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Direito de Integraçao Regional

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

BELUCHA DE TIMA GASPAR


CARLOS SALVADOR CARLOS
CLARA CARACADZAI
EMERSON TIRANO DE CARDOSO
HIRIS VALERIA DA SILVA JAMAL
IDELSON POMPILIO SELEMANE SAIDE
JESUINA DA NILSA JACINTO HENRIQUES PASCOAL
OSVALDO MAQUIA

PROCESSO DE INTEGRAÇÃO REGIONAL CASO


SADC

NAMPULA
2021
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

BELUCHA DE TIMA GASPAR


CARLOS SALVADOR CARLOS
CLARA CARACADZAI
EMERSON TIRANO DE CARDOSO
HIRIS VALERIA DA SILVA JAMAL
IDELSON POMPILIO SELEMANE SAIDE
JESUINA DA NILSA JACINTO HENRIQUES PASCOAL
OSVALDO MAQUIA

PROCESSO DE INTEGRAÇÃO REGIONAL CASO


SADC

Trabalho de caracter avaliativo, da cadeira de Direito de


Integração Regional, curso de Direito, 3º ano, Turma A,
leccionado pelo MA. Farci Anibal

NAMPULA
2021
Índice
PROCESSO DE INTEGRAÇÃO REGIONAL CASO SADC..............................................1

PROCESSO DE INTEGRAÇÃO REGIONAL CASO SADC..............................................2

Introdução...............................................................................................................................4

PROCESSO DE INTEGRAÇÃO SUB-REGIONAL............................................................5

CEDEAO/ECOWAS..............................................................................................................5

ACTIVIDADES E EVOLUÇÃO...........................................................................................6

DESAFIOS.............................................................................................................................7

MERCADO COMUM DA ÁFRICA AUSTRAL E ORIENTAL (COMESA).....................9

OBJECTIVOS DO COMESA................................................................................................9

COMESA – ÁREAS FOCAIS DE INTEGRAÇÃO..............................................................9

A Génese Da Comunidade Para O Desenvolvimento Da África Austral (SADC)..............10

Objectivos Políticos..............................................................................................................12

Analise do tratado da SADC................................................................................................13

Princípios e metas a alcançar................................................................................................13

Personalidade e Capacidade Jurídica da SADC...................................................................14

Protocolo das Trocas Comerciais – O Processo de Integração Económica até 2018...........16

Fases do Processo de Integração Económica – Zona de Comércio Livre............................17

O Fórum Parlamentar Como Assembleia Consultiva..........................................................18

Conclusão.............................................................................................................................18

Referências bibliográficas....................................................................................................20
Introdução
O presente trabalho cujo tema é o processo de integração regional caso SADC, de
forma sintética entende-se que, a integração regional é um fenômeno que ocupa um papel
central em diversas áreas de estudo. O continente africano, em especial a África Austral, é
uma região de grande diversidade geográfica, econômica, política e social. Considerando o
desenvolvimento como o objetivo principal da Comunidade para o Desenvolvimento da
África Austral, buscaremos demonstrar se a SADC, contribuiu para o desenvolvimento dos
países membros. Os resultados indicam que houve avanço no desenvolvimento e na
integração dos países em diversas áreas, embora não seja possível afirmar o quanto disso é
devido à integração.

O presente trabalho visa fazer uma abordagem esgotada do tema acima referido,

relativamente descurar sobre a integração sub-regional, incumbindo uma especial atenção a

SADC.

Como estrutura do presente trabalho nos propusemos a discutir numa primeira fase,

alguns aspectos ligados com o processo de sub-regional; numa segunda fase sobre a SADC

desde a sua génese e o tratado que constitui a organização; e por fim, algumas considerações

finais da presente pesquisa.

4
PROCESSO DE INTEGRAÇÃO SUB-REGIONAL
CEDEAO/ECOWAS
A Comunidade Econômica de Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental
(CEDEAO) ou Economic Community of West African States (ECOWAS) foi resultado dos
esforços da integração iniciada na década de 1960, cujo gênese englobava algumas iniciativas
como:

 O projeto liberiano, que preparou a Organização Interina para a Cooperação


Econômica da África Ocidental;
 A Conferência para a coordenação industrial, realizada em Bamako, capital do Mali e
patrocinada pela Comissão Econômica para a África e pela Organização para a
Agricultura e Alimentação (ECA/FAO-ONU), que visava principalmente o
estabelecimento da indústria siderúrgica da região;
 Conferência da Niamey, capital do Níger, igualmente patrocinada pela ECA-ONU,
que objetivou aumentar o alcance da integração econômica regional, ampliando a
atuação da Comunidade Econômica da África o Oeste (CEAO), organização então
atuante nos ex-territórios franceses.1

