Trabalho Instituições Jurídicas - Livro Os Exploradores de Caverna - Resumo - Prof Marcos Vasconcellos - 1o Semestre
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Trabalho Instituições Jurídicas - Livro Os Exploradores de Caverna - Resumo - Prof Marcos Vasconcellos - 1o Semestre
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Sumário
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 3
2. EXPLICAÇÃO DO TEMA. ......................................................................................................................... 3
3. RESUMO DO LIVRO ............................................................................................................................... 3
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1. INTRODUÇÃO
Este trabalho foi feito seguindo a orientação Prof. Marcos Vasconcellos e tem o objetivo de fazer uma
breve análise sobre o livro “O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA” de Lon L. Fuller, escrito em 1949
sob a análise da justiça na aplicação da lei.
2. EXPLICAÇÃO DO TEMA.
Resumo do Livro “O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA” de Lon L. Fuller, escrito em 1949.
3. RESUMO DO LIVRO
O trabalho de resgate foi muito difícil. Novos deslizamentos ocorreram, e numa das tentativas de
desobstruir a entrada, dez operários morreram soterrados. Os fundos da Sociedade Espeleológica foram
todos gastos e foi necessária uma subvenção do poder legislativo e uma campanha de arrecadação
financeira para a complementação dos fundos para continuar os trabalhos de resgate. A libertação dos
exploradores de caverna só foi possível no trigésimo dia, porém um deles havia sido morto para servir
de alimento aos demais.
No vigésimo dia de resgate, foi descoberto que os exploradores possuíam um radio transmissor, o que
permitiu a comunicação entre os exploradores e o acampamento de resgate. Os exploradores
perguntavam quanto tempo seria necessário para que a entrada da caverna fosse desbloqueada e a
resposta foi que o resgate levaria no mínimo mais dez dias. Em vista disso e da pouca quantidade de
alimentos, os exploradores fizeram duas perguntas:
O pessoal de resgate informou que as possibilidades de sobrevivência por mais dez dias eram muito
remotas. Mas que seria possível a sobrevivência se consumissem a cerne de um deles.
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Os exploradores dirigiram várias perguntas as autoridades religiosas, judiciárias e médicas a fim de saber
se seria recomendável tirarem a sorte para ver quem deveria ser comido. As autoridades não deram
resposta a esta pergunta.
Como não tiveram as respostas, a comunicação foi interrompida e os exploradores decidiram acertar
uma forma para sacrificar um dos cinco, permitindo a sobrevivência os outros quatro. Roger Whetmore
propôs um sorteio com dados para a escolha daquele que seria sacrificado. Antes do início do jogo,
porém, ele decide desistir de participar, dizendo que preferia aguardar mais uma semana. Seus
companheiros o acusaram de traição e procederam ao lançamento dos dados. Quando chegou a vez de
Whetemore, os dados foram lançados pelos outros e ele acabou sendo o escolhido para ser morto. Sua
carne serviu de alimento para seus companheiros que sobreviveram e foram salvos no 30º dia depois do
início do resgate.
• Foster propõe a absolvição dos réus baseando-se numa posição jus naturalista, alegando que
quando Whetemore foi morto eles não se encontravam em um estado de sociedade civil, mas
em um estado natural e por isso a lei não poderia ser aplicada.
• Tatting fica em cima do muro e pede afastamento do caso por estar muito envolvido
emocionalmente. E apesar de ser questionado posteriormente se queria rever a sua opinião,
reafirmou que não queria participar da decisão deste caso.
• Keen condena os réus e acusa FOSTER de estar usando furos na legislação para tentar defender
e acha que o caso não deveria ser resolvido por eles.
• Handy relata uma pesquisa que foi feita para saber a opinião pública e 90% das pessoas
absolvem os réus. Ele fica do lado da Opinião publica.
A Suprema Corte ficou dividida e desta forma, a sentença do Tribunal de primeira instância foi mantida.
Como a lei "Quem quer que intencionalmente prive a outrem da vida será punido com a morte", não
admitia exceções, os quatro réus foram condenados e foi ordenada a execução da sentença às 6h da
manhã de 02 de abril de 4300 quando o carrasco foi intimado a proceder com o enforcamento dos
quatro acusados.
