Escrevivências negras

Acolhemos as palavras-vivas de Conceição Evaristo, em sua escrivência que também é de todas e todos nós, para adentrarmos na apresentação
desta produção que busca trazer a público os resumos dos trabalhos apresentados no XI Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as Negro/as
(XI COPENE), realizado na Universidade Federal de Paraná (UFPR) no período de 09 a 12 de novembro de 2020, cujo tema norteador “Negras escrevivências, interseccionalidades e engenhosidades” dialogam com temas pulsantes da contemporaneidade e com os dizeres da poeta negra.

O evento se efetiva a partir do diálogo de três atores históricos fundamentais para sua implementação e execução, são eles a Associação Brasileira de Pesquisadoras e Pesquisadores, Negras e Negros (ABPN), o Consórcio Nacional dos Núcleos de Estudos Afro-brasileiros, representado pelo NEAB/UFPR (em associação com o NEIA BUEM; NEAB-UEL; NUREGS-UEPG; NEAB-IFET; NDHPUC/PR) na qualidade de promotores do evento e a Universidade Federal de Paraná (UFPR) na condição de instituição sede do evento com seus respectivos
núcleos de pesquisas relacionados à temática

Este trabalho pretende rever, sob a ótica da pós-modernidade (LYOTARD, 2009), a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a fim de questionar as noções de sujeito, pautadas na filosofia da tradição ocidental, fruto dos ideais Iluministas do século XVIII. Por esse viés, nos propomos a explorar as micronarrativas (LYOTARD, 2009) que foram silenciadas ao longo da tradição ocidental, e que tiveram e têm, em maior ou menor grau, seus direitos negados e sua história apagada (MCKITTRICK, 2006) (BECKFORD, 2008). Para tanto, utilizaremos a noção de escrevivência (EVARISTO, 2005) como exercício da autorrepresentação no conto A gente combinamos de não morrer (2014), de Conceição Evaristo e o conto No rinsed blue sky, no red flower fences (1988), de Dionne Brand, com o intuito de estabelecer vínculos dialógicos (BAKHTIN, 1992) entre a condição da mulher negra no Brasil e no Canadá. O artigo observa as dimensões dos espaços ocupados pela população negra, sobretudo da mulher, e consequentemente a luta e resistência contra o apagamento de sua enunciação e história que se relacionam com as noções de urbicide e de um black sense of place (MCKITTRICK, 2011). Dessa forma, buscamos desconstruir a visão humanista e universalista da Declaração de 1948, a qual determinou e determina as significações de um todo, sem contar com outras possibilidades enunciativas que remetem às especificidades de cada sujeito em seu meio cultural. Este estudo também se propõe a evidenciar o caráter interseccional das identidades, demonstrando que o eu pós-moderno tem em sua identidade uma amálgama de tantas outras que se interrelacionam e o compõe, situando-o discursivamente no aqui e agora, como tentam explicar os estudos pós-feministas (BUTLER, 2015) e os estudos culturais (KELLNER, 2001).

O objetivo deste artigo é evidenciar aproximações temáticas nas obras das escritoras Conceição Evaristo e Márcia Wayna Kambeba, através de uma breve análise de dois poemas de cada autora. Considerando ambas
escritoras importantes nomes da Literatura de autoria feminina negra e indígena no Brasil, percebe-se em suas escritas o questionamento do processo de silenciamento e apagamento de identidades culturais, através de narrativas que observam a colonização como um sistema que torna os sujeitos inconscientes de sua voz, seu passado, sua origem. Dessa forma, este trabalho tem como principal suporte teórico Bernd (2013), Alves (2010), Figueiredo (2009), Santos (2018) e Miranda (2019), na análise dos conceitos de memória, ancestralidade e resistência nos poemas Meu Rosário e Vozes-mulheres, presentes no livro Poemas de recordação e outros movimentos, de Conceição Evaristo (2008) e nos poemas Ser Indígena-Ser Omágua e Minha Memória - Meu Legado, presentes no livro Poemas e crônicas: Ay Kakyri Tama (Eu moro na cidade), de Márcia Kambeba (2013).