Desde o ponto de vista institucional, a organização da comunidade estruturou-se de


forma a tentar dinamizar os projetos, adotando a distribuição das funções entre vários órgãos
como são:

 Conselho dos Chefes de Estados e Governos,


 Conselhos de Ministros,
 Parlamento Comunitário,
 Conselho Econômico e Social,
 Corte de Justiça da Comunidade,
 Secretaria Executiva,
 Fundo para Cooperação, Compensação e Desenvolvimento,
 Agência Monetária da África Ocidental e,
 Comissões Técnicas Especializadas.2

1
FILHO, Pio, Integração Econômica no continente africano: ECOWAS e SADC, Cena internacional.
Revista de Análise em Política internacional, vol.2, no2, 2000.
2
CNUCED. Le dévelopment Economique en Afrique: Rapport 2009-Renforcer l´intégration économique
régionale pour le développment de l´Afrique. Conférence des nations unies sur le commerce et le
développement, 2009.
5
Com vista a levar em frente o desenvolvimento regional, os objetivos da CEDEAO
são:

1. Promover a cooperação e a integração em todos os âmbitos da atividade econômica


com o fim de elevar o nível de vida dos seus povos,
2. Manter e aumentar a estabilidade econômica,
3. Reforçar as relações entre os Estados membros e
4. Contribuir para o desenvolvimento do continente africano.

O tratado de CEDEAO prevê igualmente a harmonização e coordenação de políticas


nacionais; a criação de um mercado comum mediante liberalização dos intercâmbios
comerciais; estabelecimento de uma tarifa exterior comum e uma política comercial comum, a
eliminação dos obstáculos a livre circulação de pessoas, bens e serviços; a criação de uma
União Africana.3

No momento inicial da sua criação, os objetivos da CEDEAO eram basicamente o


desenvolvimento econômico. Mas, ao longo do tempo, os aspetos políticos, a paz e a
segurança, se converteram progressivamente numa prioridade para organização, motivados
pelas constantes Conflitos Civis em alguns países.4

Independentemente da grande agrupação regional que é a CEDEAO, os países da região ainda


estão subdivididos em outros dois blocos:

1. A União Econômica e Monetária dos Estados da África Ocidental (UEMOA) -


formada pelos países francófonos com exceção da Guiné-Bissau e,
2. West African Monetary Zone (WAMZ) - conformada pelos países da colonização
inglesa com exceção da Guiné Conacri. Ou seja, os dois subgrupos dentro da
CEDEAO representam uma fase preparatória para o estabelecimento de uma
moeda única na África Ocidental até 2015 que seria o ponto de partida do sonho
africano de ter um mercado único com uma moeda única em 2028.5

ACTIVIDADES E EVOLUÇÃO
São seguintes as actividades e a evolução da CEDEAO:

3
UEMOA. Rapport Annuele de la comission suer le fonctionnement et l´evolution de l´union. Union
Economique et monetaire Ouest Africaine, 2006.
4
DE LA VEGA, L. Actores Regionales y Subregionales en África Subsahariana: socios y líneas de trabajo
potenciales para la cooperación española. Madrid: Fundación Carolina – CeALCI, 2007.
5
UEMOA, Rapport Semestriel d´execution de la Surveillance Multilaterale. Union Economique et
monetaire Ouest Africaine, 2009.
6
A maior conquista foi o lançamento com êxito da Estratégia Regional de Redução da
Pobreza (ERRP) em 11 de Janeiro de 2010, em Acra, o qual foi subsequentemente seguido
por um workshop, realizado em Abuja para rever o plano de implementação e discutir as
questões relativas aos arranjos institucionais para implementação da estratégia e do
mecanismo de monitorização e avaliação.

Na preparação do estudo do processo de avaliação rumo aos Objectivos de


Desenvolvimento do Millenium na região da CEDEAO, um ateliê foi organizado em Acra de
15 a 19 de Março de 2010, com a colaboração da InWent Alemã, para reforçar as capacidades
das relevantes instituições nos Estados Membros de forma a permitir-lhes conduzir o estudo.6

DESAFIOS
A CEDEAO enfrenta muitos desafios no caminho para integração regional. Entre
outros, estão a insegurança, aplicação dos Protocolos por alguns Estados e barreiras ao
comércio.

