Relatório - Direito Constitucional
Relatório - Direito Constitucional
Relatório - Direito Constitucional
Lisboa
2007/2008
1
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2
4. CONCLUSÕES ...........................................................................................
53
1. INTRODUÇÃO
1
“oferece terreno fértil para desenvolvimentos”, uma vez que “inobstante alguns estudos pioneiros
de inequívoco valor, ainda reclama o devido enfrentamento no direito pátrio. SARLET, Ingo
Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6ª. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.
p. 381 e 393.
3
2
UBILLOS, Juan María Bilbao. La eficacia de los derechos fundamentales frente a particulares:
análisis de la jurisprudencia del Tribunal Constitucional. Madrid: Centro de Estudios Políticos y
Constitucionales, 1997. p. 325.
3
“um mundo voltado à livre movimentação global de todos os fatores de produção que conduzem
ao lucro é também um mundo interessado em estancar a única forma de globalização
inquestionavelmente desejada pelos pobres, isto é, encontrar empregos mais bem pagos em países
ricos. Manifestação de HOBSBAWM, Eric. Tempos interessantes: uma vida no século XX. São
Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 396-397. Sobre o país em que vivemos, o historiador inglês
assinala: “o Brasil continua a liderar a classificação mundial de injustiça social” Ibid., p. 418.
Observa ainda que a América Latina, como um todo, “permanece como era durante mais de cem
anos, cheia de Constituições e juristas, porém instável em sua prática política” Ibid., 2002. p. 417.
4
4
CASTRO, Carlos Roberto Siqueira. Dignidade da pessoa humana: o princípio dos princípios
constitucionais. In: SARMENTO, Daniel; GALDINO, Flavio. (Org.). Direitos fundamentais: estudos
em homenagem ao professor Ricardo Lobo Torres. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 140.
5
1
HÄBERLE, Peter. Efectividad de los derechos fundamentales: en particular relación contrato el
ejercicio del poder legislativo. In: PINA, Antonio Lopez. La garantia constitucional de los
derechos fundamentales: Alemania, España, Francia e Itália. Madrid: Civitas, 1991. p. 261.
2
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7ª. ed.
Coimbra: Almedina, 2003. p. 19.
6
3
BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado. 6ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p. 41.
4
Na conhecida dogmática de Paulo Bonavides, a essa fase corresponde a primeira geração dos
direitos fundamentais: “têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como
faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais
característico; enfim, são direitos de resistência ou de oposição perante o Estado”. Id. Curso de
direito constitucional. 13ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 563-564.
5
SILVA, Virgílio Afonso da. Direitos fundamentais e relações entre particulares. São Paulo:
Malheiros, 2005. p. 70-71. O autor questiona, em contrapartida, a veracidade deste argumento,
ao obtemperar que “uma breve leitura da Declaração de Direitos da Virgínia, de 1776,
especialmente em seu art. 3º [‘O governo deve ser instituído para o benefício comum, para a
proteção e para a segurança da população, da Nação ou da comunidade], e na Declaração de
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, sobretudo em seu art. 2º [‘O objetivo de toda
associação política é a conservação dos direitos humanos naturais e imprescritíveis. Esses
direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão], pode dar uma
idéia do quanto a segurança dos cidadãos em suas relações entre si eram fortes elementos da
teoria e prática dos direitos fundamentais”. Ibid., 2005. p. 138.
7
6
A Magna Cartha Libertatum serviu, apenas, “para garantir aos nobres ingleses alguns
privilégios feudais, alijando, em princípio, a população do acesso aos ‘direitos’ consagrados no
pacto”, no dizer de Ingo Sarlet. SARLET, Ingo, A eficácia dos direitos fundamentais. 6ª. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 49.
