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Vidas Dos Santos - 2 PDF

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(NN

VIDAS

SAI\TOS
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Padre Rohrbacher

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AVISO LEITOR:

os nomes de santos acompanhados do sinal

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ROHR B A C HE R

VIDA,,S
DOS
SA NTO
EDIÇÃO ATUALIZADA POR

IANNART MOUTINHO RIBEIRO


SOB A SUPERVISÃ,O DO

PROF. À. DELLA NINÀ


(BACHAREL EM FILOSOFIA)

VOLUME II

EDITÔRA DÀS AMÉRICAS


Rua Visconde de Taunay, 966 _ Telefone: 51-0ggg
Caixa Postal 4468
SÃO PAULO

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NIHIL OBSTAT
PADRE ANTÔNIO CHARBEL. S. D. B.

IMPRIMATUR
São Paulo, 10 de |ulho de 1959

t Paulo Rolim Loureiro


Bispo Auxiliar e Vigario Geral

e artística da
Propriedade literária
EDITÔRA DAS AMÉRICA§

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Vidas dos Santos

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tB:, DIA DE IAMIRO
O TRONO DE SÃO PEDRO EM ROMA
Roma era a capital do mundo, particularmente
do mundo ocidental. Pedro funda ali a Igreja romana
e coloca o seu trono, a fim de pastoreâr os carneiros
e ovelhas de ]esus Cristo, de tal modo que em todo
o mundo haja apenas um rebanho e um pastor. An-
tioquia eÍa a capital do Oriente. E Pedro levara para
la o seu trono. Alexandria era a capital do Egito e
do Sul; para ela envia Pedro a Marcos, seu discípulo,
a fim de fundar, em seu Ílc'Írle, uma igreja. E as
três igrejas serão chamadas patriarcais e apostolicas,
em virtude da dignidade de Pedro. E tão constante
isso, que no século-quinto, um imperador e um coÍt-
cílio ecumênico, o imperador Marciano e o concílio
de Calcedônia, querendo proporcionar a dignidade
de patriarca ao bispo da nova Roma ou de Constan-
tinopla, pediram-na nos seguintes têrmos ao sucessor
de São Pedro: "Dignai-vos esparzir sôbre a igreja
de Constantinopla um raio do vossc primado apos-
tólico. " O que patenteia que, no pensamento da
Igreja, não ê o patriarcado senão um escoamento
parcial da primazía de Sao Pedro, cuja plenitude
reside no trono de Rcma.
Todos os séculos cristãos proclamaram essa ple-
nitude de autoridade em São Pedro, |á no segundo

http://www.obrascatolicas.com I
PADRE RO HRB ACHER

século escrevia Tertuliano: o Senhor deu as chaves


a Pedro e, por êle, à Igreja. São Cipriano diz, depois
de Tertuliano: Nosso Senhor, estabelecendo a honra
do episcopado, diz a Pedro no Evangelho: Tu és
Pedro, etc., e eu te darei as chaves do reino dos céus.
Daí é que, mediante a série dos tempos e das suces-
sões, decorre a ordenação dos bispos e a forma da
Igreja, a fim de que ela se estabeleça sôbre os bispos.
Santo Optato de Mileva diz, após São Cipriano:
São Pedro recebeu as chaves do reino dos céus para
as comunicar aos demais pastôres. Santo Agostinho
diz, depois de Santo Optato: O Senhor nos confiou
as suas ovelhas, porque as confiou a Pedro. Santo
Ambrosio dizia antes de Santo Agostinho: onde
está Pedro está a lgreja. Pelo mesmo tempo, São
Gregório, bispo de Nissa, dizia no Oriente: |esus
Cristo deu, por Peclro, as chaves do reino dos céus
aos bispos.
Há mais. Desde os primeiros séculos da Igreia,
os fiéis catolicos de todos os países tinham tamanha
devoção pela autoridade suprema de São Pedro, que
celebravam tal autoridade por uma festa solene, sob
o nome do Trono de São Pedro, ou antes por duas
festas, uma clo Trono de São Pedro em Antioquia,
onde estêve de passagem, a outra do Trono de São
Pedro em Roma, onde permanece atê o fim dos
sécu1os.
Não deve espantar-nos essa devoção, pois jamais
faremos por Sáo Pedro o que por êle Íêz o próprio
|esus Cristo. Tendo-o seu irmão Andre levado uma
primeira vez, clhou-o |esus e disse: "Tu és Simão,
filho de fonas; serás chamado Cefas, isto é Pedro."
|esus destinava-o a ser a pedra f undamental da '':'
Igreja. .í

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VIDAS DOS SANTOS

Nas cercanias da cidade de Cesaréia de Filipe,


estando ]esus em prece, com os discípulos, pergun-
tcu-lhes: "Que dizem os homens do Filho do hornd,m?"
Responderam-lhe: "Dizem uns que sois fcão Batista;
outros Elias; outros |eremias, ou um dos profetas
ressuscitados.
- E vós, continuou
que sou? R.espondeu
|esus, quem dizeis
Pedro imediatamente: Vós
sois Cristo, Filho cio Deus vivo,l Retrucou-lhe
|esus: "Tu és venturoso, Simãc, filho de fonas, pois
não foi a carne nem o sangue quem to revelou, mas
meu Pui, que está no céu." Roguemos a |esus que
nos faça ccmpreender o profundo sentido desias
coisas. Quando pergunta o que pensam dele os ho-
mens, respondem os apóstolos indiferentemente; mas
quando perguxta o que dele pensam os proprios após-
tolos, só Pedro ê que responde em nome delás, e
Pedro no seu suce.ssor que responde em nome de
tôda a Igreja;-e tal resposta não lhe é inspirada pela
carne nem pelo sangue, mas por Deus Pai, que está
no céul Oh, como sois verdadeiramente felii, Simão
Pedrol
Ou.Çamos ainda o que diz o Filho de Deus ao
filho de fcnas. "E eu também, digo-te que és pedro,
9 que sôbre esta mesma pedra ci,nstruirei a minha
Ioreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra
ela. E eu te darei as chaves dó reino dos céus; e
tudo quanto atares na terra será atado nos céus, e
tudo quanto desatares na terra será desatado nos
céus." e o filho de Deus que fala; o,Filho de Deus,
cuia palavra obra o que d,iz; o Filho de Deus, que
com uma palavra taz o céu e a terra . Diz ao filho
de |onas: Tu és a pedra sôbre a gual construirei a
minha Igreja; com tal palavra, assegura-lhe para o
futuro invencível firmeza. As portas, isto é, os con-

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10 PADRE ROHRBACHER

selhos e as fôrças do inferno, não prevalecerão nem


contra a pedra fundamental nem contra a Igrefa
sôbre ela árguida. Oh, como é bom estar nessa casa!
Nela, nada há que temer dos ventos e das tormentas.
Pedro possui as chaves; é êle que able e g.ue fecha'
que ata e que desata. Tudo está submetido ao seu
poder,'sábios e ignorantes, pastôres e rebanhos, reis
ê porrot. ó )esus, sêde abençc'ado para sempre por
hávercles dado a Pedro tão maravilhosa Í.itmeza e
[ôrça!

f esus diz a Pedro: construirei, dar-te-ei: é uma


promessa, uma predição para o futuro, promessa invio-
iá,rel, predição infalívei, mas ainda não cumprida'
Terá todo o seu efeito, guando êle disser no presente:
apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhâS ove-
lÉas. Daí até la Pedro não será o invencível Pedio,
ainda tremerá diante de uma serva; é que ainda não
foi instituído chefe da Igreia, e sim apenas designado.
"Simão, Simão, dir-lhe-á )esus, Satã quer que seiais
todos peneirados, como o trig-o, mas eu orei por ti,
para gle não desfaleç a a tua f.ê. Quando, pois, esti-
veres convertido, f irma teus irmãos. " Assim, no
mesmo instante em que fesus f.az Pedro saber que
cairâ, que terá necessidade de se converter, incumbe-o,
de antômão, de firmar os irmãos, de firmar os demais
apcstolos peneirados por Satã nos dias da paixão e
dã mort" do Mestre. É puru Pedro apenas que |esus
ora em particul àÍ, a f im de qrg _1.h" não desfal_eça a
Íe. Logà, a fe de Pedro rrrttcá falhará: a Íê de Pedro
será sempre a Íe de tôda a Igreja. Abençoemo's a
_

Iesus po, hu,rer assim firmado, pot todos os séculos,


a fe de Pedro e nela a Íe da Igreja. Roguemos a
)esus gue nela firme para sempre a nossa

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VIDAS DOS SANTOS 11

'desde]a se mostrara |esus várias vêzes aos apóstolos,


a ressurreição. Manifestou-se de novo a êles
na margem do mar de Tiberíades, e desta maneira.
Simão Pedro, e Tomás, Nataniel e os dois filhos de
Zebedeu, além de outros dois discípulos, estavam
juntos. Disse-lhes Pedro: vou pescar. Foram os
outros com êle, mas naquela noite nada pegaram.
Vinda a manhã, |esus apareceu na margem, e-disse-
lhes: Filhos, não tendes o que comer? Êles, não o
reconhecendo, responderam-lhe: não. Disse-lhes
|esus: lançai a rêde à direita do barco, e achareis.
LançaraÍl-Írâ, pois, e não lograram puxá-la, tamanho
o número de peixes. Então o discípulo gue fesus
amava disse a Pedro: É o Senhor! Imediatamente,
ouvindo que era o Senhor, Pedro arregaçou a túnica,
abandonou o barco e atirou-se a nado, para chegar
alguns momentcs antes ao lado do mestre. O veniu-
roso Pedro! Bem se vê que amais sincera e arden-
temente a |esus. Eazei com que nós também o amemos
igualmente.

- _ Chegad_o o barco à margem, Pedro, por ordem


de |es_us, subiu a ela, e puxou a rêde para a terra;
continha cento e cinqüenta e três grandes peixes.
Apesar de conter tantos peixes, a rêãe não se rom-
qeu. Pedro jít f.izera uma pesca milagrosa, mas
durante a vida mortal do mestre, ao passo que a
segunda se verifica depois da ressurreição de Óisto.
Na primeira pesca, não se disse a Pedro que atirasse
a rêde à direita, mas em pleno mar; a rêde ficou tão
cheia, qqe se rompeu; as duas barcas de tal modo se
viram carregad?., que quase afundaram; e tão grande
foi o número dos peixes, que e impossível übe-lo
com exatidão, enquanto o ê na segunda pesca, em
gue a rêde se não partiu. Essas duás p"rcãs de são

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T2 PADRE ROHRBACHER

Pedro assinalam os dois estados da Igreja; a primeira,


a Igreja Militante, antes da ressurreiçãq a segunda,
a Igreja Triunfante, após a ressurreição. Na_primeira,
a multidão dos fiéis, vindos da sinagoga e do gentio,
é inumerável; há os bôns, há os maus; a Igreja tem
dificuldade em contê-los, e a rêde se parte; há cismas
e heresias. Porém, depois da ressurreição, -na Igreja
triunfante, gue Pedro puxará dêste mundo para a
margem da eternidade, iânáo há rompimentos, porgue
já náo há mais senão santos e eleitos.
Admiremos os grandes mistérios existentes em
tudo isso: agradeçamos a |esus por nos ter partici-
pado algumã coisa. Roguemos-lhe, sobretudo, gue
nos conãeda a graça de pertencer à segunda pesca,
de estar no númáro dos venturosos peixes da rêde não
partida. Para tanto, âffieÍrlo-lo como o amava São
Pedro.
Após terem os discípulos comido na presgrya qo
Senhor, disse |esus a Simão Pedro: Simão, filho de
|onas, tu me amas mais gue êstes? Sim, Senhor,
respondeu-lhe Simão, sabéis gue vos ato. Disse-lhe
|esls: Apascenta os meus cordeiros. Pela segunda
vez,perguntou-lhe: Simão, Íilh_o de |onas, tu me amas?
Respondeu-lhe Pedro: Sim, Senhor, sabeis gu.e vos
amo. Disse-lhe |esus: Apascenta os meus cordeiros.
E perguntou-lhe pela teiceira vezi Simão, filho de
|onas,"tu me u*u.í Pedro entristeceu-ser e respondeu:
Senhor, conheceis tôdas as coisas, e sabeis gue vos
amo. Disse-lhe |esus: Apascenta os meus cordeiros.
Na verdade, na verdade eu te digo: guando eras mais
moço, punhas o cinto tu próprio, e ias aonde guises-
ses; mas quando fores velho, estenderás as mãos, e
outro te cingirâ, e te levarâ pata aonde não quiseres.
Ora, disse iso para indicar por gue motivo devia

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VIDAS DOS SANTOS 13

glorificar a Deus. Salvador ]esus, tôdas as vossas


palavras são espírito e vida; concedei-nos a graça de
sentir o que hâ de vida e amor nas palavras que
acabo de ouvir.
Havia mais ou menos um ano que ]esus dissera
a Pedro: Tu és feliz, Simão, filho de |o,nas. Tu és
Pedro, e sôbre esta pedra construirei a minha Igreja,
e te darei as chaves do reino dos céus. Falava no
futuro: tratava-se de uma promessa. Hoje diz no
presente: Simão, f ilho de |onas, apascenta os meus
cordeircs, e não as minhas ovelhas. É uma ordem
imperativa. E hoje que Pedro está efetivamente ins-
tituído, por fesus Cristo, pastor supremo do seu único
rebanho; e as ovelhas e os cordeiros, e as mães e os
filhc's, e os pastôres e o rebanho, tudo está submetido
ao seu báculo; cabe-lhe apascentá-los, isto é, instruí-
los e governá-los. Sômente hoje é que está investido
da sua dignidade soberana e das gruçur que a ela
houve por ligar o Senhor. Quando r".,"gou pcr três
vêzes o mestre, não era ainda chefe da Igre;'a, mas
sômente indicado para o ser um dia. Foi a iua queda
? do homem, e não a do pastor. Há mais: so será
feito pastor supremo, expiando as três renegações
por três atos de um amor maior que o dos õutros.
vigário de f esus. cristo pela auto,riclade, sê-lo-á ainda
I
pelo gênero de morte: mc,rrerá como êle na cruz, de
mãos estendidas e furadas por cravos.
"Sou o bom pastor, diz
|esus, dou a vida pelas
minhas ovelhas; tenho outras c,velhas,que não são
dêste redil. É preciso gue as leve, e so haverá um
redil e um pastcr." Estas outras ovelhas são os fieis
arrancados do paganismo, somos nós próprios. ó
bom _pastor ]esus, sede bendito po',or'haverdes
tazido de tão longe. Mas vos ides dêste mundo,

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a PADRE ROHRBACHER

a quem confiais o vosso único rebanho? A Pedro.


Sômente a êle é que dizeis I apascenta os meus COr-
deiros, apascenta as minhas ovelhas. Ó |esus, -como
me alegrô po. pertencer ao rebanho do pastor Pedro,
pois que é o vosso rebanho. E, sobretudo, como gosto
do que dizeis: tu me amas mais que os o-utros? Como
se pretendêsseis dizer: pois que te confio as ovelhas
qu; amei mais que a vida, tu deves amá-las igual-
mente. Com isso, dais a entender tambrám a mim,
pequenina ovelha, peguenino cordeiro, que devo amar
o pastor ao qual concedeis tão grande prova de amor.
Não duvideis, venturoso Pedro, eu vos amo, eu vos
amo nos vcssos suce-csores, eu vos amo e obedeço'
Dizei-me em que pasto devo nutrir-me, e ali eu me
nutrirei. Dizei-me os que devo evitar, e eu os evitarei.
Mas, ó bom pastor |esus, vós nos advertis contra
certos falsos profãtas, que virão a nós, tendo por-fora
pele de ovelha, e sendo por dentro devastadores
iObos. Como poderei eu, cordeirinho desprotegido,
reconhecê-los? lâ sei. Confiastes as vossas ovelhas
e os vossos cordeiros a Pedro. Logo, é Pedro êsse
único pastor, depois de vós, do vosso único rebanho.
Ora, o venturoso Pedro vive Sempre nos SeuS SUCeS-
sores. Olharei, pcrtanto, para o pastor Pedro; se
me f.izer sinal de que c' pastor que a mim vem, vem
a mandado seu e me traz a Sua doutrina, ouvi-lo-ei e
segui-lo-ei; se, porém, me f-izer sinal de que- é um
lô6o ou ladrão, àvitá-lo-ei. Pela vossa infalível pala-
vra, não há senão um só rebanho e um só pastor; e é
ainda a vossa infalível palavra de que a Pedro,
sômente a Pedro, foi que dissestes: Apascenta oS
meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas'

TTT

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I

SA NTO FÁZTO
Ourioes de Verona
Nasceu Fâzio em Verona, pelo ano de 1190, de
pais que desde cedo lhe inspiraram, co,m o amor ao
trabalho, o amor à virtude, e o fizeram aprender o
ofício de ourives. Em pouco tempo, o ..ú procedi-
mento regrado, a severa probidade lhe lograram a
estima universal, e em alguns anos amontoou grandes
haveres, cuja maior parie empregava no aliirio dos
infelizes. A Deus apíaz exercitar a virtude dos seus,
e Fâzio não fugiu à regra. A inveja dos homens da
sua profissão não tardou em lhe perturbar a paz de
gue desfrutava. Foi tal a perseguição que lhe-move-
ram, que se viu forÇado a abandonar a cidade natal,
retirando-se para Cremona, onde continuou a dis-
tribuir copiosás esmolas. Entretanto, lá não se demo-
rou muito, e regressou a Verona, pela qual não
deixara um instante de suspirar. Todaviã, novas
perseguições o aguardavam, e o ódio dos inimigos
conseguiu atirá-lo a uma masmorra.
Fâzio suportou, sem queixas, a injustiça da
prisão. Valeu-se até dos seus rigores paÍa o progresso
espiritual, e aguardou em paz gue Deus patenteasse
a todos a sua inocência. Nao iicou decepcionada a
sua confiança, e a liberdade não tardou a lhe ser
devolvida de maneira quase milagrosa, As cidades

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16 PADRE ROHB,BACHER

de Verona e Mântua, então rivais, achavam-se em


luta. Não podendo a primeira resistir sozínha às
fôrças inimigas, solicitou auxílio aos cremonenses.
Êstes lho prometeram, com a condição, entretanto,
de que F âzio f ôsse pôsto em liberdade, e Verona
consentiu de boa vontade, tanto mais que ninguém
havia logrado até aquêle instante provar qualquer
das acusações. Fâzio saiu, pois, da masmorra e, para
não expor-se mais à perseguição d9. ourives de
Verona, a. novo abandonou a cidade voltando a
Cremona.
Aplicou-se lá o santo varão, mais do que nunca,
ao er."icício de tôdas as obras de caridade. Passava
os dias visitando aS masmorras e os hospitais, e CoÍI-
sagrava quase tôda a noite à prece. Mandou cons-
truir uma capelinha, e fundou uma associação para
o alívio dos prisioneiros, dos marujos e dos p-obres,
com o ncme de congregação do Espírito Santo.
Testemunha, havia muito, do exemplar procedimento
dêsse servidor de Deus, o bispo de Cremona o
nomeou inspetor-geral dos mosteiros da sua diocese,
e o ourives conservou tal incumbência até a morte que
sobreveio em 18 de janeiro de 1272, quando gl"
contava oitenta e dois anos de idade. Vários mila-
gres realizados ao pé do seu túmuio comprovaram a
Jantidade de Eazio, e desde então se lhe celebra a
festa em várias dioceses da Italia ( 1 ).

f.+I

(1) Acta SS. e Godescardo, 18 de janeiro'

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A BEM-AVENTURADA BEATRTZ DE
VICÊNCIA
Beatriz, filha de Azelino, desposou Galeasso
Manfredo, senhor de vicência. Tendo perdido o
espôso, resolveu seguir o exemplo de sua santa tia,
igualmente chamada Beatriz, e, como ela, abraçar a
vida religiosa, desprezando tôdas a.s vantagens gue
Jhç podia proporcionar no mundo o nascimento, a
beleza e a fortuna. Seu pai guis obstacular o sublime
prc,jeto, mas a f.irmeza de Beaffiz terminou por abater
a resistência. Fundou em Ferrara, cidaáe de gue
Azelino era senhor, um mosteiro de religiosas bene-
ditinas, e lá vestiu o habito em 25 de maiço de 1254.
As irmãs encontraram nela um modêlo de austeri-
dade, de submissão e de espírito de pobr eza. euis
Deus recompensar as virtudls da ."rr^ chamandà-u
para o seu seio em 18 de janeiro de 1262. vários
milagres realizados por intercessão de Beatriz cons-
tituíram as provas da glória de que sua alma desfru-
tava no céu. Em 23 de julho de 1774, o papa
clemente XIV, após ouvir o parecer da congregação
dos Ritos,
.aprovou o culto qr", havia muitó tõmpo,
era prestado à santa mulher (1).

**fí
(1) aeta ss e Godescardo, 1g de janeiro e 10 rie maio.

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I

sÃo DEÍCOLA (*)


Abade
São Deícola nasceu na Irlanda e viveu sob a
direção de São Columbano. fo_vem vivo e inteligente,
f.g. Í.êz grandes progressos debaixo de tão grande
mestre, ao qual uão-punhou à França, vivendo em
Luxeuil por vinte e cinco anos.
-É*iul.os
pela rainha Brunehaut, Deícola, en[êr-
mo e carrsado, ,tão pôde seguir o bom mestre' Dolo-
rosamente, separurráo-re dêle, internou-se na floresta
que existia próximo de Luxeuil e andou à cata dum
ü;". onde prdetse viver protegido do sol' da chuva e
do frio umido da noite.
Encontrando-se com um porqueiro, rogou-lhe o
guiasse naquelas brenhas e lhe indicasse um sítio que
iao [Orr" á.-usiadamente distante dalgum pequeno
."",-. O porqueiro, homem devoto e respeitador,
alegremente o lávou a um l-"gT o"gg se erguia uma
;"o"d ;rigida em honra dJ Sao Martinho' Ora'
uq,r"lu, teiras pertenciam-a uma senhora respeitável,
,ri,rlru dum ,"rho, chamado Werfaire. Sabendo g-ue
uã santo homem se fixara em suas terras, foi vê-lo,
acabando por the ceder a p_rolfiedade
.de do terreno em
que se assentava a capela São Martinho, tanto se
agradara
--"-- do Santo.
t"-po, depois, bondosamente, concedia a São
Deícola o, ,".rrÁor rr.."ssários para a construção dum

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VIDAS DOS SANTOS 19

mosteiro, uma vez gue, juntando-se ao servo de Deus,


vários discípulos passaram a viver em tôrno da cape-
linha, em rudes celas acanhadas.
Anos mais tarde, numerosíssimos discípulos pro-
fessavam na nova fundação, que Deícolã colácou
debaixo dos regulamentos do mestre inesquecível.
Certa vez, o rei Clotário II, com vários compa-
nheiros, caçava por terras do reino, próximas do Íros-
teiro. E o príncipe, perseguindo acirradamente um
javali que já lhe escapara por várias vêzes, desde
manhã, o viu embarafustar-se por um terreno limpo e
abrigar-se dentro do que se aÁsemelhava à cela ãro,
monge.
_Era
justamente a celazinha pequena e humilde de
São Deícola. Conta-se, então, que-o Santo, tomando
o pobre_ animal persegu,ido sob iu, proteção, obteve-
lhe de Clotário a vida.
O rei, quando soube que estava diante dum dis-
cípulo de são columbano, alegrou-se muito. Desde
aquêle dia, cumulou-o de presentes e favores.
Sentindo que a morte estava próxima, São Deí-
cola
.quis dedicar os últimos dias ãor que
lhe dariam uma bca morte. Nomeando"r"rcícios
um afilhaào,
chamado colombino, para o cargo de abade, retirou-
se a uma reclusão completa, perto da igreja que levan-
tara em homenagem à Santíssima Triãdade.'
Em 625, depois de ter recebido o santo viático
das mãos do novo abade, são Deícola, tranqüila-
mente, deixava o mundo. o corpo, enterrarâÍr-flo os
-da
discípulos na capelinha, ao lado qual, em humilde
cela, falecera. Tempos mais tarde, iransferiram-lhe
as relíguias para a igreja abacial.

++r

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BEM-AVENTURADA MARIA DE
BRABANTE (*)
Rainha e Mártir

Maria era filha de Henrique, chamado o Mug-


nânimo, duque de Brabante. Em 1253, casando-se
com um filho de Oton II, o Ilustre, passou a viver
ao lado do marido, Luís da Baviera.
Luís era de temperamento violento. Ag.astado
com uma legião de ladrões, que lhe pilhava tôda uma
parte dos Estados, no Reno, contra ela e,mpreendeu
,ru expedição, deixando a espôsa_ aos cuidados duma
irmã viúva, Isabel, que fôra casada com o imperador
Conrado IV.
A bem-aventurada Maria de Brabante foi tru-
cidada pelo espôso por uma simples troca de cartas.
Esc.e,róndo a Luís, então em meio a expedição que se
lançara para o Reno, e a um p-arente dêste, o conde
Ruchon, que o acompanhava, Maria encarregou um
analfabetó da entrega das rnissivas. A do espôso,
marcara-a com um sinal vermelho, a outra com um
negro.
Quis, então, a ma sorte, que o mensageiro tro-
casse as cartas, no ato da entrega: Luís, suspeitando
da fidelidade da espôsa, encoleri zou-se tremenda-
mente. E, a primeiia coisa que Íê2, tão aloucado

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VIDAS DOS SANTOS 2l

estava, foi atravessar com a espada o pobre gue fazia


as vêzes de estafeta.
chegando ao castelo, Íazendo ouvidos de mer-
cador aos protestos da espôsa e da irmã, matou todos
os que se achavam ligados ao serviço da mulher, a
esta decepando a cabeça como adultera.
No dia seguinte, corroído pelo remorso, Luís
da Baviera amanhecera como se' fôra um velho de
setenta anos: a barba e os cabelos estavam brancos
ccmo a neve, embora não tivesse mais do que vinte e
sete anos.
Ruchon, sabedor da cólera gue assaltara o prín-
.ip.", escapara, fugir a, par-a, como dizia, propala, po,
!ôda a parte a inocência da pobre princesa morta tão
injusta e intempestivarnente.
Luís não teve mais sossêgo. vivia vagando,
atormentado, pelo castelo, incriminando-se sem cessar
pela ação gue cometera tão impensadamente. No
-
tqge da dof. _correu para Romá, e ao papa, então
Alexandre IV, confeisou tudo.
o sumo pontífice impôs-lhe como penitência a
fund-ação dum mosteiro, que seria o de Furstenfetd,
que ficou sob a invocação ãe Santa Maria.

- o corpo da bem-aventurada Maria de Brabante


toi enterrado na igreja do mosteiro de Sant a Cruz, em
Donawerth.

Íí rB ?B

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sÃo LEOBALDO (*)
Recluso e Confessor
Leobaldo era natural de Auvergne. Desde me'
nino, sentiu-se atraído para as ccisas de Deus'
Quando cresceu, e se [êz moço, os pais propuse-
ram-lhe uma espôsa. Obediente, incapaz de contra-
dizer aquêles qúe he haviam dado a vida, resignou-se
a contrair matrimônio. Deus, contudo, desejavâ-o â
seu serviço: pouco depois, morriam-lhe os pais ?'
pois, não havia mais motivo -para o casamento que
'rO
se efetuaria de conformidade com a obediência
filial. Incumbindo um dos irmãos dos negócios, partiu,
e deixcu a casa Paterna
Fazendo uma peregrinação ao tumulo de São
Martinho, ali se deixou Íicat longamente em oração,
Jepois do que resolveu, inspirado, ir viver recluso,
-aúadia
;á; dà de Marmoutier, onde se dedicou a
àr.r",r", sôbre passagens das santas Escrituras'
Gregório de Tours visitava-o fregüentemente.
Foi, ."úo, quem lhe administrou o santo viático.
Soticitado pu* aquêle mister, porqle_ Leobaldo fôra
do dia'da mórte,- São Gae.sóri o diz
;;i;;ã;-;.; ó.u' "Felizhomem,
ào santo'r".l.rro : aquêle. Pela grande
fidelidade no serviço do Senhor, mereceu' -Por reve-
lação divina, conhecer o dia e o momento da morte

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VIDAS DOS SANTOS 23

E São Leobaldo, guando São Gregorio foi aten-


dê-lo, olhando-o ternamente, disse: "Chegou a
ocasião. Sob as ordens do Senhor, serei desligado
da prisão dêste corpo mortal. Não jâ, poré*, po-rqu"
ainda viverei um pouco mais, até pertó da páscoã".
São Leobaldo, falecido em 593, tem em Tours
uma igreja erigida em sua homenagem.
§"g.uqd_o os escritos de São Gregório, crê-se que
são Leobaldo morreu em fevereiro. - A festa de 'r 8
de janeiro prende-se à transladação de seu corpo.
ass
No mesmo dia, Santa Prisca, em Roma, virgem
e mártir, QUe, sob o imperador cláudio, recebeu a co-
roa do martírio. Ha quem considere Santa Prisca a
primeira mártir na Igreja do ocidente. Há uma
tradição que assevera ter sido a virgem batizada pelo
apóstolo sao Pedro, quando nos treze anos de idãde,
sendo martirizada no ano 45. Por outro lado, outra
tradição afirma que a Santa pertencia ao século III, e
conta o seguinte. Conduzida diante dos juizes, foi
obrigada a adorar um dos ídolos da paganidade.
Orando fervorosamente a Deus, corrreguiu que o
ídolo caísse por terra. Encolerizados, .orá"rurá--ru
os julgadores a morrer sob as feras. poupada por
leões_e leopardos, foi decapitada.
No Egito, trinta e setã mártires, nos tempos dos
imperadores pagãos. Distribuídos em grupos, para
evangelizar a região, estavam assim ord"trãdori urn
grupg, sob a direção de Paulo; um segundo, dirigido
por Recumbus; o terceiro grupo era encabeçrdo"pã,
Teonas; o final*"rri", âstava sob a dir"çao-J"
-q_uarto,
Papias' Todos pregavam a verdadeira doütrina,

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24 PADRE ROHRBACHER

quando foram conduzídos ao tribunal do governador


áo Egito. Impondo-lhes duas coisas, sacrificar aos
deuseã o, -orier, todos, a uma Só vcz, declararam-se
pela ultima. Dada a sentenla, 9s do primeiro grupo
ioru* condenados ao [ogo. Os do segundo morreram
decapitados. Os do terõeirc, foram, como os do pri-
I

meirá, queimados vivos, mas de modo diverso. Os


do quarío, afittal, pereceram na [ôrca'
Em Clermont, Auvergne, Sáo Venerando' bispo
e confessor. Um autor iontemporâneo lhe f'az os
maiores elogios, colocando-o entre os mais dignos
prelados da"Gália, pela Í.ê, zê1o e espírito de oração.
Falecido em 423.
Em Tcurs, flâ França, São Volusiano, bispo' que'
feito prisioneiro pelor gódor, faleceu no exílio. Quer
uma iradição qu;, exiládo na Espanha, ali trabalhou
denodadamente e Sem descanso contra o arianismo,
tendo sido decapitado perto de Foix pelos arianos
mesmos.
Santo Ulfrido ou Wolfredo, bispo e mártir, râs-
cido na Irrglaterra, homem de muito saber e grande
virtude. D?ixando a terra natal, foi pregar o Evan-
gelho na Alemanha. Protegido do piedoso príncipe
ôlu,ro, quando evangel izava uma grande multidão,
p*S""aá as verdadãs evang-é-licas, fgi massacrado
p"ljr pagãos enfurecidos (1029 ) , sendo atirado, aos
r --
pedaços, num lago-
Êm aquila, ã bem-aventurada Cristina Ciccarel-
li, virgem, que professou lo convento.de Sánta Lúcia.
Foi, ,io .luustrá, rnodêlo de tôdas as virtudes. Humil-
de e quieta, consagrava longas loras.à oração_. $m
àiu, fái ob.igada J ,.pururi" duma imagem de São
Marcos, a q"uul tinha'em grancle apreço' - O Santo
Áp6"alo, aparecendo entáó a um pintor, chamavâ-sÊ

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I

DOS SANTOS

silvestre, ordenou-lhe oue pintasse uma nova imagem


e fô.sse entrega -la a irmã bristina, iããg"m que, por
muito tempo, se ccnservcu no .orr,r.r1o dá surrta
Lúcia. A bem-aventurada crisrina ôiã.ur"ili entrou
na ordem em 1496. Faleceu em I 543.
Em Salerno, as santas mártires Arqueraa, Tecla
e susana, decapitadas sob Diocreciano, por ordem
de
Leôncic, prefeiro daquela cidad ibl.
", "Ã
Na diocese de Besançon, são Bartrão, abade,
restaurador do convento fundado por são D"i;;i;:
N-r.província do Ponto, os santos Moseu e Amô-
nio, scldados, que, tendo sido antes condenados às
minas, foram depois queimados. No mesmo lugar,
santo Atenogenes, ,rãlho teólogo - ,"t", de ser lan-
çado.3.o.fosol onde iria terminar o sacrifício, cantou
com júbilo um hino que deixou escrito aos discipulos.
Em Como, Santa Liberata, virgem.
-

IXI'

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tg;' DIA DE IAIIEIRO

SÃO CANUTO
Rei d,a Dinamorca

Era filho natural de sueno II e neto de canuto


que subjugou a Inglaterra' O rei' seu pai'
-liir,ã
o Grande,
;r;^;ã; filú"; legítimãs, rendo-se convertido
de Rots-
ao bem, ,oU u guiu de Sáo Guilherme' bispo
.Àiia, cuidou d"e o Íazer educar por sábios precepto-
res. Canuto correspondeu perfeitamente' e em pouco e do
tempo se aperfeiçoôu ,,o' "*"rcícios do espírito
Desde a
corpo, que convinham ao seu nascimento'
da
mocidade, habituou-se aos penosos trabalhos
guerra, e realizou grandes e ousados feitos
numa
idud. em que os outros mal conseguem ser especta-
devastavam
ao,rlt. Limpou o mar dos piratas 9'" a efeito
as costas, venceu os estonianãs' 9u-e lãvavam
ã,ot a" banditismc contra os vizinhos' e dominou
os
ou Samogítiu' pi-tll^
;;;"; dà prorríncia deà Sambia
coroa da Dinamarca' Esses
Iior*.nte submetída
gã"a., êtit;;,
'duüd", de outros ainda' lhe abriam
="f,iaot
para o trono' Mas' up9t a
caminho, ,.*
morte do rei Sueno, seu pai' os dinamarqueses .lem-
quais a coragem dêle os
'quandoaos
brando-se dos perigos
havia exposto, ainda se açhava apenas na

