Resenha Critica
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Resenha Crítica
Lon L. Fuller (1902-1978), foi um respeitável jurista e filósofo, além de ter sido
também um memorável professor, atuando em universidades respeitadas como
Harvard e Yale. Continua sendo amplamente reconhecido por suas notáveis
contribuições para a jurisprudência e para a filosofia jurídica. Fuller é o autor da obra
“O Caso dos Exploradores de Cavernas”, a qual aborda ideias sobre jusnaturalismo e
juspositivismo englobando suas contradições. Vale ressaltar que a história do livro é
fictícia. O local onde as situações são abordadas é Stowfield. No início de maio de
4299, cinco membros da Sociedade Espeleológica adentraram uma caverna, a qual
acabou por ser trancada devido a um deslizamento de terra juntamente com pedras
grandes. A única entrada e saída que os exploradores tinham era aquela e ela havia
sido bloqueada. Quanto a eles, como não pretendiam ficar muito tempo, não
investiram em mantimentos para uma longa jornada. Não demorou muito para que a
família sentisse falta de seus entes queridos, delatando o que aconteceu ao secretário
da sociedade e, na sede, encontraram pistas da localização da caverna, não demorando
muito para que uma equipe de resgate se deslocasse até o local. Todavia, a
complexidade da operação de resgate era tanta que ocorreram novos deslizamentos, e
em um deles teve como resultado a morte de dez operários devido a um trágico
soterramento, demandando um incremento significativo no contingente humano, a
mobilização de maquinaria especializada e a colaboração de profissionais de diversas
áreas, incluindo engenheiros, geólogos e outros especialistas, também contaram com a
ajuda do governo e da população para uma arrecadação financeira, visto que os
recursos da Sociedade Espeleológica haviam sido esgotados. O resgate já durava há
dias e as indagações persistem, com muitos se perguntando se os exploradores ainda
estariam vivos ou se já teriam sucumbido sob as condições adversas do ambiente
subterrâneo. No vigésimo dia, o pessoal responsável pelo resgate conseguiu falar com
os exploradores através de um rádio portátil sem fio e, quando perguntado quanto
tempo demoraria para tirá-los de lá, comunicaram que só em dez dias, mesmo sem
novos deslizamentos de terras. Diante de suas condições, os aventureiros pediram para
falar com a equipe médica, afirmando que as chances de sobreviverem sem alimentos
por dez dias era escassa. Quando a conexão foi restabelecida, mais uma vez
solicitaram a presença dos profissionais da medicina. Nesse momento, Roger
Whetmore, em nome do grupo, indagou se haveria possibilidade de subsistência por
um período de dez dias completos caso optassem por consumir a carne de um dos
colegas, com certa relutância, os profissionais ratificaram essa possibilidade, Roger
então sugeriu que um sorteio fosse feito para determinar quem seria morto para
alimentar os outros quatro companheiros e mantê-los vivos até o resgate. A equipe
médica permaneceu em silêncio, pois se tratava de uma situação delicada e polêmica.
Roger Whetmore acabou sendo o sorteado, tornando-se assim a fonte de alimento para
seus companheiros. [...] Os quatro exploradores que restaram foram resgatados, no
entanto, foram acusados e condenados por homicídio, sendo sentenciados com a pena
de morte, mas tal decisão dividiu a população e o júri, levando o caso à votação.
Alguns defenderam a manutenção da sentença, enfatizando a importância da justiça e
o respeito à lei, enquanto outros pleitearam pela clemência, considerando as
circunstâncias extremas envolvidas. O presidente do júri, Juiz Truepenny, declara que
os exploradores devem ser absolvidos, pois encontravam-se em situações de extrema
necessidade ao ponto de recorrer ao canibalismo e isso fora justificado. Do mesmo
modo, o Juiz Foster, queria que inocentassem os réus, alegando que estes estavam em
um “estado de natureza” e não em um “estado da sociedade civil” e agiram em
legítima defesa. Já o Juiz Tatting acaba se abstendo de participar da decisão do caso,
pois não consegue concordar nem com a condenação e nem com a absolvição dos
réus, deixando a decisão para os outros membros do júri. O juiz Keen acaba vota a
pedido da condenação dos exploradores, porque mesmo com as adversidades,
violaram a lei e devem ser punidos por isso. O Juiz Handy vota pela absolvição dos
réus, afirmando que independente da visão dos colegas, a sociedade irá de mal a pior,
ressaltando que o estado dos exploradores era crítico, o que acabou levando-os ao
canibalismo.
Com o assassinato de Roger, seu direito à vida foi tirado de si por interesses próprios
daqueles que diziam-se seus amigos. Eles estavam sim fora do mundo externo, mas
não quer dizer que novas leis internas devessem ser criadas para beneficiá-los, cabe a
nós o questionamento se a vítima de fato concordou em morrer pelos seus
companheiros, o que não se pode saber ao certo visto que foi servido como alimento
de seus próprios amigos. A fome fez com que os quatro sofressem, mas saciar-se de
seu companheiro foi um ato de covardia. Sempre temos opções de escolhas em nossas
vidas e, nesse caso, uma decisão lamentável foi tomada, ceifando a vida de um
homem que não queria mais participar do jogo que propôs. De qualquer forma, a pena
de morte ainda é algo severo, seria importante que estes aprendessem com seus erros
ficando reclusos de sua liberdade para refletir sobre a monstruosidade que fizeram,
seria em vão toda a minha argumentação baseada no direito à vida desejando que
quatro pessoas fossem mortas por um erro, fatídico erro, que poderia ser substituído
por uma pena mais restritiva.
Gostei muito do livro porque ele nos desafia a ver a situação com o racional
juntamente do emocional, nos levando a questionar nossas crenças e valores e até que
ponto estas são consideradas certas e, muitas das vezes, acabamos tendo de mergulhar
dentro de nós mesmos para uma compreensão maior, nos faz refletir sobre como a
justiça pode impactar a vida de terceiros e fazer com que busquemos certo equilíbrio
quando se é necessário aplicá-las.