Teoria e Pesquisa
Artigo
Debate on-line em campanhas locais: os
comentários no Facebook sobre a eleição
municipal de Curitiba em 20161
Online debate in local campaigns: the comments on
Facebook about the Curitiba’s municipal election in 2016
Fernanda Cavassana de Carvalho
Doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR), membro do grupo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião
Pública (CPOP), Curitiba, PR, Brasil
cavassanaf@gmail.com
Bruno Washington Nichols
Mestre em Comunicação pela UFPR, membro do CPOP, Curitiba, PR, Brasil
bru.nichols@gmail.com
Giulia Sbaraini Fontes
Doutoranda em Ciência Política pela UFPR, membro do CPOP,
Curitiba, PR, Brasil
giuliasfontes@gmail.com
Yachan Pinsag
Mestrando em Ciência Política pela UFPR,
membro do CPOP, Curitiba, PR, Brasil
pinsag.yachan@gmail.com
1 Trabalho fruto de pesquisa desenvolvida no âmbito do grupo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública –
CPOP/UFPR. Uma versão preliminar foi apresentada no SPG 07 – Comunicação Política e Eleições no Brasil, no 41º Encontro
da ANPOCS, Caxambu - MG, em 2018.
http://dx.doi.org/10.31068/tp.26307
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Debate on-line em campanhas locais: os comentários no Facebook sobre a eleição municipal
de Curitiba em 2016
Resumo: Este artigo discute o debate eleitoral on-line em um contexto local, a partir
das manifestações em redes sociais dos eleitores sobre a disputa pelo Executivo municipal.
A unidade de análise é o comentário no Facebook feito às publicações nas fanpages oficiais
de campanha dos candidatos à prefeitura de Curitiba nas eleições de 2016. A partir de uma
discussão teórica que aborda a utilização de meios digitais, como as redes sociais, em campanhas municipais e a participação do público por meio de comentários nesses ambientes, o
trabalho investiga o comportamento dos comentadores nas fanpages, identificando se houve endosso ou críticas aos candidatos por meio de hashtags e se o espaço foi utilizado para
a expressão de demandas dos eleitores na perspectiva temática. Os resultados indicam, por
um lado, que algumas candidaturas concentraram a discussão sobre a disputa eleitoral e, por
outro, que o contexto local tende a apresentar debates mais temáticos próximos ao eleitor,
identificando o interesse naquela conjuntura. Destaca-se ainda a concentração de manifestações negativas direcionadas ao candidato à reeleição, cujo governo era mal avaliado pela
maioria da população nas pesquisas de opinião do período.
Palavras-chave: Eleições locais; Manifestações on-line; Curitiba; Redes sociais on-line.
Abstract: This article discusses the online electoral debate on a local context, through
the comments of users about the municipal election at internet’s social networks. The analysis
focuses on the comments made at the posts of Curitiba’s mayor candidates’ official fanpages
on Facebook during the elections in 2016. Based on a theoretical discussion about the uses
of digital tools at electoral contexts and about the public’s participation, through comments,
in these environments, the paper investigates the behavior of fanpages’ commentators. The
study aims to identify if there was endorsement or critics to the candidates through hashtags,
and if the digital space was used to express the elector’s demands at a thematic perspective.
The results show, on one hand, that some candidacies concentrated the discussion about the
electoral dispute; on the other, that local context tends to present more thematic debates
close to the electors, indicating the interest on that scenario. Besides that, the data highlight
the concentration of negative manifestations to the reelection candidate, which had a bad
evaluation of his government by citizens at public opinion surveys.
Keywords: Local elections; Online comments; Curitiba; Online social networks.
1. Introdução
Este trabalho se alinha aos estudos sobre participação política por meio do debate do público on-line em períodos de campanha eleitoral. Em uma conjuntura social
amplamente conectada, aspectos relacionados à participação política on-line ganham
espaço nas discussões sobre os impactos das tecnologias no campo democrático (Maia;
Gomes; Marques, 2011). De maneira mais específica, no caso brasileiro, as pesquisas se
concentram cada vez mais em analisar o comportamento em redes sociais digitais como
o Facebook (Chaia; Brugnago, 2014; Recuero, 2014). Isto porque é esta a rede social mais
utilizada pelos brasileiros (Brasil, 2014) e, entre outros motivos, por conta das ferramentas
de participação oferecidas pela própria rede, permitindo aos usuários expressar suas
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opiniões de maneira instantânea, sem censura prévia, viabilizando o debate entre os
comentadores de uma determinada página ou publicação. Identificam-se, ainda, outras peculiaridades desta relação, como a capacidade de produzir maior quantidade
de informações em rede (Canavilhas, 2009) e a possibilidade de ampliar a relação entre
representados e seus representantes, um dos potenciais da comunicação via internet
para a democracia representativa (Norris, 2001).
Se, por um lado, há crescente investigação sobre o uso de plataformas on-line em
campanhas (Cervi; Massuchin; Carvalho, 2016; Marques; Sampaio, 2013; Aggio, 2010), inclusive nas locais (Aldé; Marques, 2015; Massuchin, 2014; Cervi, 2010), por outro amplia-se
também a agenda de pesquisa dedicada ao debate do público em ambientes digitais
(Cervi, 2013; Mitozo; Massuchin; Carvalho, 2017). Contudo, ainda há poucas abordagens
que se debruçaram sobre o debate em redes sociais digitais no contexto específico das
campanhas locais. Ressalta-se que as eleições municipais são consideradas um momento de participação cidadã em um âmbito em que há maior proximidade dos cidadãos
com a esfera política (Baquero; Cremonese, 2008). Essa lacuna justifica a relevância deste
trabalho, que tem como escopo considerar as características do debate digital em uma
eleição majoritária local.
Temos como ponto de partida a seguinte pergunta: como se caracteriza o debate
eleitoral do público em redes sociais on-line em um contexto de disputa municipal? A
partir disso, é nosso objeto de estudo as manifestações do público no Facebook durante as eleições municipais de Curitiba em 2016. Trabalhamos com um total de 101.273 comentários feitos, de 01 de agosto a 30 de outubro de 2016, às publicações das páginas
oficiais dos oito candidatos à prefeitura de Curitiba – Ademar Pereira (PROS), Gustavo
Fruet (PDT), Rafael Greca (PMN), Maria Victória (PP), Ney Leprevost (PSD), Requião Filho
(PMDB), Tadeu Veneri (PT) e Xênia Mello (PSOL) – no Facebook.
Em Curitiba, a corrida eleitoral, segundo as pesquisas de intenção de voto, foi liderada desde o início pelo candidato Rafael Greca2, cuja campanha foi marcada pelo
saudosismo. O candidato do PMN, que já fora prefeito da capital paranaense na década
de 1990, enalteceu as administrações anteriores e as idealizou como grande período de
avanço da cidade. Por outro lado, o mais questionado durante o período eleitoral foi o
2 “Ibope mostra Rafael Greca com folga na liderança em Curitiba”. Gazeta do Povo, Curitiba, 19/09/2016. Disponível em:
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/eleicoes/2016/ibope-mostra-rafael-greca-com-folga-na-lideranca-em-curitiba-1wraya9b0c8tx832pbc1v82ao. Acesso em 06/09/2017.
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candidato à reeleição Gustavo Fruet, criticado pelos adversários por uma administração
de poucas realizações de destaque na cidade. No começo da campanha eleitoral, o
incumbente aparecia em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto e com uma
avaliação negativa enquanto prefeito, com 59% dos curitibanos desaprovando sua gestão, 37% considerando-a péssima ou ruim e 42% classificando-a como regular3. Ainda
assim, ele adotou uma estratégia que ressaltava o desempenho do seu governo, mas a
postura não mostrou eficiência no convencimento do eleitorado, tendo em vista que
Fruet deixou a disputa ainda no primeiro turno, na terceira colocação4.
