Dissertação Francimar Gomes de Oliveira
Dissertação Francimar Gomes de Oliveira
Dissertação Francimar Gomes de Oliveira
INSTITUTO DE MATEMÁTICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
CAMPO GRANDE/MS
2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
INSTITUTO DE MATEMÁTICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
CAMPO GRANDE/MS
2020
FRANCIMAR GOMES DE OLIVEIRA JÚNIOR
Banca Examinadora
Dedico este trabalho a Deus pelas orações ouvidas, pelos alívios e confortos
proporcionados durante o mestrado.
In memorian à minha filha, Maria Clara de Oliveira Alexandre! Por me influenciar a
continuar mesmo estando imerso em pensamentos sobre ela. Te amo minha filha! E in
memoriam a Francimar Gomes de Oliveira, meu pai, que não pode me acompanhar nesta
jornada, mas forneceu o apoio necessário para que eu continuasse nela.
À minha mãe pelas palavras, por me fortalecer, por orar quando necessitei e pelo amparo
nesta caminhada. Além dos meus irmãos Guilherme, Isabelly e Jaianny, particularmente a
última por todo o apoio e palavras motivacionais que me proporcionou durante esses momentos.
A quatro amigos que considero como irmãos: João Felberg, Lucas Abreu, Lucas Gesiley
e Mário Carvalho, por me acalmar, caçoar e desejar forças para finalizar o trabalho fosse
finalizado.
Dedico este trabalho à minha professora-orientadora e mãe temporária, profa. dra.
Claudia Carreira da Rosa, que me deu apoio, forças, broncas, “puxões de orelha”, abraços,
ensinamentos para a vida, conselhos e outras formas de auxílio que me ajudou não só na
dissertação, mas também evoluir na vida pessoal e profissional.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela força, paciência, ensinamentos, ânimos entre tantos outros
pedidos clamados durante o processo de mestrado!
A minha família e amigos por todo o apoio dado. Em especial ao Jhonathan e ao João
Paulo pelas conversas e alívios das tensões do mestrado e a Letícia Garcia por se dispor a revisar
e discutir sobre a dissertação.
Aos integrantes do Grupo da Fronteira de Estudos e Pesquisa em Educação Matemática
(GFEPEM) pelas dicas, sugestões, orientações, debates e outras contribuições a esta
dissertação, principalmente aos participantes do grupo na cidade de Campo Grande. Em
especial a Tuane Pacheco pelas reflexões e correções de trechos do trabalho e a Débora Coelho
de Souza pelo apoio emocional.
A Bianca, mãe da minha filha, e a sua família pelo apoio no início dessa jornada e por
não deixar eu desistir.
Aos professores e a turma de mestrado (2018) do Programa de Pós-Graduação em
Educação Matemática (PPGEduMat) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul pelas
leituras, críticas, posicionamentos, sugestões entre outras formas que influenciaram direta e
indiretamente na elaboração desta dissertação.
Agradeço imensamente ao prof. dr. Jader Otávio Dalto, a profa. dra. Edilene Simões
Costa e a profa. dra. Marilena Bittar por terem aceitado o convite de avaliarem este trabalho e
proporem contribuições para potencializá-lo.
Ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicologia, Neurociências e Educação (GEP–
PNEdu), orientado pela profa. dra. Maria Luzia Santana, pelas contribuições diretas e indiretas
nesta pesquisa em relação aos referenciais bibliográficos, os estudos, os debates e as pesquisas
sobre Psicologia e Neurociências voltados à Educação.
Alguns alunos que me motivaram a realizar as atividades do mestrado e esta dissertação,
além de me convidarem a distrair um pouco de tais atividades.
E, por último, agradeço todos aqueles que me ajudaram direta e indiretamente na
elaboração desta dissertação.
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar relações entre Modelagem Matemática e
Neurociências no processo de aprendizagem. Para alcançamos esse objetivo, realizamos uma
pesquisa de cunho qualitativo com métodos que se aproximam da Análise de Conteúdo descrita
por Bardin (1977) em que escolhemos atividades descritas em duas dissertações do Grupo da
Fronteira de Estudos e Pesquisa em Educação Matemática (GFEPEM) e as analisamos com
categorias criadas por nós a partir de dois eixos temáticos: as características da Modelagem
Matemática e os apontamentos das Neurociências para facilitar e/ou potencializar a
aprendizagem. Neste trabalho, utilizamos o termo Neurociências, no plural, porque utilizamos
trabalhos e pesquisas de distintas subáreas de investigações do cérebro, sistema nervoso e a
mente. Nossas análises foram divididas nos processos de desenvolvimento das atividades de
Modelagem Matemática (compreensão, construção e validação) e, ao final de cada análise,
apresentamos uma tabela com as relações observadas e um grafo para a visualização dessas
relações. Com isso, percebemos que existem relações entre as características da Modelagem e
os apontamentos das Neurociências e que elas podem se influenciar durante o desenvolvimento
das atividades de Modelagem Matemática.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12
2 APONTAMENTOS DAS NEUROCIÊNCIAS PARA A APRENDIZAGEM............... 15
2.1 Aprendizagem ou processo de aprendizagem? .......................................................... 15
5.1.4 Resultados................................................................................................................ 92
1 INTRODUÇÃO
comportamentos entre outros (LISBOA, 2016). Algumas dessas investigações tem como
objetivo descrever como informações são processadas e armazenadas no cérebro e que fatores
podem influenciar no tempo em que permanecem “aprendidas”.
Com essas investigações das Neurociências, os autores Bartoszeck e Bartoszeck (2009),
Cosenza e Guerra (2011), Oliveira (2014) e Lisboa (2016) ponderam que uma aproximação
delas com a área da Educação possa auxiliar os professores em suas práticas de ensino por
apontar fatores que podem facilitar ou prejudicar à aprendizagem dos conteúdos pelos alunos.
Um desses fatores é a mobilização das emoções, pois dependendo de qual emoção o professor
mobiliza durante sua aula, ele pode estimular os alunos em seu processo de aprendizagem ou
desmotivá-los (ALVAREZ; LEMOS, 2006; BOCKINGTON, 2011; COSENZA; GUERRA,
2011; IZQUIERDO, 2011; IZQUIERDO et al., 2013; FONSECA, 2016).
Neste sentido, é importante os professores saberem quais são os apontamentos que os
trabalhos e estudos das Neurociências indicam como facilitadores e/ou potenciais à
aprendizagem, como também aqueles que podem prejudicar.
Neste contexto, Oliveira Júnior e Rosa (2020) realizaram uma aproximação teórica entre
Modelagem Matemática e Neurociências e observam que “[...] durante o processo de
desenvolvimento de atividades de Modelagem há, com alguma relação, os estímulos que
facilitam, potencializam e conservam a aprendizagem segundo as Neurociências” (ibidem, p.
22).
A par destas informações, considerando a Modelagem Matemática no âmbito da
Educação Matemática e trabalhos das Neurociências que dialogam, de alguma forma, com o
ensino, queremos analisar possíveis relações entre Modelagem Matemática e
Neurociências no processo de aprendizagem.
Para tanto, construímos este trabalho em dois eixos temáticos: os apontamentos das
Neurociências para facilitar e potencializar à aprendizagem e as características da Modelagem
Matemática. A partir desses eixos e utilizando procedimentos que se aproximam do método
Análise de Conteúdo descrito por Bardin (1977), construímos categorias para analisarmos duas
atividades descritas em dissertações defendidas por integrantes do Grupo da Fronteira de
Estudos e Pesquisa em Educação Matemática (GFEPEM).
Uma das dissertações escolhidas foi de Ovando Neto (2019, p. 18) que tem como
objetivo de pesquisa verificar “[...] quais os desafios e possibilidades do uso da Modelagem
Matemática na sala de aula frente ao Referencial Curricular do Mato Grosso do Sul”. Para
alcançar o objetivo de sua dissertação, Ovando Neto (2019) desenvolveu e descreveu um
conjunto de três atividades de Modelagem que, dessas, escolhemos a atividade cuja temática
14
nos chamou atenção ou que nos proporcionou uma reflexão ou a ideia resumida do que se trata
o texto. Outro exemplo, agora no contexto das aulas de Matemática, é o aluno não necessitar
gravar toda explicação e exemplificações do professor que foram realizadas durante a aula,
apenas alguma parte que o auxilie no entendimento ou na resolução de atividades encaminhadas
para casa.
Neste sentido, podemos entender a aprendizagem como “passar a ter conhecimento
sobre [...]; passar a possuir habilidade técnica [...]” (DÍCIO, 2009-20201). Esse entendimento
de aprendizagem é similar à concepção de aprendizagem na Educação Matemática. Nela, a
aprendizagem é entendida como um processo em que a pessoa constrói seus conhecimentos a
partir de investigações, participações, testes e validações (BOERI; VIONI, 2009).
Sendo assim, consideramos a aprendizagem e/ou processo de aprendizagem como um
processo de construção de um saber, habilidade, técnica ou mudança de hábito.
É interessante destacarmos que as informações que são aprendidas, são armazenadas
com outras de conteúdo similar (BARTOSZECK; BARTOSZECK, 2012; COSENZA;
GUERRA, 2011; IZQUIERDO, 2011), por exemplo, o enredo de um livro de romance estará
mais “próximo” dos conhecimentos de livros já lidos do que suas comidas favoritas.
Neste contexto, Bartoszeck e Bartoszeck (2012), Cosenza e Guerra (2011) e Izquierdo
(2011) sugerem que os conteúdos sejam aproximados das vivências dos alunos, que mobilizem
emoções positivas e que chamem a atenção dos alunos ao que está sendo ensinado, para que
facilitem e/ou potencializem a aprendizagem.
A par destas informações, explanaremos sobre esses três estímulos – aproximação com
a vivência, as emoções e a atenção – e como eles se relacionam com o processo de
aprendizagem.
2.2 A atenção
Durante a leitura de um livro, uma conversa, um desenvolver de atividade, uma
caminhada pelo centro da cidade ou na explicação do professor sobre um conteúdo novo,
estamos nos concentrando em um estímulo. Em geral, esse estímulo o qual escolhemos nos
concentrar está imerso em um conjunto de outros estímulos simultâneos, como: sons produzidos
carros passando na rua, a sensação da roupa em nosso corpo, o som e o trajeto de uma mosca
voando em uma sala. Quando nós nos direcionamos para um estímulo e ignorarmos os demais,
2 Colocamos tais fatores para que os professores-leitores deste trabalho possam considerá-los em suas aulas.
18
para a resolução. Neste contexto, é natural que os alunos utilizem estratégias com as quais eles
se sintam seguros em desenvolver e encontrem um resultado consistente em vez de arriscar em
conhecimentos/procedimentos novos ou pouco familiares que possam acarretarum resultado
duvidoso e, talvez, em uma frustração por errarem.
Damásio (2000) explica que essa aprendizagem por estímulo → resposta é possível
devido a associação de dois estimulantes: a dor e o prazer. Esses dois estimulantes regulam a
vida diferentemente, pois “[...] A dor vincula-se a punição e a comportamentos como o de
retirada ou paralisação. O prazer, por outro lado, vincula-se a recompensa e a comportamentos
como o de busca e aproximação” (DAMÁSIO, 2000, p. 108). E, mesmo esses estimulantes não
sendo emoções, podem ser relacionadas a elas, onde a dor se relaciona com as emoções
negativas e o prazer com as emoções positivas (ibidem).
Neste sentido, nos baseando em Damásio (2000), podemos alegar que a aprendizagem
envolvendo emoções negativas são diferentes das que envolvem emoções positivas, a
aprendizagem com emoções negativas são ações que tenderam a ser evitadas, pois podem se
vincular com o medo, a frustração; enquanto a aprendizagem com emoções positivas possibilita
e estimula uma reutilização/uma repetição de ações, já que podem estar relacionadas com o
prazer, a recompensa. Sendo assim, ambas formas de aprendizagem podem ser utilizadas para
atingirem objetivos educacionais diferentes, repetir ou suprimir ações.
Embora seja importante enfatizarmos que o professor deve analisar e considerar
consequências emocionais de suas ações para/com alunos, por exemplo, se o objetivo de um
professor for incentivar os alunos a tentarem resolver problemas, é prudente evitar ações que
possam estimular uma frustração (emoção negativa) nos alunos em relação ao seu processo de
construção de uma resposta, por exemplo.
Por isso, tanto Cosenza e Guerra (2011) quanto Fonseca (2016) sugerem que os
professores utilizem metodologias e/ou estratégias de ensino que mobilizem emoções positivas
aos alunos, isto é, formas de ensinar que gerem prazer a eles ou os motivem. Essa motivação,
segundo Fonseca (2016), é o ato de se mover com energia, excitação, empolgação, entusiasmo
para que uma necessidade seja satisfeita, ou seja, é uma estimulação positiva para alcançar um
determinado objetivo.
Neste sentido, Damásio (2000) corrobora Fonseca (2016) ao afirmar que sentimos
prazer ao alcançar um objetivo e complementa destacando que essa sensação de prazer pode
ser maior do que aquela quando iniciamos nossa busca pelo objetivo.
A par destas informações, podemos perceber a relevância das emoções no
comportamento humano, além delas poderem influenciar na aprendizagem, facilitando-a ou
20
percebe o conteúdo como significante, o professor conseguirá “capturar” a atenção dele para o
que está sendo ensinado.
Desta forma, o conteúdo tendo significado3 para o aluno pode tanto capturar a atenção
quanto promover alguma emoção que possa estimular ou agradar o aluno durante a
aprendizagem. É importante ressaltarmos que a criação do significado e uma breve
aproximação entre o conteúdo e a vivência do aluno são diferentes! Mesmo que ambas
envolvam uma relação entre conteúdo e vivência, com significado o conteúdo “ganha” um
porquê ser aprendido enquanto na aproximação não necessariamente há um motivo para
aprendê-lo. Para ilustrar essa nossa ressalva, vamos recorrer a uma situação em que o professor
ensine relações trigonométricas (seno, cosseno e tangente).
Nesta situação, se o professor apenas explanar que tais relações trigonométricas podem
ser utilizadas para o cálculo de alturas de objetos e/ou inclinação da rampa de garagem, ele está
aproximando o conteúdo para a realidade do aluno, deixando por conta do último uma
(possível) reflexão de como o seno, o cosseno e/ou a tangente pode se relacionar com os
cálculos necessários para construirmos uma rampa. Entretanto, se o professor demonstrar como
pode ser calculado e/ou solicitar que os alunos calculem a altura da parede da sala ou de um
prédio ao lado da escola ou do aro de basquete da quadra da escola pode construir um sentido,
um significado para o aluno.
Além disso, ao ensinar com significado e/ou propor desafios ou atividades matemáticas
com o cotidiano/a realidade dos alunos, pode tanto “capturar” a atenção quanto mobilizar o
prazer em desenvolver tais desafios ou atividades. E, com isso, facilitar e potencializar a
aprendizagem dos conteúdos matemáticos.
3 Neste trabalho, utilizaremos o termo “significado” para nos referirmos, em alguns momentos, à relação entre o
conteúdo escolar com a vivência dos alunos.
22
A partir da figura 2, podemos observar que a tendência da informação não repetida é ser
esquecida com o passar do tempo. Há métodos de aprendizagem que se baseiam nessa curva de
esquecimento – a saber o Space Memory System (SRS) ou Sistema de Repetição Espaçado, em
tradução livre – em que se revisa as informações em determinados períodos de tempo, mas não
adentraremos nesse assunto por não se relacionar com o objetivo desta pesquisa.
Ao sabermos que uma informação é esquecida por não ser repetida, não implica que
defendemos a repetição exaustiva de informações. Se um professor de Matemática utilizar
várias listas de exercícios para que os alunos usem um procedimento matemático (repetição por
repetição) e ele não reaproveitar esse conhecimento em outras situações após uma prova ou
uma avaliação, este procedimento tenderá a ser esquecido quando começar o próximo
conteúdo4.
Por isso, Cosenza e Guerra (2011, p. 62) sugerem que os professores criem “[...]
oportunidades em que o mesmo assunto possa ser examinado mais de uma vez e em diferentes
contextos” para elaborarem associações entre esses contextos. Este processo de elaboração é
importante porque ele ajudará na permanência de uma informação, por possibilitar a construção
de várias ligações/relações diferentes de uma mesma informação enquanto ela é repetida
(COSENZA; GUERRA, 2011). É interessante pontuarmos que tais elaborações podem ou não
possuir um significado, podemos exemplificar esse processo de elaboração com problemas
envolvendo a fórmula da velocidade de um objeto em movimento retilíneo uniforme.
