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Comotal Revista Maçônica

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Editora Religare Revista Comotal

Expediente
COMOTAL - REVISTA MAÇÔNICA DIGITAL
Publicação Mensal
ANO 1 – N° 02 – JULHO/2020

EDITOR e REVISOR
Cláudio Nogueira

DIAGR AMADOR
Vítor Sousa

ARTE
Angeluz Corps

Revista gratuita. Publicidade gratuita. Finalidade e


circulação Maçônica. Textos de responsabilidade
única dos autores. Campanhas de solidariedade de
responsabilidade das entidades. Entre em contato para
colaborar com as publicações.

EDITORA RELIGARE LIVROS – rua Jogo do Carneiro,


452, Saúde, Salvador – BA, CEP 40.045-040. Religare.
empresa@gmail.com. (71) 3052-1239 (71) 98836-6154
(WhatsAppp)
Editora Religare Revista Comotal

Índice
Editorial 4
Cláudio Nogueira

Simbologia
A Abóbada Celeste no REAA
e a Mitologia Greco-Romana (Parte 2) 7
Cláudio Nogueira

Literatura
Loja da Era Digital 20
Marcelo Chaim Chohfi

Espiritualidade
O Terceiro Templo 27
Renalvo Lemos Carvalho

Sociologia
Tudo Justo e Perfeito? 37
Jocélio Hércules Corneau
Editora Religare Revista Comotal

Editorial
À GL∴ DO G∴A∴D∴U∴

A nossa jovem revista segue no seu segundo


número de Pé e a Ordem. Muitas novidades
aconteceram e graças a solidariedade de Irmão
vamos seguindo o caminho em busca de fomentar
um pouco mais de conhecimento. Agora seremos
uma revista bilíngue distribuída gratuitamente
em toda a América Latina. Gratidão ao esforço
do Irmão Menotti e de nossos Hermanos da
Venezuela.
Falando em gratidão e espírito de solidariedade
Maçônica, essa semana entrevistei no meu
programa de podcast “Papo de Bodes” o Irmão
Ruy Salles do Oriente de Salvador - BA, um dos
coordenadores do SOS MAÇOM. Trata-se de
um grupo que através do WhatsApp articula
atendimento emergencial à família Maçônica no
Brasil e exterior. É um trabalho de amor ágape
feito por Irmãos de todo o Brasil e tem salvo
milhares de vidas ao longo de anos. Fundado
em 2013 pelo Irmão Cezar Morais Campos, do
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Editora Religare Revista Comotal
Oriente de Brasília –DF, conta hoje com mais de
12 mil membros e só no ano se 2019 atendeu com
sucesso mais de 4 mil pedidos de emergência
no Brasil e exterior. Atendimento médico,
socorro em situações difíceis e doação de sangue
são as principais atividades desses laboriosos
Irmãos. Um verdadeiro exemplo do princípio
de SOLIDARIEDADE. O mais bonito que não é
preciso ser médico ou mesmo da área da saúde,
não é preciso dinheiro ou mesmo dedicar muito
do seu tempo, muitas vezes basta apenas fazer
uma mensagem de socorro circular via WhatsApp
para chegar no Irmão que realmente possa ajudar
ou, às vezes, um simples telefonema de apoio. Um
momento você ajuda e em outro pode ser você o
ajudado. Procure o SOS MAÇOM do seu estado
e filie-se a essa rede de grupos. Temos um papel
enquanto Obreiros da Arte Real e ele fica claro
no nosso Juramento: devemos ajudar uns aos
outros mediante nossas possibilidades. A Bateria
Incessante de hoje vai para esses amados Irmãos:
vida longa ao SOS MAÇOM !!!

Ir∴ Cláudio Nogueira

www.sosmacomba.com.br

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Editora Religare Revista Comotal

