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Copyright © 2019 by Conhecimento Livraria e Editora Impresso no Brasil | Printed in Brazil Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos ou via cópia xerográfica, sem autorização expressa e prévia da editora. Revisão: Igor Viana, Raquel Possolo e Thiago Carvalho Projeto gráfico e diagramação: Thiago Carvalho Capa Fotografia: Guilherme Alonso Capa Artista: Raphael Jacques (Alma Negrot) Conhecimento Livraria e Distribuidora Rua Guajajaras, 285 - Centro 30180-100 Belo Horizonte/MG Tel.: (31) 3273-2340 Vendas: comercial@conhecimentolivraria.com.br Editorial: conhecimentojuridica@gmail.com www.conhecimentolivraria.com.br 320.561 L655 2019 Levantes e a biopolítica / [organizado por] Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira...[et al.]. - Belo Horizonte: Conhecimento Livraria e Distribuidora, 2019. 210 p. ; 23 cm. (Série políticas da performatividade) ISBN da coleção “Políticas da performatividade”: 978-85-93869-40-2 ISBN do título: 973-85-93869-43-3 1. Teoria performativa. 2. Performatividade política. 3. Performatividade artística. 4. Constitucionalismo performativo. 5. Biopolítica. I. Oliveira, Marcelo Andrade Cattoni (Org.). II. Viana, Igor Campos (Org.). III. Gonçalves, Raquel Cristina Possolo (Org.). IV. Santos, Thiago César Carvalho dos (Org.). V. Série políticas da performatividade. VI. Colóquio do Grupo de Estudos em Políticas da Performatividade, 1 (UFMG, 12-14jun.2018). VII. Título. CDD(23.ed.)– 320.561 Elaborada por Fátima Falci – CRB/6-700 1 “Como negociar com quem não tem rosto?”: máscara, identidade e uso político do Pasamontañas na América Latina Caio Dayrell Santos1 Alexei Padilla Herrera2 Introdução Pasamontañas3 é um tipo de gorro que cobre toda a cabeça, com exceção da faixa dos olhos e/ou a boca. A rigor, é apenas uma vestimenta utilizada em diferentes regiões montanhosas da América Latina, cuja única serventia é proteger do frio ou do sol. Apesar de ser só uma peça de roupa comum, ela é utilizada por diferentes grupos para ocultar a identidade de seus membros. Aqui nos focamos em dois desses grupos: os zapatistas em Chiapas, México, e os lustrabotas de La Paz, Bolívia. Apesar da semelhança icônica, os dois casos de mascaramento coletivo são bem diferentes, cada um tendo suas idiossincrasias. Mesmo assim, acreditamos que pode ser pertinente observá-los lado a lado. Por mais que o contexto rural de Chiapas se distinga do cenário urbano em La Paz, para entender o que há de específico 1 2 3 Comunicólogo, midialivrista e jornalista graduado pela UFMG, bolsista de apoio técnico do Gris - Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade. E-mail: cdsantos99@hotmail.com Doutorando no PPGCOM da UFMG, bolsista CAPES. Mestre em Comunicação Social pela UFMG (2016); Graduado em Comunicação Social pela Universidad de La Habana (2009). E-mail: alex6ph@gmail.com Em português, pasamontañas pode ser traduzida como balaclava. Nesse capítulo escolhemos manter o termo em espanhol para preservar a naturalidade do termo. 15 em certo regime é necessário estudá-lo frente outros regimes. Como coloca Hoffman: ―Para identificar as características distintivas da cultura, política, sociedade e economia na América Latina, nós precisamos considerar à luz da cultura, política, sociedade e economia de outro lugares‖.4 Desta forma, ainda que hajam nítidas diferenças entre a selva lacandona e as ruas pacenhas, uma abordagem comparativa pode contribuir para destacar o que há de particular em cada uso do pasamontañas, ao mesmo tempo que permite enxergar padrões e similaridades que ultrapassam questões estritamente locais. Além de usarem os mesmos pasamontañas, o mascaramento coletivo de ambos envolve indígenas pobres – trabalhadores de rua aymaras na Bolívia e campesinos de várias etnias no México – e emergiram de forma praticamente simultânea. O anonimato dos lustrabotas surgiu no final dos anos 80, enquanto os zapatistas começam a tapar o rosto entre 1983, quando o EZLN nasce como movimento organizado, e 1994, quando eles vêm a público com um levante armado. Uma possível relação é que a máscara aparece em resposta à implementação de regimes neoliberais em seus respectivos países com os governos de Victor Paz Estenssoro, na Bolívia 5 e de Carlos Salinas de Gortari, no México. Como resultado de várias políticas econômicas marcadas pelo descaso tanto aos povos tradicionais e aos estratos sociais mais humildes, houve um aumento expressivo na desigualdade e na marginalização social, assim como a implementação de discursos que antagonizavam especificamente certos grupos. Porém, temos que destacar o que relatamos aqui faz parte de uma pesquisa ainda em desenvolvimento. Longe de ser uma análise fechada ou completa, esse texto trata de uma primeira aproximação das práticas de anonimato nesses países. Nosso objetivo não é responder todas as contradições e possíveis 4 HOFFMANN, Bert. Latin America and Beyond: The Case for Comparative Area Studies. European Review Of Latin American And Caribbean Studies, Amsterdam, v. 2015, n. 100, p.111-120, dez. 2015. Disponível em: http://doi.org/10.18352/erlacs.10125. Acesso em: 26 ago. 2018, p. 113. 5 MORALES, Juan Antonio. La experiencia populista de los años ochenta. Revista Latinoamericana de Desarrollo Económico, La Paz, v. 1, n. 12, p.31-60, out. 2009. Disponível em: http://www.scielo.org.bo/scielo.php?script= sci_arttext&pid=S2074-47062009000200003. Acesso em: 30 ago. 2018. 16