Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
Skip to main content
Nesse livro encontramos o percurso sensível de um pesquisador para compreender os sentidos de uma estratégia comunicativa e política bastante significativa, porém enigmática: o uso de máscaras para cobrir o rosto. O autor nos oferece uma... more
Nesse livro encontramos o percurso sensível de um pesquisador para compreender os sentidos de uma estratégia comunicativa e política bastante significativa, porém enigmática: o uso de máscaras para cobrir o rosto. O autor nos oferece uma instigante viagem pelas ambivalências da balaclava entre as formas de luta e as máscaras do poder, sobretudo no contexto pandêmico da Covid-19, quando a polêmica da obrigação de uso máscaras sanitárias gerou muita confusão no campo social-político.

Seu trabalho investigativo indaga sobre o lugar da máscara no vínculo social, passando por modos de individuação/ coletivização, como símbolo de resistência política, seja pelos usos insurgentes ou revolucionários da ocultação do rosto a usos reacionários, por meio de uma pesquisa interdisciplinar entre a filosofia política, os estudos sociológicos, antropológicos e comunicacionais.
Lavraé um documentário híbrido que tanto mapeia os diferentes danos da atividade mineradora em Minas Gerais quanto narra o processo de luto de uma personagem fictícia frente a morte de um rio. Instigado pela... more
Lavraé  um  documentário  híbrido  que  tanto  mapeia  os  diferentes  danos  da  atividade mineradora  em  Minas  Gerais  quanto  narra  o  processo  de  luto  de  uma  personagem  fictícia frente a morte de um rio. Instigado pela ruptura da Barragem do Fundão em novembro de 2015, olonga-metragem executa uma cartografia “psicoterrática” da catástrofe, descrevendo transformações no território ocupado pelo extrativismo a partir dos impactos ambientais e das mudanças no próprio relevo da região, mas também a partir dos desejos e das subjetividades das  pessoas  que  ali  habitam.  Buscando  tecer  um  quadro  conceitual  entre  ecologia  crítica  e psicanálise a fim de melhor descrever como desastres ambientais nos afetam no âmbito da subjetividade política, este artigo analisa como Lavraelabora o sofrimento em sua narrativa, performando um luto ecológico em que a categoria de atingido é constantemente revisada e ampliada  para  abarcar  a  própria  narradora,  que  se  vê  engajada  com  as  comunidades  e paisagens que visita
Democracia em Disputa é uma exposição fotográfica e itinerante sobre as diferentes guinadas e atravessamentos que marcaram a história da democracia no Brasil nas últimas sete décadas. Quando lidas em seu conjunto, as fotos traduzem a tese... more
Democracia em Disputa é uma exposição fotográfica e itinerante sobre as diferentes guinadas e atravessamentos que marcaram a história da democracia no Brasil nas últimas sete décadas. Quando lidas em seu conjunto, as fotos traduzem a tese de Leonardo Avritzer (2018) de um “movimento pendular da democracia brasileira”, isto é, a ideia de uma oscilação entre períodos de regressão e expansão democrática. As imagens refletem o papel da polarização na crise atual da democracia brasileira.
A palavra epidemia se relaciona ao prefixo grego epi (sobre/acima) e demos (povo), referindo-se, portanto, a algo tido como acima ou que incide sobre as populações: manifestações contagiosas que ocorrem de modo coletivo. Como a própria... more
A palavra epidemia se relaciona ao prefixo grego epi (sobre/acima) e demos (povo), referindo-se, portanto, a algo tido como acima ou que incide sobre as populações: manifestações contagiosas que ocorrem de modo coletivo. Como a própria etimologia sugere, surtos de doenças são indissociáveis dos povos que afligem, servindo para se pensar tanto sua sujeição ao poder quanto as condições de possibilidade de seu aparecimento. A partir da análise de imagens de arquivo de duas das principais crises sanitárias ocorridas durante o Império e Primeira República-a febre amarela e a gripe espanhola-discorremos sobre o conceito de biopolítica, destacando suas nuances dentro de um contexto do Sul Global e, argumentamos que, mesmo frente ao sofrimento provocado, fotografias ainda nos oferecem mecanismos de nomear injustiças e se opor a enquadramentos higienistas.