A partir da fórmula para determinar a velocidade média de um objeto em movimento retilíneo
𝛥𝑠
uniforme, 𝑉 = 𝛥𝑡, o professor pode questionar os alunos sobre a velocidade de um objeto (𝑉)
dado a variação do espaço (𝛥𝑠) em determinada variação de tempo (𝛥𝑡); ou ele pode estimular
os alunos a encontrarem uma variação dessa fórmula questionando-os: qual o tempo (𝛥𝑡) que
um objeto demora para percorrer um determinado espaço ( 𝛥𝑠 ) com uma determinada
velocidade (𝑉); ou qual o espaço deslocado por um objeto (𝛥𝑠) em uma velocidade constante
(𝑉) e em uma variação de tempo (𝛥𝑡).
Nestes exemplos, a fórmula da velocidade de um objeto em movimento retilíneo
uniforme foi repetida algumas vezes com diferentes variações dela mesma e em contextos
similares, o que influencia em elaborações entre todas essas variações, porém não houve uma
relação com a vivência dos alunos o que acarretaria uma elaboração sem significado.
4 Outras reflexões acerca da repetição exaustiva podem ser feitas, mas essa não é a nossa ênfase neste trabalho.
25
Baseando-nos nessas mesmas perguntas, mas realizando uma possível relação com a
realidade/o cotidiano dos alunos para construirmos um significado, poderemos questionar: Qual
é a “sua velocidade”5 para chegar na escola?; se Usain Bolt, o jamaicano campeão olímpico,
corre cerca de 45km/h na prova de 100m rasos, quanto tempo ele demora para chegar na linha
de chegada?; ou qual seria a distância percorrida por Usain Bolt se ele, em sua velocidade
máxima, 45km/h, corresse por 15s?
Aliás, se o professor elaborasse uma questão questionando os alunos sobre a
previsibilidade do deslocamento de um carro em relação ao tempo, a partir de uma velocidade
constante, ele poderia ter uma função 𝑠(𝑡) = 𝑉 ∗ 𝑡, onde 𝑠 é o espaço percorrido e 𝑡 a variável
referente ao tempo e o 𝑉 é a constante que se refere a velocidade. A partir dessa função, seria
possível construir um gráfico referente a ela ou explorar se existem valores negativos.
Nessas elaborações com algumas vivências dos alunos (a realização do trajeto para a
escola e o Usain Bolt), as variações da fórmula da velocidade média podem ser consolidadas
mais facilmente do que sem aquelas elaborações sem significado. Essa consolidação é o último
processo de conservação de informações e pode ser entendido como as alterações biológicas
que criam as sinapses, as ligações entre neurônios (BARTOSZECK; BARTOSZECK, 2009;
COSENZA; GUERRA, 2011; IZQUIERDO, 2011), isto é, a aprendizagem “fisiologicamente”.
É importante salientar que esse processo não ocorre instantaneamente, demora algum tempo
para acontecer, e que necessita de repetições para essas ligações se perdurarem (COSENZA;
GUERRA, 2011; IZQUIERDO, 2011).
Sendo assim, segundo Cosenza e Guerra (2011), temos três processos necessários para
que uma informação seja conservada no cérebro: a repetição (reutilização de uma informação),
a associação6 (relações entre informações) e a consolidação (criação de sinapses). Além disso,
devemos mobilizar emoções e relacionar o conteúdo com as vivências dos alunos para
chamarmos a atenção dos alunos no intuito de facilitar o início do processo de aprendizagem
dos conhecimentos (ALVAREZ; LEMOS, 2006; BARTOSZECK & BARTOSZECK, 2012;
CARVALHO, 2010; COSENZA; GUERRA, 2011; IZQUIERDO, 2011; IZQUIERDO et al.,
2013; FONSECA, 2016; GOLEMAN, 2012).
E, podemos realizar todos esses estímulos descritos anteriormente, utilizando as funções
executivas.
5 A expressão sua velocidade está entre aspas para abranger as distintas formas dos alunos chegarem à escola: de
carro, a pé, de ônibus ou uma combinação entre elas, dentre outras. Podemos até explicar o conceito de média,
caso os alunos indaguem sobre realizarem determinados trechos com velocidades e/ou veículos diferentes.
6 Utilizaremos o termo associação em vez do termo elaboração, escolhido pelos autores Cosenza e Guerra (2011),
pelo primeiro transmitir a ação do processo de elaboração de forma mais direta.
26
Nesta seção abordaremos concepções de Modelagem Matemática, como ela pode ser
desenvolvida em sala de aula e fazemos um levantamento de características que são apontadas
pelos principais autores.
7 Segundo Araújo (2002), a Educação Matemática Crítica se preocupa com “[...] o papel da Educação na
preparação para cidadania e participação na vida social e política, a matemática como um meio de identificar e
analisar aspectos críticos da vida social, entre outros [...]” (p. 50) e essas preocupações devem embasar o
desenvolvimento da atividade de Modelagem. Entretanto, não exploraremos essa perspectiva por não dialogar com
o nosso objetivo.
30
por Araújo, pois permite maior protagonismo do aluno já que a situação a ser estudada tem
início com eles.
Retornando às concepções de Modelagem, outros autores, além de Burak e Araújo,
também propuseram reflexões da Modelagem Matemática na Educação Matemática o que
proporcionou um crescimento nos trabalhos científicos sobre essa temática e uma
multiplicidade de concepções sobre ela (ARAÚJO, 2002; MAGNUS, 2015). Alguns autores
tentaram condensar essa multiplicidade de concepções de Modelagem e podemos citar como
exemplo os trabalhos de Klüber e Burak (2008) e Carvalho e Nicot (2019).
Klüber e Burak (2008) consideraram quatro autores que tinham pesquisas e questões
que eram significativas e representavam a área da Modelagem – a saber: Burak, Barbosa,
Biembegut e Caldeira –. Já Carvalho e Nicot (2019) expuseram algumas concepções que são
citadas, utilizadas e apresentadas com maior frequência em pesquisas e trabalhos científicos em
eventos com ênfase em Modelagem8, mais especificamente, na X Conferência Nacional de
Modelagem na Educação Matemática (CNMEM) ocorrida em 2017.
No trabalho de Carvalho e Nicot (2019), os autores evidenciaram uma predominância
nas concepções de Modelagem Matemática entendidas como “alternativa pedagógica” e
“ambiente de aprendizagem”. O entendimento da Modelagem como ambiente de aprendizagem
é atribuído a Barbosa no seu trabalho intitulado “Modelagem na Educação Matemática:
contribuições para o debate teórico” publicado em 2001; enquanto o entendimento como
alternativa pedagógica é notado no trabalho de Almeida e Dias (2004) intitulado “Um estudo
sobre o uso da Modelagem Matemática como estratégia de ensino e aprendizagem”.
Entretanto, é no trabalho de Almeida e Brito (2005) intitulado de “Atividades de
Modelagem Matemática: que sentido os alunos podem lhe atribuir?”, que a concepção de
Modelagem entendida como “alternativa pedagógica” foi melhor explorada.
Em Almeida e Dias (2004), a Modelagem é exposta como uma possível alternativa
pedagógica, sendo a ênfase desse trabalho a categorização das atividades de Modelagem
Matemática em momentos de desenvolvimento que são citados para se referenciar ao “tipo” de
atividade que foi realizado. Essa categorização integra uma composição de trabalhos que
compreendem a Modelagem como alternativa pedagógica e que nos aprofundaremos nessa
categorização na seção posterior.
Sendo assim, utilizaremos o trabalho de Almeida e Brito (2005) para debatermos sobre
8 Podemos citar alguns desses eventos: Conferência Nacional de Modelagem na Educação Matemática
(CNMEM), Encontro Paranaense de Modelagem na Educação Matemática (EPMEM) e Encontro Paraense de
Modelagem Matemática (EPAMM).
31
9 O prefixo extra foi empregado com o sentido de fora ou além de e o termo matemático(a) que se refere a
Matemática ou ao conhecimento matemático. Logo, utilizaremos a expressão extramatemática(o) para nos referir
a algo fora ou além da Matemática ou dos conhecimentos matemáticos.
32
subdividido em:
a) Didática: que se preocupa com estruturação do processo de aprendizagem;
b) Conceitual: que busca iniciar um conceito e desenvolvê-lo;
4) perspectiva sócio-crítica: tem como objetivo compreender o mundo por meio da
criticidade em torno do tema;
5) perspectiva epistemológica: que possui objetivos orientados pela teoria;
6) (meta-)perspectiva cognitiva: em que se têm dois objetivos:
a) pesquisa: para analisar os processos cognitivos durante as atividades de
Modelagem;
b) psicológicos: em que se investiga processos de pensamentos usando modelos
como imagens mentais ou físicas, enfatizando a Modelagem como um processo
mental, abstração ou generalização.
Neste sentido, ao escolher trabalhar com Modelagem Matemática o professor possui um
objetivo e este pode ser classificado em uma perspectiva: se for resolver um problema, podemos
classificar na perspectiva realística; se for para debater sobre determinado tema, na perspectiva
sócio-crítica... Contudo, o professor não necessariamente precisa classificar o desenvolvimento
de Modelagem em uma perspectiva, mas se pode percebê-la a partir de uma. Além disso, devido
à atividade de Modelagem poder sofrer alterações durante o seu desenvolvimento, ela adquirir
mais de uma perspectiva (ROSA, 2013).
Para ilustrar, suponhamos que um professor constrói uma atividade de Modelagem
Matemática com o objetivo central de ensinar determinado conteúdo curricular de Matemática
(podemos classificar como uma perspectiva educacional), mas ao iniciar o desenvolvimento
dessa atividade podem surgir debates acerca do tema e suas implicações na sociedade que
direcionam a ênfase da atividade as discussões e implicações do tema na sociedade (o que
acarreta na possibilidade de categorizarmos como uma perspectiva sócio-crítica) ao invés do
conteúdo matemático a ser ensinado (ROSA, 2013).
Essa mudança de ênfase da atividade em determinado processo do desenvolvimento da
Modelagem Matemática nos direciona a compreender como tais atividades são desenvolvidas,
o que debateremos na seção a seguir.
descrição desses processos apenas nas concepções que possuem uma predominância nos
trabalhos de Modelagem, segundo Carvalho e Nicot (2019) – ou seja, nas concepções
alternativa pedagógica e ambiente de aprendizagem –.
Para Almeida e Brito, o conjunto de ações desenvolvidas pelos alunos é/pode ser:
“experimentação, seleção de variáveis, formulação de hipóteses, simplificações, resolução de
problemas e validação do modelo vinculado ao contexto de uma situação não essencialmente
matemática” (2005, p. 489).
A ação de “experimentar” está relacionada à compreensão e inteiração do tema e do
problema proposto. Em seguida, podem ser executadas as ações “seleção de variáveis,
formulação de hipóteses, simplificação e resolução de problemas” com o intuito de constituir
um modelo matemático – que pode ser cartazes, gráficos, fórmulas entre outros –. Para então,
“validar o modelo”, isto é, verificar se está condizente com o problema proposto.
Já para Barbosa, as atividades de Modelagem são realizadas por indagações durante o
processo de investigação, ou seja, a resolução “É a busca, seleção, organização e manipulação
de informações” (2001 p. 7). Neste sentido, o autor argumenta que tais atividades não possuem
procedimentos conhecidos previamente e que se os alunos não avançarem nos conhecimentos
das informações sobre as atividades, não conseguem indagar [e assim, avançar no
desenvolvimento das atividades] e vice-versa (ibidem).
Mesmo desconhecendo os procedimentos que os alunos podem realizar ao desenvolver
uma determinada atividade com a concepção de Barbosa, podemos segmentar em três
processos: compreensão do problema, em que os alunos debatem acerca do tema e do problema;
construção de uma resposta, onde os alunos realizam procedimentos que acharem necessários
para a resolução do problema e; validação/análise da resposta, confrontar se a resposta
encontrada condiz com o problema proposto.
É importante salientar que o processo de “validação da resposta” está de acordo com a
concepção de Barbosa, já que para esse autor, “[...] eles [os alunos] podem desenvolver
encaminhamentos que não passem pela construção de um modelo matemático” (2001, p. 6),
mas não implica em não alcançarem uma resposta para o problema proposto. Diferente de
Almeida e Brito (2005) que afirmam que os alunos necessitam encontrar ou aplicar um modelo
matemático para solucionar o problema.
Neste sentido, admitiremos que a Modelagem Matemática pode ser desenvolvida em
três processos: compreensão, processo onde os alunos debatem, entendem e investigam sobre
o tema e o problema; construção, processo aberto que realizam diversos procedimentos que
para solucionarem o problema proposto e; validação, processo de análise entre a resposta
34
10 Salientamos que neste trabalho, Almeida e Brito queriam analisar os significados atribuídos pelos alunos na
atividade de Modelagem, por isso, as características elencadas permeiam a relação entre os conteúdos matemáticos
e a realidade.
37
com o carro de um universitário. A partir desse desenvolvimento dos alunos, as autoras afirmam
esse grupo de alunos, estava mais interessado neste momento (3) da Modelagem Matemática
do que quando comparados aos outros dois momentos (SILVA; SILVA; ROSA, 2017).
Sendo assim, percebemos que os alunos podem se sentir interessados em desenvolver a
atividade de Modelagem Matemática, seja pelo tema ou pela resolução/encaminhamento da
atividade.
3.3.3 Interação/envolvimento
A interação ou envolvimento entre alunos e entre eles com o professor é bastante
relatada pelos pesquisadores em Modelagem. Burak, por exemplo, destaca essa interação com
o grupo sendo um ponto importante para a atividade de Modelagem (BURAK, 1992). Não
sabemos o porquê a Modelagem Matemática é desenvolvida preferencialmente em grupos de
alunos, mas podemos supor que seja devido ao desenvolvimento/crescimento cooperativo entre
os participantes, como pode ser percebido em Araújo (2002).
Alguns trabalhos do Grupo da Fronteira de Estudos e Pesquisa em Educação
Matemática (GFEPEM) expõem que a turma foi dividida em grupos, mas não justificam o
porquê e nem detalham debates presentes nos grupos e sim debates ocorridos entre professor-
aluno ou entre os alunos de grupos diferentes (SOUZA; ROSA, 2016; 2017; 2018). Contudo,
em Souza, Tomascheski e Rosa (2018) descrevem algumas interações entre um grupo de três
acadêmicas de Pedagogia debatem sobre como encontrar a altura da caixa d’água da UFMS de
Ponta Porã/MS. Nesse debate, uma das integrantes afirma que será difícil “medir” a caixa por
ela ter o formato cilíndrico, em seguida, outra integrante sugere que seja passado um barbante
em volta da caixa d’água e, medindo o tamanho do barbante, tem-se o comprimento do círculo
(SOUZA; TOMASCHESKI; ROSA, 2018).
Já em Ovando Neto e Rosa (2018), um grupo de três acadêmicos do curso de Matemática
Licenciatura debate sobre procedimentos para descobrirem em quanto tempo leva para assorear
o Lago do Amor11. Durante a solução, cada acadêmico adiciona uma informação que os demais
debatem e argumentam se consideram ou não, além de explicar procedimentos e informaçòes
quando um dos integrantes não entendia (ibidem).
Em ambos os casos, percebemos duas formas de interações entre os envolvidos na
atividade: uma microinteração de aprendizagem, isto é, os alunos do grupo debatem entre si e
podem auxiliar ou motivar o outro a aprender e; uma macrointeração de aprendizagem, ou seja,
quando a troca de informações, debates e auxílios acontecem entre diferentes grupos de alunos
ou entre grupos e o professor. Geralmente, os trabalhos são relatados em uma observação de
macrointerações.
Todavia, ressaltamos que elas, o conjunto das demais características, não foram
expostas e descritas juntas com as outras porque foram analisadas em apenas um único trabalho
e, ainda, existe a necessidade investigações em atividade de Modelagem para investigarmos,
por exemplo, a existência do controle emocional e da liderança.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Por isso, informamos que no início de cada parágrafo utilizamos dois símbolos, “•” e
“→”, para nos referirmos a descrição da categoria e critérios de categorização, respectivamente.
E, caso haja um parágrafo sem nenhum desses símbolos, significa que é um parágrafo do texto
sem necessariamente se tratar de uma categoria.
Além disso, houve a necessidade de subdividirmos algumas categorias para evitarmos
classificações ambíguas e abundantes, por exemplo, a categoria de emoções dos apontamentos
das Neurociências e a categoria de mudanças de posturas dos alunos das características da
Modelagem Matemática. E, ao final das descrições das categorias, apresentamos uma figura
que ilustra e sintetiza nossas categorias.
Por fim, salientamos que as categorias criadas pelos eixos temáticos devem ser tomadas
como conjunto distintos de categorias, isto é, o conjunto de categorias dos apontamentos das
Neurociências e o conjunto de categorias das características da Modelagem Matemática. Desse
modo, os textos analisados foram categorizados em dois conjuntos distintos de categorias que
descrevemos a seguir.
