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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA DA 4ª REGIÃO

COLENDA QUARTA TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5026244-57.2022.404.0000


AGRAVANTE: Bruno Negri
AGRAVADOS: Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
RELATORA: Desembargadora Federal Vivian Josete Pantaleão Caminha

PARECER

DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. AGRAVO DE


INSTRUMENTO EM AÇÃO POPULAR. TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNCIA. CONSULTA JUNTO À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA DA
UFSC. PROCESSO DE ESCOLHA DE REITOR(A) E VICE-REITOR(A). VOTO
PARITÁRIO. ILEGALIDADE. LEI Nº 5.540/1968. NECESSIDADE DE
OBSERVÂNCIA AO PESO DE SETENTA POR CENTO PARA O VOTO DO
CORPO DOCENTE. PARECER PELO PROVIMENTO DO AGRAVO.

I – RELATÓRIO

Trata-se de agravo de instrumento interposto visando à reforma da decisão (evento


12 do processo originário) que, em ação popular ajuizada por Bruno Negri contra a Universidade
Federal de Santa Catarina – UFSC, indeferiu o pedido tutela provisória de urgência, assim
formulado (evento 1 do processo originário):
(i) Seja concedida a necessária antecipação dos efeitos da tutela, inaudita
altera parte, a fim de que:
(i.i) Seja determinada a suspensão do resultado final da votação divulgada
da consulta prévia à comunidade universitária para a escolha dos
candidatos a Reitor e Vice-Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina
(gestão 2022-2025), para que não produza nenhum efeito;
(i.ii) Seja facultada à Comissão Eleitoral instalada (“COMELEUFSC 2022”)
que, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, inicie e finalize uma nova consulta
prévia à comunidade universitária para a escolha do candidato a Reitor e
Vice-Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (gestão 2022-2025),
desta vez respeitando-se o peso de 70% para os votos do corpo docente; e
(i.iii) Seja determinada a suspensão da Sessão Especial do CUn prevista para
o dia 02/05/2022 (próxima 2ª feira), às 08:30 horas, a qual tratará da
escolha dos candidatos que irão compor a lista tríplice a ser encaminhada à
Presidência da República, conforme RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº
161/2022/CUn, de 10 de fevereiro de 2022;

Documento eletrônico assinado digitalmente por Carmem Elisa Hessel, Procuradora


Regional da República - Procuradoria Regional da República - 4ª Região
Rua Otávio Francisco Caruso da Rocha, 800 - CEP: 90010-395 - Porto Alegre - RS
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PROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA DA 4ª REGIÃO

Em suas razões recursais, o autor defende, em síntese, que a pesquisa realizada pela
UFSC trata-se de verdadeira consulta prévia à comunidade universitária, caso em que deve ser
observada a obrigação legal de peso de 70% para os votos do corpo docente, nos termos do
artigo 16, III, da Lei nº 5.540/68. Refere que no 2º turno a votação foi realizada com a utilização
de urnas eletrônicas cedidas pelo TRE/SC, circunstância que comprova o inquestionável caráter
oficial da consulta. Acrescenta que a Nota Técnica do MEC nº 437/2011 encontra-se superada e
sem vigência desde 10/12/2018, em decorrência da Nota Técnica nº 400/2018. A fim de
corroborar suas alegações, faz menção a dois precedentes do TRF-4, em caso análogo, oriundo
de processo eleitoral da UFSM. Requer, ao final (evento 1):
a) a antecipação dos efeitos da tutela recursal, a fim de que:
(a.i) seja determinada a suspensão do resultado final divulgado da votação
da consulta prévia à comunidade universitária para a escolha dos
candidatos a Reitor e a Vice-Reitor da Universidade Federal de Santa
Catarina (gestão 2022-2025), para que não produza nenhum efeito; e
(a.ii) seja facultada à Comissão Eleitoral instalada (“COMELEUFSC 2022”)
que, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, inicie e finalize uma nova consulta
prévia à comunidade universitária para a escolha do candidato a Reitor e a
Vice-Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (gestão 2022-2025),
desta vez respeitando-se o peso de 70% para os votos do corpo docente;

O pedido de antecipação da tutela recursal foi indeferido (evento 2). Com


contrarrazões (evento 6), vieram os autos ao Ministério Público Federal para parecer.