Assim, a eleição à prefeitura de Curitiba foi decidida em segundo turno, tendo o
Deputado Estadual do Paraná Ney Leprevost como concorrente de Greca. Leprevost,
que aparecia como terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto5, cresceu na
disputa nos 10 últimos dias, ultrapassando o candidato incumbente e obtendo 23,66%
dos votos no primeiro turno6. Do ponto de vista temático, as pesquisas de opinião traziam a saúde, para os mais pobres, e a segurança, para os mais ricos, como os principais
problemas a serem resolvidos no munícipio pela próxima gestão7. Além da campanha
tradicional, que inclui o horário gratuito no rádio e na televisão, esses principais candidatos, que competiam pelas três primeiras colocações na disputa, exploraram as redes
sociais, como o Facebook, para a campanha on-line, mais próxima dos eleitores.
A partir dessa conjuntura, nosso objetivo geral é identificar características do debate em redes sociais digitais no contexto de disputa eleitoral local. Como objetivos
específicos, visamos: a) caracterizar as manifestações dos eleitores curitibanos interessados, que comentam nas páginas dos candidatos ao longo do período de campanha;
b) identificar se houve temas locais que pautaram o debate digital no período eleitoral; c) comparar o comportamento dos eleitores em diferentes páginas de campanha,
3 “Ibope: 37% dos curitibanos consideram péssima a gestão Gustavo Fruet”. Gazeta do Povo, Curitiba, 23/08/2016. Disponível
em: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/ibope37-dos-curitibanos-consideram-pessima-a-gestao-gustavo-fruet-bhqfuph21gg270y5h35abq7mg. Acesso em 19/02/2017.
4 Mais sobre as estratégias de campanha dos candidatos à prefeitura de Curitiba na disputa em 2016, ver em Silva, Kniess e
Ultramari (2017), e Miola e Carvalho (2017).
5 “Ibope, votos válidos: Greca tem 35%, Fruet, 22%, e Leprevost, 17%”. G1 Paraná, Curitiba, 01/10/2016. http://g1.globo.
com/pr/parana/eleicoes/2016/noticia/2016/10/ibope-votos-validos-greca-tem-35-fruet-22-e-leprevost-17.html. Acesso em
06/09/2017.
6 Greca totalizou 38,38% e Fruet 20,03% dos votos válidos no 1º turno. Fonte: Divulgação de resultados das eleições. Eleições
Municipais de 2016. TSE. Disponível em: http://divulga.tse.jus.br/oficial/index.html. Acesso em 06/09/2017.
7 “Pobres dizem que saúde é maior problema em Curitiba; mais ricos dizem ser a segurança”. Gazeta do Povo, Curitiba,
18/07/2016. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/caixa-zero/pobres-dizem-que-saude-e-maior-problema-em-curitiba-mais-ricos-dizem-ser-a-seguranca. Acesso em 06/09/2017.
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identificando similaridades e particularidades das manifestações on-line por candidato;
d) verificar aspectos particulares dos comentários direcionados ao candidato incumbente, uma vez que concorria à reeleição.
Este artigo segue dividido em outras cinco seções. Os dois tópicos a seguir são dedicados à revisão da literatura. Primeiramente, discorremos sobre as características das
campanhas locais em redes sociais, especialmente no Facebook. Depois, abordamos
o engajamento dos eleitores nesse ambiente, por meio de comentários e pelo uso de
hashtags, que tendem a representar o posicionamento e a mobilização – negativa ou
positiva – do eleitorado. O quarto tópico é dedicado à apresentação dos procedimentos metodológicos aqui aplicados e à análise de conteúdo, enquanto a quinta seção
apresenta a análise empírica. Por fim, tecemos as considerações finais a partir dos resultados obtidos.
2. O Facebook como ferramenta de marketing eleitoral em campanhas locais8
O uso de recursos on-line durante o período eleitoral parece ter se tornado obrigatório aos concorrentes a cargos públicos. Como apontam Marques e Sampaio (2013),
no Brasil a internet passa a ser utilizada pelos candidatos de forma mais efetiva a partir
das eleições de 2002. Nesse primeiro momento, os concorrentes investiam em websites como forma de complementar as informações apresentadas ao eleitor no Horário
Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE). Em 2008, contudo, aparece, nos EUA, uma experiência marcante no que concerne ao uso da internet em campanhas eleitorais: trata-se da campanha de Barack Obama para a presidência norte-americana, que utilizou
como importante ferramenta as chamadas redes sociais digitais. Braga (2011) defende
que esse caso pode ser visto como um “divisor de águas” no que se refere ao debate
em torno do uso da internet para fins políticos. A discussão, segundo ele, passou de um
viés normativo – em que se debatiam possíveis formas democráticas inovadoras originadas das novas redes – para questões práticas relacionadas à participação política em
regimes democráticos, incluindo o período eleitoral.
8 Por conta da falta de literatura a respeito do debate estabelecido no Facebook em âmbito local, consideramos útil ao trabalho explorar, primeiramente, o modo como essa rede social é utilizada pelos candidatos em suas campanhas. Esse cenário
reforça a importância de pesquisas empíricas como a realizada neste estudo.
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No que diz respeito às campanhas eleitorais, Aggio e Reis (2013: 157) apontam que
as mídias sociais “tornam-se uma alternativa fértil para o incremento de estratégias de
busca pelo voto na medida em que permitem às campanhas recrutar simpatizantes
que dispõem de recursos e ferramentas de comunicação para conquistar novos eleitores ou militantes”. Marques e Sampaio (2013) elencam três aspectos, que modificaram as
campanhas, relacionados ao uso dessas mídias em contextos eleitorais. O primeiro deles
diz respeito à oferta de informação política, que se tornou maior no ambiente on-line.
Isso porque, para além dos meios tradicionais de produção de conteúdo, candidatos,
partidos e usuários também passaram a ser fontes e replicadores de material informativo. Com mais informação circulando, há, consequentemente, maior concorrência pela
atenção de quem acessa as redes sociais. Os autores apontam que, nesse cenário, “os
responsáveis pelas campanhas on-line têm empreendido um esforço crescente em
atrair a atenção dos usuários e, assim, reforçar a adesão às suas perspectivas políticas”
(Marques; Sampaio, 2013: 166).
O segundo aspecto apontado por eles diz respeito justamente às estratégias para
conquistar o engajamento dos usuários nas campanhas eleitorais, as quais se relacionam ao estabelecimento de laços entre candidatos e eleitores por meio de mecanismos
de participação. Para tanto, é preciso que o usuário sinta que sua interação tem, de fato,
alguma importância para aquele candidato. No Facebook, uma das principais formas
de interação do público é por meio dos comentários. Entretanto, a falta de controle
sobre o conteúdo a ser publicado, uma das características dessas redes, coloca os concorrentes em terreno por vezes perigoso, visto que o candidato pode ser colocado em
situações constrangedoras ou se ver obrigado a lidar com assuntos que podem lhe ser
desfavoráveis, como críticas diretas a ele ou à sua gestão, quando incumbente. Reside
aí o principal desafio das campanhas on-line: atrair a atenção dos usuários por meio da
reciprocidade, mas, ao mesmo tempo, lidar com a imprevisibilidade da forma como tal
interação será configurada (Marques; Sampaio, 2013).
O terceiro e último aspecto elencado consiste na promoção de transparência por
parte dos candidatos. Explicam os autores:
Os usuários veem com bons olhos não apenas os concorrentes que utilizam
com frequência perfis em redes sociais ou que buscam uma interação mais próxima
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com o eleitorado; também passa a ser valorizado quão genuínas as mensagens dos
candidatos são, ou parecem ser (Marques; Sampaio, 2013: 182).
Diante dessas questões, fica claro que, durante as campanhas, as exigências feitas
aos candidatos são cada vez maiores. Sendo assim, o HGPE, que ainda constitui importante fonte de informações para o eleitor (Albuquerque, 1999; Panke; Cervi, 2011), passa
a conviver com outras formas de marketing eleitoral no ambiente digital. Esse processo
ganha ênfase especial no pleito aqui analisado, no qual os candidatos tiveram um tempo menor de campanha em rádio e televisão, dadas as alterações na legislação eleitoral
que entraram em vigor em 2016 (Sousa, 2016).