12 Que exprime ideia, ação, pensamento com viés otimista de caráter reflexivo, informativo e/ou interativo.
13 Que exprime ideia, ação, pensamento com viés pessimista, mas de caráter reflexivo, informativo e/ou interativo.
50
(não falar, não procurar argumentar entre outros), o que pode acabar prejudicando a
aprendizagem.
→ Consideramos emoções negativas prejudicais ações que nos permitam interpretar
como fatores que inibiram ações dos alunos e que os direcionem a uma retração, como alguma
situação que frustrante, revoltante ou que pode causar uma tristeza ou mágoa.
É prudente ressaltarmos que emoções são processos internos do indivíduo e que apenas
conseguiremos analisá-las se forem externalizadas por meio de comportamentos. Neste sentido,
salientamos nossa dificuldade de classificarmos situações nessa categoria, tendo em vista que
analisamos o relato de um terceiro em que não teve as emoções como ênfase do seu trabalho,
mas sim a descrição de acontecimentos de sua atividade de Modelagem.
• A atenção é a principal “barreira” para aprendermos e, apenas iniciamos a
aprendizagem se estivermos atentos àquilo que queremos aprender.
→ Para categorizarmos em atenção, consideramos descrições de ações e/ou falas que
pertencem as atividades de Modelagem propostas de forma direta ou indireta. Ou seja, se
estiverem conversando sobre assuntos que permeiam a atividade, será considerado como uma
ação pertinente a ela, entretanto, se estiverem conversando sobre temas não relacionados a
atividade, consideraremos como uma ação não condizente.
Salientamos a nossa dificuldade de classificar nessa categoria, pois analisamos o relato de um
terceiro sobre uma ação que apenas o indivíduo, em sua totalidade, sabe se suas contribuições
são frutos de um total ou uma fracionada atenção.
Para a construção do grupo 2 utilizamos os processos de conversação descritos por
Cosenza e Guerra (2011):
• A repetição é a reutilização das novas informações que são/foram aprendidas.
→ Ações ou falas que direcionam a uma reutilização da nova informação, como a
repetição de uma premissa da atividade, de um modo de resolver, do tema, da situação-
problema da atividade de Modelagem serão classificadas nessa categoria.
• As associações são as relações entre informações realizadas por um indivíduo, sejam
elas equivalentes, proximais ou não.
→ Nesta categoria, serão considerados as tentativas de elaborações de associações que
possuem ou não confluência de ideias, isto é, exemplos equivalentes ou não, piadas ou
trocadilhos entre outras possibilidades de relações que os alunos façam para as informações se
aproximarem, não necessariamente tenham alguma justificativa para tal.
51
Esta atividade, descrita e desenvolvida por Ovando Neto (2019), foi realizada com vinte
alunos, com faixa etária a partir dos 15 anos de idade, que cursavam o 1º ano do Ensino Médio
de uma escola pública da periferia de Campo Grande/MS no turno noturno. Segundo o autor,
os alunos possuíam afazeres não-escolares nos contraturnos como trabalho, cursos e/ou tarefas
domiciliares e, por isso, estudavam naquele período.
O tema dessa atividade de Modelagem Matemática foi uma proposta do professor, que
foi influenciado por reportagens de televisão que apontavam o aumento do uso do narguilé pela
população, principalmente por jovens e adolescentes. Neste contexto, de forma geral, a
atividade com essa temática direcionou-se para um levantamento quantitativo daqueles alunos
que utilizavam o narguilé. Esse levantamento quantitativo foi realizado por meio de um
questionário elaborado e entregue pelo pesquisador com o intuito de conscientizar os alunos
sobre os prejuízos desse instrumento de fumo – o narguilé –.
Essa atividade de Modelagem teve a duração de quatro horas/aulas distribuídas em
quatro aulas semanais: uma na terça, uma na quarta e duas não consecutivas na sexta. Além
disso, ela foi desenvolvida entre jogos de futebol da seleção brasileira na Copa do Mundo de
2018 e projetos da escola, entre outros fatores, o que acarretou interrupções com grandes
intervalos de tempo entre um dia de atividade e outro (OVANDO NETO, 2019).
E, desde este momento, salientamos que essa foi a primeira atividade de Modelagem do
pesquisador e que ele estava apreensivo e nervoso com o desenvolvimento, como ele descreve
(OVANDO NETO, 2019 p. 78) e como podemos interpretar em alguns trechos (ibidem p. 68-
69). Neste sentido, algumas atitudes do pesquisador serão evidenciadas, pois nos pareceu que
tais atitudes poderiam ou limitar ou potencializar (re)ações dos alunos, ou seja, estamos
analisando/supondo consequências das interações dele com os alunos e não sua prática.
Além disso, informamos que o objetivo da dissertação de Ovando Neto foi analisar quais
os desafios e potencialidades do uso da Modelagem Matemática na sala de aula frente ao
Referencial Curricular do Mato Grosso do Sul (MS) (OVANDO NETO, 2019).
Por último, informamos que escolhemos essa atividade porque, segundo Ovando Neto
(2019), ela foi desenvolvida em grandes intervalos de tempo o que pode ter influenciado na não
motivação ou perca de motivação no desenvolver da atividade de Modelagem pelos alunos.
categorizações realizadas por nós para destacarmos qual categoria aquele contexto/explicação
se refere.
Optamos por expor os trechos das dissertações por figuras para que os leitores possam
identificar e compreender o contexto e/ou parágrafo analisado. Neste sentindo, identificamos
todas as figuras com o posicionamento dos parágrafos retirados em seu documento original, o
que ocasionou uma estrutura de título similar a:
Figura xx. Terceiro parágrafo da página XX de Sobrenome do autor.
E, após cada figura, apresentamos, debatemos, citamos e justificamos a nossa
categorização a partir da nossa interpretação do trecho descrito pelos pesquisadores.
A nossa análise foi segmentada pelas etapas do processo de desenvolvimento das
atividades de Modelagem Matemática que descrevemos na seção 3: compreensão, construção
e validação. Isso nos permitiu sintetizar os resultados encontrados em cada etapa na forma de
tabelas, conforme exemplo abaixo:
Tabela 1 – Exemplo da tabela que sintetiza os dados analisados na seção 5.
FATOR CATEGORIA
CATEGORIA CONSEQUÊNCIA
DESENCADEADOR INFLUENCIADA
O fator que
Nesta coluna, As ações que
desencadeou a Categorização das
expomos categorias decorreram do fator
categoria da primeira consequências.
observadas desencadeador
coluna
Fonte: Autor (2020).
Neste sentido, a partir das tabelas, sintetizamos possíveis relações entre uma categoria
(coluna 1) e o que proporcionou essa categorização, que chamamos de fator desencadeador
(coluna 2). Esse fator desencadeador promoveu consequências (coluna 3) e elas foram
categorizadas como categoria influenciada (coluna 4).
Além disso, cada linha da tabela foi preenchida com uma cor que indica se a(s)
categoria(s) presente(s) na primeira coluna podem ter propiciado ou inibido a(s) categoria(s)
resultante(s). Se podem ter propiciado, indicamos com o preenchimento verde; se podem ter
inibido, indicamos com o preenchimento vermelho; se propiciou uma e evitou outra,
preenchemos de cinza as três primeiras colunas e na última preencheremos as cores em verde e
vermelho, respectivamente; e aquelas que não encontramos uma relação direta preenchemos
com amarelo.
Após as subseções de desenvolvimento das atividades de Modelagem de cada autor,
criamos a subseção Resultados para realizamos nossas considerações das atividades analisadas,
ou seja, iniciamos uma análise local dos dados coletados e verificamos possíveis correlações e
(co)influências nos dados elencados. Para ilustrar essas relações, adaptamos um grafo gerado
58
pelo site Graph Editor 15 em que cada vértice representa uma categoria e cada aresta uma
possível relação. E, por fim, generalizamos nossas análises dos dados obtidos em cada atividade
de Modelagem com o intuito de alcançarmos o objetivo do nosso trabalho.
Antes de iniciarmos a descrição de nossas análises, é importante destacarmos que somos
iniciantes no método de Análise de Conteúdo de Bardin, o que pode ter acarretado possíveis
precipitações em nossas análises. Além disso, novamente salientamos nossa dificuldade em
identificar e categorizar algumas ações que são inerentes do sujeito, como a atenção, as emoções
e a criação de significado, além do motivo que pode ter levado os alunos a se motivarem e a
própria motivação/interesse. Essa dificuldade foi devido a estarmos analisando a descrição de
um terceiro sobre uma atividade de Modelagem Matemática que teve um direcionamento que
pode ter o influenciado a suprimir contexto ou situações que não dialogassem com o trabalho.
Neste sentido, tentamos supor possíveis acontecimentos que nos ajudassem a compreender
determinas ações e inferir algumas categorias.
Realizada essas ressalvas, descrevemos a seguir nossas análises.
15
Disponível em: https://csacademy.com/app/graph_editor/. Acessado em 10 dez. 2020.
59
5.1.1 Compreensão
Inicialmente, o pesquisador descreveu que entregou para a turma participante de sua
pesquisa um questionário para que os alunos pudessem responder sem se identificar. A primeira
pergunta do questionário é referente a idade do aluno, mas a ênfase é o uso do narguilé: se eles
conheciam, se já tinham usado, entre outras questões, conforme o quadro 2 abaixo.
Quadro 2 – Questionário elaborado para a atividade “O uso do narguilé”.
Questionário
Sendo assim, o tema “uso do narguilé e suas consequências” pode ter sido pré-julgado
por alguns alunos como: (1) desinteressante (frustação) ou (2) acusador (medo); enquanto os
demais podiam ainda estar (3) indiferentes, isto é, esperando o direcionamento da atividade
para se motivar ou não.
Neste contexto, podemos considerar que o questionário pode ter sido um fator
motivacional crucial para esse contato inicial com os alunos, pois a sua estrutura indiretamente
direcionava-os a interpretar o tema que o pesquisador abordaria. Com isso, possibilitou,
possivelmente, uma mobilização de emoções negativas prejudiciais (medo e frustração) para o
desenvolvimento da atividade de Modelagem. E, em decorrência disso, essa primeira
macrointeração16 pode ter sido pouco efetiva para que o tema ou a sua abordagem não tenha
sido prazerosa aos alunos, de tal forma, que provocasse uma motivação, um engajamento,
interações espontâneas neste momento.
Logo, podemos inferir que a possível presença da emoção negativa prejudicial pode ter
impedido duas outras categorias: a macrointeração e a motivação/interesse dos alunos em
desenvolver a atividade de Modelagem, corroborando com a nossa explanação inicial.
Para contornar essa pouca macrointeração e, possivelmente engajar os alunos a
participarem da atividade, o pesquisador modificou a distribuição das cadeiras da sala de aula
e organizou-as circularmente com o objetivo de facilitar a troca de experiências entre os alunos
e ele. Importante salientar que essa troca de experiências está condicionada à pergunta do
pesquisador sobre as atividades que eles, os alunos, costumavam fazer entre eles e/ou com
familiares nos finais de semana, conforme descrição não destacada da figura 4.
Mesmo com as cadeiras distribuídas de modo circular, os alunos interagiam pouco e
davam respostas diversas sobre o que costumavam fazer quando se reuniam entre amigos e
familiares, como podemos observar na figura 5 na descrição não grifada feita pelo autor.
Figura 5 – Segundo e terceiro parágrafo da página 68 da dissertação de Ovando Neto.
16 Interação entre professor, neste caso, pesquisador e alunos ou entre alunos e alunos.
64
Ao voltarmos para o texto, Ovando Neto descreve que uma aluna respondeu que
costumava ir a uma tabacaria e encaminhou o debate para essas tabacarias, como podemos
observar na figura 6.
Figura 6 – Quarto e quinto parágrafo da página 68 da dissertação de Ovando Neto.
errado porque prejudica a saúde pode proporcionar alguma emoção negativa nos alunos, como
tristeza ou frustação.
Isto é, neste momento, aqueles alunos que podiam ter identificado que o tema seria os
malefícios do uso do narguilé e, com essa identificação, seriam “julgados” como pessoas que
fazem “algo de errado”, confirmaram essa implicação intuitiva que fizeram. Além disso, os
alunos que não gostaram do tema, podem não ter mudado de opinião e continuado a acharem
que o tema é desinteressante. E aqueles alunos indiferentes ou podem ter continuado
indiferentes ou acharam o tema desinteressante ou gostaram do tema.
No entanto, infelizmente, não é possível identificarmos ou interpretarmos se isso
aconteceu ou se manteve porque o autor não descreve como foi o debate com os alunos depois
da apresentação dos dados científicos: se houve mais reflexões, mais trocas de experiências,
argumentações defendendo um posicionamento diferente do texto apresentado e, assim,
podermos analisar.
E, antes de adentrarmos no processo de construção dessa atividade de Modelagem de
Ovando Neto, vamos sintetizar na tabela 2 algumas observações, interpretações e inferências
nossas nessa subseção.
Tabela 2 – Síntese das interpretações do processo de compreensão da atividade de Ovando Neto.
FATOR CATEGORIA
CATEGORIA CONSEQUÊNCIA
DESENCADEADOR INFLUENCIADA
Emoção negativa Macrointeração
Entrega do questionário Retração
prejudicial Motivação/interesse
Intervenções para que
Maior participação Macrointeração
Emoção positiva os alunos se sentissem
dos alunos Motivação/interesse
“à vontade”
Motivação/interesse
Reflexão
Significado
Relatos de
Repetição
experiências
Perguntas sobre Associação
Macrointeração negativas e
costumes dos alunos Emoções positivas
positivas sobre o
Emoções negativas
tema
prejudiciais
Emoções negativas
potenciais
Debates sobre
Emoções
malefícios do narguilé Reflexão sobre as
negativas Reflexão
na saúde evidenciada possíveis causas
potenciais
pelos alunos
Participações
Direcionamento de foco
... condizentes com o Atenção
para o debate
contexto
Fonte: Autores (2020).
70
possíveis sem a presença dela. Porém não conseguimos relacioná-la com alguma categoria
específica, neste sentido, foi que colocamos o símbolo “...” na primeira coluna.
Esses foram os indícios de relações interpretados nessa etapa do processo de
desenvolvimento da atividade de Modelagem Matemática proposta por Ovando Neto, vamos
analisar o processo de construção de um modelo matemático/uma resposta.
5.1.2 Construção
Após descrever que mostrou aos alunos os resultados científicos e falou sobre a crença
popular que a água é um “purificante” dos malefícios do narguilé, Ovando Neto inicia o
próximo parágrafo afirmando que encerrou as discussões, conforme figura 9.
Figura 9 – Segundo parágrafo da página 70 da dissertação de Ovando Neto.
estão fazendo isso?”), ou seja, indícios que o pesquisador estava estimulando a autonomia, a
criticidade e a argumentação. A autonomia porque os alunos estavam “livres” para escolherem
o processo de resolução; criticidade porque incentivou os alunos a compreenderem o motivo
de usarem aquelas estratégias e; argumentação porque incitou a defenderem a sua estratégia.
Já as respostas transcritas de B1 são indicadores de que ele estava elaborando estratégias
para a resolução (“estamos querendo jogar os números e somar aqui” e “Porque estamos
tentando montar ele no plano cartesiano”), ou seja, elaborava relações dos dados quantitativos
com uma representação gráfica, especificamente o gráfico de linhas, possibilitando
classificarmos essa ação na associação de informações. Com essas falas de B1, podemos
interpretar como possíveis indícios de autonomia, criatividade e argumentação que o
pesquisador estava tentando fornecer.
Contudo, quando o pesquisador questiona o motivo de escolherem o gráfico de linhas,
obtém a seguinte resposta (figura 14, trecho destacado):
Figura 14 – Primeiro parágrafo da página 72 da dissertação de Ovando Neto.
reforço na relação entre o cálculo de “multiplicar cruzado” e seu nome, o que nos permite
categorizar como uma repetição de informação.
Figura 17 – Registro do cálculo feito pelo grupo 1 para encontrar a porcentagem referente a 9 alunos.
isso, podemos inferir que talvez todo o conhecimento que permeia “multiplicação cruzado” é
significante a esses alunos, o que pode permitir que eles associem essa informação utilizando-
a em situações similares. Tanto que os alunos do grupo repetiram a operação de “multiplicação
cruzada” para encontrar os demais valores percentuais da atividade, possibilitando
categorizarmos esse reforço como uma repetição de informações.
