializado, acabam atendendo também algumas dessas emergências
psiquiátricas.
Portanto, para essas situações vistas como agravantes, estão disponível os
serviços das Unidades Básicas de Saúde, da SAMU 192, da UPA 24 horas, da Sala
de Estabilização, entre outros.
A unidade residencial de caráter transitório tem como objetivo acolher os
indivíduos com transtornos mentais, em regime residencial, ou seja, os serviços de
atenção dessa unidade podem ser atendidos através das comunidades terapêuticas,
pois em muitas situações o agravamento do quadro esta relacionada à precariedade
do ambiente familiar, ou nos casos de usurários de CRACK em situação de rua.
A Rede de Atenção a Saúde (RAS), também conta com os serviços de
atenção hospitalar, do qual, tem como foco a enfermaria especializada e os serviços
hospitalar de referencia, para os casos de internações de curta duração, geralmente
direcionados aos usuários de substancias psicoativos e bebidas alcoólicas.
Ao longo desse processo, alguns projetos foram criados, por exemplo, os
Serviços Residenciais Terapêuticos e o Programa De Volta para Casa, como
Estratégias de desinstitucionalização, ou seja, pretendia-se qualificar os pontos de
atenção da Rede de Atenção psicossocial para diminuir os leitos em hospitais
psiquiátricos.
Dentro dessa Rede também podemos encontrar a Reabilitação Psicossocial,
que busca através das iniciativas nas gerações de trabalho e renda, nas
58
32Em 1984, o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher
(PAISM), marcando, sobretudo, uma ruptura conceitual com os princípios norteadores da política de
saúde das mulheres e os critérios para eleição de prioridades neste campo (BRASIL, 2004 Apud.
BRASIL, 1984) P. 16
63
No campo da saúde mental, muitas profissionais ainda não têm uma visão
crítica sob a perspectiva do gênero no diagnóstico. Assim, os valores engendrados
na sociedade tidos como ideais, tendem a levar esses profissionais a
posicionamentos que foram construídos culturalmente e que constitui como fator
determinante na leitura dos sintomas.
Nessa perspectiva, o estudo de gênero pode ajudar na compreensão de
alguns pontos importantes na saúde mental, dos quais pesquisadores da área da
33RELATÓRIO SOBRE A SAÚDE NO MUNDO 2001. Saúde Mental: Nova Concepção, Nova
Esperança.
65
34 A epidemiologia é uma disciplina básica da saúde pública voltada para a compreensão do processo
saúde-doença no âmbito de populações, aspecto que a diferencia da clínica, que tem por objetivo o
estudo desse mesmo processo, mas em termos individuais. Disponível em:
http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/index.html
35 Etiologia - é a causa de um sintoma, de uma síndrome ou de um transtorno conseqüente à
agressão de uma agente que pode ser biológico, químico, ambiental ou físico. Disponível em:
http://www.polbr.med.br/ano11/prat1011.php
66
36 O dispositivo amoroso é a ode ao amor fomentado pelas biotecnologias sociais, da vida que
desabrocha na realização de outrem. Disponível em: http://www.tanianavarroswain.com.br/
37 A dependência física descreve um estado no qual, após a administração repetida de uma droga, o
organismo passa a necessitar da presença dessa droga para seu funcionamento normal. (OLIVEIRA,
2000, p. 68)
38 Organização Mundial de Saúde – WHO/OMS (2000a)
67
No caso das mulheres pobres essa situação torna-se ainda mais grave, na
medida em que a precariedade dos recursos as deixam mais vulneráveis ao
adoecimento psíquico. Sendo assim, a intervenção para uma melhor qualidade de
vida dessas mulheres, remete a compreensão das relações de gênero e da situação
de vulnerabilidade em que se encontra, principalmente tendo em vista, que elas são
as maiores vitimas da violência e dos processos sociais que a excluem do acesso
aos serviços da saúde, seja pelas múltiplas demandas (responsabilidade da casa,
filho, marido), seja por falta de recursos financeiros.