7
“O nome Leviatã é uma referência ao Livro de Jô, 41; ao medonho poder do grande monstro
marinho que para Hobbes era uma metáfora do terrível poder do estado soberano de sua tese. O
objetivo do Leviatã é descrever o preço que o ser humano paga pela sua conveniência,
segurança e paz” SEYMOUR-SMITH, Martin. Os 100 livros que mais influenciaram a
humanidade: a história do pensamento dos tempos antigos à atualidade. 5 ª. ed. Rio de Janeiro:
Difel, 2002. p. 317.
8
HOBBES apud HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. 2 ª.
ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. v. 1. p. 123.
8
9
STEINMETZ, Wilson. A vinculação dos particulares a direitos fundamentais. São Paulo:
Malheiros, 2004. p. 67.
10
BONAVIDES, Paulo, Teoria do Estado. 6ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.p. 39-40.
11
TOCQUEVILLE, Alexis de. O antigo regime e a revolução. 4ª. ed. Brasília: Universidade de
Brasília, 1997. p. 67-68.
9
12
VALE, André Rufino do. Eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2004. p. 35-36.
13
PIÇARRA, Nuno. A separação dos poderes como doutrina e princípio constitucional - um
contributo para o Estudo das suas origens e evolução. Coimbra: Editora Coimbra, 1989. p. 146.
14
DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria geral dos direitos fundamentais. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 31.
10
voltaria atentamente seus olhos para o direito privado, iniciando a era das
“grandes codificações”.
E tinha razão, uma vez que a legislação em forma de código surgia para
desempenhar o mesmo papel das declarações de direitos, ou seja, submeter o
sistema jurídico aos interesses da classe economicamente mais forte. Apenas a
“concepção de mundo burguesa tinha importância”.
15
BEVILÁQUA, Clóvis. Em defesa do projeto de Código Civil brasileiro. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1906. p. 15.
16
“havia uma clara distinção entre o liberalismo europeu como ideologia revolucionária articulada
por novos setores emergentes e forjados na luta contra os privilégios da nobreza, e o liberalismo
brasileiro canalizado e adequado para servir de suporte aos interesses das oligarquias, dos
grandes proprietários de terra e do clientelismo vinculado ao monarquismo imperial. No Brasil, o
liberalismo expressaria a ‘necessidade de reordenação do poder nacional e a dominação das
elites agrárias’, processo esse marcado pela ambigüidade da junção de ‘formas liberais sobre
estruturas de conteúdo oligárquico’, ou seja, a discrepante dicotomia que iria perdurar ao longo
de toda a tradição republicana: a retórica liberal sob a dominação oligárquica, o conteúdo
conservador sob a aparência de formas democráticas. Exemplo disso é a paradoxal conciliação
‘liberalismo-escravidão’”. WOLKMER, Antonio Carlos. História do direito no Brasil. Rio de
Janeiro: Forense, 1998. p. 75-76.
11
Karl Marx assinalava que não há entre os homens outro laço senão o
interesse nu e cru pelo frio dinheiro vivo, e isso se manifestava pela exploração
disfarçada sob ilusões religiosas pela exploração aberta, cínica, direta e brutal.18
17
Encíclica de grande importância para o Direito do Trabalho, pois o trabalho é considerado uma
forma de expressão da dignidade humana. Daí advertir que “é vergonhoso e desumano usar dos
homens como vis instrumentos de lucros”, exigindo do Estado justiça e eqüidade nas relações
laborais, para que nos ambientes de trabalho “não seja lesada, nem no corpo, nem na alma, a
dignidade da pessoa humana”. A Igreja ratificaria esta doutrina em várias Encíclicas:
Quadragesimo Anno (1931), Mater et Magistra (1961), Pacem in Terris (1963), Populorum
Progressio (1967), Humanae Vitae (1969) e, contemporaneamente, na Centesimus Anus, de
1991 – centenário da Rerum Novarum.
18
MARX, Karl. Manifesto do partido comunista. Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 27-28.