A maneira como os candidatos têm feito uso destas novas possibilidades no ambiente digital tem sido tema para os pesquisadores da área de Comunicação Política
no Brasil (Aldé; Marques, 2015; Marques; Sampaio; Aggio, 2013; Cervi; Massuchin; Carvalho, 2016). No que diz respeito ao uso específico do Facebook em contextos eleitorais,
contudo, parecem ser mais comuns os trabalhos que se debruçam sobre a utilização
desta rede na disputa por cargos em âmbito nacional. É o caso do estudo de Rossini
et al. (2016), em que os autores buscam verificar a influência das pesquisas de intenção
de voto nas estratégias de comunicação dos três presidenciáveis que apresentaram as
melhores colocações nas pesquisas em 2014 Os autores evidenciam que as redes sociais on-line, além de se constituírem um ambiente interativo e de proximidade com o
eleitor, têm sido utilizadas de forma estratégica tanto na construção de imagens públicas desejáveis quanto para ataque aos oponentes. A partir dos dados apresentados, os
autores chegam à conclusão de que o Facebook foi utilizado pelos concorrentes tendo
como foco a disseminação de informações da campanha em detrimento da interação
dialógica com os eleitores9 e que o uso de campanha negativa pelos candidatos tem
relação com o seu posicionamento na disputa.
Em momentos de desvantagem nas pesquisas de intenção de voto, os candidatos
tenderam a atacar mais seus adversários (Rossini et al., 2016). Esse padrão já é apresentado na literatura clássica sobre campanha negativa. Segundo Borba (2017: 413), “a decisão
de atacar estaria associada basicamente a dois fatores: ser candidato de oposição ou
9 Cabe ressaltar, contudo, que a amostra utilizada pela pesquisa se limita ao último mês de campanha – fator que pode explicar a divergência entre estes resultados e outros achados da literatura. Massuchin e Tavares (2015), por exemplo, destacam
a busca pelo engajamento nas fanpages dos presidenciáveis no Facebook em 2014.
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estar em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto”10. A possibilidade de reeleição é uma das justificativas que influencia o primeiro fator, uma vez que o candidato
incumbente já possui visibilidade, além de uma trajetória no cargo que exerce compartilhada na memória dos eleitores que o avaliam também como gestor. Considera-se,
assim, que o ambiente digital tem dinâmicas próprias, mas que não funciona de forma
completamente apartada das estratégias promovidas pelos candidatos nas formas mais
tradicionais de marketing eleitoral.
Já Braga (2011), ao analisar o uso da internet por candidatos a governos estaduais e
senadores nas eleições de 2010, aponta para uma crescente utilização das redes sociais
em detrimento das outras ferramentas digitais, como blogs. Especificamente sobre o
Paraná, Cervi e Massuchin (2012) indicam que os principais candidatos a governador do
estado utilizaram o Twitter em 2010, principalmente, para informar os seguidores sobre
a campanha e suas propostas políticas. Os autores constataram, ainda, que a rede foi
utilizada pelos políticos para manter contato com os eleitores.
Além disso, Braga (2011) coloca que houve uma diminuição do digital divide entre
os candidatos naquela eleição, de modo que o uso das ferramentas on-line passou a ser
generalizado, independentemente da região do país. Isso também foi evidenciado ao
se analisar o uso de redes sociais on-line por concorrentes ao Executivo municipal em
2012. Aggio e Reis (2013) apontam que os prefeitos eleitos em todas as capitais naquele
ano possuíam páginas ou perfis no Facebook. Os autores constaram o predomínio de
posts de engajamento, de agenda, de demonstração de prestígio e de propostas. Outra
rede social, o Twitter, apareceu em segundo lugar, com 96% de utilização entre os vencedores (Aggio; Reis, 2013).
O foco em estratégias eleitorais nas redes sociais digitais também apresenta relação com os recursos disponíveis aos candidatos durante a disputa municipal. É o que
aponta o estudo de Assunção et al. (2015) a respeito da campanha de Marcelo Freixo
(PSOL) para a prefeitura do Rio de Janeiro em 2012 que, diante do reduzido tempo de
HGPE e da menor presença na cobertura dos meios tradicionais, utilizou as redes on-line como forma de mobilização dos eleitores. Dessa forma, sua equipe utilizava ferramentas do Facebook, por exemplo, para divulgar eventos da campanha e convocar os
10 O autor ressalta que os estudos brasileiros pioneiros tiveram influência principalmente da literatura norte-americana, mas
que não se pode desconsiderar o contexto do país, especialmente pelas regras eleitorais, de regulação da mídia, do TSE, e
do HGPE (Borba, 2017).
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simpatizantes do candidato a comparecerem nos atos. Os autores destacam também
que algumas manifestações de apoio partiram do próprio eleitorado, como a iniciativa
de usuários em incluir o sobrenome do candidato em seus perfis pessoais.
O pleito do mesmo ano, mas em São Paulo, foi tema do estudo de Bachini et al.
(2015). Os autores observaram como os quatro principais candidatos ao Executivo da
capital paulista fizeram uso do Facebook durante a campanha de 2012. Diferentemente do caso de Freixo, os candidatos paulistanos não apresentaram um formato com
grande participação dos eleitores na rede social. Além disso, os dados não apontaram
a existência de um padrão entre os candidatos: cada um deles utilizou a ferramenta de
forma diferenciada.
Especificamente sobre a disputa eleitoral aqui estudada, Miola e Carvalho (2017)
apontam que os candidatos à prefeitura de Curitiba em 2016 usufruíram de diferentes
recursos persuasivos no Facebook para aproximar o eleitor on-line de suas campanhas,
como posts interativos estratégicos para angariar votos, apoiadores e até financiamento.
Já sobre a interação do público com essas publicações, em outro trabalho que descreveu quantitativamente a campanha no Facebook, Miola, Cardoso e Mancio (2017)
indicam que as fanpages dos candidatos com maiores intenções de voto foram aquelas
que concentraram o maior volume de engajamento. O Twitter também foi utilizado
pelos principais candidatos de formas diferentes. Analisando esta rede social ao longo
do tempo, Herman (2017) mostra que Greca, o candidato que liderou todas as pesquisas
de intenção de voto e venceu a eleição, foi aquele que menos explorou a campanha
negativa no Twitter, utilizada mais por Ney Leprevost, que figurava na terceira colocação
nas pesquisas e terminou em segundo lugar na disputa.
Apesar da crescente literatura sobre campanhas em redes sociais on-line, a investigação sobre a participação do público – não só por meio de engajamento, mas também produzindo e compartilhando conteúdos via comentários nessas redes – ainda é
latente, especialmente em disputas municipais, o que reforça a relevância desta pesquisa. Ressalta-se que, independentemente das diferenças entre os concorrentes – ao
decidirem suas estratégias e a abordagem na campanha –, o debate on-line pertinente
à eleição local tem como característica a maior proximidade entre os eleitores e candidatos. Consideramos que “a democracia enquanto práxis inicia-se em âmbito local,
onde os cidadãos têm contato mais próximo com o governo. É nesse contexto que se
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pode observar até que ponto os cidadãos exercem algum tipo de fiscalização e pressão
sobre os gestores públicos” (Baquero; Cremonese, 2009).
Assim, a abrangência da agenda delimitada pela esfera municipal possibilita maior
coerência temática entre as demandas apresentadas pelos eleitores e as propostas das
candidaturas. Esse fator potencializa a oportunidade de se verificar como se comporta
o debate do público alimentado pelo conteúdo dessas campanhas, especialmente, no
ambiente digital, ainda pouco explorado pelos estudos. Para além dos temas levantados para discussão nestes contextos, tratamos, a seguir, das dinâmicas de engajamento
e interação entre usuários e candidatos em redes sociais, especialmente, a partir dos
comentários no Facebook.