De fato, (OLIVEIRA, 2007) nas populações mais carentes, os índices de risco
na prevalência de distúrbio psiquiátrico aumentam. Assim, a situação de pobreza
pode levar muitas pessoas a constantes estresses. No entanto, no que se refere à
condição feminina, esses riscos ainda são maiores. Apresentando com sérios
impactos na saúde da mulher em situação de pobreza.
39
Informações disponíveis em: http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?codmun=290490.
Acesso: 13.12.16
73
do mar, também são comuns na cidade, feijoada, caruru, vatapá, acarajé e diversos
tipos de moquecas.
Marcada pela sua rica arquitetura, turismos, festas religiosas e culinárias
típicas, esse município do recôncavo baiano respira historia por todos os cantos.
Portanto, diante desse contexto, Cachoeira insere-se como cenário de muitas
conquistas históricas e tradições que perpetuam até nos dias atuais.
3.4.1 Violência e o adoecer mental das usuárias do CAPS Ana Nery: O olhar
da equipe interdisciplinar da instituição.
Percebe-se nas falas desses profissionais que muitas vezes as mulheres que
fazem tratamento no CAPS Ana Nery são inicialmente direcionadas a fatores
psicológicos, ou seja, não há uma identificação mais concreta das complexidades
dos fatores que levou ao adoecer psíquico dessa mulher.
De uma maneira geral, (OLIVEIRA, 2000 Apud. D’OLIVEIRA E SENNA, 1996)
as políticas de saúde neste país, geralmente restringem a demanda ao atendimento
médico, ou seja, muitas vezes as condições de vida dos usuários sejam eles,
sociais, econômicas, educacionais não são levados em consideração, tendo em
vista que para muitos brasileiros a saúde circunscreve no momento de necessidade,
limitando-se apenas aos recursos de atendimentos médicos.
Dessa forma, trazendo essa questão para o CAPS Ana Nery, as
complexidades dos fatores que levaram ao o adoecer mental das usuárias, fazendo
com que elas procurassem a instituição, necessitam dos profissionais uma maior
atenção para os fatores que ocasionou a determinado transtorno mental. Na medida
80
em que essas causas podem estar interligadas a uma situação de violência que
essa mulher sofre ou já sofreu em algum momento de sua vida.
Segundo a autora Saffiotti, trata-se da violência como ruptura de qualquer
forma de integridade da vítima: integridade física, integridade psíquica, integridade
sexual, integridade moral. (SAFFIOTTI, 2004. P. 17)
Assim, torna-se fundamental para os profissionais entender a complexidade
conceitual em que circunscreve a violência contra a mulher e o impacto que esse
fenômeno pode causar nas vítimas. Diante disso, essa pesquisa também procurou
identificar como esses profissionais definem a violência contra a mulher. Dessa
forma, perguntamos para as entrevistadas: Como você define a violência contra a
mulher? Logo em seguida obtivermos as seguintes respostas:
Essa atual conjuntura é uma estupidez, mais que uma violência, uma
ignorância. Inadmissível violência com qualquer pessoa e a violência
gera violência, esta na hora de plantamos o amor no mundo, para
que ele fique mais suave os nossos dias. Violência só gera violência,
eu acho que agora precisamos aplicar a gentileza que gera gentileza,
isso é o mais bonito dentro de um CAPS e fora também. (Sujeito B)
fenômeno. Sendo que esse fator pode influenciar nos procedimentos a ser tomados
pela equipe. Assim, foi observado que existe uma compreensão desse tipo de
violência por esses profissionais do qual chamam a atenção para o problema,
principalmente no campo da saúde mental.
Também foi levantado no questionário, sobre participação em alguma
atividade técnica (cursos, palestras, disciplinas na graduação) em que discutem o
atendimento em casos de violência contra a mulher. Sendo que das entrevistadas,
apenas uma informou que nunca havia participado desses tipos de atividades.
Portanto, torna-se relevante discutir mais, tanto nos espaços públicos como
nos espaços privados sobre a violência contra a mulher e seus efeitos na saúde
mental, com intuito de formar e informar os profissionais sobre essa questão. Assim,
partindo da tentativa de integrar não apenas a área da saúde, como também, a
assistência, a educação, a cidadania, para que se haja realmente uma proteção nos
direitos humanos as mulheres. Principalmente tendo em vista que esse tipo de
violência configura-se como um comportamento proposital, do qual na maioria das
vezes pode trazer sofrimento, mau – estar, insatisfação social e emocional, podendo
afetar diretamente na saúde mental da vítima.