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VIDAS DOS SANTOS 27

segunda fileira, recearam que, se lhe pusessem a coroa


na cabeça, o seu espírito guerreiro os faria correr
novos e maiores perigos. Foi por tal motivo que lhe
preferiram o irmão Haroldo, *áir velho, porém pouco
lapa?. Canuto, vendo-se expulso de uá estado que
lhe devia a glória e grande pãrte do poder, retiroulse
para a côrte do rei Halstan, gue o tratou de acôrdo
com o seu valor. Haroldo, não logrando por muito
tempo sustentar o pêso de uma coroa, mandou que
chamassem o irmão de volta e ofereceu-lhe metáde
do reino. Mas canuto, percebendo que se tratava
de um ardil para perdê-lo, foi bastante
irudente para,
na má sorte, não confiar nas promessas de um íarão
que, quando ela fôra melhor, não lhe regateara
provas de má vontade. Canuto teve a generõsidade
de resistir às ocasiões que se lhe upr"-."rrtaram de
f azer:g* que o paíf sofiesse o castigã *".".ido pela
ingratidão. Longe de voltar as armas contra êle, mais
uma vez as empregou no seu serviço, e continuou,
sempre com o mesmo êxito, a guerra iniciada contra
os inimigos da Dinamarca, a leste da Escânia, a única
provÍncia que se lhe mantinha ligada. Essa grandeza
de alma, qug o levava a vingar a injúria com"os bene-
fícios, não ficou-longo tempo sem recompensa, pois,
tendo Haroldo falecido após dois uro, d" ."i"udo,
canuto foi chamado com iorrru e elevado ao trono,
devido ao seu mérito, pelo próprio sufrágio á" ir*aã
preferido, num país e- grã a'ordem do nascimento
não tinha valor-nenhum, guando a não acompanha-
vam outras gualidades.
os seus primeiros cuidados, após subir ao trono,
foram empregar as fôrças do r"iro para terminar,
contra os inimigos do estado, a gueria gue êle ini-
ciara muito jovem ainda, às ordens do iei seu pai,

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28 PADRE ROHRBACHER

e que ccntinuara durante o exílio. Acabou-a mais


glúiosamente ainda pela religião d.o que pelo tgu
próprio renome ou pelo interêsse da coroa: tendo
inteiramente submetião as províncias da Curlândia,
de Samogícia e Estônia, viram todos que, se delas se
-
apossaruJ fOtu apenas para f.azer reinar )esus Cristo.
Sem outros inimigos paÍa combater, o santo e
bravo rei Canuto c,ridou de câsâr-se . Desposou
Adélia, filha de Roberto, conde de Flandres, de quem
teve Carlos, também conde de Flandres, e cognomi-
nado o Bom, cuja memória a Igreja honra no dia 2
'Canuto 'a
de março. São dedicou-se imediatamente
f.azer reflorescer as leis e a justiça no seu reino, e a
restabelecer a antiga disciplína, desleixada por tô.da
parte em virtude ãu insolência e das proezas dos
g.andes. SObre tal assunto, emitiu severos mas
õantos regulamentos, sem que a proximidade do san-
gue, nem a amizade, nem qualquer outra.,consideração
áe qualquer espécie pudesse arrancar-lhe a impuni-
dadá do crim" ã du desordem. Sempre [êz tudo com
bastante prudência e eqüidade. Mas o que d.evia
Í.azer com que lhe estimássem a virtude, atraiu-lhe o
ódio e o desprê.zo dos mais poderos_os, os quais não
logravam admitir lhes fôsse reprimida .a tirania exer-
ciãa contra os inferiores. Canuto não ho'uve por bem
deter-se por causa dos murmúrios e descontentamen-
tos dêles.
Sendo o seu principal objetivo a glória de Deus
e o interêsse da Igreja, concedeu várias graças aos
que eram ministroJ do Todo-Poderoso no seu reino.
É visto que a gente grosseira e rústica pouco habi-
prestar aos bispos o respeito devido,
tuada esíu,ra a -Canuto
e não podendo admitir que fôssem tratados
como Éo*"rra comuns, ordenou, por expressa decla-

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I
VIDAS DOS SANTOS 29

r-aÇão, gue precederiam os dugues e teriam o pôsto


de príncipes no estado, â fim de lhes dar autorídud"
e, com tais honras, elevá-los. Isentou até os eclesiás-
ticos da jurisdição secular, guerendo que sômente
devessem obediência aos seus bispoó. Envidou,
outrossim, tudo quanto lhe Íoi possível para habituar
o povo a pagar os dízimos à Igre;'a, mas não teve
êxito. Foi verdadeiramente de magnificência real na
construção e fundação de igrejas em numerosos luga-
res, e senhor de grande liberalidade ao orná-laÀ e
enriquecê-las. Chegou atê a dar à de Rotschild, capi-
tal do reino, a coroa que usava nas grandes soleni-
dades, e gue era valiosíssima. Mas eitando ela, por
tal motivo, mais exposta ac, sacrilegio dos ladrões que
as dernais riquezas do tesouro sagrado, mando, qr"
os bispos impusessem a pena da excomunhão uor qr"
ousa,ssem tal atentado. Publicou um édito para tornar
invioláveis aquela oblação e os demais efeitos da sua
piedade, e impedir se tirasse da Igreja aguilo J" qu.
êle proprio se privava para a enriquecer.
Era tamanha a sua caridade em tais questões
que, para livrar os súditos do incômodo que lhes
causava a excessiva despesa dos seus jovens irmãos,
incumbiu-se do sustento dêles e deixou sômente a
9luf a província de Slesvic, como que em apanágio.
Nada contrariava mais o seu propósito de corrigii os
vícios do povo que a ociosidade e a falta de cuidãdos.
Aquilo o levava a procurar louváveis e úteis ocupa-
ções para a todos manter na ação. Nao era bastante
intenso o comércio, na Dinamarca, para produzir êsse
efeito; a. esterilidace das terras não ccnvida-,,a à
lavoura, e os exercícios do espírito ficavam restritos
a uT pegueníssimo número de pessoas. O rei, medi-
tando nos meios de encontrar o,utro expediente, refle-

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30 PADRE ROHRBACIIER

tiu que a maior glória jamais adquirida pela Dinamarca


fôrá a conquisla da Inglaterra, realizada em 1 01 6
por Canuto o Grande, e em seguida inutilizada pelos
seus sucessores. ]ulgou que, se tentasse conquistá-la
de novo, ocuparia suficientemente bem o poYo'
Comunicou, urri-, o propósito a Ola[, o mais velho
dos irmãos, e, ouvindo-lhe o conselho, anunciou-o ao
povo. A morte de Santo Eduardo da Inglaterra tor-
nava favorável a conjectura.
Mas o santo rei Canuto não imaginava que seu
irmão Olaf , conquistado talvez pelo dinheiro de Gui-
lherme da Normandia, o traía e de todos os meios se
valia para Íazer malograr a expedição, umas vêzes
com fíngidos atrasos, outras com palavras insidiosas
espalhaáas entre os grandes e os militares. Canuto,
descobrindo a trama, rumou, à testa de uma tropa
escolhida, para Slesvic, com tal diligência, que. lá
surpreendeu Ola[. Convenceu-o do crime cometido e
ordenou aos soldados o agrilhoassem. Recusaram-se
êstes, pela devoção que tinham para com os reis,
e por ácredita.e* que os grilhões eram mais duros
que a propria morte, visto quc os laços constituem
sinal de condição baixa e servil, ao passogue a morte
á comum uo, ho-ens. Mas o príncipe Erico, outro
irmão de Canuto, julgando-se obrigado a preferir a
obediência devida ao rei, em coisa tão justa, ao afeto
por um irmão traiçoeiro como Olaf ,.1ã9 se p:jou de
iur", o que não queriam f.azer os soldados. Olaf foi
agrilhoaáo e, por mar, enviado a Flandres, onde o
encerraru- ,rr-a cidadela. Os grandes que tinham
participado da conspiração não tiveram outra vin-
gança senão a de -a-rranjar novas demoras para a
ãrpãaição do rei. Mediante as secretas solicitações

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VIDAS DOS SANTOS 31

dos emissários dêles, os soldados gue ainda se €rcorl-


travam no exercito debandaram na quase totalidade.
O rei, tendo sempre em mente o serviço de Deus,
acreditou poder valer-se da oportunidade para tentar
estabelecer o pagamento dos dízimos em favor da
Igreja. Para tanto, propôs a todos satisfazer com tal
tributo de piedade, ou pagar grande multa como
castigo pela deserção geral das tropas. Todos esco-
lheram a segunda alternativa, tamanho o horror que
experimentavam pelos dízimos, considerados jugo
insuportável, por serem perpétuos. Canuto, aborre-
cido com a escolha e desejando ainda tentar fazê-los
preferir, a uma grande co,modidade presente, uma
leve imposição que só existiria verdadeiramente para
os que viessem depois dêles, noÍneou comissários para
arrecadarem as multas, pretendendo, dessarte, coÍl-
vencê-los a preferir pagar os dízimos. O rigor em-
pregado pelos comissários na execução das ordens
irritou sobretudo os descontentes que da ocasião se
valeram para erguer o povo contra a autoridade do
rei. Os comissários foram chacinados, e o furor dos
rebeldes chegou a tal ponto que Canuto, não se
julgando seguro no palácio, fugiu para Slesvic com
a mulher e os filhos, de onde se transferiu para a ilha
de FiOnia, com quantos lhe permaneciam fieis e que
não eram em grande número. Ao mesmo tempo deu
ordem de que se cuidasse do gue era necessário para
transportâ-lo, com mulher e filhos, às Flandres, em
casa do cunhado.
Entretanto, os rebeldes, orgulhosos com a reti-
rada do soberano, por êles tida na conta de primeira
vitória, resolveram atacá-lo, mediante o auxílio de
tropas, e tirar-lhe, com a coroa, a vida. Canuto,
advertido de tal plano, quis ir de Fiônia à zelàndia,

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32 PADRE ROHRBACHER

onde se achava principalmente o que lhe restava de


fôrças. Dissuadiu-o um oficial chamado Blacco, em
quem depositava confiança. O traidor, que se manti-
nha em contacto com os rebeldes, querendo distrai-lo,
prometeu-lhe negociar de tal modo com c povo, que
êste voltaria a cumprir o dever. Acreditou-lhe o rei,
e deixou-o partir. O pérfido, apos muitas idas e
vindas, deu-lhe a crer finalmente que tudo havia ficado
resolvido, embora só se tivesse empenhado em perder
o soberano e entregá-lo ao inimigo. Canuto, que à
piedade unia a clemência, preferia combater a tor-
menta implorando a misericordia de Deus, a ter de
abrandá-la com o derramamento do sangue dos súdi-
tos; assim, foi certa vez orar na igreja de Santo
Albano. Lá cercou-o um bando de rebeldes instruí-
dos por Blacco. Os soldados da guarda, chefiados
pelos príncipes Erico e Bento, irmãos do rei, enfren-
taram o inimigo, mais certos de morrerem com o amo
do que de defendê-lo contra tamanha multidão de
gente armada. Bento foi abatido na porta da igreja,
apos disputar durante muito tempo a entrada aos
rebeldes, com extraordinária coragem. Erico, veÍl-
do-se envolvido por um batalhão, abriu caminho a
golpes de espada, mas náo pôde tornar a entrar na
igreja. O rei, reconhecendo inevitável o perigo, aban-
donou o cuidado do próprio corpo para se ocupar
exclusivamente da salvação da alma. Confessou-se
com tranqüilidade, como se não estivesse correndo o
menor perigo, e, estando a orar ao pé do altar, foi
atravessado por uma seta. Morreu no seu sangue,
de braços estendidos, como vítima que se oferecia a
Deus para expiação dos pecados do - povo -e dos
seus, no lugar em que )esus Cristo, tal qual hóstia

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I

VIDAS D OS SANTOS 33

imaculada, se oferecia âo pai para a salvação de


todos os homens. Era o dia l ó de julho de 1081 .
Saxão, o Gramático, autor de grande pêso, gue
viveu no século seguinte, testemunhá gre D.us atãs-
tou a santidade de Canuto mediant" ãiuercos mila-
gres, contra a insolência dos dinamargueses, os quais
pretendiam Í.azer passar tamanho parricídio como ato
de piedade, libertador da tirania dã país. Acrescenta
que os miseráveis, não logrando ofuscar o brilho dos
milagres, gue ainda continuavam no seu tempo em
favor do santo, preferiam dizer gue Deus lhe havia
perdoado as injustiças, concedenão-lhe a penitência
na hora da morte. No entanto, os descend;t.;
reconheceram a santidade do rei Canuto por um culto
público prestado à sua memória. para,'d, q;tqr;;
modo,. expiarem o crime cometido pelos pais,
ram altares e igrejas em honra d" são cu"rtã, "rgr"_
1
estabeleceram as festas em l0 de julho, dia da sua
morte, e em 19 de abril, dia da sua translação ( I .
)

***

(1) Acta §S., 10 de julho. Elnot et Saxo Gram.

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I

SÃO VOLSTANO
Bispo de W orcester

Em 1062, os legados do papa Nicolau II, visi-


tando a Inglaterra, para porem côbro aos males das
suas igrejas, detiveialr-se no mosteiro da catedral
de Wõrcáster. O preboste do mosteiro era Volstano,
que tratou os legádos com tôda humanidade Ê libe-
ralidade possíveis, sem todavia abandonar a regu-
laridade á austeridade habituais. Passava as noites
cantando salmos, com freqüentes genuf lexões; em
três dias da semana, não se nutria e mantinha-se
calado; nos outros três dias, comia repolhc's com pão;
no domingo, alimentava-se de peixe e bebia vinho.
Todos os dias, nutria três pobres e lhes lavava os
pU.. Os legados admiraram aquela maneira de vida
e os ensinamentos dados por Volstano mediante tal
exemplo. Portanto, de regresso à côrte, e tratando-se
de eicolher um bispo de Worcester, propuseram
Volstanoi e, dando a conhecer os méritos que possuía'
f àcilmente obtiveram o assentimento
do santo rei
Eduardo. os dois arcebispos stigand de cantuária
e Aldred de York consentiram nisso; e o que deter-
minou o último foi o fato de considerar Volstano
varão simples, capaz de sofrer as suas usurpações

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I
VIDAS DOS SANTOS 35
I
sôbre a igreja de worcester, da quar pretendia as
rendas.
Volstano foi enviado depressa; mas ao chegar à
côrte, a dificuldade foi obrig â-lo a aceitar o bisiado.
Foi preciso que os legados empregassem tôda a ãuto-
ridade do
-papa._ um recluso, chãmado vulsin, que
vivia na solidão havia quarenta anos, ajudou-o a dáci-
dir-se, censurando-lhe vivamente a obstinação e deso-
bediência. Deu-lhe o rei a investidura do Lispado de
Worcester, e êle foi sag-rado em York pelo arcebispo
Aldred, no domingo, 8 áe setembro de í062, Deveria
ter sido sagrado pelo arcebispo de cantuária, de
quem era sufragante; mas Stigand, que então ocupava
o trono, fôra interditado pelo-papa, por havê-lo ,rur-
pado de Roberto, ainda íirro, reú prãdecessor, fugido
da Inglaterra em- conseqüência dá luta política
normandos e inglêses. Todavia, foi a êie, ou melhor "itr.
ao seu trono, que são volstano prometeu obediência,
e Aldred declarou não pretender absolutamente que
tal ordenação lhe proporêiorrusse o menor direito ,oÉr"
o novo bispo.
São Volstano contava, então, quase cinqüenta
anos, e nascera no cc,ndado de Warwick, dê pais
piedosíssimos; pelo fim da vida dêles, ambos tinham
abraçado a vida monástica. Depois da morte dos
pais, ligou-se a Britégio, bispo de worcester, o qual,
impressionado com os seus méritos, o ordenou aua".-
dote ainda jovem, e lhe ofereceu um curato de boa
renda perto da cidade; mas Volstano o recusou e,
pouco tempo depois, abraçou a vida monástica na
catedral da mesma cidade. Passou pelos .urgm Jã
mosteiro, foi mestre de crianças, cantor e sacristão.
Todos os dias, recitava os sete sarmos com uma genu-
flexão em cada versÍculo, e tôdas as noites recitava

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36 PADRE RO HRBACHER

também o grande salmo cento e dezoito, e se pros-


ternava sete vêzes por dia diante de cada um dos
dezoito altares da igreja.
Fizeram-,lo, finalmente, preboste do mosteiro
pelo ano de 1046; e em tal lugar cuidava náo sõmente
ão, -orrges, senão tambrám do povo. Desde a manhã'
apresentava-se à porta da _igreja parl socorrer os
oprimidos ou batizar os filhos dos pobres, pois iâ
tinham os sacerdotes introduzido o prássimo costume
de não batizar gratuitamente. A caridade de Vols-
tano atraíu gtuãd" acorrência de gente das cidades
e do campo, ricos e pobres, e era como se não hou-
vesse criança bem batizada, a não ser pe]?s suas
*ãor, iurnurrhu u Íama da sua santidade. Notando
tambrám a corrupção dos costumes causada pela falta
de instrução, pôs-se a orar na igreja todos os domin-
gos e diás ,oi.r.r. Um monge sábio e elogüente o
i"preerrdeu por isso. O santo varão retrucou tÍalrt'
qdilamente ôr" não havia coisa mais agradável .a
Deus do qu; chamar de volta p{r_a o caminho da
verdade o pobre povo transviado. Na noite seguinte,
teve o monge uma visão tão espantosa' que ao raiar
pedi"u perdão a Volstano, chorando copiosa-
do dia -O
mente. santo, ia bispo, continttou e até aumentou
as prádicas e as boas obras ( 1 )'

tti

(1) Á.cta parte II.

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O BEM-AVENTURADO ANDRÉ GREGO
Dominicano

O bem-aventurado André Grego nasceu, no


comêço do século quinze, em Pescheria, na. diocese
de Verona, Itália, de pais pobres e virtuosos. Entrou
pára o meio dos dominicanos e, ao ser ordenado
sacerdote, foi enviado para junto do padre Domenico
de Pisa, que ia em missão para Valtelina. São Do-
menico, outrora, visitara a região e lâ deixara pro-
fundas recordações da sua caridad e e zêlo. Resolveu
André seguir as pegadas de tão glorioso predecessor.
Por várias vêzes percorreu em todos os sentidos ague-
las regiões montanhosas e selvagens. As maiores
dificuldades, as mais cruéis privações, não coÍrs€-
guiam detê-lo. Visitava as choupanas dos pobres
lenhadores e com êles partilhava da frugal refeição,
composta de pão negro, castanhas e água de uma
fonte vizinha. Um pouco de palha lhe servia de
leito. Continuamente ocupado com a pregação do
Evangelho, para descansar das fadigas ia visitar os
pobres e enfermos, a fim de os fazer participar tam-
bém dos frutos do apostolado. Mandou construir
várias igrejas e instituiu diversos mosteiros Írâs §fâr-
gantas e nos vales mais afastados daguelas monta-
nhas; mas a sua humildade e ardor pela pregação

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38 PADRE ROHRBACHER
t

evangelica o impediram constantemente de aceitar a


direção das casas religiosas por êle fundadas e
fixar-se numa delas; às vêzes, porém, retirava-se para
a de Morbega, a fim de se dedicar à contemplação
e à prece.
Passou André guarenta e cinco ano,s em Valte-
lina e nas regiões circunvizinhas e, apesar das fadigas
e dos trabalhos excessivos, durante tão longo período
'de tempo, conseguiu atingir avançada idade. A
morte sobreveio em 18 de janeiro de 1485. Foi-lhe
o corpo sepultado sem nenhuma pompa; vários mila-
gres, porém, lhe ilustraram a humilde campa, e o
povo acabou por lhe erguer um monumento mais
suntuoso. Quando, effi 1460, a peste devastc,u Mor-
bega e as cercanias, os magistrados da cida de f.ize-
ram uma promessa em honra do bem-aventurado
André, e em 1461, após a completa cessação do fla-
gelo, transferiram-lhe os restos para a igreja em gue
sempre estiveram desde a época e em que constituíram
obleto da particular veneração dos fieis do país. O
papa Pio VII aprovou o culto do bem-aventurado
André de Pescheria mediante um breve datado de
23 de setembro de 1820 ( I ).

**r

(1) Acta SS., maio, t. 14, e Godescard, 19 de janeiro.

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I

sÃo BAsslANo (*)


Bispo e Confessor

Bassiano era filho de pai idólatra, que o desejava


como sucessor no govêrno de Siracusa. O filho,
porém, às escondidas, atraído pela religião cristã,
c,rocurara instruir-se, converterâ-se e recebera o
batismo.

O pai, quando soube do que se passara, e de


que o, jovem agira à revelia, enfureceu-se, enviando
quem o buscasse em Roma, onde Bassiano estudava
havia algum'tempo.
Sabedor de quc o pai mandara oficiais condu-
zi-lo de volta a Siracusa, para que renegasse a fesus
Cristo, deixou Roma, f ugindo para Ravena. Ali,
acolhido pelo bispo, foi feito sacerdote e ficou ligado
ao serviço da Igreja.
Aos cinqüenta anos, morto o bispo de Lodi, São
Bassiano foi eleito para lhe suceder. À entrada em
Lodi, todo,s os doentes de lepra foram curados. Em
seguida, ecoando por tôda a cidade, ouviu-se uma
voz, clara e forte, que descia do céu, a dizer:
Doravante, nesta cidade, ninguém sofrerá
desta terrível moléstia!

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40 PADR,E ROHRBACHER

São Bassiano foi grande amigo de Santo Am-


brósio, com o gual, sem esmorecimento, combateu o
arianismo. E, quando Santo Ambrósio, no leito
de morte, se despedia do mundo, São Bassiano lhe
rendeu os últimos deveres.
Virtuoso, caritativo, penitente, amigo da pobr eza,
São Bassiano desapareceu em 413.

***

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sÃo LAUMER (*)
t
Abade e Confessor

Laumer, filho de pais pobres, nascido em Neu-


ville-la-Mare, vilarejo pertencente à diocese de
Chartres, trabalhava com o pai: era pastor, respon-
sável pelo pequeno rebanho que levava às invernadas
pela manhã e recolhia à tardinha.
Nas horas vagas, quando o sol esquentava e os
animais, buscando as sombras, se aquietavam, Laumer
estudava as lições que um padre, o Padre Cherimir,
lhe passava todos os dias.
Moço quieto, dado à penitência-, piedoso, repâÍ-
tia com os pobres o gue de casa trazia para comer.
E ia matutando, na solidão do campo, como poderia,
deixando o serviço do pai, viver solitàriamente. Que
outro modo senão fuqindo?
São I-aumer, uÍfi belo dia, frrgiu. Fuqiu e de-
mandou a f lo,resta de Perche, on d e construiu uma
cabana e principiou a servir o senhoi com orações,
jejuns e penitências outras.
Uma noite, julgando que o Santo na choça
tivesse escondido grande importância, alguns ladrões
o assaltaram. Calmamente, aproveitando-se da opor-
tunidade para levar pecadores a Deus, doutrinou-os
todos.

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PADRE ROHRBACHER

Foi tal gente que principiou a propalar por tôda


a região a santidade de Sáo Laumer. Logo uma
multidão veio visitá-lo. E, da multidão, várias pessoas
ali com o Santo ficaram, desejosas de Ievar a mesma
vida e de se aperfeiçoar nas virtudes.
Um mosteiro, mais tarde, surgiu onde fôra a
rude cabana. Em 575, fundou São Laumer outro
mosteiro, o de Moutier de Perche. Os milagres que
f.azia, que Deus lhe conferiu tal dom, Ievaram-lhe
o nome paÍa longínquas regiões.
O bispo de Chartres, desejoso de conhecer São
Laumer, escreveu-lhe, convidando-o a uma piedosa
entrevista, mas o servidor de Deus, que atendera o
convite, pouco antes de chegar a cidade, adoeceu, já
centenário e cansadíssimo, morrendo pouco depois,
diante do bispo, que correra a confortá-lo nos últifrros
instantes. Era em 593, e São Laumer, segundo os
escritores mais autoúzados, morria com mais de
cem anos.
Enterrado em São Martinho do Vale, perto de
Chartres, passaram-lhe depois o corpo para Corbion.
De Corbion, transladaram-no para o Mans, e do
Mans, com a invasão normanda, para Blois, em 874,
Acredita-se que com o incêndio de 1167 , o que res-
tava das relíquias de São Laumer foi consumido
pelo fogo.

No mesmo dia, na África, os santos mártires


Paulo, Gerôncio, |anuário, Saturnino, Sucesso, |úlio,
Cato, Pia e Germana, mortos durante as perseguiçóes
pagãs.

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VIDAS DOS SANTOS 43

Na COrsega, Santo Apiano, bispo e mártir. Titu-


lar da igreja catedral de Sagona.
Na diocese de Bayeux, São Contesto, bispo,
sucessor de são Manvieu. Impossibilitado de corrigir
os costumes dos diocesanos, retirou-se para levar
vida de solit ârio, mas voltou ao cargo usÁi* que se
restabeleceu a calma na sua Igreja.
Em Viviers, Santo Arcôncio, bispo e mártir, do
século VIII ou do século IX, massacrado pelo povo
daguela cidade por ter defendido com zêlo e intiepi-
dez as liberdades de sua Igreja. O corpo, venerado
na_ igreja de São Vicente, foi
Queimado, em 1568,
pelos calvinistas.
Em Corfon, Santo Arsênio, arcebispo no nono
século, nascido em Bitínia, filho de pai ;údeu e mãe
cristã. Arcebispo de corfon em 800, foi prudente,
sábio e caridoso. consagrava as noites á oração,
passando-âs numa gruta qie mais tarde ficou conhe-
cida como Cripta de Santo Arsênio. Morreu numa
viagem gue f.êz à constantinopla, sendo enterrado na
sua catedral.
Na Escócia e na Inglaterra, Sao Blaithmac,
mártir, filho dum rei da Irlanda. Renunciando o
século, entrou num mosteiro e levou vida religiosa.
Virtuoso, penitente e firme, foi escolhido pelos ir"maos
como abade. Massacrado com vários de seus mon-
ges,
3e^los
piratas gue invadiram e saguearam a região
em 793.
Santo Henrigue-, bispo
-dode Upsal, e mártir. Apli-
cando-se com zêlo fora comum à conversão ãot
infiéis, foi ardorosamente secundado pelo rei Eric IX,
gu_e construiu uma catedral gue Henrique consagrou
sob a invocação da Assunçãã. Propondo-se u ãor-

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44 PADRE RO HRBACHER

verter um pecador, foi lapidado pelo próprio homem


que desejava ver no caminho do Senhor (1157).
Na diocese de Arras, a bem-aventurada
Beatriz, virgem, filha dum rico homem de Lens.
Com dinheiro da família, comprou um terrerto nas
vizinhanças de Mons, lugar solitário, cheio de mato
e de espinheiros (npinlieu, Espinheiro ) , onde gligiu
uma igreja em honra da gloriosa Virgem Maria. Mais
tarde, construíndo um claustro, ali se estabeleceu, com
companheiras, vivendo sob a direção duma santa reli-
giosa, chamada Raimburga, vinda especialmente dum
outro mosteiro para aquêle mister. A bem-aventu-
rada Beatríz cle Lens faleceu em 1216, depois de
muitos anos de retiro, servindo ardorosamente o
Senhor com orações, jejuns e tôda a sorte de morti-
ficações.

No mesmo dia, em Rom a, na Via Cornélia, os


santos mártires Mário, Marta, sua mulher, e os filhos
Audíface e Ábaco, nobres persas os quais, na época
do imperador Claudio, tendo chegado à cidade por
devoção, sofreram o suplício das bordoadas, do cava-
lete, do fogo, das unhas de ferro; finalmente, -após
terem as mãos cortadas, terminaram o martírio: Marta
foi afogada num pantanal; os demais foram decapi-
tados ot corpos queimados. Em Esmirna, São
"
Germânico, martirizado durante a perseguição de
Marco Antonino e Cômodo; tratava-se de um jovem
na flor da idade; mediante o auxílio da graça, tendo
vencido o temor que podia causar-lhe a fraqu eza da
carne, atacou ousadamente a fera que, segundo â serr-
tença do )uiz, devia devorá-lo; recebeu tamanhas
dentadas gue mereceu ser incorporado ao verdadeiro
pão, |esus- Cristo, por guem soÍreu a morte. Em

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VIDAS DOS SANTOS

Espoleto, Sao Ponciano, o gual, na época do impe-


rador Antonino, foi cruelmente chicoteado por ordem
do juiz , Fabiano, qlrç o obrigou a caminhar sôbre
carvões ardentes; fê-lo o santo sem o menor dano, e
foi amarrado ao cavalete, e assim lançado a uma
masmorra, onde teve a ventura de ser consolado pela
visita dos anjos; finalmente, após ter sido exposto a
furiosos leões, e coberto de chumbo derretido, pere-
ceu pelo gládio.

***

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20: DIA DE IANEIRO
SÃO SEBASTIÃO
E os seus companheíros, mártires

O imperador Carino vivia ainda, quando dois


irmãos gêmeos, Marcos e Marceliano, foram aprisio-
nados em Roma. [fm cristão, criado nos cargos mili-
tares, ia freqüentemente .visitá-los. ' Era Sebastião,
nascido em Narbona, na Galia, mas criado em Milão,
de onde era originária a família. A princípio, resol-
vera não encetar a carreira das armas; o desejo de
servir os irmãos nas perseguições que sofriam levara
a melhor contra o pendor. Aceitou, portanto, um
pôsto, e [.êz-se amar dos soldados e de todos. Sob
as vestes militares, dedicava-se incessantemente às
boas obras do cristão, conservando todo o segrêdo
possível: Por |esus Cristo não tinha mêdo de perder
nem a vida nem os bens; mas o segrêdo lhe propor-
cionava mais meios de animar os cristãos que sucurrl-
biam sob a violência dos tormentos, e de garantir
para Deus as almas que o demônio pretendia raptar.
Visitava todos os dias os dois irmãos Marcos e Mar-
celiano, os quais padeceram com constância as ver-
gastadas que os dilaceravam, e foram condenadrs a
ter decepada a cabeça.

