F9 Literatura Cearense PDF
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9 Da Vanguarda
à Ditadura
Literatura em Encruzilhadas
Fernanda Diniz e Kedma Damasceno
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a
Realização
1.
A PALO SECO
omo você já deve ter percebi-
do, nossos módulos têm atra-
vessado variados períodos da
história. Em cada um deles, a
2.
literatura e as artes em geral se
manifestam de forma distinta, a
partir de influências e de novas
contribuições. Neste módulo,
também situado em um deter-
minado recorte de tempo, trazemos a você VANGUARDA?
um estudo que impulsiona a reflexão acerca No sétimo módulo de nosso
dos conceitos de vanguarda e de geração, curso, soubemos um pouco
tanto no âmbito nacional, quanto no local. sobre as vanguardas euro-
Assim, você poderá acompanhar conosco peias e as suas influências no
como se deu a “encruzilhada” entre a literatu- surgimento do Modernismo
ra vanguardista e alguns dos principais fatos brasileiro. A palavra vanguar-
históricos e literários desse período, perpas- da, partindo do pressuposto
sando a ditadura civil-militar brasileira e se es- francês avant-garde – pois
tendendo até a década seguinte, ou seja, es- tem origem latina e alemã,
tamos entre as décadas de 1950, 1960 a 1970. ainda no século XII –, significa, literalmente,
Para você, que admira e busca cada vez a “guarda avançada ou parte frontal de um
mais aprofundar seus conhecimentos so- exército”. Sabendo disso, você consegue
bre a Literatura Cearense, é importante associar o termo ao surgimento dos diver-
saber que durante esse período nossos es- sos movimentos de ruptura artística do
critores, a exemplo de seus antecessores, início do século XX, que tinham por obje-
também se mantinham antenados com o tivo “tomar a dianteira” da esfera artística,
que acontecia no país e procuravam acom- rompendo esteticamente com tudo aquilo
panhar, renovando ou não, os demais mo- que para eles representava uma arte ultra-
vimentos e produções artístico-culturais. E, passada e que privilegiava e atendia princi-
motivados pelo que o professor e escritor palmente aos interesses da classe burguesa.
Batista de Lima denomina de “literatu- Para compreender melhor o contexto van-
ra de mutirão”, criariam por aqui, mesmo guardista da literatura no Brasil e no Ceará, é
quando meteoricamente, novos grupos li- preciso uma revisão no mínimo básica das
terários. Seguindo a rota destes escritores principais vanguardas históricas da Europa,
que buscavam romper padrões estéticos cientes que somos de suas significativas in-
e/ou político-sociais, esperamos contri- fluências. Mas, claro, devido ao curto espaço
buir para ampliar o debate sobre os estudos de que dispomos, não poderemos fazê-la
em Literatura Cearense. Sinta-se convidado aqui mais profundamente, contudo é vasta a
para entoar conosco este canto de ruptura. bibliografia que você poderá inclusive encon-
Está curioso(a)? Pois tomemos as ruas! trar na internet sobre tais estéticas. Pesquise!
4.
outros artifícios que possibilitassem a criação
de uma poesia dotada de objetividade.
O contexto social, político e econômi-
co da década de 50 no Brasil, o governo JK,
a construção de Brasília (1957-1960), entre
O CONCRETISMO outros, contribuiu bastante para a inserção
e fortalecimento das ideias de ruptura pos-
ARARAJUBA tuladas pelo movimento de poesia concreta
“É a poesia concreta quem inaugu- no país. Perceba que, no âmbito dos grandes
ra o segundo ciclo vanguardista centros São Paulo e Rio de Janeiro, a vanguar-
no contexto da modernidade lite- da concretista encontrou o espaço ideal para
rária brasileira. ” A professora de Te- o lançamento de suas ideias que claramente
oria Literária Iumna Maria Simon, dialogavam com o anseio pela moderniza-
em seu ensaio “Esteticismo e parti- ção tão em voga. A valorização dos meios de
cipação: as vanguardas poéticas no comunicação de massa também foi bastante
contexto brasileiro (1954-1969)”, faz significativa nesse momento, como mencio-
essa afirmação para ratificar que, na o crítico Antonio Candido em seu ensaio
depois do Modernismo de 22, nos “Literatura e Subdesenvolvimento” (1970).
anos de 1950, o Concretismo surge no Bra- E como aconteceu a chegada do Concre-
sil e assume o posto de segundo momento tismo ao Ceará, sabido que este era um es-
vanguardista de relevância no país. tado periférico e ainda predominantemente
O movimento nacional de Poesia Concreta agrário, ou seja, longe deste afã urbanístico
nasceu nos primeiros anos da década de 1950, que predominava o eixo sul e sudeste brasi-
pelo trabalho do grupo brasileiro Noigandres, leiro? É o que veremos a seguir.