Isto é consequência de um interminável número de conflitos civis ocorridos na região.


Será difícil impulsionar a cooperação económica e a integração sem a paz e estabilidade na
região. Contudo, os conflitos não serão razão para que a CEDEAO não atinja brevemente a
integração das economias dos Estados Membros. Mesmo antes de 1989, a aplicação dos
acordos da CEDEAO, especialmente os relativos ao comércio era lenta, de qualquer forma,
apenas uma minoria de Países conheceram neste período conflitos graves.

Existem certos factores que entravam o comércio na sub-região. Para a maioria dos
agentes comerciais transfronteiriços da África Ocidental, a reivindicação comum tem sido o
alto custo das operações como resultado dos obstáculos que lhe são colocados pelos
empregados do Estado. De acordo com as disposições da CEDEAO, tais barreiras deveriam
ter desaparecido.

Em Maio de 1982, os Estados Membros da CEDEAO assinaram uma Convenção para


a construção de um Sistema da CEDEAO de Trânsito Terrestre Inter-estatal (ISRT), o qual
estabeleceu o mecanismo para permitir aos Estados Membros trabalhar para garantir a livre
circulação de bens na sub-região.

Dada a não implementação das modalidades do ISRT, os Estados Membros assinaram


uma Convenção Suplementar em Maio de 1990 para criar um mecanismo para o ISRT. Esta
6
COMESA (Undated) ‘The COMESA Programme for Peace and Security’, COMESA Secretariat, Lusaka,
Zambia.
7
Convenção estabeleceu como mais-valia que caso um Estado Membro viole seus termos,
poderá ser objectivo de sanções.

Não obstante a assinatura, os agentes comerciais transfronteiriços continuam


reclamando que os empregados do Estado continuam deliberadamente a violar tais
disposições. Em grande parte o comércio na sub-região é de pequena escala ou informal e é
sustentado pela diferença de preços em cada um dos Países. No passado, tais actividades eram
consideradas clandestinas e esta interpretação perdurou e influenciou o tratamento dos agentes
comerciais pelas agências de segurança. 7

A aplicação do Tratado sobre a livre circulação de pessoas enfrenta muitos problemas


no terreno, nomeadamente as perturbações nas estradas, alto número de pontos de controlo e
barreiras ilegais e o problema de insegurança nas estradas.

Um fluxo regular de bens na sub-região dará indiscutivelmente uma significante


contribuição a economia da África Ocidental. Contudo, porque as economias na sub-região
não estão suficientemente diversificadas, é importante que a região, para conhecer progressos
consideráveis, implemente as decisões dos seus líderes.

Não obstante os resultados desencorajadores no comércio intra CEDEAO, trabalhos


estão em curso para remover os bloqueios infra-estruturais à integração económica. Existem
grandes projectos para rede de auto estradas de ligação das redes no domínio dos transportes,
comunicações e de energia. A CEDEAO, através do Programa de Telecomunicações da
Comunidade, também tem reduzido o trânsito por terceiros Países e tem melhorado ligações
directas entre os Estados Membros. A CEDEAO promoveu um estudo sobre as interligações
das redes de caminho-de-ferro.

Entre os grandes Projectos da CEDEAO, o Projecto de estradas parece ser o que


atingirá mais progressos com cerca de 60% do Projecto concluído. Também em curso está o
Projecto do Gasoduto da África Ocidental, o qual fornecerá gás da Nigéria até Benin, Togo e
Gana. Estes projetos não são estritamente da CEDEAO mas, a Comunidade inseriu-os nos
seus mais ambiciosos planos de integração e assim reforçando a sua importância estratégica e
económica.

7
COMESA, COMESA Secretariat, Lusaka, Zambia, 2007
8
Finalmente, a CEDEAO preconiza integrar a Comunidade Económica Africana, tal
como previsto pelo Tratado de Abuja. Este desejo do Tratado está mais perto ao da CEDEAO
do que o de estender a integração a todo o continente africano.

Tal como outras instituições regionais de comércio, a CEDEAO está aquém dos
objetivos do Tratado mas, com maior engajamento direcionado, progressos significativos e
visíveis poderão ser atingidos a curto e médio prazo.