12
Por outro lado, plantaram as sementes que findaram por brotar no tema mais
versado nos tempos atuais, sobre a eficácia jusprivatística dos direitos
fundamentais.
19
A aplicação cega e irrestrita do brocardo pacta sunt servanda de há muito conduz a situações
de extrema iniqüidade. SHAKESPEARE, William. O mercador de Veneza. 2ª. ed. Rio de
Janeiro: Lacerda Editores, 1999. p. 85.
13
20
A Revolução Russa foi também conhecida por Revolução Bolchevique de outubro de 1917, e
manifestava-se também como insurgência contra os czares. Foi evento de grande importância
para a história do século XX, bem como foi fundamental a Revolução Francesa para o século
XIX. Manifestação sobre o assunto verificar na obra de HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos:
o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 62.
21
Na Carta Constitucional de Weimar – assim nominada em razão da absoluta impossibilidade
de reunir o Poder Constituinte na capital, Berlim –, os direitos fundamentais sociais foram
elencados na Parte II - Direitos e Deveres Fundamentais dos Alemães. Era composta de cinco
seções: “A Pessoa Individual”, “A Vida Social”, “Religião e Ordens Religiosas”, “Educação e
Ensino” e “A Vida Econômica”. Também nela estava inserido o famoso artigo 153, bastante
lembrado em qualquer análise histórica da função social da propriedade: “A propriedade acarreta
obrigações. Seu uso deve visar o interesse geral”.
14
22
MIRANDA, Jorge. Teoria do Estado e da Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p.
130-131.
15
tarefas que este passou a desempenhar, quer ao nível dos meios utilizados para
sua utilização”.23
Foram necessários dez anos, após a Declaração Universal, para que uma
Corte de Justiça, por fim, se pronunciasse, no campo jurisprudencial, sobre a
nova dimensão dos direitos fundamentais. Esse privilégio foi do Tribunal
Constitucional Federal alemão, uma vez que, em 1958, julgou o “Caso Lüth”,
considerado como o grande “divisor de águas” sobre o assunto.
A Modernidade não atingiu seus objetivos, uma vez que não conseguiu
acabar, nem muito menos diminuir os problemas que realmente afligiam a
humanidade. Já a Era pós-moderna, que alguns costumam definir como o
17
25
O conceito de pós-Modernidade é muito controverso, pois, de acordo com a intenção de
valorização ou de crítica, pode haver divergência e significados totalmente díspares. A
expressão pós-moderno”, “a um só tempo, tudo e nada pode significar”, como bem se refere
Grau, Eros Roberto. O Direito Posto e o Direito Pressuposto, São Paulo: Malheiros, 1996,
p.68.
18
mais a pessoa, bem como a riqueza cada vez maior concentrada numa parcela
mínima.
como um povo que vive de acordo com suas tradições e seus valores políticos,
não vem do terrorismo, mas sim de leis como esta”.26
Nessa nova era, o Estado, mais do que nunca, tem que ter forte atuação
para que o sistema econômico realmente venha funcionar de maneira a ser um
mecanismo eficiente de mudança do perfil da sociedade, diminuindo assim as
iniqüidades sociais que caminham a passos largos. Essa atuação deve
acontecer na esfera dos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, pois seria
insuficiente a ação de juízes e tribunais para garantir a efetivação dos direitos
fundamentais, bem como indispensável política de direitos fundamentais.
26
CONDE, Francisco Muñoz. As reformas da parte especial do direito penal espanhol em
2003: da “tolerância zero” ao “direito penal do inimigo”. Disponível em:
<http://www.pgj.ma.gov.br/ampem/artigos/artigos2005/TRADU%C3%87%C3%83O%20ARTIGO
%20MU%C3%91OZ%20CONDE.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2008.