Segundo ADEODATO et al. (2005) por muito tempo, a questão de gênero no
contexto da saúde mental relacionava o adoecer mental feminino as concepções
biológicas. Dessa maneira, as funções hormonais do corpo da mulher eram visto
como a principal responsável pelo desenvolvimento de transtornos mentais.
Trazendo a complexidade da questão para o singular, ou seja, para a
realidade do CAPS Ana Nery, essa pesquisa buscou, sobretudo, identificar se existe
alguma relação de violência com o adoecer mental das usuárias da instituição.
Diante disso, todas as entrevistadas relataram que existe essa relação e relataram
casos específicos de mulheres que procuram o CAPS Ana Nery e que apresentaram
durante os acolhimentos individuais e oficinas terapêuticas situações de violência.
Assim, diante da pergunta: Você acredita que exista alguma relação da
violência com o adoecer mental das usuárias do CAPS Ana Nery? As entrevistadas
responderam:
Contudo, um desses casos foi relatado por uma das entrevistadas de forma
minuciosa e merece destaque para situação:
Por isso, essa Lei (nº 11.340) pode ser considerada um avanço não apenas no
campo judicial, mas para toda sociedade civil, na medida em que busca mecanismos
legais para o enfrentamento da violência contra a mulher.
Objetivando analisar os fatores externos nas causas dessas violências como,
por exemplo, o consumo de bebidas alcoólicas, demonstrado na fala do sujeito B,
torna-se importante ressaltar que a violência, constitui como um fenômeno socio
cultural, ou seja, vivemos em uma sociedade machista, sexista e misógina que
normalizam a violência. No entanto, existem fatores que podem agravar a situação,
como por exemplo, o uso abusivo de álcool e outras drogas e devem também ser
levados em consideração por esses profissionais.
Segundo as entrevistadas, as mulheres usuárias do CAPS Ana Nery, são em
sua maioria de classe social baixa, muitas convivem com o desemprego, baixa
escolaridade, fome entre outros fatores que podem agravar o transtorno mental e,
portanto, em razão dessas péssimas condições em que vivem, as necessidades de
atenção aumentam.
Dessa forma, ao compreender a violência como um fenômeno que pode
trazer sérios riscos na saúde física e mental da vítima, percebe-se a importância dos
profissionais na intervenção para minimizar ou até mesmo solucionar as múltiplas
causas desse problema, sobretudo adquirindo uma postura ativa para proteger
essas mulheres, desde as formas de acolhimento através da escuta até a realização
da notificação compulsória.
De acordo com a portaria nº 1.271, de 6 de junho de 2014 (BRASIL, 2014)
torna-se obrigatoriamente a notificação pelos profissionais da saúde nas situações
de doenças consideradas graves e eventos de saúde pública em todo território
brasileiro, tanto nos serviços de saúde público como nos serviços de saúde privado.
Assim, estabelece através da Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003 (BRASIL,
2003) notificação compulsória, nos casos de violência contra a mulher que for
atendida em qualquer dos serviços de saúde.
Diante disso, perguntamos: Como o CAPS Ana Nery contribui/ajuda as
mulheres em situação de violência que procuram a instituição? Os discursos a
seguir demonstram em comum os instrumentos de trabalho que todos da equipe
utilizam, são eles: procedimentos da escuta, do acolhimento individual, das oficinas
terapêuticas realizadas na instituição, como podem ser observados nas falas a
seguir:
85
sabe desse retorno, a gente faz relatório social, contando tudo aquilo
que foi feito, que foi providenciado, que foi usado, utilizado. (Sujeito
C)
Percebemos nos discursos acima que cada profissional tem suas funções na
instituição, entretanto, tentam na maioria das vezes, trabalharem juntos, fazendo
articulações com outros profissionais em prós de um melhor tratamento para o caso.