MERCADO COMUM DA ÁFRICA AUSTRAL E ORIENTAL (COMESA)


O Mercado Comum da África Austral e Oriental foi criado em 1993 como sucessor da
Área de comércio preferencial da África Austral e Oriental (PTA), a qual foi criada em 1981.
Formalmente a COMESA sucedeu a PTA em 8 de Dezembro de 1994, após a ratificação do
Tratado. A criação da COMESA é o cumprimento da exigência do Tratado da PTA, o qual
dispôs a transformação da PTA num Mercado comum dez anos após a entrada em vigor do
Tratado da PTA.

A visão da COMESA é a de se constituir numa comunidade económica


completamente integrada para garantir a prosperidade, ser internacionalmente competitiva, e
operacional para integrar a União Africana. A COMESA integra: Burundi, Comores,
República Democrática do Congo, Djibuti, Egipto, Eritreia, Etiópia, Quénia, Líbia,
Madagáscar, Malawi, Maurícias, Ruanda, Seicheles, Sudão, Suazilândia, Uganda, Zâmbia e
Zimbabwe.8

OBJECTIVOS DO COMESA

O Tratado da COMESA, o qual estabelece a Agenda do COMESA, cobre um largo


número de sectores e actividades. Contudo o cumprimento de todo o mandato do COMESA é
visto como um objectivo de longo prazo e para que a COMESA seja mais efectiva enquanto
instituição, foram definidas prioridades de médio prazo tal como “Promoção da Integração
Regional através do Comércio e Investimento

COMESA – ÁREAS FOCAIS DE INTEGRAÇÃO

As áreas focais da integração promovidas pela COMESA são: Comércio de bens e


serviços, Integração monetária, incluindo acordos de pagamento e compensação, Promoção de
investimento e subsídios, Desenvolvimento de infra-estruturas (transporte aéreo, caminho-de-
ferro, marítimo e terrestre, TICs, Energia, etc), comércio electrónico e Paz e Segurança.

8
COMESA (2007) ‘COMESA Fund’. COMESA Secretariat, Lusaka, Zambia.
9
Os Estados Membros da COMESA também acordaram na necessidade de criar e
manter o seguinte:

1. Uma acabada área livre de comércio que garante a livre circulação de bens e serviços
produzidos dentro da COMESA e a remoção de todas as tarifas e de barreiras não
tarifárias;
2. Uma união aduaneira, na qual bens e serviços importados de Países não Membros da
COMESA estarão sujeitos a uma única tarifa em todos os Estados da COMESA;
3. Livre circulação de capital e investimento suportada pela adopção de uma área
comum de investimento bem como pela criação de um clima mais favorável ao
investimento na região da COMESA;
4. Criação gradual de uma união de pagamentos baseada na Casa de Compensação da
COMESA e a eventual criação de uma união monetária comum com uma moeda
comum; e
5. Adopção de acordos de visto, incluindo o direito de estabelecimento conduzindo
eventualmente a livre circulação de pessoas de boa fé.

A Génese Da Comunidade Para O Desenvolvimento Da África Austral (SADC)

África Austral: Uma Breve Contextualização Histórica

Visando apresentar um panorama geral dos aspectos relacionados ao processo de


integração regional no sul da África, este tópico está estruturado em quatro partes.

A primeira parte aborda o período da década de 1930 até a independência de parte dos
países africanos, que actualmente são membros da Comunidade.

A segunda parte abarca o ELF, que foi fundamental para a independência dos países
da região e para o enfrentamento dos regimes de minoria branca. A terceira parte explana
sobre a SADCC que surgiu em 1980, quando o contexto da região permitiu aos países se
ocuparem das questões económicas tanto quanto das políticas e securitárias, e, a última parte,
apresenta a SADC que é objecto desse estudo, foi criada em 1992, possui uma ampla agenda
de actuação e é o resultado dos ELF e SADCC

A década de 1935-1945 representou um ponto decisivo para o nacionalismo e a


libertação da África, e, portanto, o começo da decadência do colonialismo no continente.9
9
DIOP, M. et al . A África Tropical e a África Equatorial sob Domínio Francês, Espanhol e Português. In:
MAZRUI, A. A.; WONDJI, C. (Eds) História Geral da África, VIII: África desde 1935. Brasilia, UNESCO.
2010.
10
A luta pela soberania política no continente africano ocorreu em quatro etapas. Antes
da Segunda Guerra Mundial, ocorreu uma agitação das elites que desejavam maior autonomia
das colónias, e, a isso, seguiu-se o confronto contra o fascismo e o nazismo. Após a Segunda
Guerra Mundial, houve a resistência não violenta do povo africano pela independência, e, em
seguida, o combate armado das guerrilhas, especialmente após a década de 1960.