O objetivo deste texto é elaborar uma análise das imagens de capa do jornal Hormigón Armado, parcialmente produzido e escrito por jovens engraxates de La Paz, Bolívia. Os lustrabotas, como são conhecidos pelos locais, são trabalhadores de... more
O objetivo deste texto é elaborar uma análise das imagens de capa do jornal Hormigón Armado, parcialmente produzido e escrito por jovens engraxates de La Paz, Bolívia. Os lustrabotas, como são conhecidos pelos locais, são trabalhadores de rua caracterizados por usarem máscaras durante suas jornadas de trabalho, escondendo suas faces e construindo um anonimato coletivo. Considerando as vulnerabilidades que marcam as experiências desses jovens, podemos identificar o trabalho de engraxate não só como considerado indignificante, como também definidor de modos de vida que não importam. Como resposta a essa estratificação social, a máscara denuncia a discriminação sofrida e oferece proteção à identidade pessoal de cada lustrabota. No entanto, esse gesto também proporciona um isolamento desses sujeitos em relação à própria cidade. Em suas fotografias, podemos identificar uma profanação desse dispositivo (AGAMBEN, 2007), o que pode levar a um processo de subjetivação política (RANCIÈRE, 199...
Este discute o campo de pesquisa emergente das pós-humanidades críticas. Utilizando como fio condutor o pensamento da filósofa Rosi Braidotti, exploramos através do conceito da condição pós-humana – entendida como a convergência do... more
Este discute o campo de pesquisa emergente das pós-humanidades críticas. Utilizando como fio condutor o pensamento da filósofa Rosi Braidotti, exploramos através do conceito da condição pós-humana – entendida como a convergência do pós-humanismo e pós-antropocentrismo – os principais temas levantados e pensados pelas pós-humanidades críticas no contemporâneo. Discutimos a relação da condição pós-humana tanto com a aceleração da destruição ambiental quanto com a aceleração tecnológica do capitalismo biocognitivo. Por fim, exploramos o conceito de zoé como uma possibilidade de resistência afirmativa a partir da experimentação em tempos pós-humanos. Buscamos mostrar como esta área de investigação tem a contribuir para os dilemas de um contemporâneo em mutação.
Democracia em Disputa é uma exposição fotográfica e itinerante sobre as diferentes guinadas e atravessamentos que marcaram a história da democracia no Brasil nas últimas sete décadas. Quando lidas em seu conjunto, as fotos traduzem a tese... more
Democracia em Disputa é uma exposição fotográfica e itinerante sobre as diferentes guinadas e atravessamentos que marcaram a história da democracia no Brasil nas últimas sete décadas. Quando lidas em seu conjunto, as fotos traduzem a tese de Leonardo Avritzer (2018) de um “movimento pendular da democracia brasileira”, isto é, a ideia de uma oscilação entre períodos de regressão e expansão democrática. As imagens refletem o papel da polarização na crise atual da democracia brasileira.
Para além de danos materiais e perdas de vidas humanas e não humanas, desastres como as rupturas de barragens de rejeitos em Mariana e em Brumadinho culminam em perdas abstratas e de difícil apreensão, relativas a sentimentos de apego por... more
Para além de danos materiais e perdas de vidas humanas e não humanas, desastres como as rupturas de barragens
de rejeitos em Mariana e em Brumadinho culminam em perdas abstratas e de difícil apreensão, relativas a sentimentos de
apego por coisas e/ou modos de vida que ainda não tinham sido discursivamente elaborados antes de desaparecerem.
Através das reflexões transdisciplinares sobre a entrada no chamado Antropoceno e da noção do luto ecológico, definido
como respostas afetivas a perdas experienciadas ou antecipadas no mundo natural, esse artigo apresenta uma possível
formulação teórica para a descrever e perceber esses danos intangíveis.