No entanto, chamo atenção para fala do sujeito B, quando relata que muitas dessas
mulheres não falam no primeiro momento da violência sofrida, mas que através da
linguagem gestual das próprias usuárias, esse profissional consegue na maioria das
vezes identificar a violência. Assim, mostra a importância dos profissionais estarem
atentos a esses sinais que muitas vezes podem passar despercebidos.
Todavia, os preconceitos e tabus em torno da violência contra a mulher, bem
como o estigma por ter desenvolvido algum transtorno psíquico levam a muitas
dessas mulheres ao isolamento social, podendo até gerar em algumas situações, o
sentimento de culpa.
Dessa forma, os preconceitos em que sustenta as freqüências dessas
violências podem impedir que as vítimas denunciem o autor da agressão ou que
procurem ajuda, seja pela família ou por alguma instituição pública ou privada. Fatos
como esses, acabam contribuindo ainda mais no agravamento da situação e
podendo até aumentar a dependência dessa mulher para com o agressor.
Diante da situação do qual se encontra, as mulheres estigmatizadas na
maioria das vezes tornam-se mais vulneráveis socialmente, apresentando em seu
cotidiano baixo – estima, medo e vergonha de tornar público sua intimidade, além de
internalizarem o sentimento de culpa. Assim percebemos que ainda nos dias atuais,
a dimensão cultural do machismo, se encontra fortemente presente nas relações de
gêneros, podendo ser observados, sobretudo nas situações de violência contra
mulher.
Nos casos em que tal violência ocasiona em transtornos mentais constantes e
persistentes, essas mulheres acabam na maioria das vezes procurando ajuda
apenas para reversão dos sintomas, com o objetivo de diminuir o sofrimento
psíquico. Entretanto, as causas do desenvolvimento desses transtornos muitas
91
vezes não são expostas ou relatadas pelas usuárias, seja por não consegui
identificar essas causas, seja por medo ou vergonha. Com isso, podemos perceber
que os preconceitos e tabus entorno da violência podem prejudicar no tratamento
desses casos. Sendo que o sofrimento psíquico pode levar também a estigmas, e,
portanto as deixando mais excluídas socialmente. Ou seja, a vítima de violência que
esta em tratamento psíquico, pode vir a sofrer duplamente discriminação pelos
preconceitos da violência e do transtorno mental.
Nesse contexto, podemos analisar de uma forma geral através dos discursos
a segui que os preconceitos e tabus que envolvem o adoecer mental em nosso meio
social, acabam causando impactos nos atendimentos apresentadas no CAPS Ana
Nery.
Como podemos observar nas falas a segui diante da pergunta: Em sua
opinião, os preconceitos e tabus que envolvem a violência contra a mulher em nosso
meio tem tido algum impacto no atendimento ofertado pelo CAPS Ana Nery? As
entrevistadas responderam:
Podemos observar através das falas acima que nos atendimentos realizados
no CAPS Ana Nery os preconceitos se encontram, sobretudo, na resistência das
pessoas em procurar esses tipos de serviços. Contudo, fragmentando esses
atendimentos especificamente para as usuárias vítimas de violência, torna-se válido
destacar que o CAPS por ser uma instituição que atende exclusivamente usuários
com problemas psíquicos, os fatores como a violência, acaba muitas vezes não
sendo levados em considerações pelos usuários ou pelos profissionais de forma
imediata, no entanto, esses fatores podem ser observados no decorrer do
tratamento.
Tendo em vista, que os preconceitos e tabus que ainda se sustenta nos
diversos tipos de violência contra a mulher, pode causar nas vítimas isolamento
social, depressão, síndrome do pânico entre outros, e portanto sendo considerado
como fenômeno que pode atingir diretamente a saúde mental, necessitam,
principalmente pelo setor público um olhar mais cauteloso para essas questões
entorno da saúde mental das mulheres vítimas de violência.