3. Manifestações on-line via comentários com hashtags no
Facebook
A participação do público em ambientes digitais constitui um objeto que vem recebendo crescente atenção em pesquisas na Ciência Política e na Comunicação, desde
estudos dos fóruns governamentais a dos debates nas redes sociais digitais em períodos de campanhas eleitorais (Ferreira, 2016; Sampaio; Maia; Marques, 2010; Jensen, 2014;
Penteado; Goya; França, 2014; Rossini, 2013; Murta et al., 2017; Ribeiro; Borba; Hansen,
2016). Nas redes sociais, a proximidade e as possibilidades de engajamento do público
com instituições e atores políticos, que passaram a atuar na produção e difusão de conteúdos nesses ambientes, ressaltam qualidades já identificadas na comunicação política
on-line (Norris, 2001).
Especificamente no Facebook, os comentários em posts políticos permitem averiguar o conteúdo debatido pelos cidadãos a partir das publicações desses perfis oficiais
– sejam eles de instituições ou de personalidades políticas. Araújo, Travieso-Rodríguez e
Santos (2017), por exemplo, consideraram a participação política dos cidadãos via Facebook pela proximidade de comunicação com seus representantes na rede e avaliaram
comentários feitos a nove deputados federais de estados da região Nordeste. Como estratégia, os autores observaram os comentários dos cidadãos perante os parlamentares
sob as categorias de accountability discursivo (para demandas, avaliações e questionamentos); de adesão (para agradecimentos e saudações); de posicionamento (aprovação,
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opinião ou críticas a terceiros) e informativos. Por sua vez, da perspectiva institucional
no âmbito municipal, Martins, Bueno e Reino (2017) analisaram o padrão de respostas
da própria prefeitura de São Luís (MA) após classificarem o conteúdo dos comentários
dos cidadãos nas publicações do órgão municipal no Facebook.
Neste artigo, nosso escopo é o debate on-line local, via comentários contendo
hashtags nas fanpages oficiais dos candidatos à Prefeitura de Curitiba no ano de 2016.
Para Aggio e Reis (2013), a importância da análise dos meios digitais durante períodos
eleitorais está embasada na quantidade de usuários e na estrutura dessas redes. Os
autores destacaram a inviabilidade de averiguar e se afirmar o nível de influência do
conteúdo publicado pelas campanhas na conversação on-line do público nessas redes digitais. Portanto, investigar sob o interesse temático o comportamento do debate
do público via comentários nas fanpages de campanha não se trata de um estudo de
agendamento. Contudo, ressalta-se a perspectiva de que os comentários sobre as eleições municipais, assim como as próprias publicações dos candidatos, tendem à coerência de temas locais.
Também tendo como ponto de partida uma perspectiva temática entre os posts e
o debate entre os usuários do Facebook, Penteado e Avanzi (2013) estudaram os comentários sobre o Código Florestal na fanpage de Marina Silva. Os investigadores concluíram
que, mesmo com o sistema do Facebook oferecendo maiores facilidades comunicacionais entre os usuários, a comunicação não ocorreu à medida do que se era esperado
como ideal. Os autores encontraram baixa reciprocidade entre os comentadores, além
do surgimento de grupos de interesse, o que acabou por restringir o debate ao torná-lo
menos inclusivo.
Especificamente sobre o debate eleitoral, em pesquisa que analisou os comentários nas fanpages de jornais brasileiros em posts sobre a campanha, durante a disputa
presidencial de 2014, Mitozo, Massuchin e Carvalho (2017) investigaram o debate no
Facebook a partir de sua intensidade e avaliando a postura do comentador. Do trabalho
das autoras, ressalta-se o volume de comentários obtidos no período, indicando elevada participação do público on-line atuante no debate em publicações da cobertura
jornalística eleitoral. Além disso, foi identificado um crescimento do número de comentários sobre as eleições ao longo do tempo, o que já havia sido evidenciado em outro
trabalho por Cervi, Carvalho e Buckstegge (2015). Segundo estes autores, nas eleições
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de 2014, os comentadores on-line, estimulados pela cobertura jornalística no Facebook,
comentaram mais sobre as eleições presidenciais conforme a decisão se aproximava.
Para Aldé (2011), o interesse do internauta para participação on-line também segue a lógica do “tempo da política” e tende a ser mais evidente nos momentos mais decisórios,
mais próximos das eleições, por exemplo.
Quanto ao nível de reciprocidade dos comentários sobre as eleições, Mitozo, Massuchin e Carvalho (2017) concluíram que houve predomínio de uma postura monológica por parte dos comentadores, inviabilizando um debate construtivo entre eles. Por
sua vez, Massuchin e Campos-Domínguez (2016) analisaram como se deu o debate
on-line nos portais das campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB). Como
resultado, as autoras descobriram que reafirmação foi a categoria de justificação majoritariamente utilizada nos comentários aos portais de campanha das duas candidatas.
Desse modo, o comportamento dos comentadores em ambos os portais, de maneira
geral, foi o mesmo, reafirmando o apoio a uma candidata ou posição política sem a
apresentação de nenhuma justificativa e, além disso, exposta de forma monológica,
escapando a qualquer ideal de debate frente a outros comentadores. Em suma, esses
estudos apontam o comentário do público sendo mais utilizado para manifestações
individuais e monológicas do que para o debate coletivo ou temático nas eleições.
Neste nosso estudo, para além dos temas predominantes no debate, o foco está
nos comentários que utilizaram hashtags, as quais são termos precedidos pelo símbolo
“#” que se tornam hiperlinks, reunindo publicações que as mencionaram, o que possibilita encontrar conteúdos e posts sobre temas comuns. Além disso, as hashtags podem
ser usadas como uma forma de ativismo digital (Silva, 2012) ou indicar demonstração
de sentimentos (Ituassu; Lifschitz, 2015), opiniões e posicionamentos sobre determinado
assunto em evidência no debate digital.
Ao analisar o conteúdo publicado sobre a política canadense no Twitter, Small
(2011) destaca a importância das hashtags por sua capacidade de organização dos temas comentados em meio a dezenas de milhões de tweets diários, organizando as discussões em tópicos. Para a autora, as mensagens que utilizam hashtags possuem maior
alcance à medida que podem ser buscadas e visualizadas por qualquer pessoa com
acesso à internet, sem a obrigatoriedade de possuir uma conta no Twitter. A ferramenta
também está disponível no Facebook e, apesar de ser mais recente nesta rede, tem a
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Bruno Washington Nichols
Giulia Sbaraini Fontes
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mesma função em ambas as plataformas (Kleina, 2014).. Todavia, ao contrário do Twitter,
onde esse mecanismo concentra as postagens, principalmente, por popularidade, as
hashtags no Facebook são usadas “para busca, por ser possível encontrar o histórico de
uso desses termos no mesmo campo de pesquisa de pessoas e páginas do site” (Kleina,
2014: 12).
Nesse sentido, entende-se que os comentários em redes sociais on-line como o
Facebook servem para expressar e ressaltar o posicionamento do comentador, tratando-se de uma forma de participação on-line (Ribeiro; Borba; Hansen, 2016). Ao conter
hashtags, o comentário tende a apresentar maior nível de engajamento se comparado
a comentários que não a utilizam. O uso de hashtags também possibilita a mensuração
de sentimentos, gostos e desgostos, além das opiniões das pessoas (O’Connor et al.,
2010).
No contexto aqui analisado, as hashtags podem ser utilizadas, portanto, para mensurar a preferência eleitoral dos comentadores (Ituassu; Lifschitz, 2015). Dessa forma, pode-se entender que comentar nas fanpages dos candidatos à Prefeitura de Curitiba em
época de eleição é uma forma de participação on-line no debate, ainda que seja apenas
para se manifestar sobre um tema ou expressar apoio ou posição contrária a um candidato. Ressaltamos, ainda, que essas manifestações podem fazer referência a quaisquer
outros assuntos, uma vez que não há controle sobre o conteúdo a ser publicado.