II – FUNDAMENTAÇÃO

O ora agravante propôs a ação popular originária contra a UFSC, alegando que a
Universidade desencadeou processo eleitoral para eleição do comando da Instituição para o
mandato de 2022/2025, por meio da Resolução nº 001/COMELEUFSC/2022, cometendo
ilegalidades, especialmente quanto ao procedimento de consulta, quando determina o voto
paritário à comunidade escolar.

Indeferido o pedido de tutela provisória de urgência, o autor interpôs o presente


agravo de instrumento, pelas razões acima relatadas.

Da análise dos autos, considera-se que o recurso comporta provimento. Vejamos.

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Inicialmente, cumpre referir que, visando à efetividade da prestação jurisdicional, o


legislador permitiu que em todo e qualquer procedimento sejam concedidas decisões
antecipatórias dos efeitos da tutela jurisdicional pretendida.

No que diz respeito à tutela de urgência, o artigo 300 do atual Código de Processo
Civil prevê que esta poderá ser deferida quando o julgador estiver diante das seguintes
situações: (i) probabilidade do direito; e (ii) perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo. Há, também, permissivo da Lei nº 4.717/1965 a autorizar o deferimento da medida no
caso dos autos: “Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo
impugnado” (artigo 5º, §4º).

Cuida-se, como visto, de decisão provisória, dotada de revogabilidade, proferida com


o objetivo de evitar dano ao direito material da parte que necessita da tutela de forma
antecipada.

No contexto objeto dos autos, pertinente proceder-se a uma breve explanação sobre
a legislação aplicável à matéria.

A Lei nº 5.540/19681, em seu artigo 16, dispõe sobre a nomeação de Reitores e Vice-
Reitores das Universidades Federais, elencando diversos requisitos:

Art. 16. A nomeação de Reitores e Vice-Reitores de universidades, e de


Diretores e Vice-Diretores de unidades universitárias e de estabelecimentos
isolados de ensino superior obedecerá ao seguinte: (Redação dada pela Lei nº
9.192, de 1995)
I - o Reitor e o Vice-Reitor de universidade federal serão nomeados pelo
Presidente da República e escolhidos entre professores dos dois níveis mais
elevados da carreira ou que possuam título de doutor, cujos nomes figurem
em listas tríplices organizadas pelo respectivo colegiado máximo, ou outro
colegiado que o englobe, instituído especificamente para este fim, sendo a
votação uninominal; (Redação dada pela Lei nº 9.192, de 1995)
II - os colegiados a que se refere o inciso anterior, constituídos de
representantes dos diversos segmentos da comunidade universitária e da
sociedade, observarão o mínimo de setenta por cento de membros do corpo
docente no total de sua composição; (Redação dada pela Lei nº 9.192, de 1995)

1
Fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá outras
providências.

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III - em caso de consulta prévia à comunidade universitária, nos termos


estabelecidos pelo colegiado máximo da instituição, prevalecerão a
votação uninominal e o peso de setenta por cento para a manifestação
do pessoal docente em relação à das demais categorias; (Redação
dada pela Lei nº 9.192, de 1995) (Grifou-se)

Constata-se, dessa forma, que é facultado às Universidades promover consultas


prévias às respectivas comunidades acadêmicas, visando à formação da lista tríplice para
informar a escolha de Reitores e Vice-Reitores pelo Presidente da República. Entretanto, embora
o colegiado máximo da instituição possua autonomia para estabelecer os termos da consulta
prévia, o próprio dispositivo legal fixa parâmetros a serem observados, indicando que, na
votação, a qual será uninominal, há de ser considerado o peso de setenta por cento para a
manifestação do pessoal docente em relação à das demais categorias. No mesmo sentido é a
previsão do Decreto nº 1.916/19962:

Art. 1° O Reitor e o Vice-Reitor de universidade mantida pela União,


qualquer que seja a sua forma de constituição, serão nomeados pelo
Presidente da República, escolhidos dentre os indicados em listas tríplices
elaboradas pelo colegiado máximo da instituição, ou por outro colegiado
que o englobe, instituído especificamente para este fim.
§ 1o Somente poderão compor as listas tríplices docentes integrantes da
Carreira de Magistério Superior, ocupantes dos cargos de Professor Titular ou
de Professor Associado 4, ou que sejam portadores do título de doutor, neste
caso independentemente do nível ou da classe do cargo ocupado. (Redação dada
pelo Decreto nº 6.264, de 2007)
§ 2º A votação será uninominal, devendo as listas ser compostas com os três
primeiros nomes mais votados em escrutínio único, onde cada eleitor vota
em apenas um nome para cada cargo s ser preenchido.
§ 3° O colégio eleitoral que organizar as listas tríplices observará o mínimo
de setenta por cento de participação de membros do corpo docente em sua
composição.
§ 4° O colegiado máximo da instituição poderá regulamentar processo de
consulta à comunidade universitária, precedendo a elaboração das listas
tríplices, caso em que prevalecerão a votação definida no § 2º e o peso
de setenta por cento dos votos para a manifestação do corpo docente
no total dos votos da comunidade. (Grifou-se)

2
Regulamenta o processo de escolha dos dirigentes de instituições federais de ensino superior, nos termos da Lei n°
9.192, de 21 de dezembro de 1995.

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Depreende-se de tais diplomas legais que, na consulta prévia à comunidade


universitária, há que ser observado o percentual de setenta por cento para o peso do voto dos
docentes.

A Resolução nº 001/COMELEUFSC/2022 (evento 1 - ANEXO7 do processo


originário), por sua vez, assim prevê:

Art. 2º A consulta à comunidade universitária para a escolha de candidato a


Reitor e Vice-Reitor de que trata esta resolução será paritária, mediante o
voto direto e secreto através de sistema de votação a ser definido pela
COMELEUFSC, considerando a parcipação dos segmentos dos servidores
docentes, dos servidores técnico-administravos e dos estudantes.

Art. 4º Os votos válidos na consulta à comunidade universitária serão


ponderados na proporção de 1/3 (um terço) para os docentes, 1/3 (um
terço) para os técnico-administravos e 1/3 (um terço) para os
estudantes.
§ 1º Para os fins desta resolução consideram-se válidos os votos atribuídos
a Chapa regularmente inscrita, excluídos os votos em branco e os nulos.
§ 2º O índice de votação da Chapa em cada segmento será obdo mediante a
aplicação da seguinte fórmula: (número de votos válidos do segmento na
Chapa dividido pelo total de eleitores do segmento que votaram na consulta,
vezes um terço).
§ 3º Será considerada vencedora a Chapa que, somado os índices obdos em
cada segmento, alcançar índice geral superior a 50% (cinquenta por cento).

Nesse quadrante, em sede de cognição sumária, considera-se estarem presentes os


requisitos necessários à concessão da tutela provisória de urgência, pois, ao estabelecer
paridade entre os três segmentos elencados no artigo 4º retrotranscrito, a referida Resolução
afasta-se do requisito legal que determina o peso de setenta por cento para o voto do corpo
docente. Corroborando esse entendimento, o seguinte aresto, oriundo do TRF da 3ª Região,
proferido em caso análogo:

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.


LEGITIMIDADE ATIVA. ESCOLHA DE DIRETOR E VICE-DIRETOR DA UFGD.
CONSULTA À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA PARA FORMAÇÃO DE LISTA
TRÍPLICE. DESATENDIMENTO ÀS DISPOSIÇÕES LEGAIS. ART. 16 DA LEI Nº
5.540/98, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 9.192/96.
1. A sentença proferida contra autarquia federal, ainda que em sede de ação
civil pública, submete-se ao duplo grau de jurisdição, a teor do artigo 10 da
Lei nº 9.469/97.

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2. A eleição de diretor e vice-diretor da UFGD é de relevante interesse social,