Diversos aspectos contribuíram para o nacionalismo africano após a Segunda Guerra


Mundial, entre eles estão a decepção e raiva com a situação socioeconómica; as graves
dificuldades como os preços irreais dos bens de consumo pelos quais as metrópoles foram
responsabilizados no pós-guerra; e, o Congresso Pan-Africano em 1945. 10 Antes deste,
ocorreram diversos congressos pan-africanos, entretanto, esse foi o primeiro no qual houve a
participação maciça de representantes africanos na preparação e durante, e, além disso, a
população foi convidada a se organizar para impedir a exploração imperialista e pela
independência do continente. Porém, conforme destacam os autores, nenhum africano
originário das colónias portuguesas, francesas e belga participou dos congressos.

A África Austral era a região do continente africano de maior destaque económico após1935,
isso era devido à riqueza em minerais, a agricultura e a industrialização. A demais, a rota do
Cabo para o tráfego marítimo se tornava cada vez mais importante, principalmente, para o
transporte de petróleo nos últimos trinta anos do século XX. A África Austral também foi a
região do continente mais afectada pela questão racial, que acarretou nos regimes de minoria
branca da África do Sul e da Rodésia do Sul (actual Zimbabué).11

O ano de 1948 marca o avanço da perseguição racial na África e de uma nova forma de
fascismo, o apartheid. Tanto na África do Sul quanto na Rodésia do Sul (actual Zimbabué) o
principal ponto era a luta dos europeus e colonos brancos para manterem seu privilégio
económico. Os dois Estados adoptaram diversos actos segregacionistas, assim, todos os altos
postos de trabalho e os maiores salários eram reservados aos brancos, também, os produtos
fabricados pelos negros eram boicotados como forma de eliminar a concorrência.
Os actos segregacionistas, porém, não foram capazes de acabar com o nacionalismo e a
militância dos negros, logo, o Parlamento da África do Sul, que era exclusivamente branco,
adoptou, na década de 1950, uma série de leis repressivas - vigilância, tortura, perseguição,
prisão domiciliar, encarceramento, entre outras. -
10
SURET-CANALE, J.; BOAHEN, A. A. A África Ocidental. In: MAZRUI, A. A.; WONDJI, C. (Eds)
História Geral da África, VIII: África desde 1935 , Brasilia, UNESCO. 2010.
11
CHANAIWA, D. A África Austral. In: MAZRUI, A. A.; WONDJI, C. (Eds) História Geral da África, VIII:
África desde 1935, Brasilia, UNESCO. 2010.
11
Em 1959 foi adoptada a política dos bantustões, que objectivava dividir e reavivar as
rivalidades étnicas já que os africanos foram divididos em grupos tradicionais, enquanto à
África do Sul branca cabia a última palavra em relação à defesa, segurança interna, relações
internacionais e o orçamento. Entretanto, nenhum esforço dos brancos da África do Sul foi
capaz de destruir a nacionalidade africana, e, nas eleições de 1989, começou a se desintegrar a
unidade branca do país. As colónias inglesas na África, à excepção da África do Sul,
conquistaram a independência em diferentes datas que variam de 1957 a 1965. As colónias
francesas, por outro lado, à excepção da Guiné e do Djibuti, se tornaram independentes no
mesmo ano, em 1960.

As colónias portuguesas na África precisaram lutar pela independência, essa luta que ocorreu
nos anos 1960 e 1970, foi longa, violenta e sangrenta. 12 A história da descolonização africana
do século XX, especialmente após 1935, deve ser vista como um processo que permitiu aos
africanos a compreensão de quem realmente são e de sua identidade pan-africana.

Objectivos Políticos

Sobre os objetivos que constam no Tratado da SADC, Cilliers (1999) os divide em três
categorias: política e segurança, desenvolvimento econômico e geral/outros.

Na categoria de política e segurança estão:

1. A promoção e defesa da paz e segurança


2. Evolução dos valores políticos comuns, sistemas e instituições.

Na categoria de desenvolvimento económico,

1. Desenvolvimento e crescimento econômico, alívio da pobreza, melhoria do padrão e


qualidade de vida através da integração regional,
2. Desenvolvimento auto-sustentável através da autoconfiança coletiva e
interdependência dos Estados membros,
3. Maximizar a produção, emprego e utilização dos recursos da região, e
4. Utilização sustentável dos recursos naturais e proteção eficaz do meio ambiente.13

12
SURET-CANALE, J.; BOAHEN, A. A. A África Ocidental. In: MAZRUI, A. A.; WONDJI, C. (Eds) História
Geral da África, VIII: África desde 1935 , Brasilia, UNESCO. 2010, p.219.
13
CILLIERS, J. Building Security in Southern Africa: An Update on the Evolving Architecture. ISS Monograph
Series, 1999
12
Analise do tratado da SADC

O tratado de formação da SADC,Rumo a uma Comunidade de Desenvolvimento da


África Austral, foi assinado em agosto de 1992 na cidade de Windhoek, Namíbia, pelos
chefes de governo dos dez países membros naquele momento.