Além disso, ao usar hashtags nos comentários, presume-se um maior nível de engajamento por parte do eleitor interessado na campanha, na medida em que ele agrega, ao seu texto, termos utilizados por outros comentadores, bem como explorados
pela própria campanha. A ferramenta serve, então, tanto para estabelecer certo nível
de diálogo com os demais, quanto para expressar seu posicionamento e sentimentos
perante a disputa. Por outro lado, também é possível imaginar que, ao restringir ou
centralizar o foco do comentário nas hashtags, a capacidade de diálogo desse mesmo
comentário esteja limitada, sem a capacidade de gerar diálogo, sem abertura para um
eventual debate ou até mesmo restrito aos usuários que compartilham das mesmas
opiniões.
Nas próximas seções, tendo como objetivo caracterizar o debate no Facebook no
contexto da disputa municipal de Curitiba e como ponto de partida as considerações
elencadas na discussão teórica, testam-se, por meio de testes quantitativos, as seguintes
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Debate on-line em campanhas locais: os comentários no Facebook sobre a eleição municipal
de Curitiba em 2016
hipóteses: i) o debate via comentários tende a se intensificar ao longo do tempo, conforme se aproxima o momento decisório; ii) o debate eleitoral não é difuso, sendo concentrado, principalmente, nas páginas dos candidatos que apresentam maior intenção
de votos nas pesquisas de opinião; iii) o candidato incumbente tende a concentrar mais
manifestações negativas por meio de hashtags, por ser candidato à reeleição e ter que
enfrentar também críticas dos comentadores ao seu governo. Para testá-las, estão descritos os procedimentos metodológicos no próximo tópico e, no seguinte, a análise
empírica.
4. A análise de conteúdo e os procedimentos metodológicos
Como estratégias metodológicas11, utilizamos a análise de conteúdo - tanto por
uma análise fatorial hierárquica dos textos dos comentários12, quanto pela categorização de variáveis qualitativas -, sendo o comentário ao post em páginas dos candidatos
a prefeito de Curitiba, no Facebook, a nossa unidade de análise. Como objeto empírico,
trabalhamos com um total de 101.273 comentários feitos, de 01 de agosto a 30 de outubro de 2016, às publicações das páginas oficiais dos oito13 candidatos a prefeito de
Curitiba – Ademar Pereira (PROS), Gustavo Fruet (PDT), Rafael Greca (PMN), Maria Victória
(PP), Ney Leprevost (PSD), Requião Filho (PMDB), Tadeu Veneri (PT) e Xênia Mello (PSOL).
Ressalta-se que comentários, feitos às oito páginas oficiais14 dos candidatos no Facebook, foram coletados15 semanalmente durante o período de campanha.
A metodologia da análise de conteúdo é definida por Bauer (2002) como uma categoria de procedimentos explícitos para análise textual, apresentando a possiblidade
de descrições numéricas de algumas características do conteúdo do texto. Com isso,
essa técnica viabiliza a formulação de inferências através de identificações objetivas e
11 Desenvolvidas pelo grupo de pesquisa CPOP/UFPR. Mais em www.cpop.ufpr.br.
12 Por meio do software Iramuteq (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), que é
um programa gratuito, ancorado no software R e que utiliza a linguagem python, que permite diferentes formas de análises
estatísticas sobre corpus textuais (Camargo; Justo, 2013).
13 No início da disputa, havia um nono inscrito, Afonso Rangel (PRP), cuja candidatura foi indeferida pela Justiça Eleitoral em
setembro de 2016, por não apresentar a prestação de contas da eleição 2012, quando concorria a vereador.
14 Ressalta-se que se optou por analisar as fanpages porque elas se constituem as páginas oficiais das campanhas no Facebook. Os candidatos também possuíam “perfis” pessoais na rede, mas estes foram desconsiderados aqui.
15 Por meio do aplicativo Netvizz, desenvolvido e disponível gratuitamente dentro do próprio Facebook para extração de
dados de páginas, perfis e grupos da rede social (Rieder, 2013). Disponível em: https://apps.facebook.com/netvizz.
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Fernanda Cavassana de Carvalho
Bruno Washington Nichols
Giulia Sbaraini Fontes
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sistemáticas de características específicas das mensagens, podendo apresentar resultados através de indicadores, tanto quantitativos, quanto qualitativos (Bauer, 2002).
Por ser descritiva, a técnica de análise de conteúdo revela a variedade de elementos presentes no corpo textual, assim como padrões de avaliações que possibilitam a
construção de índices focados nas mensagens emitidas que, neste trabalho, resumem-se ao conteúdo expresso pelos eleitores curitibanos. O método empregado no corpus
total dos comentários permite a observação da expressão de uma comunidade que
utiliza a rede Facebook como espaço para debate de ideias, criando assim traços argumentativos ou de conflito. Ressalta-se também a escolha pelo Facebook para análise do
debate on-line por ser uma plataforma na qual se armazena o que foi comentado pelos
usuários, permitindo, desse modo, que “as conversações que são criadas nesses espaços
permaneçam, sejam buscáveis e replicáveis independentemente da presença on-line
dos atores” (Recuero, 2014: 116).
Para essa pesquisa, serão consideradas as variáveis categóricas de origem do comentário (identificando a fanpage de qual candidato recebeu o comentário); tema predominante no comentário; turno da campanha; uso de hashtags para os candidatos (indicando o engajamento e manifestação daqueles que comentam); e a valência dessas
hashtags aos candidatos (positiva, negativa ou neutra). A variável “origem por candidato”
é categorizada automaticamente a partir da raspagem pelo Netvizz de cada fanpage.
O tema predominante foi classificado por duas etapas, incluindo uma análise léxica do conteúdo de todos os comentários. Neste aspecto, a análise textual se deu por
meio do software Iramuteq e do algoritmo ALCESTE16, desenvolvido por Reinert (1986)
e utilizado neste trabalho. O ALCESTE calcula a co-ocorrência de palavras e segmentos
de textos, classificando os discursos textuais, o que permitiu a criação de categorias de
temas, não só por aquelas mais frequentes nos comentários de debate eleitoral no Facebook naquele período, mas também delimitados por proximidade temática. O software
gera tabelas para a visualização das palavras que, associadas, aparecem significativamente em determinada classe (categoria temática) enquanto estão ausentes, também
de modo significativo, nas demais. Após essa etapa, os comentários que possuem as
palavras associadas são classificados dentro de determinada categoria17.
16 Analyse Lexicale par Context d’un Ensemble de Segments de Texte.
17 Foram consideradas sete classes temáticas a partir da presença das respectivas palavras no comentário (citadas entre
parênteses): Infraestrutura urbana (Obra, centro, praça, buraco, parque, bairro, asfalto, iluminação, viaduto); Gestão pública
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Debate on-line em campanhas locais: os comentários no Facebook sobre a eleição municipal
de Curitiba em 2016
Já as demais variáveis categóricas foram classificadas manualmente, após a leitura
dos comentários, de forma coletiva no âmbito do grupo de pesquisa CPOP/UFPR. O uso
da hashtag considerou apenas os termos precedidos do símbolo “#” que citavam um
dos três principais candidatos segundo as pesquisas de intenção de voto (Fruet, Greca
e Leprevost). O turno é uma variável temporal binária e permite comparar a primeira e
a segunda etapas da disputa, para os dois candidatos que seguiram para a fase final. Já
a variável valência ao candidato identifica se o sentimento expresso na hashtag foi de
valoração positiva, negativa ou neutra ao candidato mencionado no termo18. A análise
dos dados obtidos é desenvolvida na próxima seção, em subtópicos.
5. Debate do público em fanpages de campanha local: a eleição
de Curitiba em 2016
Tendo contextualizado nossa metodologia de trabalho passamos, neste tópico, à
análise empírica. Para tanto, utilizamos estratégias quantitativas para testar nossas hipóteses, como veremos a seguir.
