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O Jardim Secreto - Nova Edição
O Jardim Secreto - Nova Edição
O Jardim Secreto - Nova Edição
E-book363 páginas5 horas

O Jardim Secreto - Nova Edição

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Sobre este e-book

Nova edição dessa grande obra literária escrita pela autora inglesa Frances Hodgson Burnett.

Considerado um dos mais importantes livros infanto juvenis do século XX pela National Education Association, a obra está entre os 100 livros mais indicados por professores em língua inglesa.

Mágico e envolvente, o Jardim Secreto é um livro mágico e nos traz mensagens importantes sobre a amizade, a fé e o poder da imaginação.

Um livro para todas as idades.

Uma leitura carregada de lições que guardaremos por toda a vida.

Adentre com Mary e seus amigos neste Jardim.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de fev. de 2020
ISBN9788582184684
O Jardim Secreto - Nova Edição
Autor

Frances Hodgson Burnett

Frances Hodgson Burnett (1849–1924) grew up in England, but she began writing what was to become The Secret Garden in 1909, when she was creating a garden for a new home in Long Island, New York. Frances was a born storyteller. Even as a young child, her greatest pleasure was making up stories and acting them out, using her dolls as characters. She wrote over forty books in her lifetime.

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    Pré-visualização do livro

    O Jardim Secreto - Nova Edição - Frances Hodgson Burnett

    Ficha Técnica

    Frances Hodgson Burnett - O Jardim Secreto

    São Paulo / 2012

    Copyright © 2012 by Editora Dracaena

    Produção Editorial - Editora Dracaena

    Editor - Léo Kades

    Projeto Gráfico e Diagramação: Francieli Kades

    Capa: César Oliveira

    Revisão: Bianca Carvalho

    Luciane Rangel

    Tradução: José Luiz Perota

    Bianca Carvalho

    Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto 6.583, de 29 de setembro de 2008) 1ª Edição: setembro / 2012

    Burnett, Frances Hodgson

    O Jardim Secreto / Frances Hodgson Burnett

    Tradução José Luiz Perota e Bianca Carvalho

    Título Original: The secret garden

    ISBN: 978-85-8218-030-3

    1. Fantasia, Clássicos da literatura, Literatura infantojuvenil.

    Publicado com autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida sem a devida autorização da Editora.

    Rua Edson Crepaldi, 720 – Bal Rincão

    CEP 88820-000 - Içara – SC

    Tel. (48) 3468-4544

    www.dracaena.com.br

    Prefácio

    Quando eu era pequena, eu tinha uma mania muito peculiar de assistir o mesmo filme diversas vezes, tantas que chegava até mesmo a decorar as falas, cada detalhe de cada cena e todas as músicas, quando elas existiam. Entretanto, um desses filmes marcou ainda mais a minha infância, influenciando minha vida de muitas maneiras. Acredito, sonhadora como sou, que ele deve ter influenciado milhares de crianças como eu, e muitos adultos também. Trata-se, claro, de O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnett.

    Frances Hodgson Burnett, de quem eu mal sabia o nome quando tinha meus oito anos de idade, foi uma escritora inglesa, que viveu entre os séculos XIX e XX, um pouquinho depois de Jane Austen e das Irmãs Brontè. Mas ao contrário destas, os maiores sucessos de Frances foram aqueles voltados ao público infantil. Bem, e alguns deles, além de O Jardim Secreto, vocês devem conhecer muito bem, como: O Pequeno Lorde e A Princesinha - que foi outro filme que marcou minha infância.

    O mais curioso de se ler uma obra como essa, mais de cem anos após sua publicação (Jardim Secreto foi originalmente publicado em 1909), é que ele ainda é uma lição de vida para qualquer criança Mary Lennox, Colin Craven e Dickon Sowerby, encontramos um pouquinho de nós mesmos ou das crianças que conhecemos. E quem nunca sonhou em ter um segredo tão grandioso, tão especial e tão mágico quanto um Jardim Secreto? Quem, quando criança, não sonhou em, assim como os pequenos protagonistas do livro, ver animais crescendo e correndo, flores nascendo e mágica sendo feita na sua frente? Quem nunca sonhou em ter uma nova chance?