A Ábobada Celeste no R∴E∴A∴A∴


e a Mitologia Greco-Romana (Parte 2)
Por Cláudio Nogueira

As Plêiades
Antes de se tornarem estrelas as Plêiades
eram sete lindíssimas irmãs. Filhas do titã Atlas,
que foi condenado por Zeus a sustentar o céu
por toda eternidade, e de Pleione, protetora dos
marujos e filha do titã Oceano. Chamavam-se
Maia, Alcíone, Astérope, Celeno, Taígeta, Electra
e Mérope.
A beleza delas era ao mesmo tempo benção
e maldição, pois eram cobiçadas pelos deuses e
semideuses e isso foi a causa de suas desgraças.
Com exceção de Mérope, que casou com um
mortal, todas tiveram filhos com deuses.
Maia, era a de beleza estonteante e
temperamento tímido; vivia na solidão das
cavernas. Era a mais velha e a mais frágil, contudo
sua estrela é a que no futuro mais brilharia. Seu
nome significa mãe e os romanos a tinham como
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a deusa da primavera e por isso maio (início
da estação no velho mundo). Teve seu filho
Mercúrio com Júpiter.
Alcíone, era a líder das irmãs. Casou-
se com Célix, rei da Tessália, filho de uma
estrela matutina. Viviam felizes até que um dia
resolveram fingir serem Zeus e Hera. Como
castigo Zeus fez a embarcação de Célix virar e
este morrer afogado. Com Netuno concebeu
Hirineu.
Astérope, seu nome significa estrela. Apesar
de ser a mais fraca das irmãs teve com Marte, o
deus da guerra, seu filho Enomau.
Taígeta, assim como a sua irmã Maia,
valorizava a solidão e morava nas montanhas.
Vivia perseguida por Zeus e Hércules. Pediu
ajuda a protetora das virgens, Ártemis que a
transformou em gazela num episódio para
escapar de Zeus. Mas acabou tendo um filho
com este chamado Lacedaemon.
Electra, era a mãe do fundador de Troia.
Filho dela com Júpiter. Conta o mito, que quando
estrela, desapareceu do céu ao ver a destruição
da cidade fundada pelo filho e a sua morte.
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Celeno, outra das mais frágeis, foi atingida
por um raio e brilhava menos do que as outras,
porém foi a que mais concebeu. Teve Nicteu e
Lico com Netuno.
Mérope, conhecida como a Plêiade perdida,
foi a única que teve um filho com um mortal.
Com o rei Sísifo, considerado o mais astuto dos
mortais, teve Glauco. Diz-se por vergonha de
ter caído nas graças de um mortal mal afamado,
desapareceu dos céus.
A principal desventura dessas irmãs foi que
ao passear com a sua mãe tiveram o azar de cruzar
por acaso o caminho do gigante caçador Órion.
Este de imediato seduzido pela beleza das irmãs
passou a persegui-las. Durante sete anos esse
semideus degenerado esteve no encalço das belas
irmãs até que Zeus compadecido com a situação
interviu e as metamorfoseou em pombas que
voaram e transformaram-se na constelação que
leva o seu nome.
Vítima do assédio e depravação de Órion,
não seriam as últimas, pois muito esse gigante
ainda iria aprontar.

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Editora Religare Revista Comotal

Órion
O gigante caçador era filho da titã Gaia e do
deus Netuno. Na terra era considerado exímio
na caça e no mar tinha habilidade de caminhar
nas profundezas ou ainda andar na superfície.
Era representado com uma clava na mão, cinta,
espada e pele de leão cobrindo o corpo, seu cão
Sírius o seguia por toda parte.
Suas paixões o levaram a ruína. A primeira
desventura amorosa foi com Mérope a filha do
rei de Quios, Enopião (não confundir com a
Plêiade). Órion caçou os animais selvagens da
ilha e a libertou para agradar o rei e ter sua filha
em casamento, porém Enopião não o estimava e
adiou a decisão. Órion, enlouquecido de paixão
a viola. Seu pai com ódio, usa de artimanha,
embebeda o gigante e arranca um olho do
mesmo o lançando bêbado na costa. Ferido, por
sorte ao ouvir as batidas do martelo, encontra
Hefesto, o deus ferreiro, que se apieda e empresta
um de seus homens para guia-lo à cura através
do deus Sol, Apolo. Ao mesmo tempo constrói
uma fortaleza para proteger o rei de Quios do
seu novo inimigo.

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Editora Religare Revista Comotal
Órion, após a cura e de desistir da vingança,
vai rumo a nova aventura amorosa. Desta
vez ninguém menos do que a irmã gêmea de
Apolo: Ártemis – a deusa da caça. Esta que era
virgem e cobiçada pelos deuses também acabou
afeiçoando-se do mesmo, já que esse tornou-se
fiel caçador ao seu lado. Essa amorosidade não
foi compartilhada pelo seu irmão, protetor da
sua virgindade, que também se sentiu traído
pelo até então agraciado por suas dádivas de luz.
Um certo dia viu Órion caminhando no mar
com o corpo submerso, apenas com a cabeçorra
a aparecer na superfície das águas. Aproveita a
situação para saciar a sua indignação e ciúmes.
Manipula a irmã através da vaidade e lança
um desafio de arco e flechas para que acertasse
aquele suposto animal que movia-se ao longe. A
habilidosa caçadora foi fatal no seu manejo com
a flecha. Órion foi atingido e morto. Seu corpo foi
trazido pelas águas às margens para o desespero
da sua amada que constatou a armadilha que seu
enciumado irmão acabara de armar. Em prantos
de dor, a deusa pediu a Zeus que transformasse
o seu amado em uma constelação e o colocasse
no céu juntamente com o seu fiel cão Sírius.
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Para ironia ainda maior, dando tom cômico
à tragédia, a sua constelação está próxima a
das Plêiades, as quais passará num movimento
cósmico a persegui-las por toda eternidade.