20
27
Nenhum texto constitucional foi tão original quanto a Constituição da África do Sul, aprovado
em 1996. No Capítulo 2 (Bill of Rights), Seção 8 (aplicação), a Constituição daquela nação
dispõe expressamente sobre a vinculação direta dos particulares aos direitos fundamentais:
1. The Bill of Rights applies to all law, and binds the legislature, the executive, the judiciary and
all organs of state.
2. A provision of the Bill of Rights binds a natural or a juristic person if, and to the extent that, it
is applicable, taking into account the nature of the right and the nature of any duty imposed by the
right.
3. When applying a provision of the Bill of Rights to a natural or juristic person in terms of
subsection (2), a court.
a. in order to give effect to a right in the Bill, must apply, or if necessary develop, the common
law to the extent that legislation does not give effect to that right; and
b. may develop rules of the common law to limit the right, provided that the limitation is in
accordance with section 36(1).
4. A juristic person is entitled to the rights in the Bill of Rights to the extent required by the
nature of the rights and the nature of that juristic person.
22
expressão. O caso sub judice se referia à proibição feita pelos donos de uma
sala de cinema a jornalista e crítico de cinema. Ficava o referido jornalista
proibido de ingressar na referida sala de cinema, uma vez que este havia feito
críticas à programação do citado estabelecimento. O Tribunal Federal Suíço
repeliu terminantemente a aplicação de direitos fundamentais ao caso,
fundamentado em que eles não regem relações entre particulares.
31
ESTRADA, Alexei Julio, La eficácia de los derechos fundamentales entre particulares.
Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2000. p. 98-99.
24
32
MARTINS, Leonardo; DIMOULIS, Dimitri. Teoria geral dos direitos fundamentais. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 111..
33
Esta é a posição firmada por Jürgen Schwabe, a que Paulo Mota Pinto nominou teoria da
“convergência estatista” na obra Teoria geral do direito civil. 3ª. ed. Coimbra: Coimbra, 1958.
p. 133.
34
ESTRADA, Alexei Julio, La eficácia de los derechos fundamentales entre particulares.
Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2000. p. 132.
25
A State Action foi desenvolvida pela Suprema Corte dos Estados Unidos
e é considerada uma das mais originais elaborações teóricas sobre a aplicação
dos direitos fundamentais em relações privadas.
35
CRUZ, Rafael Naranjo de La, Los limites de los derechos fundamentales en las relaciones
entre particulares: la buena fe. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2000. p.
182.
36
ESTRADA, Alexei Julio, La eficácia de los derechos fundamentales entre particulares.
Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2000. p. 133.
26
37
SARMENTO, Daniel, Direitos fundamentais e relações privadas. 2ª. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2006. p. 189.
38
FIORAVANTI, Maurizio Los derechos fundamentales: apuntes de historia de las
constituciones. Madrid: Trotta, 1996. p. 94.
27
1) whether the harm caused to the victim was somehow traceable to the
private actor using a right granted to him by state law; 2) whether the connection
of the government do the private actor, and the harm caused by the private actor,
39
CAMAZANO, Joaquin Jorge. Algunos aspectos de teoría general constitucional sobre los
derechos fundamentales en los EEUU. Direito Público, São Paulo: Síntese, nº. 11, p. 57,
jan./fev./mar. 2006.
28
40
NOWAK, John E.; ROTUNDA, Ronald D. Constitutional law. 5ª. ed. St. Paul: West
Publishing, 1995. p. 472-474.
41
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Apontamentos sobre a aplicação das normas de direito
fundamental nas relações jurídicas entre particulares. In: BARROSO, Luís Roberto (Org.), op.
cit., 2006. p. 171. A Suprema Corte decidiu que “invasão individual de direitos civis não é matéria
concernente à emenda”.