Ademais, não temos indícios que os alunos saibam o porquê de eles utilizarem a
“multiplicação cruzada” como procedimento matemático que transforma os dados quantitativos
em percentuais. Mas temos indícios que eles interpretam os cálculos e os resultados advindos
desse procedimento e que (B2 e B3) conhecem porcentagem, porém não sabemos se a relação
entre o cálculo e essa necessidade de transformação são justificáveis e/ou lógicos.
Além disso, durante essa utilização da “multiplicação cruzada” podemos perceber
algumas categorias do eixo das características da Modelagem: a argumentação, que se faz
presente na justificativa do entendimento do resultado do cálculo utilizado; a criticidade,
quando os alunos decidem ampliar esse procedimento matemático para resolver as outras
transformações de dados numéricos em dados percentuais; a confiança, ao persistirem na ideia
que tiveram derivada da; autonomia, na liberdade para escolherem os procedimentos que
julgarem necessários.
Também podemos interpretar a atenção pelos integrantes desse grupo nesse processo
de resolução, já que nos eles responderam condizentes com as perguntas do professor. E, após
os alunos do grupo 1 encontrarem os valores percentuais da quantidade de respostas para cada
item da pergunta um do questionário, eles decidiram construir um gráfico, como podemos
observar na figura 19.
Figura 19 – Primeiro parágrafo da página 73 da dissertação de Ovando Neto.
A partir deste trecho descrito, podemos interpretar pela primeira frase uma relação entre
o conteúdo matemático e a vivência de B3 quando ele se refere ao gráfico de setores como
gráfico de “bolinha”, isto é, uma vivência/experiência de B3 (bola/bolinha) pode “justificar” o
nome relacionado com ao gráfico de setores (conteúdo matemático) por causa de suas
características, como pode ter acontecido com o cálculo “multiplicação cruzada”, então
podemos classificar essa relação na categoria significado (COSENZA; GUERRA, 2011).
Em seguida, o pesquisador interferiu na proposta de B3 complementando que o nome
“bolinha” se refere ao gráfico de setores. Neste caso, o pesquisador pode ter reforçado ou ter
criado uma relação entre o nome gráfico de setores e a “bolinha” para B3, o que nos permite
categorizar em repetição ou em associação de informações, respectivamente; mas nada
podemos afirmar/supor sobre os demais membros do grupo 1.
O pesquisador ainda tentou ampliar a relação ao gráfico de setores ao questionar o grupo
sobre o porquê desse nome, o que nos permite interpretar essa ação como sendo uma possível
tentativa de gerar argumentos e criticidade nos alunos, algumas categorias das características
da Modelagem. A argumentação por tentar conectar essas ideias e criar hipóteses e; a
criticidade ao verificar se essas hipóteses fazem algum sentido no contexto.
Em resposta ao pesquisador sobre porque o gráfico de setores tem esse nome, é descrito
que B3 o responde que é devido a possibilidade em dividir esse gráfico em “fatias” percentuais.
Essa explicação de B3 nos direciona a compreender uma possível relação entre o gráfico de
setores com um bolo ou com uma pizza (realidade) e cada parte deste gráfico (matemática),
cada setor, pode ser compreendido como uma “fatia” desses alimentos (realidade). Neste
contexto, podemos classificar esse saber como significado.
Além disso, é possível notarmos uma relação entre o conceito de porcentagem (conteúdo
matemático) e as “fatias” do gráfico (conhecimento com significado = vivência de B3 +
conteúdo matemático), entretanto, não sabemos se essa relação possui um significado ou se foi
criada uma associação entre as informações, já que os alunos estavam falando sobre esse
conteúdo anteriormente. Aliás, essa relação para B3, pode ter ampliado ou reforçado o conceito
de porcentagem e que mesmo não sendo descrito podemos interpretar que, de alguma forma, a
porcentagem pode estar relacionada com a parte de um todo.
Com essas respostas de B3, podemos interpretar que ele, ao relacionar o conteúdo
matemático e a realidade, estava sendo criativo por utilizar essa relação para ampliar ou
compreender o conteúdo matemático, assim, podemos classificar essa relação em criatividade
e essa criação para ampliar ou compreender o conteúdo em argumentação. Ademais, podemos
81
afirmar que ele estava, de fato, direcionando sua atenção para a atividade de Modelagem neste
momento.
É importante destacarmos que essas respostas de B3 foram estimuladas pela
microinteração dele com o pesquisador, onde esse último possui um papel de instigar os alunos
a pensarem ou refletirem sobre os procedimentos adotados por eles e, em alguns momentos,
pode auxiliá-los em alguma compreensão do conteúdo, como a correção do nome de um tipo
de gráfico por exemplo.
Após a resposta de B3 em que argumentava sobre a possibilidade de dividir o gráfico
de setores em “fatias” percentuais, o pesquisador realizou uma nova intervenção ao questionar
o grupo sobre a suficiência de construir esse gráfico tendo apenas as porcentagens dos dados.
Neste momento, é descrito que B2 afirma que sim e argumenta desenhando um círculo em um
papel, segmenta esse desenho em metades e as relaciona em porcentagens.
Isso nos remete a nossa interpretação inicial de que B2 possui uma familiaridade com
porcentagem, em uma possível compreensão empírica desse conteúdo que se limita algumas
representações percentuais, como 0%, 25%, 50% e 100%, conforme descrições do autor sobre
o desenho de B2. Sendo assim, B2 reforça essa sua compreensão ao mostrá-la como uma
resposta ao professor, com isso, podemos classificar as ações dele nas categorias: criatividade
(relação entre desenho, divisão e porcentagem), argumentação (utiliza essa relação como
argumento), significado (relacionamento causal entre desenho, divisão e porcentagem) e
repetição de informações (reutilização sobre a compreensão de porcentagem).
O pesquisador intervém acrescentando algumas justificativas à ideia dos integrantes, B2
e B3, afirmando que as deduções deles estavam corretas e que se remetiam a área do círculo.
Neste momento, podemos interpretar essa ação como (mais) uma associação, mas, dessa vez,
com o auxílio do professor.
E, a par destas informações, podemos inferir que os alunos B2 e B3 estavam
direcionando o foco deles para o desenvolvimento da atividade, o que nos permite categorizar
essa ação como atenção. Ainda mais, devido essa descrição das ações desses alunos em realizar
os cálculos, formular representações para responder o problema, podemos entender que esses
alunos estavam engajados.
Esse engajamento em resolver a atividade, se aproxima do entendimento de Fonseca
(2016) sobre motivação. Para esse autor, motivação é o entusiasmo para alcançar um objetivo,
neste caso, resolver a atividade de Modelagem e, ainda, podemos dizer que essa motivação está
relacionada às emoções positivas, já que está estimulando os alunos a buscarem uma resposta
para o problema o que pode acarretar prazer durante o processo, exposto por Damásio (2000).
82
17 Salientamos que a unidade de comprimento de uma circunferência se refere às medidas de comprimento como
centímetro, metro, quilômetro entre outros. Graus, valor que o pesquisador deseja que os alunos encontrem, se
refere à uma fração de uma circunferência que foi dividida em 360 partes iguais (PROGRAMA DE INICIAÇÃO
CIENTIFICA DA OBMEP, 2015).
84
realizarem cálculos que ele, pesquisador, julga como necessários para a resolução do problema
feito por ele (como representar 9% no círculo).
Isto é, com o problema de representar o 9% no círculo feito pelo pesquisador,
percebemos a possibilidade de dois encaminhamentos: 1) o encaminhamento que o pesquisador
está mediando (encontrar a relação entre porcentagem e graus) e; 2) o encaminhamento prévio
dos alunos, particularmente de B2 (segmentar o círculo em percentagens). Ambas as formas
estão corretas, mas o pesquisador, na tentativa de auxiliar os alunos a resolverem a atividade,
os direcionou a um possível encaminhamento dele de resolução. Por isso, classificaremos esse
direcionamento de ação como não-autônoma e não-criativa devido a intervenção do
pesquisador no processo de resolução, mesmo que o intuito dela fosse para a aprendizagem dos
alunos.
Aliás, B4 responde que a relação da metade do círculo equivale a 180, porém não
lembrou que esse 180 é em graus, por isso, não sabemos se esse conhecimento possui
significado ou se é uma associação de informações. O mesmo pode ser considerado a resposta
de B3 ao pesquisador em que afirma que 360 é a unidade de comprimento de uma
circunferência, mas antes de complementar sua resposta B1 o interrompe afirmando se tratar de
graus.
E, ainda na figura 21, percebemos que há uma microinteração considerada a partir dos
diálogos entre o pesquisador e alunos que, aliás, estão direcionando o foco para resolver essa
atividade, o que nos permite categorizar em atenção.
Quando direcionados a utilizarem graus para realizarem a atividade, o pesquisador faz o
seguinte registro (figura 22):
Figura 22 – Terceiro e quarto parágrafo da página 74 da dissertação de Ovando Neto.
Com o comentário de que trabalhar com graus é mais difícil, podemos supor que os
alunos podem achar trabalhoso ou cansativo calcular as relações entre graus e porcentagens,
com isso, podemos interpretar que o conteúdo de ângulos foi aprendido pelos alunos, mas não
são utilizados com frequência (são poucos repetidos) o que não possibilita aos alunos uma
realização de associações que diminuam o trabalho ou o cansaço gerado por esses cálculos.
Além disso, podemos estipular também que tanto o trabalho quanto o cansaço podem estar
relacionados a um a um “desgaste” emocional no desenvolvimento desses cálculos, o que
provoca um desencorajamento ou desmotivação, conforme aponta Goleman (2012), que pode
ser interpretado e categorizado como uma emoção negativa prejudicial.
Em seguida, Ovando Neto (2019) descreve que os alunos afirmam que pode não haver
tempo hábil para realizar todos os cálculos para elaborar gráficos das demais questões do
questionário. Dada essa argumentação dos alunos, o pesquisador simplificou a atividade para a
representação gráfica apenas da questão 1. Evidenciando uma argumentação por parte dos
alunos e uma reflexão por parte do pesquisador.
Posteriormente, o pesquisador descreve que os alunos apresentaram dificuldade em
relacionar a proporção entre graus e porcentagem da fração de uma circunferência18, isso pode
ter decorrido por não haver um porquê a ser feito (significado) aos alunos e/ou não possuem o
hábito (repetição do procedimento) ou relações (associações) que facilitem esses cálculos.
Essa dificuldade dos alunos nos cálculos fez o pesquisador realizar intervenções que
estimulassem a eles criações/lembrança de relações entre graus e porcentagem. Tais
intervenções eram perguntas que nos parecem perguntas que “soam” como dicas para auxiliar
no raciocínio, por isso, nos referiremos a esse tipo de pergunta como perguntas-dicas.
Com essas perguntas-dicas, podemos interpretar que os alunos repetiram a relação entre
porcentagem e graus – 50% equivale 180º, 100% equivale 360º, por exemplo. Neste sentido,
podemos categorizar a reutilização dessa relação como repetição de informações e a própria
relação como associação de informações.
Essa relação é classificada como uma associação de informações e não como
significado por não haver uma possibilidade ou indícios em outros trechos que, para nós,
corroborem com uma possível interpretação e/ou suposição de causalidade e/ou uma
justificativa da relação entre porcentagem e graus.
18 No texto, o autor descreve que é uma relação proporcional entre a porcentagem da área do círculo e graus, o
que não é o caso.
86
dos pontos 1 e 2 já eram considerados em alguns momentos da figura 22, entretanto, não
tivemos dados que corroborassem com ela até a reafirmação deles na figura 23.
Já o ponto 3 (trecho destacado na figura 23), a apreensão do pesquisador, demonstra que
ele está emocionalmente afetado o que implica em uma consequência da Modelagem
Matemática que abordaremos detalhadamente em um momento posterior.
Nos afastando desses pontos e voltando a análise da atividade da dissertação, o autor
descreve a dificuldade dos alunos em manusear o transferidor, conforme podemos observar na
figura 24.
Figura 24 – Segundo e terceiro parágrafo da página 46 da dissertação de Ovando Neto.
Participações
Foco na resolução da
... condizentes com o Atenção
atividade
contexto
Autonomia
Significado*
Associação*
Repetição
Relações e
Intervenções do Associação
Microinteração inferências criadas
pesquisador Reflexão
pelos alunos
Criticidade
Criatividade
(Auto)confiança
Argumentação
Autonomia
Diversidade de
encaminhamentos
Repetição Relações entre Processo de
Criatividade
+ procedimentos, formas desenvolvimento da
Argumentação
Associação de apresentar a resposta atividade
Criticidade
Reflexão
Repetição
Associação
Relações entre as
Diversidade de Outras formas para Criatividade
formas de apresentar
encaminhamentos apresentar a resposta Argumentação
a resposta
Criticidade
Reflexão
Repetição
Autonomia Trocam, exploram e
Liberdade e seguros dos Associação
+ justificam os
procedimentos adotados Diversidade de
Confiança caminhos realizados
encaminhamentos
Engajamento dos alunos Resolução da
Emoção positiva em desenvolver a atividade de Motivação/interesse
atividade Modelagem
Relação com Dados matemáticos
outras áreas do Matemática + Saúde possuem vínculo no Significado*
conhecimento empírico
Fonte: Autores (2020).
Nota:
* Podemos supor em determinadas situações.
Na tabela 3, temos o mesmo contexto da tabela 2: na primeira coluna categorias
observadas por nós nos contextos apresentados na segunda coluna, em seguida, na terceira
coluna temos as consequências advindas da segunda coluna e na quarta colunas as categorias
que percebemos resultantes da coluna três. As cores presentes na tabela significam: vermelho
= evitou; verde = propiciou; amarelo = sem relação direta e; cinza = forneceu indícios das
demais cores.
89
Por fim, também observamos que os alunos parecem estar engajados em desenvolver a
atividade de Modelagem, o que nos permite considerar como motivados/interessados, o que
pode proporcionar uma emoção positiva resultante de um prazer em desenvolver a atividade.
E, também, podemos interpretar que a relação entre Matemática e área da Saúde pode
ser considerada como relação com outras áreas do conhecimento e que pode promover um
significado aos dados matemáticos, mas não encontramos indícios de que elas se relacionam.
5.1.3 Validação
Após a explicação do uso do transferidor, o pesquisador convidou B1 para explicar o
raciocínio do grupo 1 para representar os dados referentes a primeira pergunta, como podemos
observar na figura 25.
Figura 25 – Primeiro e segundo parágrafos da página 77 da dissertação de Ovando Neto.
5.1.4 Resultados
A par destas informações da atividade de Modelagem Matemática de Ovando Neto,
percebemos alguns indícios de relações presentes entre categorias tanto das características de
Modelagem quanto dos apontamentos das Neurociências e entre elas, conforme podemos
observar na figura 26.
Figura 26 – Grafo criado com resultados obtidos pela análise de Ovando Neto.
Outra relação que não percebemos referente à relação com outras áreas do
conhecimento e a sua influência sobre motivação/interesse dos alunos, conforme apontavam
Almeida e Brito (2005), Almeida e Dias (2004), Araújo (2002), Barbosa (2001) e Burak (1992).
Todavia, pudemos interpretar situações e, por consequência, categorias que parecem interferir
na motivação/interesse dos alunos, durante a atividade de Modelagem Matemática, como a
macrointeração, a emoção positiva e a emoção negativa prejudicial.
A emoção negativa prejudicial pode ter influenciado, de forma negativa, a
motivação/interesse por ter evitado uma aproximação inicial dos alunos com o pesquisador,
devido ao possível medo ou frustração que o tema da atividade pode ter mobilizado, em
concordância com as considerações de Damásio (2000). Em contrapartida, o prazer que pode
ter sido desencadeado ao realizar a atividade de Modelagem, pode ter mobilizado emoções
positivas que podem ter induzido uma possível motivação nos alunos em continuar com o
desenvolvimento, como pondera Fonseca (2016) e reforça o trabalho de Damásio (2000).
É interessante pontuarmos que em ambos os casos que a motivação/interesse pode ter
sido influenciada, ela foi propiciada em situações que envolviam uma interação com os alunos,
mais especificamente, uma macrointeração. Aliás, é importante realçarmos que a emoção
negativa prejudicial pode ter afetado na macrointeração durante o debate inicial da atividade,
porém a última também pode ter sido um fator para possíveis mudanças emoções, como
observamos que essa interação pode ter perpassado as demais subcategorias das emoções
(positivas e negativas potenciais).
As emoções positivas podem ter sido mobilizadas com os diálogos dos alunos sobre o
que costumavam fazer como se divertir enquanto as emoções negativas potenciais podem ser
interpretadas a partir de uma reflexão sobre o tema da atividade – sendo essa uma possível
relação, emoções negativas potenciais influenciam uma reflexão nos alunos.