ANTARES
Apesar de ser representada apenas por uma
estrela, Antares é uma constelação que representa
figurativamente o escorpião. Sua imagem era
temida pelas culturas mais antigas e sua aparição
representava pragas se aproximando.
Há uma outra versão sobre a morte de Órion,
na qual a figura do escorpião é fundamental.
Conta-se que Apolo ao descobrir as pretensões
do gigante com a sua virginal irmã mandou um
escorpião picar o destemido durante uma caçada
e este morreu com a ferroada do aracnídeo.
A representação metafórica dessa cena não
deixa de ter um aprendizado, afinal um gigante
que se gabava de matar todos os animais da terra
e de ser o melhor caçador, inclusive superior
a própria Ártemis, seria derrotado por uma
criatura minúscula.

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Editora Religare Revista Comotal
Como a mitologia grega é dona de muitas
versões, a sobre o escorpião não seria diferente.
Há uma outra que acredito ser mais interessante,
já que traz uma visão mais simbólica.
Conta o mito que Apolo maquina a armadilha
para Órion e o mesmo, apesar de ter sido picado
pelo escorpião e morrido, é ressuscitado por
Asclépio (representado no céu pela constelação
Ophiuchus - O serpentário). Este era filho de
Apolo e da mortal Corônides. Célebre por
ter desenvolvido a medicina a tal ponto que
conseguia ressuscitar os mortos, foi castigado
por Zeus a pedido de Hades, pois ameaçava
tornar a raça humana imortal. O rei do Olimpo
acatou ao pedido, mas como homenagem
pelo feito esplêndido o transformou em uma
constelação rodeado por uma serpente; animal
que representa a vida que se renova.
O que chama atenção nessa representação
é que essas estrelas formam no céu uma cena
belíssima, na qual o escorpião aparece de baixo
do pé de Asclépio, que parece se preparar
para esmagá-lo, enquanto o peçonhento tenta
picar Órion, mas nunca o alcança, pois ambas
constelações estão em lados opostos retratando
mais uma eterna perseguição.

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HÍADES
Eram ninfas, filhas de Atlas e da oceânida
Etra, portanto meia-irmã das Plêiades. Teve um
destino semelhante as das belas irmãs, mas por
via diferente, não obstante que o caminho da
infidelidade conjugal e da tragédia perpassassem
o seu destino.
Seus nomes são: Ambrosia (imortal),
Eudora (boas dádivas), Fésile (brilho), Corônis
(nobre), Pólixo (próspera), Cleía (fama), Bromia
(branda).
Zeus, o exímio adúltero, engravidou Sêmele
e prometeu a essa que poderia pedir o que
quisesse. Esta, vaidosa, pede que ele aparecesse
para ela na sua forma real. Sem poder negar, o
deus do trovão e dos céus aparece e a mortal
morre de susto. O deus polígamo retira a criança
da barriga e termina a gestação na coxa. Assim
que a criança nasceu entregou para o casal
Atalamante e Ino e, para esconde-lo da ira de
sua mulher, ordenou que a criança fosse criada
como uma menina. Não adiantou, pois Hera,
a mulher de Zeus e a mais traída do Olimpo,
vingativa, fez Atalamante enlouquecer e matar

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seus dois filhos. Zeus prontamente resgata a
criança e a leva para as ninfas que viviam no
monte Nisa na Ásia. Não podendo desobedecer
ao pai dos deuses e ao mesmo tempo temendo
Hera procuraram refúgio junto a sua avó a
titânide Tétis e conseguem cumprir a missão que
lhes foi confiada cuidando do menino por toda
a infância. Essa criança era o deus Dionísio.
Conta o mito que elas tinham um irmão que
amavam muito. Seu nome era Hias. Durante
uma caçada foi morto por um leão. As Híades
foram tomadas por uma tristeza tão profunda
que choraram até se desfazerem em lágrimas.
Zeus compadecido com a tragédia e em gratidão
ao mister prestado no passado transforma-as em
uma constelação juntamente com o seu irmão.
Por sua morte em lágrimas elas são associadas à
chegada das chuvas.