Muitas mulheres que sofrem a violência acabam na maioria das vezes sendo
vítimas de descuido, ou seja, quando elas não obtêm respostas de seus problemas,
quando não sabem lidar com suas angustias e anseios e também por não saberem
o momento e a quem deve procurar ajuda, e tudo isso pode causar sofrimento,
desgastes físicos e mentais para essas mulheres. (OLIVEIRA et. al., 2011)
Diante disso, foi questionado para entrevistadas dessa pesquisa, se existe em
exercício ou em andamento no CAPS Ana Nery, algum projeto que trabalhe com a
questão da violência contra a mulher. Entretanto, todas afirmaram, que na instituição
não tem nenhum grupo especifico direcionado a essa questão, mas que através das
oficinas terapêuticas, elas procuram levantarem esses assuntos para debates
incluindo todos os usuários.
93
Fazer com que esse tema apareça mais vezes nos grupos das
oficinas terapêuticas, trazendo informações e disponibilizando
espaços de escuta. Pareceria mais sólida com o CREAS e outras
instituições que apoiam e faça garantir os direitos das vítimas da
violência. (Sujeito A)
CONSIDERAÇOES FINAIS
violência. Portanto é um problema de saúde pública que precisa ser analisado com
maior precisão por todos os setores.
Dessa forma, conhecer a dimensão da violência contra a mulher, dentre as
circunstancias do local onde acontece , seja em casa, na rua, no trabalho, bem
como por quem esta sendo praticados (marido/companheiro, pai, irmão, tio), os tipos
de violência (física, sexual, psicológica, moral) entre outros fatores, tornam-se
fundamentais para que se possam construir políticas públicas para o enfrentamento
desta violência.
Pela perspectiva das questões de gênero o desdobramento em torno da
violência contra a mulher, se dá, sobretudo, em levar essas discussões nos espaços
das escolas, das universidades, no campo da saúde, da assistência e judiciais.
Assim, tornando - se preciso pensar em novas formas de empoderamentos para as
mulheres como forma de construir uma sociedade mais democrática com mais
igualdade, e respeito para nós mulheres.
Em suma, diante das discussões levantadas neste trabalho, bem como toda
complexidade de fatores que o tema: violência contra a mulher e saúde mental
aborda, é importante destacar que as reflexões aqui apontadas precisam ser mais
suscitadas e debatidas para que os problemas da questão sejam pelo menos
superados. Diante disso, esse trabalho torna-se relevante não apenas para trazer à
público sobre essas questões, mas, sobretudo, para buscar medidas e soluções
para tais problemas.
98
Referências
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
SCOTT, Joan Wallach. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação &
Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2,jul./dez. 1995
SILVA, René Marc Costa; ZANELLO, Valeska. Saude Mental, Gênero e Violência
Estrutural. Rev. Bioét (impr.) 2012; 20 (2): 267- 79
APÊNDICE A – Questionário
Parte I (Identificação)
Nome:
Idade:
Naturalidade:
Raça/Cor:
Sexo:
Estado Civil:
Escolaridade:
Profissão:
Parte II (Entrevista)
1. Como você define as mulheres que procuram o CAPS Ana Nery? Quem são
elas e o que elas necessitam?
4. Você acredita que exista alguma relação da violência com o adoecer mental
das usuárias do CAPS Ana Nery?
5. De que forma e com que você acha que este CAPS contribui/ajuda as
mulheres em situação de violência que procuram essa instituição?
8. O que você acha que o CAPS Ana Nery oferece de melhor para o tratamento
dessas mulheres?
10. Como você define o trabalho deste CAPS nos casos da violência contra a
mulher? Você acredita que a equipe do Caps Ana Nery está suficientemente
preparada para atender os casos que envolvem violência contra a mulher e
suas especificidades?
12. Existe algum projeto em exercício ou em andamento no CAPS Ana Nery que
trabalhe com as mulheres vitimas da violência?
Após ter lido e discutido com a pesquisadora os termos contidos neste Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, concordo em participar da pesquisa. A minha
participação é formalizada por meio da assinatura deste termo em duas vias, sendo
uma retida por mim e a outra pela pesquisadora.
Cachoeira, ____/____/20_____.
Participante - Assinatura: ______________________________________
Nome completo: _____________________________________________
Pesquisador - Assinatura: ______________________________________
Nome completo: ______________________________________________