Resenha Exploradores de Cavernas PDF
Resenha Exploradores de Cavernas PDF
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RESENHA DO LIVRO:
FULLER, Lon L. "O Caso dos Exploradores de Cavernas". Tradução e introdução por
Plauto Faraco de Azevedo. Porto Alegre: Fabris, 1976.
Palavra chaves:
-Cavernas
-Estado de Necessidade
O livro “O Caso dos Exploradores de Cavernas”, foi criado por Lon Fuller, nascido
no estado do Texas em 1902, e registrado com o nome de Jean Luvois Fuller, escolhido
por sua mãe Salomé Moore Fuller, porém, em virtude de constantes inconvenientes que
passava pela tradução de seu nome para o inglês que remetia a um nome de gênero
feminino, alterou seu primeiro nome para Lon. Estudou Economia e Direito na
Universidade de Stanford. Trabalhou em muitas universidades até chegar a Faculdade de
Direito de Harvard, onde participou do corpo docente entre os anos de 1940 e 1972. Teve
variados trabalhos publicados no âmbito do Direito Civil, Filosofia e Teoria do Direito.
Dentre todas suas obras, “O Caso dos Exploradores de Cavernas”, publicado em 1949,
pode ser usado como material didático para introdução de conflitos jurídicos e estimular
a reflexão crítica em julgamento de casos complicados.
"O Caso dos Exploradores de Cavernas" é um livro escrito por Lon Lucois Fuller,
um jurista norte-americano que quis em sua obra focar as formas eficazes de aplicação
dos sistemas jurídicos.
A obra ficcional, no ano de 4300, retrata uma sessão de julgamento na Suprema
Corte de Newgarth, na qual quatro exploradores recorrem da decisão do Tribunal de
primeira instância para condená-los a morte pelo assassinato de Roger Whetmore. Este,
juntamente com os quatro réus, fazia parte de uma organização amadorística de
exploração de cavernas, a Sociedade Espeleológica. O grupo estava em uma incursão a
uma caverna quando um desmoronamento de terra os deixou presos.
Na caverna permaneceram por muito tempo devido à dificuldade do resgate e em
razão de outros desmoronamentos que resultou na morte de dez operários que
trabalhavam na operação de salvar aquelas pessoas. Mantendo contato com a equipe de
resgate através de um rádio, os exploradores receberam a notícia que, devido os
empecilhos do resgate, seria preciso mais dez dias para concluir tal missão. Com
suprimentos escassos, a chance de sobrevivência deles era mínima, então Roger
Whetmore, um dos exploradores, perguntou ao médico responsável qual chance de
sobrevivência se comessem carne humana. A resposta foi que provavelmente sim, então
se voltaram às autoridades religiosas, políticas e médicas, mas ninguém aceitou tomar
uma decisão. Whetmore propôs que jogassem os dados, e a pessoa que perdesse seria
morta e comida pelos outros, mas pediu que esperassem mais uma semana para fazerem
o sorteio, porém seus colegas não aceitaram, então jogaram os dados e Whetmore como
o selecionado para ser morto e servir de alimento aos demais. Este não teve objeções e
então, prosseguiu-se o ato.
Durante o resgate, dez trabalhadores perderam a vida após um novo
deslizamento de terra. Após serem resgatados e levados ao hospital para tratarem de
desnutrição e recuperarem psicologicamente do trauma eles foram indiciados por crime
de homicídio pela morte de Roger Whetmore e condenados em primeira instância, o júri
decidiu que eles deveriam ser condenados com pena de morte pela forca. Após o
encerramento do julgamento, o júri enviou uma petição ao Poder Executivo pedindo que
modificasse a pena para seis meses de reclusão. O livro abrange diversos conceitos
fundamentais no ramo jurídico, como Direito positivo e Direito natural, bem como a
aplicação destes ao caso.
O juiz Foster foi o primeiro a votar e não hesitou em dizer que eles eram
inocentes, já que quando os réus mataram Whetmore eles estavam num “estado de
natureza” e a lei que deveria ser aplicada não seria a lei positivada, mas sim a que
adequasse à situação do caso. Em contrapartida, o juiz Tatting se mostra numa
controvérsia, por um lado os acusa e por outro demostra empatia pelos réus, questionando
Foster sobre essas “leis da natureza”: quando elas começaram a valer e se foi antes ou
depois de Whetmore foi morto. O juiz Keen diz que os exploradores já haviam sofrido
muito e que deveriam ser absolvidos, porém, vota a favor da condenação dos réus, pois
deveriam ser julgados de acordo com o que era descrito pela lei. Hand votou a favor da
inocência dos réus baseando-se numa pesquisa feita pela população onde noventa por
cento votava a favor da absolvição, e a opinião pública deveria ser levada em
consideração, já que o caso repercutiu no país e no exterior. Na conclusão da votação
houve um empate e foi mantida a decisão de primeira instância: os réus seriam enforcados
(FULLER, 1976, p.10 e 11).
Percebe-se que ‘O caso dos Exploradores de Cavernas” é um livro complexo e
uma excelente introdução para o Direito sobre as vertentes de um julgamento e como é
difícil tomar uma decisão, principalmente sobre a vida de outras pessoas. Um caso cheio
de lacunas e devido às condições que os exploradores estavam, o estado psicológico e
fisiológico abalado, suas questões pessoais sobre religião e a dúvida sobre se todos
sairiam vivos dali era sobre-humano. A forma como Fuller descreve a realidade jurídica
e a relação entre a moral e as leis, mostra um conectivo com a realidade que dá uma
abrangência enorme sobre a experiência do Direito, a criação do pensamento jurídico e
sobre quantos lados é possível observar e analisar sobre um caso como este.
Cada juiz demostrou diferentes perspectivas jurisprudencial, para o juiz
Truepenny, foi correta a decisão do júri, já que a lei escrita apenas possibilitava a
condenação, considerando a corrente positivista, sendo os réus culpados. O juiz Foster,
seguiu a corrente jus naturalista, afirmou ser inadequados e fantasiosos os argumentos de
Truepenny, aborda algumas problemáticas em considerar os réus sob estado de natureza,
os absolvendo. Para o juiz Tatting, há uma lacuna legal tanto no direito positivo quanto
no direito natural, se abstendo. O juiz Keen (FULLER, 1976, p.45-46), aderiu a corrente
positivista, compreende que o problema não é apenas o fato de ser impossível prever o
propósito da lei referente ao homicídio, mas também prever o seu alcance, encerra a favor
da condenação. Por fim, o juiz Handy (FULLER, 1976, p.54-72), com uma visão do
realismo jurídico, abordou a importância da utilização do senso comum em situações
como esta em que há evidentes conflitos quanto à aplicação da lei, considerando o caso
dos exploradores, a favor da absolvição dos réus.
Há uma relação pertinente da obra com a disciplina Introdução ao Direito, por
proporcionar o desenvolvimento do pensamento crítico sobre as diferentes formas de
produção do direito para a compreensão e avaliação do seu funcionamento em sociedade,
como também, uma análise das ideias de conflitos jurídicos e a reflexão em julgamentos
de casos complicados.
Referências Bibliográficas