5.1. Intensidade de comentários ao longo tempo
Para iniciar a análise dos dados, trazemos na tabela 1 o volume total de comentários obtidos e como eles se distribuíram nos dois turnos da campanha. Em relação à
frequência, os mais de 101 mil comentários coletados dividiram-se em mais de 64 mil
no primeiro turno e quase 37 mil no segundo. Assim, é possível indicar que o último
turno, com quase 40% dos comentários, ganha destaque não só por ser um período
menor que o anterior, mas também por representar o debate concentrado apenas em
duas páginas, as de Rafael Greca e Ney Leprevost, em contraposição com o primeiro,
que soma dados de todas as fanpages.
(Gestão, concurso, prefeitura, orçamento); Educação (educação, escola, CMEI, creche); Transporte público (ônibus, transporte, linha, terminal, trânsito, ciclovia, mobilidade, pedestre); Segurança (guarda, segurança, polícia); Saúde (saúde, UPA,
médico, hospital); Táxi e Uber (táxi e Uber).
18 “#VoudeGreca” é exemplo de valência positiva a Greca; “#ForaFruet” é exemplo de valência negativa a Fruet. Quando havia
hashtag sem a clareza da direção do sentimento ao candidato citado, a favor ou contra o mesmo, classificava-se a valência
como neutra.
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Bruno Washington Nichols
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Tabela 1 – Comentários nas fanpages por turno
Frequência
Porcentual (%)
1º turno
64.328
63,52
2º turno
36.945
36,48
Total
101.273
100,0
Fonte: CPOP/UFPR (2017)
Considerando que nossa primeira hipótese a ser testada pressupõe um crescimento dos comentários ao longo do tempo, de modo complementar à tabela 1, passamos
a considerar a intensidade do debate semanalmente, por todo o período de campanha.
O gráfico 1 ilustra essa série temporal. Além de reforçar o significativo crescimento do
volume de comentários no segundo turno, o gráfico mostra, com base na linha de
médias móveis, o crescimento acima do esperado da frequência de comentários nas
semanas decisivas, de votação nos dois turnos. Isso indica que, independentemente do
volume total de comentários durante a campanha, o debate se intensificou nas últimas
semanas do primeiro e do segundo turno. Ou seja, o curitibano foi mais participativo
em se expressar via comentários nas fanpages dos candidatos próximo aos momentos
decisivos da eleição, comportamento do debate eleitoral digital já evidenciado em outros trabalhos (Aldé, 2011; Cervi; Carvalho; Buckstegge, 2015; Mitozo; Massuchin; Carvalho, 2017).
Observa-se ainda que o volume de comentários no debate seguiu uma tendência
de crescimento no primeiro turno, com frequência acima da média móvel, com exceção da semana sete. Contudo, as semanas seguintes, 10 e 11, registram queda significativa, levando a frequência de comentários para abaixo da linha de média móvel do
período. Na semana 12, a intensidade do debate volta a crescer, acima da média móvel
e superando o registrado na nona semana da campanha. Além disso, atinge o ápice
de participação – de quase 10 mil comentários acima do esperado pela tendência de
média – na última semana, a 13ª da campanha.
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Debate on-line em campanhas locais: os comentários no Facebook sobre a eleição municipal
de Curitiba em 2016
Gráfico 1 – Comentários nas fanpages por semana
Fonte: Grupo CPOP/UFPR (2017)
Por isso, esses dados confirmam a primeira hipótese levantada por esse trabalho,
que pressupunha que o debate tenderia a se intensificar conforme se aproxima o momento de decisão. Contudo, isso se dá separadamente por turno. Por mais que o volume de comentários seja crescente ao longo do primeiro turno, a intensidade do debate se altera de um turno ao outro. As quedas indicadas pelo início da segunda parte
da campanha não devem ser desconsideradas aqui. Percebe-se que a participação via
comentários dos eleitores no debate digital se concentra principalmente nas semanas
decisivas da disputa, reforçando o que já havia sido encontrado em outros trabalhos. A
principal diferença desta disputa local, para os dados do debate on-line sobre as últimas
eleições presidenciais (Mitozo; Massuchin; Carvalho, 2017; Cervi; Carvalho; Buckstegge,
2015) é a queda na intensidade do debate nas primeiras semanas após o primeiro turno.
No cenário de disputa nacional, o crescimento de comentários foi mais homogêneo
entre os turnos.
5.2. Concentração do debate via comentários em fanpages
Seguindo com a análise e tendo em vista a nossa segunda hipótese, na tabela 2
comparamos a distribuição desses comentários por candidato, buscando apontar as
diferenças existentes entre eles em relação à quantidade de comentários feitos a seus
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posts. Aqui, pressupomos que os candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto, por serem os preferidos dos eleitores, serão aqueles que concentrarão o
debate digital. Ou seja, serão aqueles que receberão mais comentários em suas publicações. A primeira informação relevante é a de que a página de Rafael Greca – que liderou
as pesquisas de intenção de voto e venceu as eleições – concentrou quase metade do
debate digital dos eleitores de Curitiba no Facebook durante toda a campanha, com
46,8% do total de comentários. Contudo, por turno, há diferenciações.
Ressalta-se que, centrando-se apenas no primeiro turno, Gustavo Fruet concentrou 30,24% dos comentários no período, muito próximo dos números da fanpage de
Greca, que obteve 29% dos comentários em 1º turno. Em seguida, também com mais
de 10 mil comentários, 17,81% do total, Requião Filho foi o terceiro candidato a concentrar o maior número de comentários na campanha. O petista Tadeu Vaneri concentrou a
metade de Requião, aproximando-se de cinco mil comentários em seus posts. Destaca-se, ainda, a baixa participação do eleitorado em comentários nas publicações de Maria
Victória e Xênia Mello. A quantidade de comentários registada na página de Ademar
Pereira é insignificante, 0,2% do total de comentários no período.
Tabela 2 – Comentários nas fanpages por candidatos e turno
1º turno
2º turno
Candidato
Frequência
% no turno
% Total
Gustavo Fruet
19.452
30,24
19,21
Rafael Greca
18.653
29,00
18,42
Requião Filho
11.455
17,81
11,31
Ney Leprevost
5.675
8,82
5,60
Tadeu Veneri
4.932
7,67
4,87
Maria Victória
2.603
4,05
2,57
Xênia Mello
1.390
2,16
1,37
Ademar Pereira
168
0,26
0,17
Total no turno
64.328
100,00
63,52
Rafael Greca
28.716
77,73
28,36
Ney Leprevost
8.229
22,27
8,13
Total no turno
36.945
100,00
36,48
Total
101.273
100,00
Fonte: Grupo CPOP/UFPR (2017)
Ney Leprevost, que terminou a disputa em segundo lugar, teve pouco mais de 5
mil comentários em suas publicações no primeiro turno, o que representou 8,82% do
total do período. No segundo turno, os números sobre a participação via comentários
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Debate on-line em campanhas locais: os comentários no Facebook sobre a eleição municipal
de Curitiba em 2016
em suas publicações aumentaram, chegando a mais de 8 mil, mas representando apenas 22,27% do total do período. Já Rafael Greca, com 28 mil comentários, concentrou
77,73% dos comentários do segundo turno. Portanto, temos aqui uma confirmação parcial da segunda hipótese testada.
Como colocado como ponto de partida, o debate não é difuso e tende a se concentrar em fanpages de determinados candidatos. Os três principais concorrentes, segundo as pesquisas de intenção de voto, tiveram grande participação nessa concentração,
inclusive, como parte da hipótese ressaltava. Isso era esperado porque os candidatos
com maiores chances de vitória são aqueles que têm maior visibilidade na campanha
e estão em evidência no debate público. Espera-se que a audiência digital reflita essa
preferência do debate público off-line. Um dos destaques é o candidato eleito, Rafael
Greca, que concentrou quase metade de todos os comentários em toda a campanha.
