PEÇA DE DEFESA - o Caso Dos Explorades Da Caverna
PEÇA DE DEFESA - o Caso Dos Explorades Da Caverna
PEÇA DE DEFESA - o Caso Dos Explorades Da Caverna
Outubro de 2016
DOS FATOS
Os quatro acusados são membros da Sociedade Espeleológica - uma organização
amadorística de exploração de cavernas, em princípios de maio do ano de 4299,
adentrou eles no interior de uma caverna de rocha calcária no Planalto Central
Commonwealth. Ocorre que já bem distantes da entrada da caverna, ocorreu um
desmoronamento de terra onde pesados blocos de pedra foram projetados de
maneira a bloquear completamente a sua única abertura. A equipe de socorro foi
prontamente enviada ao local, porém a tarefa revelou-se extremamente difícil, sendo
necessário compor as forças de resgate com o acréscimo de homens e máquinas,
fato que demandava elevados gastos. Um enorme campo temporário de
trabalhadores, engenheiros, geólogos e outros técnicos foram instalados, o trabalho
de desobstrução foi muitas vezes frustrado por novos deslizamentos de terra, sendo
que em um destes, dez operários contratados vieram a óbito. Ocorre que os
exploradores tinham levado consigo apenas escassas provisões e sabido era que não
havia substância animal ou vegetal na caverna que lhes permitisse subsistir, então
houve grande temor que eles morressem antes que o acesso até o ponto em que se
encontravam se tornasse possível. No vigésimo dia a partir da ocorrência soube-se
que os exploradores tinham levado um rádio transistorizado capaz de receber e
enviar mensagens instalou-se prontamente um aparelho semelhante no
acampamento, estabelecendo-se comunicação.
Pediram estes que lhes informassem quanto tempo seria necessário para liberá-los, e
a resposta foi que precisavam de pelo menos dez dias, desde que não ocorressem
novos deslizamentos e os exploradores perguntaram então se havia algum médico no
acampamento e ao descreverem sua condição e as rações de que dispunham,
solicitaram uma opinião acerca da probabilidade de subsistirem sem alimento por
esse período, o presidente da comissão respondeu-lhes que seria pouco provável
essa possibilidade e então o rádio dentro da caverna silenciou durante oito horas, ao
retornar a comunicação, Whetmore, falando em seu próprio nome e em
representação dos demais, indagou se eles seriam capazes de sobreviver por mais
dez dias se se alimentassem da carne de um deles, o presidente da comissão
respondeu, a contragosto, em sentido afirmativo.
Whetmore inquiriu se seria aconselhável que tirassem a sorte para determinar qual
deles deveria ser sacrificado, como nenhum dos médicos respondeu, ele perguntou
se havia um juiz ou outra autoridade que se dispusesse a ajudar, como ninguém os
quis aconselhar, ainda insistiu na busca de um sacerdote que pudesse responder
àquela interrogação, mas não se encontrou nenhum disposto, depois disto cessaram
as mensagens de dentro da caverna.
Quando os homens foram finalmente libertados soube-se que, no trigésimo terceiro
dia após sua entrada na caverna, Whetmore tinha sido morto e servido de alimento a
seus companheiros, segundo os acusados, Whetmore foi o primeiro a propor que
buscassem alimento na carne de um dentre eles, foi ele também quem propôs a
forma de tirar a sorte, chamando a atenção dos acusados para um par de dados que
casualmente trazia consigo. Ocorre que os acusados inicialmente hesitaram adotar
um comportamento tão desatinado, mas, após o diálogo acima relatado, concordaram
com o plano proposto e depois de muita discussão com respeito aos problemas
matemáticos que o caso suscitava, chegaram por fim a um acordo sobre o método a
ser empregado para a solução do problema: os dados. Entretanto, antes que estes
fossem lançados, Whetmore declarou que desistia do acordo, pois havia refletido e
decidido esperar outra semana antes de adotar um expediente tão terrível e odioso.