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4. CONCLUSÃO
A condenação dos réus foi feita com base na aplicação simples do que a lei previa. “Dura lex, sed lex”,
ou seja, "a lei é dura, porém é a lei".
A expressão se refere à necessidade de se respeitar a lei em todos os casos, até mesmo naqueles em que
ela é mais rígida e rigorosa. Ao analisarmos a pena, podemos nos lembrar de Sócrates que podia ter
evitado beber a cicuta, por achar a condenação injusta. Porém ele prefere acatar a condenação para que
a lei e a ordem sigam seu curso natural e continuem sendo respeitadas.
Observação:
A expressão remonta ao período de introdução das leis escritas na Roma Antiga. A legislação, até então,
era transmitida pela via oral, e por consequência sofria diversas alterações por parte dos juízes, que as
refaziam de acordo com tradições orais, e introduziam uma série de interpretações pessoais, na medida
em que eram os detentores do poder de se referir a esta tradição oral. Com a introdução das leis
escritas, passaram a ser iguais para todos - e, como tal, deviam ser respeitadas, por mais duras que
fossem.
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I - RESUMO DA HISTÓRIA DE "O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS".
A pequena obra O Caso dos Exploradores de Cavernas, de autoria do jurista Lon L. Fuller, professor de
"Jurisprudence" da Harvard Law School, que fora traduzida para o português, por Paulo Faraco de
Azevedo, professor adjunto e pesquisador da Faculdade de Direito da UFRGS e doutor em Direito pela
Universidade Católica de Louvain, Bélgica, impresso em 1976 e reimpresso em 1993, é uma ficção
aparentemente infantil, cuja leitura me faz lembrar de O Pequeno Príncipe, também de tamanho
diminuto, de autoria do escritor francês Antoine Saint-Exupery, mas que, na realidade, é de conteúdo
profundo, razão pela qual deve ser lida freqüentemente e sobre ela ser feita uma reflexão para efeito da
sua efetiva e ampla compreensão.
Em síntese, essa minúscula obra, O Caso dos Exploradores de Cavernas, trata da história de quatro
acusados que pertenciam a uma denominada "Sociedade Espeliológica", de natureza amadorística, que
tinha como objetivo a exploração de cavernas.
Certo dia, os quatro, em companhia de outro associado, cujo nome era Roger Whetmore, penetraram
numa caverna, em cuja entrada, a seguir, houve grande desmoronamento, que lhes bloqueou a única
saída.
Como demorassem a voltar para suas casas, seus familiares comunicaram-se com o secretário da
aludida entidade que, de imediato, mobilizou uma equipe de socorro e se dirigiu para o local, a fim de
remover o obstáculo e, por via de conseqüência, libertá-los.
Como a tarefa revelou-se extremamente difícil, tornou-se necessário suplementar as forças de resgate,
com homens, máquinas e recursos financeiros. Mesmo assim, só se conseguiu libertar os sobreviventes
no trigésimo segundo dia após a entrada dos mesmos naquele local.
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Como a equipe de socorro também se utilizava de transmissor semelhante, estabeleceu-se entre os
internos e os externos a comunicação, isto a partir do vigésimo dia da ocorrência do citado
desabamento.
Ao médico, integrante da equipe de resgate, depois de lhe relatarem as condições físicas e psicológicas
em que se encontravam, bem como a ração que lhes restava, perguntaram-lhe se tinham eles, os
desafortunados, possibilidade de sobreviverem por mais 10 dias, cuja resposta fora a de que era ela
muito reduzida. A partir daí a comunicação radiofônica fora, por 8:00 horas, interrompida.
Em seguida, perguntou Whetmore se, no acampamento, existia algum juiz ou qualquer outra autoridade
que pudesse responder àquela pergunta, mas ninguém da missão de salvamento quis assumir o papel de
conselheiro sobre o assunto em referência. Depois, Whetmore, insistindo, quis saber se havia algum
sacerdote que lhes pudesse responder, satisfatoriamente, sobre o citado questionamento, mas a recusa
se fez reiterada.