ALDEBAR Ã
No reino de Tiro, havia uma bela princesa
de nome Europa, filha do rei Agenor. Conta o
mito que não havia donzela em sua época mais
linda. Para a sua desgraça o deus do Olimpo e
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degenerado contumaz também caíra nos seus
encantos joviais. Zeus, na verdade teria ficado
obcecado pela moça e usaria como sempre de
suas artimanhas para se aproximar da moçoila.
Como não podia se apresentar em sua forma real
devido ao poder que emanava, usava a estratégia
de se aproximar de suas vítimas das mais variadas
formas como chuva dourada, cisne e tantas
outras. Desta vez, decide se manifestar como um
touro no momento que a jovem colhia flores,
próximo a uma praia, juntamente com várias
moças. Esse touro que ele se metamorfoseou
era um animal ímpar, pois era de um branco
alvo incomum, de chifres dourados e de uma
mansidão inusitada. Ao ver o animal as meninas
correram, exceto a meiga Europa que se
aproximou e imediatamente acariciou a enorme
cabeça do touro, o enfeitou com flores e depois
confiante da mansidão do bovino o montou. Foi
o maior erro dela, pois o animal a levou para a
praia e seguiu mar adentro só parando na ilha
de Creta. A cena foi de partir o coração e seria
retratada na arte greco-romana largamente.
Europa, que ao perceber a armadilha, chora e
clama pelas amigas que nada podiam fazer a não

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ser ver a amiga sumir no horizonte chorando e
segurando o chifre dourado do touro manso.
Zeus ao chegar em Creta toma forma humana
e a possui. Desse ato nascem Radamanto,
Sarpedão e Minos; metade homem e metade
touro que dará corpo ao famoso mito do
Minotauro. A constelação de Touro seria uma
auto-homenagem feita pelo deus ao sucesso do
seu ato de cópula. A representação é de uma
cabeça de touro que emerge do mar. Aldebarã,
na verdade, representa o olho dessa constelação
e destaca-se pelo brilho intenso e cor vermelha.

CONTINUA NA PARTE 3

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Editora Religare Revista Comotal

Loja da Era Digital


por Marcelo Chaim Chohfi

Era dia de sessão Magna de Iniciação. O


Candidato Profano, conduzido por seu Padrinho,
usava um moderno terno preto, com paletó
de zíper e calças mais justas (que deixavam
transparecer os cambitos do ingressante).
Diziam que era a última moda em termos de
traje social, na Capital do Estado, é claro!
Logo na chegada, sua visão foi bloqueada por
um óculos de realidade virtual. A antiga e obsoleta
venda de pano preto forrado foi aposentada, por
óbvio. Aliás, com tais óculos, o Neófito poderia
ficar no breu, ser lançado à Câmara de Reflexões,
ou mesmo à provas diversas, tudo mediante a
programação da realidade virtual transmitida
em tempo real.
Enquanto o Candidato permanecia isolado
em sua escuridão virtual, os demais Irmãos se
encontravam na Sala dos Passos Perdidos. A
presença era registrada por biometria. Alguns
visitantes questionavam, na chegada, sobre
onde estaria o livro para registro de assinatura,
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Editora Religare Revista Comotal
nome, CIM e Loja, mas logo foram informados
pelo Irmão Chanceler de sua extinção e da
modernização do controle. Também foram
alertados que o certificado digital poderia
ser baixado, após a Sessão, mediante simples
acesso ao site da Loja e senha própria, desde
logo disponibilizada. Disse, por fim, o Irmão
Chanceler: “Mas não se preocupe meu Irmão,
todos os certificados terão assinatura digital de
nosso Venerável Mestre!”.
Os preparativos para a Sessão seguiram a
todo vapor. O Mestre de Cerimônias, munido
de um controle remoto, cuidava de cada detalhe.
Projeção holográfica lançada sobre o teto do
Templo que, num passe de mágica, passou do
seu fundo branco para uma linda e perfeita
projeção dos astros e estrelas componentes da
Abóbada. A Corda de 81 Nós também não era
mais real, sendo projetada com nitidez e realce
no mesmo comando do Mestre de Cerimônias.
Bastou um clique para que o Painel do Grau
emergisse do solo de forma automatizada, já que
passou a ficar encapsulado e embutido, quando
não usado durante as Sessões. Sobre o Altar dos
Juramentos o Livro da Lei - em versão digital -

