pré natal com o pai
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pré natal com o pai
2021, v26:e75169
ARTIGO ORIGINAL
RESUMO
Objetivo: identificar a prevalência e fatores associados à participação do companheiro da gestante
no pré-natal.
Método: estudo transversal realizado entre março e julho de 2018 por meio de entrevista com
655 puérperas de uma regional do Nordeste brasileiro. Estimou-se associações com uso do Qui-
quadrado e Razão de Prevalência.
Resultados: dentre mulheres com companheiro e que realizaram pré-natal (85,6%; n= 561),
a participação do parceiro foi de (44,2%; n=248), sendo maior entre aquelas que planejaram a
gravidez (RP: 1,25; IC 95%: 1,07-2,10), desejaram engravidar (RP: 1,22; IC 95%: 1,01-1,98), iniciaram
precocemente o acompanhamento (RP: 1,31; IC 95%: 1,01-2,46) e realizaram seis ou mais consultas
(RP: 1,49; IC 95%: 1,32-1,81). Houve menor participação entre mulheres com baixa escolaridade
(RP: 0,72; IC 95%: 0,39-0,77) e que utilizaram serviço público (RP: 0,65; IC 95%: 0,24-0,85).
Conclusão: a baixa prevalência de participação do companheiro da gestante no pré-natal evidencia
a necessidade de maior estímulo à sua inclusão neste processo.
DESCRITORES: Gravidez; Cuidado Pré-Natal; Paternidade; Saúde do Homem; Saúde Pública.
INTRODUÇÃO
MÉTODO
A população elegível ao estudo era composta por 1.250 mulheres com base na
estimativa anual de partos disponibilizada pela direção da instituição. A partir disso foi
feito cálculo amostral usando a fórmula de Barbetta (2014), sendo considerado um nível de
confiança de 97% e de erro amostral de 3%(11). Acrescentou-se uma margem de segurança
de 10% no número calculado, resultando em 655 puérperas.
As participantes foram selecionadas por amostragem aleatória simples, a partir de uma
listagem de internação diária, sendo consideradas elegíveis todas as mulheres que tiveram
parto de feto vivo de qualquer peso ou idade gestacional. Não foram incluídas mulheres
que não falassem e/ou compreendessem o idioma português e/ou que apresentassem
transtornos mentais graves.
Para a coleta dos dados, foram aplicados questionários durante entrevistas com as
puérperas, respeitando-se um intervalo mínimo de seis horas após o parto. O questionário
abordava questões sociodemográficas maternas, relacionadas à gravidez e ao pré-natal da
mulher e do parceiro.
Destaca-se que foram estimadas associações entre variáveis sociodemográficas
maternas (faixa etária, raça, zona de moradia, escolaridade e trabalho remunerado),
relacionadas à gravidez (planejamento reprodutivo, sentimento quanto à gravidez e
percepção do tempo da gestação) e ao pré-natal (trimestre de início, número de consultas,
acompanhamento pelo mesmo profissional e tipo de serviço) com a participação do
parceiro das gestantes nestas consultas.
A análise estatística foi realizada no IBM® SPSS 20.0 Mac. Utilizou-se as técnicas uni
e bivariada para obtenção da distribuição dos valores das frequências absoluta e relativa/
proporcional. As associações foram estimadas por meio do teste Qui-quadrado entre
variáveis categóricas, com uso da Razão de Prevalência como medida de associação e
seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%). Em todos os casos foi adotada
significância de 5%.
Este estudo está vinculado ao Projeto Nascer em Lagarto, SE: Inquérito Municipal
sobre Parto e Nascimento, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Sergipe, sob parecer nº 2.553.774. Os pesquisadores seguiram as diretrizes e
normas regulamentadoras preconizadas na Resolução Nº 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde sobre as pesquisas envolvendo seres humanos(12).
RESULTADOS
DISCUSSÃO
No presente estudo, foi evidenciado que 44,2% das mulheres entrevistadas tiveram a
participação do companheiro nas consultas de pré-natal, com somente 14,6% participando
de fato em todas as consultas. Esse resultado se diferencia do achado de uma pesquisa de
nível nacional feita pelo Ministério da Saúde entre 2017/2018 com 37.322 homens, na qual
72,2% dos participantes referiram ter acompanhado suas companheiras nas consultas de
pré-natal(14). Ademais, em contexto internacional, um estudo realizado com 5.333 mulheres
na Inglaterra mostrou que mais de 80% dos parceiros acompanharam a gestação, parto e
puerpério de suas esposas(8).
No Sergipe, um dos principais motivos relatados pelos pais para não comparecerem
às Unidades Básicas de Saúde (UBS) foi a necessidade de trabalhar (76%)(15), resultado
semelhante ao encontrado em outros estudos(16-17). Ressalta-se que a Lei nº 13.257/2016
dá o direito ao trabalhador de se ausentar do serviço por até dois dias para acompanhar
consultas e exames complementares, sem prejuízo salarial(18).
Todavia, mesmo amparados por lei, muitos trabalhadores têm receio de faltar no
serviço por razões de saúde, fato que, somado à pouca resolutividade dos serviços e/ou
ao longo tempo de espera para atendimentos, dificultam a ida dos homens aos serviços de
saúde da atenção básica e/ou especializada do país(6).
Ademais, quando os companheiros se fazem presentes, em muitos casos, não são
realizadas atividades que os incluam, fazendo com que o homem não se sinta convidado
para o pré-natal(5-6). É evidente que a maioria dos pré-natalistas ainda estão focando suas
orientações exclusivamente na gestante (69,1%), o que mostra também uma invisibilidade
do pai, mesmo quando este se faz presente no serviço de saúde(5-6,15).
Reforça-se que o Ministério da Saúde preconiza a oferta de algumas atividades
preventivas e diagnósticas para os companheiros das gestantes durante o pré-natal. Dentre
elas, cita-se a solicitação de testes rápidos, HIV, Sífilis e Hepatites; aconselhamentos e
exames de rotina, e atualização do cartão de vacina(3), além da participação em atividades
educativas para estimular os pais a participarem ativamente do cuidado com o filho(19).
Foi também identificado um perfil característico de mulheres e da assistência pré-
natal que melhor favorecem o envolvimento do parceiro no acompanhamento gestacional:
mulheres que desejaram ou planejaram a gravidez e/ou que iniciaram precocemente o
acompanhamento pré-natal e/ou que realizaram seis ou mais consultas e/ou mulheres com
maior escolaridade e/ou que utilizaram o serviço privado.
Autores apresentam a escolaridade como fator importante na utilização dos serviços
de saúde pelas camadas da população menos favorecidas(2). Quando o nível de escolaridade
do casal é mais elevado, há uma maior adesão por parte da mulher ao pré-natal, e a
participação do homem durante o ciclo gravídico comumente é mais ativa(17).
Além disso, outro estudo encontrou que o envolvimento paterno é maior entre
mulheres autodeclaradas brancas/amarelas(8). Isso pode ser explicado, inclusive, por um
possível racismo institucional na saúde, uma vez que mulheres pardas/negras têm menor
acesso aos serviços de qualidade, à atenção ginecológica e obstétrica(20).
A limitação deste estudo está relacionada à obtenção dos dados exclusivamente a
partir do relato das puérperas entrevistadas, sem a obtenção dos dados diretamente com
os parceiros das gestantes nas consultas de pré-natal.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Autor Correspondente:
José Marcos de Jesus Santos
Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto, SP, Brasil
E-mail: jsmarcos@usp.br
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