6.
que conseguiam acompanhar as técnicas tudo, apesar de não se dedicarem tanto ao
da nova poesia. Em linhas gerais, pode-se projeto da poesia concreta, percebe-se que
dizer que o movimento da poesia concre- a manifestação dessa vanguarda no estado,
ta no Ceará encontrou, aqui, solo fértil para além de legar aos poetas cearenses técni-
seus adeptos e suas atividades e produções. cas de composição e experimentação es-
tética, causou alguma estranheza no meio
A GERAÇÃO 60
Geração 60 do Modernis-
ainda fortemente tradicionalista, cumprin-
mo Brasileiro se caracteriza
do assim, ao menos em parte, o desígnio de
como um movimento que
todas as vanguardas.
apresenta aspectos artísti-
cos e literários provenien-
tes de diferentes tempos
e espaços. Nelly Novaes
Coelho é uma das primeiras
estudiosas a abordar, em
plano nacional, autores dessa faixa geracio-
nal, reunindo-os na Geração 60. Em Carlos
Nejar e a “Geração 60”, a autora escreve:
Chamamos de ‘Geração de 60’ aos poetas
das mais variadas tendências que se reve-
laram ou firmaram na década que acaba
de findar e que apresentam como denomi-
nador comum, a intensa pesquisa no sen-
tido do reajustamento da linguagem às
solicitações dos novos tempos, e o impulso
dinâmico da integração do homem e da
poesia no processo histórico em desen-
volvimento. (COELHO, 1971, p. 170).
Notamos que no discurso de Coelho
verifica-se na Geração 60 o surgimento de
novas preocupações, tanto no que se refere
à construção da linguagem quanto às te-
máticas a serem desenvolvidas.
Em 1995, o poeta, teórico, ensaísta e crí-
tico cearense Pedro Lyra organizou uma
antologia intitulada SINCRETISMO: a poesia
da Geração 60. Trata-se de uma coletânea
de 628 páginas, antecedida por um longo
estudo inicial sobre o conceito de “Geração”.
Nessa obra, o autor mapeia, classifica e ana-
7.
primeiros livros de poemas), Ciro Colares,
Caio Cid (pseudônimo de Carlos Cavalcan-
ti), Juarez Barroso (seu único livro publicado
em vida ganhou o Prêmio José Lins do Rêgo,
em 1968), Sânzio de Azevedo (publicaria seu
O GRUPO SIN livro de estreia como poeta, sendo, entretan-
s anos 60 no Ceará, cul- Ou seja, os anos de 1960, seriam de grande to, mais reconhecido futuramente pela ex-
turalmente, foram mar- produção literária no Ceará, do CLÃ e de in- tensa bibliografia sobre Literatura Cearense),
cados por diferentes dependentes, o que é facilmente constatado Caio Porfírio Carneiro, entre outros.
levantes de resistência em uma breve lista de publicações do perío- É no meio desse contexto que, em 1967,
artístico-social, no que do que você poderá encontrar na Biblioteca surge o grupo SIN, tendo como principal
se refere à literatura, ao Virtual do AVA. A seguir, alguns de nossos diretriz o sincretismo literário e artístico.
teatro e ao cinema. autores que publicaram na década de O movimento teve vida curta, porém
É importante nunca 1960: Fran Martins, Aluízio Medeiros, Eduar- produtiva. Iniciou-se com a articulação de
esquecermos que apesar do Campos (com grande profusão de gêne- estudantes, principalmente dos cursos de
de tratarmos aqui de ros: contos, romances e dramaturgia), Artur Direito e de Letras da Universidade Federal
outros movimentos que surgiriam nos anos Eduardo Benevides, Otacílio Colares, Morei- do Ceará (UFC), interessados por literatura e
50, 60 e 70, o CLÃ continuaria suas atividades, ra Campos, Milton Dias, Lúcia Martins (es- outras artes. Observe que o nome do grupo
entretanto, como afirma Sânzio de Azevedo, treando em livro), Durval Aires (publicando deriva de sincretismo, palavra oriunda do
“perdendo este sentido de movimento revo- suas “novelas-reportagens”), João Jacques étimo grego (synkretismos), que, conforme
lucionário (como aliás seria de se esperar), (irmão de Paulo Sarasate e redator-cronista o Dicionário online Caldas Aulete é um “sis-
até transformar-se numa agremiação aber- de O POVO, que surgia na cabeça do Cipó tema filosófico que consiste em combinar
ta, na qual vão ingressando outros nomes de Fogo, em 1931, publicaria crônicas e con- as opiniões e os princípios de diversas esco-
de nossa literatura”. (AZEVEDO, 1976, p.500). tos), Margarida Saboia de Carvalho (filha de las; mistura de opiniões combinadas para
9.
nha Jr, Juarez Leitão, Mário Nogueira, Vicente
Freitas, Márcio Catunda, Guaracy Rodrigues, lando por bancas de revistas em dezessete
Stênio Freitas, Costa Senna, Ricardo Guilher- estados do Brasil e contando com 12 cola-
me, Walden Luiz, Aluísio Gurgel do Amaral Jr. boradores internacionais, de países como
e Mário Gomes, entre muitos, muitos outros. Portugal, Espanha, Suécia, Estados Unidos e
Entre as atividades do Clube estava a or- LITERATURA Suíça. Alguns dos nossos escritores estreariam
n’O Saco, como o cronista Airton Monte, por
ganização e publicação de antologias – che-
gou a publicar quatro, sendo a última com N’O SACO exemplo, que apenas em 1979 lançaria seu pri-
organização de Carneiro Portela, capa de Nos dias primaveris, colherei flores / meiro livro de contos: O grande pânico.