Sendo assim, podemos inferir que as macrointerações podem influenciar as emoções
dos alunos durante a atividade de Modelagem, possibilitando um ambiente com mudanças
emocionais. É evidente que cada emoção interfere de forma diferente nessas interações e que,
dependendo de como for a abordagem do professor, também podem sofrer mudanças, como
interpretamos ao longo do processo de construção da atividade.
E foi durante as interações/envolvimentos (macro e microinterações) que percebemos
mais indícios de influência com as demais categorias. Por exemplo, tanto na macro quanto na
microinteração, conseguimos identificar a possibilidade de os alunos reutilizarem informações
(experiências pessoais, procedimentos e conceitos matemáticos) além de possibilitar a
ampliação da percepção delas. Essa reutilização e ampliação da percepção de informações, são
94
do autor em encaminhar os alunos a utilizarem uma relação entre porcentagem e graus que eles
não haviam percebido, pois os alunos poderiam resolver a representação no gráfico de setores
dividindo esse por dois, sucessivamente, e atribuindo suas respectivas porcentagens (descrição
do pensamento de B2), enquanto o pesquisador os direcionou a utilizarem a regra de três.
E, durante o processo de construção da atividade de Modelagem, percebemos que
quando os alunos estão conscientes de sua autonomia e confiantes que são capazes de resolver
o problema, eles parecem propor encaminhamentos (criatividade), reutilizam e elaboram
associações de informações e procedimentos (repetição e associação de informações) que
podem alterar as expectativas iniciais do resultado (diversidade de encaminhamento). Dentro
dessa diversidade de encaminhamentos, há a necessidade de os alunos criarem hipóteses
(argumentação), justificarem o uso de procedimentos em detrimento de outros (criticidade) e
poderem reconhecer que erram (reflexão), o que podemos considerar como consequência da
junção entre autonomia e (auto)confiança.
É prudente destacarmos que apenas observaremos essa argumentação, criticidade e
reflexão sobre determinado encaminhamento escolhido pelos alunos, se eles interagirem. Isso
nos direciona a refletir se os alunos possuem consciência dessa criticidade, argumentação e
reflexão inicialmente – no sentido da ação e não do conceito da palavra – ou se são estimulados
a terem essa consciência a partir de uma interação, seja com o professor seja com seu grupo.
Afinal, apenas saberemos se alguém sabe de algo, neste caso argumentar a favor ou contra
determinado procedimento matemático, se esse alguém externalizar o seu conhecimento
(COSENZA; GUERRA, 2011; IZQUIERDO, 2011). Aliás, podemos nos indagar se tais
influências propiciadas pelas interações podem ser entendidas como consequência dessa
premissa anterior...
Durante o processo de resolução de um grupo (encaminhamento), os alunos propõem
relações entre dados e/ou procedimentos e os reforçam ao utilizá-los, assim, temos uma
associação e uma repetição de dados e procedimentos. Dentro dessas associações e repetições,
também percebemos outras categorias pertinentes à diversidade de encaminhamentos como a
criatividade, a argumentação, a criticidade e a reflexão.
Dentro de nossa análise, não conseguimos interpretar uma categoria desencadeadora da
atenção, embora a interpretamos pelo direcionamento dos alunos à resolução da atividade de
Modelagem Matemática, entretanto, não foi possível identificarmos o que pode ter provocado
essa atenção, mesmo com a hipótese de que as emoções e o significado poderiam atrai-la
(COSENZA; GUERRA, 2011). Por isso, a expomos sem nenhuma relação e com o ponto
preenchido.
96
5.2.1 Compreensão
Inicialmente a pesquisadora faz algumas ressalvas no contexto de pesquisa e, logo após,
descreve como começou a atividade, conforme a figura 27.
Figura 27 – Terceiro parágrafo da página 85 da dissertação de Souza.
como uma tentativa de se motivarem, conforme entendido por Fonseca (2016), ocasionando
assim uma possível mudança emocional para emoções positivas e a presença do
interesse/motivação.
Para analisarmos se ocorre essa mudança emocional, retornamos à descrição da
pesquisadora sobre a atividade que segue na figura 28:
Figura 28 – Primeiro parágrafo da página 86 da dissertação de Souza.
uma possível emoção positiva. E, ainda, podemos interpretar que essa empolgação pode ter os
influenciado a se engajarem no desenvolvimento da atividade de Modelagem, o que nos
direciona a inferir que se trata de um interesse/motivação nesse processo. Com isso, parece-nos
que houve uma mudança emocional durante o processo de compreensão, partindo de uma
timidez (emoção negativa potencial) para uma empolgação (emoção positiva).
Interessante acentuarmos que esse ambiente de “descobertas” proposto por Souza
parece favorecer uma interação entre os acadêmicos, o que podemos classificar como
macrointeração, além de podermos interpretar essas ações para/com a atividade como uma
atenção.
Ao retornarmos ao texto, a pesquisadora descreve que houve debates das informações
elencadas pelos acadêmicos e, em seguida, problematiza a eles acerca da importância das
abelhas e se afetariam os humanos caso fossem extintas. Na figura 30, temos algumas respostas
relatadas pela autora:
Figura 30 – Último parágrafo da página 86 da dissertação de Souza.
ao responder que alguns alimentos diminuiriam, o que nos direciona a interpretar que eles
consideraram fatores em seus argumentos, o que aparenta se tratar de uma ação de criticidade.
Com essas informações, podemos inferir que os acadêmicos estavam relacionando
causas e efeitos de extinção das abelhas, como a argumentação do acadêmico que foi descrita e
propunha uma causalidade entre o uso de pesticidas e a mortes das abelhas, o que consideramos
como uma associação de informações. Já no primeiro diálogo, onde um acadêmico expõe a
quantidade de abelhas mortas no Brasil, podemos considerar como uma repetição de
informações, pois outrem já havia comentado sobre esse fato, como consta na figura 28, o que
reforça o saber das abelhas estarem em processo de extinção.
Além disso, é descrito que um dos grupos dos acadêmicos pesquisou uma reportagem
em que dizia sobre a polinização de 80% das plantas serem realizadas pelas abelhas. Essa busca
por algo que respondesse a pesquisadora pode ser entendida como uma autonomia, pois não
relatado que a pesquisadora incentivou essa investigação, mas foi uma ação que os acadêmicos
parecem ter sentido vontade de realizar e, assim, a fizeram. E, ainda, podemos considerar que
esse grupo de acadêmicos parece seguro em “usufruir” dessa liberdade proposta pelo ambiente
de “descobertas”, porque realizaram a pesquisa sem questionar à professora se poderiam fazê-
la, o que podemos considerar como uma (auto)confiança.
Essa última reportagem trazida pelo grupo, informava a importância das abelhas e
apresentava uma implicação de Einstein em que evidenciava que sem elas, as abelhas, os seres
humanos morreriam, o que parece-nos possibilitar a criação de uma relação entre abelhas e
seres humanos com uma causa de um porquê tais insetos são importantes para a nossa
sobrevivência. E, essa relação, parece-nos propiciar um potencial significado por relacionar
vivências (abelhas e humanos) com um conhecimento (extinção das abelhas pode extinguir os
humanos) com uma justificativa (porque abelhas polinizam 80% das plantas).
Essa informação das abelhas parece ter impressionado os acadêmicos e, esse termo,
possibilita dois significados emocionais, segundo o site Dicio (2009-2020) 21 , são eles: 1)
comoção e; 2) maravilhado. No primeiro significado, comoção, podemos interpretar como uma
tristeza e essa está associada a uma emoção negativa; enquanto no segundo significado,
maravilhado, podemos considerar como uma alegria, que podemos associá-la como uma
emoção positiva.
Pelo contexto, não nos parece que os possam ter se alegrado ao saber que as abelhas
estavam morrendo sendo elas importantes para nós, mas sim que estava comovida, logo, essa
informação – abelhas morrendo e são importantes aos humanos – pode ter desencadeado uma
tristeza (emoção negativa). E, como essa informação parece ter influenciado uma acadêmica a
um repensar sobre a importância das abelhas causando uma possível
necessidade/conscientização de preservá-las, conforme descreve Souza (2020), nos permite
categorizar tanto como uma reflexão quanto como uma emoção negativa potencial.
Por fim, dadas tais discussões em torno do tema da atividade, podemos considerar que
houve a atenção. Ao retornarmos para nossa análise, temos na figura 31 a continuação da
descrição da atividade de Souza:
Figura 31 – Primeiro parágrafo da página 87 da dissertação de Souza.
Contudo, o verbo “estava” indica que essa acadêmica não parece gostar do encaminhar
matemático que a atividade se direciona. Esse “não gostar” pode influenciar em uma retração
dessa acadêmica durante o restante do processo de resolução, conforme pondera Damásio
(2000). Todavia, devido ao não detalhamento/acompanhamento da autora dessa acadêmica em
particular, não conseguimos interpretar e classificar se esse “não gostar” pode estar relacionada
com uma emoção negativa prejudicial por poder ter prejudicado as ações da acadêmica ou com
uma emoção negativa potencial que possibilitou-a refletir acerca da sua consideração em
restante da atividade.
Diante dessa situação, ressaltamos a nossa dificuldade em analisar possíveis relações
e/ou influências que o conjunto de categorias das emoções podem realizar com outras ações e
categorias durante o desenvolvimento da atividade de Modelagem Matemática.
Posteriormente, a pesquisadora questiona se os acadêmicos já tinham observado o local
em que as abelhas depositam o mel e relata que alguns acadêmicos negaram, outros que já
tinham visto por fotos e, na sequência, ela mostrou uma imagem dos favos de mel. Ao mostrar
essa imagem, a pesquisadora pode ter permitido os acadêmicos que não tiveram a oportunidade
de ver esses favos de conhecer, ou de reconhecer, o local em que as abelhas depositam o mel.
Com isso, nos permite categorizar como uma associação de informações, pois a pesquisadora
pode ter propiciado uma relação entre o objeto (o favo de mel), a sua função e uma imagem.
E, antes de adentrarmos no processo de construção dessa atividade de Modelagem de
Souza, vamos sintetizar na tabela 5 algumas observações, interpretações e inferências nossas.
Tabela 5 - Síntese das interpretações do processo de compreensão da atividade de Souza.
CATEGORIA DESENCADEADOR CONSEQUÊNCIA CATEGORIA
Direcionamento de foco Participações
... para o ambiente de condizentes com o Atenção
descobertas contexto
Significado*
Emoção positiva
Emoção negativa
potencial
Repetição
Ações de
Associação*
Ambiente de investigação e
Macrointeração Autonomia
descobertas compartilhamento
Criticidade
de informações
Argumentação
Reflexão
Relação com outras
áreas do
conhecimento
Empolgação com as Engajamento na
Emoção positiva Motivação/interesse
respostas pesquisa
104
Ambientes de
Prazer em debater
descobertas
Reflexão
Informação sobre a Comoção com as
Significado Emoções negativas
importância das abelhas abelhas
potenciais
Relação com Relação do Significado*
Abelhas “sabem”
outras áreas do comportamento do Associação de
Matemática
conhecimento inseto com a área informações*
Motivação em Tentativa de maior
Emoções
participar interação
negativas Reflexão
Comoção com as Conscientização
potenciais
abelhas sobre conservação
Segurança na
Iniciativa de buscar
(Auto)confiança independência de Autonomia
solução
desenvolvimento
Fonte: Autores (2020).
* Podemos supor em algumas situações.
Novamente, não conseguimos identificar uma possível categoria que influenciasse na
atenção, por isso, na primeira coluna colocamos o “...”. E, reforçamos que as demais categorias
da atividade possivelmente não seriam evidenciadas caso ela, a atenção, não tivesse presente.
Outra relação que também não encontramos é a relação com outras áreas do
conhecimento e significado, além de também interpretamos que há a possibilidade da relação
com outras áreas do conhecimento se relacionar com a associação de informações. Embora
tenhamos considerado essas duas possibilidades de relação, não foi possível identificarmos
indícios de como elas podem se influenciar por causa do não detalhamento de como foi
encaminhado os debates para a “visualização” da Matemática em comportamentos das abelhas.
Durante a proposta de ambiente de “descoberta” de Souza, percebemos uma dinâmica
de divulgações e debates de informações pesquisadas pelos acadêmicos e que podemos
considerá-las como macrointerações. Além disso, esse ambiente parece propiciar uma
dinâmica de repetições e associações, podendo até construir significados, durante a troca de
informações dos acadêmicos além de poder favorecer algumas mudanças de posturas – como
autonomia, criticidade, argumentação e reflexão – ao possibilitar que eles investigassem,
escolhessem fontes de pesquisa, elaborassem hipóteses e repensassem sobre conhecimentos que
permeiam o tema.
Durante as macrointerações, alguns diálogos nos pareceram possibilitar mobilizações
emocionais, particularmente emoções positivas e negativas potenciais. As emoções positivas
foram interpretadas em contextos em que os acadêmicos pareciam sentir prazer ao desenvolver
determinadas ações, como expor algumas informações; enquanto as emoções negativas
potenciais foram entendidas em dois momentos: 1) quando os acadêmicos estavam se
105
5.2.2 Construção
Após mostrar a imagem de um favo de mel, a autora apresenta aos leitores de seu
trabalho a problemática da atividade da abelha e descreve como direcionou para ela, conforme
podemos observar nos parágrafos da figura 32:
Figura 32 – Segundo e último parágrafos da página 87 da dissertação de Souza.
106
Embora pelas respostas, podemos considerar que houve uma breve interação entre a
pesquisa e alguns acadêmicos da turma, que podemos considerar como macrointeração e como
atenção para/com aqueles que estavam envolvidos.
Ao analisarmos o trecho destacado da figura 32, podemos perceber que a pesquisadora
afirma que aqueles acadêmicos que já tinham participado de outra atividade de Modelagem
estavam mais receptivos, “mais soltos” que os demais nesta atividade. Essa afirmação da
pesquisadora nos leva a interpretar que eles estavam mais descontraídos nessa resolução e uma
possível causa dessa descontração foi a outra atividade de Modelagem Matemática. E, nos
baseando na alegação de Damásio (2000) sobre emoções positivas em que afirma se uma ação
nos gera prazer tendemos repeti-la, nos direciona a inferir que a outra atividade pode ter
propiciado prazer nesses acadêmicos “mais soltos”.
Para reforçar a nossa inferência, buscamos na outra atividade de Modelagem
Matemática desenvolvida pela pesquisadora, trechos que ela relata que os acadêmicos do curso
de Pedagogia gostaram de desenvolver com a Modelagem (figuras 33 e 34), assim como, relatos
dos próprios acadêmicos que ela expôs em seu trabalho (figura 35).
Figura 33 – Segundo parágrafo da página 80 da dissertação de Souza.
que um acadêmico afirma que achou mais divertido desenhar o pé no papel22. O termo “mais”
parece-nos ser empregado, neste contexto, como algo comparativo e/ou que se destaca do
restante da atividade, assim, podemos interpretar que toda a atividade foi divertida para o
acadêmico, em especial o momento de desenhar o pé.
Neste sentido, podemos considerar esses excertos das figuras 33, 34 e 35 como indícios
que apoiam a inferência de que essa atividade de Modelagem, relação entre o tamanho do pé e
o número do calçado, desenvolvida com uma fração de acadêmicos deste curso da pesquisadora
pode ter sido prazerosa para os envolvidos. O que faz-nos retornar aos apontamos de Damásio
(2000) sobre o prazer, a possibilidade de repetirmos ações que gerem essa sensação e como
essa sensação está relacionada com uma emoção positiva.
Assim, pelo pensamento de Damásio (2000), se os acadêmicos sentiram prazer em
desenvolver a atividade de Modelagem sobre a relação entre o tamanho do pé e o número do
calçado, tendem a realizar outra atividade com a mesma estratégia de ensino.
A par destas informações, podemos categorizar que as expressões “mais receptivos” e
“mais soltos” – que compreendemos como descontraídos – utilizadas pela pesquisadora na
figura 32 podem ser consideradas como indícios de prazer e, consequentemente, podemos
categorizá-las como emoções positivas. Além do mais, a expressão “mais soltos” pode ser
compreendida como “confiantes” no processo de resolução, o que nos permite categorizar em
(auto)confiança e interpretar como uma possível consequência da atividade de Modelagem
anterior ao curso.
Caso nossa interpretação dessa “confiança” no processo de resolução ser uma possível
consequência da atividade anterior de Modelagem for verdadeira, podemos inferir que esse
comportamento pode ter sido aprendido e está sendo repetido nesta atividade. É prudente
ressaltarmos que isso é uma suposição de uma descrição da pesquisadora, já que não analisamos
detalhadamente a outra atividade e nem sabemos se esses acadêmicos já eram confiantes antes,
entretanto, não é exagero inferirmos que a atividade de Modelagem pode ter auxiliado, de
alguma forma, o “favorecimento” dessa confiança no processo de resolução da atividade.