Muitas vezes no trabalho de pesquisa, seja acadêmico, documental/jornalístico ou artístico, nos deparamos com sujeitos reservados, que se recusam a se expor ao estudo. As ciências humanas em particular trabalham com identidades... more
Muitas vezes no trabalho de pesquisa, seja acadêmico, documental/jornalístico ou artístico, nos deparamos com sujeitos reservados, que se recusam a se expor ao estudo. As ciências humanas em particular trabalham com identidades escorregadiças, que não se permitem serem apreendidas com facilidade. O que fazer nesses casos? Devemos exigir desses sujeitos uma transparência absoluta? Devemos, tal qual nos interrogatórios policiais, buscar uma verdade a qualquer custo, independente dos danos e das violações que podemos causar aos suspeitos? Ou podemos tentar elaborar uma alternativa que não seja tão agressiva aos indivíduos ou grupos estudados? Essa reflexão me aparece frequentemente em meu próprio tema de estudo no mestrado: os engraxates de La Paz. Esses jovens trabalhadores de rua na capital boliviana diariamente tapam o rosto como forma de resistir a uma intensa estigmatização social. Esse mascaramento coletivo e cotidiano faz com que sejam socialmente definidos por um sigilo. A invisibilidade estratégica dos lustradores demanda um esforço original por parte do trabalho de pesquisa. Afinal, como compreender um grupo marcado não só por uma precariedade social e econômica, mas também identitária? Respondendo essa pergunta, esse artigo tenta refletir sobre possíveis metodologias que sejam capazes de apreender a opacidade particular do grupo estudado, mas sem culminar em qualquer forma de violência. Para isso, partimos do pensamento ético da filósofa Judith Butler. Primeiramente, apresentamos os engraxates de La Paz, contextualizando sobre sua condição precária e apresentando uma hipótese que explique o mascaramento do grupo baseado nas conclusões da pesquisa de Scarnecchia (2008). Em seguida, fazemos uma crítica a abordagem usada pelo documentário Brillo (2011), que busca construir uma identificação dos engraxates para um público maior através de seu desmacaramento. A partir da cena de fundação do sujeito em Butler, em que o sujeito não fundado em si mesmo implica em uma cognoscibilidade limitada e em uma
Pasamontañas é um tipo de gorro que cobre toda a cabeça, com exceção da faixa dos olhos e/ou a boca. A rigor, é apenas uma vestimenta utilizada em diferentes regiões montanhosas da América Latina, cuja única serventia é proteger do frio... more
Pasamontañas é um tipo de gorro que cobre toda a cabeça, com exceção da faixa dos olhos e/ou a boca. A rigor, é apenas uma vestimenta utilizada em diferentes regiões montanhosas da América Latina, cuja única serventia é proteger do frio ou do sol. Apesar de ser só uma peça de roupa comum, ela é utilizada por diferentes grupos para ocultar a identidade de seus membros. Aqui nos focamos em dois desses grupos: os zapatistas em Chiapas, México, e os lustrabotas de La Paz, Bolívia. Apesar da semelhança icônica, os dois casos de mascaramento coletivo são bem diferentes, cada um tendo suas idiossincrasias. Mesmo assim, acreditamos que pode ser pertinente observá-los lado a lado. Por mais que o contexto rural de Chiapas se distinga do cenário urbano em La Paz, para entender o que há de específico em certo regime é necessário estudá-lo frente outros regimes. Como coloca Hoffman (2015, p. 113): "Para identificar as características distintivas da cultura, política, sociedade e economia na América Latina, nós precisamos considerar à luz da cultura, política, sociedade e economia de outro lugares". Desta forma, ainda que hajam nìtidas diferenças entre a selva lacandona e as ruas pacenhas, uma abordagem comparativa pode contribuir para destacar o que há de particular em cada uso do pasamontañas, ao mesmo tempo que permite enxergar padrões e similaridades que ultrapassam questões estritamente locais. Além de usarem os mesmos pasamontañas, o mascaramento coletivo de ambos envolve indígenas pobres-trabalhadores de rua aymaras na Bolívia e campesinos de 120 A versão original desse texto foi inicialmente enviada para publicação como um capítulo no livro
O objetivo deste texto é elaborar uma análise das imagens de capa do jornal Hormigón Armado, parcialmente produzido e escrito por jovens engraxates de La Paz, Bolívia. Os lustrabotas, como são conhecidos pelos locais, são trabalhadores de... more
O objetivo deste texto é elaborar uma análise das imagens de capa do jornal Hormigón Armado, parcialmente produzido e escrito por jovens engraxates de La Paz, Bolívia. Os lustrabotas, como são conhecidos pelos locais, são trabalhadores de rua caracterizados por usarem máscaras durante suas jornadas de trabalho, escondendo suas faces e construindo um anonimato coletivo. Considerando as vulnerabilidades que marcam as experiências desses jovens, podemos identificar o trabalho de engraxate não só como considerado indignificante, como também definidor de modos de vida que não importam. Como resposta a essa estratificação social, a máscara denuncia a discriminação sofrida e oferece proteção à identidade pessoal de cada lustrabota. No entanto, esse gesto também proporciona um isolamento desses sujeitos em relação à própria cidade. Em suas fotografias, podemos identificar uma profanação desse dispositivo (AGAMBEN, 2007), o que pode levar a um processo de subjetivação política (RANCIÈRE, 1996).