Princípios e metas a alcançar

O conceito de desenvolvimento para a Comunidade não é explicitado no tratado,


entretanto, é claro, pelos princípios e objetivos, que o desenvolvimento, não apenas
econômico, é a meta central. No artigo 4 do capítulo 3 do tratado de 1992, constam os
princípios que a SADC e os Estados membros deverão seguir, são eles:

1. Igualdade soberana de todos os Estados membros;


2. Solidariedade, paz e segurança;
3. Direitos humanos, democracia e o estado de direito;
4. Equidade, equilíbrio e benefício mútuo;
5. Resolução pacífica de controvérsias. (tradução própria, TRATADO DA SADC, 1992).

Já o artigo 5 do mesmo capítulo aborda os objetivos da SADC e o que deve ser feito
para atingi-los. São eles:

a) Alcançar o desenvolvimento e o crescimento econômico, aliviar a pobreza,


melhorar o padrão e a qualidade de vida dos povos da África Austral e apoiar
os socialmente desfavorecidos através da integração regional;
b) Evoluir valores, sistemas e instituições políticas comuns;
c) Promover e defender a paz e segurança;
d) Promover o desenvolvimento autossustentável com base na autossuficiência
coletiva e na interdependência dos Estados membros;
e) Alcançar a complementaridade entre programas e estratégias nacional e
regional;
f) Promover e maximizar o emprego produtivo e a utilização dos recursos da
região;
g) Alcançar a utilização sustentável dos recursos naturais e proteção efetiva do
meio ambiente; e
h) Fortalecer e consolidar antigas afinidades históricas, sociais e culturais e laços
entre os povos da região. (tradução própria, TRATADO DA SADC, 1992).

13
As medidas que devem ser implementadas, para alcançar os objetivos citados acima,
são:

a) Harmonizar as políticas e os planos políticos e socioeconômicos dos Estados;


b) Encorajar os povos da região e suas instituições a tomar iniciativas para desenvolver
laços econômicos, sociais e culturais em toda a região e a participar plenamente na
implementação dos programas e projetos da SADC;
c) Criar instituições apropriadas e mecanismos para a mobilização de recursos
necessários para a implementação de programas e operações da SADC e suas
Instituições;
d) Desenvolver políticas voltadas para a eliminação progressiva de obstáculos à livre
circulação de capitais e mão-de-obra, bens e serviços e os povos da região em geral,
entre os Estados membros; e) promover o desenvolvimento de recursos humanos;
e) Promover o desenvolvimento, transferência e domínio tecnológico;
f) Melhorar a gestão e desempenho econômico através da cooperação regional;
g) Promover a coordenação e harmonização das relações internacionais dos Estados;
h) Assegurar a compreensão, cooperação e apoio internacionais, e mobilizar o ingresso
de recursos públicos e privados na região;
i) Desenvolver outras atividades que os Estados membros possam decidir em prol dos
objetivos deste Tratado. (tradução própria, TRATADO DA SADC, 1992).

Personalidade e Capacidade Jurídica da SADC

De acordo com o tratado da SADC de 199214 ratificado pelos Chefes de Estado da


República Popular de Angola, República do Botswana, Reino do Lesotho, República do
Malawi, República de Moçambique, República da Namíbia, Reino da Swazilândia, República
Unida da Tanzânia, República da Zâmbia, e República do Zimbabwe, em Windhoek em
Agosto de 1992 e a qual afirma o nosso compromisso de estabelecer uma Comunidade do
Desenvolvimento na Região.

O número 1 do artigo 3 do Tratado da SADC, afirma o seguinte:

“1. A SADC é uma organização internacional e tem personalidade legal com capacidade e
poderes para firmar contratos, adquirir, possuir ou alienar propriedade móvel ou imóvel e
propor ou ser demandada em acções judiciais.”