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I I I

VIDAS D OS SANTOS 47

Os dois irmãos pertenciam a úma ilustre famÍlia


de senadores. Com o pai e a máe, velhos e ainda
pagãos, tinham mulheres e filhos. A família, ven-
do-os condenados à morte, obteve do prefeito de
Ronia, chamado Cromácio, um pra zo de trinta dias
para experimentar fazê-los mudar de resolução. Foram
os dois postos na casa do primeiro escrivão da pre-
feitura, Nicóstrato, onde os conservavam de mãos
acorrentadas. O pai, a máe, as mulheres e os filhos
ainda pequeninos, além dos amigos, tudo envidaram
para os convencer; já começava a alma deles â cüÍ-
vâr-se diante de tantas lágrimas, quando Sebastião,
chegando, os reanimou com palavras cheias de fogo,
que a todos impressionaram. O santo parecia envolto
numa luz divina. Quando terminou de falar, 7fiê,,
mulher de NicOstrato, atirou-se-lhe aos pés, tentando
dar-lhe a compreender, pelos gestos, o gue dêle
desejava, pois havia seis anos gue uma enfórmidade.
lhe Íizera perder a palavra. Sebastião Íêz o sinal da
cruz sôbre a bôca da grulher, pedindo em voz alta
a |esus Cristo gue se di§rasse cúrá-la, se tudo quanto
acabara de ouvir era verdade. O efeito seguíu-se à
palavra , e Zoê pôs-se a louvar o santo e a- declarar .
que acreditava no gue êle acabava de dizer. Vira
um anjo descido do cêu, segurando um livro aberto
diante dos olhos de Sebastião, no qual tudo quanto
êle dissera estava escrito palavra po;palavra. Ni.ór-
trato, diante da cura da mulher, lançou-se igualmente
aos pés do santo, pediu perdão por haver mantido os
dois mártires aprisionados, tirou-lhes os grilhões e
rogou-lhes gue se fôssem para onde mais lher cor-
viesse, declarando gue se consideraria Íeliz por ser
aprisionado e morto no lugar dêles. Marcos ê Mar-

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48 PADRE ROHRBACHER

celiano louvaram tão perfeita Í.ê, mas nem seguer


pensaram em abandonaÍ a luta para a ela expor outro.
A graça não se deteve em NicÓstrato e sua
mulher; espalhou-se sôbre todos os presentes. Marcos
e Marceliano firmaram-se oâ f.é, e tiveram o corisôlo
de ver os gue tantos esforços tinham envidado pzra
arrancá-los a |esus Cristo tornar-se humildes discí-
pulos. Marcos dirigiu-lhes palavras em que, diri-
gindo-se particularmente ao pai e à mãe, à mulher e
à do irmão, os exortou a defender corajosamente a
Íê. gue pretendiam abraçar, e a não temer o gue o
demônio poderia Íazer paÍa impedi-lo; a desprezar,
por uma ventura sem limites, uma vida gue mil 'aci-
dentes nos podem f.azer perder, e gue só acarreta
aflições e crimes. Todos choraram, unindo o pesar da
infidelidade passada às ações de graças gue presta-
vam a Deus por os ter libertado. Nicóstrato afirmou
.
gue não beberia nem comeria, se não recebesse o
santo batismo. Mas Sebastião respondeu-lhe gue,
antes, devia mudar de dignidade, tornar-se oficial
de )esus Cristo, em vez de oficial do prefeito e
levai-lhe todos os presos gue lhe tinham sido confia-
dos, para gue fôssem categuizados. "Porgue se o
'diabo,
acrescentou, se esforça por raptar os gue Per-
tencem a Cristo, nós, pelo contrário, devemos esfor-
Çâr-rros por restituir ao Criador aquêles gue o
inimigo injustamente üsurpou" , _9 assegurou gue se
ofereéesse tal presente a |esus Cristo, logo no início
da conversão, ãão tard aria em ser recompensado pelo
martírio. Nicóstrato foi procurar o carcereiro, cha-
mado Claudio, para ordenar-lhe gue the conduzisse
todos os presos,-sob o pretexto d_e gue desejava tê-los
prontos para a primeirá sessão. Sebastião dirigiu-lhes
uma exortação, após a gual, vendo gue provavam

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VIDAS D OS SANTOS 49

a mudança de coração pelas lágrimas, mandou lhes


fôssem tiradas as correntes, indo então chamar um
santo padre, de ngme Policarpo, oculto em virtude
da perseguição, para levá-lo à presença de Nicós-
trato. Policarpo, depois de se congratular com os
novos convertidcs, e de lhes dizer gue esperassem
na misericórdia divina, prescreveu-lhes o jejum até
o cair da noite.
Entretanto, Claudio disse a Nicóstrato que o
prefeito ficara descontente com o f ato da pr.i"rçu
de todo_s_ aquêles presos, e gue dele exigia satisfà-
ções. Nicóstrato ruÍnou pa.ra lâ imediatamente, e
satisfez prefeito, afirmando-lhe gue tudo Íizera
-o
par? ainda mais espantar os cristãos postos sob a sua
yisilância, mediante o exemplo do ruplicio dos outros.
Tratava-se de uma mentíra, mas 'desculpável em
p_essoa ainda pouco instruída, Voltando, contou a
claudio, que o aco,mpanhava, tudo guanto sucederà
em sua casa, particularmente a cura da mulher.
claudio comoveu-se e foi procurar duas crianças gue
tinha, uma das guais era- hidrópica, sendo ; ouiru
afligida por diversos males. Cólocou-as diante dos
santos, dizendo que dêles esperava a saúde dagueles
pequeninos entes, e que, quanto a êle, acreditaía de
todo-coração em ]esus cristo. os santos garanti-
ram-lhe que as crianças e os demais presentes seriam
curados dos males, apenas se tornassem cristãos. Ao
mesmo tempo, registraram-se os nomes dos que exi-
giam o batismo. Eram Trangüilino, pai dãs dois
mártires, com seis dos seus ãmigos; em seguida
Nicóstrato; castor, seu irmão; clairdio o carcereiro
com seus dois filhos; Márcia, mulher de Tranqüilino,
com as mulheres e os filhos de são Marcos'e sao
Marceliano; Sinforosa, mulher de Claudio, iii,

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PADRE ROHRBACHER

mulher de NicOstrato; e tôda a família de Nicóstrato,


num total de trinta e três pessoas; por fim, os presos
convertidos, dezesseis, o que totalizava sessenta e
oito criaturas.
Foram todos batizados por São Policarp-o. Se-
bastião serviu de padrinho aos homens; Beatriz,
depois mártir, e Lucina foram madrinhas das mulhe-
r"ó. Os dois filhos de Claudio foram os primeiros
batizados, e saíram tão são quanto os outros, não
lhes restando o menor sinal de qualquer enfermidade.
Depois dêles, foi batizado Tranqüilino. Havi a onze
anos que padecia de gôta, e de tal maneira lhe
doíam os pés e as mãos, gue mal suportava que o
carregassem. Nem sequer conseguia levar a mão à
"puru
bôca comer; e sofieu tremendas dores, quando
teve ã. despir-se para o batismo. São Policarpo
perguntou-lhe se acreditava de todo coração- gye
de lhe
i"rür Cristo, Filho único de Deus, seria capaz
devolrrer a saúde e perdoar-lhe todos os pecados, e
o infeliz respc,ndeu em voz alta que reconhecia ser
)esus Cristo filho de Deus, e poder devolver-lhe
a
Áaúde da alma e do corpo; mas pedia apenas a remis-
são dos pecados e, aiáda que conservasse as dores
upOr a sántificação do b_atiímo, náo poderia duvidar
da Íe de |esus Cristo. Aquelas palavras arrancaram
lágrimas de alegria de todo,s os santos, os-guais-rogg-
ru" u Deus co"t cedesse ao enfêrmo o efeito de tão
pura [é. Policarpo, apos ungi-lo .oT a crisma ' pe-Í'
guntou-lhe pela r"grnãu vez se acreditava no Pai, no
Éit o e no Espírito" Santo. Mal o enf êrmo respondeu
que sim, .uráu-re-lhe a gôta num momento, e êle
"Sois o Deus unico e verdadeiro, que êste
""cla*or,
mísero mundo não conhece." Em seguida, f oram
batizados todos os outros, e duraute os dez dias gue

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VIDAS DOS SANTOS 51

sobravam dos trinta concedidos a Tranqüilino para


os dois filhos, os novos cristãos sômente se deáica-
ram a louvar a Deus e a se preparar para o combate,
desejando todos ardentemente o martíric,, inclusive as
mulheres e as crianças.
Findos cs trinta dias, o prefeito cromácio rlâÍr-
dou buscar Tranqüilino, que lhe agradeceu o adia-
1ent9, -por haver conservado os filhos ao pai e
devo.lvido o pai aos filhos. cromácio, não .o-p.".rr-
dendo o significado de tais palavras, disse-lhe ser
preciso que os filhos fôssem oferecer incenso aos
deuses. Tranqüilino, então, explicando-se mais cla-
ramente, declarou-lhe ser cristão, e que por tal meio
se via curado
{u gotu que tanto o ufiigiru antes. o
fato comoveu Cromácio, que sofria da"mesma enfer-
midade. Todavia, impelido sem duvida pela presença
dos assistentes, mandou deter Tranqüílirro, 'direrrdo
que o ouviria na primeirâ sessão. Contudo, ordenou
que o levassem secretamente à sua presença durante
3 noite, e prometeu-lhe bastante dinheiro para que
lhe indicasse o remédio que o havia curado. Trán-
qüilino riu-se do dinheiro prometido e assegurou que
outro remédio não havia senão a .r"rrçu ""-
]esus
cristo; se cromácio quisesse recorrer u bririã ,'rã"-
beria indubitàvelmeníe o mesmo alívio. Dei*ou-o
cromácio partir, peclindo-lhe que trouxesse quem
o fizera cristão, para qye, se tai homem Ih" prá;;:
tesse curá-lo, pudesse abraçar a mesmu r"ligião
Tranqüilino foi imediatamente ter com Sao poli-
carpo, e secretamente o condu ziu ao prefeito, gue
lhe
pro*eteu a meta de dos seus bens, no caso de ser
curado da gôta. Respondeu-lhe policarpo que aquela
transação seria criminosa para um e para outro,
mas
gue fesus cristo era capaz de lhe ilu*i"a, as trevas

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52 PADRE RO HRBACHER

e curá-lo dos males, se nêle acreditasse de todo o


.oruçao. Categuizou-o em seguida, e ordenou-lhe
um ;ã;um de trêá dias, de que êle se desincumbiu com
Sebastião. No terceiro dia, voltaram iuntos à Pfe-
sença de Cromácio, e valeram-se das dores causadas
pelá gôta para lhe falar dos suplícios eternos. Cro-
i"a.iJ deu l-ediatamente o seu nome e o de Tibúrcio,
seu filho único, para se tornarem ambos cristãos.
Sebastião, contudo, aconselhou-o a não desejar o
batismo pelo deseio de ser curado, e sim por um?
questão áe rerdadáira f.ê, e pediu-lhe gu.e, como sinal
áe perfeita conversão, permitisse a quebra de todos
o, ,"u, ídolos, assegurándolhe que não deixaria de
ser imediatamente curado. Cromácio quis que o ato
fôsse realizado por homens seus; mas o santo deu-lhe
a ver gue o diábo poderia preiudicar em virtude da
infidehãade e negligência dêles, e todos haveriam de
dizer que se tratãniã de um castigo por terem abatido
os ídoÍos. Por conseguinte, o próprio Sebastião para
lá rumou acompanhado de Policarpo; e, após orarem,
quebrpram os dois mais de duzentas estátuas'
No regresso, verificaram que Cromácio não es-
tava curadõ. Disseram-lhe, então, que evidentemente
restava alguma coisa por quebrar, ou-que a suq f'e
não era ainda perfeita. Confessou-lhes Cromácio
que tinha uma saleta repleta de ap-arelhos de cristal
p"r" a astrologia, u qrál custara duzentas libras de
ãrro ao pai. Os santós deram-lhe a ver a inutilidade
da astroiogia e de tôdas as predrsões dela tiradas, e
êle, por fiá, concordou em que filg;'em dos- fPare-
lhos o que mais lhes aprourrésre. Tibúrcio, filho de
Cromácio, não se conformou com quererem despe-
daçar uma coleção tão preciosa e Íarai não deseian§o,
tãdavia, impedii a curá do pai, mandou acender dois

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t--

VIDAS D OS §ANTOS 53

fornos e garantiu gue, se fôsse despedaçada a saletá,


sem gue o pai se visse curado, mandaria a êles atirar
Sebastião e Policarpo. Aceitaram os santos â con-
dição, embora cromácio se opusesse. Ao mesmo
tempo em.gue despedaçavam os aparelhos, um jovem,
aparecendo a cromácio, disse-lhe ser enviado de
Jesus cristo para o curar. curou-se, na realidade,
no mesmo instante, e pôs-se a correr atrás do jovem
para lhe beij3r os pés; mas o jovem se opôs, pór não
estar ainda Cromácio santificado pelo bátismó. Cro-
*ácio lançou-se, então, aos pé; de Sebastião, e
Tiburcio aos pés de Policarpo.
sebastião mostrou-lhe gue na'dignidade na gual
se encontrava, não podia deixar de comparecer aos
espetáculos profanos, sem falar do julgãmento dos
processos, onde era difícil se não misturasse com
coisas contrárigs à profissão do cristianismo. E era
diante do prefeito ãe Roma gue se perseguiam os
cristãos. Assim, houve por bem acónselÀar-lhe a
pedir um sucessor,- para libertar-se de tôdas aquelas
ocupaçõ1s do mundo, e cuidar apenas da salvação da
alma. Cromácio pôs em prátiãa o conselh., ; ;;
mesmo dia solicitou dos amigos gue tinha na côrte o
obséguio de o assistirem para tanto.
Iâ próximo do batismo,'pergürtou-lhe policarpo,
entre outras coisas, se renunciava a todos os pecados.
Respondeu ser um pouco tarde para tal
fergunta, mas
gue preferia tornar a vestir-se € a adíar ó butir-o.
Queria perdoar a todos os gue lhe iinh"* dudo moti-
vos de cólera, esguecer o quã lhe era devido, devolver
tudo guanto tivesse tomadô pela violência; tivera duas
concubinas ggós a morte da mulher, e pretendia dar-
Ihes inteira liberdade e arranjar-lhes maridos. poli-
carpo aprovou-lhe o plano, e-disse-lhe que era para

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PADRE RO HRBACHER

a realização de tal renúncia gue se prescreviam ordi-


nàriamente guarenta dias aos gue pediam o batismo.
Tiburcio ,erru^ciou à barra da justiça, com a gual
pretendia havef-se, depois de adguirir bastante efu-
àiçao e elogüência. Rócebeu, entáo, o batismo. Cro-
mácio, depois de renunciar a todos os aÍ.azeres do
mundo, recebeu-o pouCos dias depois. Com êle, foram
batizadas mil e guatrocentas pessoas de sua casa,
as quals ,a oera, antes, a liberdade, dizendo gue os
I

gue começavam a ter a Deus por pai não mais podiam


ser escravos do homem.
Diocleciano, gue passara a ser o único senhor do
mundo com u *ort" de Carino, foi a Roma em 285.
Não sômente conservou Sebastião no ppsto, assim
como os outros oficiais, como também se lhe afeiçoou,
de tal sorte gue lhe deu o cargo de capitão da primeira
co*parrhia ãor guardas prãtorianos, gue pretendia
á"i*t em Româi e enguanto permaneceu na grande
cidade, guis gue o santo se-pie lhe estivesse ao lado.
Maximiano procedeu da mesma maneira'
Entretanto, sendo grande a perseguiçã9 contra
os demais cristãos, Crúácio, a conselho do papa,
época São Caio, chamou-os âo seu lado, ou
"ãqu"lu
*"Íhor, .hu*ot, ao seu lado todos os que tinham sido
.orrrr""tidos havia pouco, e dêles tão bem cuidou gue
não se viu obrigâdo a sacrificar nenhum. Sendo,
todavia, dificil manter ocultada Por mais tempo a sua
mudança, pediu ao imperador licença para retirar-se
tC;ó aoíu, onde posíuía belas terras, fingindo e.star
ã"r";"ro de-recobrãr a saúde. Sabe-se, pela história,
gue os senadores eram obrigados a. residir em Roma,
a não ser- que os dispensuJre a idade ou um favor
;rp*"i. iro*ácio lógrou obter a permissão, e oÍe-
feceu-se para conduzii stla comPanhia todos os
"-
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VIDAS DOS SANTOS 55

cristãos que desejassem segui-lo. Nasceu então uma


disputa entre sebastião e Policarpo, para saber qual
dos dois permaneceria na cidadã oü acompanhària
os novos fieis à campânia. cada um dêles pretendia
ficar em Româ, pârâ mais fàcilmente ir ao encontro
do martírio. p
.nupu terminou a admirável dirputu,
achando que Policarpo, o gual tão dignamente ?x?t-
cia o sacerdócio e possuía a ciência áe Deus, devia
acompanhar os retirantes, a fim de animá-los e dar-
Ihes assistência.
chegado o domingo, o papa celebrou os santos
mistérios na casa de Cromácio e disse aos presentes:
"Nosso Senhor
Jesus Cristo, conhecedo, dá f;;;;;;"
humana, estabeleceu dois graus entre os que nêle
acreditaffi, os confessores e os mártires, para que os
que-se não julgam suficientemente fortes para suportar
o p_êso do martírio, conservem a graça ãu .orriissão,
e, deixando o principal Iouvor aos "soláados de c;irt;:
os quais vão combater pelo seu nome, dêles cuidem
com afinco. Logo, os çlue quiserem irão com nossos
filhos Cromácio ã Tiburcio; e os que quiserem ficarão
comigo na cidade. A distancia na tárra não separa
absolutamente os que a graça de cristo une; e os
nossôs olhcs não sãntirão" a vossa ausência, porque
vos conte-mplaremos com o olhar do homem interior. "
Assim talou o_papa, e Tiburcio bradou: "conjuro-
vos, ó Pai e Bispo dos bispos, não queirais que eu
dê as costas aos perseguidores, pois a minha ,àrt.rrà
e o meu desejo e morrer por Deus, mil ,rêr"r, ,ã
possível, contanto que obtãnha a dignidade dessa
vida gue nenhum rúc"..o, me arreba[ará, e à quar
nenh,m tempo_porá fim." o santo-púr, chorando
de alegria' pediu a Deus gue todor ãr que com
êre
permanecessçm obtivessem o triunfo do
martírio.

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56 PADRE RO HRB ACH ER

Vemos aqui como em São Cipriano, que eram


postos no lugar dos conÍessores, não apenas os que
torrfesravam a fé diante dos tribunais, senão também
os que, para a não negar, se refug-iavam' Vemos
ali ia*bâ* o título de bispo dos bispos dado ao
papa, como no mesmo São Clpriano, ": antes dêle' em
Tertuliano. O papa São Cáio sucedera, em 15 de
dezembro de 283, ac papa Santo Eutiquiano, morto
no dia 7 do mesmo mês, e que, por sua y"'' sucedera
u Sào Félix, martirizado no império de Aureliano,
em 22 de dezembro de 274.
Ficou, portanto, Tibúrcio com o papa' assim como
pai
Sebastiao,' t\4urceliano e Marcos, Tranqüilino,
áei"., Nicóstrato, Zoe, sua mulher' e Castor' seu
ilá;, Ôlaudio e seu irrnão Vitorino, com o filho Sin-
foriano, que se vira curado da hidropisia. Os demais
retiraram-se com Cromácio. O papa fez de Tran-
qüilino sacerdote, e de seus filhos diáconos. Os outros
foram ordenados subdiáconos, exceto Sebastião que'
servindo bastante aos fieis sob as veste. 4. capitão,
foi nomeado, dizem os atos, defensor da Igreja pelo
râ época de São Gre-
;;p;. Érr"^1 título assinalava,empregavam
gono, aquetes que os papas particular-
mente no auxílio e assistência dos pobres. Os santos
não conseguindo
ãr" haviam pã.*urrecido em Romá' com o Papa parl
Jr.orrt.ar lugar seguro, retiraram-se
o próprio palácio áo imperador, para junto de um tal
Càstulo, iristão com tôda a família e adequadíssimo
que, vivendo no-palácio on-de
ô;; o.rltur, uma vez
Lru intendente dos bantros e das estufas, ninguém
dele susPeitava.
La ficavam os santos, dia e noite atarefados com
obte-
as lágrimas, os ieiuns e a pre:e' par?.de Deus
rem a perseverança e a graça do martírio.
Realizavam

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VIDAS DOS SANTOS 57

.também grande número de milagres com os cristãos


que lhes iam implorar a assistêncfa. Tibúrcio, ao sair
certo dia, encontrou um iovem gue, tendo caido àã
grande altura, de tal modo'haviu queÉruáo os membros
gue a coisa.única de'gue se cuidava era sepultá-lo.
Tibúrcio pediu aos paii debulhados em laqrima, ou"
lhe permitissem dirigir-lhe algumas palaíras, pár,
ver se o não curaria. Todos se afastalam. Tibúrcio
proÍeriu sôbre a vítima a oração dominical com o
símbolo, e o jovem se viu imediaiamente refeiio.;;rr;
se nada tivesse sofrido. Retirou-se Íiu,ir.lã, ;;,
pai e a máe correram-lhe no encalço, detiverarn-no,
;
e disseram-lhe : "Fazei cêle vosso araruro, e com
êle
vos daremos todos os nossos bens, pois era nosso
filho único e, de morto gue estava, vós o ressuscitas-
-
t,:r." Respondeu-lhes Tibrircio :',Se fizerdes ;;;;;,
{igo, considerâÍ-rle-ei muito bem pago pela'.uru.;
Retrucaram os pais: "E se vós guiserães ter também
nós por escravos, não nos oporemos; pelo corrtraJo,
1
desejamos ser vossos escravos, .sÊ nos
nos." Tibúrcio, plgando-os pera *áJ,,ulg";J;;ãi;-
ánduziu-ã,
Iugar afastadó da multidão, e ensinou-lhes a
virtude do nome de ]esus cristo. Ao vêlos fi.-"s
no temor de Deus, Ievou-os a caio, e disse, "v*ã-
pila e pontífice da lei divina,-Ã aquel". q*
Xl:l
Uristo conguistou hoje, por meu interméãio; .oo,o
lovo .?rbusto, a minha fé produziu nêres o primeiro
fruto.r O papa batizou o jovem e os pais.
Haviam sucedido muitas coisas de tal natureza
quando santa zoé, mulher de Nicostrãto, foi pri
a
meira em conquistar a parma do martírio. T;"d.
orar no túmulo de são pedro no dia da festa dos
iã;
apóstolos, foi prêsa e levada ao magistrado.
êste obrigá-la a oferecer incenso u uá,
a;;;
-.statueta
de

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58 PADRE R,O HRB ACHER

Marte. Respondeu-lhe ela: "Quereis obrigar uma


mtilher a sacrificar a Marte, para mostrardes que -o
vosso Marte é querido pelas mulheres. Mas se
pôde
,irãr- pudor á impudica Vênus, nada conseguirá
"
certamente contra mim, que trago na testa o troféu da
fê; não sou ., qu". lría contia êle com as minhas
iã.çu' pelo .orrtrario, forte da virtude de meu Senhor
a vós e ao vosso
|esüs iristo, desprezo igualmente
ídolo." O magistrado mandou'à pàÍ-à a masmorra' e
Santa Zoê la ficou cinco dias sem beber e sem comer,
sem ver luz de nenhuma espécie e sem ouvir outra
Passa-
coisa que as ameaças que 11,á eram dirigidas.
dos seis diut, o prefeiio, informado do gue sucedia'
ordenou a en[orôu.t.r, numa árvore pe19 pescoço
e
uma fogueira. A
;;il .ub"lor, embaixo acendessem
o amarrado a uma
santa entregou a alma. corpo
p"atu foi láçado ao Tibre, de mêdo' diziam os pâ-
gão., que os iartidários de Cristo dela fizessem uma
deusa.
A .de o martírio
santa apareceu a Sebastião aP-os
para lnformá-to da morte que acabara sofrer. Se-
[astião descreveu a visão aos outros, e Tranqüilino
apressou-se eÍil sair, dizendo-se eÍlvergonhado
d:-o
prevenirem *,rth"t"p, e- foi orar no túmulo de São
Furlo, no dia da oitava dos apóstolos. Foi prêso.como
desejava, e morto q"1" poYg a pedradas' sendo-lhe
o corpo atirado ao Tibra NicOsirato, Cláudio, Cas-
ior, Vitorino e Sinforiano também foram presos 9]an,
à
do procuravam os corpos dos mártires, e conduzidos
chamado Fabiano'
;;;;;;ã a" p.efeito' da cidade' durante dez dias, umas
iirforçàu-se êste, inütilmente,
vêzes por espantar os santos com ameaÇas' outras
por .árrq,ri.à-1o, mediante lisonias. Finalmente,
'fulo, do caso aos imperadores gue então se eocoÍl-
i

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I VIDAS DOS SANTOS
I

59

travam em Roma. ordenaram êres g.ue os santos


Íôssem torturados três vêzes; não havendo, p"ré*
tormento capaz de abatê-los, mandou Fabiano gue
fôssem atirados ao mar.
um ladino, chamado Torguato, fingindo-se
ainda cristão, embora tivesse renunciado à fe,"uniu-se
ao grupo do santo papa Caio. [,evava uma vida
bastante diÍerente da dds outros. Tibúrcio não supor-
tava vê-lo arrumar o cabelo, comer constantemente,
beber com excesso, brincar nas refeições, ter gestos e
maneiras efeminados, exibir-se por dLmais lirriemente
às mulheres, evitar jejuns e pr"ier, e dormir ."qu-u"t"
os outros vigiavam e passavam a noite a entoár lou-
vores a Deus. Repreeldia-o severamente, i";q;;t"
fingia entristeceúe. contudo, atraves aós","u, áãi,
arranjou maneira de f.azê-lo prender e, para melhor
disfarçar a trama, deixoü-se
ir"rrder *- êle e levar
à presença do prefeito Fabiáno, onde, interrogado,
respondeu gue era cristão, gue Tiburciã era seu amo,
g qu-e faria tudo guanto o ,risse f.azer. Tibúrci; ;;-
fundiu-o com üía elogüência e desmascarou-lhe a
tramaperante o juiz. Disse-lhe Fabiano: "Andaríeis
melhor em cuidar da vossa sarvaçã" ;á; a""pr"ru"áã
as ordens dos prÍncipes. Não po*o garantir melhor
a minha salvação, répücou - Tibur.i",
Iü" a"rpr"r;;ã;
os vossos deuses e deusas, gue confãssandô ,"" ,á-
g"ll. |esu.1 Çristo o meu úeus." Disse-lhe ainda
.babiano: "vol.tai para o seio de vossu ru*itiu,--,êã;
o gue vos manda ser a natur eza, pois de nascimento
tão nobre, caístes tão baixo gue vos encontrais na
conjectura de sofrer o suplício, a infâmia
e a morte.,,
Rerrucou-lhe Tibúrcio: ,Ofr,
d;ã;,-
I_h,oso juiz possuem os roma"óri-É;;ã;;
qu" maravi-
me recuso a
adorar a prostituída vênus, o incesíuoso
|upiter, o

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60 PADRE RO HRBACHER

finório Mercúrio, e Saturno, assassino de seus Íilhos,


desonro a minha raça e recebo a marca da infâmia!
ú;úe adoro o únicosuplícios!" Deus verdadeiro, ameaçais-
me com u *ori" pelos Fúiano mandou
imediatamente acãnder uma fogueira e ordenou-lhe
caminhasse de
q"á ãfa atirasse incenso ou sô6re ela
iã "ã"*alços. Tibúrci o Íez o sinal da cruz e cami-
,rhog sôbreos carvões sem sofrer a menor dor; depois,
desafiou o iuiz a colocar apglas a Tão na qg'u
"Quem não sabe, disse
fervente, e0 ,ro*. de ]upits1.-
magia?
;ü;;iuro, gue o vosso Cristo vos ensinou não me
Calai-vos,'dàrgraçàdo, replicou Tiburcio,
façais a injúria d""proi"rir diánte de mim com furiosos
lábios tão ruãruaã nome." Fabiano, encoleúzado,
o condenou iáediatamente a perder a cabeça como
iniY-
blasÍemo e culpado lloi de haver proÍerido atrozes onde
rias. Tibúrcio levado u ,- lugar da cidade,
o executaram, e onde foi sepultádo Por um cristão no
gue lá se encontrava; mais íarde, Deus realizou
áàt*o lugar grande número de milagres'
O perfidã Torquato Íêz ainda enÍorcar Cástulo,
o urrÍitrião dos crisíãos. O santo foi interrogado
e

torturado três vêzes, e, não deixando nunca de-per-


sistir nas suas convicções, atiraram-no a urn fôsso
;õ;" o qrul lançarqm um monte de areia' Os €rr
dois
se-
i;ã;r, úur.o, ã Mur.eliano, foram detidos
guida e amarrados a um poste' com "t P::^[Y*
em tal
Dor preqos. Passaram um dia e uma noite
por
I'.pf-r[i"," ã- tirr"lmente morreram, atravessados
lanças, po, orà"- do juiz. Foram sepultados a duas
;lh;; ã"-Ro*a, num cemitério gue dêles recebeu o
'^--
nomg.
epós haver Sebastião fortalecido tantos mártires
combater
contra o r.*ãrãÃ-""p1ícios, e encorajado a

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VIDAS DOS SANTOS 61

herôicamente pela coroa da glOria, deu finalmente a


conhecêr a todos o gue êle próprio era. Diocleciano,
a quem o prefeito narrou o sucedido, mandou-o cha-
mar e censurou-o por se esquecer das obrigações gue

Sã,o Sebastião, por André Ma^ntegna.

lhe devia. Respondeu o santo gue, notando haver


loucura em pedir favores e socorros a pedras, havia
rncessantemente adorado Cristo e o Deus do céu, para
a salvação do príncipe e de todo o império. Tao
sábia resposta não satisfez absolutamente Diocle-

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PADRE RO HRBACHER

ciano, gue entregou o santo às mãos dos arqueiros


da Mauritânia, os quais, por ordem sua, o vararam de
flechas. Deixararn-rlor depois, por morto no lugar.
Mas lrene, viúva de São Cástulo, tendo acorrido para
sepultá-lo, encontrou-o ainda com vida e levou-o para
casa, no próprio palácio do imperador, onde em pouco
tempo o santo recobrou a saúde. ExortavâÍI-flo os
cristãos a que se retirasse. Mas, após invocar a
Deus, colecou-se numa escadaria pela qual passava
Diocleciano, e censuroü-o pela infustiça com a qual
os seus pontífices o levavam a perseguir os cristãos,
acusando-os de inimigos do estado, êles que oravam
continuamente pelo império e pela prosperidade dos
exercitos. Diocleciano surpreendeu-se bastante ao
vê-lo, pois o julgava morto, segundo a ordem que
dera. Disse-lhe o santo que ]esus Cristo lhe devolvera
a vida, a fim de que protestasse diante de todo o povo
ser extrema injustiça perseguir os servidores de
Cristo. Diocleciano mandou imediatamente que o
levassem ao hipódromo do palácio, onde o abateram
a bordoadas. De mêdo, porém, dizem os atos, de
que os cristãos fizessem dele um mártir, Iançaram-lhe
de noite o corpo a uma cloaca. O santo apareceu a
uma mulher chamada Lucina e, mostrando-lhe o ponto
em que estava o corpo, pediu-lhe o fôsse enterrar nas
catacumbas, na entrada da gruta dos apóstolos. Lu-
cina executou religiosamente a ordem, e passou trinta
clias ao pé do túmulo do santo. Isso se verificou,
segundo parece, no ano de 228 ( 1 ).
frtg*
(1) Acta S. Sebast.,jan.; SS Marcell. et Marc., 18 de junho;
20
SS. Tiburt. et Chromat., 11 agôsto., etc.; apud Acta sanctorum;
Tillomont et Baillet.

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sÃo FABIÃO (*)
Popa e Mártir
São Fabião foi o sucessor do papa Santo Antero
na cátedra de São Pedro. Conta-se que, vindo do
campo com uns amigos, encontrou o povo e o clero
reunidos na igreja para nomear um novo papa. Eis
senão quando, uma pombinha, surgida ninguém sabe
de onde, lhe pousou na cabeça.
A multidão, calada pelo sucesso, logo prorrom-
peu a gritar, alegremente:
E êle! Êle é digno, êle é digno!
Era como que eleito por Deus. Fabião, confuso,
resistiu, mas fci vencido pelo povo e pelo clero.
São Fabião foi, assir, o primeiro papa saído dum
simples laico e uma das primeiras vítimas feitas pela
acirrada perseguição movida pelo imperador Décio,
conforme nos deixou patente uma carta de São Ci-
priano, escrita poucas semanas depois do martírio.
Acredita-se que tenha sido o sucessor do papa
Santo Antero o executor dos diversos trabalho. ,ot
cemitérios, notadamente no de Calixto. Foi Fabião
quem fêz vir da Sardenha o corpo de são Ponciano,
enterrado naquela necrópole, para onde tambám foram
repousar seus restos mortais, em 250.

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SANTO EUTÍMIO, O GRANDE (*)
Abade
Eutímio era de Militene, onde nasceu em 377,
quando tinha cessado uma perseguição que *":"
sentir por longos anos, motivada pelo arianismo. Tudo
pareciá ser diferente e prometedor com Graciano e
Teodósio.
Os pais de Santo Eutímio tiveram-no tarde, de-
pois de muitos anos de casadcs. Um dia, orando com
?".,ro, no túmulo de um mártir, Polieuto, foram avi-
sados pelo céu, miraculosamente, de que um menino
lhes hâveria de nascer, acrescentando 9ue, para a
Igreja, seria motivo de alegria e de paz.
Nascido o menino, três anos depois lhe morria
o pai, e a mãe, Denésia, consagrou-o ao Senhor,
.oáforure ambos haviam prometido na tumba mesma
do santo mártir.
Quem cuidou da infância de Santo Eutímio foi
o bom bispo Otreu, que o manteve em sua casa, o bati-
zol, lhe áeu a tcnsura e mais tarde o ordenou leitor.
O jovem crescia em virtude, destinguia-se- pelas ÍIOf-
tifitações, era puro e caracterizava-se pelo zêlo que
tinha na defetá dot dogmas. Terminados os estudos
-santas
com brilho, recebeu as ordens e foi ordenado
padre. Estava, então, com dezenove anos.

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V IDAS D O§ §ANTO§

, Pouco depois da ordenação, era nomeado arqüi-


mandrita para todos os mosteiros gue se situavam nas
circunvizinhanças da cidade em qúe nascera.
Dez anos depois, deixandó Miritene, Eutímio
demandou Jerusalem. visitando os lugares santos,
sentiu-se atraído pela vida solitária. Retirou-se a
Faran e se entregou às vigílias, aos jejuns, empÍeer-
dendo obstinada luta contia as paixáes. Foi ári gue
se'ligou por estreita ami zade a um santo homem .hu-
mado 'l'eotisto, com o gual, guatro ou cinco anos
depois, partia para cutiia, passando a viver numa
gruta gue-Íôra couto de animais selvagens.
Lrm dia, os pastôres gue viviam náguelas regiões,
levando os rebanhos puía melhores pastos e mais
fartas aguadas, penetrándo na caverna, descobriram
os dois amigos a orar. Admirados, noraram que
haviam erigido uma igrejinha. Logo a notícia ,"
l!9u po1 t{l a a paÍie. ' E os deíotos de LazarüÀ, "rio-
aldeia da Betânia, donde vieram os pastôres, em
romarias, passaram a visitar Eutímio e Teoctisto.
'l'raziam-lhes
alimento, pediam conselhos, ouviam a
palavra de Deus.
vários discípulos juntaram-se aos dois ârâco-
retas. E o número foi crescendo e a fama de homens
santos corria por tôda uma vasta região. Livres de
tôdas as preocupações do mundo, ded'icâvâm-se intei-
ramente a Deus. Faziam penitência, redobravam o
i.iup, as vrgílias tornavâm-ie cada vez mais longas, e,
às doçuras da contemplação, seguiam-se os cantos
dos salmos.
Eutímio, sempre desejoso de solidão, retirou-se â
uma gruta gue transformara em oratório. E a vida ia
correndo tôda para Deus, calma e doce para todos.
E o nome do Sánto mais e maís ."
"rpuúava.

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PADRE RO HRBACHER

Um dia, Teoctisto sobressaltou-se: sarracenos,


num grupo, dirigiam-se à caverna. O gye estava
na frátá com ;áto de chefe, era alto, de fisionomia
rude e tisnada, mas em tudo parecia vir em paz'
Erguido diante de Teoctisto, em tôda a estatura,
o sarraceno Perguntou:
Onde está Eutímio?
Teoctisto resPondeu:
Não está aqui.
Deseio vê-lo com urgência, tornou o outro'
um tanto decePcionado. Onde está?
Quem és tu? perguntou Teoctisto, curiosa-
mente.
Sou o xeque Aspebet. Ali está meu filho
Terebon, doente, com um lado do corpo sem mo'v:-
mento, paralítico. Por favor, cnde está Eutímio?
Teoctisto, olhando atentamente para o jovem
hemiplegico respondeu:
Eutímio'não está aqui. Passa tôda a semana
retirado na sua gruta. Apaiece sômente aos sábados'
o xeque teve um gesto de impaciência. Repri-
miu-o, poré., ê, adcçãndo a voz, pediu humilde-
mente:
Não poderias avisá-lo de que me acho agui?
Manda-nos Deus, o toCo-Poderoso.
Deus? Í.êz o anacoreta.
Sim, confirmou Aspebet. A noite pas-sada
um santo homem apareceú a Terebon, meu "Pro- Íilho'
dizendo chamar-se Eutíririo, acrescentando:
CUÍâ-Íre na solidão em qu.e vivo e hei de te curar".

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VIDAS D OS SANTOS

É verdade, corroborou Terebon ansicsamente.


-
Não foi Deus quem mo enviou? Por favor, não me
prives do médico gue Êle, o Poderoso, me indicou.
Teoctisto, impressionado, correu a transmitir a
nova a Eutimio. E o santo servidor de Jesus Cristo,
vindo ter com o xeque , f.êz o sinal da cíuz em Tere-
bon e o curou instantânearnente.
Aspebet e tôda a comitiva, assombrados, mara-
vilhados, prosternaram-se diante do solitário. E,
a uma só voz, rogarayn o batismo. o santo, cofiro-
vido, dando graças a Deus, retirou-se com todos os
visitantes e, inflamado, cheio de zêlo, os instruiu
na fé.
o primeiro a ser bati zadc foi o xeque Aspebet,
gue-recebeu o
lgme do apóstolo Pedro. Em seguida,
os demais Maris, cunharlo do xeque, Tereüorr, e
os do séquito.