    E enganou-se quem pensa que a ideia deste livro é falar sobre os encantos de um jardim que renasce pelas mãos de uma criança, pois este livro fala sobre novas chances. Chances de voltar à vida, chances de crescer e sobreviver, chances de aceitar as pessoas como elas são, chances de recomeçar, chances de se tornar uma pessoa melhor, experimentando e simplesmente apreciando as coisas mais simples da vida.

    E é encantador perceber o quanto essa obra ainda mexe comigo, mesmo depois de mais de quinze anos, especialmente agora, por ter a oportunidade de lê-la sob outros olhos, sob outra perspectiva, com uma nova visão de mundo. Creio que isso acontecerá com a maioria das pessoas que conhece o filme, mas ainda não teve a oportunidade de conhecer o livro, que é ainda mais mágico.

    E por falar em Mágica... bem, acho que quem fez a maior mágica em O Jardim Secreto não foi Colin, nem Mary, nem Dickon, nem nenhum dos outros personagens queridos que permanecerão em minha mente por muito tempo. Quem fez a maior Mágica neste livro foi Frances Hodgson Burnett, que com suas mãos encantadas teceu um livro inesquecível.

    Aproveite a leitura...

    Não resta ninguém

    Quando Mary Lennox foi enviada para Misselthwaite Manor para viver com seu tio, todos disseram que era a criança de aparência mais desagradável jamais vista. E era bem verdade.

    Tinha o rosto e o corpo um pouco magros, cabelos claros e finos, e uma expressão ranzinza. Os cabelos e a face eram amarelados, porque nascera na Índia, e sempre estivera doente de uma maneira ou de outra. Seu pai exercia o cargo de oficial do governo inglês e sempre estava ocupado e doente, e sua mãe, por ser possuidora de uma grande beleza, cuidava apenas de ir a festas e divertir-se com pessoas alegres. Definitivamente não queria uma menininha e, quando Mary nasceu, entregou-a aos cuidados de uma ama, que logo compreendeu que se desejasse agradar a Mem Sahib, a mãe, deveria manter a criança longe dos seus olhos, tanto quanto possível. 

    Então, enquanto fora um bebezinho doente, rabugento e feio, foi mantida afastada, e, mesmo quando se tornou uma coisa doente, rabugenta e a dar os primeiros passos, foi mantida afastada também. Não se lembrava de qualquer coisa familiar, a não ser os rostos escuros de sua aia e de outros criados nativos, que sempre a obedeciam e faziam tudo da maneira como queria, porque a mãe ficaria irada se fosse perturbada pelo seu choro. Aos seis anos, era uma criança desagradável, tão tirânica e egoísta quanto jamais se vira. A jovem governanta inglesa, que veio para lhe ensinar a ler e escrever, demonstrava tanta aversão por ela, que abandonou seu posto em três meses e, quando outras governantas eram contratadas para tentar fazer a mesma tarefa, sempre iam embora em um tempo mais curto do que a primeira. Assim, se Mary não quisesse realmente saber como ler livros, nunca aprenderia as letras de fato.

    Em uma manhã assustadoramente quente, quando tinha cerca de nove anos, acordou sentindo-se muito irritada, e ficou mais irritada ainda quando viu que a criada que estava de pé ao lado de sua cama não era a sua ama.

    ─ Por que você veio? ─ disse à mulher estranha. ─ Não vou deixar você ficar. Quero minha ama.

    A mulher olhou assustada, mas apenas disse, gaguejando, que a ama não poderia vir e, quando Mary ficou ensimesmada, bateu e deu-lhe pontapés, ficou ainda mais assustada, e repetiu que a ama não poderia ficar com ela.

