Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Texto 4 - Fundamentos de Economia (Vasconcelos e Garcia) - Cap. 4 - Introdução À Microeconomia

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 4

CAPITULO 4

Introdução à Microeconomia
4.1 Conceito

A Microeconomia, ou teoria dos preços, analisa a formação de preços no mercado, ou seja, como a empresa
e o consumidor interagem e decidem qual o preço e a quan3dade de determinado bem ou serviço em mercados
específicos.
Assim, enquanto a Macroeconomia enfoca o comportamento da Economia como um todo, considerando
variáveis globais como consumo agregado, renda nacional e inves3mentos globais, a análise microeconômica
preocupa-se com a formação de preços de bens e serviços (por exemplo, soja, automóveis) e de fatores de
produção (salários, aluguéis, lucros) em mercados específicos.
A teoria microeconômica não deve ser confundida com economia de empresas, pois tem enfoque distinto.
A Microeconomia estuda o funcionamento da oferta e da demanda na formação do preço no mercado, isto é, o
preço ob3do pela interação do conjunto de consumidores com o conjunto de empresas que fabricam um dado bem
ou serviço. Do ponto de vista da Administração de Empresas, que estuda uma empresa específica, prevalece a visão
contábil financeira na formação do preço de venda de seu produto, baseada principalmente nos custos de
produção, enquanto na Microeconomia predomina a visão do mercado como um todo.
A abordagem econômica se diferencia da contábil mesmo quando são tratados os custos de produção, pois
o economista analisa não só os custos efetivamente incorridos, mas também aqueles decorrentes das
oportunidades sacrificadas, ou seja, dos custos de oportunidade ou implícitos. Como detalharemos mais adiante,
os custos de produção do ponto de vista econômico não são apenas os gastos ou desembolsos financeiros
incorridos pela empresa (custos explícitos), mas incluem também quanto as empresas gastariam se 3vessem de
alugar ou comprar no mercado os insumos que são de sua propriedade (custos implícitos).
Os agentes da demanda — os consumidores — são aqueles que se dirigem ao mercado com o intuito de
adquirir um conjunto de bens ou serviços que lhes maximize sua função u3lidade. No Direito, u3lizou-se a
conceituação econômica para se definir consumidor: pessoa natural ou jurídica que no mercado adquire bens ou
contrata serviços como des3natário final, visando atender a uma necessidade própria.
A conceituação de empresa, entretanto, possui duas visões: a econômica e a jurídica. Do ponto de vista
econômico, empresa ou estabelecimento comercial é a combinação realizada pelo empresário dos fatores de
produção: capital, trabalho, terra e tecnologia, de tal modo organizados para se obter o maior volume possível de
produção ou de serviços ao menor custo.
Na doutrina jurídica, reconhece-se o estabelecimento como uma universalidade de direito, incluindo-se na
a3vidade econômica um complexo de relações jurídicas entre o empresário e a empresa1. O empresário é, assim, o
sujeito da atividade econômica, e o objeto é cons3tuído pelo estabelecimento, que é o complexo de bens corpóreos
e incorpóreos u3lizados no processo de produção. A empresa, nesse contexto, é o complexo de relações jurídicas
que unem o sujeito ao objeto da a3vidade econômica2.
1 - No Brasil, a lei reconhece o estabelecimento como uma universalidade de fato e não de direito.
2 - É de se notar que, no Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, em vez de serem utilizados termos como “industrial”, “comerciante”,
“banqueiro” etc., ou genericamente “empresário”, preferiu-se “fornecedor”, na realidade o responsável, nas relações de consumo (relações
jurídicas), pela colocação de produtos e serviços à disposição do consumidor.

4.2 Pressupostos básicos da análise microeconômica

4.2.1 A hipótese coeteris paribus

Para analisar um mercado específico, a Microeconomia se vale da hipótese de que tudo o mais permanece
constante (em latim, coeteris paribus). O foco de estudo é dirigido apenas àquele mercado, analisando-se o papel
que a oferta e a demanda nele exercem, supondo que outras variáveis interfiram muito pouco, ou que não
interfiram de maneira absoluta.
Adotando-se essa hipótese, torna-se possível o estudo de determinado mercado, selecionando-se apenas
as variáveis que influenciam os agentes econômicos — consumidores e produtores — nesse par3cular mercado,
independentemente de outros fatores, que estão em outros mercados, poderem influenciá-los.
Sabemos, por exemplo, que a procura de uma mercadoria é normalmente mais afetada por seu preço e
pela renda dos consumidores. Para analisar o efeito do preço sobre a procura, supomos que a renda permanece
constante (coeteris paribus); da mesma forma, para avaliar a relação entre a procura e a renda dos consumidores,
supomos que o preço da mercadoria não varia. Temos, assim, o efeito “puro” ou “líquido” de cada uma dessas
variáveis sobre a procura.