Quarenta dias passaram êles ao pé de Eutímio e


dos companheiros dô retiro. Quando partiram, Maris
ficou, e viveu o resto de seus dias iníegrado na vida
religiosa.
Toda a Palestina ficou sabedora daquela cura
miraculosa. E os doentes, doentes de tôdai as doen-
Çâs, em grandes bandos, sem cessar, vinham procurar
o santo, QUe, em tôda a humildade, buscou mais ron-
gínqrro retiro, embora Teoctisto procurasse dissuadi-
Io. Descoberto, decidiu afastar-se do lugar.
Partindo com um religioso gue se distinguia por
grandes virtucles, charna"ã-se Domiciano, e , como
Eutímio , eÍa de Militene, chegaram a Ruba. D" RuÀu,
fizçram-se para Mird, estive"ram em Aristobulias, em

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68 PADRE ROHRBACHER

Ziph, e foram semeando mosteiros por oito anos de


andanças.
Uma tarde, apareceram em Sahel' E, ercor-
'cavada
trando uma gruta numa bela colina, ali se
deixaram ficar.
em após-
. Enquanto isto, Aspebet, transformado o verdadeiro
iolo, ia pregando, por onde passava,
Deus. IJm- dia, oi .on,rertidos eram tantos, e tão
ardorosamente desejavam o batismo, que Pedro, des-
ccberto o paradeiro de Eutímio, os encaminhou a êle'
O Santo batizou-os a todos, mas, ao saber que
desejavam viver ao seu lado, vindo, i:ois, privá-lo do
que tão ansiosamente aspirava, isto é, estar só para
,uru vida contemplativa, reuniu-os, levou-os a um
lugar não muito distante da gruta e disse-lhes:
Se desejais, de Íato, permanecer perto de
mim, estabelecei-Vos aqui.
Foi assim que se originou a diocese de Parem-
bolo.
Os neófitos ergueram uma igreia -e, de tempos
em tÀpos, Eutímiõ ia visitá-los. E foi crescendo,
desenvolvendo-se, no meio de dois mosteiros que sUf-
giram: o de Teoctisto e o. de Eutímio, êste sempre
io Sahel, obrigado que fôra a aceitar discípulos vin'
dos de tôdas as Partes.
Eutímio, que sômente desejava levar vida cor-
templativa, a princípio reieitava os que apareciam,
encáminhando-os a outros lugares e a outros diretores
espirituais.
Dia houve, porém, que não mais pôde afastá-los:
uma voz, não em tom de reprovação, mas sômente

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VIDAS DOS SANTOS 69

imperiosa, disse-lhe: "Não rejeites os que te pro-


curam, nem dêles tentes livrar-te, porque vêm todos
da parte de Deus, que tos envia e continuará a
enviar".
Cabanas, então, f.azendo de celas, foram apa-
recendo aqui e ali. E uma igreja não tardou em se
alevantar. Terminada a obra, |uvenal, bispo de |eru-
salém, veio para a cerimônia da dedicação. Corria
o ano de 428, Santo Eutímio entrava no seu qüinqüa-
gésimo-primeiro ano de vida, uma vida tôda ela diri-
gida exclusivamente para Deus.
Grande era a afluência de pessoas ao mosteiro,
principalmente de pobres, que vinham em busca de
confôrto espiritual e à procura do indispensável mate-
rial que entretém a vida.
Conta-se de Santo Eutímio gue, duma feita,
guatrocentos peregrinos vindos da Armênia, uma bela
manhã apareceram no mosteiro, em visita ao coÍlpâ-
triota que, com o nome famoso lhes engrandecia a
terra. Domiciano, então ecônomo, aflito, pilhando-se
a sós com o santo servidor de Deus, perguntou-lhe:
E agora?
Que se passa? quis saber Eutímio.
Que f.azer paÍa alimentar tanta gente? tornou
Domiciano fixando o santo amigo. Na despensa existe
apenas o suficiente para matar a fome de dez homens!
Eutímio, erguendo os olhos para o céu, esfêve
em silêncio por um momento. Afinal, voltando-s€
para o velho amigo Domiciano, disse-lhe, confiante:
Vai, e trata de tudo, porque, como disse o
Espírito Santo, "êles comerão e serão saciados".

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PADRE ROHRBACIIER

Dorniciano [oi, e, ao abrir a porta da despensa'


uma avalanche de páezinhos, deslizando pela abertura
quase o soterrou.
Diz-se que os peregrinos se fartaram, e não
só êles, mas a pobre za, também, daqueles pães comeu
por três meses, tempo em gue a despensa permaneceu
,"*pr" abarrotada, tanto que se tornava impossível
fechar-lhe a porta.
Um dos maiores abalos sofridos por Santo Eutí-
mio foi a morte de Teoctisto, ocorrida em 466, Sete
anos mais tarde, a êle se reuniria na glória do Senhor:
Deus [ê-lo conhecedor do dia do proprio falecimento.
Também, antes da morte Ce |uvenal, o patriarça de
|erusalém, Deus permitira que o servo fiel fOss€ co-
íhecedor do .u.ê.sor, Anastácio. Tais predições
vinham trazer-lhe rnais respeito e maior popularidade.
E, poucos dias antes de'morrer, perguntando aos
irmáos a quem desejavam para substituí-lo, disseram-
lhe, unânimemente:
Domiciano, Pai venerado.
Impossível, respondeu Eutímio. Domiciano
seguir-me-á, sete dias depois que Deus me levar.
A estupefação não teve limites. Calmamente, o
Santo tornou:
Escolhei outro, irmãos.
Eleito um dentre êles, Elias, disse-lhe Eutímio:
Elias, teus irmãos escolher âm-te para pai e
pastor. Toma conta de ti mesmo e de teus irmãos'
)amais feches a porta do convento a quem quer que
seja e Deus te abençoarâ,
Em 473, à noite, era de sábado para domingo,
Santo Eutímio faleceu no Sahel, rodeado dos irmãos

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VIDAS D OS SANTOS 7t

todos. Estava com oitenta e seis anos, dos quais


sessenta e oito passara-os no deserto. sepultadã
na
sua gruta, então transformada em oratóriô, lá ficou,
gelo_ zêlo e pelos muitos milagres, ,."
d", già;i;
da Igreja.
Igreja grega considera santo Eutímio como
.A principais
I* 9.or oiganizadores de sua liturgia. Atri-
bui-lhe, bem iomo a"Teoctisto, chariJon
ã,
"'subÀ
regulamentos contidos no primeiro dos Ii";;, liã;gl:
cos,oTypicon(l).
s{Êa
No mesmo dia, São Mauro, bispo, célebre pelas
virtudes e milagres. segundo a tradiião, foi nomà;à;
bispo de Cesana, Italia] pelo papa
I.á; XI, párri""i
mente. Dividindo o vivãr entre a conternplàçãÀ u
ação, pregava durante o dia e meditava
ierá "
noite,
cela gue.erigira perto de um pequeno prorroÍl-
'-'Tu ao lado de um oratório.
tório, Fareóeu em g34.
No oriente, oS santos Inas, Rimas e pinas,
mártires, convertidos ao cristianismo e doutrinadás
por Santo André.
Na diocese de sao craudio, são Minágio, abade,
falecido em 494,
Na Irlanda, São Fechin, abade, grande conhe-
cedor das santas Escrituras, virtuosír-.i-o, a quem
Deus concedeu o dom dos milag."r.--Éãi"."u
vitimado
pela epidemia que em 664 assolãu iodà puir.
o
(1) Sabas apareceu no sahel em 45?. pedindo
ao santo que q
admitisse ao seu lado. sendo çonfiad.o a
Teoctisto.

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t2 PAL)ttI!; tüOHttrJAUHET(

Na Toscana, o bem-aventurado Benedito Rica-


soli, ermitão.
Na diocese de Arras, o bem-aventurado Didier,
bispod" T"ruano, filho de Bogerio, castelão de Cour-
tr;i, s de Sarre, filha de Rogério, o |ovem' senhor
de Lille. Elevado ao bispado, trabalhou para a santi-
ficação do povo. Velho e cansado, deixou o cargo
e retirou-se à abadia de Cambron, dedicando-se
exclusivamente à salvação da alma, falecend o a 2 de
setembro de ll94 ou 20 de ianeiro de ll92'
Em Nicéia, na Bitínia, são Neófito, mártir, qu_e,
com a idade de quinze anos, foi vergastado, lançado
; ;; fornalha ardente, e exposto às feras; não tendo
sofrido mal nenhum, e perseverando com maior CoÍlS-
tância na confissão dá Íê. em ]esus Cristo, acabou
perecendo pelo gládio.

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21., DIA DE IAIVEIRO
SANTA INÊS
Virsem e Mártir de Rom,o

Nao tinha santa Inês mais do que doze ou


treze
ancs, quando sofreu o martírio. segund.
voltava da escola, quando o filho aãpr"r"it" ""irrã,
;a"
dela se enam?lor.
-t?ó. J"h"*,
inforrnar*ã r.Crca dos pais
da jovern, ofereceu-lhe vestidos ;ri; esprêndidos,
valiosas pedrarias, e prometeu-lhe outras
coisas : ri-
gueza, casas, tôdas as derícias do
ela consentir em desposá-ro. úer
-r..J.ri,
mundo, no caso de
com des-
prêzo os presentes, e disse ao jovem
que estava noiva
de um varão muito mais ,obrá qr.ai",
o qual iá lhe
dera presentes muito mais inestimáveis.
prefeito, desesperado, caiu do""t".-- o firho do
ccbriram-lhe a causa do mar udráliru*
o, *edicos des-
prefeito sinfrônig, qr"_mandou" *".;;; o pai, o
à virgem as
ofertas e os oedidos. R"rporrd"uJhá
me. que nunca
faltaria uo .à-promisso com o noivo.
Achou o pre-
feito bastante esrranho quà nou;;"";r;ro
e tratou de indagar quem seria. -Jà, preferido,
sitas disse-rhe, entáo, que jovem
u* seus para-
_a era cristã desde
a infância, e que, enfeitiçad1
í,9.-;;r;;;ágicas, cha-
mava a cristo seu espôsó. náaiu"l";;
mento, mandou o prefqito a çonduzissem,
o descobri-
.orn aparato,

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14 PADR,E ROIIR,BACIíER

ao seu tribunal. Inês fo_i igualmente insensível


às
os
lisonias e às áÀ"uç"r' Chamou o ptefeito
pais
da iâvem, e não podendo maltratá-los, ry^ l\o
tttffl,
nobres, apresentou a acusação do cristianismo.
dia seguinte, poir, seguida a novos e inúteis esfor-
"* '"É a superstição dos
ços para u p"l*àair, dis;e-lhe: mági-
ã;iriú, de q;; te çfubas-de conhecer as artes É preciso'
cas, que te i*pã. tãguir bons conselhos'
para a deusa Vesta,
oortanto, ou" Irár-ú;ãúamente
ã-iil^ã"'ou", t" te apÍaz a virgindadesacrlllclos' niffflii;
cuides noitã e dia dos seus augustos
R;õ"J"o u t""tu, "Se, pot amór ,a Crist?:j"l1t^"1
lrotto filho o qual, embora torturado Pot um "*?1
sem regra, não deixa de ser homem
vivo' caPaz de
ultraiando o
raciocinar e de sentir, como poderei' insensí-
Deus .upr"*o-uãoru, ídolos mudos, surdos,
veis, inanimJã;;;átas inúteis numa
palavra"' Re-
ou sacri-
trucou o prJãito,' "Er.olhe de duas uma:
ou te
il.u"at à deusa Vesta com as suas virqens' filhas da
orostituirás, num péssimo lugar, com u"t "Se sou-
#;.ü.;"b.i,,;-lf,e Inês com segurança: maneira'
bér*iü,.rulZ ã á., Deus, não falaríeis dessa Cristo,
Eu, gue ,"i ãuu]-ãJorçu de meu senhor ]esus
desprezo as vossas ameaças' certa
de que m9- não
poluirão u.'i-plrãas alheias, como não
sacrificarei
guarda
aos vossos ;ffi;-;;"h; comioo' como -do
áo-§"rrhor." com efeito, tendo sido
meu corpo,
";;;
levada ,* ããtr" de prostituição, lá
se lhe dgnarou
;;;,; "ão S"rhor, quá ' circundou de uma luz táo
ã.pi.ina;-;Aue ninguém a podia 'Írente
ver' Tendo coltre-
uma túnica branca
çado u orur, pár."b"úa
sua
ã;; ã;;í 5"- .ãÜtiu, ãu""çoando de .a
Deus' o lugar
prece e piedade'
de infâmia tornou-se,
"r.i.,"lugar tocado por um
Quem qu.t !* iá entra§§e, sãntia-se

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VIDAS D OS SANTOS

MartÍrio de Sa^nta fnês. (Segundo Dominiquim).

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PAD&E A,O ÍlN,BACIIER

áspecto religioso à vista daguela luz


inesperada' ,'e
entrava' (J tiiho do
saia mais puro do que guando
;;;l"ir", .úu*undo á todós sovardes' atirou-se âo meio
'da
- mas caiuseus
luz, cegado e atê' segundo os atos' sem
;rd;. Um dos ..Socorro! companheiros' ao vê-lo morto'
pôs-se a gritar: ltma prostituta, por artes
mágicas, matou o Íilho do preteito!" 9
po"o atirou-se
ao recinto, griúndo:
"É feiticeir al''- É inocente!
"*u da morte
E um ,u.r1iégio!,, o prefeito, sabedor
do filho, u.or."ri precipitadamente, aflito, dizendo
a

santa qr" ;;ãit cruel dentre tôdas as mulheres'o


"ru
e pergurrtu.rJo-he de que modo lhe havia
matado
Íilho. n"rpo"J"u ela' que o Íapaztratava fôra suÍocado
de levar
nelo impuro demônio cuiós desígníos
pois os que haviam
ã ;.,,J-E ; manifesta a p'ot'ã'
tinham saído
respeitado a luminosu p'"'á"ça do a.nio,
,aã, salvos. O práf"ito respondeu-lhe gue
acÍ?-
" ao an'o
ditaria nas suas pãla"as, se ela rogasse
"Se bem-gue o não mereça a
ãL"ãf".r-lhe o filÉo.
de manifes-
vossa [é, retrucou a iovem' sendó tempo
cristo, todos,
;"";; ;;"i;;ãã-.i, senhor ]esu.shabitual."saíSaíram
Dara or" lnà on"reça u ptá."
",,
i;d;tl;.iu t. prosternou, e rogou ao Senhor' com
lágrimas, gue ressuscitasse o io1:t' O anio'
àpàte-'
.ài.ao, devolveu-lhe
---,,§à a vida. O jovem começou a
há um Deus no céu e na terra, e é o
;;;ã;;,
Deus dos cristãos."
Àquelas palavras, todos os arúspices e ryl{lt":
dos teáplos estremeceram' e instigaram
o povo a
l"Jiç"-'-Todo, gritam: "Abaixo a feiticeira'
que
mudaopiniõesetranstorna!',oprefeito,diantede
Mas temia
;ã;;Jà., *uru"ithas, Íicou estupefaro.
a Droscriçao]"" ;;; áe agir contra os pontífices
e
Assim,
contra a sua lrópria sentenqa.
ãi;;ã;;=ila.

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VIDAS DOS SANTOS

tristemente, deixando no seu lugar o sutstituto,


afas-
tou-se. o substituto, chamadJ Arpã;i", mandando
que se acendesse uma grande foguàira,
a santa. Mas as chamãs, afast""ao páa
a era uti.Àu
um
outro, gueimaram vários dos espectaáor"r. rado e
I"er, tà
braços estendidos, abençoàrr, ;b;r,
p"tu, suas ma-
ravilhas, guando, o.fogó se apagou
pagãos mais ainda braãaram
de súbito. Os
corrtra u feitiçaria. o
substituto, não encontrando outro
meio para apaziguar
os ânimos enfurecidos, deixou gue
pelo gládio.
a santa morresse

as*

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SANTO EPIFÂNIO
BisPe de Paoia

A Igreja católi ca ê o reino de Deus' o império


eterna-
de DeurJ .oo."çado na terra para. continuarentra-se'
mente no céu. b.,rt a êle atrai Pth-graça;
e perseverâ-sÊ pelg humildade'
pela,l:'I^"1" esperança
de boa
e oela caridade. Sendo o impêrio dos homens
u u"tàridade, tal g,al a do pai e máe
"ffãa",;*J;;
;;;;fiiú"r dã.Ã ã afeiçoados. Hâ, contudo,- espí-
ffi ffió;r, ãáiã".r,"d".obedientes, que ali lão
#;;;; d"li ;;. Para contê-los em certa ordem
f;;; d; lg'"iál'*[ã; se Íazuma atê autoridade diferente'
g-ládio co-ntr-a
a do pai, -uttiao de vara ou * Isaac' e ]acó'
filhos rebeldes. Quando, como Abraão'
em grande
o pai tem con-sid;ã;;i familia, servidores
recebe o nome
número, e pode até armar um exército'
de príncipe, ã;;, " "t'u-â-se reino a
sua grande
Israel ou de
família. Na época em gu" o reino de
ilf;ú"g"r"-ão Íim, p'o"otott Deus em Babilonia
todos
um grande império, para dominar geralmente
anunciaram
ã. ,Ji"os da i"rrr. Ór profetas de Deus
dos caldeus
gue tal impêri'o passariá sucessivamente
greg.os' dos
ou assírios Jã ;;;tut, aot persas aos numa
gregos aos romanos e gue depois' desmembrado
comple-
dúziade nações, termínaria pot desaparecer
tamente.

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V IDA§ D O§ SÂNTO§
Durante o guinto sécuro da era cristã, a gueda
o desmem'ramenüo oesse granoe rmpe,o
V.T,,TCOU nO L,r.l.ente. 'l ratava-Se
oo honrem se
Oe Uma ep.Ca Oe
e
I
caramroaoes e angustlas. us rmperaoores,
chauraoos
romanos, nao duravam mars do gue um
dia e tom-
bavam um sôbre o outro: or pã"ár, a"rjurruã*,
não viam estabilidade e não consôro
senão no remo cle lJeus, no impeno"rrcorrtravam
de lJeus, na
yela mehde do século, um bárbaro chamado
Ricimer, suevo ou godo de orige m, Iazta e destazia,
a .seu b?l-ptâz?t, os imperadoies. bm q56, O.Iã,
o imperacror Avito; em tbl,
$epôs e matou o impera-
dor lvlajoriano; em 165, envêrã";; o i-p""udor se-
vero; em 167, desposou a Íilha do imperuoo,
Antêmiá,
para reinar sob o nome dêle. Nao tarda,
porem, o
genro em brigar com o sogro. Ricimer,
deixarrão Aniê-
mio em Roma, retira-se -pura lvlitão: 't oaa
u lraiiu
soÍteu as consegüênci"r â" tut *fúu. c;;.f"ir,
de um e de outrô lado se f.azia;-ir.p;rativos
para
Iuta. No comum perigo, os nobres'd uTiguna reúneur-a
se em Milão, e sé rariçam uor p". ãã
[rci-€r, rogôo-
'do-ihe, com lágrimar, gu" porhu cobro a tão funestas
-Ricimer -
divergências, .ó,,orr",r-r". tr"rur, -.-o-,;;;
quem se incumbirá das negociações
gue poderao n ol
derar êsse arrebarado GaÍa tÀír-
aGi* char-,rava ao
imperador, seu sogro). Respona""uÃ-rhe
üatamenre: "Teáos em p-Jvi;;;r";;- todos ime-
Éiú; ;;
xria ?pa1. atê de persuadir os ánimais ferozes,
\"auando solicita um benefício, recebe-o antes de o
pedir. o aspecto parece-se-rhe'à
-
os católicos, trópria-vida. Todos
todos os romanos o veneram, e os gregos
não poderão vê-lo sem o amar." Di;;;ãi.i*"i, -*it
ouvi a fama dêsse homem, e o gue achã
mais admi-

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PADlü.Ei tC() fltt'I, rt{.)tt 'Ei t(

inimtgo
rável é que todos o louvam, sem-que suria um
,"qu.t. id", e r-o-gai ao homem de Deus que
!fPttt"-
da-a jornada. Uni os meus rogos aos vcssos'
Chamavâ-se Epifanio o jõveT bispo' e mal
corl-
Pavia' conju-
tava trinta anos de idade. Chegados- a
,ãrã*-"o os legados a que se incumbisse da missão'
"Apesar de questão
ii;ô;;à;;h"J i*"diutámente:
tão grave exigir consumado varão' e estar acima
Jut íotças de tr* tto'ato, não recuso à pátria o amor
imediatamente para Milão
il; lh"'devo." E rumouRicimer' que' mal o viu' o
ao encontro do patrício
acolheu com júbilo.
EmRoma,osantobispodePaviainspirouVene-
entu-
.uçao admiração univtttáit' Foi um piedoso
;;;., " os homens mais pcderosos não teriam julgado
abraçassem
cometer uma falta imperdoável, se lhe
ã, lo"lhot; eram aclâmações q'e súiam às nuvens; rin-
viam-no tão cheio de qualidades celestiais, -gue
ouém o imaginava no número dos mortais' Disse-lhe
""Até nos seus embaixadores' emprega
Hn-_-ràri",
Ricimer ccmigo a astúcia e a finura; envia os gue'
p;ú súplica, íotçu* os que êle ofendeu com oscoisas
seus
ult.ales; trazei ; homem de Deus; se pedir
que
possíveis, conceder-lhas-ei; se não' rogar-lhe-ei
ãceite as minhas desculPas"'
O ,"r"rã,r"1 pontífice, chegando à audiência'
atraiu tcdos os olkares, e assim falou ao impera-
ãor, "O Senhor do céu, respeitável -
aquêle
príncipe'
ordenou por um soberano decreto que
' :tl:i
cuidado de tão grande coisa pública
;Jt .orrfiudo o-dogma
ápr".rdu, p"lo da Íe caúlica'u conhecer a
.
Por
Deus, auto, e uÃuít" da piedade e da clemência.
das lutas'
êle é que as;;;t da pá' vergam o furor
se torna
e a concórdià, pisando aos pés a soberba'

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VIDAS DOS SANTOS 8l

mais poderosa gue a fôrça. Assim, tornou-se Davi


recomendavel para sempre, curdaqdo de poupar o
inrmrgo e não de vingar-se. Assim, os rers e os
senhores mais perÍeitos dos séculos aprenderam do
ceu a conceder a graça aos suplicantes. o ser lá de
ciml possui domÍnio-gue lhe eleva o império pela
,um
piedade e clemência. F'ói com tal persuróao gú" a
vossa Italia e o patrício Ricimer
-unduram a únha
insignificância rogâr-vos, não duvidando de gu" ,À
príncipe romano não concederia a paz pedida áte po,
um barbaro. Triunfo gue emb elezárâ particularmente
os vossos anais será ter vencido sem derramamento
de sangue. De resto, não sei de guerra em gue haja
necessidade de maior grandeza Je aha quô u híà
contra o ressentimento e os benefícios coícedidos a
um. Íer.oz godo. se êle obtiver o gue pede, ficarã
mais abatido ainda. Aliás, convém lãvar em conta o
êxito incerto da guerra; mais, se ela se reali zar por
causa dos nossos pecados, o vosso império perdLrá
sempre tudo guanto perderão um e outro partidã. pàrà
contrário, com a amizade de Ricimer, tuáo guanto êle
possui, vós o possuís com o próprio Ricimer. -Lembrai-
vos também de gue ê governar bem a causa ser o
primeiro em oferecer a paz."
,.
O imperador gul com todos os presentes, não
podia câÍrsâr-se de-admirar o santo, respond"u-tú,
dando um profundo suspiro, "Apã.ár-J" ter, santís-
simo pontífic e, indizivel causa de dor contra Íti.i-ãr,
fpesar de nada ter valido conceder-lhe os maiores
benefícios, a ponro de o ligal t;"h" f"*íü;;;
amor à coisa pública, apesai de se ter revelado
tanto
mais.inimigo guanto máis cumulado de i";;;,ã;:
sar de haver encorajado a fúria das ,ruçoe, estran-
geiras, e apesar de se não poder confiar nas
suas

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HADfi E; fI,O tlItI] ÂCHER.

promessas, pois gue nada í.ogrou a mais estreita alian-


çu, se fordãs vós a caução e o rnediador,
vós_ gue,
por uma graça espirituai, descobris os maus desíg-
nios e os corrigis, não ouso recusar a paz que me
p"ait. Se êle vos eng ana, a si próprio pune' Quanto
à mim, coloco em vossas mãos a minha _pessoa e o
império, al,ám da graça que estava resolvido a recusar
u ili.i*"r, se êlJ prOprio ma tivesse solicitado; não
se pode dirigir o bãrcó melhcr, no meio da tormenta,
do'gue segündo os conselhos de semelhante pilôto.
O santo bispo Epifanio agradeceu ao imperador,
-juramento
dêle recebeu o da Paz 9 imediatamente
oartiu, a fim de éelebrar em Pavia a festa da Páscoa,
de vinte dias;
;;ã;á;. Prometera regressar ao cabo
e, no entanto, apesat ão ieium da guaresma' não
empregou senão catorze.
O seu i"ã.p"rrao aparecimento causou indizívLl
júbilo em todo o país, tanto mais que ninguém espe-
rava muito na Paz.
Santo Epifanio nascera em Pavia mesmo, e des-
o.rdia pelo iado materno, da família de São Miro-
;i;;, ú.:p. de Milão, no ccmêço do quarto s'áculo'
Foi educado pelo bispo Crispim que, vendo-o dotado
ã;; ;;;;. aá céu, o' fêz leitor aos oito anos' subdiá-
.onúos dezoito, diácono aos vinte, empregando-o em
diferentes misteres , atê quando the confiou todo o
ú"- da Igre ia, a fim de melhor lhe conhecer d càpà'
.ia"a", pãir'deseiava tê-lo por sucessor. Às vanta-
g"rr, físicas, às ,ríalidades de espírito' unia admirável
*àdertia, humildade, paciência. Surrado, certa vez,
sangrentarnente por t1m indivíduo exaltado, foi o
único qrle se opã. à' iustiça que todos pretendiam
- Era tão casto, que sÔmente se via homem
"*"r."t.
;J" trabalho. Se, por acaso, tivesse ilusões nos

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VIDAS DOS SANTOS

sonhos, recorria às santas vigílias, a contínuos jejuns,


e permanecia longamente de pé. O seu repouso era a
Ieitura, e as jóias os santo. Íirrror. Bastava-lhe per,-
corrê-los para dizer de cor, não sômente as palaúas,
como também o sentido e o espírito, de tal sãrte que,
seguindo o passo que êle tornava dizer, se tinhà a
impressão de ouvir Moisés, um profeta, ou um após-
tolo. E o que lera no livro, revivia na vida. Dâsde
então, desempenhava de antemão o mister de inter.
cessor. Para
-onde quer que o bispo o enviasse em
auxílio aos infelizes, exigia as graças e os benefícios
com arte de suplicar tão podercsa que inúmeros
infelizes se congratulava. pálo fato de não ter vindo
pessoalmente o bispo. Assim, todos os dias, crescia
o afe.to do povo a Epifânio. euanto a êle ,O p""rã"ã
em aliviar o seu velho bispo na enfermidade. Crispim,
sentindo que lhe estava perto o fim, ordenou o .orrdr-
zissem a Milão com o diácono. Lâ, após reunir as
personagens mais ilustres da província, áirigiu-lhes as
seguintes palavras: "Eis, meus filhos, qr" ã idade me
g'bliga a partir. lâ reivindica a terra ã pur."la gue
dela saiu. Recomendo-vos a cidad", ,..ô*endo-vos
a igreja, recomendo-vos êste jovem, a cujo esfôrço e
graça devo ter vivido ate agora, idoso e'fraco. 'Foi
a sua fôrça gue sustentou u-*irrh, Í.raqueza; foi com
o: s.eus pés que caminhei, foi ccm os seus olhos que
vi, foi com a.sua palavra que a tudo pus em ordem.
Parecíamos dois áos que nos viam, mas do, doir-ã
concórdia Íazia apenas um." Os ouvintes qarantiram
ao bispo a boa disposição de todos, e êle regressou
a
Pavia, pe.-ra la morrer pcuco d"pois
Imediatamente se rer-1ne a Éidacle inteira. Todos
os-desejcs se concentrarn em Epifânio; do meio do
préstito funéreo o arrancam purâ proclamá-l; bilp;.

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PAIJTTIC IüU HIIIJ AOHE R

Êle, entretanto, chora e resiste o mais gue pode;


proietta em altas vozes que é !ndiS1o, mas é o único
;; 69ú du grande multidao. Os hábitantes das cida-
ãás vizinhal uÍlert-se, nas aclamações, aos de Pavia.
Era como se se tratasse de inaggurar 9 bispo do
mundo inteiro. Conduz€IÍl-Ílo a Milão ' e lâ o sagram
com universal júbilo. Todavia, -alguns habitantes de
grandes cidades dão- provas de descontentamento,
["f" fato de uma cidádezinha como Pavia ter tão
ã;;;ü Éitfo, ao passo gue as deles só se podiam
[abar do nome de metroPolitanas'
') De volta a Pavia, Santo Epifânio reuniu o seu
clero e assim lhe [alou:. "Em6ora, meus -queridos
irmãos, o pêso do vosso -iuizo- {u dignidade que
"
acabo de receber me tenha abatido, guando cami-
á"u com dificuldade, e ainda demasiadamente cedo'
"t
,,u, ,i". do sacerdócio, lembro-me do que devo .à
vossa benevolência, pois me conferistes o gue _há de
*uú. E embora tãnha tido mais vontade de vos
ãb"d"."r do que de vos ordenar, mudei a personlq"P
de servidor, i"., contudo, perder o espírito' ,5êde
pacíficos, sêde unânime-s; partilhai comigo êsse tardo,
Prometo
ãu" assim será mais fácil transpor_t1-lo.
que me mant;;; ã ráso lado com tôda a humildade;
iirgue- poderá ofender -rÍt.- t se não ofender ao nosso
p"ür. Corr."*ai o pudor,.fonte de todos os bens;
não vos considereis injuriados se uma criança Í9la
de Continência e plJÍeza a anciãos e sacerdotes. É o
gue Í.az a adolescência
õr".ãáimento, nãô são os anos,
ã" , velhice. Examinai o íntimo da minha vida, e
se nêle reconhecerdes algo de indigno, reprimi-o.
Ningué* t"á" ua*o"ttar. ó príncipe da lgreia' {9sde
"p"rceba que se pe.de." Cálou-se. Imediata-
ã""
á.itã, 1"a"r ôr presêntes, levantando-se, exclama-

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VIDA§ D O§ SANTO§ 85

r.un: "vva nosso excelente pail viva o no§so


incomparável pontífice! A escorha de todos '.ro,
bom; as vossai palavras mostram gue ;;-ú;#ã;.
*oã,
Cresceis, em méritos, no nosso coração,
maior pelas. obras gue pela fama.,'
e sois ali
Feiro girpg, résorveu sarrà Epifânio não mais
valer-se de banhos, nutrir-se apenas uma
vez por dia,
viver de vegetais. e legumes' e beber pouquíssimo
vinho. Fôsse gugl fôssã o qempo, ;;; o primeiro no
ofício da noire. agJé. do altai, É.;;; o rempo
, rodo
na mesma atitude. Tinha tamanho interêsre inter-
ceder pelos desgraçados, gue supurrha ter "-próprio
êle
comerido o mal gue não puderá i-pãai,
;;;rã;"ih",
'd"-;;;;ij;,
. fizessem. SS: gr,.porrenores
:r;:,
devemos a 's-anto Enódià, seu amigo ü,i;
e sucessor. (r )
Em 472, Ricimer chacino,t ã- *gro Antêmio,
sagueou Roma, e êle próprio morreu
nas mais cruéis
dores. Houve ainda, uíe ;lgr;; imperadores
efêmeros, entre os quais -!26, I.I"p"r, ;;;'enviou santo
Epifanio à Gálk, pg Í9""r a paz com
1 Eurico, rei
dos visiggdqs. Em'426, od;;; il;á conhecemos
na vida de são severino, pôs ri,, J" láperio
romano
do ocidente e assumiu o ,ror" de rei aa
ttatia. Mas
493, foi vencido por Teodori.o, r"i dos
7m ostrogodos,
e morto num banguete.
Durante essa guerra, Gondebaud, rei
guinhões, com o pretexto de i, dos bor-
invadiu a Ligúria, sagueqndo "-
ãr"iíi. ; OÃ".r;,
o, campos,
""ãaJ", e"reduzinil;
massacrando uTa parte dos habitantes,
outra à escravidão. Entrava como
amigo nas cidaàL",
e tratava-as como inimigo. FinarmentJ,
botim e revando uma .
.urr"guJ;ãZ
-ürtiaá;J;;;iri.;neiros, tornou
(l) S. Enódio. Vita s. Epifh.

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PADRE R,O HR,BACT{ER

a passar os Alpes, sÓ deixando u:: d:it príncipes


regtões, cida-
gue lutavam um contra o outro por tais
áes desertas e campos devastados' .,,.-
O rei 'I eodorrão, pa'a tirmar o domínio' emitiu
liberdade aos
uma úi p"ta gual so concedia a inteira os
il tinúm pêr*utecido no seu lado, declarando
e os hrárulos, inca-
ü"à nu"iam'detendido Odoacro
;;;; ie ks;;;;;; ; da disPosição dos seus bens'
o povo
à t"i lançou a consternação em tôda a Itália' e
para .gue
ãiUto u.üdi., a Sanro bpilânio de Pavia, o
constituia
intercedesse .ã* o sobeiano. Epifanio
refúgio a" ,.à-pr", toJas as cáamidades. Quando

r .ii"ae de Pàvia Íoi tomada por Odoacro' Íêz gue
do sagug qo
os bárbaros o respeitassem atê no meio
incêndio, ,ui,roi u vida e liberdade
de grande"nú-
;;-i" "fruútà"t.r. Em seguida,. trabalhou na
de Odoacro
reconstrrçao'ãu .iJãa", obteve [u'u ela'
e com a sua
uma isenção de impostos por cinco anos'
contr a a raPu'i'
intercesrao ptot.gã" tôd; a Liguria
dade do preieito"do pretório. Quanto à deputação
áão quis incumbir-se dela sozi'
,r*" ã; f;"dorico, J" fr4ifao, foi suplicado a intervir'
nho. Lurr.rl"]il;;
restabelecer as cidades
ê"*" Épina"ià, ltãtu"u êle denovo
arruinadas, e a elas atrair de o povo {§Persado'
Teodorico'
Foram o, aoiJ ;;;"-Ru,r"ru, onde résidia
Santo Epifânio 1"ro, a palavra' e obteve o perdão
de alguns que eram auto-
ã;;:;úãdor, com e*teçáo "t" contentou em afastar do
res do -ul,"L-á""-áü
lugar em que viviam'
O rei, mandando-o chamar, disse-lhe em p,"lli'
c.rlar, "Glorioso pontífice' julgai a estimamissãoQUe deor-
que
camos ao vosso mérito, pela importante Vedes
bispos-
vos confiuroo., d" pr"t"ráncia a outros incultos'
os mais fêrteis campos
a ltália tôda desertã, e

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VIDAS D OS SANTOS
por falta de lavradcres; não suporto o rnal que me
provoca tão triste espetáculo. Na verdade, 'é
obra
do cruel borguinhão; mas se não dermos remrádio a
tais males, dêles nos tornaremos aútores. Temos
ouro nos nosscs tesouros, e demoramos em reparar
os males da pâtria? Que importa que vençamos o
inimigo pelg ferro^ou. pelo ouio? Inôumbi-vàs, pãir,
com o auxílio do senhor, dessa missão. o rei
G;;-
debaud veflerâ-vos, e ha muito que deseja conh;."r-
vos. crede-me, bastarâ a vossa presença como preço
do resgate da Itália."