DOS FUNDAMENTOS
1- DO TERROR PISICOLÓGICO ANTE AO SACRIFÍCIO
É de natureza humana que quando encontra-se em risco de morte eminente, eleve ao
máximo sua aptidão física, por conta da descarga enorme de adrenalina no
organismo.
Esperar mais uma semana antes de prosseguir com o acordo poderia ser fatal por
razões óbvias: desequilíbrios no organismo, debilidades gerais, etc. Os exames
clínicos feitos em dois acusados revelou que os mesmos estão com baixa visão e
problemas nos rins. Se tivessem passado mais alguns dias sem comer poderia haver
quedas de pressão, arritmias cardíacas, redução das proteínas, diminuição do
tamanho dos órgãos-incluindo o cérebro-, etc. Enfim, sem alimentação o quadro se
converteria em morte por insuficiência hepática ou falência dos órgãos.
Ainda de acordo com o texto do art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação
ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. Entende-se que no período em que
estavam afastados da sociedade, os acusados sofreram variações mentais causadas
pelas circunstâncias do meio em que se encontravam o que influenciou no
comportamento psicossocial deles. Não possuía desta forma, o discernimento mental
mínimo necessário para tornar o sacrifício punível.
3-DA LEGITIMA DEFESA
Eis a previsão legal da legitima defesa no Código Penal Brasileiro:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito.
Havia uma única certeza durante o período em que os exploradores viveram seu
cárcere, a de que um deles seria sacrificado em prol dos demais, porém havia
também uma dúvida, quem seria? A qualquer momento, alguém seria escolhido, ou
ocorreria de todos se unirem contra um o que certamente gera uma situação de
injusta agressão iminente, contra um deles. Neste caso, o indivíduo valoriza mais a
própria vida que á vida de quem lhe quer morto, tendo como única defesa tirar a vida
de quem lhe ameaça. Ocorre ainda que a ideia de canibalismo veio do próprio
Whetmore, o que o tornou o principal alvo de desconfiança, pois obviamente por ter
proposto tal atrocidade era o que possuía maior vontade de manter-se vivo e ainda
sendo este o causador do terror social vivenciado por todos. Portanto, observa-se
evidentemente a presença da legitima defesa como excludente de ilicitude a fim de
provar a inexistência de crime, pois os demais usaram de meio necessário, para
salvar suas vidas, onde o elemento subjetivo era única e exclusivamente a repelir o
comportamento perigoso de Whetmore.
Então como estudamos nos primeiros períodos do curso de direito, o direito positivo,
tanto suas disposições legisladas quanto seus precedentes, devem ser interpretados
segundo seu propósito evidente e a finalidade social, conforme acompanhamos no
caso dos exploradores aqui julgados, as evidências são mais que claras e
comprovam estes sacrificaram a vida do companheiro com uma única intensão:
SOBREVIVER entende-se aqui que a justiça surge no momento em que o acordo é
firmado entre os cinco, fato que manteria a igualdade de chances para todos.
Não cabe a sociedade externa nem mesmo ao júri aqui presente esperar uma atitude
diferente da tomada, pois em um momento ainda de lucidez de Whetmore, antes de
tomarem a decisão de sacrificá-lo, foi questionado se seria aconselhável que tirassem
a sorte para determinar qual dentre eles deveria ser sacrificado, NENHUM médico,
juiz, autoridade governamental, integrantes da missão de salvamento ou sacerdote ali
presentes se atreveu a responder, "TODOS" se omitiram. Portanto está invocada aqui
a excludente de culpabilidade, devido a erro de proibição, dado pelo silêncio, os
exploradores viram-se descobertos da proteção do Estado; logo, provavelmente,
deveriam estar descobertos de suas regras também.
O fato de matar alguém já por sí só um fardo pesado, o que se aumenta ainda mais
se a vítima for alguém próximo como eram estes cinco amigos, que estavam
acostumados e habituados a conviver constantemente juntos tanto em explorações
quanto em suas casas e ambientes familiares.