No momento em que a equipe de resgate - isto já no trigésimo terceiro dia - conseguiu desobstruir os
escombros e libertar os encavernados, Roger Whetmore tinha sido eliminado e servido de alimento para
os seus companheiros.
Registram os fatos que fora o próprio Roger quem teria, inicialmente, proposto que se sacrificasse um
deles para servir de alimento para os demais, visto que seria este procedimento a única maneira possível
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de sobrevivência, o que se faria por sorteio, para o que Roger, casualmente, trazia consigo um par de
dados.
Apesar de, em princípio, ter ocorrido hesitação por parte dos demais companheiros encavernados,
acabaram estes, a final, concordando com a proposta. Entretanto, antes do início do sorteio, Roger,
arrependido, declarou que desistia da proposta, porquanto, a essa altura, entendia que deveriam
aguardar mais uma semana antes de optarem por "expediente tão terrível e odioso".
Logo que libertados, os sobreviventes foram denunciados pela prática de homicídio contra Roger
Whetmore, sendo, a final, condenados à forca, visto que não restara ao Juiz, que presidira os trabalho,
ao Tribunal do Júri, à Acusação e à Defesa, outra solução, porquanto a lei pertinente em vigor não
admitia qualquer exceção, eis que vazada nos seguintes termos:"Quem quer que intencionalmente prive
a outrem da vida será punido com a morte".
Como a única exceção existente competia ao Chefe do Poder Executivo, fulcrando-se no princípio da
clemência, que consistiria na comutação da pena, dissolvido o Tribunal do Júri, os seus integrantes
peticionaram junto ao Chefe daquele Poder, pedindo-lhe que a pena (à forca) fosse comutada em prisão
de seis meses.
O Juiz, que presidira os trabalhos, por sua vez, também endereçara à mesma autoridade expediente
idêntico. Entretanto, o Chefe do Poder Executivo, possivelmente esperando que viesse logo a ser julgado
o recurso de apelação interposto, nada decidia, embora se tratasse de caso típico de clemência, o que,
embasado naquele princípio, não espancaria, por um lado, a letra e o espírito da lei, e o que, por outro,
mitigaria os rigores da lei aplicada.
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"Se isto for feito, será realizada justiça sem debilitar a letra ou o espírito da nossa lei e sem propiciar
qualquer encorajamento à sua transgressão." (O Caso dos Exploradores de Caverna, de Lon L. Fuller,
Sérgio Antônio Fábris Editor, pág. 10, 1993. (Negritou-se).
1o.). - Foster, J. - Este julgador, fundamentando o seu voto favorável aos apelantes, dentre outros
argumentos, expendeu os seguintes:
a) - que ao caso sub judice deveria ser aplicada a "lei da natureza" (o direito natural), isto porque
pressupõe o direito positivo a existência da possibilidade de coexistência dos homens em sociedade para
nela conviverem. Desaparecendo tal condição, desaparece a coercibilidade do direito positivo;
b) - que, se 10 trabalhadores, no decurso do longo trabalho de resgate, perderam a vida para salvar
cinco, com fundamento em quê sustentarmos que teria sido injusto o ato de os apelantes, com base num
acordo e fora da jurisdição daquela sociedade, executarem um para salvarem quatro!
c) - que, de outra parte, embora a lei não preveja qualquer tipo de exceção, estabeleceu-se, há séculos,
que matar em legítima defesa é escusável, o que ocorre pelo fato de que, se a exceção, no concernente à
legítima defesa, não é conciliável com as palavras da lei, o é com o seu propósito ou finalidade; assim
sendo, os mesmos fundamentos lógicos deveriam ser aplicados ao caso sob julgamento;
d) - que, sob qualquer ângulo pelo qual o caso em apreço venha a ser examinado, os réus devem ser
considerados inocentes e por via de conseqüência ser reformada a sentença apelada. Se o Tribunal não
viesse a inocentá-los, a lei aplicada ao caso em epígrafe será condenada pelo tribunal da consciência do
provo, conforme textualmente asseverado: "Se este Tribunal declara que estes homens cometeram um
crime, nossa lei ser condenada no tribunal do senso comum, inobstante o que aconteça aos indivíduos
interessados neste recurso de apelação." [(Autor e ob. cit., p. 10., (Negritou-se)].