Pasamontañas3 é um tipo de gorro que cobre toda a cabeça, com exceção da faixa dos olhos e/ou a boca. A rigor, é apenas uma vestimenta utilizada em diferentes regiões montanhosas da América Latina, cuja única serventia é proteger do frio... more
Pasamontañas3 é um tipo de gorro que cobre toda a cabeça,
com exceção da faixa dos olhos e/ou a boca. A rigor, é apenas uma
vestimenta utilizada em diferentes regiões montanhosas da
América Latina, cuja única serventia é proteger do frio ou do sol.
Apesar de ser só uma peça de roupa comum, ela é utilizada por
diferentes grupos para ocultar a identidade de seus membros. Aqui
nos focamos em dois desses grupos: os zapatistas em Chiapas,
México, e os lustrabotas de La Paz, Bolívia.
Capítulo do Livro: Teorias da comunicação: processos, desafios e limites / Luís Mauro Sá Martino, Angela Cristina Salgueiro Marques (Organizadores)
Research Interests:
Em seus Cursos de 1978-1979 sobre o nascimento da biopolítica, Michel Foucault estuda os argumentos filosóficos e as preocupações históricas que inspiraram o projeto político e econômico neoliberal. Ele observa que uma das principais... more
Em seus Cursos de 1978-1979 sobre o nascimento da biopolítica, Michel Foucault estuda os argumentos filosóficos e as preocupações históricas que inspiraram o projeto político e econômico neoliberal. Ele observa que uma das principais preocupações de seus idealizadores era conceber uma tecnologia de poder que, a sua própria maneira, serviria como alternativa aos regimes totalitários que marcaram a época. (COCCO, 2009). Apesar disso, décadas de hegemonia neoliberal não impediram a volta de uma subjetividade violenta e irracional, em muitos aspectos similar aos catastróficos fascismos dos anos 30. "O neoliberalismo produziu efeitos muito diferentes daqueles imaginados e visados por seus arquitetos" escreve Wendy Brown (2019, p. 26) em seu mais recente livro Nas Ruínas do Neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente, lançado em português pela editora Politeia. O título não só remete à sensação de decadência cada vez mais presente no imaginário popular, ele também sugere que estaríamos vivendo nas ruínas do republicanismo moderno, mas que o próprio neoliberalismo, teria arruinado a si próprio, produzindo um monstruoso filho bastardo encabeçado por figuras como Donald Trump e Jair Bolsonaro. "Por que o "destronamento da política" neoliberal saiu tão fragorosamente dos trilhos? O que ele deixou de considerar ou levar em conta, ou o que o envenenou por fora?" (BROWN, 2019, p. 102-103).