O presente livro tem como proposta temática discutir as escrevivências nas obras de Conceição Evaristo. Nesse sentido, os capítulos apresentam discussões sobre suas obras a partir de perspectivas diversas, mas quase todas confluem para a temática da violência e do silenciamento impostos às mulheres negras, tanto na ficção quanto na realidade concreta. Assim, tais reflexões acerca dessas escrevivências são muito produtivas para pensarmos como é constituída a sociedade brasileira e como é possível recontar a história, de modo que seja dado o devido valor a todas as suas personagens.

A  partir  da  escuta  do  primeiro  álbum  solo  de  Xenia  França  (Xenia,  2017), refletimos  acerca  do  legado  negro  africano  sob  prisma  da  canção  popular.  Propomos “linhas de aproximação” das narrativas cancionais de Xenia enquanto “escrevivências negras”  (EVARISTO
,  2020)  demarcando  o  álbum  como  “espaço  seguro”  de
protagonismo feminino negro como exercício de autorreflexão e autoafirmação (LORDE, 2020; COLLINS, 2019). A vivência artística na sustentação de voz própria resulta numa metalinguagem  da  trajetória  profissional  e  pessoal  de  Xenia  compondo  imagens  e discursos  repletos  de  interfaces  afrodiaspóricas  com  inserção  política  antirracista.  O artigo  retroage  e  re-alimenta  as  escutas  do  disco,  possibilitando  articulações  entre distintas  linguagens  artísticas  (canção popular  e  literatura  brasileira)  na  perspectiva  de intelectuais negras condutoras do legado africano em diálogo com as ciências sociais na contemporaneidade.
Palavras-chaves:  Xenia  França,  canção  popular,  escrevivências,  epistemologias feministas negras.

O presente texto tem como objetivo apresentar e debater reflexões de pesquisa acerca da utilização da fabulação literária como qualificação da pesquisa histórica, a partir de minhas experiências recentes como pesquisadora e orientadora, na condição de mulher branca em diálogo com pesquisadoras e escritoras negras. Parto de breve balanço de movimentos de transformação historiográfica engendrados a partir do início do século XX, relacionando-os aos debates próprios da história das cidades, com destaque para a inserção e mobilização dos chamados grupos subalternizados. Dentro desse escopo, dedico-me à reflexão sobre o emprego da produção literária como método de pesquisa, dialogando com o conceito de “escrevivência” de Conceição Evaristo e interessada nas possibilidades de: tensionamento das violências que produzem e são produzidas pela lógica dos acervos documentais; e produção de histórias próprias de agentes e coletivos majoritariamente ausentes ou criminalizados em documentação oficial. Sugiro que a criação literária produzida por mulheres negras coloca-nos um conjunto de reflexões e horizontes sobre a análise, historização e categorização dos lugares marginalizados nas cidades.

Quais os motivos levam um estudante a escolher um curso de Licenciatura? Para que, por que atuar na docência como profissão e ainda cursar Pedagogia? Que percalços há nessa caminhada?

Enfim, ser professora e pedagoga é profissão e ponto. Ser professora-pedagoga é pronunciar-se entre a denúncia e o anúncio. É ter realizado a aspiração juvenil entendendo criticamente, desde cedo, o compromisso com o estudo, a pesquisa e a dedicação além dos tempos do trabalho na escola.

Ser professora e pedagoga, ou melhor, se apropriar profissionalmente do binômio professora-pedagoga, é ter se constituído cientista da educação que em alguns momentos caminhou sozinha, mas, sobretudo, e ainda bem, na maioria deles, esteve em marcha acompanhada de parceiras e parceiros de estudo, pesquisa, compromisso
político, e principalmente, de luta.

RESUMO: Neste trabalho realizou-se uma leitura analítica de duas personagens da produção literária de Conceição Evaristo, sendo, uma delas, Seni, presente no conto Shirley Paixão, um dos 13 contos que compõem a antologia Insubmissas Lágrimas de mulheres (2016); e Fuizinha, personagem presente no romance Becos da Memória (2017). O objetivo foi discutir um dos principais temas da produção de Conceição Evaristo: a violência contra a mulher, sobretudo, a mulher negra e, em alguns casos, como nos textos selecionados, a violência feminina perpetrada desde a infância.