2o.). - Tatting, J. - Este segundo julgador começara a proferir seu voto analisando os argumentos
utilizados pelo primeiro. Reconhecera que, efetivamente, nenhum texto legal penal deveria ser aplicado
de modo a contrariar os seus propósitos, sendo um deles o da prevenção. Reconhecera, de outra parte,
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que, à primeira vista, a fundamentação do colega que o antecedera lhe pareceu bastante convincente,
porque de conformidade com decisão o precedente daquele Tribunal, que havia agasalhado uma
exceção: a da legítima defesa.
Entretanto, afirmara, por outro lado, que também era propósito ou finalidade da lei penal a
"retribuição". Fazendo alusão a outro julgamento daquela Corte, argumentara que, se fome não
justificava o furto de alimento natural e saudável, não teria justificativa assassinar e devorar um ser
humano com a mesma finalidade! Todavia, ao mesmo tempo, reconhecia ter dificuldade de afirmar que
a condenação dos acusados produziria efeito "preventivo". E mais: lamentara que o órgão do MP
julgador imergiu na vacilação, na dúvida, na incerteza, quanto à condenação ou à absolvição dos
acusados.
Em síntese: enredou-se com as próprias idéias, segundo confissão vazada nos seguintes termos:
"Minha mente fica enredada nas malhas das redes que eu próprio arremesso para salvar-me.
..............................................................................................................omissis.
"Uma vez que me revelei completamente incapaz de afastar as dúvidas que me assediam, lamento
anunciar algo que creio não tenha precedente na história deste Tribunal. RECUSO-ME A PARTICIPAR DA
DECISÃO DESTE CASO." [Autor e ob. citados, págs. 40 usque 41. (Negritou-se, inclusive em caixa alta)].
3o.) - Keen, J.- Este terceiro julgador, por sua vez, afastara, de imediato, duas questões entendera não
serem da competência do Tribunal, quais sejam:
a) - a primeira consistia em saber se a clemência executiva deveria ou não ser concedida, no caso de
condenação dos acusados pelo Tribunal, visto que se tratava de mera confusão de funções (do Executivo
e do Judiciário), na qual o Tribunal deveria ser o último a se envolver, embora afirmasse que, se fosse
chefe do Executivo, concederia aos acusados o "perdão total", porquanto já tinham sofrido o suficiente
para pagar por qualquer delito que porventura tivessem perpetrado;
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b) - a segunda dizia respeito a decidir se o procedimento dos acusados era "justo" ou "injusto", se era
"mal" ou "bom", isto por que entendia que, como juiz, teria jurado aplicar o direito do país, não as suas
concepções, com o que rechaçava os argumentos do primeiro julgador, que fora pela absolvição.
Prendendo-se, exclusivamente, ao texto "seco e frio" da lei, sustentara que, de acordo com as normas
vigentes no seu país, a questão se resumia simplesmente em saber se os acusados ceifaram a vida de
Roger "intencionalmente", e, arrematando, asseverara:
"Devo supor que qualquer observador imparcial, que queira extrair destas palavras o seu significado
NATURAL, conceber imediatamente que os réus privaram "INTENCIONALMENTE" da vida a Roger
Whetmore". Autor e ob. cit., pág. 42 (Negritou-se, em caixa alta).
Contrariando até mesmo a secular sentença de São Tomas de Aquino de que "a letra mata, o espírito
vivifica", rechaçando o posicionamento do primeiro julgador (que admitira a exceção do estado de
necessidade), e, por via de conseqüência, distante, por um lado, das circunstâncias e da realidade
humana e, por outro, imanentemente aferrado, exclusivamente, à "letra" da lei, assim se manifestara:
"Não é outro o sentimento de meu colega com respeito às leis; quanto mais buracos (lacunas) elas
tenham, mais ele as aprecia. EM RESUM0, NÃO LHE AGRADAM AS LEIS." Autor e ob. cit.., pág. 47.
(Negritou-se, inclusive em caixa alta).
"Minha conclusão‚ de que se deve confirmar a sentença condenatória." Autor, ob. cit., pág. 54.
