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Embora o anonimato seja uma característica central das democracias liberais-não apenas no voto secreto, mas também no financiamento de campanhas, publicação de textos políticos, protestos mascarados e pichações-até agora não foi... more
Embora o anonimato seja uma característica central das democracias liberais-não apenas no voto secreto, mas também no financiamento de campanhas, publicação de textos políticos, protestos mascarados e pichações-até agora não foi conceitualmente fundamentado na teoria democrática. Ao invés disso, é tratado como um conceito autoexplicativo relacionado à privacidade. Para superar essa omissão, este artigo desenvolve uma compreensão complexa do anonimato no contexto da teoria democrática. Com base na literatura diversa sobre o anonimato na participação política, explica o anonimato como uma performance de identidade altamente dependente do contexto que expressa sentimentos privados na esfera pública. O caráter contraditório de seus elementos centrais-negação e criação de identidade-resulta em três conjuntos de liberdades contraditórias. O anonimato permite (a) inclusão e exclusão, (b) subversão e submissão e (c) honestidade e enganação. Este caráter contraditório das affordances do anonimato ilustra o papel ambíguo do anonimato na democracia.
A sabedoria convencional vê Hong Kong como um troféu dos Tratados Desiguais impostos à China da dinastia Ching, um dano retificado em 1997, quando a colonizadora Grã-Bretanha a retornou ao país de origem. Os atuais protestos em Hong Kong... more
A sabedoria convencional vê Hong Kong como um troféu dos Tratados Desiguais impostos à China da dinastia Ching, um dano retificado em 1997, quando a colonizadora Grã-Bretanha a retornou ao país de origem. Os atuais protestos em Hong Kong são sim o último desenvolvimento de uma manifestação alternativa anti-Império dos fluxos e trocas globais, como foi articulado no livro Multidão, de Michael Hardt e Antonio Negri. A ironia está que, na visão dos protestantes de Hong Kong, o Império contra o qual se revoltam não é o já murcho Império Britânico, tampouco o neoliberalismo do Ocidente. Ao contrário, trata-se do império autoritário promovido pelo Sonho Chinês do atual regime cínico. Longe de rejeitar o capitalismo global, os manifestantes estão tentando restaurar e reclamar o que se deteriorou de forma contínua na Região Administrativa Especial de Hong Kong nas décadas decorridas após 1997. Os protestantes veem a China de Xi Jinping como seu novo colonizador, tomando o lugar dos ingleses. "Hong Kong não é China" como é usualmente gritado em coro e grifado nos "Muros de Lennon", que se proliferaram em praticamente todo distrito. Esse movimento sem líderes, impulsionado pelas mídias sociais, recuperou um slogan de campanha de 2016 feito por Edward Leung, um brilhante estudante de filosofia e política da Universidade de Hong Kong, agora servindo seis anos por "amotinação" durante a revolução de Mong Kok, quando foi detido pela polícia

Daniel C. Tsang é um pesquisador Fullbright que recentemente investiga a documentação de materiais de protesto. Nascido em Hong Kong, é um escritor freelance, ativista, bibliotecário emérito e apresentador de rádio tornado podcaster. Em fevereiro de 2003, no seu KUCI Subversity Show, ele entrevistou (com Stefano Sensi) o filósofo Michael Hardt sobre seu livro Império, escrito junto com Antonio Negri. Seu último trabalho freelance apareceu na página Hong Kong Free Press. Ele também publica ocasionalmente no site Subversities.blogspot.com.
O Bem Viver implica em um conjunto de realidades, experiências, práticas e valores marginalizados pela história oficial. "É essa busca da vida em harmonia do ser humano consigo mesmo, com seus congêneres e com a natureza, entendendo por... more
O Bem Viver implica em um conjunto de realidades, experiências, práticas e valores marginalizados pela história oficial. "É essa busca da vida em harmonia do ser humano consigo mesmo, com seus congêneres e com a natureza, entendendo por sua vez que todos somos natureza, que somos interdependentes uns dos outros e que existimos a partir do outro" (ACOSTA, 2018). Implica reconstruir a vida a partir da reconstrução do que nos é comum. Um esquema onde o individual e coletivo coexistem em harmonia, permitindo produzir e reproduzir o territória e a vida que o habita. Esta visão supera uma relação antropocêntrica, que busca dominar e subjazer a natureza sem perceber que, no processo, subjaz e domina a si mesmo; assim se propõe uma visão sócio-biocêntrica, onde a natureza emerge como sujeito de direitos. Uma visão que, por sua vez, é incompatível com a afirmação das novas formas de extrativismo extremo que caracterizam nosso século. Uma nova fase no modelo de extração que exacerba os processos de despojo da terra e da vida, um abarcamento que implica a expansão das fronteiras extrativas nos territórios e nos corpos de quem os habita e produz de forma cotidiana. Da institucionalização do Bem Viver à renovação das estratégias de despojo: extração e energias extremas no Equador. A incorporação do conceito de Bem Viver na constituição do Equador, em 2008, significou uma vitória do movimento indígena e ecologista. Um feito sem precedentes que implicou por sua vez o reconhecimento da natureza como sujeito de direitos, gerando as bases normativas para impulsar uma transição até um novo modelo mais equilibrado de sociedade, gradualmente construindo em seu seio comunidades políticas mais justas e equitativas. 166 Professora da Pontíficia Universidade de Quito/Equador. 167 Mestrando em Comunicação e Cultura pela UFRJ.
Adoção transnacional e gestação por substituição explicitam as relações entre guerra, conflito, violência estrutural e crise e, por outro lado, mudanças globais na organização e governança da reprodução. Nesta curta intervenção, ofereço... more
Adoção transnacional e gestação por substituição explicitam as relações entre guerra, conflito, violência estrutural e crise e, por outro lado, mudanças globais na organização e governança da reprodução. Nesta curta intervenção, ofereço algumas reflexões sobre a interrelacionalidade entre vitalidade e morte, viver e morrer, e o elo entre biopolítica e necropolítica, na medida que são evidenciados através de uma análise dessas práticas de constituição familiar. Mais especificamente, procuro reinscrever o movimento, circulação e troca de pessoas, substâncias e capacidades corporais inerentes na adoção transnacional e contratos de gestação por substituição dentro de lógicas de múltiplas genealogias de guerra, violência, extração e expropriação, como têm se manifestado nas fronteiras globalizadas entre Guatemala e México. Demógrafos e outros cientistas sociais têm documentado um considerável declínio nas adoções transnacionais globalmente e o paralelo aumento transnacional de programas de gestação de substituição no final no século XX e começo do século XXI (Scherman at al. 2015, Selman, 2006, 2012). Rotabi percebe que "houve um pico mundial de 45,000 adoções em 2004, mas diminui em mais de 70% (Selman, 2015). Concomitantemente, existiu um aumento na maternidade de substituição global e comercial como um método de criar famílias (Rotabi et al. 2017:64). Contra um contexto marcado por mudanças rápidas e cada vez mais complexas em sistemas de "reprodução estratificada" (Rapp, Ginsburg 1995, Pande 2014, Twine 2011), análises situadas na conjuntura e teorizações do caráter intimamente interrelacional dessas dinâmicas parecem fundamentais se nós queremos entender como indivíduos e comunidades são diferencialmente afetadas por formas profundas de precariedade e despossessão. Circuitos de adoção transnacional progressivamente intensificaram no curso do século XX (Marre, Briggs 2009). O deslocamento de crianças empobrecidas através das 1 Docente sênior na Universidade de Birkbeck.