. Epifânio louvou o projeto de T"odori.o mais


ainda pel-as lágrimas do que'pela, pulrrrâs, € roqou-
Ihe que lhe desse por Vil;
_adjunto o sanro bi;il
de Turim. o paqa- Gelásío valeu-se Ju oportunidade
pa-ra escrever a Rustício, bispo de Lião,
sucessor de
são Paciente, e aqradecer-lhe rã.*ro-qu" m;;;ir:
ra, bem como a Eônio de Arre., " pr* uliviar a miséria
do povo da Italia. sendo Lião a residência do
rei dos
borguinhões, roga a RustÍcio que auxirie Epifá;i"
suas negociações, e ao mesgq tempo lhe
;;;
comunique
o que pensam os bispos da Galia dá questão de
cio, da- qual fôra- Epifânio encarregãao de os Acâ_
truir ( I ). 9r. doió bispos parriram pelo fimins- do
inverno, em 4?4,e transpur"rà., ,ro *á,
os Alpes ainda coberros de neves-L gàror.
d" _urço,
Todos
acorriam, à passagem dêres, e lhes levavam
,limertos,
1r", §unjo. Epifanio distribuía aos pobres. Rustício
oe Lião toi encontrá-los alem do Róda.no,
e rulor-irrá.
do caráter artificioso de Gondebrrú^;, a
virtude
dos legados pareceu fazer com gue o príncipe
se

(1) Epist. 12 e 15,

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88 PADTi E Ii,O H R,B A.O H E IT

esquecessedo seu natural. Mal chegaram a Lião,


-urrdou-o, saudar e oferecer-lhes de aceitâ-la. A
uma audiência,
§;. Épifanio tratou imediatamente
,*tiáua" que brilhava no rosto do -bispo dava novas
Íôrças uor c.racterísticos da sua eloqüência.
-';Gíarrde
príncipe, disse a Gondebaud'- foi-por
amor a vós qrá tão penosa jornada. Não
temi a morte para"*preerrdi
vos trazer o preço da vida eterna.
Vi- como gue para vos servir de testeryunh.a diante
de Deu, ãois grandes reis, se a bondade vos
"rir" o que lÍu, u misericórdia pedir a quem
íúu conceder
me envia. Partilhai igualmente a recompensa que
Deus promete, oü, antes, disputai-â efltre vós' prín-
aip"t invencíveis; mas, neste combate' o vitorioso
ifi;;rá-t"í pr"ço, gue o vencido o não perderá. O §egui
rei
o meu conselho, e sereis ambos vencedores.
Íeodorico quer resgatar os cativos; devolvei-lhos sem
;*g;;:--Crede'mõ, ninguém ha de ganhar mais do
e o dinheiro que tiver-
a11j aquêle que nada receber,
il dàspreràao enrique cerâ o vosso exêrcito mais
que se o recebêsseis."
santo Epifânio, deixando em seguida falar a
Itália, continuou: "Ouvi, príncipe, as iustas queixas
da Itália, fiel aliadã. Se ela pudesse Íalat,
ãir-ror-iu r"o*"
ói"arde rei, quantas vê-es, se vos lem-
brais, á ut-us pela minha defesa
"ao "áp"nhastes
e liberdade? Fôstes vós gue nutristes os que agora
mantehdes agrilhoados. Não me prestastes tais
s€Í-
viços senão
"ú; mais fàcilmenté me surpreendeÍ
Ninguém, dentre, os que aprisionastes, cuidava
oe
levadas
fugir à vista das vos.uó tropãt. As mulheres
ao cativeiro iulgavam qué vós iríeis vinqá-las; as
a vossa
;g;;; so deíenáiu- a rúu honra reclamandoque os câffe-
preiença, Diziam os trabalhadores aos

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VI.DA§ UOô §AN'I,U§

gavam de correntes: Não sois,


acaso, borguinhoes?
Quantas vêzes estas mãos qu; ã*urrrrr",
pagaram o tributo? Devorvei, príncipe, vos- não
êsses infelizes à pâtria; devorvei-"; -;
devàrvei;"d",
A Deus é oue conôedereis rar g;;";;ás vossa glória.
,rao ê co'Ce-
dereis a ho.ens qu€ vos sejam estranhos.
da Itália cede sua filha a vosso fihàr o senhor
se,a a princesa
o preço do resgare dos prisioneirori,àiá
deles o DresenIe. de núpcias a"
a liberdaãe
cristo qú" o receberá,-ã?i.ro não"oirro
à noiva; será
se esquece Íâ.,,
Tais oalavras, acompanhaà* a* lágrimas
dois santos birpãr, c"à-"lar"m dos
GorrdàÉud o quar, no
altivez:- ;üã;;;;
entanto, respondeu com bastante
me falais de paz náo .o"t
A lei dos comg:r:i!", e -qrg}.d"
"..ir;-il;"ito da guerra.
qrr"io ,rao é permi-
tido; permissível se torna. Nrà;;;
a injúri a feita a mim pero vosso
ilço que reperir
rei, querendo iludir-
me com o pretexto de um tratado.
se'quer realmente
uma paz sólida, serei fiel a ela.
pontífices, regressai ao vosso
arã"tJ a vós, santos
ur"iu"rà"to; deliberarei
sôbre o gue convém ao bem
d" #;d-ur*"
do meu reino, e saber"ir t que deciài;' e ao bem
então Lacônio, seu ministro, e consentiu consultou,
resgate pelos que rinham sido em só exioir
upririà""a;; ã àã"",
na mão.
A Íeliz nova f.êz acorrer tâo grande número de
cativos liberta.dos, gue era como
se uqu"fu pári; i;
Galia Íôsse d;.p;ouàãl'" Nr#i,",
sômente de Lião{icar parriram
guatrocento_s, e, no total, houve
mil devolvidos sem resgate. T.ã"; seis
iirrrr"iro enr,íado

F:'I":*:".j';,?Tü,"fl #."Í:;*'iiffi
siágria, gue era, di-ro É"ããio, uma
da Igre já, proporcionou o restante
"X**:T,
espécie de tesouro
santo Avito,
"o*
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PADRE RO HR,BACHER

bispo de Viena. Santo Epifânio' tem-endo que os


carivos mais il|""t;s fôssem retidos pela crueldade
dos senhorer, fãi àte Genebra, onde residia Gode-
glrilo, irmão do rei Gondebaud' que lhe seguiu
o

exemplo para a libertaçáo dos pt""ót'


voltou
Assim'
S;;d Epifanio como que em triunfoàno meio dos
qú" t"g.essavam Itália, curlü-
ã.""o, dàs libertados,-ôii'go'iu
i#à;-JJ; ffi;ã'. Pa'ia muito mais cedo
do que o ugrurdavam, e escreveu ao rei Teodorico
e solicitar-lhe a resti-
;; dur-hã conta da missão sldo libertados,
irú" dos bei; ã;q;;tes que tinhamgaulês de origem'
; q;" logrou oút.t. Santo-Enódio'
que escrereu a história dessa
; iô"iriirpo de pavia,''eq'ito
missão, ÍaziJ futt" do de STtq Epifânio' e
fôra testemurrfiu o.ular do- que narra 1 ) '
(

Podia Epifânio pensar em descanso' Mas


antes
que.êle arre-
do ,"g,*do ano, os povcs da Liguria
vez lhe imploraram .a
batara da escravidão,'mais uma
contri-
misericOrdia. O rei Teodorico impunha-lhes
virtude das
b;[á.; que thes era impossível pagar'eem
deploráveis .àãaiiá+ suas casas campos. Eru
i" a Ravena' de-
em pleno irr,r"rro. O bom pastor vai
fende perantl Teodorico ; causa do
pobre povo'
regressa
obtém ú-u isenção de impostos por-de dois.anos'
janeiro de 497, aos
a Pavia, adoece e morre em 21
por todos'
cinqüenta a"ás de idade, amado e chorado

**Í

(1) Enód., Vita S. EPiPh'

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SANTOS FRUTUOSO, BISPO, AUGÚRIO
E EULóGIO (n)
Diáconos e Mártires

são Frutuoso era bispo de Terragona. prêso


com dois dos diáconos, Au§urio e EulogIo, po,
ordem
do governador de Terragána, Emiliario,' foi
numa prisão. Era domingã, -.tiáã
e os três, orando fervoro-
samente, aguardaram o martírio com impaciência.
Na
sexta-feira seguinte, compareceram ao tribunal.
Emiliano, silenciosamente, perscrutou o velho
bispo, e acabou por lhe formrla. Júr"r.ira pergunta:
Tu conheces os editos dos imperadores?
. - Ignoro-os, respondeu Frutuoso. Ademais,
seja o gue fôr que prescrevam os imperador.;,
me importa. Sou cristão. ;;;;;
- os imperadores, retrucou Emiriano imediata-
mente, ordenam gue se sacrifigue aos deures.
Frutuoso, Iogo em seguida, sem hesitar:
Eu adoro um só Deus, criador do céu, da terra
e de tudo o gue nêles está contido.
Emiliano sorriu com superioridade e perguntou:
- Não sabes, então, que existem outros deuses?
- Não, respondeu o bispo.

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92 PADRE R,O HRBACHER

It olhos
p-ara
E, enquanto Frutuoso, - ergutldg
o céu, Íezava--ú;;.i"ho, E*ilia;o, dirigindo-se a Au-
oúrio. aconselhou-o:

Augúrio resPondeu:
cotrlo ;â hei de ouvi-lo, se eu também adoro
a Deus todo-Poderoso?
E tu, virou-se o governador para Eulógio'
adoras Frutuoso?
EulOgio sorriu discretamente:
Não, respondeu, não adoro Frutuoso' meu
que
bispo. Aáoro, sim, o mesmo Deus verdadeiro
Frutuoso adora.
Emiliano voltou a atenção para o bispo'
que

ainda orava baixinho:


Tu és bisPo? Perguntou'
Sim, resPondeu Frutuoso' eu o sou'
Pcis ;td iàta"t tal dignidade' Mais ainda'
digo-te! Perderás tambem a vida!
E,dandoporencerradoointerrogatório'aostrês
condenou-os a ser queimados vivos'
das
Os próprio, pãgãos choravam' Sabedores ao
três almas'
raras virtudãs que uão"'u"am -aquelas
haíiam afeiçoado.
bispo principaláente muito se Um
Os cris[il;;tt*pu"hu'urn-ÍIos atê a prisão'
tomou-
deles, soldado, up,o'í'oando-se de Frutuoso'
lhe ardentement" dut mãos, e Pediu:
Lembra-te de mim em tuas orações, eU te
peço.
Frutuoso olhou-o carinhosamente' E' dirigin-
do-se à multidão, que os seguia' disse
em alta vozi
Eu devo rogar por tôda-a I-greja espalhada
por tôda a terra, do-oriânte ao ocidente.

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VIDAS DOS SANTOS

santo Agos_tinho, que f.êz o elogio dos três mâr-


tires, Frutuoso, Augúrio e Eulogio, ãntende aqui que
o velho bispo queria dizerr "Qrem permanecer no
.da Jsreia católica terâ parte nas minhas o,ra-
seio
ções". Rogaria, pois, tanto para o ansioso soldado,
como para os demais, não só de Terragona, mas de
todo o mundo cristão. '
Afinal, cumpriram o martírio. E os dois cristãos
que estavam a serviço do governador Emiliano, Babi-
las e Midono, viram, ,ro- momento em que ;, trê,
expiravam, que o céu se abria e Frutuoso, com seus
dois diáconos, pâra as alturas subia, coroados todos
os três.
No dia seguinte, cristãos afoitos correram às
cinzas, à procura de restos preciosos, que desejavam
conservar em suas casas, como relíquias. Então, do
alto do céu, o velho bispo upur"."u-lhes, dizendo:
Deixai os preciosos restos para que verda-
deiros fiéis do crisío or reunam numa só tlmba.
os
cristãos não devem ter nada senão em comum.
O suplício dos três mártires ocorreu em 259,
quando de Valeriano e Galiano.

+a+

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-

sÃo MEINRADO (*)


Ermitão e Mártir

são Meinrado, que era filho de Bertoldo, ligado


à família dos Hohen2ollern, nasceu na Suábia. Os
p"it, piedoso casal, confiaraÍr-Ílo, quando nos dez
anos, aos cuidádor dum abade beneditino, chamado
Éatto, de Reichenau, que o entregou à direção_ de
Erlebaldo, ambos tambãm aparentãdos com os Ho-
henzollern.
Meinrado foi aluno exemplar, e quando' em 821'
foi ordenado padre, mostrou-se digno da decisão que
havia tempos tivera, gual seja a de se consagrar ao
serviço dos altares.
Logo, porém, quando-Erlebaldo substituiu Hatto,
como uÜudá, o iovem resolveu abraçar _a vida
monás-
tica, pouco -"áo, de um ano depois de sua orderâ-
çao.'E,umdia,tendoomosteirodeBollengen
-abade
um bom professor,
solicitado ao de Reichenau
ú"i"r"a. Íc,i enviado como o mais conveniente.
Estava, assim, o Santo caminhando para a vida
de
ermitão, que iria levar, ao mesmo tempo que se âpÍo-
ximando do martírio.
Pouco temPo dePois, era o novo habitante de
Bollengen um dos mais estimados membros da ÇoÍlu-
nidade.

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V IDAS D O§ §ANTO§

Encantado com a visita que f.izera, certa vez, ao


m9n!e Etzel, o desejo de levãr vida de ermitão, na
soledade, principiou a lhe trabalhar a alma. E,
abordando o abade, humildemente lhe solicitou p;:
missão para tal.
obtido o consentimento, Meinrado mudou-se
para uma aldeiazinha, a de Altendorf, e lá se integrou
por sete anos no ininterrupto trabalho de santificar
a alma. Procurando maior solidão, embrenhou-se oâ
floresta gue crescia não muito longe do *o, te Etzel,
esperançoso de gue ninguém o p"rtu*basse flos eXef-
cícios espirituais.

depois que se {ixo.u naquelas matas que o


, ^F9i deu
demônio de assaltá-lo. úIeinrado, todavia,
rogando a Deus com todo o ardor, conseguiu a graça
de vencer a Satanás e viver exclusivamente para o
Senhor, sem mais importunidades.

Quando a filha de Luís, o Germânico, Hilde-


garda, tornou-se abadessa do convento de zur:iqu",
era então em 853 e o Santo completava o,s seus cin-
qüenta e seis anos, tendo ouvidó referências às vir-
tudes e santidade de Meinrado, erigiu-lhe uma capela
e enviou-lhe uma imagem muito vãnerada de Nàssa
Senhora.

Dedicada a capela a Maria, muitos milagres se


pro-duziram, e, deóde então, bandos de rJmeiros
vinham visitar a imagem milagrosa, dando assim ori-
gem_ às peregrinações à Nossa senhora de
Einsiecleln
ou Nossa senhora dos Ermitões. E Meinrado
".u
tão merecedor, que recebia a visita dum anjo do céu,
que com êle ficava a orar.

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PADRE ROHR.BACHER

Ora, tais peregrinações suscitaram a atenção


dum bando de Íadrõãs. Quantas ofertas não fariam
ao santo homem os romeiros que obtinham graças?
No dia mesmo em que os desalmados planejaram
avistar-se com Meinrado, para matá-lo e assim âpos-
Sâf-se do tesouro que julgavam existir na ermida, o
Santo, à missa, diante de Maria no altar, foi avisado
por Deus de gue lhe chegara o [im.
Preparott-se, pois, o santo mártir para uma boa
morte. Pouco depois das orações de ação de graças,
os bandidos chegaram. E o bom ermitão, receben-
do-os na cela que tanto, e por tantos anos, santificara,
deu a conhecei qu" lhes iabia do intento. Bondosa-
mente. contou-lhes como o céu o avisara de que iria
receber os matadores.
O que a muitos poderia fundamente tocar,
fazendo-ós atirar-se aos pés do santo homem para
lhe solicitar o perdão,
-Com nem sequer comoveü aquêles
empedernidos. sanha, arrojaraÍl-se sôbre Mein-
tado e cumpriram o gue tinham de cumprir'
Logo, porém, morto o Santo, ü1rl temor que jamais
-sentido
haviam em tôda a vida dêles se apossou.
Dispondo, apressadamente, dois círios ao lado do
cadà,rer, f ugiram daguele santo lugar, apavorados.
E, segundo ã l"nda, áois negros corvos, seguindo-os
obstinadamente, lograram, pela insistência com gue
os marcavam, delaãá-los à lustiça. Prêsos, confes-
saram. E foram condenados à morte'
São Meinrado desapareceu em 861. Recolhido
por dois religiosos que o abade de Reichenau enviara,
foi o santo *áttit enterrado na catedral'

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VIDAS DOS SANTOS 97

Anos depois, o cônego de Estrasburao,


Metz, com al g uns ..1"puãfr.irái .-.^tãUeleceu bispo de
-se perto
da capeta, vivendo detaixo d;õ;il:il-,ffi;.
o primeiro abade da comunidade foi Eberhard,
grande prebosre da catedrat
J;- É;"ãru"rgã---^'*^s

No
mesmo dia, em Troyes, na
Pátroclo, mártir, güe *.r".", a coroaFrança, São
quando do imperuáo. Aurerian", do martírio
' mente. Filho de nobre famíria, "ã^à zsg, provàver-
apó-s morte
distribuiu seus bens uo. pàur." i"rlÃu-r" dos pais
levando vida penirenr". 'cl,àã;ã;;
"
da cidade,
decrarar que
religião.professava, esclareceu gue
era cristão e fo,i
morto, depois de infindas tortuias.
o corpo, reco-
Ihido pol doi.r, *."digãr, foi enterrJdo
reverente-
mente. u*q"capela .ôb;;;;"r^d"';',r;
Frguida
mais tarde, muitos miragres tiveram
depois, uma grande ,gr"iu foi ocasião. pouco
.orrrtruidu em sua
honra.
Na Escócia, são vimino, bispo e confessor. '
ciou-se na vida religiosa numa' das Ini-
abadias do condado ãe Éir". - mais cérebres
Ãb;ã,
Deus conferiu-rhe o doÀ d;r ;ir;õ, i"poi, bispo,
da vaidade qu: I!" prJ"r"" advir, Temeroso
deixou-se ficar
na solidão, fundando á abadia J"
Bo.g:: Sagrado. eu"r"* uigu;riãI;-"w".d, ou do
em 579. ;;
r*rrãIáü.,a.
Em Clermont, Santo
_Avito, bispo e confessor,
irmão de são Boner ( 1 A"ito
). Lã"ã dos homens
---i------------
(1) 15 de janeiro.

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9B PADRE RO HIIB ACHER
digno tltt1t3,t:
mais cultos da época' Desejando .um
procurou o irmão, então governador ,1?^l::":T'?fi"
'Marselha. Retirando-se do carg-o' taleceu em oov'
[oi'
O corpo, ,"p,'ritudo- 1a igreia de §ao Venerando'
a basilica de
depois do ,e.uf" X, t'ã"i"tido paÍa
anos depois'
Santo Aliriol do"a" a"tapareceu, muitos
Na Bélqica, São Maccalan' abade' originário
da Irlanda, fãlecido em 978'
Finalmente, neste mesmo dia' na Espanhu'. ru
virgem' nascloa
bem-aventurada Inês de Benig?tiT' [eve-
a9
numa uld.iu ttãt imediações dã Valença ' -de
e
reiro de Ài{- nn" de Luit Albinana do mundo'
Vincência
Gomar, nobres, mas poUttt em bens havia muito
Mortos pri;; Inês satisfez o desejo'
"t consagrâr-se a Deus de corpo I alma'
acalentado:
Entrando ãra"* das agostinianas descalças de
""
Beniganim, professou com o nome
de irmã ]osefa
às mortifi-
Maria d" s#;u i;êr: ôevotissima, dada
em adoração
cações, p".;;; gt""a" parte
da noite
diantedosantosacram"''to.Acossada-pelodemônio,
verc€u-" .;;ãJ'J" a" Deus' que the conferiu o
Faleceu santa-
dom d" ptoíiti)u''e le'. os corações'
r merte "*"1-Oíí,- no áiu de Santa Inês, sob cuja
invocação Professou'
E*T,"bizonda,SãoValeriano,SáoCandidoe
SantoEugênio,comto*pu"heiros'mártires'sobDio-
cleciano.
NaNicomédia,santoEustácio'mártir'também
quando de Diocleciano'
EmAncira,naGalácia,SãoBusiride,confessor,
desaParecido em 379 '
Em Nletz, Santo Aptato' bispo e confessor'
morto em 691'

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VIDAS D OS SANTOS

No mesmo dia, em Atenas, são púbrio, bispo,


Que governou.assaz dignamegle aguela igreja d"ói;
de s ão Dionísjo Areopãe
ira. Tã.Já;;r. ; "I;
-Õrirto. a"õi;-
dor das virtudes .o*ô p?tu a"rtri"ír..ebeu coroa
da glória pelo testemúnho de .-> No
|"rur
mesmo dia, aniversário de Luís xvl, rei
da n""rri",
gual, por se haver recusado a assi";;; ã;ü";ã
!
dos sacerdotes fiéis, e haver-se tornado
confessor da
fé católica,. foi.morto pelos ímpios d, ápo.".
O pd;
Pio vI, como dot qu;ririá;
-orparricurar, de martírio
a morte de Luís XVi.

***

I http://www.obrascatolicas.com
t

22.0 DIA DE IANEIRO


SÃO VICENTE
Diácono, mártir

ia auma ilustre família' O avô paterno


Pertenc
Íizeta
fôra .àrrul. 1"""* e bem proporcionado'após o
excelentes estuáos, e o bispo de Saragoça'
arquidiá-
instruir na ciància divina, á ordenara seu
cono,comaincumbênciadeinstruirosoutros,noSeu
facilidade'
il;;;,;ãt ln" não s-er possível falar com
ioualmente 'a
õ"b;;ó, .hu*uão Vaietio' ã..u váriosl bispos. o
pertencia.
uma família distinta, que í:
um como o
gárr"rrrudot Daciano mandou que tanto
-ttu"feriram-nos
outrofôssempresos'TorturaÍâÍfl-lloSaprincíPlo:*
S;;;s;;;; i.F,, paÍa Valência'
onde foram fããçuaos a uma horrível
pr.isão. Daciano
de grilhões
lá os conservou longo tempo' tu"tgãdos o tirano
;p;;á;ào-r,...ríá.io aÍimento. Esperava da fome
que o peso oas correntes e os padecimentos cha-
lhes abatesse o corpo e a almá' Mandando-os
ãur, surpreendeu-se ao vê-los de corpoosvigoroso
e
guardas'
espírito i"""lUtántável' Repreendeu no tocante
ordens
como se não tivessem executaão aS
trat-ou de a êstes coo-
áãi pritioneiros; e em seguida' gue Valêrio'
quistar com promessas e u*"uçut' Visto

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I
VIDAS DOS SANTOS

em virtude da sua dificuldade de falar, nada respoÍr-


dia, disse-lhe Vicente: Meu pai, se mo ordenardes,
Íalarei. Meu caro filho, retrucou Valério, assim
como vos contiei a palavra de f)eus, assim também
vos encarrego de responder pela Íé gue agui susten-
tamos. Vicente, então, declarou gue eram ambos
cristãos e prontos a tudo padecer pelo único e verda-
deiro l)eus, e por Cristo. ' Daciano, encole rizado,
eondenou o bispo ao exílio, e submeteu Vicente à
tortura.
Em primeiro lugar, mandou gue o pusessem iro
cavalete, e ordenou aos verdugos lhe puxassem os
pés e as mãos com cordas, o gue êles tizeram com I
tal violência, que lhe deslocaram os ossos. A tal
tortura, acrescentaram-se tlnhas de ferro. Vicente
dizia trangüilamente ao govêrnador: "Eis o gue s€rr-
pre desejei; eis o Íim de todos os meus desejos. Nunca
ninguém me deu, como tu, tão grande prova de ami-
zade."' Ria-se dos verdugos, e lhes censurava a Íalta
de fôrça e coragem. Teve o santo alguns momentos
de descanso, enguanto os verdugos eram esbordoados
por ordem de Daciano gue deles ctesconfiava. Não
tardaram, porém, em voltar, resplvidos a plenamente
satisfazer a barbaridade do amo, que os instigava por
todos os meios possíveis. Por duas vêzes interrom-
peram as torturas, a fim de descans aÍ e de tornarem
mais vivas as dores do mártir, deixando gue as chagas
se esfriássem. Em seguida, animados de nova f.úria,
recomeç atam, rasgaram-lhe tôdas as partes do corpo
com tal desumanidade gue, em vários pontos, se viam
os ossos e as entranhas. Daciano manifestava a ira
pelos violentos tremores do corpo, pelos olhos brilhan^
tes, pela voz entrecortada. O haitir, sorrindo, disse-
lhe: "Eis aqui o que se lê alhures: os que vêern não

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PADRE ROHRBACHER

verão, os gue ouvem não ouvirão, pois eu confesso a


Cristo, Senhor, Filho do Altissimo, do Pai, Filho único
de um Pai únicot e contesso gue ê um só e o mesmo
Deus com o Pai e o Espírito §anto. Contesso â ver-
dade, e tu asseguras gue a nego. Sem dúvida, deve.
rias atormentar-rne se mentisse, se chamasse deuses
os teus príncipes. Atormenta-me ainda mais, não'
cesses, para gue possas ao menos, dessa maneira,
com o teu espírito, por mais sacrílego gue seja, res-
pirar a verdade assim experimentada, e reconhecer
em mim o seu invencível confessor. Quanto aos
deuses gue gueres gue eu reconheça, são ídolos de
pedra e de madeira. Torna -te trJ, se assim o {esejas,
mártir dêles, torna-te o pontífice morto de mortas
divindades; guanto a mim, sacriÍico ao único Deus
vivo, abençoado em todos os séculos."
Confessoü-sÊ Daciano vencido, e foi como se a
raiva lhe desaparecesse um pouco. Mandou cessar a
tortura, na esperança de gue pelos caminhos d.a doçura
obtivesse, talvez, o fim almejado. "Apiada^te de ti
próprio, disse a Vicente; sacrifica aos deuses, ou pelo
menos dá-me as Escrituras dos cristãos, segundo os
últimos éciitos gue ordenam sejam gueimadas." A
única resposta do mártir foi gue temia muito menos
a tortura que a falsa compaixão. Daciano, mais
furioso do gue nunca, condenou-o âo suplício do fogo,
o mais cruel. Vicente, insaciável de sofrimento, ffioo-
tou sem hesitar no instrumento de suplício. Trata-
vâ-se de um leito de ferro, cujas barras, feitas em
forma de foice e guarnecidas de pontas agudíssimas,
ficavgm por cima de um braseiro ardente. Estenderam
e Ermarraram o santo no leito. Tôdas as partes do
seu corpo gue não se encontravam voltadas para o
lado do fogo, foram dilaceradas a chicotadas e Quei-

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VIDAS DOS SANTOS 103

madas corn lâminas incandescentes. Lançaram-lhe


sal nas chagas. Torturaram-lhe, em seguida, áu
-es-u
maneira as diversas partes do corpo, e por repetidas
r'2zes. A gorcura, que se derretia de todos os lados,
servia de alimentos às chamas. Tal suplício que nos
faz estremecer de horror só de imaginá-lo, parecia
reanimar incessantemente a co,ragem de Vicente, pois,
quanto mais sofria, tanto mais alegre e contente pare-
cia. 9 juir, confuso e arrebatadó pela cólera, Ia ,e
não dominava. Perguntava sempre aos ministros da
sua crueldade o que Íazia, o que dizia vicente:
"continua o mesmo, respondiam-lhe; persiste na pri-
meira resolução; dir-se-ia que os tormentos só -lhe
aumentam e firmam a constância." Com efeito, o
invencível mártir nada perdia da soberana tranqüi-
lidade. Limitava-se a erguer os olhos para o céu e
a conversar, interiormente, com Deus, por meio de
constante oração.
O governador, desesperado, mandou Çue o DU-
sessem num calabouço repleto de cacos, para lhe
renovar as chagas: deixaram-no Iá. sôzinho. com os
pés estendiclos. Adormeceu e, ao desoertar, viu o
calabouço iluminado nor uma luz celestial e os cacos
transformados em flôres; viu, mais, um gruDo de
anios nrre iam corsolá-lo. e com êles enfoou os lou-
vores de Deus. os quarclas, ouvinrlo aguelas vozes
tão suave.s. esoreitaram oelas frestas da norta, e viram
que o mártir passeavt'a, cantando. Diante do milagre,
converteram-se, e o mártir os confirmou com as suas
palavra5.
Sabarlo" cto oue se harzia passado, Dacíano, eue-
renjo tírar-lhe a olória de morrer no tormenfo,
mandou oue o colocassem num fofo reito, para deíxá-lá
repousar e, depois, atormentá-lo de novo, Acudiram

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ROHRBACHER

os fiéis da cidade; beijavam-llre as chagas € eoXU$ê-


VâÍl-rrâS Com panos, pAra conservar aquêle Sangue,
bênção da familia dêles. O mártir, mal se viu no leito,
corpo atirado a um
-orr"r. Daciano brdenou fôsseoocomessem; ma§ um
campo, para gue os animais
.orro o'defenãeu das demais aves, e atê expulsou
um lôbo que pretendia aproximâf-se. Daciano, então,
mandou qu"' lançassem aquêle corpo ao alto mar,
metido num saco e prêso a uma pedra. Mais uma
Yez malogrou o intónto do governador; o saco foi
repelido iuru a praia. O mártir, aparecendo, a um
santo ,urão, declarou-lhe que chegara à terra, e rlos-
iror-tt o lugar. Hesitanáo o sarrto varão, duvidoso
"
da verdade áa visão, uma santa viúva foi também
avisada, effi sonho, do lugar em que o corpo se
achava coberto pela areiai contou aguilo a vários
cristãos, e guiando-os, descobriram o santo corpo.e
levaram-oo â uma igrejinha, em que o sepultaram ( 1 ) .