    Havia algo de misterioso no ar naquela manhã. Nada estava sendo feito em sua ordem habitual, vários criados nativos pareciam ter faltado, e aqueles que Mary via, escapuliam ou apressavam-se, com as faces um pouco pálidas e apavoradas. Mas ninguém parecia querer lhe dizer nada, e sua ama não estava lá. Na realidade foi deixada sozinha enquanto a manhã seguia, então, acabou indo perambular no jardim, começando a brincar sozinha sob uma árvore, perto da varanda. Fingiu que estava fazendo um canteiro, fincando galhos com flores de hibisco grandes e escarlates em pequenos montes de terra. Durante todo o tempo, sentia que sua fúria crescia mais e mais, e resmungava para si mesma todas as coisas que diria e os nomes pelos quais chamaria a ama, quando esta retornasse.

    ─ Porca! Porca! Filha de porcos! ─ disse, por saber que chamar um nativo de porco era o pior de todos os insultos.

    Ela rangia os dentes, dizendo aquelas coisas por repetidas vezes, quando viu sua mãe surgir da varanda com alguém. Estava com um lindo moço, e eles conversavam em vozes baixas e estranhas. Mary conhecia o moço lindo, que parecia um menino.

    Ouvira que era um oficial muito jovem, que acabara de chegar da Inglaterra. A criança arregalou os olhos para ele, mas com ainda mais intensidade para sua mãe. Sempre fazia isso quando tinha uma chance de vê-la, porque a Mem Sahib – Mary costumava chamá-la desta forma, com mais frequência do que por qualquer outro nome – era uma pessoa alta, esbelta e linda, e usava roupas muito encantadoras. Seu cabelo era como fios de seda encaracolados, seu nariz era tão pequeno e delicado, que fazia com que ela parecesse sempre esnobar as coisas, e seus olhos eram grandes e sorridentes. Todas as suas roupas eram elegantes e flutuantes, e Mary dizia que eram cheias de renda. Pareciam mais cheias de renda do que nunca naquela manhã, mas seus olhos não estavam sorridentes de modo algum. Estavam grandes e apavorados, e erguiam-se para o rosto do lindo e jovem oficial, como se lhe implorassem alguma coisa.

    ─ É assim tão ruim? Tão ruim? ─ Mary ouviu-a dizer.

    ─ Muito. ─ o moço respondeu com uma voz trêmula. ─

    Muito, Sra. Lennox. A senhora deveria ter ido para as montanhas há duas semanas.

    A Mem Sahib torceu as mãos.

    ─ Oh, eu sabia que deveria ter ido! ─ ela choramingou. 

    ─ Só fiquei para ir àquele estúpido jantar. Que tola fui!

    Naquele mesmo instante, o som de um lamento tão alto irrompeu dos quartos dos criados, que ela agarrou o braço do moço, e Mary permaneceu tremendo da cabeça aos pés. O lamento tornou-se cada vez mais selvagem.

    ─ O que é isso? O que é isso? ─ a senhora Lennox disse com voz entrecortada.

    ─ Alguém morreu. ─ respondeu o jovem oficial. ─ Você não disse que já estava acontecendo com seus criados.

    ─ Não sabia! ─ a Mem Sahib choramingou. ─ Venha comigo!

    Venha comigo! ─ e virou-se, entrando na casa apressadamente.

    Depois disso, coisas apavorantes aconteceram, e o mistério da manhã foi explicado à Mary. A cólera surgiu em sua forma mais fatal, e as pessoas estavam morrendo como moscas. A ama caíra doente durante a noite, e, por ela ter acabado de morrer, que os criados lamentavam-se nas choupanas. Naquele mesmo dia, três outros criados caíram mortos, e outros fugiram de terror. Havia pânico por todos os cantos e pessoas moribundas em todos os bangalôs.