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lido a partir do tablet ali posicionado, nos moldes
autorizados no Ritual modernizado oficial.
Na sala dos Passos Perdidos algumas
informações foram passadas em painel digital.
Todos dirigiram-se ao Átrio. Formado o
Cortejo, após as Batidas do Grau, o Cobridor
Interno lançou - na fechadura eletrônica - o
código de acesso que lhe foi confiado. A porta
do Templo foi destravada e abriu-se paulatina e
automaticamente.
Numa coordenação de atos - todos acessados
digitalmente em painéis disponíveis às Luzes
da Loja - a Sessão desenrolou-se em perfeita
harmonia. Agora que o Grande Oriente
disponibilizou um aplicativo de ritualística,
baixado e atualizado periodicamente, todos os
Obreiros da era digital acessam a acompanham
on-line o andamento dos trabalhos. É a chamada
Sala Virtual Ritualística.
O Venerável Mestre fez o alerta de praxe
no início da Sessão, para que todos ficassem
conectados e atentos a cada passo ritualístico
que o sistema mostraria.

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Editora Religare Revista Comotal
Ao fim e ao cabo, os Profanos receberam
a Luz. Recomendações e homenagens mil.
O Irmão Orador esclareceu que, além das
Instruções que seriam passadas em Loja, os
novos Aprendizes poderiam ter acesso ao AVAM
(Ambiente Virtual de Aprendizagem Maçônico),
onde seriam compartilhados trabalhos, aulas e
outras capacitações de interesse dos Irmãos e da
Ordem. Foram alertados que o Irmão Segundo
Vigilante seria o tutor virtual e responsável pelos
trabalhos que lhes seriam passados.
Terminada a Sessão, todos se desconectam
da sala virtual de ritualística.
Para o copo d´água, o Mestre de Banquete
alertou que cada Irmão deveria acionar o
I-food ou qualquer outro aplicativo que o valha.
Lembrou que os convênios firmados pela Loja
estavam disponíveis no site. Não demorou e
já se formou uma fila para cada Irmão receber
sua caixinha de comes e bebes, passar o cartão
de crédito (ou débito) diretamente com o
entregador.
Ao fundo, um Irmão comemorou:
“Lembra daquela época em que tínhamos que
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comprar tudo antes, cozinhar ou até contratar
cozinheira? Agora está bem melhor, cada um
pede o seu e paga!”
Já um outro Irmão da antiga, oriundo das
Minas Gerais, chegou a comentar durante o
“jantar” que tinha saudades do tempo em que
a fraternidade era aquecida nos copos d´água à
base de uma boa cachacinha amarela, torresmo
estalando e cerveja tradicional, em garrafa
“bojudinha”.
Vários concordaram em pensamento, numa
saudosa comunhão das lembranças de um tempo
em que as coisas eram muito mais simples e,
talvez por isso, proporcionavam uma felicidade
ímpar.
Não por coincidência pulularam, no dia
seguinte, nos chats e grupos de bate-papo on-line
da Loja, textos e mais textos sobre a importância
dos avanços tecnológicos e a resistência de alguns
retrógrados.

Marcelo Chaim Chohfi é juiz do trabalho no T.R .T.


da 15ª Região e professor universitário. É M∴M∴ na
A∴R∴L∴S∴Constância, nº 1.147 - GOB) e membro da
Academia Campinense Maçônica de Letras (cadeira de nº
31 - Patrono: José Bonifácio de Andrada e Silva).

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Editora Religare Revista Comotal

A Maçonaria e a Construção do
Terceiro Templo
Por Renalvo Lemos Carvalho

Desde os primórdios da história humana,


quando o homem percebeu que aconteciam
fenômenos na natureza, os quais ele não controlava
e que também não tinha uma explicação
imediata nem controle, resolveu atribuir a essas
forças a seres divinos, os deuses. Para cultuar,
obedecer e receber favores desses seres divinos,
o homem resolveu construir espaços dedicados
ao culto da divindade, nascendo assim, um
espaço específico, um local sagrado, com formas
e fórmulas necessárias para entrar em contato
com o divino, o Templo.
Vemos, que não existe no mundo uma
civilização ou tribo, que em sua história não haja
criado um culto ao sobrenatural ou ao metafísico.
Sendo esse aspecto, um atavismo ontológico, ou
seja, natural ao ser humano em sua trajetória
histórica como povo.

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Editora Religare Revista Comotal
Este tratado vem discutir a história da
construção e destruição do Templo em Jerusalém,
e sua ligação simbólica com a Maçonaria. O
Templo de Jerusalém é um marco no mundo
religioso do culto a uma divindade, nesse sentido,
entender a função do templo e sua relação com
o adorador nos elucida a busca esotérica de
ligação do homem com Deus.