Porém, ressalta-se que, no primeiro turno, Requião Filho obteve mais comentários que
Ney Leprevost, que acabou passando à segunda fase da disputa.
5.3. Uso das hashtags em comentários nas fanpages dos candidatos
Da comparação em relação à concentração ou ausência do debate via comentários nas eleições municipais, passamos a avaliar a exposição de sentimentos do público
aos candidatos via hashtags nestas interações. Os primeiros dados pertinentes a isso,
expostos na tabela 3, indicam a presença e a ausência de hashtags nos comentários por
páginas dos candidatos. Neste aspecto, passa-se a considerar os três principais candidatos – aqueles que apareceram nas primeiras colocações nas pesquisas de intenção de
voto e os que concentraram maior quantidade de comentários em todo o período eleitoral. Aqui, só é indicado onde há mais engajamento dos eleitores que se posicionaram
aos candidatos utilizando a ferramenta hashtag.
Tabela 3 – Uso das hashtags em comentários nas fanpages por candidatos
FRUET
GRECA
LEPREVOST
Total
N
%
RP
N
%
RP
N
%
RP
Sem hashtag
19.023
97,8
4,8
43.537
91,9
-5,7
13.695
98,5
4,8
76.255
Com hashtag
429
2,2
-19,7
3.832
8,1
23,6
209
1,5
-20,2
4.470
Total
19.452
100,0
47.369
100,0
13.904
100,0
chi-square: 1435,397 | Sig.: 0,000
Fonte: Grupo CPOP/UFPR (2017)
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80.725
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A primeira informação obtida aqui é a escassez de comentários que contêm hashtags. Nas páginas dos três principais candidatos, os percentuais de comentários sem a
ferramenta é superior a 90%. No caso de Fruet, a cada 100 comentários, só dois possuíam hashtags. No caso de Leprevost, é ainda mais raro o uso do recurso nos comentários,
ausente em 98,5% deles. A proporção é maior para Rafael Greca, em que para cada 100
comentários, oito possuíam hashtags. É principalmente por conta desta distinção de
Greca em relação aos outros dois concorrentes que o qui-quadrado indica que há diferença significativa na comparação das hashtags em comentários entre os candidatos.
Além disso, os resíduos padronizados da tabela 3 permitem uma comparação direta dessa informação entre as fanpages, sem que haja necessidade de ponderar os dados
pela quantidade total de comentários em sua respectiva página. Portanto, assim como
é o candidato que mais totaliza comentários do debate on-line, a fanpage de Rafael
Greca também é aquela que mais reúne termos com hashtags nos comentários sobre
as eleições municipais (RP 23,6).
Buscando testar nossa terceira hipótese, trazemos, na tabela 4, as valências para
as hashtags que citavam os três principais candidatos. Pelos dados é possível perceber
como a maioria dos comentários interessados estava mobilizada em campanha positiva. São comentários que indicam sentimentos favoráveis dos eleitores aos concorrentes
em disputa. Ganha destaque, novamente, Rafael Greca. Primeiro, por somar oito vezes
mais citações em comentários com hashtags que Fruet e 20 vezes mais que Leprevost.
Segundo, por aquelas que mencionaram Greca serem 96,8% positivas. Na comparação
direta com as outras valências e os outros candidatos, a partir dos resíduos padronizados, esse acúmulo acima do esperado gera um resíduo padrão significativo para a
valência positiva a Greca via hashtag em comentários.
Tabela 4 – Valência das hashtags por candidatos com resíduos padronizados
FRUET
GRECA
LEPREVOST
Total
N
%
RP
N
%
RP
N
%
RP
POSITIVA
321
68,6
-5,33
3.756
96,8
2,9365
114
58,8
-4,856
4.191
NEGATIVA
140
29,9
23,677
76
2,0
-8,722
17
8,8
2,2351
233
NEUTRA
7
1,5
-1,502
49
1,3
-5,223
63
32,5
25,693
119
Total
468
100,0
3.881
100,0
194
100,0
chi-square: 1391,9 | Sig.: 0,000
Fonte: Grupo CPOP/UFPR (2017)
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4.543
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Debate on-line em campanhas locais: os comentários no Facebook sobre a eleição municipal
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Ressalta-se, contudo, que a contagem das hashtags negativas ou positivas aos candidatos não se restringe aos comentários feitos em postagens daqueles citados. Ou seja,
essas demonstrações foram feitas ao longo da campanha nas publicações de todas as
fanpages consideradas, podendo o eleitor ter se manifestado positivamente a Greca
nas publicações de quaisquer outros candidatos. Cabe destacar ainda que, comparativamente, Leprevost foi mais mencionado em hashtags sem valoração, ou seja, neutras,
sem indicativos de sentimentos positivos ou negativos a ele.
Outra informação relevante é a de que Fruet obteve um percentual alto de hashtags negativas em comparação aos demais, com quase 30% dos termos que o citavam
com valência negativa, e com resíduo padrão acima de 23. Assim, os dados da tabela
acima confirmam a nossa terceira hipótese, de que, em comparação aos demais candidatos, há mais demonstração de sentimentos contrários a Fruet do que favoráveis ao
então prefeito, candidato à reeleição. Os resíduos significativos também indicam que,
comparativamente, o candidato incumbente recebeu mais manifestações negativas do
que os desafiantes nos comentários nas páginas de campanha no Facebook.
Considerando a concentração de hashtags negativas ao candidato à reeleição e
sendo objetivo geral caracterizar o debate no contexto local, a análise passa a ter como
foco os sentimentos negativos nas hashtags que mencionam o então prefeito. A próxima etapa da análise investiga se tais sentimentos negativos estão vinculados a temas
específicos nos comentários, considerando aqueles comentários classificados pela análise de conteúdo automatizada. Ressalta-se aqui a proximidade dos eleitores com a esfera política no âmbito municipal, a avaliação negativa do Governo Fruet e as pesquisas
de opinião que elencaram alguns temas como os principais problemas de Curitiba no
período pré-eleitoral.
O objetivo específico aqui é contribuir com informação sobre quais temas os comentários negativos a Fruet estão relacionados. Espera-se que eles estejam vinculados
a críticas à gestão do prefeito, candidato à reeleição. Para essa averiguação, serão considerados aqueles comentários que se apresentaram temáticos, categorizados nas classes
de temas obtidas a partir da análise de conteúdo de dimensão léxica. Ressalta-se que
um mesmo comentário pode conter mais de um tema, bem como que há muitos comentários que não contribuíram para o debate da perspectiva temática. O gráfico abaixo sumariza os temas e sua frequência e intensidade diante do grupo total do corpus.
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Gráfico 2 – Conteúdos temáticos dos comentários nas fanpages de campanha
Fonte: Grupo CPOP/UFPR (2017)
Diante do gráfico, primeiramente, destaca-se que os temas identificados pela análise de conteúdo automatizada representam apenas 22,5% do total de comentários. Ou
seja, esses comentários temáticos representam o debate mais informado da campanha,
discorrendo sobre temas de interesses dos cidadãos, mas não chegam a um quarto do
total. Infraestrutura é o tema que mais aparece, em 5,4% do total, seguido de gestão
pública, com 4,7%. Educação (3,3%), transporte público (3,2%), segurança pública (2,6%)
e saúde (2,3%) também aparecem como categorias temáticas significativas no debate
municipal. Além deles, uma categoria foi constituída só com a presença coletiva e significativa das palavras Táxi e Uber, que apareceram em mais de mil comentários, 1% do
total19. Considerando o cenário local, são temas muito próximos à realidade dos cidadãos, coerentes com uma disputa eleitoral em âmbito municipal.