    Durante a confusão e o apintarroxoamento do segundo dia, Mary escondeu-se no quarto das crianças e foi esquecida por todos. Ninguém pensou nela, ninguém a queria, e coisas estranhas, das quais não sabia nada, aconteciam. Alternadamente chorava e dormia, enquanto as horas passavam. Sabia apenas que as pessoas estavam doentes e que ouvia sons misteriosos e assustadores. Em uma certa hora, arrastou-se para a sala de jantar e encontrou-a vazia, embora houvesse uma refeição parcialmente terminada sobre a mesa, e as cadeiras e os pratos pareciam ter sido deixados de lado apressadamente, quando os comensais precisaram se levantar, subitamente, por alguma razão. 

    A criança comeu uma fruta e biscoitos, e, por estar com sede, bebeu um copo de vinho que estava quase cheio. A bebida era doce, e ela não sabia o quão forte era. Em pouco tempo a fez ficar muito sonolenta, e ela voltou para seu quarto, confinando-se novamente, assustada pelos choros que ouvia nas choupanas e pelo som produzido pelos pés apressados. O vinho a deixou tão sonolenta, que mal conseguiu manter os olhos abertos. Então deitou-se e não soube de mais nada por um longo tempo.

    Muitas coisas aconteceram durante as horas em que dormiu tão pesadamente, mas, pelo menos, ela não era perturbada pelos lamentos nem pelo som das coisas sendo levadas para dentro e para fora do bangalô.

    Quando acordou, aquietou-se e olhou para a parede. A casa estava perfeitamente silenciosa. Ela nunca a tinha visto tão silenciosa antes. Não ouvia vozes nem passos, e queria saber se todos tinham contraído muita cólera e se os problemas já tinham acabado. Queria saber também quem cuidaria dela, já que sua ama estava morta. Haveria uma nova ama e, talvez, conheceria novas histórias. Já estava muito cansada das histórias antigas. Não chorou por sua enfermeira ter morrido. Não era uma criança afetuosa e nunca se importava muito com ninguém. O barulho, a confusão e o lamento por causa da cólera assustaram-na, e ficou furiosa porque ninguém parecia se lembrar de que estava viva. Todos estavam apavorados demais para pensar em uma menininha de quem ninguém gostava. Quando as pessoas contraíam a cólera, pareciam não se lembrar de nada, exceto delas mesmas. Mas se todos ficassem bem novamente, certamente alguém se lembraria e iria procurá-la.

    Mas ninguém apareceu e, como continuava esperando, a casa parecia se tornar mais e mais silenciosa. Ouviu um ruído vindo do capacho e, quando baixou os olhos, viu uma pequena cobra, deslizando-se pelo chão e olhando para ela com olhos como joias. Não estava assustada, porque se tratava de um animalzinho inofensivo, que não a machucaria, e parecia apressado para sair do quarto. A cobra escorregava por debaixo da porta enquanto a menina a observava.

    ─ Tudo está tão estranho e silencioso. ─ disse. ─ Parece que não há ninguém no bangalô, exceto eu e a cobra.

    Logo em seguida, ouviu passos no recinto e depois na varanda. Eram passos de homens que entraram no bangalô e falaram em sussurros. Ninguém foi recebê-los ou falar com eles enquanto abriam as portas e examinavam os cômodos.

    ─ Que desolação! ─ a menina ouviu uma voz dizer. 

    ─ Aquela linda, linda mulher! Penso na criança também. Ouvi dizer que havia uma criança, embora ninguém a tenha visto.

    Mary estava de pé no meio do quarto quando abriram a porta poucos minutos depois. Parecia uma coisinha feia, zangada, e estava carrancuda, porque começava a sentir fome e vergonhosa-mente abandonada. O primeiro homem que entrou era um oficial forte, que uma vez vira conversando com seu pai. Parecia cansado e aflito, mas quando a viu, ficou tão sobressaltado, que quase se lançou para trás.

    ─ Barney! ─ gritou. ─ Há uma criança aqui! Uma criança sozinha! Em um lugar como este! Piedade de nós, quem é ela?