(Negritou-se).
4o.) - Handy, J. - o quarto julgador, por seu turno, depois de, sintetizando, referir-se aos diversos
argumentos utilizados pelos pares que o precederam, relacionados com o "direito positivo", o "direito
natural", a "letra e o propósito dela", as "funções judiciais e executivas", a "legislação oriunda do
legislativo e do JUDICIÁRIO", asseverara que a questão era simplesmente de:
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".. sabedoria prática a ser exercida em um contexto, não de teoria abstrata, mas de realidades
humanas." [Autor, ob. cit., pág. 55. (Negritou-se)].
Sustentara, em seguida, a tese de que, dentre os Poderes do Governo, o Judiciário era o que tinha
maiores possibilidades de perder o contato com o homem comum, prendendo-se os juízes aos casos
isolados, particulares e, por conseguinte, perdendo de vista o conjunto da realidade social.
Prossegue dizendo que existem, naturalmente, algumas regras básicas, que regulam a vida em
sociedade, que devem ser observadas, mas é imprescindível que sejam utilizadas as formalidades e os
conceitos abstratos como instrumentos para o alcance do resultado colimado, que seria a distribuição da
verdadeira justiça.
"Desde o momento em que se introduz uma cunha entre a massa do povo e aqueles que dirigem a sua
vida jurídica, política e econômica, a sociedade é destruída. Então nem a lei da natureza de Foster, nem a
fidelidade à lei escrita de Keen, não servirão de mais nada." [Autor e ob. cit, pág. 58. (Negritou-se)].
E, prosseguindo no mesmo diapasão, sustentara que nenhuma pessoa leiga julgaria que, sendo
absolvidos os réus estivessem os julgadores do caso em referência espancando mais a lei então vigente
do que os seus predecessores o fizeram quando admitiram a excludente de legítima defesa.
Ademais, noventa por cento da população pretendiam que aquela Corte absolvesse os acusados ou,
quando muito, lhes aplicasse uma pena meramente simbólica ou nominal. Arrematando sua
argumentação pertinente ao seu voto, dissera este julgador o seguinte:
"Concluo que os réus são inocentes da prática do crime que constitui objeto da acusação e que a
sentença deve ser reformada." [Autor, ob. cit., pág. 72 (Negritou-se)].
Finalmente, encerra o autor sua obra, que, como já frisado, é pequena no tamanho, mas relevante no
conteúdo e na finalidade, dizendo que, como houve empate na decisão, a sentença condenatória de
primeira instância tinha sido confirmada e, por conseguinte, seriam os réus executados, acrescentando,
porém, que:
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"O caso foi imaginado com o único propósito de focalizar certas posturas filosóficas divergentes a
respeito do direito e do governo. Posturas estas que são hoje ainda as mesmas que se agitavam nos dias
de Platão e Aristóteles. E talvez elas continuem a apresentar-se mesmo depois que a nossa era tenha
pronunciado a propósito a sua última palavra." [Autor e ob. cit., pág. 75 (Negritou-se)].
"ESTADO DE NECESSIDADE.
"Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício,
nas circunstâncias, não era RAZOÁVEL EXIGIR-SE."
§ 1o. Não pode alegar estado de necessidade que tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2o. Embora seja RAZOÁVEL exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de
um a dois terços."
II - O ESTADO DE NECESSIDADE
1 - O histórico:
Quer os romanos, quer os canonistas, quer os práticos medievos, nenhum deles chegou a elaborar uma
verdadeira doutrina sobre o estado de necessidade. Chegou-se a admitir o princípio seguinte: "necessitas
caret legem" (a necessidade carece, ignora, afasta a lei), mas são era adotado em casos absolutamente
particulares, tais como, p. ex., no furto famélico e no aborto para salvar a vida da gestante.
Aos jusnaturalistas coube assentar uma noção geral deste instituto, que foi transplantada para o direito
penal. Entretanto, muita divergência houve quanto ao efeito jurídico da necessitas cogens (necessidade
que obriga).