14
BR nº 021, I Série, 2º Supl., de 01 de Junho de 1993, no 1 do artigo 3
14
Tendo em conta que a SADC é uma organização internacional ou seja um ente que,
apesar de não possuir território, povo ou mesmo soberania, é dotado de influência mundial,
como o Tratado já diz, é colocado em análise a questão de quando diz-se que uma
organização internacional tem personalidade e capacidade jurídica.

Personalidade Jurídica

A personalidade jurídica internacional, de acordo com a definição da Corte


Internacional de Justiça, “trata-se da capacidade de ser titular de direitos e obrigações
internacionais, dependendo esses direitos e obrigações dos objectivos e funções atribuídos à
organização, sejam eles enunciados ou implicados por seu ato constitutivo ou desenvolvidos
na prática”.15

A organização internacional nasce por meio de um tratado constitutivo, celebrado


entre Estados independentes. Importante notar que os tratados constitutivos das OIs devem ser
aceitos integralmente pelos seus membros, ou seja, sem que haja “ressalva”. Neste tratado
serão instituídos os órgãos integrantes de sua estrutura, bem como os direitos e deveres, dos
Estados-membros, com a explanação dos objectivos a serem buscados.16

Capacidade Jurídica

As organizações internacionais possuem a capacidade jurídica de figurar em relações


jurídicas internacionais, de celebrar tratados, firmar acordos, convenções, ou seja, de ser
titular de direitos e deveres no plano do direito internacional público.17

Em suma, a SADC detém a personalidade jurídica pois foi constituído sobre um


tratado constitutivo o “Tratado da SADC de 1992”. E a capacidade jurídica pois já foram
celebrados acordos entre a SADC e outros entes um exemplo escolhido pelo grupo é o Acordo
de Parceria Económica (APE), o primeiro acordo do género celebrado entre a UE e uma
região africana que persegue a integração económica. A assinatura teve lugar em Kasane, no
Botsuana em 2016.

15
Texto Adaptado pelos Estudantes
16
JÚNIOR, Eliezer Guedes de Oliveira, O regime jurídico das organizações internacionais, 2017, pág. 8
17
 REZEK, José Francisco, Direito internacional público: curso elementar. 13ª Ed, São Paulo: Saraiva, 2011,
pág. 181
15
A personalidade é conceito básico da ordem jurídica e, actualmente, todos os sistemas
jurídicos internos reconhecem as pessoas físicas, assim como as pessoas jurídicas de direito
público e privado, enquanto sujeitos de direito internacional.18

Por que, então, na ordem jurídica internacional a questão da personalidade jurídica


permanece embrionária e restrita, mesmo sabendo-se da importância de sua definição para a
manutenção dessa mesma ordem? 19

Protocolo das Trocas Comerciais – O Processo de Integração Económica até 2018

O Protocolo Comercial da SADC é um Instrumento Legal que regula as relações


comerciais entre os Países Membros subscritores da SADC (Botswana, Lesotho, Malawi,
Maurícias, Moçambique, Namíbia, África do Sul, Swazilândia, Seychelles, Tanzania, Zâmbia
e Zimbabwe. Foi assinado em Maseru – Lesotho, em Agosto de 1996. Moçambique ratificou
através da Resolução nº. 44/99, publicado no BR nº52, de 29 de Dezembro de 1999, I Série.

Objectivo Do Protocolo Comercial Da SADC

1. Liberalizar o comércio entre os países membros.


2. Aumentar a produção segundo as vantagens comparativas dos países subscritores.
3. Melhorar o clima de negócios, a industrialização e o desenvolvimento dos países
subscritores.
4. Criar uma zona do comércio livre (ZCL), em 2007; Em vigor desde 2008.
5. Incrementar o desenvolvimento económico, diversificação e industrialização da
região.

Benefícios Do Protocolo Comercial

O benefício que Moçambique tira na qualidade de Membro da SADC é a possibilidade que


lhe é dado de participar e acompanhar os fóruns internacionais de concertação de posições a
nível da SADC, bem como acções de atracção de investimentos directos estrangeiros e
nacionais:
- Livre circulação de bens (Isenção de tarifas), acesso ao mercado regional;
- Melhorar o clima de negócio através da simplificação de procedimentos e eliminação de
barreiras;
- Redução dos custos da actividade comercial e industrial (impulsiona a indústria nacional,
18
SHAW, Malcom, 2000, p.137, et DINIZ, Maria Helena, 2000, p.82.
19
Sobre a dubiedade do direito internacional no que tange à personalidade jurídica ver, CARREAU, Dominique,
1994, pág. 395
16
através da aquisição de matéria prima e equipamentos de produção a tarifa zero, aumento da
competitividade);
- Diversificação de produtos e redução de preços;