Ao retornarmos à análise da atividade com a temática sobre abelhas, Souza descreve
que iniciou uma discussão sobre quais polígonos formariam mosaicos sem lacunas, conforme
figura 36.
Figura 36 – Primero e segundo parágrafos da página 85 da dissertação de Souza.
22
“[...] o ‘mas’ divertido e de desenhar o pé no papel” [.sic] (SOUZA, 2020, p.82).
110
preliminar de que estão certos ou não; a criticidade, ao identificar erros nas hipóteses e; uma
possível reflexão sobre quais foram os erros que fizeram considerar essas hipóteses.
Como consequência dessa validação de hipóteses a partir dos desenhos das figuras
geométricas, podemos inferir que os erros cometidos podem ser utilizados como
contraexemplos para argumentar e/ou evidenciar que as outras figuras (triângulo equilátero,
quadrado, retângulo e hexágono) preenchem um mosaico sem lacunas. Tanto que
reconsideraram a participação do círculo como uma figura geométrica possível de preencher
um mosaico sem restar lacunas ao debaterem novamente com a turma, como descreve a autora.
Neste sentido, esse erro advindo da construção e validação de hipótese nos fornece
indícios de uma possível criação de significado, já que um conhecimento (preenchimento do
mosaico sem lacunas com figuras geométricas) se relaciona com uma experiência (validação
de quais figuras conseguem realizar tal preenchimento).
Antes de continuarmos nossas análises, é importante realizarmos algumas ressalvas
sobre a atividade de Souza. Nos parece que, ao utilizar a expressão de “mosaicos sem lacunas”,
a autora se refere ao mosaico do plano. Esse tipo de mosaico deve ser constituído de polígonos
regulares no intuito de não haver lacunas e nem sobreposições (ALVES; DALCIN, 199923).
Neste sentido, as figuras geométricas que podem formar um mosaico sem lacunas são polígonos
regulares como triângulos equiláteros, quadrados e hexágonos regulares.
Neste contexto, ao descrever que os acadêmicos consideraram triângulos e hexágonos
sem considerar tais figuras nas condições descritas acima, podemos supor que a pesquisadora
tivesse a pretensão de ensinar, identificar ou corrigi-los em algum outro momento, como
ocorreu com o círculo. Entretanto, não conseguimos interpretar essa pretensão durante nossas
análises.
Ao retornarmos ao excerto da figura 36, os acadêmicos parecem estar engajados para
realizarem essa parte da atividade de Modelagem Matemática e esse engajamento pode ser
entendido como motivação/interesse, segundo Fonseca (2016). Além disso, podemos
considerar que, por causa do direcionamento de foco para resolverem a atividade nesse trecho,
há atenção daqueles acadêmicos que se envolverem na discussão das figuras geométricas.
Após essa dinâmica de desenhar as hipóteses dos acadêmicos de preenchimento do
mosaico sem deixar, a pesquisadora descreve que realizou outro questionamento sendo esse a
23 ALVEZ, Sérgio; DALCIN, Mário. Mosaico do plano. REVISTA DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA, 40,
1999, p. 1-12. Disponível em: http://geogebra.im-uff.mat.br/biblioteca/rpm-40-mosaicos-do-plano.pdf. Acessado
em 04 ago. 2020.
112
incorretas se sobressaem ao serem comparadas com as corretas ou que não entendia muito bem
a matéria, o que pode ter acarretado nesse julgamento dela de “não ser boa”.
Nessas regiões de possibilidades, o que podemos considerar é que aconteceu uma ação
com essa acadêmica que possa tê-la frustrada em relação a Geometria e, essa frustração, pode
estar relacionada com uma emoção negativa (DAMÁSIO, 2000; FONSECA, 2016). Essa
emoção pode ser prejudicial para a aprendizagem já que a acadêmica parece pressupor que é
incapaz de resolver sem, ao menos, tentar.
Dada essa suposição, destacamos a possibilidade de nós, professores, tentarmos reverter
ou evitar situações frustrantes aos alunos para não causarmos prejuízos para o processo de
aprendizagem dele. Uma forma de evitarmos isso é tentarmos identificar tais situações para
evitarmos executá-las e/ou auxiliar os alunos a superá-las.
Ao descrever que existiam acadêmicos que não lembravam do conteúdo geométrico, a
pesquisadora retomou esses conceitos, como podemos observar na figura 38.
Figura 38 – Segundo parágrafo da página 89 da dissertação de Souza.
(motivação/interesse) dela dentre outras ações que pudessem ser categorizadas, além de não
haver detalhamento sobre os “diferentes questionamentos para pensarem” para interpretarmos
se eles pensaram/refletiram.
Ao retornarmos ao texto de Souza, a autora descreve que aumentou a especificidade da
proposta de desenhar as figuras geométricas (o triângulo, o quadrado e o hexágono) com
perímetros diferentes para desenhá-las com o mesmo perímetro, como observamos na figura
39.
Figura 39 – Segundo parágrafo da página 89 da dissertação de Souza.
(encontrar a medida do lado de uma figura geométrica pela divisão de um perímetro qualquer
pela quantidade de lados da figura plana).
Além disso, percebemos que nessa microinteração se tem uma liberdade para escolher
qual procedimento será utilizado para resolver o problema, o que pode ser entendida como uma
autonomia. Ademais, com a reutilização de informações, como o conceito de perímetro e o
cálculo de divisão, podemos considerar como repetição de informações.
No outro parágrafo, a autora descreve o processo de resolução de um segundo grupo de
acadêmicos (G2), como podemos perceber na figura 41.
Figura 41 – Primeiro e segundo parágrafo da página 90 da dissertação de Souza.
categorizada como argumentação. Neste contexto, podemos perceber que há indícios de uma
relação entre microinteração e a argumentação.
Ao analisarmos o pensamento descrito da primeira acadêmica, percebemos que ela
reutilizou conceitos e cálculos de multiplicação e de perímetro e os relacionou, o que nos
permite categorizar como repetição e associação de informações. Essa relação entre perímetro
e multiplicação foi considerada como uma associação porque há uma tentativa de
argumentação que tenta justificá-la, mas não necessariamente faça sentido essa multiplicação
dos lados. E também podemos classificar essa relação de procedimentos como criatividade.
Entretanto, a autora afirma que o grupo não encontrou os valores para o triângulo e que
ela realizou uma nova intervenção, como podemos observar na figura 43:
Figura 43 – Segundo e metade do terceiro parágrafos da página 91 da dissertação de Souza.
Aliás, esse pensamento da acadêmica em olhar a tabuada do 3 para ver se tinha essa
resposta em comum (o número 24) pode ser considerado como argumentação, já que ela cria
uma hipótese e busca validá-la. E, dada essa descrição de colaboração entre as acadêmicas para
responder o problema, podemos interpretar que elas estavam atentas na atividade (atenção).
Após realizada a afirmação da acadêmica ao falar que o triângulo tem três lados de 8cm,
podemos interpretar que ela teve segurança tanto em seu pensamento para resolução quanto no
auxílio da outra acadêmica ao falar “é oito”, nos permitindo inferir e categorizar essa ação como
(auto)confiança. Essa inferência ainda é corroborada com a descrição da autora em que afirma
que o grupo começou a se considerar capaz depois de resolver o problema.
Nos trechos destacados da figura 45 observamos que, ao resolverem o problema da
pesquisadora, o grupo ficou eufórico e empolgado com essa resolução, como podemos
interpretar pela fala “conseguimos professora, nem foi tão difícil assim!” (SOUZA, 2020, p.
91) e como a autora afirma no parágrafo posterior ao afirmar que ficaram satisfeitos e animados
por resolverem o problema, influenciando na (auto)confiança.
É evidente que essa descrição da autora em que ela enfatiza a animação, empolgação,
euforia e/ou satisfação dos acadêmicos do G3 ao resolverem o problema proposto, que podemos
considerá-la como indicativo de mobilização de emoção(ões) positiva(s). Aliás, essa
empolgação pode interessar/motivar esse grupo a continuar desenvolvendo a atividade de
Modelagem Matemática, como parece acontecer.
Essa interpretação descrita no parágrafo anterior nos retorna à Damásio (2000) e seu
apontamento sobre a possibilidade do estado de prazer se iniciar com o processo de busca e
pode aumentar [esse prazer] ao conquistar esse objetivo e, isso, pode nos incentivar a repetir
esse processo, neste caso, atividades de Modelagem. Destacamos que essa possível retomada
de desenvolver uma atividade de Modelagem já havíamos observado em nossa análise da figura
32, nessa ocasião, a pesquisadora afirmou que os acadêmicos que já tinham tido experiência
com Modelagem estavam “mais soltos” e essa descontração poderia ter sido propiciada pelo
prazer que eles tiveram ao desenvolver a outra atividade de Modelagem, tanto que recortamos
trechos da outra atividade que evidenciasse essa nossa interpretação.
Neste contexto, percebemos que a atividade de Modelagem Matemática pode propiciar
uma empolgação ao resolvê-la e que pode acarretar uma motivação inicial na resolução de uma
próxima. O que complementa o apontamento dos autores Burak (1992), Barbosa (2001), Araújo
(2002), Almeida e Dias (2004) e Almeida e Brito (2005), pois eles descrevem que o interesse
dos alunos pela Modelagem parte pelo tema que se relaciona com a Matemática.
121
Posteriormente, Souza descreve que houve uma explanação dos grupos sobre o processo
de resolução da construção de um triângulo (equilátero), um quadrado e um hexágono (regular)
com o mesmo perímetro, conforme segue na figura 44.
Figura 44 – Metade do primeiro parágrafo da página 92 da dissertação de Souza.
24 Alguns trabalhos científicos podem se referir a esse modo de aprender como memorização ou decoração.
126
de informações sem causa. Frisamos que isso é uma forma de aprender, afinal, consolidou as
informações no cérebro. Contudo, a pergunta sobre a qual devemos refletir é: é benéfico meu
aluno aprender aquele procedimento sem saber que possui um motivo ou uma relação para ele?
Entretanto, como fizemos essa ressalva no capítulo sobre Neurociência, é imprudente
pensarmos que uma relação entre o cotidiano do aluno e o conteúdo não nos garante que o aluno
saberá o porquê dessa fórmula, apenas é mais uma informação para ser associada. Neste sentido,
é que interpretamos significado como uma justificativa, isto é, um entendimento que exprime
um saber de maneira clara (DÍCIO, 2009-2020 25 ), como advertimos em nosso capítulo de
procedimentos metodológicos.
A par dessas informações, podemos categorizar que essa aula dentro da atividade de
Modelagem realizada pela pesquisadora pode gerar um significado, pois a autora justifica a área
do triângulo a partir da área do quadrado. E esse significado é tão impactante nos acadêmicos
que, como a pesquisadora descreve, ficaram espantados com tamanha simplicidade. Podemos
admitir esse “espantados” como sinônimo de impressionados com essa explicação e, como já
descrevemos anteriormente, temos dois significados para impressionados: 1) comoção e; 2)
maravilhado.
Retornando a explicação desses significados: 1) comoção pode ser interpretada como
tristeza e essa se relaciona como uma emoção negativa, enquanto; 2) maravilhado pode ser
entendida como alegria e esse se relaciona como uma emoção positiva. No contexto desse
trecho da figura 47, podemos assumir que os acadêmicos estavam maravilhados/alegres por
entenderem o porquê da fórmula da área do triângulo, logo, consideramos como emoção
positiva. Aliás, esse espanto na explicação, pode motivar/interessar os acadêmicos a
entenderem outras áreas de figuras geométricas, podemos exemplificar com o apontamento do
acadêmico sobre a área do hexágono.
Esse apontamento do acadêmico nos parece propor um “desafio” à pesquisadora, pois
afirma que a área do triângulo é fácil, mas a do hexágono é cheio de lados o que infere ser
difícil. Esse adjetivo “difícil” exposto pelo acadêmico na descrição da autora se relaciona a algo
que demanda um trabalho extenso, massivo (DÍCIO, 2009-202026), ou seja, estressante. Neste
contexto, o pré-julgamento de um possível trabalho árduo para “solucionar” o porquê da
fórmula do hexágono está sendo classificada como estressante, entediante, algo que não produz
prazer ao acadêmico. Sendo assim, o adjetivo “difícil” pode estar relacionado a uma emoção
negativa, já que não fornece prazer ao desenvolver.
Ao conseguirmos identificar que se trata de uma emoção negativa, devemos observar
indícios que nos auxiliem a interpretar se ela ou é potencial (mesmo não sendo prazerosa, o
acadêmico pode realizar os procedimentos para entender) ou é prejudicial (dando sinais de que
não quer mais fazer). Assim, considerando que o acadêmico nos parece propor um desafio à
pesquisadora para fazê-lo entender, pode indicar que se trata de uma emoção negativa potencial
– mesmo sendo difícil, quero entender –.
E, ainda sobre esse espanto descrito pela autora, podemos interpretar que os acadêmicos
estavam atentos à explicação dela, o que podemos classificar como atenção. Além disso,
parece-nos haver uma reutilização de conteúdos matemáticos, como áreas das figuras
geométricas (quadrado e triângulo, neste caso), o que nos permite categorizar em repetição de
informações.
Após os manifestos dos acadêmicos, a pesquisadora afirma que começou a explanar
sobre o hexágono, questionando a turma sobre possíveis divisões dessa figura geométrica,
conforme podemos observar na figura 48.
Figura 48 – Último parágrafo da página 93 da dissertação de Souza.
relação, por isso, não conseguiremos estipular se houve uma possível associação de
informações ou significado. Mas, ao simplificarmos a possibilidade de divisão do hexágono em
triângulos, podemos supor que há uma relação entre essas duas informações que categorizamos
como associação de informações já que não necessariamente os acadêmicos saibam o porquê
de dividirem o hexágono em outras figuras geométricas.
Ao continuar a descrição do encaminhamento da atividade, a pesquisadora afirma que
ela questionou os acadêmicos até definirem triângulo equiláteros. Nessa ação da pesquisadora,
não nos é informado como ela direcionou os acadêmicos até essa definição, se os acadêmicos
foram direcionados ou se sugeriram os triângulos equiláteros, por isso, não há dados que nos
forneçam indícios de categorias que poderiam ser elencadas.
Após definirem o triângulo equilátero, a pesquisadora descreve que os acadêmicos
perceberam que o hexágono pode ser formado seis triângulos equiláteros e que para calcular
sua área seria necessário calcular a área de um triângulo (equilátero) e multiplicá-la por seis.
Dado essa descrição, não sabemos como se desenrolou desde a definição de triângulo equilátero
até encontrarem a fórmula da área do hexágono.
É importante salientarmos que essa dedução da fórmula da área do hexágono proposto
pela pesquisadora se refere a um hexágono regular. Esse polígono, junto com o triângulo
(equilátero) e o quadrado, foram os polígonos considerados pelos acadêmicos para a construção
de um mosaico sem lacunas (preenchimento de um plano), indiretamente, pela forma que
construíram os polígonos com o mesmo perímetro. Aliás, advertimos que o retângulo também
preenche o plano, mas ele não foi considerado pelos acadêmicos.
Ao retornarmos para a dedução da fórmula da área do hexágono regular, podemos
interpretar que essa construção parece ter um sentido, um motivo que a justificasse, o que nos
permite categorizar essa fórmula como um possível conhecimento com significado.
Além disso, a pesquisadora afirma que foram os acadêmicos que perceberam que o
hexágono poderia ser formado por seis triângulos equiláteros, o que nos possibilita categorizar
essa ação como criatividade. E, com essa ação, podemos interpretar que os acadêmicos estavam
atentos e engajados no desenvolvimento da fórmula do hexágono, o que nos permite classificar
como atenção e motivação/interesse.
Aliás, esse engajamento pode ter acarretado satisfação após encontrarem a fórmula,
como aponta Damásio (2000) e como podemos interpretar das descrições da pesquisadora após
solucionarem o problema, nos possibilitando em categorizar essa possível satisfação em
emoção positiva.
130
Ao retornar para o debate sobre a capacidade dos favos de mel, a autora descreve o
seguinte (figura 49):
Figura 49 – Terceiro parágrafo da página 94 da dissertação de Souza.
determinada forma para resolver essa situação-problema que, enquanto o restante da turma
estava alegando dificuldade para resolver, eles resolveram. Sendo assim, devido a esse
engajamento desse grupo, podemos considerar que seus integrantes estavam
interessados/motivados para resolverem a situação-problema em particular. Essa resolução
pode acarretar uma sensação de prazer (e essa se vincula com emoção positiva) nesses
integrantes por terem alcançado o objetivo da atividade, como observaremos na figura 50.