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Uns sustentavam que a necessitas cogens excluída a imputabilidade ou a culpabilidade do agente, que
não a injuridicidade do fato (necessitas non facit licitum, quod jure naturae est illicitum), isto por que
dela resultava "perturbação de ânimo ou coação psicológica";
Outros, entretanto, entendiam que era suprimida a injuridicidade, o que significa dizer que, na medida
em que, no conflito de interesses, se pusesse a salvo o preponderante, isto é, o bem mais valioso, o
estado de necessidade fazia lícito o sacrifício do direito menos valioso, ainda que praticado de forma
violenta. Por muito tempo, predominou a primeira corrente.
Na realidade, sendo rechaçada a distinção entre imputabilidade e responsabilidade, pode-se afirmar que
a solução pacífica e definitiva é a de que, no estado de necessidade, não há crime, o que significa dizer
que "o fato necessitado é objetivamente lícito (1 e 2). Este foi o ponto de vista consagrado pelo nosso
Código Penal, desvinculando do estado de necessidade a coação irresistível, como se verá em seguida.
2 - Os Fundamentos Jurídicos.
Para caracterizar-se o estado de necessidade, exigem a Lei, a Doutrina e jurisprudência que estejam
presentes os seguintes requisitos:
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1. - que exista um perigo atual, ou na iminência de produzir-se, e inevitável, em face de um bem jurídico
do agente ou de outrem. O perigo tem que ser real, efetivo, não possível ou provável;
2. - que esse perigo não seja voluntariamente provocado pelo próprio agente. A sua causa pode ser
qualquer uma, menos provocada pela vontade do agente. Acrescente-se que o dolo do agente exclui o
estado de necessidade; subsistindo, porém, no caso de culpa;
3. - que, nas circunstâncias, não se possa, fulcrando-se na razoabilidade, exigir-se o sacrifício do bem
ameaçado. Existe uma limitação, vale dizer uma das condições para o reconhecimento do estado de
necessidade, exato é, que não seja razoável exigir-se, nas circunstâncias, o sacrifício do bem
juridicamente tutelado. É oportuno invocar-se, aqui, a lição do mestre Aníbal Bruno:
"Mas nessa apreciação há-de atender-se às circunstâncias e ao estado de espírito daquele que atua na
defesa do bem, e mesmo na apreciação comparativa dos bens há-de ter-se em consideração o seu valor
subjetivo, o valor que lhe atribui o indivíduo ameaçado." (Direito Penal, Parte Geral I, Tomo 1o., de
Aníbal Bruno, Editora Nac. de Direito Ltda. pág. 388, 1956. (Negritou-se).
Transcrito acima o art. 24 do Código Penal, sede do estado de necessidade, passemos, agora, a buscar,
na Doutrina e na Jurisprudência pátrias, casos típicos desse estado:
1o.) - Na Doutrina:
"Há, também, o incidente do navio "Mignonette", muito citado na literatura penal. Trata-se de um barco
inglês que afundou no Mar do Norte, numa época das mais frias do inverno. Doze sobreviventes ficaram
flutuando num pequeno bote, dias após dias, quase sem provisões. Matando a sede com água
proveniente do orvalho noturno, dentro de poucas semanas já não tinham o que comer. DESESPERADOS,
OPTARAM PELA ANTROPOFAGIA.FORAM ESCOLHENDO OS MAIS FRACOS E COMENDO-OS. QUANDO
RESTAVAM OITO (pois já haviam exterminado quatro companheiros), TIVERAM A SORTE DE SER
ENCONTRADOS POR UM NAVIO QUE PASSAVA E TERMINARAM SALVOS." (Direito Penal, Parte Geral,
Editora Revista dos Tribunais, pág. 350, 1993. (Negritou-se e grifou-se, inclusive em caixa alta).