Rosemberg Cariry sobre desenho de Luiz Ca- para meu jardim da saudade. Em 2006, em entrevista para um peri-
rimai –, bem como publicações em revistas e Assim, exterminarei a lembrança ódico local, Carlos Emílio argumentou:
jornais, além da realização de eventos como de um passado sombrio. “algumas pessoas achavam a literatura ‘um
a “Semana de Estudos de Literatura Cearen- saco’, então resolvemos colocá-la dentro de
Frei Tito de Alencar (12.10.72) um para divulgá-la”.
se” e o “Festival de Poesias”.
os anos de 1970, o cenário O objetivo do periódico era propor algo
artístico nacional estava novo para os padrões da época e, para tanto,
cada vez mais fragmentado. a publicação se valeu de um projeto experi-
Os “anos de chumbo”, espe- mental, considerado até os dias atuais ainda
cialmente com o advento arrojado. A revista não vinha encadernada,
do cruel e sangrento Ato colada ou grampeada. Pelo contrário, suas
Institucional nº 5 (AI-5), folhas eram arrumadas em quatro encartes:
ainda em 1968, perseguiram prosa, poesia, artes plásticas e um anexo com
e levaram muitos artistas ao entrevistas, críticas literárias, reflexões e ma-
exílio e à clandestinidade, térias jornalísticas. Esses encartes viam quase
ao cárcere (como o poeta soltos num envelope de papel que era pendu-
Gerardo Mello Mourão – na mesma cela de rado nas bancas de revista.
Zuenir Ventura, Ziraldo e Hélio Pellegrino – e Para Nilto Maciel, O Saco não se confi-
a jornalista Heloneida Studart – quando gurava como um movimento. Segundo
É graduada em Letras pela Universidade Federal do Ceará FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
(UFC), com mestrado em Letras, MBA em Docência e João Dummar Neto Presidente
Metodologia do Ensino Superior, especialização em Gestão André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro
e Coordenação Escolar, doutorado em Letras e pós- Marcos Tardin Gerente Geral
Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos
doutorado em Educação, também pela UFC. Professora
Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes
efetiva da Secretaria da Educação do Estado do Ceará. e Fabrícia Góis Analistas de Projetos
Tutora no curso de Letras da UFC Virtual. Coordenadora
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
Pedagógica da Escola de Gestão Pública do Ceará (EGPCE). Viviane Pereira Gerente Pedagógica
É membro da Academia Maracanauense de Letras (AML), Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos
na cadeira 25, cujo patrono é Pedro Lyra. Integra o Grupo de Joel Bruno Designer Educacional
Pesquisa Estudos de Residualidade Literária e Cultural (UFC) CURSO LITERATURA CEARENSE
e o Grupo de Pesquisa em História da Educação do Ceará Raymundo Netto Coordenador Geral,
(UFC). É organizadora das publicações do grupo Ceará em Editorial e Estabelecimento de Texto
Letras e é acadêmica de Psicanálise (IAPB). Lílian Martins Coordenadora de Conteúdo
Emanuela Fernandes Assistente Editorial
Kedma Damasceno Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico
É graduada em Letras, com mestrado em Literatura Miqueias Mesquita Diagramador
Carlus Campos Ilustrador
Comparada e Graduação em Letras (Português/Literaturas)
Luísa Duavy Produtora
e é doutoranda em Letras pela Universidade Federal do
ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
Ceará (UFC). Professora efetiva da Secretaria da Educação ISBN: 978-65-86094-21-3 (Fascículo 9)
do Estado do Ceará. Integrante do Grupo de Estudos de
Literatura, Tradução e suas Teorias (GELTTTE/UFC/CNPQ) e
do Grupo Antonio Candido/ História e Literatura, da UFC.
ILUSTRADOR
Carlus Campos Todos os direitos desta edição reservados à:
Artista gráfico, pintor e gravador, começou a carreira em Fundação Demócrito Rocha
1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na construção Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
do seu trabalho, aborda várias técnicas como: xilogravura, Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
pintura, infogravura, aquarelas e desenho. Ilustrou revistas fdr.org.br
fundacao@fdr.org.br
nacionais importantes como a Caros Amigos e a Bravo.
Dentro da produção gráfica ganhou prêmios em salões de
Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
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