Portanto não havendo solução diversa da tomada, tem-se uma situação que não
importa o tempo que passem na prisão ou mesmo que paguem com qualquer outro
tipo de pena, por mais que ao final do cumprimento de suas sentenças não devam
mais nada nem para o Estado e nem para a sociedade, ainda assim estariam com o
peso da culpa e as fortes cenas protagonizadas por eles naquela caverna ao tirarem
a vida de um amigo com o intuito de alimentarem-se dele, sentença alguma será
capaz de remediar esse sentimento que os acompanhará pelo resto de suas vidas,
então temos aqui também afastada a conduta do elemento da culpabilidade, com
base no art. 120 do CP – “A sentença que conceder perdão judicial não será
considerada para efeitos de reincidência”, tendo em vista que o perdão judicial é o
instituto por meio do qual o juiz, embora reconheça a prática do crime, deixa de
aplicar pena, desde que se apresentem determinadas circunstancias excepcionais
que tornam inconvenientes ou desnecessárias a imposição de sanção penal ao réu.
6 - DO DESRESPEITO PARA COM VERBAS PÚBLICAS
Segundo o estudo do caso, para que se obtivessem sucesso no resgate dos
exploradores, houve a necessidade de gastos altíssimos tanto por parte da sociedade
espeleológica quanto da economia pública, fora a perda da vida de 10 operários
envolvidos no resgate por conta de novos deslizamentos.
Então qual o objetivo de excessivos gastos, se após o resgate dos exploradores iriam
condena-los? É uma afronta e total descaso com o erário público, a operação de
salvamento gerou um grande desprendimento de dinheiro público, e a finalidade era
de salvar vidas, porém se caso condenados aqui os réus, sua finalidade será
desvirtuada e não haverá justiça ao condena-los, além disso, também houve a morte
de dez operários durante o trabalho de resgaste, e uma sentença desfavorável aos
sobreviventes, tornaria totalmente vã a morte dos operários, desrespeito também
seus familiares.
Temos com entendimento de causa, aquilo sem o qual a morte não teria acontecido,
porém de acordo com o estudo do caso, a quem poderíamos culpar por ter dado
causa ao sacrifício? A Roger Whetmore por ter sido o criador da ideia? Aos
engenheiros da equipe de resgate que afirmaram ser necessários ainda mais dez
dias, criando enorme ansiedade e expectativa no ambiente? Ao médico por confirmar
que eles não tinham condições de passar mais dez dias vivos sem alimentos e
confirmar que poderiam sobreviver ao alimentarem-se de carne de um deles? As
autoridades que ao serem questionadas se omitiram e mesmo pressupondo que eles
poriam em execução o plano de sobrevivência ainda assim não os orientaram para
que não o fizessem? Enfim, todos aqui envolvidos tiveram tanto a oportunidade
quanto a competência necessária para tentar evitar a pratica de tal conduta e mesmo
assim não o fizeram, então por qual motivo que agora os julgam?
DO PEDIDO
Um dos mais antigos aforismas da sabedoria jurídica ensina que um homem pode
infringir a letra da lei sem violar a própria lei.
Conforme exposto supra, chegamos à óbvia conclusão de que não houve nenhum
crime, uma vez que de acordo com o texto constitucional para que se caracterize
crime é obrigatoriamente necessária existência de fato típico, ilícito e culpável, uma
vez que foram afastados aqui os elementos de ilicitude e culpabilidade tem-se por
certo a inexistência de crime.
O sacrifício de um homem foi necessário para a subsistência dos demais homens ali
presentes e foi à única forma encontrada ali. Portanto se não há mais evidencias que
comprovam o crime, não há aqui que se falar em pena, pois no nosso ordenamento
jurídico é impossível condenar alguém, se este não cometera nenhum crime.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
Código Penal Brasileiro - DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940).
Brasília: Senado, 1940.
FULLER, Lon L. O Caso dos Exploradores de Cavernas. 2008.