Embora o anonimato seja uma característica central das democracias liberais-não apenas no voto secreto, mas também no financiamento de campanhas, publicação de textos políticos, protestos mascarados e pichações-até agora não foi... more
Embora o anonimato seja uma característica central das democracias liberais-não apenas no voto secreto, mas também no financiamento de campanhas, publicação de textos políticos, protestos mascarados e pichações-até agora não foi conceitualmente fundamentado na teoria democrática. Ao invés disso, é tratado como um conceito autoexplicativo relacionado à privacidade. Para superar essa omissão, este artigo desenvolve uma compreensão complexa do anonimato no contexto da teoria democrática. Com base na literatura diversa sobre o anonimato na participação política, explica o anonimato como uma performance de identidade altamente dependente do contexto que expressa sentimentos privados na esfera pública. O caráter contraditório de seus elementos centrais-negação e criação de identidade-resulta em três conjuntos de liberdades contraditórias. O anonimato permite (a) inclusão e exclusão, (b) subversão e submissão e (c) honestidade e enganação. Este caráter contraditório das affordances do anonimato ilustra o papel ambíguo do anonimato na democracia.
A sabedoria convencional vê Hong Kong como um troféu dos Tratados Desiguais impostos à China da dinastia Ching, um dano retificado em 1997, quando a colonizadora Grã-Bretanha a retornou ao país de origem. Os atuais protestos em Hong Kong... more
A sabedoria convencional vê Hong Kong como um troféu dos Tratados Desiguais impostos à China da dinastia Ching, um dano retificado em 1997, quando a colonizadora Grã-Bretanha a retornou ao país de origem. Os atuais protestos em Hong Kong são sim o último desenvolvimento de uma manifestação alternativa anti-Império dos fluxos e trocas globais, como foi articulado no livro Multidão, de Michael Hardt e Antonio Negri. A ironia está que, na visão dos protestantes de Hong Kong, o Império contra o qual se revoltam não é o já murcho Império Britânico, tampouco o neoliberalismo do Ocidente. Ao contrário, trata-se do império autoritário promovido pelo Sonho Chinês do atual regime cínico. Longe de rejeitar o capitalismo global, os manifestantes estão tentando restaurar e reclamar o que se deteriorou de forma contínua na Região Administrativa Especial de Hong Kong nas décadas decorridas após 1997. Os protestantes veem a China de Xi Jinping como seu novo colonizador, tomando o lugar dos ingleses. "Hong Kong não é China" como é usualmente gritado em coro e grifado nos "Muros de Lennon", que se proliferaram em praticamente todo distrito. Esse movimento sem líderes, impulsionado pelas mídias sociais, recuperou um slogan de campanha de 2016 feito por Edward Leung, um brilhante estudante de filosofia e política da Universidade de Hong Kong, agora servindo seis anos por "amotinação" durante a revolução de Mong Kok, quando foi detido pela polícia

Daniel C. Tsang é um pesquisador Fullbright que recentemente investiga a documentação de materiais de protesto. Nascido em Hong Kong, é um escritor freelance, ativista, bibliotecário emérito e apresentador de rádio tornado podcaster. Em fevereiro de 2003, no seu KUCI Subversity Show, ele entrevistou (com Stefano Sensi) o filósofo Michael Hardt sobre seu livro Império, escrito junto com Antonio Negri. Seu último trabalho freelance apareceu na página Hong Kong Free Press. Ele também publica ocasionalmente no site Subversities.blogspot.com.