    ─ Sou Mary Lennox, ─ a menininha disse, contraindo-se rigidamente. Achava que o homem era muito rude por chamar o bangalô do seu pai um lugar como este! ─ Adormeci quando todos contraíram a cólera e acordei somente agora. Por que ninguém veio me buscar?

    ─ É a criança que ninguém encontrava! ─ exclamou o homem, voltando-se para seus companheiros. ─ Ela, de fato, foi esquecida!

    ─ Por que fui esquecida? ─ disse Mary, batendo o pé. ─ Por que ninguém vem me pegar?

    O moço, cujo nome era Barney, olhou para ela com tristeza.

    Mary até pensou tê-lo visto piscar os olhos, como que para derramar lágrimas.

    ─ Pobre criança! ─ disse. ─ Não resta ninguém para vir pegá-la.

    Foi daquela estranha e repentina maneira que Mary descobriu que não lhe restava pai nem mãe, que morreram e foram levados durante a noite. E os poucos criados nativos que não morreram, também deixaram a casa tão rápido quanto puderam; mas nenhum deles sequer se lembrava de que havia uma Missie Sahib. Era por isso que o lugar estava tão silencioso. Era verdade que não havia ninguém no bangalô, exceto ela e a pequena cobra rastejante.

    Dona Mary, toda ao contrário

    Mary gostava de olhar para sua mãe, a certa distância, e a achava muito bonita, mas, como sabia muito pouco sobre ela, era difícil esperar que a amasse ou que sentisse muito a sua falta quando ela se foi. De fato, não sentiu a falta dela e, como era uma criança absorta, entregou-se completamente a pensamentos sobre si mesma, como sempre fazia. Se fosse mais velha, não hesitaria em estar muito ansiosa por ter sido deixada sozinha no mundo.

    Mas era muito jovem e, como sempre recebera cuidados, imaginava que era o que sempre aconteceria. O que ela gostaria de saber era se ia ficar com pessoas agradáveis, que seriam educadas com ela e que lhe deixariam viver do seu próprio jeito, como sua ama e os outros criados nativos faziam.

    Sabia que não ia ficar na casa do clérigo inglês, para onde foi levada a princípio. Não queria ficar lá. O clérigo inglês era pobre e tinha cinco crianças, quase todas de sua idade, que usavam roupas maltrapilhas e estavam sempre disputando e roubando os brinquedos umas das outras. Mary odiava o bangalô descuidado deles e agia de forma tão desagradável, que depois do primeiro ou segundo dia, ninguém brincava mais com ela. No segundo dia, deram-lhe um apelido que a fez ficar furiosa.

    Foi Basil quem pensou no apelido primeiro. Basil era um garoto com cínicos olhos azuis e nariz arrebitado, e Mary o odiava.

    Ela estava brincando sozinha debaixo de uma árvore, assim com brincara no dia em que a cólera irrompeu. Fazia montes de terra e caminhos para um jardim, e Basil veio e se aproximou para vê-la. Logo, ficou bastante interessado e, repentinamente, deu uma sugestão:

    ─ Por que você não põe um monte de pedras ali e finge que é um jardim ornamental? ─ o garoto disse. ─ Ali no meio. ─ e inclinou-se sobre ela para apontar o lugar.

    ─ Vá embora! ─ gritou Mary. ─ Não gosto de meninos.

    Vá embora!

    Por um momento, Basil pareceu irritado e, então, começou a provocar. Estava sempre provocando seus irmãos. Dançou ao redor dela por mais de uma vez, fez caretas, cantou e riu.

    "Dona Mary, toda ao contrário, Como cresce seu jardim?

    Com campânulas prateadas e conchas de berbigão, E cravos-de-defunto, todos enfileirados."

    Cantou isso até que as outras crianças ouviram e riram também; e quanto mais irritada Mary ficava, mais cantavam: Dona Mary, toda ao contrário. E depois disso, toda vez que as encontrava, chamavam-lhe de Dona Mary toda ao contrário, quando falavam dela umas às outras, e, frequentemente, quando falavam com ela.

