Respiraçao Oral
Respiraçao Oral
Respiraçao Oral
Contribuição multidisciplinar no
diagnóstico e no tratamento das
obstruções da nasofaringe e da
respiração bucal
Daniel Ianni Filho*, Milene Maria Bertolini**, Mônica Lanzellotti Lopes***
* Mestre em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP; Coordenador do Centro de Cursos e Pesquisas Odontológicas Alpha Smile – Campinas, SP
** Fonoaudióloga, Mestre em Neurociências pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, na Área de Concentração em Otorrinolaringologia; Especialista em Motricidade Oral CFF; Especialista em Fissura Labiopalatina
e Deformidade Crânio-maxilo-mandibular; Doutoranda em Ciências Médicas pela UNICAMP, na Área de Concentração em Ciências Biomédicas.
*** Médica Pediátrica pela UNICAMP. Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria; Coordenadora do Serviço de Emergência Infantil do Hospital e Maternidade Celso Pierro – PUC-Campinas.
Figura 1, 2 - Características faciais típicas do respirador bucal, com selamento labial incompetente, boca aberta em
repouso, olhar triste e desatento e má posição dentária.
O paciente deve ser avaliado integralmente, com enfoque nas tam das pressões exercidas pela passagem do ar através das vias
características da síndrome da respiração bucal, que analisadas em aéreas superiores, o que torna fundamental a respiração nasal na
conjunto e não isoladamente fecham o diagnóstico, permitindo um criança. Esse processo ocorre por meio de um movimento de fluxo
tratamento em equipe. Esse tratamento geralmente engloba pedia- e refluxo do ar, produzindo uma pressão nos alvéolos que expande
tra, alergista, otorrinolaringologista, ortodontista, fonoaudiólogo e as vias respiratórias e faz aeração das cavidades pneumáticas para-
fisioterapeuta30. nasais, estimulando, dessa forma, crescimento e desenvolvimento
É fundamental que cada especialidade profissional tenha conheci- craniofaciais harmoniosos.
mento das diversas áreas atuantes na reabilitação do respirador bucal Desvios no processo fisiológico da respiração nasal são obser-
e dos objetivos em comum no tratamento, procure falar a mesma lin- vados freqüentemente em crianças e são decorrentes de etiologias
guagem e realize a prevenção conjuntamente, não trabalhando isola- diversas que impedem ou dificultam a passagem do ar pela cavi-
damente com foco restrito à sua área de atuação. Terapias isoladas di- dade nasal, possibilitando um modo adaptativo de respiração - a
ficilmente possibilitarão a normalização morfofuncional da face, com bucal ou buco-nasal - o que acarreta diversos prejuízos à saúde
recuperação de sua saúde, função e beleza3. nos aspectos fisiológicos, morfológicos e psicossociais25.
A proposta deste artigo é apresentar a atuação e a contribuição A maioria dos casos de respiração bucal ou buco-nasal decorre de
do médico pediatra, do fonoaudiólogo e do ortodontista (enfoque fatores obstrutivos da nasofaringe que podem ser congênitos, here-
no diagnóstico e na prevenção) para que o paciente, visto como ditários ou adquiridos18. Segundo Lund15, a obstrução nasal pode ser
um todo, receba o melhor tratamento, pois todos têm objetivos provocada por alterações anatômicas de diversas estruturas da cavi-
em comum: restabelecer a função respiratória nasal fisiológica, o dade nasal, bem como por distúrbios na sua fisiologia, processos infla-
crescimento e desenvolvimento dentofacial equilibrado e a harmo- matórios e infecciosos, dentre outros, relacionados na tabela 1.
nia do sistema estomatognático. Em futura publicação (parte II)
discutiremos a participação de outras especialidades.
Tabela 1 - Causas da obstrução nasal.