O Bem Viver implica em um conjunto de realidades, experiências, práticas e valores marginalizados pela história oficial. "É essa busca da vida em harmonia do ser humano consigo mesmo, com seus congêneres e com a natureza, entendendo por... more
O Bem Viver implica em um conjunto de realidades, experiências, práticas e valores marginalizados pela história oficial. "É essa busca da vida em harmonia do ser humano consigo mesmo, com seus congêneres e com a natureza, entendendo por sua vez que todos somos natureza, que somos interdependentes uns dos outros e que existimos a partir do outro" (ACOSTA, 2018). Implica reconstruir a vida a partir da reconstrução do que nos é comum. Um esquema onde o individual e coletivo coexistem em harmonia, permitindo produzir e reproduzir o territória e a vida que o habita. Esta visão supera uma relação antropocêntrica, que busca dominar e subjazer a natureza sem perceber que, no processo, subjaz e domina a si mesmo; assim se propõe uma visão sócio-biocêntrica, onde a natureza emerge como sujeito de direitos. Uma visão que, por sua vez, é incompatível com a afirmação das novas formas de extrativismo extremo que caracterizam nosso século. Uma nova fase no modelo de extração que exacerba os processos de despojo da terra e da vida, um abarcamento que implica a expansão das fronteiras extrativas nos territórios e nos corpos de quem os habita e produz de forma cotidiana. Da institucionalização do Bem Viver à renovação das estratégias de despojo: extração e energias extremas no Equador. A incorporação do conceito de Bem Viver na constituição do Equador, em 2008, significou uma vitória do movimento indígena e ecologista. Um feito sem precedentes que implicou por sua vez o reconhecimento da natureza como sujeito de direitos, gerando as bases normativas para impulsar uma transição até um novo modelo mais equilibrado de sociedade, gradualmente construindo em seu seio comunidades políticas mais justas e equitativas. 166 Professora da Pontíficia Universidade de Quito/Equador. 167 Mestrando em Comunicação e Cultura pela UFRJ.
Adoção transnacional e gestação por substituição explicitam as relações entre guerra, conflito, violência estrutural e crise e, por outro lado, mudanças globais na organização e governança da reprodução. Nesta curta intervenção, ofereço... more
Adoção transnacional e gestação por substituição explicitam as relações entre guerra, conflito, violência estrutural e crise e, por outro lado, mudanças globais na organização e governança da reprodução. Nesta curta intervenção, ofereço algumas reflexões sobre a interrelacionalidade entre vitalidade e morte, viver e morrer, e o elo entre biopolítica e necropolítica, na medida que são evidenciados através de uma análise dessas práticas de constituição familiar. Mais especificamente, procuro reinscrever o movimento, circulação e troca de pessoas, substâncias e capacidades corporais inerentes na adoção transnacional e contratos de gestação por substituição dentro de lógicas de múltiplas genealogias de guerra, violência, extração e expropriação, como têm se manifestado nas fronteiras globalizadas entre Guatemala e México. Demógrafos e outros cientistas sociais têm documentado um considerável declínio nas adoções transnacionais globalmente e o paralelo aumento transnacional de programas de gestação de substituição no final no século XX e começo do século XXI (Scherman at al. 2015, Selman, 2006, 2012). Rotabi percebe que "houve um pico mundial de 45,000 adoções em 2004, mas diminui em mais de 70% (Selman, 2015). Concomitantemente, existiu um aumento na maternidade de substituição global e comercial como um método de criar famílias (Rotabi et al. 2017:64). Contra um contexto marcado por mudanças rápidas e cada vez mais complexas em sistemas de "reprodução estratificada" (Rapp, Ginsburg 1995, Pande 2014, Twine 2011), análises situadas na conjuntura e teorizações do caráter intimamente interrelacional dessas dinâmicas parecem fundamentais se nós queremos entender como indivíduos e comunidades são diferencialmente afetadas por formas profundas de precariedade e despossessão. Circuitos de adoção transnacional progressivamente intensificaram no curso do século XX (Marre, Briggs 2009). O deslocamento de crianças empobrecidas através das 1 Docente sênior na Universidade de Birkbeck.
Artigo publicado na Revista Pauta, Revista do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais de Minas Gerais, em Abril e Maio de 2017.
Research Interests:
Mesurez les conséquences de la coulée de boue de déchets miniers dans le Rio Doce.
Apesar dos avanços recentes nas abordagens neurocognitivas, eles não foram capazes de responder as aporias sobre o rosto. O que não significa que esses trabalhos deixam de ser úteis. Leone e Edkins fizeram suas próprias interpretações... more
Apesar dos avanços recentes nas abordagens neurocognitivas, eles não foram capazes de responder as aporias sobre o rosto. O que não significa que esses trabalhos deixam de ser úteis. Leone e Edkins fizeram suas próprias interpretações sobre o rosto, dialogando os achados da biopsicologia com, respectivamente, semiótica e política. Frente a complexidade da comunicabilidade facial, ambos concordam com a necessidade de buscar orientação no pensamento filosófico. Assim, reunimos aqui três concepções filosóficas do rosto. Apesar das diferenças, todas os autores tratados concordam em uma coisa: o rosto extrapola o conjunto olhos, nariz, boca, testa, queixo, bochechas e sobrancelhas. Para além da face humana, ele é entendido como um conceito-metáfora para descrever a experiência comunicativa.