    ─ Você vai ser mandada para casa, ─ disse-lhe Basil ─, no fim da semana. E estamos contentes com isso.

    ─ Também estou contente. ─ respondeu Mary. ─ Onde fica esta casa?

    ─ Ela não sabe onde fica a casa! ─ disse Basil, com o desprezo de uma criança de sete anos. ─ Na Inglaterra, é claro. Nossa avó mora lá, e nossa irmã, Mabel, foi morar com ela no ano passado.

    Você não vai morar com sua avó. Você não tem nenhuma. Vai morar com seu tio. Seu nome é Sr. Archibald Craven.

    ─ Não sei nada sobre ele. ─ vociferou Mary.

    ─ Sei que não sabe. ─ Basil respondeu. ─ Você não sabe nada. Meninas nunca sabem nada. Ouvi papai e mamãe conversando sobre ele. Mora em uma casa de campo antiga, grande, imensa e deserta, e ninguém se aproxima dele. O homem é tão ranzinza que não permite. Mas, de qualquer forma, não se aproximariam, mesmo se ele permitisse. Ele é corcunda e horrível.

    ─ Não acredito em você. ─ disse Mary. Logo depois, virou as costas e pôs os dedos nos ouvidos, não querendo ouvir mais nada.

    Mas ela pensou no que ele disse muitas vezes, mais tarde.

    Quando a Sra. Crawford lhe disse, naquela noite, que ia velejar para a Inglaterra dentro de poucos dias para ficar com seu tio, o Sr. Archibald Craven, que morava em Misselthwaite Manor, a menina parecia tão insensível e obstinadamente desinteressada, que não sabiam o que pensar dela. Tentaram ser amáveis, mas ela apenas afastava o rosto quando a Sra. Crawford tentava beijá-la, e mantinha-se rija quando a Sra. Crawford lhe dava palmadinhas no ombro.

    ─ É uma criança tão sem graça, ─ a Sra. Crawford disse mais tarde, cheia de compaixão ─, e sua mãe era uma criatura tão linda. Tinha modos muito elegantes, mas Mary tem os modos mais feios que jamais vi em uma menina. As crianças chamam-lhe de Dona Mary, toda ao contrário e, embora seja crueldade delas, não é difícil compreendê-los.

    ─ Talvez, se sua mãe, que tinha um rosto lindo e modos elegantes, fosse ao quarto onde Mary ficava com mais frequência, a menina poderia ter aprendido alguns bons modos também. É

    muito triste, agora que a pobre e bela mãe morreu, lembrar que muitas pessoas nem sequer sabiam que, ela tinha uma filha.

    ─ Creio que a mãe mal olhava para ela. ─ suspirou a Sra. Crawford. ─ Quando sua ama morreu, não havia mais ninguém para dar atenção àquela coisinha. Pense nos criados fugindo e deixando-a totalmente sozinha naquele bangalô deserto. O coronel McGrew disse que quase deu um pulo de surpresa quando abriu a porta e encontrou-a em pé, sozinha, no meio do quarto.

    Mary fez a longa viagem marítima para a Inglaterra sob os cuidados da esposa de um oficial, que estava levando seus filhos para um internato. Estava muito absorta na tarefa de cuidar de seu filhinho e de sua filhinha, muito feliz por entregar a criança à mulher que o Sr. Archibald Craven enviou para encontrá-la em Londres. A mulher em questão era sua governanta em Misselthwaite Manor, e seu nome era Sra. Medlock. Era uma mulher robusta, com bochechas muito vermelhas e olhos pretos penetrantes. 

    Usava um vestido de uma cor púrpura muito forte, coberto por um manto de seda preto com uma franja âmbar-negro e uma touca preta com flores de veludo púrpura, que se sobressaíam e balançavam quando ela movia a cabeça. Mary não gostou dela de modo algum, mas como muito raramente gostava das pessoas, não havia nada de notável nisso. Além do mais, estava mais do que evidente que a Sra. Medlock não se importava muito com ela.