42
Havia sido afixado em vários locais da private town um aviso com os dizeres: “This Is Private
Property, and Without Written Permission, No Street, or House Vendor, Agent or Solicitation of
Any Kind Will Be Permitted”. Mesmo assim, Marsh recusou-se a calar, e acabou encarcerada
pelo xerife local. Levada a julgamento, em sua defesa invocou a proteção das Emendas Primeira
e Décima-Quarta – em vão. O Tribunal estadual a condenou, ao fundamento de que cometera
crime por permanecer em terras de outro depois de advertida expressamente para se retirar
(trespass). A Corte Recursal do Alabama reafirmou a condenação.
43
Uma completa e detalhada síntese do julgamento encontra-se em ESTADOS UNIDOS.
SupremeCourtus.Disponívelem:<:http://caselaw.lp.findlaw.com/scripts/getcase.pl?navby=CASE&court=US&vol=3
26&page=501>. Acesso em: 22 julho. 2008. O voto vencedor na íntegra:When we balance the
Constitutional rights of owners of property against those of the people to enjoy freedom of press
and religion, as we must here, we remain mindful of the fact that the latter occupy a preferred
position. As we have stated before, the right to exercise the liberties safeguarded by the First
Amendment 'lies at the foundation of free government by free men' and we must in all cases
29
'weigh the circumstances and appraise ... the reasons ... in support of the regulation of (those)
rights.' In our view the circumstance that the property rights to the premises where the deprivation
of liberty, here involved, took place, were held by others than the public, is not sufficient to justify
the State's permitting a corporation to govern a community of citizens so as to restrict their
fundamental liberties and the enforcement of such restraint by the application of a State statute.
Insofar as the State has attempted to impose criminal punishment on appellant for undertaking to
distribute religious literature in a company town, its action cannot stand.
44
ESTADOS UNIDOS. Supreme Court. 334 U.S. 1 (1948). Disponível em:<http://www.
suppremecourtus.gov>. Acesso em: 23 mar. 2008.
45
KENNEDY, Sheila. When Is Private Public? State Action in the era of privatization and public-
private partnerships. Disponível em: <http://sheilakennedy.net/content/view/577/29/#_ftn7>.
Acesso em: 15 de maio de 2008.
30
46
SILVA, Virgílio Afonso. A constitucionalização do direito: os direitos fundamentais nas
relações entre particulares. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 100.
47
A Obra de Günter Dürig com o título “Jurisdição Constitucional e Direitos Fundamentais”,
tornou-se a concepção dominante no Direito germânico, sendo hoje adotada pela maioria dos
juristas daquele País e pela Corte Constitucional.
31
48
CRUZ, Rafael Naranjo de la, Los limites de los derechos fundamentales en las relaciones
entre particulares: la buena fe. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2000. p.
173.
49
Transcrição original do pensamento de Estrada, Alexei Julio: “revela la preocupación de
mantener la distinción del modo de la tutela de los derechos y libertades en el campo
iuspublicista, como derechos de defensa, de su influencia en el derecho privado, negándoles en
este último la misma fuerza operativa inmediata que los caracteriza en las relaciones entre
particular y poderes públicos. De este modo la aplicabilidad de los preceptos iusfundamentales
en las relaciones de derecho privado estaría sempre ligada a una actividad de los poderes
públicos: la jurisdiccional, siendo tarea de los jueces introducir los valores que ellos expresan en
el ámbito jurídico privado, a través de las cláusulas generales y los conceptos jurídicos capaces
y necesitados de ser colmados valorativamente.” ESTRADA, Alexei Julio. La eficácia de los
derechos fundamentales entre particulares. Bogotá: Universidad Externado de Colombia,
2000. p. 115.
32
pelo legislador, bem como pelo aplicador do direito, notadamente sob o ponto de
vista da dignidade da pessoa humana.50
50
SARMENTO, Daniel, Direitos fundamentais e relações privadas. 2ª. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2006. p. 198.
51
CANOTILHO, José Joaquim Gomes, Direito constitucional e teoria da constituição. 7ª. ed.
Coimbra: Almedina, 2003. p. 1292.