Esse artigo aborda o desenvolvimento dos modelos de imprensa em países socialistas, focando-se na influência soviética em Cuba após a Revolução de 1959, e na emergência das mídias alternativas com a chegada da internet na ilha. Na... more
Esse artigo aborda o desenvolvimento dos modelos de imprensa em países socialistas, focando-se na influência soviética em Cuba após a Revolução de 1959, e na emergência das mídias alternativas com a chegada da internet na ilha. Na primeira parte descrevem-se as concepções teóricas de Vladimir I. Lênin sobre os meios de produção simbólica, abordando tanto suas críticas à liberdade de imprensa burguesa quanto as propostas do revolucionário para o papel da mídia no socialismo. Em seguida, narramos a instauração em Cuba de um modelo de imprensa inspirado nos fundamentos teóricos leninistas e algumas de suas consequências. Logo depois, conceituamos as características mais gerais da mídia alternativa e, finalmente, fazemos uma breve exposição do cenário atual dos meios de comunicação em Cuba. Partimos da premissa de que o florescimento da mídia alternativa em Cuba estaria relacionado com as limitações do modelo estatal de imprensa e visam o exercício da cidadania comunicativa. Palavras-chave: modelo de imprensa soviético; socialismo, mídia alternativa, cidadania comunicativa, Cuba
O artigo aborda o desenvolvimento dos meios de comunicação em Cuba a partir de 1959. Descreve como a influência da teoria leninista sobre a imprensa configurou de um modelo midiático próximo do modelo soviético, que concebe a mídia como... more
O artigo aborda o desenvolvimento dos meios de comunicação em Cuba a partir de 1959. Descreve como a influência da teoria leninista sobre a imprensa configurou de um modelo midiático próximo do modelo soviético, que concebe a mídia como instrumentos para a propaganda político-partidária. Isso e o conflito histórico com os EUA, em parte, explica a hostilidade dos meios estatais aos veículos alternativos, tanto os que surgiram a partir do final da década de 1980 como os emergeram no ambiente virtual na década de 2000. O texto conclui que mídia alternativa espelha a diversidade e pluralismo da sociedade cubana, e que seu confronto com o modelo mediático estatal se insere no quadro da luta pela democratização da comunicação.
Resumo Em La Paz, Bolívia, jovens trabalhadores de rua descem toda manhã para os centros urbanos e passam o dia lustrando sapatos em troca de algumas moedas. Associados ao uso de drogas, ao alcoolismo e à delinquência, os engraxates são... more
Resumo Em La Paz, Bolívia, jovens trabalhadores de rua descem toda manhã para os centros urbanos e passam o dia lustrando sapatos em troca de algumas moedas. Associados ao uso de drogas, ao alcoolismo e à delinquência, os engraxates são vistos com maus olhos e, por isso, são vexados pela sociedade pacenha. Para enfrentar esse estigma, eles criaram uma tática singular: tapar seus rostos com máscaras balaclavas. Se ser identificado como engraxate significa ser condenado à degradação moral, então, para esses sujeitos, o melhor é nem ser identificado. Por isso se disfarçam. Usando de máscaras, pseudônimos e, às vezes, uma segunda muda de roupas, eles constroem para si um anonimato para resguardar suas vidas privadas da perseguição pública. Nesse contexto, e em diálogo com Rancière (2018), a balaclava pode ser entendida como uma tática de desidentificação, desvinculando a identidade cidadã do indivíduo com o estereótipo negativo atribuído à identidade de engraxate. Essa idiossincrasia cria algumas problemáticas para quem anseia conhecê-los, seja em um trabalho jornalístico, artístico-documental ou, como no nosso caso, acadêmico. Como reconhecer alguém não deseja ser reconhecido? Considerando que a reserva dos engraxates é legítima e nos orientando pelas reflexões de Butler (2015) sobre formas de reconhecimento violentas (violência ética), buscamos registros desses anônimos que respeitem seu anonimato. Neste trabalho, analisamos o exercício de reconhecimento ético (BUTLER, 2015) e subjetivação política (RANCIÈRE, 2018) desenvolvidos pelo ensaio fotográfico Héroes del Brillo (2015), feito pelo fotógrafo uruguaio Federico Estol em coautoria com os engraxates beneficiários do projeto Hormigón Armado. É comum que a ambição realista de muitos fotógrafos documentais, ao invés de expor a realidade em si, acabe construindo um retrato de como essa realidade é percebida hegemonicamente, o que, no caso dos engraxates de La Paz, culminaria apenas em reforços de seus estereótipos. Ao invés de mostrar os engraxates da maneira como eles são (vistos), Estol os mostra da maneira como eles querem ser percebidos, materializando assim uma 1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação da UFRJ).