O Primeiro Templo
Especificamente, na história judaica, por
volta do ano 970 a. C., o rei Salomão resolve
construir um templo dedicado ao Deus altíssimo,
algo que seu pai Davi, não conseguiu. O Templo
de Salomão (no hebraico: , transl. Beit
HaMiqdash) ou Casa do Lugar Santo.
O relato bíblico nos diz que Davi adquiriu
o Monte Moriá dos Jebuseus e ali pensava
em construir um templo em substituição ao
Tabernáculo, relato que vemos em 2 Samuel
24: 24,25 e 1 Crônicas 21: 24,25. Porém por
vontade divina ficou para seu filho Salomão essa
incumbência.

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O Rei Salomão começou a construir o
Templo seguindo os planos que fora traçado
por seu pai Davi. (1 Reis 6:1;1 e Crônicas 28:11-
19). E o trabalho prosseguiu por sete anos. Foi
um período próspero para a nação e Salomão
aproveitou estes tempos de paz para a sua
construção.
O Templo de Salomão tinha uma planta
similar ao Tabernáculo que servia de local de
adoração ao Deus de Israel. Contudo, o que
diferia eram as medidas nas dimensões internas,
sendo maiores do que as do Tabernáculo, as
quais vemos claramente relatadas em (1 Reis
6:2) e (1 Reis 6:20; e 2 Crônicas 3:8). O Templo
sendo construído depositou-se nele o bem
mais precioso para os judeus antigos, a Arca da
Aliança, que foi depositada no Santo dos Santos,
a sala mais reservada e santificada do edifício.
O Templo de Jerusalém recebia as oblações dos
fiéis e era o centro da cultura, lei e unidade do
povo.

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O Segundo Templo
O primeiro Templo construído por Salomão,
séculos depois, foi destruído, após uma guerra
contra a Babilônia, pelo rei Nabucodonosor II,
em 586 a.C. a destruição do Templo, ocorreu
depois de dois anos de cerco a Jerusalém tendo
como consequência o exílio dos judeus para a
Babilônia. Para os sacerdotes e profetas, isso
ocorreu devido à falta de fidelidade do povo
ao Deus de Israel, que buscava outros deuses.
(Ezequiel 6).
Em, provavelmente, 539 a.C., o Imperador
Ciro conquista a Babilônia e ordena o retorno
dos judeus que eram mantidos em cativeiro
como também a reconstrução do seu Templo.
Assim, temos um momento efusivo de esperança
e consolação das dores sofridas pelo povo, mas
que ganharam novo alento com a liberdade do
culto e da relação com o divino.
No século I a.C. Jerusalém e toda a região da
palestina está dominada pelos romanos. Surge
o rei Herodes, o Grande, que sob influência
romana governa a região. Ele realiza mudanças
arquitetônicas no templo de Jerusalém,

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construindo num dos vértices da muralha a
Fortaleza Antônia, uma guarnição romana que
tinha livre acesso ao interior do pátio do Templo.
Isso desagradou muito ao povo e aos
sacerdotes judeus, pois diziam que o arquiteto do
Templo era o Deus de Israel e realizar mudanças
era uma ofensa ao Altíssimo. Devido a muitos
conflitos violentos com os romanos e por buscar
sua autonomia política, a luta foi inevitável e
como resultado disto tudo o segundo Templo
foi destruído no império de Tito, no ano 70 d.C.
Assim, o templo de Jerusalém até hoje não
foi reconstruído e o povo judeu lá espera sua
reconstrução. Contudo, vemos nos relatos dos
evangelhos uma nova proposta do que seja o
Templo e a sua construção.

O Terceiro Templo
Jesus quando questionado pela mulher
samaritana em João 4, em que ela perguntou
qual o local de adoração (o templo) era o mais
certo para adorar a Deus, Jesus mostra uma nova
realidade de um novo templo que se relaciona
com o Eterno em espírito e em verdade.
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Editora Religare Revista Comotal
“Mas a hora vem, e agora é, em que os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade; porque o Pai procura a
tais que assim o adorem.” João 4:23
Este tema é elucidado na carta de Paulo de
Tarso em que o mesmo referindo-se a concepção
de Jesus sobre o Templo, ele diz:
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que
o Espírito de Deus habita em vós? “1 Coríntios
3:16
Nessa perspectiva, há uma proposta de
edificação de um templo espiritual, no coração
dos homens, um templo de uma nova consciência
Crística, pois está em nós o canal de conexão
com a divindade, pois somos um templo divino.
Um novo homem consciente desta relação e de
sua divindade
Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa
lei: Eu disse: Sois deuses? Pois, se a lei chamou
deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi
dirigida, e a Escritura não pode ser anulada,
João 10:34,35
Esse novo homem é o novo Beit HaMikdash,
a nova Casa do Local Santo. Mikdash é uma
combinação de duas palavras hebraicas: Makom