ultrapassando os limites da coletividade universitária, legitimando a
intervenção do Ministério Público. Preliminar de ilegitimidade ativa do MPF
rejeitada.
3. Os critérios para o pleito universitário estão fixados na Lei nº
5.540/98, com a redação dada pela Lei nº 9.192/95, não podendo a
instituição de ensino, sob o manto da autonomia universitária, agir em
desacordo com a Lei.
4. O Supremo Tribunal Federal já decidiu que "o princípio da autonomia
universitária não significa soberania das universidades, devendo estas se
submeter às leis e demais atos normativos" (AI 647482, relator Ministro
Joaquim Barbosa, DJe: 30/03/2011.
5. Considerando ser válido o ato discricionário que optou pela realização de
consulta prévia, imperioso se faz que nova pesquisa seja realizada,
obedecidos estritamente aos parâmetros impostos pela Lei nº
5.540/68, a fim de subsidiar a formação de lista tríplice de candidatos à
diretoria da FACE, como deferido na liminar, posteriormente ratificada pela
sentença.
6. Não tendo o artigo 16, inciso III, da Lei nº 5.540/68 sido declarado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal com eficácia erga
omnes, está o administrador adstrito ao seu cumprimento, sem
possibilidade de realização de ato em sentido contrário, ainda que
discorde da norma legal.
7. Por seu turno, como observado pelo juiz singular, não se vislumbra
"inconstitucionalidade na norma que confere maior peso ao voto dos
docentes, uma vez que sob a análise da igualdade material, deve ser dado
maior poder de decisão a estes, considerando que permanecerão
desenvolvendo as atividades da universidade com maior definitividade que
as outras categorias bem como estarão diretamente subordinados às ordens
da reitoria, ao contrário dos discentes."
8. Apelação e remessa oficial tida por interposta a que se nega provimento.
(TRF 3ª Região, 6ª Turma, Ap - APELAÇÃO CÍVEL - 1887435 - 0002837-
25.2012.4.03.6002, Rel. Des. Federal MAIRAN MAIA, julgado em
18/02/2016, e-DJF3 Judicial 1 DATA:02/03/2016) (Grifou-se)
Outrossim, mais recentemente, o seguinte acórdão, proferido por essa colenda
Quarta Turma do TRF da 4ª Região:

ADMINISTRATIVO. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA.


CONSULTA À COMUNIDADE ACADÊMICA. REITORIA. LEI 5.540/1968.
VIGÊNCIA. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. 1. O artigo 16 da Lei
nº 5.540/1968 continua em vigor e determina que o corpo docente da
instituição deve corresponder a, pelo menos, 70 (setenta) por cento
dos votos do colegiado da comunidade acadêmica responsável por
indicar os nomes da lista tríplice de Reitor e Vice-Reitor. 2.
Embora denominado de "pesquisa de opinião", o processo consultivo da
Universidade se destina ao levantamento prévio de intenções para

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a formação da lista para concorrer ao processo eleitoral dos cargos de


Reitor e Vice-Reitor, consistindo verdadeira consulta prévia à
comunidade acadêmica. 3. Agravo de instrumento ao qual se nega
provimento. (TRF4, AG 5026053-46.2021.4.04.0000, QUARTA TURMA,
Relator VICTOR LUIZ DOS SANTOS LAUS, juntado aos autos em
20/05/2022) (Grifou-se)

Na hipótese, como bem pontuou a procuradora da República Tatiana Almeida de


Andrade Dornelles nos autos da ação popular nº 5005973-95.2021.404.7102, que originou o
agravo de instrumento nº 5005973-95.2021.404.7102, cujo acórdão foi acima transcrito, “(...) em
uma análise preliminar, parece que a Resolução nº 046, ainda que utilize o termo 'pesquisa de
opinião', estaria buscando a mesma finalidade da consulta prévia, mas sem a necessidade de
respeitar os requisitos legais. Ainda que não se ignore que mesmo em caso de consulta formal
ela não terá caráter vinculativo, também não se pode diminuir o peso que tais consultas de
opinião possuem nos processos democráticos, caso contrário, não seriam sequer realizadas.”
(evento 13 – PARECER1 da ação nº 5005973-95.2021.404.7102).

Destarte, não se olvidando da autonomia didático-científica, administrativa e de


gestão financeira e patrimonial atribuída às Universidades pela Constituição Federal (artigo
207), fato é que estas se encontram, igualmente, vinculadas aos limites impostos pelo
ordenamento jurídico, sendo necessária a observância das disposições da Lei nº 5.540/68.

Em conclusão, considera-se que merece provimento o recurso, a fim de que seja


observado, na Consulta da comunidade universitária, o peso proporcional correspondente a
setenta por cento dos votos do seguimento docente.

III – CONCLUSÃO

Ante o exposto, o Ministério Público Federal manifesta-se pelo provimento do


agravo.

Porto Alegre, 26 de julho de 2022.

Carmem Elisa Hessel


Procuradora Regional da República

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