REVISÃO DA LITERATURA Primária Secundária
Respiração nasal e bucal Fisiológica Não fisiológica Espaço pós-nasal -
A respiração é a primeira função fisiológica desenvolvida no adenóides
nascimento, estabelecendo-se como a principal do organismo25. - ciclo nasal Alérgica - sazonal, perene Orofaringe - tonsilas
palatinas, palato mole, base
Em situações normais, o processo respiratório ideal é o nasal língua (apnéia do sono)
por ser fisiológico e proporcionar o acondicionamento do ar para Não alérgica Trato respiratório
os pulmões. Almeida e Moura2 descreveram que o ar é aquecido, inferior - asma, desordens
quase se igualando à temperatura corpórea, antes mesmo de che- obstrutivas crônicas das vias
aéreas
gar à laringe; umidificado em 90% por saturação de vapor d’água
Infecciosa - aguda ou crônica,
antes de chegar aos pulmões e ainda filtrado, com as partículas e viral, fúngica, parasitária,
os microrganismos permanecendo aderidos ao muco, protegendo protozoária
assim o trato respiratório. Não Infecciosa
Inúmeras publicações mostram a importância das funções da Mecânica - deformidade sep-
respiração nasal no desenvolvimento e determinação da morfolo- tal, atresia coanal, hipertrofia de
conchas nasais,corpos estranhos
gia facial6,11,23,27,30,31.
Hiper-reativa
Segundo a Teoria da Matriz Funcional de Moss11,20,26,32, o cres- (rinite idiopática)-
cimento facial está diretamente relacionado com o equilíbrio das Desequilíbrio Sistema Nervoso
funções de sucção, respiração, deglutição, mastigação e fonoarti- autônomo, Hormonal, droga
induzida,irritantes químicos,
culação; a respiração nasal está atrelada ao crescimento dos ossos emocional
do terço médio da face; a matriz funcional determina o desenvolvi- Inflamatória - pólipos,
mento dos maxilares, da face e do crânio e o crescimento dos mús- sarcóides, granulomas
culos seria um fator primário quando relacionado ao crescimento Tumores -
dos maxilares e da face21. benignos
malignos - primários,
De acordo com Villalba32, o recém-nascido apresenta apenas secundários
seios maxilares e etmoidais os quais, para seu desenvolvimento e Distúrbios do fluxo - rinite
crescimento, bem como dos seios frontais e esfenoidais, necessi- atrófica, perfuração septal,
A B
Figura 3 - A) Postura lingual típica do respirador bucal; B) Adaptação da postura lingual no respirador buco-nasal com mordida aberta anterior.
A b c d
Figura 4 - A) Atresia maxilar; B) Mordida cruzada posterior; C) Arcada superior e D) inferior.
A respiração bucal pode interferir no padrão de crescimento local, corporal e psicossocial, dentre eles: face longa e estreita;
facial com repercussões no desenvolvimento dos maxilares e ar- boca aberta em repouso; lábios abertos e ressecados; lábio supe-
cos dentários, principalmente durante a fase de crescimento, em rior curto; lábio inferior volumoso, hipotônico e evertido; língua
virtude do desequilíbrio forma-postura-função6,17. hipotensa repousando no assoalho bucal; palato ogival e trans-
Mudanças associadas à postura mandibular e às funções dos versalmente atrésico; olheiras profundas; desarmonias oclusais
músculos relacionados à mesma têm sido postuladas como cau- como mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e in-
sas de alterações no crescimento facial. O relacionamento entre cisivos superiores protusos; respiração audível; hiponasalidade;
função e forma é evidente17. nariz pequeno, afilado, tenso ou com uma pirâmide óssea larga;
Harvold, Tomer e Vargervik8 observaram que as obstruções desvios posturais como cabeça flétida, ombros com rotação dian-
nasais provocam adaptações mioesqueléticas no sistema esto- teira (queda) com exposição das escápulas, cifose, lordose e região
matognático, comprovando a atuação das matrizes funcionais de torácica mal desenvolvida e déficit de ventilação pulmonar. Na
Moss no crescimento e no desenvolvimento das estruturas esque- anamnese e na história clínica do paciente, é comum encontrar-
léticas craniofaciais. mos antecedentes de infecções repetidas como otites médias e,
De acordo com Moyers22, uma causa que atue durante certo conseqüentemente, distúrbios auditivos, pneumonias, sinusites,
tempo sobre os tecidos provocará um resultado que depende de amigdalites, hiperatividade (síndrome da apnéia obstrutiva do
sua freqüência, intensidade e duração. As figuras 3A e 3B ilustram sono) e trauma nasal. No aspecto psicossocial, também podem
aspectos clínicos relevantes de um caso típico de postura adapta- estar presentes várias alterações como sono agitado, sonolência
tiva de língua com comprometimento dentofacial. diurna, irritabilidade, falta de atenção, percepção alterada da re-
Conforme o tempo de instalação da respiração bucal, a crian- alidade e do cotidiano, baixo rendimento escolar ou de trabalho e
ça desenvolve sinais e sintomas de severidade variável aos níveis problemas no desenvolvimento da linguagem11,32.