Já os demais grupos, podemos supor que também poderiam estar motivados já que
continuavam tentando resolver embora com bastante dificuldade, mas não conseguimos
identificar possíveis emoções que o restante dos acadêmicos poderia estar mobilizando. Além
disso, pela macrointeração descrita, podemos inferir que os acadêmicos estão direcionando o
foco deles à atividade, o que nos permite categorizar como atenção.
Ao retornarmos ao texto, a pesquisadora descreve que o grupo que resolveu o problema
estava empolgado e solicita que os integrantes explicassem para o restante da turma como
haviam resolvido a situação-problema, conforme podemos observar na figura 50.
Figura 50 – Quarto parágrafo da página 93 da dissertação de Souza.
Significado
Diversidade de
encaminhamentos
Repetição
Processo de resolução Associação
G1
do grupo Autonomia
Criatividade
Emoção negativa
prejudicial
Processo de resolução Autonomia
G2 + pesquisadora
do grupo (Auto)confiança
Microinteração Repetição
Associação
Emoção positiva
Repetição
Associação
Processo de resolução
G3 + pesquisadora Autonomia
do grupo
Argumentação
Criatividade
Interesse/Motivação
Direcionamento a uma
Emoção
solução da
negativa “Ruim” (Auto)confiança
pesquisadora
prejudicial
(G2)
Relações entre
Repetição Processo de Criatividade
procedimentos,
+ desenvolvimento da Argumentação
formas de apresentar a
Associação atividade Criticidade
resposta
“Mais soltos” Segurança (Auto)confiança
Engajamento dos
Emoção
alunos em Resolução da atividade
positiva Motivação/interesse
desenvolver a de Modelagem
atividade
Fonte: Autores (2020).
Novamente, não conseguimos interpretar uma categoria que influenciasse a atenção,
porém é ela que torna possível a realização das demais, seja para que aconteça
interações/envolvimentos ou seja para realizar repetições de informações entre outras.
Nas categorias de interações/envolvimentos, macro e microinterações, notamos o
retorno de algumas categorias que parecem ser influenciadas por essas interações como a
repetição e associação de informações, possíveis construções de significado, criatividade,
argumentação, (auto)confiança e autonomia. Essas influências podem ser tanto para propiciar
quanto evitar ou limitar tais categorias por meio das interações e essas foram feitas, em grande
parte, pela pesquisadora.
Dentre todas as interações realizadas, destacamos aquelas que a pesquisadora busca
auxiliar os acadêmicos em sua resolução da situação-problema. Em determinadas situações, a
134
Souza parece direcionar os acadêmicos a um procedimento e/ou cálculo matemático que não
necessariamente eles utilizariam para resolverem a atividade de Modelagem Matemática, assim
como observamos em Ovando Neto.
Esses direcionamentos, nos pareceu limitadores da independência dos acadêmicos do
processo de resolução, o que pode acarretar uma falta de segurança deles e até uma mobilização
de emoções negativas prejudiciais, como no caso que um acadêmico classificou o grupo 2 como
“ruim” por não pensarem no mesmo procedimento da pesquisadora. Isto é, esses
direcionamentos nos pareceram limitadores da autonomia e (auto)confiança, além de poderem
mobilizarem emoções negativas prejudiciais. Embora esses direcionamentos evitem categorias,
eles também podem propiciar outras categorias como a repetição e associação de informações.
Por fim, percebemos que a emoção positiva e a motivação/interesse estão presentes no
mesmo contexto, em momentos diferentes, ora os acadêmicos estavam engajados porque
estavam pareciam sentir prazer ao desenvolver (emoção positiva → motivação/interesse) ora
pelos acadêmicos estarem gostando de desenvolver pareciam motivados (motivação/interesse
→ emoção positiva). E conseguimos interpretar em Souza que, ao mobilizar emoções positivas,
de alguma forma, influenciava na (auto)confiança em desenvolver a atividade e/ou participar
das interações.
Aliás, é importante ponderarmos nossa dificuldade em identificar as emoções mediante
a escrita de terceiros sobre ações de outrem, já que há pequenas sutilizas em expressões faciais
e/ou em tons de voz que poderiam facilitar a interpretação delas, porém não foram interpretadas
nas descrições dos autores.
5.2.3 Validação
Em seguida, a autora descreve como G3 desenvolveu a atividade (figura 51), porém
salientamos que a autora não afirma se esse processo de resolução se refere ao grupo que
terminou a atividade de Modelagem e solicitou sua correção para verificar se estavam corretos
que foi descrito anteriormente.
Figura 51 – Primeiro parágrafo da página 95 da dissertação de Souza.
135
mesmo que, por admitirmos que G3 é o mesmo grupo que finalizou a atividade anteriormente,
solicitaram a correção da pesquisadora para verificar se estavam corretos.
A autora Souza termina sua atividade da abelha com esse excerto da figura 51, com isso,
realizamos a síntese dessa nossa análise na tabela 7:
Tabela 7 - Síntese das interpretações do processo de validação de Souza.
FATOR CATEGORIA
CATEGORIA CONSEQUÊNCIA
DESENCADEADOR RESULTANTE
Segurança na Iniciativa de buscar
(Auto)confiança Autonomia
independência solução
Utilização de
Resolução sem
procedimentos que Repetição
Autonomia intervenção da
julgam ser Criatividade
pesquisadora
adequados
Fonte: Autores (2020).
Pela tabela 8, percebemos que a autonomia dos acadêmicos pode ter sido influenciada
pela segurança que eles tinham em seu processo de resolução ((auto)confiança) e, com essa
independência, puderam utilizar a criatividade para relacionar procedimentos e realizar
repetição de informações que julgaram como necessário para resolver o problema (como o
teorema de Pitágoras, por exemplo).
5.2.4 Resultados
A par destas informações da atividade de Modelagem Matemática de Souza,
percebemos alguns indícios de relações presentes entre categorias tanto das características de
Modelagem quanto dos apontamentos das Neurociências e entre elas, conforme podemos
observar na figura 52.
137
2001; BURAK, 1992); assim como categorias que pudessem influenciar a atenção, nós a
interpretamos em alguns contextos, porém não conseguimos identificar nenhuma categoria que
pareceu influenciá-la.
Aliás, tanto em Ovando Neto quanto em Souza, percebemos que as
interações/envolvimentos, tanto macro quanto microinterações, foram realizadas pela
pesquisadora em grande parte do desenvolvimento da atividade e parecem ter influenciado
várias categorias de forma a propiciá-las ou limitá-las. As categorias que as
interações/envolvimentos pareciam propiciar foram: repetição e associação de informações, a
criação de significado para algumas informações, incentivava a relação com outras áreas do
conhecimento, a argumentação, a criticidade, a autonomia, a criatividade, a reflexão,
(auto)confiança, a motivação/interesse e, em algumas vezes, mobilizava emoções positivas,
negativas potenciais, negativas prejudiciais, além de demonstrar a diversidade de
encaminhamos.
As categorias que foram limitadas em alguns contextos pelas interações/envolvimentos
foram a autonomia e criticidade. Percebemos essa limitação quando a pesquisadora direciona
os acadêmicos a algumas resoluções que eles pareciam não ter pensado inicialmente. E, embora
esse direcionamento seja condizente com o momento 1 de Almeida e Dias (2004) – onde o
professor encaminho os alunos durante o processo de resolução para que se familiarizem com
a atividade de Modelagem –, há situações em que possíveis procedimentos dos acadêmicos
foram modificados para se adequar com a sugestão da pesquisadora e eles não pensaram se
estava correto ou não, apenas modificaram.
Um exemplo desse direcionamento ocorreu com G2 quando o grupo poderia apenas
analisar a “tabuada do 3, 4 e 6” e verificar quais são os números comuns para essas três
“tabuadas”, porém a pesquisadora os direcionou para a utilização do m.m.c. acarretando o uso
da fatoração em números primos. Ambos os procedimentos estavam corretos e utilizavam o
conceito de mínimo múltiplo comum, mas em um foi o pensamento dos acadêmicos e em outro
direcionamento da pesquisadora.
Esse direcionamento pode ter mobilizado em um dos acadêmicos uma emoção negativa
prejudicial, onde classificou o grupo como “ruim” por não terem pensado no mesmo
procedimento da pesquisadora, o que está errado, pois eles pensaram, porém de outra maneira.
Com isso, podemos considerar uma possível insegurança nesse acadêmico por não utilizar o
método que a professora pensou para resolver o problema proposto, acarretando uma possível
diminuição de (auto)confiança em sua própria capacidade. E, embora esses direcionamentos
também possibilitem que os acadêmicos reutilizem (repetição) e relacionem procedimentos
139
e/ou conteúdos (associação informações), pode acarretar o não entendimento de usar aquele
procedimento naquele contexto e, assim, prejudicar a criação de significado para aquele saber.
Além disso, percebemos que as microinterações entre os acadêmicos são importantes
porque eles possam se motivar/interessar por meio de ideias compartilhadas e se se auxiliarem
no processo de resolução. Essa motivação/interesse pode mobilizar ou ser mobilizada por
emoções positivas em situações que gerem ou são geradas por prazer. Aliás, percebemos
indícios que, ao mobilizar emoções positivas em uma atividade de Modelagem, pode influenciar
em uma postura mais confiante ((auto)confiança) na atividade seguinte, conforme aponta Souza
(2020).
Entretanto, não sabemos se também foi essa fração de acadêmicos que a pesquisadora
se afirmou que participava timidamente no início da atividade. Nessa ocasião, parece-nos que
essas participações tímidas foram decorrentes de uma possível reflexão deles, dos acadêmicos,
para interagirem com a pesquisadora e darem início a atividade, o que também consideramos
como uma possível mobilização de emoções negativas potenciais, já que tentavam participar
mesmo com insegurança/medo de exporem suas ideias.
Houve uma reflexão que nos pareceu ter sido propiciada pela mobilização de uma
emoção negativa potencial que foi a comoção dos acadêmicos ao saberem da importância das
abelhas para nós seres humanos, além de também poder ter estimulado a criação de um
significado para essa informação.
Outro indício de relação que observamos foi a (auto)confiança e a autonomia no
processo de resolução do G3. Nesse indício, a segurança/confiança dos acadêmicos nos
procedimentos escolhidos por eles pode ter favorecido a independência deles nessa resolução.
E, com essa independência, os acadêmicos puderam relacionar (criatividade) e (re)utilizar
(repetição de informações) os procedimentos que julgaram necessários para responder a
situação-problema.
Ao categorizarmos em criatividade, argumentação e criticidade algumas ações dos
acadêmicos, percebemos que também as podemos classificar como repetição e associação de
informações. Entretanto, devido à escassez de detalhes sobre relações entre os processos de
desenvolvimento, não foram em todos os momentos que pudemos observar a associação de
informações.
Por fim, também não conseguimos observar com o relato da atividade de Souza a
categoria consolidação de informações, pois não conseguimos interpretar o período em que
essa atividade foi desenvolvida.
140
na modificação da sala e iniciando um diálogo tangencial ao tema de sua atividade para, então,
debater sobre o uso do narguilé (macrointeração).
Durante essa macrointeração de Ovando Neto, parece ter acontecido uma possível
mudança emocional da turma que pode ter perpassado a emoção negativa prejudicial (não-
ação), pareceu se direcionar a uma emoção positiva (debates sobre o que fazem para se divertir)
e possivelmente terminou em uma emoção negativa potencial (os malefícios do narguilé à
saúde).
Uma situação semelhante pareceu acontecer no processo de compreensão da atividade
de Souza, no início parece que os acadêmicos estavam mobilizando uma emoção negativa
potencial (interações tímidas), para depois mobilizarem possíveis emoções positivas (se
divertirem ao pesquisarem e dialogarem sobre o tema) e encerraram a discussão com uma
possível emoção negativa potencial (comoção com a morte das abelhas).
Sendo assim, percebemos que as interações/envolvimentos durante o processo de
compreensão das atividades de Modelagem Matemática podem propiciar mudanças emocionais
nos alunos. Aliás, podemos interpretar algumas relações entre as emoções e algumas
características da Modelagem Matemática, como a influência da emoção negativa prejudicial
na motivação/interesse e macrointeração, relação entre a motivação/interesse e a
(auto)confiança com a emoção positiva e a relação entre a emoção negativa potencial e a
reflexão.
As relações das emoções negativas prejudiciais já foram exploradas em outros
momentos desta seção, por isso, discorremos sobre as demais emoções. A emoção negativa
potencial pode influenciar reflexões sobre o tema da atividade de Modelagem, como
percebemos tanto em Ovando Neto (os malefícios do narguilé à saúde) quanto em Souza (a
morte das abelhas por inseticidas).
Já a emoção positiva permeou a motivação/o interesse dos alunos em desenvolver à
atividade de Modelagem Matemática. Outro momento que a percebemos foi com o euforismo
de G3 em resolver a atividade sozinhos descrito por Souza, que nos possibilitou interpretar que
a emoção positiva desencadeada pela resolução possivelmente foi maior quando comparada
com o início da atividade, como aponta Damásio (2000), já que inicialmente esse grupo que
não queria desenvolver.
Com esse prazer em alcançar o objetivo, Damásio (2000) afirma que tenderemos repetir
tais comportamentos que propiciaram esse prazer, o que foi observado por nós em Souza por
aqueles acadêmicos que haviam participado de outra atividade de Modelagem Matemática.
Nessa situação, a pesquisadora comentou que os acadêmicos que participaram da sua disciplina
144
e de outra experiência de atividade de Modelagem, estavam “mais soltos” que os demais. Com
isso, interpretamos que os acadêmicos estavam mais confiantes ((auto)confiança) em suas
contribuições para a aula.
É importante salientarmos a dificuldade em analisarmos as emoções dos alunos e dos
acadêmicos durante os desenvolvimentos das atividades de Modelagem a partir dos relatos de
Ovando Neto e Souza, pois tentamos interpretá-las a partir de uma visão geral dos autores
acerca dos acontecimentos das atividades.
Ao retornarmos às relações das categorias, percebemos que a diversidade de
encaminhamentos durante a resolução de atividade de Modelagem Matemática e ela pode
propiciar uma associação de informações. Em Ovando Neto (2019), interpretamos essa relação
com a mudança no modelo de resposta que os alunos de G1 propuserem: inicialmente
escolheram uma representação percentual e depois modificaram para uma representação
gráfica; e nesse processo de modificação ocorreu relações entre procedimentos matemáticos
que identificamos como uma associação de informações.
Já em Souza (2020) há a possibilidade dessa relação acontecer quando é descrito que os
acadêmicos expõem suas formas de encontrar os valores dos lados dos polígonos (triângulo
equilátero, quadrado e hexágono regular) que atendiam a condição de possuírem perímetros
iguais. Entretanto, não podemos afirmar que os demais acadêmicos criarem relações entre as
resoluções apresentadas.
Uma relação que esperávamos obter foi o vínculo da relação com outras áreas do
conhecimento e significado e, mesmo Oliveira Júnior e Rosa (2020) apontando uma
aproximação teórica entre eles, não conseguimos interpretar uma possível ligação ou
consequência dessa ligação dessas duas categorias, apenas identificamos que ambas podem
aparecer no mesmo contexto – ao apresentar, direcionar ou iniciar a resolução da situação-
problema – indicando uma possível correlação teórica. Isso nos possibilita a uma futura
investigação para observamos possíveis indícios que corroborem com um vínculo entre o
significado e a relação com outras áreas do conhecimento.
Aliás, outra relação apontada pelo nosso referencial teórico foi entre a relação com
outras áreas do conhecimento e interesse/motivação dos alunos em desenvolver a atividade de
Modelagem (ALMEIDA; BRITO, 2005; ALMEIDA; DIAS, 2004; ARAÚJO, 2002;
BARBOSA, 2001; BURAK, 1992), entretanto, não a conseguimos identificar durante nossa
análise.
Outra relação que esperávamos identificar era uma relação direta entre o significado ou
as emoções com a atenção, como apontava nosso referencial teórico, ou entre alguma(s)
145
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
27 Importante destacarmos que essas interações nos pareciam acontecer devido aos os professores cogitarem que
os alunos encontrariam, em algum momento, os procedimentos matemáticos direcionados ou que aqueles
procedimentos eram os mais adequados naquela situação
149
alunos possuem dificuldade em continuar a sua resolução, como podemos orientá-los sem
direcioná-los a um procedimento? E se os alunos estiverem se desmotivando por não
encontrarem um procedimento adequado, podemos auxiliá-los com um direcionamento para
progredirem? Essas reflexões podem ser norteadoras para futuras pesquisas ou debates, por
isso, nos afastamos delas e retornamos as descrições de como se relacionam as interações se
relacionam com as categorias.