Para tornar ilustrativas as diferenças entre os temas condicionados pelos comentários positivos e negativos ao prefeito e candidato Fruet, a tabela 5, abaixo, considera
os percentuais de valências da hashtag ao candidato para as categorias temáticas. Esses dados permitem concluir que alguns temas apresentaram percentuais de críticas a
19 Ressalta-se que nem todos os comentários foram classificados como temáticos.
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Debate on-line em campanhas locais: os comentários no Facebook sobre a eleição municipal
de Curitiba em 2016
Fruet maiores que outros, ainda que essa distribuição das categorias de valência dentro
das variáveis temáticas não seja significativa, da perspectiva estatística20. Primeiramente,
nota-se que em todos os temas há o predomínio de comentários com hashtags positivas a Gustavo Fruet. Contudo, comparando-se que com os porcentuais totais, apenas
hashtags em comentários sobre o tema “saúde” se destacam como positivas ao candidato à reeleição. Tema que, inclusive, passa a apresentar um percentual de hashtag
negativa baixa (5,45%) em comparação com porcentual total desse tema a Fruet (9,15%).
Ou seja, as expressões negativas a Fruet são relativamente ausentes em comentários
sobre o tema saúde.
Tabela 5 – Valência das hashtags a Fruet nos comentários por temática21
Positiva
Negativa
Total
N
N
N
%Coluna
%Coluna
%Coluna
Educação
26
11,06
6
10,91
32
10,85
Gestão Púb.
83
35,32
15
27,27
99
33,56
Infraestrutura
51
21,70
19
34,55
71
24,07
Segurança
25
10,64
6
10,91
33
11,19
Transporte
26
11,06
6
10,91
33
11,19
Saúde
24
10,21
3
5,45
27
9,15
Total
235
100,00
55
100,00
295
100,00
Fonte: Grupo CPOP/UFPR (2017)
Voltando-se à coluna de percentuais de valência negativa aos temas, observa-se
que “infraestrutura” é a categoria temática que mais concentra essa informação, com
34,5% das expressões contrárias ao prefeito, superior ao percentual total. Em seguida,
gestão pública também representa quase 30% dos comentários com hashtags negativas, mas, em comparação aos percentuais do total e da valência positiva, não se destaca. Assim, é possível afirmar que, comparativamente, foram feitas mais manifestações
positivas a Fruet do que negativas em comentários sobre o tema “gestão pública”, informações que complementam a caracterização.
20 Ressalta-se a escolha já mencionada de aprofundar a análise temática apenas no candidato à reeleição por ter recebido
mais manifestações negativas, já ser responsável pela memória do eleitor em relação à gestão de Curitiba e cujo governo
apresentou avaliação majoritariamente negativa na opinião pública. Para os demais candidatos (Leprevost e Greca), também
não houve diferença significativa entre as valências de hashtags por tema.
21 Oculta-se a coluna de valência neutra, por não ser representativa, aparecer em poucos temas e não contribuir para
análise entre as valências
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Os comentários no Facebook durante o período de campanha refletiram o debate
local, com temas pertinentes ao âmbito municipal. Fruet é o candidato mais criticado,
conforme indica a tabela 4, e essas ressalvas ao prefeito por parte dos comentadores se
deram, principalmente, sobre o tema de infraestrutura urbana, como indica a tabela 5.
6. Considerações Finais
A análise empírica desenvolvida neste artigo permitiu caracterizar parte do debate
digital sobre as eleições municipais de 2016 em Curitiba, a saber, aquela via comentários
do público em fanpages oficiais dos candidatos no Facebook. A partir do contexto da
disputa local e de uma revisão de literatura sobre a participação on-line no período de
campanha, tecem-se comentários sobre o cenário analisado a partir das três hipóteses
testadas. Com relação à primeira, de que o debate via comentários tenderia a se intensificar ao longo do tempo, a análise demonstrou que o crescimento se concentra nas
semanas decisivas de campanha, com queda significativa quando há a transição do primeiro para o segundo turno. Confirma-se, portanto, que a intensidade do debate tende
a crescer ao longo do tempo, conforme se aproxima o momento de decisão, mas isso
ocorre em dois turnos, sem continuidade entre eles.
Por outro lado, os dados apresentados corroboraram a segunda hipótese apresentada aqui, de que o debate eleitoral não seria difuso, isto é, se concentraria nas páginas
dos candidatos que têm maior presença nas pesquisas de intenção de voto, despertando, portanto, maior interesse de participação digital do eleitorado. Chama a atenção
que o candidato que venceu as eleições, Rafael Greca (PMN), foi aquele que, majoritariamente, concentrou o debate eleitoral em suas postagens quando somados os dois
turnos. Por outro lado, os candidatos Xênia e Ademar Pereira foram os que, significativamente, menos geraram debate no espaço de comentários a seus posts. Cabe destaque, contudo, o fato de que Requião Filho teve maior concentração de comentários no
primeiro turno se comparado a Ney Leprevost, que passou à segunda fase da disputa.
Por fim, podemos afirmar que nossa terceira hipótese, de que o candidato incumbente concentraria mais manifestações negativas por meio de hashtags, também foi
confirmada. Isso porque Fruet, que buscava a reeleição, recebeu proporcionalmente
mais hashtags negativas em comparação aos outros dois principais candidatos e às
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valências positiva e neutra ao próprio incumbente. Ademais, ao olharmos para as valências das hashtags mobilizadas, ratifica-se o domínio da campanha de Greca sobre o debate on-line considerado aqui. Isso porque, majoritariamente, o uso de hashtags positivas também ficou concentrado, acima do que se esperaria se houvesse equilíbrio entre
as demais valências e candidatos, na campanha do candidato que venceu as eleições.
Cabe ressaltar que Gustavo Fruet, o prefeito de Curitiba que concorria à reeleição com altos índices de desaprovação de seu governo, esteve em segundo lugar nas
pesquisas por um bom período da campanha, concentrou a maior quantidade de comentários quando considerado apenas o primeiro turno, mas acabou em terceiro lugar
na disputa. A partir disso, passou-se a considerar a análise da valência dos comentários
com hashtags destinadas ao candidato à reeleição, considerando a perspectiva temática
local.
Em relação ao conteúdo do debate, interessa aqui o fato dele apresentar temas
pertinentes à realidade cotidiana dos eleitores de Curitiba, como a última etapa da análise resumiu. Isso é relevante porque aponta o debate on-line em redes sociais a uma
direção mais temática e qualitativa – do ponto de vista de participação e relação dos
representados com seus representantes – do que limitada a um comportamento próximo ao “torcedor de futebol”, carregado de reforço de posição, ou até mesmo de radicalização como pesquisas anteriores já encontraram em debates on-line durante eleições
nacionais no Brasil (Chaia; Brugnago, 2014; Massuchin; Campos-Domínguez, 2016).
O debate via Facebook em eleições municipais, portanto, mostra-se como um canalizador das demandas locais dos eleitores às campanhas. Além dos temas evidenciados como recorrentes e significativos nos comentários das fanpages oficiais, isso torna-se mais evidente com a concentração de manifestações negativas ao candidato à
reeleição. Além disso, ressalta-se que o tema que, comparativamente, mais concentrou
críticas a Gustavo Fruet foi o de infraestrutura, relacionado a questões como ruas esburacadas ou falta de iluminação pública. É curioso destacar que as pesquisas de opinião
divulgadas antes do período eleitoral reforçavam temas mais coletivos como os principais problemas da cidade – saúde e segurança – enquanto “iluminação” e “asfaltamento
das ruas” eram inexpressivos naquelas pesquisas.
Buscando a resolução de problemas que estão na porta da sua casa, assim, os eleitores recorrem à interação via redes sociais para apresentar suas demandas às campanhas
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ou criticar a gestão em curso pelos serviços públicos. Reforça-se, nesse contexto, a proximidade estabelecida entre candidatos e eleitores em debates locais. Tendo em vista
esta dinâmica, por fim, parece profícuo o investimento em pesquisas que se debrucem
sobre o debate local em redes sociais, algo ainda pouco explorado na literatura sobre
Internet e Política. Espera-se que este trabalho seja impulso para que mais pesquisadores se dediquem a este tema, fomentando o debate acadêmico a respeito do assunto.
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Recebido: 2/09/2017
Aceito: 19/12/ 2017
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