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b) - Nélson Hungria:
"O perigo pode provir de ação humana (antijurídica ou não, imputável ou inimputável, culpada ou
inocente) do fato de um irracional, de força da natureza, enfim: de qualquer acontecimento desfavorável
(IN EXEMPLIS: INCÊNDIO, DESABAMENTO, INUNDAÇÃO, DESASTRE FERROVIÁRIO, NAUFRÁGIO, FOME,
PESTE, INVESTIDA DE TOURO BRAVIO ETC.)." (Comentários ao Código Penal, de Nélson Hungria,Vol. I,
Tomo II, Forense, p. 274, 1958. (Negritou-se e grifou-se, inclusive em caixa alta).
c) - E. Magalhães Noronha:
"É exato também que a lei, ao contrário da anterior, já não mais fala em maior, estando, assim, sem a
menor dúvida, compreendidos como estado de necessidade OS CASOS DA TÁBUA E DOS DOIS
NÁUFRAGOS (tabula unius capax = tábua que comporta apenas uma pessoa), E DE ANTROPOFAGIA, EM
QUE, EM EXPEDIÇÕES, MORRENDO À FOME OS EXPEDICIONÁRIOS, COMBINAM MATAR E COMER UM
COMPANHEIRO ETC." ( DP, de E. Magalhães Noronha, 1o. Vol., 11a. edição, Saraiva, p. 182, 1974
(Negritou-se, grifou-se, inclusive em caixa alta).
2o.) - Na Jurisprudência:
a) - é necessária a existência de um perigo atual (ou iminente) e inevitável a direito próprio ou alheio:
"É requisito básico para o reconhecimento do estado de necessidade a existência de perigo atual e
inevitável a um bem jurídico do agente ou de outrem, na ausência do qual não há falar em exclusão do
ilícito penal" (TACRIM-SP - AC - Rel. Toledo de Assunpção - JUTACRIM 10/108)." (Código Penal e sua
Interpretação jurisprudencial, de Alberto Silva Franco e Outros, 5a. edição, Revista e Ampliada, Editora
Revista dos Tribunais, p. 263, 1995. (Negritou-se).
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b) - É preciso que o perigo não seja provocado pelo próprio agente, de forma dolosa (culposa é
admissível):
c) - é justificável a ação lesiva contra bem de terceiro inocente quando não é razoavelmente exigível do
agente, nas circunstâncias concretas em que se encontra, o sacrifício de direito próprio ou alheio
ameaçado por situação de perigo, atual (ou iminente), inevitável e não provocado:
"Para que se configure a excludente do estado de necessidade, é mister que o agente pratique o ato
como recurso extremo para salvar direito próprio ou alheio de perigo atual inevitável e que são pode ser
impedido através da violação do bem jurídico alheio. Sem comprovação de se tratar de recurso
inevitável, de ação "in extremis", não se caracteriza estado de necessidade" (TACRIM-SP - AC - Rel.
Gonzaga Franceschini - RT 637/273)." (Código Penal e sua Interpretação Jurisprudencial, de Alberto Silva
Franco e Outros, 5ª edição, revista e ampliada, Editora Revista dos Tribunais, pág. 264, 1995. (Negritou-
se).
d) - inexistência do dever legal de o agente enfrentar o perigo, como ocorre no caso de o agente ser
bombeiro, em face de um incêndio, comandante de um navio, em face de naufrágio, conforme previsto
no art. 24, $ 1o, do CP ("Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo"). Como em torno desta matéria há divergência, urge que se faça a transcrição da seguinte
doutrina:
"Nota: Não pode invocar o estado de necessidade aquele que tem o dever legal de arrostar o perigo. A
expressão "dever legal" é controvertida entre os doutrinadores. Para alguns, seu alcance é restrito, pois
o dever é apenas o que resulta de dispositivo de lei. Para outros, no entanto, sua área de incidência é
mais ampla, abrangendo também a hipótese do dever contratual." (Código Penal e sua Interpretação
Jurisprudencial, de Alberto Silva Franco e Outros, 5ª edição, revista e ampliada, Editora Revista dos
Tribunais, p. 265, 1995. (Negritou-se).
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e) - configuração da razoabilidade da exigência do sacrifício do bem ameaçado. Reitere-se que diz o CP,
no caput do art. 24, o seguinte: "Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar
de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era RAZOÁVEL exigir-se."
Quanto ao PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE, urge que se invoquem, aqui, as lições dos Mestres J. F.