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e Kodesh. Makom = Local e Kodesh = Santo.
Assim, o Mikdash é o lugar sagrado. Esse
homem novo reconhece-se como o Templo do
Divino, portador do Bem e da Verdade, pois
nele o reino escondido e prometido está a se
revelar através de palavras, pensamentos e ações.
Somos potencialmente uma miniatura de Beit
HaMikdash, santuário divino onde o Eterno
deve fazer sua morada.
O Livro de Êxodo (Shemot) nos diz no cap.
25:8“E você deve fazer um santuário para
mim, para que eu possa habitar no meio deles”
A proposta atual é perceber que o Templo
sagrado existe em nós e que as imolações dos
antigos foram trocadas pelas imolações das
nossas imperfeições, as quais são oferecidas em
sacrifício, para que vazios delas nos enchamos da
comunhão com o Eterno. Essa função do Templo
antigo não se perdeu, mas sim, transmutou-
se, como a busca esotérica da transmutação do
chumbo em ouro. A proposta atual é transmutar
o ser em uma nova criatura, sob a luz da estrela
do discernimento.
Enquanto muitos esperam a construção
do terceiro Templo, fisicamente, a Maçonaria
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Editora Religare Revista Comotal
labuta cotidianamente para que cada criatura
humana perceba que ele é um receptáculo de
Deus, um ser divino, pois foi feito a sua imagem
e semelhança, e esta em atributos de sabedoria,
inteligência e discernimento. Assim, a Ordem
trabalha com seus Obreiros em cada Grau
fazendo-os perceber-se como uma pedra que
está sendo polida para que tudo fique Justo e
Perfeito, o templo divino no mundo, em que o
Grande Arquiteto do Universo se estabelece.

Renalvo Lemos Carvalho é Mestre Maçom e ocupa o cargo


de primeiro Vigilante na A∴R∴L∴S∴ Arca da Aliança
172- GLEB. Colaborador de vários artigos em revistas
Maçônicas nacionais.

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Tudo Justo e Perfeito?


Por Jocélio Hércules Corneau

Como podemos definir uma Sociedade Justa


e Perfeita?
Para a Maçonaria, segundo o Irmão José
Castellani (1937-2004), a expressão “Tudo Justo
e Perfeito”, remonta às organizações medievais
de canteiros de obras, nas quais a rivalidade
entre as corporações profissionais resultava
em sabotagem no trabalho. Esta consistia em
penetrar no terreno do concorrente para fazer
um leve desbastamento da pedra cúbica. Dessa
forma, sempre havia a necessidade de verificar
o perfeito alinhamento da construção de sua
edificação, ao medir sua face horizontal com
um nível e sua face vertical com um prumo, o
operador dizia que estava “tudo justo e perfeito.”
Para algo palpável e sólido, no caso das
áreas de exatas, uma obra, uma construção,
usando ferramentas adequadas fica fácil medir e
concluir sua exatidão, mas na área da Sociologia,
na qual não é mensurável por tais ferramentas