***

(1) Ruinart e Açt+ §§, 22 jan'

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I

SANTO ANASTÁCIO
Persa, mártír

A devastação do oriente e do Egito peros r,u-


çulmanos, se abalou a fé em tnritàr, deixou de
coroar a perseverança de vários. uma "aomultidão de
cristãos preferiu a morte a abiurar a fé
em G.to
o -qr-" é ainda mais maravirrrãro,- foi que tais cara-
midades dos cristãos serviram para à
.onrr"rsão de
vários persas idólatras. Temos dirro um
ilustre exertr-
plo no santo mártir Anastácío. Não sômente
persa de origem, senão também ,ogo era
de profirrá;,
como seu pai, que_lhe ensinara a magia
desde , ;;i;
tenra inf5n.iu. chamâvâ-se Maqunàat
persa. servia na cavararia, quando, upor na ri"gr"
de ferusalém, foi a santa ,rui levada
a tomada
caoital da Pérsia. À- aproximação daÉru
ctesifon,
santa reríouia,
eram os infiéis tomados de temor, enquanto
se reiubilavam. Farava-se dela 'enl -todo - os fiéis
quis saber qu" àirtério
o ,"iio
$",,,'_ldar
ram-ihe rÍns: e o Deus dos cri-sff,65
ulrcle. Disse_
"ru que está
qando' Mas' che_
'efreria l\itrqpnàrt. .álo ,oc" vir: rer
aqrri o qra-nde Deus que habira o
ceu e ãu;;:;.,aà,
adoram? A fôrca de incla;;;, ,;;t""
da cruz, à qual fôra nreoaclo our" ã ür" ." rratava
crênero humano, o Firho de -ciisto,
salvacão clo
D;;,
pelos cristãos. Desçle então, estudou acrora.do
interessada_

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106 PA DR E ROHRBACHER

mente tudo quanto dizia respeito à religião


cristã'
se sentia
Quanto mais'á iu conhecendo, tanto mais
Jruido por ela. As ilusões da magia desapareciam
como as trevas.diante da luz'
Deixando a milícia, retirou-se para a cidade
de
e lâ
Hieraples, na casa de um ourives persa' cristáa'
era receber
aprende, o ofi.iã. O que mais deselava
o batismo. O ourives, temeroso dos persas' então
;.;ht.;s do prit, iu sempre adiando'às.igref Contudo' não
deirava de levá-lo em suá companhia
as' Y1-
pinradar, as histórias dos márti-
;;;;;;ã" "elas, ó signiÍicado de tudo aquilo'
res, perguntÀu-he
Sabendo, ào, .o[ní*"ntos e dos milagret. qot
santos, "rr,ã,- ãámitação a constância dêles
perante "rrch"Jr"--d"
os tiranos.
Depois de passar algum tempo em Hieraples'
nlÍnotl para i"rürole., tõ* o deseio de tornar-se
'i;;talou-se
cr:istão. Lá, -;;"d;-the*o" igualmente na casa de um
ourives, qr;, fervor' o levou a Elias'
sacerdote da'f àr"ãa" Ressurreição.
Êste, abraçan-
Modesto,
do-o como nifiã, ã .""a, ziu ao santo padre
ão*o viqário do
que gov"rrurru ; igt;ü ãà J"tusalem
patriarc a Zacatias, prisiotáto na Pérsia'
M:ry1l:l
oue mals
.aa"U"r, oois, o batismo com otttros persas' então
tarce sofreram o martírio em Edessa, e d.escle
D,ssou , .hã^rr-r" Anastácio' Ficou
oito dias com

o sacerdote Elias' Quando abandonou as vestes


Etias que gênero de vida ten-
btancas, o..gí"tãu-he-
Rogou-lhe Anaõtácio que o fizesse
cionava uUru"çãr.-r.**;"doü-o
ao mosteiro de Santo
monce. EfiJ, o acolheu o
Anastásio, plit" àãl"rusalém' ro qual
abacle Tustino sob a ái*iplina' mandou que the
"u-
ensinassem as letras gregas e o educassem
como se
de 620 '
fôra ,., ptÇtio titttol Era o ano

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il

VIDAS DOS SANTOS

Viveu Anastácio sete anos nesse mosteiro,


ocupado nos humildes trabalho-" da cozinha e do
jardim, obedecendo de boa vontade a todos os irmãos,
mas entretido sobretudo em ouür a leitura das Sagra-
das Escrituras e a vida dos santos Padres. Quando
percebia alguma coisa incompreensível para êle, inter-
rogava o mestre, gu€ de tudo possuía ótimo conheci-
mento. Na cela, lia em particular os combates dos
principais mártires, gue o Íaziam chorar. Orava a
Deus, no âmago do coração, gue lhe concedesse a
graça de combater como êles pela sua glória. O .
demônio atormentou-o com a lembrança dai fOrmulas'
e operações mágicas. Foi libertado de tais embustes
Santo Anastácio pela sua constância em os revelar
ao superior do mosteiro, e pelas orações da comuni-
dade. Pouco depois teve um sonho, no qual, achan-
do-se no tôpo de elevada montanha, ,piesentou-lhe
uma personagem uma taça de ouro cheia de vinho,
dizendo-lhe ao mesmo tempo: "Tomai e bebei."
Compreendeu que ]esus Criito o convidava a partí-
cipar do seu cálice para o martírio. Tudo revelôu ao
abade, recomendou-se-lhe às orações, saiu do mos-
teiro, foi visitar os diversos santuários da Palestina,
e finalmente rumou para Cesaréia, onde se demorou
dois dias na igreja da Santa Virgem.
No terceiro dia, indo ao oratório de Santa Eufê-
Tia, viu alguns magos empenhados na magia.
Animado do zêlo de Deus, aproxirrou-s€-lhes e
disse-lhes: "Por gue vos iludis e iludis os outros com
bs vossos malefícios?" Surpreendidos co,rn tamanha
ousadia, retrucaram êles: "Quem sois, e de que país,
para falar-nos dêste modo?" "Eu próprio fui como
vós, outrora, retrucou o santo, e sei guais são as
vossas imposturas." Tendo começado a refutá-los,

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108 PADRE ROHRBACHER

calaram-se os magos; contudo, rogaram-lhe apenas


gue lhes não divulgasse os mistérios ao público, e
deixaram-no ir-se. Alguns passos mais adiante, vários
cavaleiros persas gue estavam parados diante do alo-
jamento do chefe, disseram na sua língua: "Eis um
espião, um delator. Anastácio fitou-os e respondeu-
lhes: Não sou delator, sou servidor de |esus Cristo,
e Íui o gue sois." Detiverâtrc-no imediatamente, e o
chefe, após interrog â-lo, deixou-o numa masmorra
durante três dias, sem que o santo comesse nada, de
mêdo de malefícios. LIm cristão, entrando na ffiês-
morra, congratulou-se com êle pelas correntes e o
animou bastante a não temer as torturas nem a morte,
em prol do nome de |esus Cristo, e sim a responder
com confiança ao marzban, ou governador, o gual
acabava de cheg ar a Cesaréia.
Levado ao tribunal do marzban, não se proster-
nou, segundo o uso dos persas. Havendo-lhe sido
pedido ô nome e a origem, respondeu: "Sou cristão,
persa, da província de Rasec, da aldeia de Rasnuni;
fui cavaleiro e mago, mas abandonei as trevas pela
luz; chamei-me antes Magundat, e chamo-me, agora,
como cristão, Anastácio." O marzban disse: "AbaJt-
dona êsse êrro e volta à tua primitiva religião o t
Nao gueira Deus, retrucou Anastácio, que eu renegue
a CriJto! ,- Por açaso, agrada-te tanto assim o hábito
gue vestes? perguntou-lhe o governador. Êste
habito e a minha glória, foi a resposta. Insistiu o
governador: o demónio é gue te inspira. -- O demô-
ãio inspirav à-frr-, respondeu Anastácio, quando eu
estava imbuído do meu antigo êrro; quem me inspira
agora é Cristo, que persegue os demônios. Não
temes, acaso, o rei, disse o governador, não temes
que te mande crucificar, se um dia te conhecer? -

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VIDAS DOS SANTOS 109

Por qye deveria temer? replicou o santo. Não se


trata de um homem sujeito ao apodrecimento como
vós todos?" O governador, enioleri zado, *u"Jo,
que o levassem à masmorra, carregado de cor"*tes,
e o condenou a transportar grandeã pedras. Algun;
habitantes da-sua província,"vendo-o rror"l" ;r?à;,
diziam-lhe: "Em que estás peÍrsando? Nunca ho,rrrá
gente do nosso país que se Íizerse cristã. Fur"r .à.
que se riam de nós." Não
Querendo êle dar-lhes aten-
ção, maltratarâÍ,-flo cada vez mais. porém, o corâ-
joso atleta a tudo se submetia com júbilo.
o governador mandou-o chamar pela segunda
vez, e disse-lhe: "se és filho de mago ô ." conhecês
a maóia, fala-me dela. Nã; Gii; D;, ;õ;;:
deu Anastácio, gug. eL- Rrofira Lma pãfá"r" ;;il;,
sôbre tal assunío." Depois de _

respostas,
"uà"r no chão
ordenou o governador qr" o estendessem
e o verga.stassem, até que cedesse. o santo obserwou
que não havia mister o amarrassem, e
só rooou lhe
fôsse tirado o hábito y gâra gue se não rasgasse.
eo
batessem na carne, "pois. acrescentou, o
õr" fazeis
é simples brincadeira. Mesmo que me cortásseis em
pedaços, eu jamais renegaria ;
]esus Cristo.,, ô
governador, admirado dJ tamanha constância, marr-
dou-o chamar pela terceira v'ez, e disse-lhe: '"L;--
-
bra-te da arte gágica, e ,u.rifi.r, orr" que não
nerecas tão miseramente. Respondeu-lhe
o servo de
Dgr::-A que dzuses quer"i, ;;";;"';acrifique. ao
sol, à lua, ao fogo, ao mar, às montanhas, às colínas,
aos orrtros elementos e aos metais? preserve-me
Dotrs
cle "dorâr os
'ossos ídolos! Foi Crisio, Éifnã ;; Á;,;-.
oue tôdâs essâs coísas f.êz oaru o nosso, rrso. F,rr"ais
servindo aos demônios e aos quadrúpertes. Homens
feitos à imagem de Deus, ignorais o Deus gue vos

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110 PADR E ROHRBACHER

criou." Foi tal a elogüência do santo que os presefl-


tes se admiraram.
O abade do seu mosteiro, sabedor de tão glo-
riosas lutas, enviou-lhe cartas, com dois religiosos'
para congratular-se com êle e animá-lo na persêve-
ru"iu- Fãi u* dêsses religiosos que escreveu a histó-
ria da vida milagrãs de sânto Anastácio. O
"-dor
santo, não satisfeito coá, sofrer durante o {ia' pa:-
sava as noites ; orar e louvar a Deus. Estanclo
acorrentado com outro prêso, cuidava bastante de o
não importunar. Um ludeu, vendo-o carregar de dia
grurrd", pedras e de noite orar, pergunt ava a si
próprio, urroorb.ado, quem era aquêle homem' Certa
,roiie, o6r".rrundo o runto que recitava os hinos rlâtu-
tinos, viu a prisão iluminada sübitamente por uma
clrande luz, enquanto umas criaturas vestidas de
branco entravã. rodeavam o mártir. Admiradís-
"
simo, refletiu lua"r: são anios! Viu-os' em seguida'
."rr".tido. a" " '[áf ior ou d; mantos coalhaclos de
.rur"r, e disse,'são
-r.rtido bispos! O próprio mártir Anas-
tácio ,rorecia de branco é resplendente de
lir. Um iovem, na sua frente, segurava umÀincen- vista
sório de ouro no qual ia colocando incenso.
de tais maravilhus, esforçou-se o iudeu por despertar
o vizinho, um juiz cristãó de CitOpolis; mas o homem
dormia tão profundamente, que levou muito tempo
;;;; ;.otau'.. Olha, disse-lhe o iudeu' Olharam
ã*bor, porém nada mais viram. Tendo-lhe o iudeu
,ràrrudo'tudo quã"to lhe fôra dado presenciar, ambos
glorificaram nosso Senhor |esus Cristo'
I Entretanto,ogovernador'tendorecebidoas
ordens clo rei cosroés, mandou dizer a santo
Anas-
tácio: "O ,J p"d"-vos que digais apenas-estas P"l?-
vras: não rárãtta", Depoiõ, tereis a liberdade de

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V ID AS DOS SANT OS 111

Íazer o que mais vos aprouver. Respondeu o mártir:


Não queira Deus que eu renuncie a Crtsto!" O
governador mandou, pela segunda vez, dízer-lhe:
"Sei que vos envergonhais de o renegar diante dos
vossos compatriotas, mas visto que são severas as
ordens do rei, dizeí tais palavras sômente diante de
mim e de outras duas pessoas, e vos deixarei ir.
Mandou o mártir que lhe respondessem: Não queira
Deus que eu renegue a Meu Senhcr, nem diante de
vós, nem diante de guem quer gue'seja!" Declarou-
lhe, então o governador gue o rei ordenava fôsse
enviado à Persia, carregado de grilhões. Respondeu
o santo I " Se quiserdes, irei sôzinho à presença do
vosso soberano." O governador uniu-o a outros
dois cristãc,s, com partida marcada para cinco dias
mais tarde.
Entretanto, chegou a festa da Exaltação da
Santa Cruz, O santo mártir, os dois religiosos do
mosteiro, os dois cristãos cativos e vários fieis da
cidade celebraram a vigília na prisão, mediante hinos,
salmos e cânticos, esguecidos dos grilhões. De ma-
nhã, um magistrado cristão pediu ao governador
licença para tirar as correntes dos presos durante a
festa e conduzi-los à igreja, com a promessa de os
recondu zir à prisão. Consentiu o governador. O santo
mártir Anastácio rumou, pois, da prisão à igreja. Foi
enorme o júbilo de to'dos os fieis. O exemplo da sua
constância reergueu o ânimo dos mais fracos. Ate
os que desesperavam da fe cristã se sentiram forta-
lecidos só por vê-lo. Diziam-lhe: "Estamos prontos
para morrer, como vós, por Nosso Senhor |esus
Cristo." Depois da missa solene, o magistrado o
Ievou para sua casa, com os dois religiosos do Íros-

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ttz PA DR E ROHRBACHER

eiro,, comeu com êles, e, em seguida, os acompanhou


de volta à prisão.
Passados os cinco dias, santo Anastácio partiu
de Cesarêia,, com os dois cristãos e um religioso do
seu mosteiro, para lhe ser útil e informar o abade
de tudo guanto se veriÍicasse. Trata-se do mesmo
religioso gue escreveu a vida, o martírio e os milagres
do santo. Inúmeros fiéis o acompanharam até fora
da cidade, chorando copiosamente e glorificando a
Deus. Em todos os lugares pelos quais passava, a
sua presença espalhava o júbilo entre os [iéis; todos o
acolhiam com grandes honras e o acompanhavam
fora das suas cidades, coffio mártir de |esus Cristo.
Chegado à Pérsia, foi atirado à prisão na cidade de
Betsaloé, a duas léguas do castelo de Dastagerd,
onde vivia o rei Cosroés. O religioso gue o âcortr-
panhava instalou-se na casa de Cortac, filho de
|esdin, um dos principais dignitários do reino, cristão,
como sua família. O intendente das prisões era tam,-
bem
X[11"1; dias após a chesada, mandou cosroés um
juiz para proceder -ao interrogatório, e perguntar a
Anastácio, entre outras coisas, por que havia aban-
donado a religião dos persas para tornar-se cristão.
O santo mártir respondeu através de um intérprete,
não desejando explicar-se err persa, apesar de tôdas
as insistências I "Vós errais adorando os demônios
em vez de Deus. Eu próprio os adorei outrora,
cegado pelo mesmo êrro. Agora sirvo e adoro ao
Deus todo-poderoso, gue fêz o céu e a terra e tudo
quanto nêles se contém; e estou convencido de gue
os vossos deuses constituem uma perniciosa impostura
dos demônios. ,- Miserável! gritou-lhe o iuiz, aquêle
gue os cristãos adoram não foi, por acaso, cnrcificado

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VIDAS DOS SANTOS 113

pelos judeus? Como pudeste abandon aÍ a tua religião


para te f.azeres cristão? Respondeu o mártir: falais
a verdade, quando afirmais gue os cristãos adoram
aquêle gue foi crucificado pelos judeus, mas por
que não acrescentais gue assim foi pelo fato de êle
próprio o querer? Foi êle gue f.êz o céu e a terrâ, o
mar e tudo quanto o mar encerra; foi êle que, depois,
se dignou descer à terra, tomar a natur eza human4
ser pregado à cÍttz, para libertar o gênero humano
do embuste de Satã, a quem vós adorais. Prestais
culto ao fogo e outros elementos, bem como a coisas
que não convém citar, adorando a criatura e não o
Criador. Disse o juizt Não continues com essas
palavras. O rei oferece-te dignidades, dinheiro,
cavalos, para gue figures entre os seus principais
ministros; volta, pois, à tua primitiva religião. O
bem-aventurado Anastácio respondeu: jamais reoe-
garei a ]esus Cristo; pelo contrário, sirvo-o e adoro-o
com tôdas as minhas fôrças. Quanto aos presentes
do vosso rei, considero-os lama."
O juiz, tendo narrado tudo quanto se havia
passado ao rei, mandou gue o santo mártir fôsse
esbordoado, a fim de, pelos tormentos, convencê-lo,
jâ gue não pretendia ceder às promessas. Vendo-o
inflexível, mandou o torturassem de várias maneiras;
umas vêzes, ordenava gue o suspendessem por uma
das mãos, tendo enormes pedras amarradas aos pés;
outras, mandava lhe atravessassem sôbre as pernas
uma grande prancha de madeira, sôbre a gual se colo-
cavam dois homens. O suplício, considerado insupor-
tável, sofreu-o o santo mártir com uma tranqüilidade
gue espantou o juiz, de modo que não encontrou outra
solução senão voltar à presença do rei, paÍa novas
inotnrções. No intervalo, o intendente das prisões e

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114 PADRE ROHRBACHER

o religioso do mosteiro trataram de consolar o santo.


Muitõs outros cristãos, entre os quais os Íilhos de
]esdin, prostravam-se-lhê aos pés, beijavam-lhe os
grilhões, recomendavam-se às suas orações, e lhe
pediam bênçãos ou piedosas lembranças.' Recusan-
do-se Anastácio, por humildade, aplicaram cêra
sôbre os grilhões, para lhes conservar as impressões
como relíquia.
Cinco dias depois, mandou o rei gue o mesmo
juiz Í.izesse morrer o santo mártir e os demais cri'stãos
cativos, em número de setenta, e entre os guais se
achavam os dois cristãos de Cesaréia. Todos Íoram
estrangulados sob os olhos do santo, . a guem - disse
o jtriz á* segrida: "Pois bem! Que pretendes f'azer?
Morrer com êsses infelizes? Obedece, antes, ao rei
e aceita as honras gue te oferece; serás ilustre no
palácio, e viverás como nós"' O santo mártir,
ãrguendo os olhos ao céu, deu graç§ a Deus por lhe
satisfazer o desejo, e respondeu: "Esperava ser cor-
tado em pedaços por amor a ]esus Cristo. Se é essa
a morte gue me ameaçais, dou graças a Deus po.r,
meciiante tão insignificante sofrimento, participar da
glória dos mártirãs." E foi com grande júbilo que
padeceu o mesmo suplício. Após o haverem estran-
'rei.
gulado, cortaram-lhe a cabeça e levaram-[â âo
Ô irrtet dente das prisões, cristão como já súemgs,
guis guardar o coipo do santo, para reconhecê-lo.
Mut ós üctores, judeus, não o permitiram. Todavia,
os filhos de |esdiní gue tinham assistido àquela morte'
deram-lhes considerável guantia de dinheiro e logra-
ram o intento. O religioso que seguira Anastácio
desde Cesaréia, aparecendo de noite com os servidores
de |esdin e algun§ monges, retirou o corpo e o sepul-
tou no mosteió de São Sérgio, a um guarto de légua

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I
VIDAS DOS SANTOS

da cidade. Santo Anastácio terminou o martírio em


22 de janeiro, no décimo-oitavo ano do imperador
Heráclio, ou seja, em 628,
Na véspera da morte, dissera a outros presos
oriundos da Palestina: "Sabei,' meus irmãos, gue
amanhã morrerei pela graça de Deus; guanto a vós,
sereis libertados dentro de alguns dias, sendo o injusto
rei a,ssassinado." Com efeito, dez dias depois, em
1.0 de fevereiro, o imperador Heráclio chegou com
o seu vitorioso exército. O monge gue seguira o santo
voltou ao cabo de um ano, para o seu mosteiro,
levando a túnica do mártir. Narrou ao abade tôda
a história, e escreveu-a tal qual a possuímos, e tal
qual foi lida no sétimo concílio geral. O corpo de
Santo Anastácio foi, em seguida, levado pelo mesmo
monge a Constantinopla, e à Palestina, ao mosteiro.
A descrição dos milagres re.alizados durante a trans-
lação Íoi escrita por uma testemunha ocular. Final-
mente, o retrato do santo mártir e atê a própria cabeça
foram Ievados a Roma, onde podem ser ainda vistos
no mosteiro ad Aguas Saluas gue tem o nome de
São Vicente e de Santo Anastácio ( I ). A Igreja
romana a ambos venera em 22 de janeiro;

s'ss

(1) Aeta SS., 22 de jan,

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SANTA LUFTHILDA (*)
Virgem
Lufthilda, também conhecida como Santa Luf.-
thalda, mesmo Leuchtilda, era natural de Lufterberg,
aldeia que se situava nas vizinhanças de Colônia.
Cedo, bem cedo, perdeu a mãe. O pai, contraindo
segundas núpcias, deu à filha uma terrível madrasta.
Menina piedosa, era caritativa, e provia os pobres
sempre gue possível.
' Dum a f.eita, a madrasta acusotl-â ao marido, di-
zendo-lhe que a enteada malbaratava os bens da casa.
O pai ourri, a espôsa e quis constatar o fato. E,
um-dia em que a filha saía com um embrulho, alcan-
Çou-â e interpelou-a:
Que levas aí? Para onde vais com isso?
Amenina, amedrontada, não respondeu, porque
não mentia e tinha mêdo de revelar a verdade. E,
como se pusesse a tremer, o pai, agastado, tomou do
embrulho. Nêle, Lufthilda levava vários pãezinhos
para dar a uns pcbres que perto a aguarda""P'
Aberto o embrulho, o pai verificou que só continha
carvão.

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VIDAS 11?

Santa Lufthilda consagrou-se à oração e à con-


templação. Retirada, viveu numa cela perto da igreja,
cela que ilustrou pela santidade.
Falecida em 850, segundo se presuúe, o túmulo
que abriga foi testemunha dos vários milagres que
a
Deus se dignou ali operar.
Santa Lufthilda é invocada, principalmente, coÍt-
tra cs cães hidrófobos.

stÊs

I http://www.obrascatolicas.com
I

BEM-AVENTURADO GAUTIER DE
BRUGES (*)
Bispo e Confe.ssor

Gautier era de Bruges, e tomou o habito dos


irmãos menores no convento Íranciscano da cidade
em que nasceu. Sabio e santo, estudado em Paris,
foi mestie e doutor em teologia. Culto, piedoso e
humilde, exerceu os mais importantes cargos da ordem
em que professou.
Nomeado pelo papa Nicolau III paÍa a sé de
Poitiers, suscitol demoiado processo, dentro do qual
dois eleitos tiveram gue renunciar ao cargo em noÍne
da trangüilidade. É o papa, embora _ Gautier tudo
tivesse fãito para não aceitar a dignidade, sustentou a
nomeação.
Aô rei da França, então Filipe, o papa Nicoiau
escrevia, pouco depois da consagração episcopal con-
ferida ao zeloso franciscano:
"A vida de Gautier é irrepreensível. O saber e
a prudência, nêle, são duas coisas incontestáveis, feCo-
nhecidas por todos, e a inteligência nos aÍa zeÍes espi-
rituaiS e temporais, regomendam-no como o homem
mais indicado para a sé de Poitiers".
Obrigado a excomungar Bertrand de Got, seu
metropoliiano de Bordêus, -porque tã9 1e dignara
cu*pii, uma decisão vinda da cátedra de São Pedro,

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!É.:;,
VIDAS DOS SANTOS 119

foi Gautier deposto quando, anos depois, o mesmo


Bertrand de Gct, então papa, sob o nome de Cle-
mente V, se sentava em Roma, no Vaticano.
Gautier aceitou a deposição com grande humil-
dade, e logo depois, 1307 , falecia. Antes, reunira os
irmãos em tôrno de si, e, na presença de todos, depo-
sitou a sentença do Sumo Pontífice nas mãcs de Deus.
Escrita num pergaminho, pediu:
Quando morrer, coloquem-no em minhas
mãos, com o crucifixo.
Morto, tudo foi feito como estabelecera. E,
quando Clemente V estêve em Poitiers, depois de
algum tempo, ficou ciente do que se passara. Secreta-
mente, ordenou abrissem o esquife do bem-aventura-
do, ansioso que estava por ccnhecer os têrmos do
protesto lançado pelo antigo bispo.
Todos os esforços para arrancar o oergaminho
das mãos de Gautier foram em vão. Estupefatos
tcdos, o papa não continha a emoÇão e tremia de
pura admiração. Controlando-se, disse ao morto:
Em nome da santa obediência, eu te ordeno,
deixa o pergaminho, que eu, papa, juro restituir-te!
No mesmo instante, abriram-se as mãos de Gau-
tier, e o perqaminho foi retirado sem dificuldade.
O papa, lidos os têrmos do protesto, desde aquêle
dia se arrependeu do que f.izera e batalhou para
reabilitar o zeloso bispo, principiando pela construção
de nova tumba na igreja dos irmãos menores de
Poitiers, tumba gue , durante as guerras do século
XVI. foi destruída.
- Em Bruges, o bern-aventurado Gautier é gran-
demente venerado.

fÉ ?t" I

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BEM-AVENTURADA MARIA
MANCINI (*)
Víútta
Maria Mancini, cujo nome no século era Cata-
rina, nascida de pais ricos, foi,. desde menina, favo-
recida por freqüãntes intervenções e aparições do
anjo da guarda.
Aos cinCo anos, o anjo apareceu-lhe e conduzhJ-a
ao lugar do suplício de _Pedro Gambacorti, então
errforádo no palácio. Nossa Senhora, surgindo
diante dela, p"ãir-lhe sete Ave Marias pelq to399-
nado. Terminada a oração solicitada pela Mãe
Santíssima, partiu-se a corda, e Pedro, com vida,
foi pôsto em liberdade.
Anos mais tarde, fá enviuvada pela segunda vez,
Maria havia de se encontrar, no convento de Santa
Cruz de Pisa, com uma filha de Pedro, â bem-aven-
turada Clara Gambacorti, e com ela viveria por
muitos anos, na mais estreita amizade.
Maria Mancini casou-se duas vêzes: a primeira,
com doze anos, tendo, da união, nascido duas meni-
nas, que, 1oÇrg após o batismo, morreram' O marido'
quatro anos depois do casamento, falecia; a segunda,
então, com deiesseis anos, dar-lhe-ia oito anos de
vida conjugal. Viúva novamente, deixou o mundo

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VIDAS DOS SANTOS tzl
e ingressou em São Domingos, na ordem terceira,
exortada por Catarina de Siãna.
Em são Domingos entregou-se às orações, o,61-
tificações e aos exercícios da laridade. Duiam-desse
início os êxtases.
Deus mesmo deu-lhe a conhecer que a desejava
na vida do claustro, daí transferir-sã para sánta
Cruz de Pisa.
com clara e outras religiosas, Maria Mancini
levou a vida
.em.comum que_ sã pode chamar perfeita.
Quando_ a disciplina em Santa cruz prinôipiou a
decair, Pedro Gambacorti, instado pera'filha, .orr-
truiu-lhe um convento, 'também de - são Domingos,
do. qual a primeira prioresa foi a irmã Filip"" í;
Albizo.
Maria e várias outras religiosas. tôdas no desejo
de integrarem na mais rígiáa observância, trans-
.se
rerrram-se para novo convento, unindo-se à irmã
Clara.
Morta a prioresa Filip d, ã filha de Gambacorti
sucedeu-lhe em 1398. E,- em l4rg, falecida Cl;;;
Gambacorti, Maria, por sua vez, sucedia-lhe
administração de São Domingos. "ã
A bem-aventurada Maú Murrcini fale ceu a 22
de ianeiro de 1431, com oitenta e um anos de idade.
Por trinta e seis anos de vida religiosa, ,ec"be, d;;ü
{. guarda, inúmeros favores, avisos e conselhos.
Diz-se que, por êle, soube de urrt"*ão dr.
tôdas oue sofreu: a morte do primeirà marido ;;à;;
e do
sequnco, bem como dos filhos e depois da mãe. Nosso
senhor mesrno lhe aparecgu na forrna de um mendiqo
todo coberto de chaçras. Cuidando dale.
a conhecer à bem-a'enturacla, CÃ"à"É;r;-J;;-r;merecedora
foi a fiel servídora Maria Mancini!

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t22 PADR E ROHRBACHER

esa
No mesmo dia, em Roma, Santa Blesila' viúva'
filha de Paula e irmã de Eustóquio, pertenceu ao
grupo de nobres romanas exortadas à virtude_ por
3a" ferônimo. Quando dcente, certa feita, Nosso
Senhâ, favoreceu-â coÍl sua suprema presença' Ca-
sada, sete meses depcis enviuvava, dedicando-se,
então, inteira, a Deus. Sáo |erônimo, numa das car-
tas, deixou-Ílos um eloqüente elogio de sua santidade'
Em Novara, são Gaudêncio, bispo e confessor,
filho de pais idólatras. Ior"_* ainda, recebeu os
ensinamentos da fe. Procuiando converter a família'
viu-se perseguido, daí expatriar-se ' Em Vercelli'
Éusebiá, bisõo, ordenou-o ieitor. Com o padre LoY-
;.ft;, ;", i§o'ouru, entrego-u-se -aos trabalhos de
.orri"r.ão dos infiéis. Em Milão, foi solitário. Fale-
ceu em 418 ccmo bisPo de Novara'
Na Inglaterra, São Brithwold, bispo, depois de
ter sido *oág" em Glastonbury. Alçado ao bispado
J. nà*sburi, f aleceu em 1045. Deus concedeu-lhe
o dom da profecia.
Na Belgica, o bem-aventurado Gautier de Bier-
beck- jru"dã devoto de Maria Santíssima. Militar,
tomou parte na.tercefta cruzada, cnde se disting.uiu
pelo.rulor. Deixando o mundo, professou na ordem
ã" Cit"aux, na abadia de Hemmerode. Faleceu em
íiZZ, quando numa visita à abadia de Villers. Nossa
Senhora, então, f avoreceu-o com uma apariçáo, e
grancles milagres tiveram oportunid-ade'
') Em ToOkin, os bem-aventttrados Francisco Gil
d.e Federich, dominicano ern Barcelona, e Afonso
Laziniana, mártires. O primeiro, natural de Tortosa,
nã-Cutulunha; o segunáo também espanhol, profes-

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I I

VIDAS- DOS SANTOS 123

sava com os dominicanos de Sant a Cruz de Segovia.


Francisco partiu, com vinte e quatro companheiros
da ordeffi, pârâ as missões do Oriente. A princípio
em Pangamina, seguiu depois paÍa Tonkin. Por
pregar a religião cristã, foi condenado à morte. Afon-
so Leziniana pertencia ao número dos vinte e guatro
missionários e teve a mesma sorte de Francisco.
Conduzido ao senado, sofreu interrogações sem conta
e fci condenado. Ambos, atados um no outro, foram
decapitados em 1745. Beatificados por Pio X em
1906 com outros mártires dominicanos.
Na diocese de Troyes, Santo Oulph, mártir do
século II ou III.
_ Na Bulgária, os Santos Manuel, |orge, Pedro,
Leão, bispos e companheiros, mártires, ern S t A.
No mesmo dia, em Embrun, os Santos Vicente,
orôncio e Victor, receberam a coroa do martírio na
perseguição de Diocleciano.

ss"1Ê

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2i' DIA DE IAI'{E/RO
sÃo JoÃo ESMOLER
P atriar ca de Alexandria

Um dos contemporâneos de Santo Anastácio,


que vimos no dia precedente, foi São João, patriarca
de Alexandria, .ogrroorinado o Esmoler, effi virtude
da caridade e das extraordinárias esmolas. Sucedera,
em 609, a Teodoro, cognominado Escribon, estran-
gulado pelos hereges, ã g.t", por sua -vez, sucedera
ã Santo'Eulógio, morto em 606. Era |oão nativo de
Chipre, filho ãe Epifânio, governador da ilha. Fôra
.u.ádo; mas, tendo perdido os filhos e, depois, a
mulher, entregarâ-se inteiramente a Deus e f.azia
grandes Assim, embora não tenha levado
"r*oiur.
iida monástica nem tenha vivido no clero, foi julgadcr
digno do episcopado.
Tendo os persas devastado tôda a Síria, os que
lograram escapal-lhes das mãos, clérigos, leigos,
mãgistrados, particulares, até bispos, se refugiaram-em
Alãxandria. Recebeu-os |oão a todos e todos os dias
lhes proporcionou com liberalidade o que lh§ "14
necessário, Sem levar em conta o número. Tendo
sabido da tomada de )erusalém, mandou um piedoso
varão, Cesipo, com bastante dinheiro, trigo, outros
víveres e vestes. tanto para comprovar a devastação

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I
VIDAS DOS SANTOS L25

como para dar assistência aos sobreviventes. Enviou,


mais, Teodoro, bispo de Amatonta; Anastácio, abade
do monte Santo Antônio, e Gregório, bispo de Rino-
corura, com grandes quantias de dinheiro, para Íes-
gatar os cativos. O santo patriarca recebia guantos
o procuravam, e consolava-os como irmãos. Mandou
colocar os feridos e doentes em hospitais, onde eram
tratados gratuitamente, e de onde só saíam quando
desejavam, e visitavâ-os duas ou três vêzes poÍ se-
mana. Quanto aos que gozavam de boa saúde e iam
receber a esmola, dava aos homens uma moeda equiva-
lente a dez centavos da nossa moeda; às mulheres,
por serem mais fracas, dava o dôbro. Alguns, usando
braceletes e ornatos de ouro, não deixavam de pedir
esmola. Os incumbidos da distribuição gueixarâÍl-se
de tal com o patriarca; mas, contra o seu costume,
disse-lhes com severidade no tom de voz e no olhar:
"Se quereis ser os meus despenseiros, ou melhor, os
de ]esus Cristo, obedecei simplesmente ao seu preceito
de dar a quem quer que peça. Não precisa Cristo, nem
eu tampouco, de ministros curiosos. Se_ o que dou me
pertencesse, alguma tazáo teria eu de preocupâr-Ílei
mas se pertence a Deus, quer êle sejam as suas ordens
executadas na distribuição dos bens. Não queró
participar da vossa pouca f.ê,, pois, embora tôda â
humanidade se amontoasse em Alexandria, jamdis
esgotariam os imensos tesouros de Deus."
O ano foi estéril, pelo fato de o Nilo não ter
subido de nível como habitualmente. Assim. a carên-
cia dos víveres e a multidão dos gue fuqiam dos
persa.s não tardaram em esgotar o tesouro da Ioreia;
o santo nztriatea arraniou emprestadas, com vários
bons cristãos, cêrca de mil libras de ouro. Tendo-âs
gastado, e continuando a mesma carência, ninguém

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I
PADRE ROHRBACHER

mais gueria emprestar-lhe dinheiro, temendo cada um


pelo que era seu. Impelido pela necessidade dos
pobres a guem nutria, vivia o santo em grande inquie-
tação e redobrava as orações. Um habitante da
cidade, então, desejando ser diácono, embora fôsse
casado duas vêzes, quis valer-se da oportunidade e,
não ousando apresentar a proposta pessoalmente,
apresentou ao santo um escrito pelo qual lhe oferecia,
para as necessidades dos pobres, duzentos alqueires
de trigo e cento e oitenta libraS de ouro, contanto
sue o ordenasse diácono, alegando um passo de
São Paulo, para provar que a necessid ade Íaz êsÇue-
cer a lei. Mandou o santo patriarca que o varão
Íôsse à sua presençâ, Ê disse-lhe: "A vossa oferta é
importante e vem a calhar, mas não é pura. Quanto
a meus irmãos, os pobres, Deus, gue os nutriu antes
que nós tivéssemos nascido, vós e eu, nutri-los-á ago-
tã, contanto que lhe observemos os mandamentos;
assim como multiplicou os cinco pães, pode abençoar
os dez alqueires do meu celeiro." Disse. e despediu-o.
Imediatamente, foram dizer-lhe que acabavam de che-
gar dois grandes navios da Igreia, enviados à Sicilia
em busca de trigo. O santo, prosternando-se, disse:
"Dou-vos graças, Senhor, por não terdes permitido
gue o vosso servidor vendesse a vossa graça por
dinheiro." Sabendo que o abade Modesto estava a
braços com á carência de coisas necessárias ao resta-
belecimento dos santos lugar"s, errrrlou-lhe mil moedas
de ouro, mil sacos de trigo, mil sacos de legumes,
mil libras de ferro, mil pacotes de peixe sêco, mil
jarras de vinho e mil obreiros do Egito, com uma
carta na qual se lia: " Perdoa-me se vos não envio
nada que seia digno dos templos de Cristo; eu próprio
quisera ir trabalhar na casa da sua santa ressurrei-

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VIDAS DOS §ANTO§ r27

ção." Com tais auxílios, o santo abade Modesto


restabeleceu a igreja do Calvário, a da Ressurreição,
a da Cruz e a da Ascensão. hsta última, chamada
mãe das igrejas, restabeleceu-a de alto a baixo.
Mal São ]oão o Esmoler se instalou no trono
de Alexandria, reuniu os ecônomos da igreja, e disse-
lhes: "Ide por tôda a cidade, e registrai-rle todos
os senhores e amos, até o último". Perguntaram-lhe,
com assombro, guem eram tais senhores e amos.
"São, respondeu-lhes, os gue chamais de pobres."
Foram encontrados mais de sete mil e guinhentos, aos
guais mandava dar esmolas todos os dias. Cuidou
de impedir gue em tôda a cidade de Alexandria se
usassem falsos pesos e falsas medidas, e publicou-se
uma ordem em seu nome, mandando fôssem confiscâ-
dos todos os bens dos faltosos em proveito dos pobres;
vê-se, dessarte, gual a autoridade do patriarca de
Alexandúa, atê no temporal. Sabendo gue os digni-
tários da igreja recebiam presentes para dar prefe-
rências a algumas pessoas no resgate dos cativos,
reuniu-os e, sem censurá-los, lhes aumentou o salário,
proibindo-lhes aceitassem fôsse o gue fôsse.
Soube que várias pessoas não ousavam âprêseo-
tar-lhe as gueixas, pelo temor gue lhes incutiam os
secretários, defensores da igreja e outros dignitários
gue o rodeavam. Tomou, então, a resolução de dar,
duas vêzes por sem ana, uma audiência pública, nas
guartas-feiras e nas sextas-feiras. Punha-se-lhe um
trono diante da porta da igreja, com dois bancos para
os homens de mérito, com os guais se entretinha,
tendo o Evangelho entre as mãos; não permitia se
aproximasse dêle nenhum dos dignitários, a não ser
um único defensor, a fim de que os particulares se
apresentassem com mais confiança. Mandava que

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t28 PADRE ROHRBACHER,

as suas ordens fôssem executadas pelos defensores,


guerendo que deias se desincumbissem antes ate de
comer, "pois, dizia, se l)eus nos da a liberciacie de
entrar a gualguer hora na sua casa e ali oferecer-lhe
as nossas preces, e s€ queremos gue nos ouça ràpida-
mente, como devemos proceder com nossos irmãos? "
Um dia, ao sair da cidade para ir a uma igreja dos
mártires, prostrou-se-lhe na frente uma mulher pedin-
do justiça. Os que o acompanhavam, deram à mulher
o conselho de esperar o regresso. Mas o santo retru-
cou: "E de gue modo receberá Deus a nossa prece,
se adio para outra ocasião o pedido desta mulher?
Quem me garante que eu viva amanhã?" E imedia-
tamente ouviu a inf.eliz. Outr a vez, tendo esperado
atê onze horas da manhã, sem gue ninguém se âpre-
sentasse à audiência, retirou-se chorando. Baixi-
nho, perguntou-lhe São Sofrônio o motivo. "É, foi
a respcsta, que nada tenho para oferecer a |esus
Cristo pelos rneus pecados. É Pelo contrário, disse
Sofrônio, deveis rejubilaÍ-vos por haverdes tão bem
pacificado o vosso rebanho, que vivem todos em
harmonia, como anjos."
São |oão estudava constantemente a Escritura,
não por ostentação, mas por prática, e nas suas coÍr-
versações particulares, não havia palavras inúteis.
Nelas, falava-se de negócios necessários, contavam-
se episódios de santos, discutiam-se passos da Escri-
tura, dogmas, ern virtude da multidão .de hereges que
infestava o país. Quando alguém falava mal de outro,
o santo patriarca desviava habilidosamente a conversa;
se continuasse, nada lhe dizia, mas proibia ao oficial
de semana que o deixasse entrar outra vez. As
histórias de que mais gostava eram os exemplos de
caridade para com or pãbrer.