Em contrapartida das interações que direcionam a uma solução, identificamos que as
interações que os professores estimulavam o aluno a buscar sua própria solução os estimulavam
a serem autônomos, críticos, criativos, que argumentassem em defesa de suas ideias,
refletissem sobre algumas práticas e tivessem confiança no desenvolvimento e ideias criadas
por eles, ou seja, estimulavam o conjunto de ações da mudança de postura.
Além disso, ao incentivar na construção da própria solução, verificamos que os
professores também tendiam a engajar os alunos a desenvolverem a atividade, isto é, os
motivava em seu processo de resolução. Essa motivação pode ocasionar uma mobilização de
emoções positivas, relacionadas a um possível prazer dos alunos por resolverem à atividade
sozinhos.
Aliás, notamos que promover a mobilização de emoções positivas nas atividades de
Modelagem Matemática pode influenciar na motivação dos alunos nas futuras atividades, por
se sentirem mais confiantes em suas contribuições para/com ela, como aponta Damásio (2000)
e como observamos pela descrição da atividade de Souza (2020). Ou seja, interpretamos que
mobilizar emoções positivas podem influenciar na (auto)confiança e na motivação dos alunos
em fazer (outra) atividade de Modelagem.
Outra relação que encontramos foram as interações, particularmente macrointerações
no processo de compreensão, incentivando os alunos a refletirem sobre ações relacionadas ao
tema, como a reflexão e apontamento dos alunos sobre os malefícios do narguilé à saúde
daqueles que usam esse instrumento de fumo em Ovando Neto e a conscientização da
importância das abelhas à nossa vida em Souza. E verificamos que essa reflexão está
relacionada com uma emoção negativa potencial por poder promover uma reflexão e uma
possível mudança de ações dos alunos.
Com isso, percebemos que as interações/envolvimento se relacionam e influenciam o
conjunto de categorias das mudanças de postura (autonomia, argumentação, criatividade,
criticidade, (auto)confiança e reflexão), tanto promovendo tais mudanças quanto prejudicando
seu desenvolvimento. Além de, também notarmos que as interações podem promover a
mobilização de emoções positivas, negativas potenciais e prejudiciais durante todo o processo
150
Contudo, houve algumas relações que esperávamos identificar e que não conseguimos
visualizar indícios de possíveis relações, a saber: a atenção com as emoções e o significado; o
significado e a relação com outras áreas do conhecimento; relação com outras áreas do
conhecimento e interesse/motivação e; a consolidação de informações.
A atenção poderia ser influenciada tanto pelas emoções quanto pelo significado,
conforme apontavam Cosenza e Guerra (2011), mas não percebemos “captura” da atenção dos
alunos durante a atividade de Modelagem, apenas conseguimos identificar que os alunos
possivelmente estavam direcionando o foco à atividade.
A relação com outras áreas do conhecimento foi apontada por Almeida e Brito (2005),
Almeida e Dias (2004), Araújo (2002), Barbosa (2001) e Burak (1992) como um fator que
poderia motivar/interessar os alunos para participarem da atividade, entretanto, não
conseguimos identificar nenhuma correlação entre elas. Assim como, esperávamos uma
correlação entre relação com outras áreas do conhecimento e significado devido a aproximação
teórica apontada por Oliveira Júnior e Rosa (2020) e apenas identificamos que ambas podem
ser interpretadas na mesma situação, porém também sem nenhuma correlação interpretada.
Outro resultado que esperávamos era a identificação de alguma informação que foi
consolidada a partir de uma atividade de Modelagem, porém não conseguimos obter esse dado
mesmo escolhendo atividades que poderia(m) nos fornecer indício(s).
Mesmo essas categorias não sendo interpretadas, aquelas que conseguimos observar nos
fornecem os indícios de que, de certa forma, a Modelagem Matemática pode facilitar e
potencializar a aprendizagem segundo os apontamentos das Neurociências, já que as
características da Modelagem podem influenciar ou estão presentes junto com os estímulos dos
trabalhos neurocientíficos.
E, por fim, ressaltamos possibilidades de novas pesquisas com especificações dessa
temática para que possamos compreender algumas relações mais detalhadamente, como quais
são e quanto tempo podem perdurar as informações consolidadas advindas das atividades de
Modelagem ou analisar as emoções e sentimentos dos alunos durante o processo de
desenvolvimento da atividade.
152
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Maria José; CARVALHO, Mariana Coelho Carvalho; ALVES, Rauni Jandé
Roama; CIASCA, Sylvia Maria. Desempenho de escolares em testes de atenção e funções
executivas: estudo comparativo. Rev. Psicopedagogia, v. 33, n. 101, 2016, p. 123-132.
ALMEIDA, Lourdes Maria Werle de; DIAS, Michele Regiane. Um estudo sobre o uso da
Modelagem Matemática como estratégia de ensino e aprendizagem. Bolema: Rio Claro/SP, v.
17, n. 22, 2004.
ALMEIDA, Lourdes Maria Werle de; BRITO, Dirceu dos Santos. ATIVIDADES DE
MODELAGEM MATEMÁTICA: QUE SENTIDO OS ALUNOS PODEM LHE
ATRIBUIR? Ciência & Educação, v. 11, n. 3, 2005, p. 483-498.
BOERI, Camina Nicola; VIONI, Márcio Tadeu. Prefácio. In: Abordagens em Educação
Matemática. 2009. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ea000661.pdf#. Acessado em 04 set 2020.
CAPOVILLA, Alessandra Gotuzo Seabra; ASSET; Ellen Carolina dos Santos; COZZA,
Heitor Francisco Pinto. Avaliação Neuropsicológica das funções executivas e relação com
desatenção e hiperatividade. Avaliação Psicológica, v. 6, n. 1, 2007, p. 51-60.
______. O erro de Descarte: emoção, razão e o cérebro humano (tradução Dora Vicente,
Georgina Segurado). 3 Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
DIAS, Cláudia; CRUZ, José Fernando; FONSECA, António Manuel. Emoções: passado,
presente e futuro. Psicologia: Lisboa, v. 22, n. 2, p. 11-31, 2008. Disponível em
<http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-
20492008000200002&lng=pt&nrm=iso>. Acessado em 25 jan. 2019.
______. Foco: a atenção e seu papel fundamental para o sucesso (tradução Cássia Zanon).
Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.
SILVA, Fiderisa da; MORINO, Carlos Richard Ibañez. A importância das Neurociências na
formação de professores. Momento: Rio Grande, v. 21, n. 1, 2012, p. 29-50. Disponível em:
https://periodicos.furg.br/momento/article/view/2478/2195. Acessado em 04 set 2020.
OLIVEIRA JÚNIOR, Francimar Gomes de; ROSA, Claudia Carreira. Estímulos para o
Processo de Aprendizagem: aproximação entre as pesquisas de Neurociências e as de
Modelagem Matemática. Perspectivas da Educação Matemática, v. 13, n. 32, 2020.
ROAZZI, Antonio; DIAS, Maria da Graça Bompastor Borges; SILVA, Janaína Oliveira da;
SANTOS, Luciana Barboza dos; ROAZZI, Maíra Monteiro. O que é Emoção? Em busca da
Organização Estrutural do Conceito de Emoção em Crianças. Psicologia Reflexão e Crítica,
v. 24, n. 1, 2011, p. 51-61. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prc/v24n1/v24n1a07>.
Acessado em 25 jan. 2019.
156
SILVA, Michele Martins da; SILVA, Vanessa Santos da; ROSA, Claudia Carreira da.
MODELAGEM MATEMÁTICA: UMA ALTERNATIVA PEDAGÓGICA. In: XIII
Encontro Sul-Matogrossense de Educação Matemática, 2017, Ponta Porã. Anais [...], 2017b.
v. XIII. p. 364 - 373.
SOUZA, Débora Coelho de; ROSA, Claudia Carreira da. Modelagem Matemática: uma
possibilidade para o ensino de matemática nos anos iniciais. Perspectivas da Educação
Matemática, v. 9, p. 960-978, 2016.
SOUZA, Debora Coelho de; TOMASCHESCKI, Tchaila Regina Santino; ROSA, Claudia
Carreira da. A contribuições da Modelagem Matemática no curso de pedagogia. In: Endipe,
2018, Salvador/BA, 2018, v. XIX.
SOUZA, João Paulo Fernandes de; MATOS, Guilherme das Neves; ROSA, Claudia Carreira
da. CONVERSANDO SOBRE FREE FIRE: ARTICULANDO MODELAGEM
MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS DIGITAIS. In: Seminário Sul-Mato-Grossense de
Pesquisa em Educação Matemática, 2019, Campo Grande/MS. Anais [...], 2019, v. XIII.
TORTOLA, Emerson; ALMEIDA, Lourdes Maria Werle de. Reflexões a respeito do uso da
modelagem matemática em aulas nos anos iniciais do ensino fundamental. Rev. bras. Estud.
Pedagog.: Brasília, v. 94, n. 237, 2013, p. 619-642. Disponível em
https://www.scielo.br/pdf/rbeped/v94n237/a14v94n237.pdf. Acessado em 21 out. 2020.
“Gostei do seu trabalho, mas por que Neurociências?” foi a frase que mais escutei após
eu explicar minha pesquisa de pós-graduação. E, responder a esta pergunta, é quase traçar meu
percurso como graduando, por isso, falarei na primeira pessoa do singular! E, quando a
trajetória da pesquisa torna conjunta, isto é, minha orientadora junto comigo, falarei na primeira
pessoa do plural!
A minha trajetória até a temática deste trabalho inicia no primeiro semestre da graduação
de Matemática Licenciatura na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul no campus de
Ponta Porã/MS (UFMS/CPPP). Neste início da graduação, era comum eu resolver várias listas
de exercícios escutando diversas músicas de estilos musicais mais variados possíveis,
principalmente aquelas mais animadas. Esse modo de resolução era mais prazeroso do que
apenas responder as questões da lista em som ambiente. Com isso, me fez questionar se essa
forma de estudar, lista de exercícios com música ao fundo, poderia ser utilizada nas aulas de
Matemática para motivar os alunos a responderem as atividades.
Ao apresentar essa proposta à uma professora, ela sugeriu que questão de pesquisa
poderia ser usada como meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e já me indicou que fizesse
uma pesquisa bibliográfica dos trabalhos científicos que envolvem essa temática, além de
solicitar que eu lesse “O mistério da consciência” de Antônio Damásio, pois poderia ajudar a
delimitar a nossa questão.
Durante minhas leituras, outras inquietações vieram na minha cabeça: por que diferentes
músicas nos permitem sentir diferentes emoções? Como a música é interpretada pelos ouvidos
e pelo nosso cérebro? Como aprendemos? Como uma informação (nova) é armazenada no
nosso cérebro?
Então, fui convidado a participar do Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicologia,
Neurociências e Educação (GEP – PNEdu), localizado na UFMS/CPPP. O GEP – PNEdu é um
grupo que estuda e pesquisa em torno das áreas de Psicologia e Neurociências assuntos que
podem contribuir/auxiliar na área da Educação. Enquanto eu participava do PNEdu e buscava
compreender o processo de armazenamento de informação ou aprendizagem ou formação de
memória, percebia algumas aproximações das pesquisas das Neurociências com a estratégia de
ensino denominada Modelagem Matemática.
A Modelagem é um dos objetos de estudos e pesquisa do Grupo da Fronteira de Estudos
e Pesquisas em Educação Matemática (GFEPEM), também localizado na UFMS/CPPP.
Durante os estudos e debates sobre a Modelagem, alguns questionamentos foram surgindo:
158
como relacionar problemas matemáticos com a realidade do aluno pode ajudá-lo a aprender?
Como acontecer a aprendizagem utilizando a Modelagem Matemática?
Assim, junto com a professora tutora do GFEPEM, iniciamos uma pesquisa em busca
de relacionar os estudos do cérebro (Neurociências) com o processo de aprendizagem dos
conteúdos matemáticos por meio da Modelagem Matemática. E, como já possuía um tema de
TCC em andamento e essa pesquisa foi pensado no meu último semestre de graduação,
pensamos em levá-la para o mestrado.
Então, realizei o processo seletivo para ser aluno de mestrado no Programa de Pós-
Graduação em Educação Matemática (PPGEduMat) da UFMS localizada em Campo
Grande/MS.
Ao ingressar no PPGEduMat, a pesquisa tinha como objetivo relacionar, teoricamente,
as Neurociências com a Modelagem Matemática. Entretanto, no final do primeiro ano do
mestrado, decidimos investigar se a Modelagem Matemática poderia potencializar a
aprendizagem dos conteúdos matemáticos e analisaríamos com base nos estudos das
Neurociências. A ideia era entrevistarmos os alunos sobre o que lembravam das aulas do ano
2018 em 2019 e verificar quais foram os elementos que mais o “marcaram”.
É interessante salientar que eu tinha desenvolvido um conjunto de 4 atividades de
Modelagem Matemática ao longo do ano de 2018, uma atividade por bimestre, por isso, as
chances de lembrarem das atividades de Modelagem partiriam da premissa que foram
marcantes aos alunos.
Como a escola fechou no final do ano letivo de 2018, solicitei a alguns alunos que
criassem um grupo no WhatsApp, um aplicativo de mensagens, com todos os demais alunos
que conseguissem contato. Ao criarem o grupo, enviei um termo de livre esclarecido para que
fosse lido e assinado pelos pais atestando estarem cientes de que os filhos deles seriam
entrevistados e que os dados seriam utilizados em uma pesquisa.
Do grupo de 40 alunos, 6 devolveram o atestado, porém apenas 5 realizaram a entrevista
por completo. Conversamos sobre a possibilidade de analisarmos apenas essas cinco respostas
e decidimos que analisaríamos. A coleta de dados aconteceu entre agosto e setembro de 2019 e
eu tinha realizado o backup dos dados, contudo, em outubro de 2019 meu celular reiniciou
sozinho e corrompeu o arquivo salvo.
Ao debatermos sobre esse problema, decidimos tentar recuperar com os alunos a
entrevista, porém dos 5 apenas 3 possuíam a entrevista. Então, resolvemos coletar os dados
novamente, entretanto, com outros alunos que tiveram aulas de Modelagem Matemática porque
se coletássemos novamente com meus alunos, os dados estariam enviesados já que uma das
159
últimas perguntas eu direcionava a questão para aulas “diferenciadas” (caso eles não
lembrassem das aulas de Modelagem), o que poderia facilitar (n)a lembrança das aulas de
Modelagem em uma próxima entrevista. Todavia, como estávamos no final do ano, deixamos
para entrevistarmos no ano de 2020.
No início do ano de 2020, começamos a coletar os dados com alunos (maiores de idade)
de um professor participante do GFEPEM e que desenvolveu atividades de Modelagem em
2018, porém dos 10 alunos contatados via aplicativo de mensagens, apenas 4 demonstraram
interesse e desses, 2 realizaram toda a entrevista. Como duas entrevistas geravam poucos dados,
resolvemos realizar uma terceira entrevista, dessa vez presencial, com alunos desse mesmo
professor e que desenvolveu as atividades de Modelagem Matemática em 2019.
O local que escolhemos para a realização dessa entrevista foi a escola que esses alunos
estudaram, por isso, levamos nossa proposta ao diretor da escola e ele autorizou o
desenvolvimento mediante à entrega de uma carta de apresentação do PPGEduMat, pois
havíamos levado apenas o termo de livre esclarecido que seria entregue aos pais. E, como
estavam em semana de eleição na escola, solicitaram que voltássemos na outra semana.
Contudo, na semana que voltaríamos à escola, as aulas foram suspensas devido a
pandemia do COVID-19...
Neste sentido, decidimos analisar atividades de Modelagem Matemática que foram
desenvolvidas e descritas por integrantes do GFEPEM nas dissertações com o intuito de
observarmos possíveis relações entre as contribuições da Modelagem Matemática e os
apontamentos das Neurociências.
Na nossa qualificação, a banca realizou sugestões maravilhosas que tangenciavam nosso
objetivo de pesquisa, como descrever a relação da Modelagem Matemática e as emoções ou
relacionar a Modelagem com as funções executivas. Entretanto, pensamos que cada sugestão
correspondia a um novo trabalho e que necessitaria de outros encaminhamentos que nos
propiciaria analisarmos tais relações adequadamente, por isso, continuamos com o nosso
objetivo.
Por último, é interessante ressaltarmos que a metodologia do trabalho também sofreu
modificações, perpassando a pesquisa bibliográfica, a revisão integrativa e a multipaper antes
de chegarmos na pesquisa com técnicas próximas da Análise de Conteúdo. Aliás, devido a
metodologia multipaper foi que publicamos o artigo “Estímulos para o Processo de
Aprendizagem: aproximação entre as pesquisas de Neurociências e as de Modelagem
Matemática”, que seria a nossa seção 2 na íntegra, porém a modificamos para evitar problemas
com autoplágio.