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Andrew Kliman - O Teorema de Okishio

2001, The Okishio Theorem

Um ensaio breve, estilo enciclopédia, escrito em 2001 para um manual de estudantes espanhol.

1 O Teorema de Okishio The Okishio Theorem Andrew Kliman Um ensaio breve, estilo enciclopédia, escrito em 2001 para um manual de estudantes espanhol. Disponível em [http://akliman.squarespace.com/writings/]. Direitos de reprodução: licenciado sob uma licença Creative Commons. Tradução do inglês: Marcelo José de Souza e Silva* Karl Marx desenvolveu sua “lei da queda tendencial da taxa de lucro” na parte 3 de O Capital, vol. III. A lei diz que a adoção por capitalista de inovações tecnológicas de economia de trabalho, aumento de produtividade, tenderá a causar uma queda da taxa de lucro geral (média de toda economia). De acordo com o teorema de Okishio, entretanto, a lei de Marx não é só factualmente incorreta, mas necessariamente falsa – sob as assunções de Marx, uma taxa de lucro decrescente devido ao progresso tecnológico é impossível. Nobuo Okishio, um economista marxista japonês, afirmou provar a impossibilidade em um artigo de 1961. Até recentemente, quase todos os teóricos subsequentes têm aceitado essa afirmação. Ainda assim, é agora conhecido que o teorema de Okishio é falso e que a lei de Marx é logicamente plausível. A noção básica subjacente ao teorema de Okishio é que uma economia mais produtiva é uma economia mais rentável. Apesar da falsidade do teorema, essa noção tem sido e continua a ser popular. Antes do artigo de Okishio, muitos outros teóricos não-marxistas e marxistas também criticaram, e afirmaram refutar, a lei de Marx. Eles também argumentaram que uma maior produtividade necessariamente se traduz em uma maior rentabilidade. Marx reconheceu que capitalistas individuais podem aumentar suas próprias taxas de lucro ao adotar tecnologias mais produtivas. Ainda assim, sua teoria do valor implica que capitalistas como um todo sofrerão como resultado. Porque as novas tecnologias economizam trabalho, elas tenderão a reduzir o valor das mercadorias e (tudo mais sendo igual) reduzir preços por toda a economia. A queda dos preços, Marx argumentou, tenderá a diminuir a taxa de lucro média. O teorema de Okishio pareceu contrariar este último ponto. Okishio assumiu que taxas de lucro estão equalizadas entre as indústrias antes das inovações tecnológicas e re-equalizam logo depois. Sobre essa base, ele afirmou provar que qualquer inovação que aumenta a taxa de lucro do capitalista inovador, deve também aumentar a taxa de lucro geral (ou, em alguns casos, deixar ela inalterada), não baixa-la. O teorema é inválido, entretanto, porque suprime a queda dos preços sobre as quais os próprios argumentos de Marx se baseiam. Para calcular suas taxa de lucro, * Possui graduação em farmácia pela UFPR e é mestre em educação pela UFPR. Participa dos Grupos de Pesquisa: Núcleo de Pesquisa Educação e Marxismo (NUPE-Marx/UFPR), na linha Trabalho, Tecnologia e Educação; e Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC/UFPR), na linha Estudos Marxistas em Saúde. Contato: marcelojss@gmail.com 2 Okishio arbitrariamente avaliou as entradas compradas antes da produção, e a saida que surge após a produção, pelo mesmo conjunto de preços – um procedimento conhecido como avaliação simultânea. Maior produtividade realmente se traduz em maior rentabilidade quando (mas somente quando) a possibilidade da queda de preços é suprimida. Proponentes da Interpretação de Sistema Único Temporal (ISUT)1 da teoria do valor de Marx têm mostrado que, uma vez que o progresso tecnológico é permitido reduzir preços da saída em relação a preços da entrada, então a verdadeira taxa de lucro pode cair sob condições nas quais a taxa de lucro de Okishio deve crescer. Isso não precisa ser uma ocorrência temporária; se o progresso tecnológico é contínuo, a verdadeira taxa de lucro pode cair continuamente, embora a taxa de Okishio cresça continuamente. Alguns antigos apoiadores do teorema de Okishio estão começando a reconhecer que as refutações da ISUT são válidas. Não é claro porque Okishio avaliou suas entradas e saídas simultaneamente. Talvez ele assumiu que se as taxas de lucro são iguais, então preços da entrada e saída devem também ser iguais. Esse não é o caso. Também foi sugerido que Okishio empregou avaliação simultânea porque ele escolheu computar lucro como a diferença entre o custo da receita de vendas e da reposição de entradas depois da produção, ao invés do custo verdadeiro das entradas quando elas foram adquiridas. Ainda assim, desde que Marx não computou o lucro dessa forma (nem comerciantes ou investidores normalmente o fazem), movimentos na “taxa de lucro do custo da reposição” não possui qualquer influência sobre a validade lógica de sua lei da queda da taxa de lucro. O teorema de Okishio ganhou uma quantidade significante de atenção nas décadas de 1970 e 1980. Uns poucos teóricos estenderam seu teorema ao caso no qual capital fixado é empregado. Muitos outros procuraram maneiras de derivar uma taxa de lucro decrescente sem rejeitar a avaliação simultânea, que se tornou uma ferramenta popular dos “economistas marxianos” populares. Tais trabalhos foram capazes de obter taxas de lucro decrescentes ao assumir que os salários reais dos trabalhadores aumentam, que equipamento se torna obsoleto de forma inesperada, que firmas decidem investir em tecnologias menos produtivas ou rentáveis, e assim por diante. Ainda assim, porque eles recorreram à avaliação simultânea, eles falharam em mostrar que o próprio progresso tecnológico poderia causar a queda da taxa de lucro. Eles assim falharam em reivindicar a coerência lógica da própria teoria de Marx. Marx considerou sua lei da queda da taxa de lucro como sendo a mais importante lei da economia política. Hoje, a lei e o controverso teorema de Okishio são importantes, especialmente por causa de suas implicações políticas. A lei de Marx sugere que a produção capitalista – produção empreendida para aumentar valor, não produz 1 [Do inglês Temporal Single-System Interpretation (TSSI) – M.S.] 3 somente bens e serviços – é auto-negadora; o movimento para aumentar valor periodicamente traz seu oposto. Uma forma essencial na qual capitalistas tentam aumentar valor é adotando novas tecnologias que aumentam a produtividade. Ainda assim, o aumento da produtividade na verdade tende a causar a queda dos valores e preços das mercadorias. Isso tende a baixar a taxa de lucro geral e a engatilhar crises econômicas que destroem o valor do capital já investido. A lei de Marx assim sugere que crises econômicas são um resultado inerente, inevitável da produção capitalista. Elas desaparecerão somente quando a produção capitalista desaparecer. Referências Kliman, A. (1996) “A Value-Theoretic Critique of the Okishio Theorem," in A. Freeman and G. Carchedi (eds.), Marx and Non-Equilibrium Economics (Cheltenham, U.K.: Edward Elgar). Marx, K. (1984) El Capital: Crítica de la economía política, T. III/Vol. 6 (México: Siglo XXI). Okishio, N. (1961) “Technical Changes and the Rate of Profit,” Kobe University Economic Review 7, pp. 85-99.
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