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VIDAS DOS SANTOS 729

os seus confidentes mais íntimos eram dois san-


tos monges, João Mcschus e sofrônio, que viveram
em Alexandria, durante o seu episcopadô. o santo
patriarca a ambos respeitava como pais, e lhes obe-
decia sem reserva. Sendo dcutíssi*ôr, dêles se valia
paÍa combater os severianos e demais hereges, e foi
tal o empenho de ambos, que conseguiram aiastar da
heresia grande número de iocalidadãs, de igrejas e de
mosteiros. O santo patriarca recomendavá cuidado-
samente ao povo que não estabelecessc jamais con-
tacto com os hereges, mesmo gue por 6da a vida
ficassem privados ãa comunhãó caíólice. É .o,oo,
dizia, o caso do marido por longo tempo afastadá
da mulher, à qrgl nem "permitiã;
_po; isso é J;;G;;
outro hcmem. com tal recomendáç áo, e facil
lulgar
a medida com que os hereges tinham infestádo" o
-donos
Egito. Eram os em *"uito, lugares, tanto que
alguns católicos não conseguiam lir.emerrte
a sua religião. "rãr.",
Um dia, vendg gue_vários dêles saíam da igreja
após a leitura dp Evangelho, o santo patriarca tambem
saiu e sentou-se no meio dêles. vendo-os surpÍeeÍl-
didos, disse-lhes: "Meus filhos, onde estão as ove-
Ihas, deve estar o pastor. por vós ê gue desço à
igreja, pois poderia dizer a missa a mim no bispaào.t'
Honrava especialmente os monges. construiu
um abrig,o
runoou dois .particular para os monges estrangeiros, e
mosteiros perto dos dois oratórios gue
havia erguido, um da §anta virgem, -a" Sa.
outro. Deu-lhes terras do seu patrimônio, eiãaãl disse-
lhes | " cuidarei das vossas neôessidades'p;r;;;À,
cuidai vós outros da minha salvação. il
preces da tarde e da noite serão pâ"u mim; "or.à,
as que
fizerdes de dia, nas vossas ceras, serão por vós."

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PADIIE ROHRBACHER,

Queria, dessarte, pôr reparo ao que lhe ÍaltavA não


üaà jessoalmentã pratiãado a vida monástica. Tam'
bém cóns8uira abrigos para os forasteiros, os anciões
e os enfermos.
Apesar da ngueza da sua igr eia, vMa pobrg-
mente e deitava-se num peguenino leito, protegido
apenas por uma péssima cóbeita de lã rasgada. .Ten-
aã-fre úm rico dado outra, valiosa, o santo recebeu-a
por amor ao ofertante, mas ela lhe impediu dormir;
pensava nos pobres gue-,
-
no mesmo tempo, morriam
ãe frio e de *irériu. No dia seguinte, mandou gue
a vendessem; o rico tornou a comp râ-la e devolveu-
lha. O santo vendeu-a de novo, e na terceira vez, dis-
,"-tn", ''V"r"-os guem se há de cansar _primeiro."
Mandava gue trabalhassem no seu túmulo, deixando-o
sempre inácabado, para que -nas grandes ,festas o
advãrtissem da necãssidade de terminá-lo, em vir-
tude da incerteza da morte.
São Ioão, o Esmoler, após ter_caritativamente
recolhido ã auxiliado os fugitiíos da Síria e da Pales-
ii"r, foi obrigado, ,o atto seguinte, de 616, a fugir
também p"rul..apar ao g_ládiô dos persas. Resolveu
retirar-sã para a iiha de Chipre. - O patrício Nicetas,
ã amigo deseiando valet-." da oportunidade,imPg- lhe
rogou qüe fôsse atê -Constantinopla giar p*t
,uáor"r, isto é, por Heráclio e seu filho. Consentiu
o santo patriarcá. Mas chegando a Rodes, teve uma
visão na qual esplendente persolagem, ggPunhandg
um cetro de orró, lhe disse: "Vinde, o Rei dos reis
vos chama. Disse, então, ao patrício Nicetas: VOs
me chamais para o imperador da terra, mas o impe-
rador do cCü foi mais rápido", e dep_ois de the des-
crever a visão, dêle re r"purou, foi a Chipre e chegou
a Amatonta, cidade onde nascera. Lâ, ditou o testa-

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VIDAS DOS SANTO§
13r

mento nestes têrmos: "Dou-vos graças,


por terdes ouvido a minha prece, por meu Deus,
e só me restar
um têrço de sôldo, muito embora,-uo
tenha encontrado na casa' .pir.àpui-
r", ora."ããã,
d"
cêrca.de quatro mil libras de'orrolãre*
Alexandria
das imensas
guantias que recebi dos amigos
de Cristo. f ;;;
isso gue ordeno gue o pouco gue
resta seja dado aos
vossos servidores."

Cavaleiro da Ordem de São João,


hospi-
talário. Gravura de Jost A,mman.
É. Morreu, e. foi sepultado no oratório
Ticão, gue fôra bispo Jã ã"r.a cidade de São
de Amaronra,
e cuja memória é honrada pera igrãr"
junho. colocaram o corpo de sãã no dia 16 de
entre os de dcis bispos, gr", à vista Í;;, o Esmorer,
sentes, se'afastaram para dar-rhe
de toJo.
- ;õ;;_
se vários milagres no seu túmulo, ú;;. n"uur;rã;_
;; sua vida Íoi
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PA DÉE ROHRBACHER'

-*t*u escrita por


quase imediatamente
Leôncio' bispo de
Neápolis, ,ru ifnu d" Chipte' 9'" a soubera
dá igreja de Alexan-
"j;á"de Menas, ecônomo tinham,
sobretudo
antes' escrito
il;. frAã.;; Sofrônio
" o Esmoler'
outra, qr" taã-*ui, possuímos' São João' the honra
morreu em l'1 ã;J"t'nb'o' mas a
igrela
em 23 de ia-
a memória nÀ àiu du sua trasladação , de Alexan-
trono
neiro. O.rpJr;d;"k dez anos o após a sua
dria, e teve por sucessor |orge' Todavia' igreja, em
ãpo.u, ,rão -ãis se sabe-a liistoria
dessa
do domínio
virtude du i"rásão dos persas' e' depois'
dos sarracenos. (1)

sstÊ

(1) Act* §§., 23 de lan'

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SANTO ILDEFONSO
Bislto de T oledo

Nasceu em Toledo. Bem cedo o confiaram os


pais à disciplina de Santo Isidoro de Sevilha. Apren-
deu a desprezar as vaidades do século, gue abandonou
realmente para encerrar-se no mosteiro de Agali, nos
arredores de Toledo, e do qual foi, posteriormente,
eleito abade. Tendo Santo Eugênio de Toledo morri-
do pelo fim do ano de 657, substituiu-o Santo llde-
fonso que governou aquela igreja durante nove anos e
dois meses. A sua vida foi escrita por Zixilano e
por |uliano, ambos seus sucessores. Observa o último
que Santo Ildefonso dividira pessoalmente os seus
escritos em quatro partes, a primeira das quais con-
tinha um livro em forma de prosopopéia sôbre a
própria fraqueza, um tratado da virgindade perpétua
da Santa Virgem, um opúsculo sôbre as propriedades
das três pessoas divinas, outro que continha obser-
vações sôbre os atos de cada dia, um sôbre os sâcrâ-
mentos, um sôbre o batismo em particular, um sôbre
os progressos no deserto espiritual. Conunha a
segunda parte as suas cartas, com as respostas dadas.
Nem sempre as suas traziam o nome; algumas vêzes,
usava nomes estranhos ou envolvia o seu em diversos
enigmas. Compusera a terceira parte de missas, hinos
e sermões, a guarta de várias pegueninas ebras em

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PADRE ROHRBACHER

verso e em prosa, entre as guais havia epitáfios e


epigramas. Àlem das obras encerradas nessas quatro
partes, começara outras, gue as ocupações não lhe
permitiram terminar.
Dentre todos os seus escritos, só nos restam
três. O principal é o livro da virgindade perpêtua
da Santa Virgem. Santo Ildefonso compô-lo a rôgo
de Quirício, bispo de Barcelona, como se vê pelas
cartas que êsses dois bispos escreveram um ao outro.
Numa, Quirício admira a clareza com gue Santo
Ildefonso desenvolvera os mistérios da encarnação e
do nascimento do Senhor, esclarecendo os passos em
gue a Escritura fala com certa obscuridade sôbre tal
assunto, de modo gue não teme dizer que confundira
|oviniano, Helvídio e o ]udeu pérfido e incrédulo.
Eru- os três infieis contrá ot qrát |uliano de Toleáo
disse que Santo Ildefonso compusera a obra. Co-
rreÇâ-â por uma fervorosa prece à Santa Virgem,
onde lhe Íaz todos os elogios que se podem Íazer à
Mãe de Deus. Em seguida, prova mediante vários
passos da Escritura gue era necessário fôsse a sua
virgindade perfeita, sendo a morada de Deus, e tendo
sidô Aquêle que devia nascer de tais entranhas gerado
por Deus antes da aurora, ou seja, de tôda a eterni-
dade; que atacar-lhe a virgindade, ê atacar Aguêle
que dela nasceu; gue seu Filho é Deus perfeito como
ê homem perfeito; que foi tão facil a |esus Cristo
conservar a virgindade de sua Mãe como nascer
milagrosamente dela e realizar tão grande número de
outrós milagres; que os anjos renderam testemunho
à virgindade de Maria, dizendo-lhe, quando ela res-
pondêu que não conhecia homem: "O Espírito Santo
descerá em vós, e a virtude do Altíssimo vos cobrirá
com a sua sombra; é por isso que a santa coisa que

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T

VIDA§ DOS SANTOS 135

Aparição da Virgem a §anto fldefonso. (Segundo Murillo).

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136 PADRE ROHR13ACHER

de vos nascer será chamada Fllho de Deus." Invoca,


finalmente, a Santíssima Virgem, para que ela lhe
alcance a graça de bem servir ao Filho e a ela; a êle,
como seu Criador, a ela, corno Mãe do Criador; a
êle, como Senhor dos exércitos, a ela, como serva do
Senhor de todos. A honra que presta à Mãe se liga
ao Filho, sem terminar nela; se serve a Maria , e para
melhor servir a |esus e unir-se-lhe de maneira mais
íntima. "É assim, conclui, gue a honra que se presta
à rainha e honra que se presta ao rei ( 1 ) ". Todo
êsse tratado, de estilo cortado e sentencioso, respira
a mais terna devoção.
No seu livro do conhecimento do batismo, reúne
o que os antigos disseram de melhor sôbre as instru-
ções que preparam para tal sacramento, sôbre as
cerimônias que o acompanham, sôbre as obrigações
que com êle se contraem. Pelas renúncias que com
êle se f.azem ao demônio, às suas pompas e obras, nós
nos empenhamos em viver no mundo como num
deserto; é c assunto do seu livro Do deserto espiri-
tual (2) . Santo Ildefonso continuou assim o catâ-
logo dos ilustres escritores, ccmeçado por São |erô-
nimo e continuado por Genade de Marselha e por
Santo Isidoro de Sevilha. Começa por São Gre-
gório, o Grande, não achando que Santo Isidoro tenha
dito bastante, e termina por Santo Eugênio, seu
predecessor, gue sucedera a outro Euqênio. Santo
Ildefonso morreu em 667, no dia 23 de janeiro, dia
em que a Igreja lhe honra a memória.
***

(1) Biblioth. max. PP., t. XII.


(2) Balqq., Niscell. t. VI.

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I

SANTA EMERENCIANA (*)


Virsem e Mártir
Santa Emerenciana eÍa irrnã de leite de Santa
Inês, filha de n:ãe humílima, pcssi',relmente alforriada
pelcs pais da virgem mártir.
Emerenciana recebeu a mesma educação que a
irmã colaça, e quando Inês faleceu, martirizada, era
ainda catecúmena.
Morta a grande Santa, romarias sôbre romarias
demandavam-lhe a sepultura. E ali se deixavam ficar
os cristãos por longo tempo, a orar e meclitar. ora,
aos pagãos tais reuniões aborreciam e, pois, estabe-
leceram um dia paÍa, às pedradas, dissuadir os romei-
rcs de perseverar naquelas impcrtunas visitas.
Um dia, quando grande massa de povo se com-
primia em tôrnc da tumba da santa virgem, os pagãos,
municiados de pedras, surgiram. E, aós gritoÁ, ãr-u
balbrirdia sem paÍ,exacerbacos, passara- u
os devotos fiéis "rpulsar
surpreendidcs, todos fuqiram, atarantados, me-
nos uma ievem. De pé a.o lado do tfrmulo da mártir,
enfrentou-os com ufl-r desasscmbro incomum, reÊro-
vando a barbárie. Era Ernerenciana. E ali, lapi-
{ada, cumpriu o martírio, cobrindo de -"angue a campa
da irmã que venerava,?

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PADRE ROHRBACHER

O culto de Santa Emerenciana é muito antigo em


Roma, e está intimamente ligado ao de Santa Inês.
O corpo, enterrado no cemitério de Ostrien, passou
depois para uma pequenina basílica, no mesmo cemi-
tério. Óepois da ínvásão lombarda, 9 papa Adriano I
reconstruiu a basílica, danificada. Anos mais tarde,
as relíquias, junto com as de Santa Inês, translada-
fârn-se para a igreja desta Santa, repousando sob o-
altar-mor.
Santa Emerenciana foi lapidada por volta do
ano 305.
saa
No mesmo dia, em Ancira, na Galácia, São CIe-
mente, bispo, mafiirizado sob Diocleciano. Prêso pela
fé, foi levado de cidade em cidade, sob os mais varia-
dos tormentos. DecaPitado em 309.
No mesmo lugar, Santo Agatângelo, martirizado
por ordem do preleito Lúcio. Convertido por Cle-
mente, seguiu-ó até Ancira, partilhando-lhe dos tor-
mentos. Como Clemente, foi decapitado.
Na Síria, Santo Eusébio, abade, que viveu no
Mcnte Corifo, perto de Antioquia. Conduzido pelo
célebre abade Ámmien, grande número de discípulos
reuniram-se-lhe em tôrno, Faleceu em 370.
Em Tessalônica, Santo Ascólio, bispo, originário
da Capadócia. Em Acaia levou vida de solitário,
desde á iuventude dado à mais austera penitência. Fa-
lando dêle, disse Santo Ambrósio de Milão: "Ascólio
foi o murc da [é, da graça e da santidade". Faleceu
em 384.
NaprovínciadeValeria,sãollartírio,monge,
mencionudo p"lo papa Gr:egório. Fiel servidor
de

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VIDAS DOS SANTOS

Deus, desde jovem foi benquisto do senhor. conta-se


gue, duma feita, os irmãos haviam pôsto sob as brasas
um pão para coser, esguecendo-se de marcar, com
um pauzinho apropriado, a costumeira cÍuz gue se
Í.azia, nas províncias, sôbre a massa. Martírió cha-
mou-lhes a atenção, mas, como o pão já estava de-
baixo dos carvões ardentes, o saáto fêz o sinal da
cruz sôbre êles, no ar. Cozido o pão, e retirado das
brasas, apresentou-se com a cruz.
Em Viena, São Bernardo, arcebispo, filho de
nobres. Mortos os pais, deixou a côrte, retirando-se
para Ambournay. Tomando o habito monástico, anos
mais tarde sucedeu o abade da comunidade. Em g l 0
era arcebispo de Viena, sagrado pelo de Lion. Fale-
ceu em 841, numa abadia que fundou na própria
diocese.
Em Besançon, São Maimboeuf, mártir, nascido
na Irlanda, filho de família ilustre. Morto por uma
multidão de pagãos, quando pregava em Bãsarrçon,
muitos milagres foram rcalizados à beira do túmulo
que o recolheu.
Em Ravena, a bem-aventurada Margarida de
Ravena, virgem, uma das fundadoras da congregação
do Bom ]esus. cega desde os três anos d" iáuà",
sofreu resignadamenle até o dia da morte, que ocorreu
em 1505.
Em Foligno, santa Messalina, virgem e mártir.
Nascida )36, foi
"^Quando ; ftd"ã" pero brrp"
Feliciano. o"r"*,uJã
imperador'Decio passou por
Foligno, Feliciano foi prêso. Messali nu, confortãn-
do-o na p-risão, acaboú sendo aprisionada também.
-birme na Í.ê, foi morta em 250, Encontrado o corpo
em 1,599, muitos milagres foram operados.

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PADRE ROHRBACHER

Em Teano, na Italia meridional, Santo Amásió,


bispo. Expulso do Oriente, sob Constâncio, ariano,
o Santo ptô.rtou o papa |úlio, que 9 mandou pregar
-de 'Teano,
na Ca*paria. Bispo faleceu na paz do
Senhor.
Em Filipe, lta Macedônia, São Pármenas, um
dos sete primeiros diáconos, o qual, tendo-se entre-
gado à guia da graça divina, dedicou-se ccm inteira
íid"lidui" uo misler da pregação que os apostolos lhe
tinham confiado, e, sob o reinado de Traiano, alcançou
a glória do martírio. - Em Cesaréia, na Mauritânia,
os santos mártires Severiano e Áquila, sua mulher,
entregues às chamas. - Em Antínoo, cidade do Egito,
Santo Asclas, mârtir, o qual, após vários tormentos,
foi atirado ao rio, onde entregou a alma a Deus'

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T I

, 24, DIA DE IAMIRO


SÃO TIMÓTEO
Bislto e Mártír

são Paulo, depois de percorrer a síria e a cilícia,


de-regresso do concílio de ]erusalém, chegou a Derbe
e Listra, na Licaônia, orrá" encontrou ,i,n discípulo
chamado Timóteo, tido em grande consideração por
todos os irmãcs de Listra e Icônia. Trata,ru-rã de um
jovem que estudara as letras sagradas desde a infân-
cia; seu pai era grego. mas sua mãe Eunice era uma
iudia que abraÇara a fa cristã, como Loida, sua avó.
Paulo- ouis_que fôsse seu companheiro de
iornadas e
trabalhos. Antes, porérn, circuncidou-o, por causa dos
judeus do país, os quais sabiam que o pai dêre eÍa
grego, e gue não teriam podido decidir-se a receber
ensinamentcs de um não circunciso. Paulo fêz mais.
fulgando pelas qualidades do jovem e por profecias
anteriores sôbre êle, que fôra escolhido por Deus
para o santo
.mister, impôs-lhe as mãos, quer então.
quer mais tarde, com os sacerdotes da Igrej'ã, e, assim,
foi-lhe ccmunicada a graça.
Indo de cidade ern cidade, Paulo, silas e Timó-
teo davam como regra a-os fieis a observação das
ordens estabelecidas pelos-apóstolos e sacerdot", qr"
se ÇncQntravam em |erusalém. Assim, confirmavam-

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142 PA DR, E R, OHR,BACHER

se na Íê as igrejas, e cresciam em número, de dia


- dia. Paulo, embarcando para a Macedônia,
para
São PÍQ-
gou o Evangelho em Filipes, em Tessalônica e em
Beréia. O fúror dos iudeus obrigou-o a deixar esta
última cidade, e Paulo nela deixou Timóteo para
confirmar na Íc os novos crentes. Ao chegar a
Atenas, ordenou gue se lhe unisse; mas tendo sido
informado de que os cristãos de Tessalônica_padeciam
cruel persegui(ão, mandou -o d êles a fim de os coÍl-
solar e fortificar. Timóteo voltou, depois, a encontrar
São Paulo, naquele momento em Corinto, para lhe
prestar contas do êxito da missão. Foi naquele tempo
g,r" o apóstolo escreveu a sua primeira ePítola aos
tãssalonicerrtet, na qual ao seu une o nome de Timóteo.
De Corinto, rumou Paulo para |erusalém, de onde
voltou a Éfeso, para lâ passar dois anos. Tendo
planeiado regresiar à Grécia, incumbiu Timóteo e
Erasto de o ãntecederem na Macedônia e em Acaia,
com o intuito de prepararem as esmolas destinadas
ao alívio dos cristãos de ]erusalém.
Deu em particular ordem a Timóteo para- que,
depois, fôsse a Corinto a fim de lá corrigir alquns
abusos, e relembrar aos fiéis a doutrina que lhes
fôra pregada. Na carta que escreveu aos coríntios
pouco tempo após, recomenda-lhes fortemente _o 9üe-
rido discípulo.- Aguardou-lhe o regresso na Ásia, e
leüou-o em sua co-patthia para a Macedônia e Acaia.
Timóteo deíxou o ârróstolo em Filipe, e uniu-se-lhe
de novo em Troas. São Paulo, de volta à Palestina, foi
pôsto na prisão em Cesaréia. onde ficou dois anos,
ser',do, posteriormente, enviado a Roma. Parece oue
Timóteo estava com êle nesse tempo, pois ê citado
em sua companhia, à testa das epístolas aos filipenses

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VIDA§ DO§ §ANTOS

São Timóteo, mártir. Vitral do século Xf.

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I44 PADRE ROHRBACH.EH

e aos colossenses, escritas nos anos 61 e 62. Timóteo


teve, cuircssim, a ventura de ser aprisionado po:
fesus Cristo, e a gloria de ccnfessar a Íê em presença
de urn grande numero de testemunhas; mas Íoi pôsto
em liberdade. Ordenaram-no bispo em conseqüência
de uma profecia e de uma c.rdem particular do Espí-
rito Santc. Recebeu pela imposição das mãos a graça
do sacramento, e não somente o poder de governar a
Igreja, senão também de realizar milagres, com outros
dã"Á exteriores do Espírito Santc. São Paulo, de
regresso de Roma ao Oriente, deixou o discípulo em
nfãso para dirigir a igreia dessa cidade, para se-opor
aos que r.*"u,rãm uma falsa doutrina, parq ordenar
ru."idotes, diáconos, e atê. bispos, pcrquanto lhe coÍl-
fiou também o cuidado de tôdas as igreias da Ásia.
Achava-se São Paulo ainda na Macedônia, Çuâo-
do escreveu a primeira epístola a Timoteo. A se-
gunda foi escrita de Roma um ano depois, -isto ?,
ã* 65. Vê-se a efusão de um coração repleto de
ternura por um filho amado. O apóstolo, -que então
r encontrava agrilhoado, conjura o caro discípulo a
ir visitá-lo em Roma, para ter o cônsolo de mais uma
vez o contemplar antes de morrer. Exorta-o â f€Co-
brar o espíritô de coragem, o fogo do Espírito Santo
de que sá sentiu poSsuído no dia da sua ordenação;
da-lhe conselhos sôb.re o proceciimento no tocante aos
hereges da época, e pinta-lhe o caráter dos que se
ergueriam em seguida.
Sabemcs pela primeira epístola a Timóteo, que
êle só bebia água, mas visto que tão grande auste-
ridade lhe havia alterado a saúde, e que o estômago
estava fraquíssimo, São Paulo ordenou-lhe Qüe SoÍ-
vesse um pouco de vinho. Timóteo devia ter uns

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VIDAS DOS SANTOS

quarenta anos. Era bispo de Éfeso, antes da chegada


de São |oão a essa cidade. En 22 de janeiro de 97,
os pagãos, ao celebrarem uma das suas festas, na
qual exibiam os ídolos, matar am a pedradas e câce-
tadas Timóteo, que pretendia opor-se a tão abcmi-
náveis superstições. Foram as suas relíguias trans-
portadas solenemente para Constantinopla, em 356,
e Iá se verificaram inúmeros milagres.

aaa

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O BEM-AVENTURADO MARCOLINO
Da Ordent dos lrmãos Pregadores

O bem-aventurado Marcolino, nascido em Forli,


na Romanha, entrou, quando contava dez anos de
idade, na ordem dos dominicanos da sua cidade natal,
decidido a consa§frâr-se a Deus. O Senhor apraz-sa,
em f.azer chover os seus dons sôbre as almas ino-
centes; foram tão rápidos os progressos de Marcolino
na vida religiosa, que em breve se tornou modêlo
para todos aquêles dentre os irmãos gue . aspiravam
à perfeição. Rigido observador da regra, obseryava-a
ao pé da letra, sem nunta valer-se de dispensa, e
acrescentava várias práticas às prescritas pela regra.
Tinha tamanha afeição ao retiro e ao silêncio, que
jamais abandonava a cela nem o convento sem urgente
necessidade. A humildade Í.azia-o sempre escolher os
últimos lugares, e o seu maior cuidado era ocultar
aos homens as graças particulares gue recebia de
Deus. Tão fervorosa alma devia possuir grande
ardor para unir-se a |esus Cristo; eÍa, assim, edifi-
cante Lspetáculo ver o santo religioso oferecer o
' augusto sacriÍício dos nossos altares. As copiosas
lágrimas gue o amor divino o levava a verter contri-
bu'íram páru a conversão de vários pecadores. O
mérito áa pobreza e da obediência parecia-lhe tão
grande, gue tinha por essas duas virtudes um especia-

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VIDAS DOS SANl'OS 147

líssimo afeto. Viam-no sempre calmo, modesto, reco-


lhido, mortificado, atento às necessidades dos irmãos,
constantemente pronto a preveni-los e prestar-lhes
todos os serviços gue dêle dependessem. Não era
menos caridoso pelos seculares, e sobretudo os pobres
o consideravam pai.
Quis Deus que seu servidor, o qual se devotava
com tamanho cuidado à sua própria santificação, cui-
dasse também da do próximo. O santo religioso foi
incumbido pelo bem-aventurado Raimundo de Cápua,
então superior geral dos dominicanos, de restabelecer
a regularidade em várias casas da ordem, nas quais se
havia introduzido o desleixo; empregou-sÊ com tal
prudência e zêlo Marcolino, gue as reformou e fêz se
observassem as constituições com grande exatidão.
O bem-aventurado Marcolino prolongou a cerÍ-
reira atê a idade de oitenta anos, e durante tão dila-
tado período de tempo, jamais se desmentiram o seu
fervor e terna devoção pela Santa Mrgem. Sabedor
da hora da morte, anunciou-a aos irmãos, e, após
receber com a mais afetuosa piedade os sacramentos
da Igreia, entregou tranqüilamente a alma a Deus,
em 1397. Mal se dirnrlgou a notícia da sua morte,
todo o povo acorreu a ver-lhe o santo corpo e arraniar
relíquias. Deus rcalizou grande número de milagres
no túmulo dêste bem-aventurado. Bento XIV âpÍo-
vou-lhe o culto em 9 de maio de 1750, e permitiu ao
clero de Forli, bem como à ordem dos irmãos prega-
dores, que lhe celebrassem a festa ( I ) .

s,sa
(1) Godescard, 24 de janeiro. Bréviaire dominicaln.

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sÃo FELICTANO (")
Bispo e Mártír

Sao Feliciano era de Foligno, quando imperava


Gordiano. Em Roma, para onde fôra a estudos,
chamou a atenção até de pagãos, tais os conhecimen-
tos que adquiriu.
De volta à terra natal, Feliciano atirou-se de
corpo e alma ao apostolado. Numerosos pagãos
viviam, então, em Foligno, naquela época, e o santo
bispo a muitos dêles converteu e batizou, em segrêdo,
porém, uma vez que não queria, para o bem da evan-
gelizaçáo que levava a efeito com tantos frutos, ficar
demasiadamente em evidência.
Morto o bispo da cidade, como recusasse subs-
tituí-lo, o povo e o clero, que o escolhera para preen-
cher a vaga, decidiu que o conduzissem a Roma para
ter o beneplácito do papa.
Vitor, o sumo pontífice então reinante em São
Pedro, que já o conhecia dos tempos de estudante, e
de estudante que brilhara, ficcu satisfeito com â esco-
lha que os de Foliqno ha.riam feito, sagrando-o, êle
mesmo, e ccnferindo-lhe o poder de consagrar novos
btspos.
Sob o imperador Filipe tudo foi calma, e o âpos-
tolado de São Feliciano foi profícuo. Eis, porém, gue

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VIDA§ SANTOS 149

Décio reacendeu o fogo da perseguição. O bispo foi


prêsc. Solicitado a sacrificar aos ídolos, Feliciano,
servidor fidelíssimo cie Jesus Cristo, recusou-se a
f.azê.-lo.
Metido na prisão, o bispo orava e aguardava a
última hora. Messalina, a jovem gue formara na
piedade, solicitamente o consolava e pensava-lhe os
ferimentos produzidcs pela brutalidade e inconsciência
pagãs.
Morto a caminho de Roma, para onde ia sendo
Ievado (251) po. ordem do imperador Décio, o santo
bispo, adiantado em idade, recebia a coroa do martí-
rio, depois de ter governado a Igreja de Foligno por
proveitosos cinqüenta e seis anos.

stÊs

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sÃo MACEDÔNIO (*)
Anacoreta e Contessor
Macedônio viveu quarenta e cinco anos numa
montanha perto de Antioquia. Era de uma sobriedade
fora do comum. Sem abrigo, exposto ao sol e à chuva,
alimentavâ-se de cevada misturada à água. Pão,
comia-o como remédio, raras, raríssimas vêzes.
Quando Feliciano, bispo de Antioquia, êürpÍeeo-
deu a obra de santificação das almas, resolveu chamá-
lo para auxiliá-lo na emprêsa, tanto dele se falavd, e
tão querido era do povo.
Descendo da montanha, porque lhe dissera o
bispo que devia defender-se de uma acusação qtte
lhe haviam feito, deixou o retiro. Quando aos pés
do altar, Feliciano impôs-lhe as mãos, e ordenou-o
'
sacerdote.
Macedônio, descobrindo o gue lhe Í.izera, disse
com veemência, cheio de santa indignação:
Não tinhas o direito de me tirar da guertda
solidão!
Macedônio faleceu em 430, com noventa anos
de idade. Setenta, passarâ-os fazendo penitência na
doce soledade da montanha. Todo o povo de Antio-
guia assistiu às suas exéquias. O corpo, enterrado
na igreia dos Santos-Mártires, descansou ao lado

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VIDAS DOS SANTOS

'Teo-
de dois outros famosos solitários: Afraate e
dósio.
Macedônio foi recompensado por Deus, em vida
mesmo: sem nenhum conhecimento das letras, quer
sagradas, quer profanas, por via divina aprendeu a
verdadeira ciência da salvação. E, quando o povo
de Antioquia, insatisfeito, atiravâ-se a todos os êXCes-
sos, at+á a destruição de estátuas do imperador Teodó-
sio, Macedônio, com'um simples discurso, curtíssimo,
conseguiu apag ar a cólera do príncipe.
Teodoreto, que o estimava muitíssimo, por mais
de uma vez visitou o santo anacoreta no deserto para
dele receber a bênção (1).

sss

(1) Teodoreto, Eistóüa Boligiosa.