    ─ Palavra de honra! Ela é uma criaturinha sem graça, cheia de necessidades! ─ a mulher disse. ─ E ouvimos dizer que sua mãe era um encanto. Ela não herdou muito disso, herdou, senhora?

    ─ Talvez melhore quando se tornar mais velha. ─ disse a esposa do oficial com bom humor. ─ Se não fosse tão pálida e tivesse uma expressão mais atraente, suas características seriam melhores. Crianças mudam muito.

    ─ Ela terá que mudar muito. ─ respondeu a Sra. Medlock. ─ E não há nada apropriado para educar crianças em Misselthwaite, se quer saber!

    Elas pensavam que Mary não podia ouvi-las, porque estava em pé, um pouco afastada, olhando pela janela do hotel particular para onde foram. Observava os ônibus que passavam, os táxis e as pessoas, mas ouviu-as muito bem, e ficou muito curiosa sobre seu tio e o local em que morava. Que tipo de lugar era e como seria o tio? O que era um corcunda? Nunca vira um. Talvez não houvesse corcundas na Índia.

    Desde que passara a morar nas casas de outras pessoas e que não tinha uma ama, começou a sentir-se solitária e a ter estranhos pensamentos, que eram novos para ela. Começou a se perguntar por que nunca parecia pertencer a alguém, mesmo quando seu pai e sua mãe estavam vivos. Outras crianças pareciam pertencer a seus pais e suas mães, mas ela nunca parecia ser realmente a menininha de alguém. Tinha criados, comida e roupas, mas ninguém ligava para ela. Não sabia que as pessoas agiam assim porque a achavam uma criança desagradável; mas também, é claro, ela própria não sabia o que significava ser desagradável. Frequentemente, achava que as outras pessoas o eram, mas ela própria não sabia que era tão desagradável.

    Achava que a Sra. Medlock era a pessoa mais desagradável que já vira, com um rosto comum, bastante maquiado, e com sua touca encantadora, porém comum. No dia seguinte, quando partiram em sua jornada para Yorkshire, a menina caminhou, através da estação ferroviária até o vagão, com a cabeça erguida e tentando manter-se tão distante da governanta quanto podia, porque não queria que pensassem que pertencia a ela. Pensar que as pessoas poderiam imaginar que ela era a menininha da governanta iria deixá-la furiosa.

    Mas a Sra. Medlock, de modo algum, sentia-se perturbada por ela ou por seus pensamentos. Era o tipo de mulher que não tolerava tolices de crianças . Pelo menos, era o que teria dito se lhe perguntassem. Não queria ir para Londres, justo quando a filha de sua irmã Maria iria se casar, mas tinha um cargo confortável, bem pago, como governanta em Misselthwaite Manor, e a única maneira pela qual poderia manter isso era fazer o que o Sr. Archibald Craven ordenava. Nunca se atreveria sequer a perguntar qualquer coisa.

    ─ O capitão Lennox e sua esposa morreram de cólera. ─ o Sr. Craven disse, com seu jeito breve e indiferente. ─ O capitão Lennox era irmão de minha esposa, então sou o tutor da filha deles. A criança deve ser trazida para cá. Você deve ir a Londres para resolver isso.

    Então, a governanta arrumou sua pequena mala e fez a viagem. Mary sentou-se em seu canto do vagão de trem, parecendo sem graça e inquieta. Não tinha nada para ler ou olhar e, em seu colo, cruzou as mãos pequenas e finas nas quais usava luvas pretas.

    Seu vestido preto a fazia parecer mais amarelada do que nunca, e o cabelo minguado e claro perdia-se sob seu chapéu de crepe preto.

    ─ Eu nunca vi uma menina tão rabugenta em toda minha vida. ─ era o que a Sra. Medlock achava. Nunca vira uma criança sentada daquele jeito, sem fazer nada e,

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