Figura 5 - Mordida aberta anterior e arcos em formato de V devido à alte- Figura 6 - Limpeza e inspeção da cavidade nasal do recém-nascido. Primeira
ração postural da língua. tentativa de diagnosticar alguma obstrução nasofaringeana, no caso, a atresia das
coanas.
Mocellin18, ao explicar o mecanismo de deformidade facial, trar em contato com os pacientes, diagnosticando, logo ao nas-
cita que, em processos normais, inicialmente a língua se posiciona cimento na sala de parto, a atresia parcial ou total de coanas
entre os rebordos gengivais e com a erupção dos dentes decíduos quando a sonda nasogástrica encontra um ponto de resistência
permanece no espaço bucal, ficando em contato com o palato e no procedimento de aspiração1.
exercendo pressão sobre o arco superior. Pacientes com respiração A criança ao nascer, não sabe respirar pela boca, mas durante
bucal mantém a boca constantemente aberta, não permitindo que a fase de crescimento e desenvolvimento é possível que alterações
a língua pressione o palato no sentido de expandi-lo. Por outro morfológicas nas estruturas da nasofaringe, processos fisiológicos
lado, a maxila é comprimida pelo sistema muscular da face, ori- alterados, patologias diversas ou ainda um simples hábito vicioso
ginando mordida cruzada posterior (Fig. 4). A alteração postural podem levá-la a desenvolver e perpetuar um modo alternativo e
da língua pode também favorecer o desenvolvimento de mordida menos fisiológico de respiração: a bucal e/ou mista.
aberta anterior (Fig. 5). O palato duro tende a subir conformando Com o tempo, a respiração bucal crônica pode levar a altera-
o palato ogival. ções no crescimento e no desenvolvimento dentofaciais, princi-
O diagnóstico da respiração bucal ou mista nasal deve ser re- palmente nos primeiros anos de vida, quando se tem uma grande
alizado o mais precocemente possível, bem como a intervenção velocidade de crescimento das estruturas faciais e do crânio5.
para o restabelecimento do crescimento e desenvolvimento cra- Como essas alterações são de instalação progressiva, nem
niofaciais harmoniosos. sempre são percebidas pelos familiares e, sendo o ideal diagnosti-
car o respirador bucal o mais precocemente possível, cabe ao mé-
Contribuição profissional multidisciplinar dico pediatra suspeitar tratar-se de um respirador bucal a crian-
Existindo uma relação entre várias alterações que algumas ve- ça que apresentar lábios afastados, comer e respirar pela boca,
zes estão associadas na síndrome da respiração bucal, faz-se indis- mastigar pouco, tiver dificuldades para se alimentar de produtos
pensável a participação de uma equipe multidisciplinar para a rea- sólidos, apresentar acúmulo de saliva e troca de fonemas28.
lização de diagnóstico e tratamento corretos e efetivos, nos quais Uma importante contribuição do profissional pediatra é a
cada profissional, em sua especialidade, tem sua responsabilidade orientação dos pais quanto aos fatores agravantes como sucção
e sua contribuição, devendo atuar em momentos adequados e es- do dedo ou chupeta não ortodôntica e o uso do bico de mama-
pecíficos. A seguir serão expostas as maneiras e os momentos de deira inadequado33. Deve ainda estimular o aleitamento materno,
atuação dos diversos especialistas em um trabalho de equipe. que contribui para o desenvolvimento da musculatura orofacial e
diminui os hábitos deletérios da sucção23.
Médico pediatra Frente a dificuldades em estabelecer diagnóstico definitivo,
O pediatra é, indiscutivelmente, o primeiro profissional a en- ele pode recorrer ao otorrinolaringologista e ao imunologista.
A B
Figura 7 - A) Gravura do pintor retratando a desfiguração da face humana no processo de respiração bucal; B) Harmonia facial
comprometida com alterações labiais importantes no respirador bucal.
tista acompanhar o crescimento facial da criança. inicial de rinite hipertrófica crônica com envolvimento de hipertro-
Pelo fato de a obstrução nasal poder ser crônica, de instalação fia dos cornetos nasais, o que será confirmado ou não pelo otorri-
progressiva e assim acompanhar a criança por muito tempo, ou nolaringologista.