27
4.2.2 Papel dos preços relaBvos

Na análise microeconômica, são mais relevantes os preços relaBvos, isto é, os preços de um bem em
relação aos demais, do que os preços absolutos (isolados) das mercadorias.
Por exemplo, se o preço do guaraná cair em 10%, mas também o preço da soda cair em 10%, nada deve
acontecer com a demanda (procura) dos dois bens (supondo que as demais variáveis permaneceram constantes).
Agora, tudo o mais permanecendo constante, se cair apenas o preço do guaraná, permanecendo inalterado o preço
da soda, deve-se esperar um aumento na quan3dade procurada de guaraná, e uma queda na de soda. Embora não
tenha havido alteração no preço absoluto da soda, seu preço rela3vo aumentou, quando comparado com o do
guaraná.

4.2.3 Objetivos da empresa

A grande questão na Microeconomia, que inclusive é a origem das diferentes correntes de abordagem,
reside na hipótese adotada quanto aos obje3vos da empresa produtora de bens e serviços.
A análise tradicional supõe o princípio da racionalidade, segundo o qual o empresário sempre busca a
maximização do lucro total, otimizando a utilização dos recursos de que dispõe3. Essa corrente enfa3za conceitos
como receita marginal, custo marginal e produ3vidade marginal em lugar de conceitos de média (receita média,
custo médio e produ3vidade média), daí ser chamada de marginalista. Como veremos no Capítulo 6, a maximização
do lucro da empresa ocorre quando a receita marginal iguala-se ao custo marginal.
As correntes alternativas consideram que o objetivo do empresário não seria a maximização do lucro, mas
fatores como aumento da par3cipação nas vendas do mercado, ou maximização da margem sobre os custos de
produção, independentemente da demanda de mercado.
Geralmente, nos cursos de Economia, a abordagem marginalista compõe a teoria microeconômica
propriamente dita, pelo que é chamada de teoria tradicional, enquanto as demais abordagens são usualmente
analisadas nas disciplinas denominadas Teoria da Organização Industrial ou Economia Industrial.
3 - O princípio da racionalidade (que supõe um homo oeconomicus, isto é, um homem econômico) é aplicado extensamente na teoria
microeconômica tradicional. Por esse princípio, os empresários tentam sempre maximizar lucros, estando condicionados pelos custos de
produção; os consumidores procuram maximizar sua sa sfação (ou u lidade) no consumo de bens e serviços (limitados por sua renda e pelos
preços das mercadorias); os trabalhadores procuram maximizar lazer etc.

4.3 Aplicações da análise microeconômica

A análise microeconômica, ou teoria dos preços, como parte da ciência econômica, preocupa-se em
explicar como se determina o preço dos bens e serviços, bem como dos fatores de produção. O instrumental
microeconômico procura responder, também, a questões aparentemente triviais; por exemplo, por que, quando o
preço de um bem se eleva, a quantidade demandada desse bem deve cair, coeteris paribus?
Entretanto, deve-se salientar que, se a teoria microeconômica não é um manual de técnicas para a tomada
de decisões do dia-a-dia, mesmo assim ela representa uma ferramenta ú3l para estabelecer polí3cas e estratégias,
dentro de um horizonte de planejamento, tanto para empresas como para polí3cas econômicas.

Para as empresas, a análise microeconômica pode subsidiar as seguintes decisões:

polí3ca de preços da empresa;


previsões de demanda e faturamento;
previsões de custos de produção;
decisões ó3mas de produção (escolha da melhor alterna3va de produção, isto é, da melhor
combinação de fatores de produção, e do tamanho (escala) ó3ma de operação);
avaliação e elaboração de projetos de inves3mentos (análise custo–beneRcio da compra de
equipamentos, ampliação da empresa);
polí3ca de propaganda e publicidade (como as preferências dos consumidores podem afetar a
procura do produto);
localização da empresa (se a empresa deve situar-se próxima aos centros consumidores ou aos
centros fornecedores de insumos);
diferenciação de mercados (possibilidades de preços diferenciados, em diferentes mercados
consumidores do mesmo produto).