52
CANOTILHO, J. J. Gomes, Direito constitucional e teoria da constituição. 7ª. ed. Coimbra:
Almedina, 2003. p. 1291.
53
ANDRADE, José Carlos Vieira. Os direitos fundamentais na Constituição Portuguesa de
1976. 3ª. ed. Coimbra: Almedina, 2006. p. 261.
33
54
Para Konrad Hesse, com o recurso imediato os direitos fundamentais “amenaza con perderse
la identidad del Derecho Privado, acuñada por la larga história sobre la que descansa, en
perjuicio de la adecuación a su propria matéria de regulación y de su desarrollo ulterior, para lo
cual depende de especiales circunstâncias materiales que no cabe procesar sin más con
criterios de derechos fundamentales”.HESSE, Konrad, Derecho constitucional y derecho
privado. Madrid: Civitas, 1995. p. 60-61.
55
“Aquele que dolosamente causa dano a outro de maneira contrária aos bons costumes está
obrigado a repará-lo”. ( Wer in einer gegen die guten Sitten verstossenden Weise einem anderen
Schaden zufügt, ist dem anderem zum Ersatze des Schadens verpflichtet)
34
56
CANARIS, Claus-Wilhelm. A influência dos direitos fundamentais sobre o direito privado na
Alemanha. In: SARLET, Ingo (Org.). Constituição, direitos fundamentais e direito privado. 2ª.
ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 229.
57
MAC CRORIE, Benedita Ferreira da Silva. A vinculação dos particulares aos direitos
fundamentais. Coimbra: Almedina, 2005. p. 26.
35
58
O cineasta em questão era considerado o “nº 1 da cinematografia nazista” e, com sua obra
“Jüd Süß”, fora um dos expoentes da agitação assassina dos nazistas contra os judeus, como
explica Leonardo Martins. Na Carta Aberta entregue à imprensa em 27 outubro de 1950, Lüth
escreveu: “Pode ser que dentro da Alemanha e no exterior existam empresários que não fiquem
repudiados com um retorno de Harlan. A reputação moral da Alemanha não pode, entretanto, ser
novamente arruinada por pessoas inescrupulosas, ávidas por dinheiro. Com efeito, a volta de
Harlan irá abrir feridas que ainda não puderam sequer cicatrizar e provocar de novo uma terrível
desconfiança que se reverterá em prejuízo da reconstrução da Alemanha. Por causa de todos
esses motivos, não corresponde somente ao direito do alemão honesto, mas até mesmo à sua
obrigação, na luta contra este representante indigno do filme alemão, além do protesto, mostrar-
se disposto também ao boicote”. MARTINS, Leonardo. 50 Anos de Jurisprudência do Tribunal
Constitucional Federal Alemão. Montevidéu: Konrad Adenauer Stiftung, 2005. p. 384.
36
59
CANARIS, Claus-Wilhelm. Constituição, direitos fundamentais e direito privado. 2ª. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. A influência dos direitos fundamentais sobre o direito
privado na Alemanha. In: SARLET, Ingo (Org.) p. 242-243.
60
BLANCO, A Jimenez; TORRES, J Garcia. Derechos fundamentales y relaciones entre
particulares: la Drittwirkung en la jurisprudencia del tribunal constitucional. Civitas: Madrid,
1986. p. 26-32.
37
61
MOREIRA, Eduardo Ribeiro. Obtenção dos direitos fundamentais nas relações entre
particulares. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 77.
62
ALEXY, Robert, Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Civitas, 1993. p. 512.
38
63
GUTIÉRREZ, Ignácio Gutierrez. Introdução. In: HESSE, Konrad. Derecho constitucional y
derecho privado. Madrid: Civitas, 1995. p. 17.
64
HESSE, Konrad, Derecho constitucional y derecho privado. Madrid: Civitas, 1995. p. 63-64.