ainda, por tentativas frustradas de tratamento, muitos pais acabam Esse mesmo estudo revelou excelente reprodutibilidade com
se conformando com a disfunção, relegando o problema a segun- alta sensibilidade para o diagnóstico da imagem da cauda do cor-
do plano. Nesse contexto, o ortodontista assume um papel muito neto inferior que, quando hipertrófica, pode obstruir a porção pos-
importante ao informar e orientar esses pais sobre a gravidade do terior da cavidade nasal e impedir ou dificultar a respiração nasal. É
problema e realizar o encaminhamento aos profissionais que tra- de fundamental importância o conhecimento da localização crítica
balham no restabelecimento da função respiratória nasal, o mais da cauda do corneto inferior e do seu potencial obstrutivo quando
precocemente possível. se apresenta hipertrófico (Fig. 9A). A telerradiografia pode apontar
Embora a responsabilidade pelo diagnóstico e tratamento da essa hipertrofia e o ortodontista pode realizar o diagnóstico inicial
obstrução nasofaringeana não seja do ortodontista e sim da classe (Fig. 9B, C).
médica, a ele compete o encaminhamento para um correto diag- A telerradiografia pode ainda ser útil em uma avaliação inicial
nóstico e a sugestão de diagnósticos iniciais a serem confirmados dos seios paranasais, principalmente dos seios maxilares, sugerindo
pelos médicos. A ajuda no diagnóstico pode ser feita tendo em vis- um quadro de sinusite quando se observa a opacificação do seio
ta que o ortodontista dispõe, em sua documentação ortodôntica, maxilar, situação que pode ser avaliada inicialmente pelo ortodon-
da telerradiografia cefalométrica lateral. Por meio dela, o ortodon- tista. Lesões intra-seios maxilares também podem ser identificadas
tista, além de estudar as características esqueléticas dentofaciais, na telerradiografia10.
dimensiona e avalia a naso e a orofaringe17. A avaliação do grau de hipertrofia das adenóides e, principal-
Segundo Ianni Filho et al.10, com relação à imagem dos cornetos mente, do espaço aéreo nasofaringeano livre é perfeitamente pos-
nasais, a telerradiografia cefalométrica lateral apresenta suficiente sível de ser realizada pelo ortodontista pois, segundo Ianni Filho9,
reprodutibilidade para o diagnóstico de hipertrofia dos corne- existe boa concordância entre os diagnósticos radiográficos e en-
tos inferior e médio e para a cauda do corneto inferior. O exame doscópicos. Nesse sentido, a telerradiografia, por ser padronizada
radiográfico apresenta alta sensibilidade, porém baixa especifi- em cefalostato (Fig. 10A), é mais confiável do que o RX do Cavun
cidade no diagnóstico de hipertrofia dos cornetos nasais inferior (Fig. 10B) utilizado pelo otorrinolaringologista, podendo ser usada
e médio, quando comparado ao diagnóstico endoscópico naso- com mais segurança como parâmetro de comparação na avaliação
faringeano. Apesar da limitação de baixa especificidade, o exame dos resultados de tratamentos, enquanto que o RX do Cavum é
radiográfico analisado com critério proporciona, juntamente com menos confiável por não padronizar a posição da cabeça no ato da
o exame clínico, a história do paciente (anamnese) e a experiência tomada radiográfica. Uma pequena alteração no posicionamento
profissional, uma técnica de diagnóstico simples e barata. Essas do paciente, como por exemplo uma rotação da cabeça, pode mas-
informações podem ajudar o ortodontista a sugerir o diagnóstico carar a imagem radiográfica incorrendo em erro de diagnóstico.
A b c
Figura 9 - A) Corte sagital mediano da cabeça de cadáver mostrando os cornetos nasais inferior, médio e superior e a localização crítica da cauda do corneto
inferior que, quando hipertrófico, pode obstruir as coanas, dificultando a respiração nasal e predispondo à respiração bucal; B) telerradiografia cefalométrica lateral
mostrando a imagem da cauda do corneto inferior; C) Maior detalhe radiográfico da relação da cauda do corneto inferior com a coana.
A B
Figura 10 - A) Telerradiografia cefalométrica lateral padronizada em cefalostato, B) telerradiografia lateral do Cavun sem padronização em cefalostato.
A b
Figura 12 - A) Desvio septal anterior evidenciado na avaliação ortodôntica da porção anterior da cavidade nasal. B) Detalhe do desvio de septo anterior em
direção à narina esquerda.