Mirabete e E. Magalhães Noronha, que, a respeito, assim se manifestaram, respectivamente:
"O Código brasileiro adotou a teoria unitária e não a teoria diferenciadora. Assim, há estado de
necessidade não só no sacrifício de um bem menor para salvar um de maior valor, mas também o
sacrifício de um bem de valor idêntico ao preservado, como no caso típico do homicídio para preservar a
vida: não se pode matar para garantir um bem patrimonial. A RAZOABILIDADE, TODAVIA, É UM
CONCEITO DE VALORAÇÃO DOS BENS JURÍDICOS QUE, MUITAS VEZES, SOMENTE NO CASO CONCRETO
PODERÁ SER AFERIDO." (Manual de Direito Penal, Parte Geral, de Júlio F. Mirabete, Editora Atlas., pág.
171, 1994. (Negritou-se e grifou-se, inclusive em caixa alta).
"Todavia, os bens jurídicos oferecem uma graduação, há uma escala valorativa e, conseqüentemente,
não se pode deixar de, no caso concreto, avaliá-los objetivamente, embora não olvidando a situação, o
estado de ânimo da pessoa. Ninguém se recusaria a aceitar o estado de necessidade do comandante de
uma aeronave, que, na iminência de um sinistro, mandasse atirar fora a bagagem dos tripulantes; mas,
por certo, o condenaria - se que ele fosse imputável - se, para salvar a bagagem, mandasse... precipitar
no espaço os passageiros." (Direito Penal, de E. Magalhães Noronha, 1o. Vol., 11a. edição, Editora
Saraiva, pág. 181, 1974. (Negritou-se).
III - CONCLUSÃO:
Em face de todo o expendido, ouso afirmar que, do cotejo de "O Caso dos Exploradores de Cavernas"
com a norma contida no art. 24 do nosso Código Penal, com as respectivas Doutrina e Jurisprudência,
parecer-me não pairar dúvidas de que os "Exploradores de Cavernas" agiram nos estritos limites fáticos
e jurídicos do ESTADO DE NECESSIDADE, porquanto preenchidos foram todos os requisitos pertinentes,
sendo atendido, em especial, o PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE, salvo melhor juízo.
I - BIBLIOGRAFIA:
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1. - Direito Penal, Parte Geral, de Antônio José Miguel FEU ROSA, Editora Revista dos Tribunais, 1993;
5. - Manual de Direito Penal, de Júlio F. Mirabete, 8a. edição, Editora Atlas S. A, 1994;
II - NOTAS:
1. - Comentários ao Código Penal, de Nélson Hungria, Vol. I, Tomo II, Forense, pág. 270, 1958;
2. - Direito Penal, Parte Geral I, de Aníbal Bruno, Editora Nacional de Direito Ltda., pág. 376 e seguintes,
1956;
3. - Direito Penal, Parte Geral, Tomo 1o, Editora Nacional de Direito Ltda. RJ, pág. 378, 1956;
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Newgarth, 4299. Cinco membros de uma sociedade espeleológica entram em uma caverna e acabam
soterrados. As vítimas conseguem entrar em contato com as equipes de resgate que estão do lado de
fora da caverna através de um rádio.
Depois de vinte dias são informados de que o resgate irá demorar e podem morrer de fome. Um dos
exploradores, Whetmore, convence os outros de que um deve ser sacrificado para servir de comida aos
outros e propõe um sorteio para escolher o sacrificado. Whetmore resolve não participar desse sorteio,
e seus amigos se sentem traídos por ele, porém, consistem em sacrificar alguém e o sorteado acaba
sendo whetmore -aquele que deu a ideia. Depois que são resgatados, os quatro sobreviventes vão a
julgamento por homicídio. Começa então um debate entre os juízes sobre Direito natural e Direito
positivo.
A tese naturalista é defendida pelo juiz Foster que alega a exclusão de ilicitude do estado de
necessidade. O juiz Foster afirma, ainda, que os exploradores estavam fora da sociedade, convivendo
em uma realidade diferente e que por isso não estariam sujeitos às leis de Newgarth.
Por outro lado, o juiz Keen, defendendo o positivismo, sustenta que as leis devem ser aplicadas a
qualquer custo (dura lex, sed lex). O juiz Keen afirma que os exploradores cometeram homicídio e
portanto devem ser condenados.
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