28
Em relação à políBca econômica, a teoria microeconômica pode contribuir na análise e tomada de decisões
das seguintes questões:

avaliação de projetos de inves3mentos públicos;


efeitos de impostos sobre mercados específicos;
polí3ca de subsídios (nos preços de produtos como trigo e leite, ou na compra de insumos como
máquinas, fertilizantes);
fixação de preços mínimos na agricultura;
fixação do salário mínimo;
controle de preços;
polí3ca salarial;
polí3ca de tarifas públicas (água, luz e outras);
polí3ca de preços públicos (como petróleo, aço);
leis an3truste (controle de lucros de monopólios e oligopólios).

Como se observa, são decisões necessárias ao planejamento estratégico das empresas e à polí3ca e à
programação econômica do setor público.

4.4 Divisão do estudo microeconômico

A teoria microeconômica consiste nos seguintes tópicos:

4.4.1 Análise da demanda

A teoria da demanda ou procura de uma mercadoria ou serviço divide-se em teoria do consumidor


(demanda individual) e teoria da demanda de mercado.

4.4.2 Análise da oferta

A teoria da oferta de um bem ou serviço também subdivide-se em oferta da firma individual e oferta de
mercado. Dentro da análise da oferta da firma são abordadas a teoria da produção, que analisa as relações entre
quan3dades Rsicas do produto e os fatores de produção, e a teoria dos custos de produção, que incorpora, além
das quan3dades Rsicas, os preços dos insumos.

4.4.3 Análise das estruturas de mercado

A par3r da demanda e da oferta de mercado, são determinados o preço e a quan3dade de equilíbrio de um


dado bem ou serviço. O preço e a quan3dade, entretanto, dependerão da par3cular forma ou estrutura desse
mercado, ou seja, se ele é competitivo, com muitas empresas produzindo um dado produto, ou concentrado em
poucas ou em uma única empresa.
Na análise das estruturas de mercado, avaliam-se os efeitos da oferta e da demanda, tanto no mercado de
bens e serviços como no mercado de fatores de produção.

As estruturas do mercado de bens e serviços são:

a) concorrência perfeita;
b) concorrência imperfeita ou monopolís3ca;
c) monopólio;
d) oligopólio.

As estruturas do mercado de fatores de produção são:

a) concorrência perfeita;
b) concorrência imperfeita;
c) monopsônio;
d) oligopsônio.

29
No mercado de fatores de produção, a procura de fatores produ3vos é chamada de demanda derivada,
uma vez que a demanda por insumos (mão-de-obra, capital) está condicionada à (ou derivada da) procura pelo
produto final da empresa no mercado de bens e serviços.

4.4.4 Teoria do equilíbrio geral

A análise do equilíbrio geral leva em conta as inter-relações entre todos os mercados, diferentemente da
análise de equilíbrio parcial, que analisa um mercado isoladamente, sem considerar suas inter-relações com os
demais. Ou seja, procura-se analisar se o comportamento independente de cada agente econômico conduz todos a
uma posição de equilíbrio global, embora todos sejam, na realidade, interdependentes.
A teoria do bem-estar, ou welfare economics, estuda como alcançar soluções socialmente eficientes para o
problema da alocação e distribuição dos recursos, ou seja, encontrar a “alocação ó3ma dos recursos”.
Há de se destacar que no estudo microeconômico um dos tópicos consiste na análise das imperfeições de
mercado, em que se analisam situações nas quais os preços não são determinados isoladamente em cada mercado.
Na realidade, tanto a teoria do equilíbrio geral e do bem-estar como a teoria do consumidor são
fundamentalmente abstratas, utilizando-se, com frequência, modelos matemá3cos de razoável grau de dificuldade.
Como o obje3vo deste livro é fornecer aos estudantes e profissionais de Direito e de humanidades em geral
conceitos básicos de Economia, que deem subsídios para sua atuação no dia-a-dia e um melhor entendimento das
principais questões econômicas de nosso tempo, essas teorias não serão discu3das aqui, pois não costumam ser
abordadas nos cursos introdutórios de Economia, sendo normalmente ministradas ao final da disciplina de teoria
microeconômica.

Questões para revisão

1. Qual o papel dos preços rela3vos na análise microeconômica?

2. O estabelecimento comercial pode ser conceituado de duas ó3cas: a econômica e a jurídica. Explique
cada uma delas.

3. No raciocínio econômico, qual a importância da hipótese do coeteris paribus?

4. Qual o principal campo de atuação da teoria microeconômica?

5. Como se divide o estudo microeconômico?

30

Você também pode gostar