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de medição, como podemos definir se uma
determinada sociedade é Justa e Perfeita?
Imediatamente podemos definir que ela é
Justa quando tem educação, saúde, segurança,
saneamento, empregos igualmente para
todos; e Perfeita, quando não há problemas de
desigualdade entre as pessoas, tendo todas as
áreas de atuação e de responsabilidade do Estado
funcionando perfeitamente em harmonia com
os seus cidadãos. Isso seria um sonho? Ou poderá
um dia ser uma realidade?
Mas como ter uma sociedade Justa e Perfeita
em um sistema de governo do tipo capitalista ou
socialista, de conhecimentos diferenciados, que
mistura várias crenças, culturas, valores morais,
éticos, níveis sociais e econômicos?
Alguns filósofos e cientistas políticos podem
muito bem nos dar um parâmetro dessas
indagações.
Como por exemplo, para o filósofo político
americano, John Rawls (1921-2002), através
de sua obra clássica, Uma Teoria da Justiça,
publicada em 1971, uma sociedade é justa
somente quando há Liberdade e Igualdade
entre todos.
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De acordo com Rawls, para isso ser possível,
é necessário atender a três princípios básicos de
Justiça: O Princípio da Liberdade Igual, no qual a
sociedade garante a máxima liberdade para cada
pessoa igual e compatível com todos os outros.
O Princípio da Diferença, que diz respeito a
promover a distribuição de riqueza, exceto se a
existência de desigualdades econômicas e sociais
proporcionarem a geração de maiores benefícios
para os menos favorecidos. E o Princípio da
Oportunidade Justa. Neste, as desigualdades
econômicas e sociais devem estar ligadas a postos
e posições acessíveis a todos em condições de
justa igualdade de oportunidades.
Atendendo a esses princípios básicos,
teremos a Justiça Equitativa, na qual, poderá ser
inviabilizada quanto maior forem os poderes do
Estado, restringindo os direitos individuais ao não
combater de forma sistêmica ações fraudulentas.
Mostrando-se ineficaz e ineficiente, ao frustrar
os anseios de seus cidadãos.
Sob a tríade, da Liberdade, Igualdade e
Fraternidade, a Maçonaria teve um importante
destaque na Revolução Francesa, e, na visão
do Maçom que primeiro usou esta expressão,
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o filósofo suíço, Jean-Jacques Rousseau (1712-
1778), a liberdade e a igualdade devem sempre
andar de mãos dadas, pois não pode existir
uma sem a outra. E que o Estado deve sempre
promover essa verdadeira união.
Em sua célebre obra intitulada Do Contrato
Social, (1762), Rousseau afirma que o homem
nasce livre, mas por toda parte se encontra
acorrentado por fatores como sua própria
vaidade. Ele se torna escravo de suas necessidades
e daqueles que a rodeiam. O que em certo sentido,
refere-se a uma preocupação constante com o
mundo das aparências, do orgulho, da busca
por reconhecimento e status. Colocando em
xeque sua liberdade e igualdade. Mesmo assim,
ele acreditava que seria possível se pensar numa
sociedade ideal.
Dessa forma, a questão seria como preservar
a liberdade natural do homem e ao mesmo
tempo garantir a segurança e o bem-estar da
vida em uma sociedade? Na visão de Rousseau,
isso seria possível através de um contrato social,
por meio do qual prevaleceria a soberania da
sociedade, da política e da vontade coletiva.
Portanto seria preciso instituir a justiça social
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e a paz para submeter igualmente o poderoso
e o fraco, buscando a concórdia eterna entre as
pessoas que vivem em sociedade.
Mas como através da justiça social podemos
defender a liberdade dos indivíduos?
Um dos pensadores da Sociedade Livre é
o economista austríaco e filósofo, Friedrich
August von Hayek (1899 -1992), Prêmio Nobel
de Economia (1974), com sua obra O Caminho
da Servidão, publicada ainda na década de 1940,
talvez mais ilustre do que qualquer outra devido
ao contexto de ascensão de sistemas totalitários
como os da Alemanha Nazista, da Itália Fascista
e da União Soviética.
Para Hayek, a liberdade dos indivíduos
pode ser defendida se, ao lado da arrogância
construtivista, conseguirmos ainda manter
a diferença entre normas abstratas, que são
leis, e ordens especificas ou particulares.
Uma sociedade ideal é aquela que preza pelas
liberdades individuais, de modo a quase nunca
usar a coação, ou favorecimento de pequenos
grupos socais.
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Desta forma, a individualidade faz com
que cada um tenha inúmeras oportunidades
e desejos diferentes para realizar durante a
vida. Diante disso, surge a economia como um
meio para alcançar essas vontades individuais
da sociedade. Uma vez que ela tenha em seus
alicerces um princípio econômico conservador
e fechado, com poucos pilares liberais para
sustentá-la, esta economia estaria sujeita ao
poder de alguém que a controla e não sobre o
poder dos indivíduos e, ao controla-la, o estado
estaria controlando o meio pelo qual o indivíduo
recorre para atingir os seus objetivos.
Assim sendo, a liberdade do indivíduo
para alcançar seus desejos estaria em parte
subordinada ao Estado e, consequentemente,
a liberdade individual da sociedade é reduzida
como um todo, tornando-a menos livre e
dependente dos favores políticos.
Uma Sociedade Justa e Perfeita, depende
dos interesses de cada indivíduo em prol de uma
coletividade, tendo garantida as suas liberdades
e condições de igualdades, através de uma justiça
social compartilhada e promovida pelo Estado.
E todos aqueles que atuam dentro dos princípios
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dos “Sãos Influxos da Moral e da Razão” em prol
de um mundo cada vez mais justo e harmonioso
devem contribuir para alcançar esses objetivos.
Que assim seja!

Jocélio Hércules Corneau é engenheiro e escritor.


Venerável Mestre de Honra da A∴R∴L∴S∴ Amor, Pátria e
Família, n° 104, G∴L∴E∴B∴ - Ibotirama/BA. Grau 18 do
R∴E∴A∴A∴

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