A b
Figura 13 - A) Imagem radiográfica da cabeça hipertrófica do corneto inferior. B) Imagem de vídeo-endoscopia-nasal da hipertrofia da cabeça do corneto inferior, com
detalhes de cor e textura.
A B C
D E
Figura 14 - A) Imagem do RX panorâmico com foco e detalhe na região da cavidade nasal, onde pode ser visto o desvio septal anterior e a hipertrofia cós cornetos
nasais inferiores. Referem-se à imagem endoscópica de vários pontos do corneto inferior, sobreposta à radiografia panorâmica mostrando: B) cabeça hipertrófica; C) maior
detalhe da cabeça hipertrófica; D) corpo hipertrófico do corneto inferior; E) maior detalhe do corpo hipertrófico do corneto inferior, obstruindo quase que totalmente o meato
inferior.
Na documentação ortodôntica, o ortodontista dispõe ainda tes hipertróficas crônicas, rinite medicamentosa ou ainda hipertro-
do RX Panorâmico que pode ajudar no estabelecimento de alguns fia compensatória, quando existe, por exemplo, um desvio septal.
diagnósticos iniciais. É possível avaliar a porção anterior da cavida- As figuras 13A, B mostram, respectivamente, a imagem radiográ-
de nasal e diagnosticar, por exemplo, um desvio de septo anterior fica (RX Panorâmico) e a visão endoscópica da cabeça hipertrófica
(Fig. 11). Muitas vezes, esse desvio pode ser confirmado numa sim- do corneto inferior.
ples avaliação da porção anterior do nariz, levantando-se o ápice Segundo Ianni Filho9, a radiografia, apesar de suas limitações, é
nasal com os dedos (Figs. 12A ,B). A avaliação mais precisa e a con- suficientemente adequada para obtenção de diagnósticos iniciais,
firmação do diagnóstico serão feitas pelo otorrinolaringologista ao os quais podem ser realizados, muitas vezes, pelo ortodontista, no
realizar a rinoscopia anterior. intuito de contribuir no processo de diagnóstico das obstruções da
Na avaliação da panorâmica, pode ser analisado o grau de hi- nasofaringe. As figuras 14B, C, D, E, mostram imagens obtidas pelo
pertrofia da cabeça dos cornetos nasais inferiores e médios, o que otorrinolaringologista durante exame de vídeo-endoscopia-na-
ajuda no estabelecimento de diagnósticos iniciais de hipertrofia sofaringeana, mostrando, em diferentes ângulos, a hipertrofia do
dos cornetos nasais, geralmente conseqüência de quadros de rini- corneto nasal inferior, confirmando o diagnóstico inicial sugerido
pelo ortodontista de hipertrofia de cornetos, emitido na avaliação ciais. As considerações e atitudes relativas ao tratamento serão discu-
da radiografia panorâmica (Fig. 14A). tidas na segunda parte deste artigo, em futura publicação.
Além da contribuição do ortodontista na elaboração de diag- Vale ressaltar que, quando a criança respiradora bucal é vista
nósticos iniciais de processos obstrutivos da nasofaringe, de acordo pela primeira vez por um desses profissionais, cabe ao mesmo so-
com Rubin29, o acompanhamento dos resultados do tratamento e o licitar a participação de seus colegas para juntos iniciarem o trata-
monitoramento do crescimento facial são apontados como outras mento o mais precocemente possível, cada qual em sua especiali-
importantes contribuições da especialidade ortodôntica. dade e todos unidos ao redor de um único objetivo: ter o paciente
Se por um lado o ortodontista deve preocupar-se com a preven- respirando fisiologicamente pelo nariz, com a face crescendo de
ção do crescimento facial desfavorável e ajudar no diagnóstico ini- modo harmônico, livre do desconforto fisiológico e psicossocial
cial de possíveis causas obstrutivas nasofaringeanas, por outro, sua da respiração bucal. Afinal, a natureza não dividiu o homem em
atuação é muito expressiva no tratamento das deformidades dento partes; nós o fazemos por motivos científico-didáticos. Assim, cada
esqueléticas faciais em pacientes crianças, adolescentes e adultos especialidade guarda a responsabilidade de estar suficientemente
que por motivos diversos - ambientais e/ou genéticos, incluindo a informada e trabalhando em parceria com as outras especialidades,
respiração bucal - desenvolveram alterações morfológicas dentofa- pois a meta é a saúde total integrada.
KEY WORDS: Mouth breathing. Nasopharyngeal obstruction. Craniofacial growth and development. Multidisciplinarity.
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