O artigo propõe introduzir o caso dos engraxates de La Paz, trabalhadores de rua da capital boliviana que, devido a uma intensa estigmatização de seu ofício, se disfarçam vestindo máscaras enquanto trabalham. Primeiramente pretendemos... more
O artigo propõe introduzir o caso dos engraxates de La Paz, trabalhadores de rua da capital boliviana que, devido a uma intensa estigmatização de seu ofício, se disfarçam vestindo máscaras enquanto trabalham. Primeiramente pretendemos desenvolver possíveis hipóteses sociológicas que explicam como a chegada de uma mentalidade e de políticas neoliberais levaram a precarização da vida desses jovens, o que pode ter levado a responderem tapando o rosto. A partir de uma aposta na biopotência desses sujeitos e articulando com a noção de subjetivação política em Rancière, interpretamos o mascaramento como uma performance que questiona a realidade em que vivem. Como exemplo de obras que trabalham essa dimensão comunicativa da máscara, analisamos o ensaio fotográfico Héroes del Brillo , elaborado pelos próprios engraxates em coautoria com o fotógrafo Federico Estol. PALAVRAS-CHAVE: Trabalho de Rua ; Máscara ; Bolívia ; Culturas Urbanas ; Engraxate TEXTO DO TRABALHO Introdução Este artigo não pretende seguir um raciocínio muito fechado ou linear, sendo concebido mais como uma sequência de reflexões motivada pelo objeto de estudo em um mestrado em Comunicação e Cultura: os engraxates de La Paz. Esses jovens trabalhadores de rua na capital boliviana diariamente tapam o rosto como forma de 1 Trabalho apresentado no GP Comunicação e Culturas Urbanas, XIX Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do 42º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Autorizo a avaliação e possível seleção deste artigo para publicação no e-book a ser organizado pelo GP Comunicação e Culturas Urbanas 3 Jornalista e comunicólogo graduado pela UFMG, mestrando no Programa de Pós-Graduação da ECO-UFRJ,
Dentro da capital boliviana, La Paz, os engraxates da cidade, por se sentirem de tal maneira discriminados por sua ocupação, utilizam balaclavas cobrindo praticamente todo o rosto e exibindo somente os olhos e a boca a fim de esconder... more
Dentro da capital boliviana, La Paz, os engraxates da cidade, por se sentirem de tal maneira discriminados por sua ocupação, utilizam balaclavas cobrindo praticamente todo o rosto e exibindo somente os olhos e a boca a fim de esconder suas identidades. O ato de mascarar-se consiste na materialização de preconceitos e de relações de poder intersubjetivas típicas da atual forma do capitalismo. Tentando combater a discriminação, em 2005, surge o jornal Hormigón Armado, uma iniciativa que se dedica a publicar textos e imagens que retratam os engraxates. As imagens deste jornal reservam uma potencial contribuição para o processo de subjetivação do grupo por meio da fotografia, particularmente por meio da profanação da máscara, dialogando aqui com o conceito proposto por Giorgio Agamben.