Por outro lado, salienta que o legislador deve ter em conta a noção de que tal incumbência não
se limita a reduzir a autodeterminação e a responsabilidade individuais, pois a autonomia privada
compreende também a possibilidade de contrair por livre decisão obrigações que os poderes
públicos não poderiam impor ao cidadão.
65
CRUZ, Rafael Naranjo de la, Los limites de los derechos fundamentales en las relaciones
entre particulares: la buena fe. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2000. p.
180.
66
UBILLOS, Juan María Bilbao, La eficacia de los derechos fundamentales frente a
particulares: análisis de la jurisprudencia del Tribunal Constitucional. Madrid: Centro de
Estudios Políticos y Constitucionales, 1997. p.291.
39
Vale ressaltar que este privilégio não quer dizer que a existência de
norma jurídica por si só, seja condição para que os direitos fundamentais
incidam sobre as relações entre particulares. Assim, observa Vieira de Andrade,
não se pode dizer que os direitos fundamentais só têm real existência jurídica
por força da lei ou que valem apenas com o conteúdo que por esta lhes é
dado.67
Não se vislumbra pensar de maneira contrária, uma vez que seria admitir
um retrocesso, e essa possibilidade é descartada pelo art. 5º, §1º da
Constituição Federal, haja vista seu conteúdo: ”as normas definidoras dos
direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”.
Rafael Naranjo de la Cruz contribui, acentuando que “não fica claro, entre
os defensores da eficácia mediata, qual pode ser o alcance da autonomia da
vontade em relação com os direitos fundamentais”.68
67
ANDRADE, José Carlos Vieira de, Os direitos fundamentais na Constituição Portuguesa
de 1976. 3ª. ed. Coimbra: Almedina, 2006, p. 270
68
CRUZ, Rafael Naranjo de la, Los limites de los derechos fundamentales en las relaciones
entre particulares: la buena fe. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2000. p.
174.
69
LOMBARDI, Giorgio. Potere privato e diritti fondamentali. Turim: G. Giappichelli, 1970. p.
73-75.
40
70
ANDRADE, José Carlos Vieira de, Os direitos fundamentais na Constituição Portuguesa
de 1976. 3ª. ed. Coimbra: Almedina, 2006. p. 270.
71
UBILLOS, Juan María Bilbao, La eficacia de los derechos fundamentales frente a
particulares: análisis de la jurisprudencia del Tribunal Constitucional. Madrid: Centro de
Estudios Políticos y Constitucionales, 1997. p. 312-313.
41
72
ALEMANHA. BAG (Bundesarbeitsgericht – Tribunal Federal do Trabalho) 1, 185. Disponível
em:<http://www.bundesarbeitsgericht.de/>. Acesso em: 23 jul. 2008.
73
ESTRADA, Alexei Julio, La eficácia de los derechos fundamentales entre particulares.
Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2000. p. 103.
74
ESTRADA, Alexei Julio, La eficácia de los derechos fundamentales entre particulares.
Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2000. p. 105.
42
75
CRUZ, Rafael Naranjo de La, Los limites de los derechos fundamentales en las relaciones
entre particulares: la buena fe. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2000. p.
170
43
76
GARCÍA, P. de Vega. Dificultades y problemas para la construcción de um constitucionalismo
de la igualdad (la eficacia horizontal de los derechos fundamentales). In: PÉREZ-LUÑO, Antonio-
Enrique (Coord.). Derechos humanos y constitucionalismo ante el tercer milenio. Madrid:
Marcial Pons, 1996. p. 278.
77
Há uma corrente minoritária na doutrina, representada por Francisco Lucas Pires e Carlos
Alberto Motta Pinto que perseveram na tese da eficácia somente indireta dos direitos
fundamentais no âmbito privado.
78
SILVA, Vasco Manoel Pascual Dias Pereira, Vinculação das entidades privadas pelos direitos,
liberdades e garantias. Revista de Direito Público, São Paulo: Revista dos Tribunais, nº. 82, p.