- Aumento das oportunidades de emprego.20

Fases do Processo de Integração Económica – Zona de Comércio Livre

A integração económica é definida como a eliminação de barreiras económicas entre


duas ou mais economias. Uma barreira económica representa a demarcação, muitas vezes,
fronteiras geográficas de um Estado, para o qual o fluxo de bens, mão-de-obra e capital são
restringidos. A integração económica envolve a remoção de obstáculos as actividades
económicas transfronteiriças nos domínios do comércio, circulação de mão-de-obra, serviços
e de fluxo de capital.

Os Economistas identificam as várias etapas do processo de integração. A integração


económica consiste em cinco etapas.21 Estas etapas são: zona de comércio livre, união
aduaneira, mercado comum, união económica e completa união económica.

A primeira, menos complicada, consiste na criação de uma zona de comércio livre na


qual as restrições tarifárias e quantitativas são eliminadas no comércio entre os Países
membros, embora cada País retenha a estrutura das suas tarifas para os Estados não Membros.

Uma união aduaneira segue à zona de comércio livre a igualização das tarifas pelos
Estados Membros para as importações dos Estados não Membros (isto é, a implementação da
Tarifa Externa Comum ou TEC).

Um Mercado comum inclui comércio livre de mercadorias entre os Estados Membros,


uma TEC bem como a eliminação das restrições sobre a circulação dos factores de produção
(mão-de-obra e capital) entre os Estados Membros.

Uma União económica segue aos instrumentos do Mercado comum alguns níveis de
harmonização das políticas económicas nacionais de forma a remover barreiras provocadas
pelas anteriores disparidades entre os Estados Membros nestas políticas (por exemplo, a
criação de um Banco Central com alguns poderes supranacionais).

20
Protocolo sobre trocas comerciais da SADC, Disponivel em:
https://www.mic.gov.mz/index.php/por/Comercio-Externo/Acordos-Bilaterais/PROTOCOLO-SOBRE-
TROCAS-COMERCIAIS-DA-SADC. Acesso em: 22 agosto. 2021
21
Balassa B., Towards a theory of Economic Integration, “Kyklos, Vol.XIV, No. 1, 1961, pp.1-14.
17
Finalmente, uma integração económica total pressupõe a unificação monetária, fiscal,
social e políticas disseminadoras e requer a criação da autoridade supranacional cujas
decisões sejam aplicáveis nos Estados Membros (isto é por natureza a criação de uma
federação política) ”.22

O Fórum Parlamentar Como Assembleia Consultiva

O Fórum Parlamentar da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral ﴾FP-


SADC) é o organismo regional autónomo composto por membros dos Parlamentos dos
Estados Membros da SADC.

Trata-se de uma Assembleia Parlamentar Consultiva cujo objectivo é de envolver os


povos e actores da SADC no processo de integração regional.23

Conclusão
Apos o término do desenvolvimento do trabalho chegamos a conclusão:
A integração regional em África foi sempre o principal objectivo dos Países africanos
desde a criação da então Organização da Unidade Africana (OUA). Grande número de
declarações foi feito pelos Estados Membros para impulsionar o processo de integração em

22
Comissão da União Africana, vol. III, 2011
23
Fórum Parlamentar e Assembleia Consultiva SADC, Disponivel em:
https://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Imprensa/Noticias/Esperanca-Bias-na-reuniao-da-Comissao-
Executiva-do-Forum-Parlamentar-da-SADC. Acesso em 23 de Agosto.
18
África. De igual modo, o Tratado da SADC, serviu de corolário para a criação de uma
organização rumo ao desenvolvimento da Africa.

O objectivo deste trabalho foi o de rever o processo de integração através da revisão


do Tratado da SADC com vista a mais rápida criação da Comunidade Económica Africana
(AEC). É neste contexto que a União Africana tenta encorajar a harmonização dos membros e
avaliar quanto evoluíram na facilitação dos seus programas. Destinando-se também a criar
consciência através da troca de informações sobre a SADC, de forma a partilhar as melhores
práticas entre elas na solução de dificuldades e, do mesmo modo, impulsionar o processo de
integração. Neste sentido, a União Africana, em estreita colaboração, deverá trabalhar em
conjunto na implementação do Programa Mínimo de Integração.

19
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Cena internacional. Revista de Análise em Política internacional, vol.2, no2, 2000.

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