45, abr./jun. 1987. p. 45.
44
79
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional, t.IV. Coimbra: Coimbra Editora, 2000,
pp.311-326.
80
VIEIRA DE ANDRADE, José Carlos. Os Direitos fundamentais na constituição de 1976. 3ªed.
Coimbra: Almedina, 2007. pp.268
45
A autora ainda salienta, no entanto, que “isso não significa dizer que os
direitos fundamentais devam incidir de forma absoluta e incondicionada nas
relações entre particulares”, tanto que “não há como se cogitar de que os pais
sejam obrigados a dar a seus filhos presentes de Natal semelhantes – ou que
lhes devam oferecer mesadas idênticas, ou mesmo castigar-lhes de forma
equivalente – em obediência ao princípio da igualdade”. Sempre o aplicador do
Direito deverá ponderar os valores jusfundamentais em conflito, “modular a
extensão de sua incidência por meio dos recursos hermenêuticos tradicionais”, é
dizer, “cabe aferir, em cada caso, se o direito fundamental invocado na relação
de direito privado justifica a compressão ou afastamento do direito à autonomia
81
SARMENTO, Daniel, Direitos fundamentais e relações privadas. 2ª. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2006. p. 237.
82
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação constitucional e direitos fundamentais.
Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 489.
46
83
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação constitucional e direitos fundamentais.
Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 491-494.
84
SARLET, Ingo, Direitos fundamentais e direito privado: algumas considerações em torno da
vinculação dos particulares aos direitos fundamentais,, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000.
2000. p. 152-153.
85
SILVA, Virgílio Afonso da, A constitucionalização do direito: os direitos fundamentais nas
relações entre particulares. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 140.
47
86
BARROSO, Luis Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito. O
triunfo tardio do direito constitucional no Brasil. Disponível
em:<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7547&p=2>. Acesso em: 28 jan. 2008.
87
STEINMETZ, Wilson, A vinculação dos particulares a direitos fundamentais. São Paulo:
Malheiros, 2004. p. 295.
48
Portanto, pode-se concluir que no Brasil há, sem qualquer dúvida, uma
vocação para a Teoria da Eficácia Direta e Imediata, facilmente perceptível tanto
pelas várias manifestações anteriormente citadas, como também pelo fato de
deste raciocínio reunir adesão em obras de novos autores.
88
SARMENTO, Daniel, Direitos fundamentais e relações privadas. 2ª. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2006. p. 242.
89
ALEXY, Robert, Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Civitas, 1993. p. 515.
90
ALEXY, Robert, Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Civitas, 1993. p. 515-516.
Em suas palavras: “sólo un modelo que abarque todos los aspectos puede ofrecer una solución
completa y, en este sentido, adecuada”
49
91
ALEXY, Robert, Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Civitas, 1993. p. 519.
92
ALEXY, Robert, Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Civitas, 1993. p. 520.
50
Robert Alexy conclui que existem os três níveis, cada qual se referindo a
um aspecto da mesma coisa. Qual deles será eleito em cada caso na respectiva
fundamentação jurídica é uma questão de funcionalidade; mas nenhum deles
podde pretender ter primazia sobre os demais.94
93
ALEXY, Robert, Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Civitas, 1993. p. 520.
94
ALEXY, Robert, Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Civitas, 1993. p. 522. [...]
existen los tres niveles. Cada uno de ellos se refiere a un aspecto de la misma cosa. Cual de
ellos sera elegido en cada caso en la respectiva fundamentación jurídica es una cuestión de
funcionalidad. Pero, ninguno de ellos puede pretender primacia sobre los demás.
51
98
ESTRADA, Alexei Julio, La eficácia de los derechos fundamentales entre particulares.
Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2000. p. 106.
53
4. CONCLUSÕES
pela mediação estatal. Essa mediação pode ocorrer por intermédio do legislador
ou da atuação judicial.
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