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BEM-AVENTURADA PAULA
GAMBARA (*)
Viútsa
Paula nasceu em Brescia, no dia 3 de março
de 1473, na nobre família Gambara. Desde menina,
caracterizou-se pela piedade e certa atração pela vida
solitária.
Desejosa de se ver enclausurada, teve que su[o-
car a vocação, porque os pais pretendiam casá-la.
lncapaz de se opor às pretensões paternas, câsou-se
com c conde Luís Costa, de Benasco.
Luís era homem dado aos prazeres. Vivia, rnes-
Ílo, libertinamente. Paula, de início, estranhou a
nova vida, mas, a pouco e pouco, foi sentindo certo
gôsto por aquêle viver perigoso.
Anjo de Chivasso, irmão menor da Observân-
cia, encaminhcu-a, novamente, para a senda de Deus.
Com guinze anos, nasceu-lhe um filho. Deu-se, então,
tôda inteira, a praticar obras de piedade, o que des-
gostou o marido. Paula, todavia, a tudo superou,
chegando mesmo a converter o espôso.
Ço- Iiberdade de ação, atirou-se às obras inter-
rompidas, com rnaior ardor. E tanto o marido se
adoçara, que lhe perm itiu úazer o hábito da ordem
qçrççi1a,

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VIDA§ DOS §AN'I'O§ r53

Quando e conde faleceu, a piedosa bem-aventu-


fdu passou a viver exclusivamãnte para o senhor.
E,- tudo _o_ que possuía, consagrou inteiramente aos
pobres. Meditando continuamen te a paixão de
|esus
Cristo, praticando grandes austeridades, desapuí"..u
em 1515, com a idade de quarenta e dois anos.

stÊa
No mesmo dia, em Antioquia, Sao Babilas, bispo
e mártir, sucessor de Zebino; governou a Igreia de
â:ri"qlia por treze ancs. Durãnte a persegüiçao d.
Décio. foi prêso. Eusebio assequra-nos que o santo
prelado morreu na prisão, vítiàa dos maus tratos,
pedindo encarecidamente para ser enterrado com as
cadeias que o sujeitavam, que, como dizia, "eram
instrumentcs do triunfo". Babilas foi enterrado na
cidade de Antioouia. Cem anos depois, o césar Gal-
lgr transportcu-lhe as relísuias puru Daphne, o"ãl
tão santa presença impôs silêncio ao orácuio do lugar.
com o santo, scfreram o rnartírio três meninos:
urbano, Prilidiano e Epolônio. Em 3gl, houve nova
lransladaÇãe, ouando o bispo Melécio construiu uma
basilica além oronte, e af colocou a urna com Bá-
bilas e as relíquias dos três pequeninos mártires,
segundo Teodoreto.
Em Cíngoli, na Marca de Ancona, Santo Exupe-
râncio, confessor, bispo
_daquela cidade, célebre páo,
milaqres" Da Africa. filho áe nris paeãos, converteu-
se e recebeu o batismo. Em Roma, pregando
|esus
Cristo, foi prêso. A peste, então, assolava a ciáade,
e, pôsto em lib:rdade pelo papa, Iivrou_a daquele
mal. Blsoo- de cingoli, Íoi reiebido com grande ale-
gria pelos fiéis, que lhe conheciam o valor] a piedade

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PADRE R,OHRBACHER

e a santidade. Durante guinze anos de proveitoso


episcopado, rcalizou inúmeros milagres.
No País de Gales e na Bretanha, São Cadoc,
abade, filho do príncipe Gundlens e de Gladys. 9
pai, renunciando o mundo, deseig-.-o de levar üda de
ãrmitão, deixou-lhe o govêrno, filho mais velho gue
era. Também êle, cedo, abandonou o século, â exeltr-
plo do pai,
- colocando-se sob a direção do monge
Tathai. Caridoso para com a pobreza, alimentava
grande número de mendigos. Visitando o. pai na
Àolidão a gue se Íizera, acoroçoâvê-o a perseve^rar
a,tê o Íim ãa vida. Segundo alguns autores, São
Cadoc faleceü no condadó de Northampton; segundo
outros em Benevento, na ltália, dada a semelhança
de nomes: Benevena, naquele condado. O Santo
erigiu uma igreja e um mosteiro, Llan-Carvan, ao
üaã do gual íutttiottava uma escola gue ficou célebre.
Faleceu em 577.
Na diocese de Clermont, Santo Artêmio, bispo
e confessor, desaparecido em 396. Ligado 90 iTpe-
rador Máximo , íuia côrte era em Tràves, Í.êz parte
Ju imperial que seguiu para a Espanha,
".baixada
incumbida de ffatar de questões atinentes ao -prisci-
lianismo. Obrigado a ficár em Clermont, por doenÇâ,
recebeu a visita do bispo Nepociano, que o converteu'
Desejoso, então, de ábandonar o mundo, ficou inte-
grado ao clero de Clermont. Morto o bispo gu: o
índuzira a uma vida santa, Artêmio sucedeu-lhe,
governando'aquela Igreja por oito anos.
Em Saint-Quentin, diocese de Soissons, São
Bertrão abade, também conhecido por Ebertrão, colll-
panheiro dos Santos Bertin e Mumolin, aos guais
ã.oorpunhou na Galia Belga. Foi auxiliar de Santo

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VIDAS DOS SANTOS 155

omer, bispo de Therouanne, depois abade de saint-


Quentin.
No mesmo dia, o bem-aventurado Surano, abade,
ilustre pela santidade.
No Egito, finalmente, os Santos Paulo, Pausí-
rion e Teodocião, irmãos mártires. Os dois primeiros
levaram vida monacal. Presos por ordem dó prefeito
Arianus para declarar a quem professavam, atraíram
Teodocião, que vivia nas montãnhas, com um bando
de ladrões. Descendo para saudá-los, tocado pela
graça, entregou-se como cristão. Sem tardança, foi
supliciado: teve o corpo todo queimado com ferro
em brasa, sendo, afinal, decapitaão. Os dois irmãos,
f.elizes pela inopinada conversão do desgarrado, foram
atirados a um rio. Era no século IV,-e Diocleciano
imperava.
Em Neocesa rêia, os santos mártires Mardório,
Musônio,- Eugênio e Metelo, os quais foram gueima-
dos, sendo-lhes as cinzas lançaáas ao rio.
--
No
mesmo dia, São Tirso e São Projeto, mártires. Em
-
Bolonha, são zama gue, tendo sido antes ordenado
bispo dessa cidade pelo papa são Dionísio, nela
ampliou maravilhosamente a fé cristã.

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I
25' DIA DE IANEIRO

CONVERSÃO DE SÃO PAULO


Após a morte de Santo Estêvão, primeiro már-
tir, eÍgueu-se uma grande perseguição contra a
Igreja, que se achava em |erusalém; e todos, salvo
oã apóstolos, foram dispersadcs nas regiões {a lu-
deia'e da Samaria. Quem mais devastava a Igreja
era Saulo, que aplaudi ra a morte de Estêvão, CoÍlseÍ-
vando os mantoÁ dot que o tinham apedrejudg. En-
trando nas casas, delas arrancava à fôrça os homens
e as mulheres, e levava-os para a prisão.
Não era o bastante; respirando cada vez mais
a ameaça e o assassínio contra os discípulos do Senhor,
foi visitar o grão-sacerdote, e pediu-lhe cartas p?-ra
as sinagogas de Damasco, a fim de que, se lá se lhe
deparaJse- pessoas daquela doutrina, homens ou
orúlh.r"r, pudesse levá-los presos para Jerusalém'
Estando a caminho, e aproximando-se de Damasco,
sübitamente, no meio do dia, uma luz do cêtt, mais
resplendente que o sol, o circundou, tanto a êle como
uo. .oorpanheiros de iorflada. Tombando ao chão,
beú como oS companheiros, ouviu Saulo uma voz que
lhe dizia em hebraico:. "Saulo, Saulo, por que me
persegues? Ser-te-á diÍicil protestar contra _o aguil
" Respondeu
ifrao. Saulo: Quem sois vós, Senhor?
E o Senhor: Sou |esus o Nazareno, a quem tu

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VIDAS DOS SANTOS 15?

persegues! Trêmulo, aterrc rízado, retrucou 'Levan-


Saulo:
Senhór, que quereis que eu Íaça? E o Senhor:
ta-te, põe-te de pé, pois te apareci para f.azer de ti
o ministro e testemunha das coisas que viste, e das
que verás quando de novo te aparecer. E te livrarei
dêsse povo e das nações para as quais te envio
agora paÍa lhes abrires os olhos, a fim de que se
convertam das trevas para a luz, e do poder de
Satanás a Deus, e, pela Íe que tiverem em mim,
recebam a remissão dos seus pecados, e participem
da heranÇa dos santos. Levanta-te, pois; vai a Da-
masco, e lâ te dirão tudo quanto +á mister que faças."
Os homens que o acompanhavam tinham ouvido
uma voz, é certc, mas não the haviam compreendido
as palavras; tinham visto a luz, mas não haviam
distinguido ninguém, e estavam estarrecidos. Saulo
levantou-se e, tendo os olhcs .abertos, nada via. Pe-
garam-no pela mão e conduzirâÍn-ÍIo a Damasco.
Durante três dias nãc logrou ver, e ficou sem comer
e sem beber.
Ora, havia em Damasco um discípulo chamado
Ananias, a quem o Senhor disse numa visão: "Ana-
nias! Eis-me aoui. Senhor, respondeu o discípulo.
E o Senhor lhe falou: Levanta-te, e vai à rua que se
chama Rua Reta, e procura na casa de |udas um
homem chamado Saulo de Tarso; eis que está orâÍl-
do." No mesmo momento, via Saulo, em visão, um
homem chamado Ananias, que entrava e lhe impunha
as mãos, a firn de que recobrasse a vista. Ananias
respondeu: "Soube por muita gente o mal que êsse
homem fêz aos vcssos santos em |erusalém. Recebeu
atê dos príncipes dos sacerdotes o pcder de cobrir
de ferrcs todos guantos vos invocam. Disse-lhe o

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PADRE ROHRBACHER

Senhor: Vai, pois êsse homem é eleiio, instrumento


escolhido para levar o meu nome às nações, perante
os reis e perante os filhos de Israel. Mostrar-lhe-ei
como é preciso que sofra pelo meu nome." Foi-se
Ananias e, entrando na casa, impôs as mãos, e disse:
"Saulo, meu irmão, |esus, gue te apareceu na estrada
pela gual vieste, mandou-me pâra que vejas e em ti
penetre o Espírito Santo." Imediatamente dos olhos
de Saulo caíram uma espécie de escamas, e êle read-
quiriu a vista. Disse-lhe Ananias: "O Deus de
nossos pais te predestinou para lhe conheceres a
vontade, para veres o ]usto e para compreenderes
as palavras da sua bôca. Serás testemunha diante
de todos os homens do gue viste e ouviste. E agora
gue esperas? Levanta-te, e sê batizado, e prrrifica,-te.-
de todos os pecados invocando o nome do Senhor."
Saulo levantou-se, foi batizado, €, tendo comido, r€co-
brou algumas fôrças. Demorou-se vários dias com
os discípulos que se encontravam em Damasco. E
logo pregou nas sinagogas que )esus era o Filho de
Deus. Ora, todos quantos o ouviam assombraram-se,
dizendo: "Não é o mesmo que tão cruelmente perse-
guia em ]erusalém os que invocavam tal nome, e que
aqui veio para levá-los, a§rilhoados, aos príncipes
dos apóstolos?" Saulo, contudo, fortalecendo-se cada
vez mais, confundia os iudeus que estavam em Da-
masco, demonstrando que ]esus era o Cristo ( I ).
Após algum tempo, foi Saulo à vizinha Ar âbia,
de onde regressou a Damasco, lugar em que se de-
morou bastante. Três anos após a sua conversão, os
iudeus dessa cidade, que iá o não suportavam, deli-
beraram matá-lo. De mêdo que lhes escapasse,

(1) Act., fX, 1-22, comparado a XXIf, 4-16, e XXVf, 9-18.

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I
VIDAS DOS SANTOS 159

obtiveram do governador, gue dirigia a cidade no


lugar de Aretas, rei dos árabes, gue mandas_s_e vigiar
as portas. Havendo guerra entre Aretas e Herodes,
tetiarca de Galiléia, resultou fácil f.azer passar Saulo
por espião. Mas foi advertido do plano dêles, e os
I
discípulos, pegando-o, o fizeram descer, durante a
noite, por uma janela de cima da.muralha da cidade,
num gêsto. Salvou-se, assim, e rumou para leru-
salém. "Agui chegou, como êle próprio assegura,
para uer Pedto, e vê-lo, segundo a fôrça do original,
como se vai ver uma coisa cheia de maravilhas e
digna de ser procuradâ ( I ); contemplá-lo, estudá-lo,
diz Sao )oão Crisóstomo, e vê-lo na gualidade de
maior e mais antigo que êle, disse o mesmo Padre (2);
vê-lo, contudo, não para ser instruído, êle a guem
|esus Cristo próprio instruía mediante tão expressa
revelação, mas para dar forma aos séculos futuros, e
para se estabelecer para sempre que, por mais douto,
por mais santo que se seja, mesmo gue se seja outro
São Paulo, é preciso ver Pedro." São as palavras
de Bossuet (3 ) .
Quando chegou a ]erusalém, tratou de unir-se
aos discípulos. Mas todos o temiam, não acreditando
que fôsse dos dêles. Barnabé, então, condu ziu-o
aos apóstolos, e lhes narrou como Saulo virp o Senhor,
e o que o Senhor lhe dissera, e ôomo em Damasco
falara enàrgicamente em nome de |esus. Saulo de-
ÍlpÍoü-se guinze dias com Pedro, e não viu nenhum
outro dos apóstolos, a não ser Tiago, irmão do
Senhor. Um dia, estando a orar no templo, um
(1) fstore.sai, Gal., C. f, v. 18.
Q) Itr epist. ad Gal., c. 1, n. 11.
(3) Discours sur l'unité de l'Égllse.

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160 PADRE ROHRBACHER

êxtase o arrebatou, e êle viu |esus gue lhe disse:


"Apress a-te, e sai irnediatamente de
|erusalérn, pois
não querem receber o teu testemunho sôbre mim.
Respcndeu Saulo: Senhor, êles próprios sabem que
eu era que aprisionava e mandava chicotear nas
sinagogas os que em vós acreditavam; e que, quando
se derramava o sangue do vosso primeiro mártir
Estêvão, eu estava presente, e ccnsentia na sua morte,
guardando as vestes dos que o apedrejavam. Disse-
lhe o Senhor: Vai, pois te enviarei muito longe para
as nações." Com efeito,.os helenistas com os quais
disputava, tentavam f.azê-lo morrer. Os irmãos, sabs-
dores daquilo, condu zkam-no a Cesaréia, e envia-
rârn-ro a Tarso. Passou êle algum tempo na Síria e
na Cilícia. As igrejas da fudeia nãc o conheciam de
vista. Tinham apenas ouvido dizer: "Aquêle gue
outrora nos perseguia anuncia a fe que se esforçava
por destruir." (1 )
Tarso, capital da Cilicia, era a pâtria de Saulo.
Essa cidgde, uma das mais antigas, segundo Estra-
bão (2) , que vivia no tempo de Augusto, era a
melhor escola ou academia, sem excetuar Alexandria,
nem sequer Atenas. Saulo havia estudado filosofia
e boas letras, antes de ir a |erusalém aprofundar a
fé dos pais, aos pés de Gamaliel. C famoso Longino,
um dos mais criteriosos críticos da antiguidade pro-
fana, cita Paulo de Tarso entre os grandes oradãres
e liga-o a Demóstenes, Lísias, Ésquines, Isócrates,
Xenofonte e cutros (3 ) .

(1) Act., fX, 23-30. Ibid., XXff, n-22. Gal., I, 17-24.


Q) Estrabáo, 1. XIV.
(3) Longin., Fragnr.

l.
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VIDAS DOS SANTOS 161

Entretanto, os gue haviam sido dispersados pela


perseguição iniciada com a morte de Estêvão, tinham
ido à Fenícia, a Chipre e Antioquia, e só tinham
anunciado a palavra aos judeus. Alguns dentre
êles, contudo, que eram de Chipre e de Cirere, entra-
ram em Ant_ioguia, e falaram também aos gregos,
anunciando ]esus. E a mão do Senhor cú él"t
estava para realizar curas; e um grande número de
pessoas creram e se converteram ao senhor. che-
gando os rumores à Igreja de |erusalém, Barnabé foi
enviado a Antioquia. Quando lá chegou e viu a graça
de Deus, rejubilou-se, e exortoü-os ã permarreãere*
unidos ao Senhor, com firme coraçáo. .Era um
homem bom, repleto do Espírito Sanio e de fe. E
uma grande multidão se uniu ao Senhor. Barnabé
rumou, em seguida, para Tarso a fim de procurar
Saulo; e, encontrando-o, conduziu-o a Antioquia.
Ficaram um ano inteiro nessa igreja, e ensinaram
grande multidão, de modo que foi em Antioquia que
os disiípulos foram pela primeira vez clramaáos
cristãos.

,
Ora, nagueles dias, chegaram a Antioguia alguns
profetas, saídos de |erusalém; e um dêles, de n"ome
$gabo, levantandolsg, predisse por inspiração gue
haveria uma terrível fome em tôda a terra, como na
realidade se verificou durante o govêrno de Cláudio,
desde o segundo ano do seu relnado até o quarto.
Resolveram, pois, os discípulos, cada um segurrdo u.
suas fôrças, enviar esmolás aos irmãos que" ficavam
na |udéia. Assim f.izeram, enviando-as aos anciãos
ou sacerdotes pelas mãos de Barnabé e de saulo ( 1
).
\ (1) Act., Xf, 19-30.

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162 PADRE ROHRBACHER

Entretanto, a palavra de Deus rcalizava grandes


progressos e se disseminava cada vez mais. Barnabé
ã Sãulo, após se desempenharem do seu mister, vol-
taram de')erusal6m a Antioquia, levando a |oão,
cognominado Marcos ( I ).
Havia na Igreja de Antioquia profetas e doutô-
res, entre os qruít Barnabé, Simão cognominado
Negro, Lúcio d" Cirene, Manahem, irmão de leite
de ÍIe.odes o tetrarca, e Saulo. Enquanto Íaziam a
liturgia ou o sacrifício ao Senhor, e jejuavam, disse-
lhesã Espirito Santo: "separai-g" Saulo e Barnabé,
para a obra a que os chamei." Então, ?Pós o jejum
ã u o.ução, foram impostas as mãos, e êles partiram.
Enviados, assim, pelo Espírito Santo, foram a
Selêucia, à beira do mar, e de lâ embarcaram, a
fim de transferir-se para Chipre. Chegados a Sala-
mina, capital da ilha,-pregavam a palavra de Deus nas
sinagogás dos ludeuó; e-tinham em sua companlia.a
|oãol iuru servi-los. Foi por tal época que Saulo
foi arrebatado ao terceiro céu, quer em corpo, quer
em espírito sÔmente, e ouviu coisas de que não ê'
permitido ao homem falar (2) .
Entretanto, Saulo e Barnabê, depois de peÍcor-
rerem tôda a ilha de Chipre, chegaram a Pafos, Íesi-
dência do prccônsul romano, onde os pagãos '{o-
ravam a dersa da volúpia. Lá encontraram1m judeu
mágico e f also profeia, Bar-|esu, al-i.ás Elimas, o
quà vivia com ô procônsul Sárgio Paulo, homem
prudentíssimo. Êste, mandando levar à sua presença

Q) Âct., XIf, 24 e 2c.


(3) Act., XfII, 2, Cot., !2.

,
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VIDAS DOS SANTOS 163

Barnabé e Saulo, desejava ouvir a palavra de Deus.


Mas Elimas lhes resistia, procurando desviar da fé.
o procônsul. Ora, Saulo, gue tambem se chama Paulo,
repleto do Espírito Santo, olhando fixamente Elimas,
diz-lhe: "Homem cheio de embuste e de malícia, firho
do diabo e inimigo da justiça, jamais cessarás de
perverter _os retos caminhos do Senhor? Eis gue
a mão do Senhor está sôbre ti, e tu ficarás cego, rrão
"
verás o sol por algum tempo." Imediatamente caíram
as trevas sôbre o judeu; os olhos se lhe turvaram;
voltando-s€ de todos os lados, procurava alguém
gue lhe estendesse a mão. Vendo âquilo, acrediiou o
procônsul, impressionado com a doutrina do Senhor.

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SÃO POPO
Abade de Staoelo

São Popo, abade de Stavelo, nâ diocese de


Liàge, nasceu nas Flandres. nor volta do ano de 978,
e a nrincíoio seguiu a profissão das armas, não dei-
xando, desde então, de viver em grande pieclade.
Foi em oeresrinacão a lerusalém e, em sequida' a
Roma. O concle das Flandres e os orincipais senho-
1,es o aoreciavam; um dêles ouis mesmo cecle"-lhe a
filha: mas êle a recllsou. e. resolvendo 'banrlnnar o
6rrnrlo. ahreg6s a vicla monásfig2 em §ainf-Thierri,
nerro de Reims. oncle o ah'rle Ricarrto cle Ve"tllln' ao
,6-lo. tomotr-se r{e fal afeto por êle. oue obteve clo
ah^rle rle Saint-Thierri a sua transferência Dara
Saint-VanneS. Pono 1,aÍa 1á atraiu. em seouicla. sua
máe Adelviva, viúva havia muifo: ela. não sômente
tomou o véu, como também se fêz recTusa. e fiqura
entre as santas. O abade Ricartlo, recebenclo do
clas Flrnclres o mosfeiro cle Sainf-Vaasf ' nâra
!6 manrlon Pono na qualirlade rle nrohosfe. De lá,
".,r1de
foi Po,'ro 17i5if ar o imoera c{or Santo Henriotre nara
os neoócios cla casa e Conouistou o afeto clo nríncine,
cle ouem alcancou fàcilmente o crue deseiava. f)es-
viou-o até de um espetáculo com o qual se divertia,
e gue Consistia em expor a vários ursos um homem

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VIDAS DOS SANTOS 165

untado de mel. Popo provou tão bem ao imperador


e aos senhores a desumanidade daquela distração,
que o imperador imediatamente abo,liu o uso. Deu o
imperador a Popo, algum tempo depois, a abadia de
Stavelo, com o consentimento do abade Ricardo, gue
o chamara de volta a Verdurt, e dois anos mais tarde,
deu-lhe ainda a abadia de São Maximino de Trêves,
onde os monges, gue êle gueria reformar, lhe minis-
traram veneno, todavia, sem resultado.
Após a morte do imperador Santo Henrigue,
dedicou-se o santo, com êxito, a reunir os príncipes
do império, divididos uns dos outros, e, depois, a
fazer a paz entre Conrado, rei da Alemanha, e Hen-
rigue, rei da França. O bispado de Estrasburgo
ficou vago em 1029, e o imperador Conrado quis
doá-lo a Popo; mas êste se desculpou, dizendo gue
era filho de um empregado, o gue, segundo os câno-
nes, Ihe impedia de ser bispo. Tendo o imperador
sabido posteriormente da verdade, censurou-lhe a
atitude, e Popo respondeu-lhe gue se sentia até inca-
paz do cargo de abade gue exercia. O imperador,
encantado com tamanha humildade, resolveu dar-lhe
o govêrno de tôdas as abadias gue vagassem, no seu
reino, o gue lhe proporcionou a oportunidade de refor-
mar várias, nas guais colocou como abades pessoas
de mérito. Foram catorze os mosteiros restabelecidos
pelos seus cuidados. Finalmente, morreu em 25 de
janeiro de 1048 (1).

t**

(1) Acta SS., 25 jan. Act. Bened., sec. Vf, parte f.

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SANTO ANANIAS (*)
Ananias aparece em algumas passagens dos Atos
dos Apóstolos, e foi um fiel observador da lei, ben-
quisto pelo povo de Damasco.
São Paulo, a quem batizou, diz dele, no discurso
à multidão amotinada: E certo Ananias, homem
segundo a lei, que tinha o bom testemunho de todos
os judeus que ali uiuiam, uindo ter comigo e pondo-se
diante de mim, disse-me: Saulo, irmão, recupera a
uista, E eu, no mesmo instante, ui-o a êle.
Depois de ter pregado o Evangelho em Damasco,
em Eleuterópolis e noutros centros, foi prêso, sob o
juiz Licínio, e vergastado com chicotes de nervo de
boi, acabando por ser lapidado, cumprindo o martírio
no ano 70.

r**

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sÃo BRETÂNIO (*)
Bispo e Confessor

São Bretânio sobressaiu-se principalmente na


lqtq que sustentou contra o imperador
-da Valente.
Valente era um obstinado protetor heresia ariana.
visitando os bispos que se espalhavam pelas dio,ceses
citas, ia forçando os prelados a abraçar o seu partido.
Com Bretânio esbarrou em pesada muralha.
Quando chegou a Tours, dirigiu-sã à igreja. Uma
multidão, acompanhando-o, ordeira, *uã fremente,
ansiosa por ver em que tudo iria dar, acotovelava-se
e engrossava com bandos que vinham de tôda a parte.
São Bretânio recebeu o imperador ladeado do
clero, e, tendo ouvido o que Valente tinha a dizer,
1gspo1d9u-lhe com admirável firme za, com apostólica
liberdade:
Senhor, há um só símbolo e uma única e
verdadeira Íê, devíeis sabê-lo. É aquela, segundo a
qual, Nosso Senhor |esus cristo é Deus e Filho de
Deus, como maravilhosamente foi definido em Nicéia.
valente insistiu, pelejou longamente em favor do
arianismo, mas nada conseguiu. Bretânio, seguido
dos seus, deixou a igreja, acõ*panhado pela muliidao
emocionada.

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PADRE ROHRBACHER

Tal atitude valeu o exílio ao valoroso bispo, que,


muito querido pelos citas, acabou vcltando para
Tomes, tal o protesto erguido, pouco tempo depois,
pelo povo. E, na paz do Senhor, que- fielmente serviu
ã d"f.rrdeu, motráu guando de Teodósio, o Grande,
em 380.

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SANTO APOLôNrO (*)
Abade
Apolônio, também conhecido por Apolo, era
arred-io e quieto Cesde criança. Com a idaCe de qtr,rz".
anos, deixou a casa dos pais, procurou o deserto,
inspirado po,r Deus. Era na Tebaida, e Apolônio ali
viveu por quarenta anos na mais rigorosa abstinência,
debaixo das maiores austeridades. Diz-se güe, desde
que se isolara, jamais se alimentara do que quer que
tivesse passado pelo fogo.
Quando de ]uliano, o Apóstata, também a um
apêlo do Senhor, deixou a so,lidão do ermo e foi esta-
belecer-se em Hermópolis, reunindo ao pé de si perto
de guinhentos religiosos.
Certa vez, grassava a fome na Tebaidá, não
havia com que alimentar seus inúmeros companheiros.
O espetro da inanição, sinistro, ro,ndava a comuni-
dade. Apolônio, a guem Deus confiou, benigno, o
dom dos milagres, enquanto perdurou a carestia pôde
sustentar seus quinhentos companheiros por uma
sucessiva e miraculosa multiplicação de pães.
Depo,is de deixar aos religiosos que formou uma
instrução para a santificação da alma, morreu tran-
qüilamente em 395, bastante idoso.

xrx
\
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I

sÃo PRoJETO
Bispo e Mártir

Proieto era natural de Auversne, filho duma


família oriqinária de Roma. O pai chamavâ-se Gun-
dolin. Elidia, a mãe, jovem sensível e delicada, poucos
meses antes de o filho nascer, teve um triste pÍesser-
timento, que se transformou em realidade: viu-o
nascer todo envolto num mar de sangue. Procurando
um padre, um santo homem, ouviu-o dizet-lh€ cofiI-
penetradamente:
Senhora, o filho gue esperas será muito
grande pela santidade e acabarâ a vida pelo martírio.
Tal profecia se realizou plenamente.
Proieto estudou sob a direção dos monoes de
Issoire, beneditinos de Santo Austremoine. Desde
menino, viu-se debaixo da prof eção clo Altíssimo.
Certa vez, num passeio gue f azia com os colegas,
cães raivosos surgiram repentinamente duma curva
do caminho, e puseraÍt-se a atacâ-los com fúria, menos
ao iovem filho de Elidia.
Moqo iá, e sob os cuidados de Genesio , a'tce-
diaqo de Arvernes, f.azia contínuos nroqressos. Os
condiscípulos, inve josos daquela deferência, princi-
piaram a humilhá-lo, o gue f.aziam püblicamente.

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VIDAS DOS SANTO§ 171

L,rm dia, guando se ia cantar um trecho assaz


difícil, ao Santo confiaram a tareÍ.a. Era expor-se ao
ridículo, uma vez gue não possuía voz suficiente para
alcançar notas tão sutis. Obediente, Projeto acáitou
a incumbência. Recomendou-se fervorosamente a
Deus e ao mártir Juliano, ao gual tomara, desde há
muito, por padroeiro, e principiou a antífona.
Foi, então, chantre magistral, gue maravilhou o
auditório. Ninguém jamais ouvir a voz tão melodiosa
e firme. E os que queriam humilhá-lo, comovidos,
finda a cerimônia, foram cumprimentá-lo com pala-
vras amáveis e penitentes.
Quando Genesio foi feito bispo, confiou âo pro-
tegido a paróguia de Issoire. Projeto, diácono, saiu-se
ôtimamente, tornando-se o querido dos pobres e dos
infelizes gue socorreu com assiduidade reiigiosa, e dos
fiéis, aos guais ediÍicou sobremodo.

-façãoEm 666, Projeto era bispo, e com grande satis-


de Childerico II, Réuniu-se u ?1., naquela
altura, um religioso chamado Evódio, do qual fei seu
coadjutor,.e juntos trabalharam incansàveimente pela
salvação das almas, gue grande era o zêlo pastoral
-de
do novo e santo bispo. Exortando o conde Au-
vergne, que não tinha filhos, a Í.azer da Igreja da
cidade sua herdeira, conseguiu-o, nascendd aái um
mosteiro de religiosas, gue se ateve a regras tiradas
das de são Bento, sao cesário e são Õolumbano.
Deus, então, confiou-lhe o privilégio de obrar
milagres. um homem, paralítico haviJ ,a guatorze
ou quinze anos, foi curado pelo santo prelado.
Um dia, guando voltava duma visita a Childe-
rico, Pro jeto resolveu Dassar à Alsácia para ver o

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172 PA DR E ROHRBACHER

,.b::de Amarino, de Cloroango. Lâ che-gando, eÍl-


controu-o prêsa de grande febre maligna. Com o
simples sinal da quz, curou-o instantâneamente.
O abade, gue desde algum tempo vinha sofrendo,
reconhecido, acompanhou-o a Auvergne, ficando ao
seu lado. Estava o bom abade, sem o saber, câÍIi-
nhando para a morte , pa;ra o martírio.
Heitor, .orrd" de Marselha, morta uma boa mu-
lher que socorrera a pobre za com bens gue cedera à
Igreja, raptou-lhe a filha. Projeto não o poupou, e
o conde pôs-se a caluniá-lo a Childerico.
Chamado para se defender, o bispo, na côrte,
fê-lo satisfatôriamente. E o rei, ordenando a prisão
do conde, mandou o executassem.
Foi, então, pouco depois, a vingança. Os
parentes de Heito,r, inconformados e respirando ódio,
organizaram um bando de homens de armas e Ílâr-
cháram ao encontro de Projeto.
O santo prelado estava com Amarino. Quando
os matadores. chegaram, o bom abade, vendo tanto
rancor naquelas faces tôdas, quis fugir.
Projeto, serenamente, disse-lhe:
Vais recusar a gloriosa coroa do martírio?
Onde poderias encontr â-la outra vez?
Os assassinos, vendo a confusão do abade, toma-
rârtr-Do pelo bispo. E, avançando para êle, mata'
fârn-Íto sem piedãde. Prontos para partir, perpetrado
o covarde aósassínio, ouviram a Yoz de Projeto:
Olhai, eis-me aqui! E a mim que buscais!

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VIDAS DOS SANTOS 173

Um dêles, então, chamavâ-se Radberto, de


espada ainda desembainhada, adiantou-se e com cruel
estocada varou o peito gue o santo bispo lhe oferecia.

Caído, envolto em sangue, o filho da boa Elidia


Íezava e rogava, pedindo pelos assassinos:

sabem o que f.azem!

E, como a mãe o vira, antes de vir ao mundo,


entregou a alma ao Senhor, enguanto o corpo iazia
imerso num mar de sangue. Era a 25 de janeiro
de 676.

No mesmo dia, em Antioquia, os santos mártires


|uventino e Máximo, eue, sob luliano, o Apóstata,
receberam a coroa do martírio. Dois oficiais da
guarda do Apóstata, refletindo sôbre as perversida-
des que vinham de presenciar por tôd a a paÍte, con-
fessaram ]esus Cristo, com constância, e foram
decapitados.
Em Cartago, os santos Agileu, Pápia e Segundo,
mártires.
Na Síria, Sao Publílio, abade, nascido em
Zeugma. Recebenclo grancle herança com a morte
dos pais, clesprendiclo eue era das coisas do mundo,
tão perecíveis, distribuiu tudo aos pobres. Dedican-
do-se ao serviço de Deus, retirou-se do século.
Reunindo-se vários discíptrlos ao seu redor, tornou-se
abade da comunidade que logo nasceu. Faleceu por
volra de 380.

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174 PA DR E ROHRBACHER

Na Síriaainda,- São Marêsio, abade caracteri-


zado pela vida de grande austeridade a gue se ateve.
Em Constantinopla, São Demétçio, conf essor,
guarda dos vasos sagrados da igreja de Santa Sofia.
Em Mantua, a bem-aventurada Arcângela, caiÍ-
melita falecida em '1 495, no século, |oana Girlani,
natural de Trivo, nascida para a humildade, a dor,
apaciênciaeadoçura.
Em Poz zuoli, perto de Cápua, martírio de Santo
Artêmio, effi 304,

***

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I
26: DIA DE IANEIRO
SÃO POLICARPO
Bispo de Esmirna e rnirtir

são Policarpo eÍa discípulo do apóstolo são


I9ão, assim como santo Inácío, bispo dâ Antioguia.
!ev_e,
por sua vez, como discípulo Sânto Irineu, bi;r;
de Lião na Galia. No ano lo7, o seu condiscipulo
Santo Inácio chegou de Antioquia a Esmirna, '*u,
prisioneiro por Jesus Cristo, carregado de correntes
e condenado pelo imperador Trajáno a ser comido
pelos animais ferozes no anfiteatro de Roma. Santo
Inácio rejubilava-se. Todas as igrejas da Ásia lhe
enviaram_legados a Esmirna para com êle congratu-
lar-se. o bispo de Esmirna, sobretudo o felicitou
mais que ninguém. Sofrer e morrer por |esus Cristo
é a maior das glórias. De Troadas,-Inácio escreveu
ao santo condiscípulo, para de novo lhe recomendar
a igreja de Antiogui?,_ dar-lhe, ao mesmo tempo,
_"
salutares conselhos. "Não sejam as viúvas neghgàn-
ciadas; freqüentem-se as assembléias eclesiãsticas.
verificai se cada um cuida de nelas achar-se. Não
descuideis os escravos; mas gue êles não percam a
cabeça por se verem confundiãos com o. u-or; pelo
contrário, pela glória de Deus, sirvam-nos com maior

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176 PADRE ROHRBACHER

afeto ainda, a fim de obterem do Senhor uma liber-


dade mais preciosa; não desejem tampouco ser alfor-
riados, puiu gue não tombem na escravidão das
paixões.' Evitai os maus artifícios; recomendai a
minhas irmãs que amem ao Senhor, e vivam com os I
maridos numa grande submissão de espírito e de
"tamb6m
corpo. Exortai nossos irmãos, em nome de
|esus Cristo, a amar as mulheres, como )esus Cristo
â-" a lgreja. Se alguém puder manter a continência
para hoãrar a carne ãe )eóus Cristo, gue a mantenha,
r"- vaidade porém, pois se se gloriar, estará âsS€-
gurada a sua perda. Quanto às pessoa: gue preten-
áu* uniÍ-se pelo casamento, gue o façam com o
consentimento do bispo, a fim de que o casamento,
-glória Deus. Fi-
estando isento de cupi dez, seja segundo
nalLente, faça-se tuáo segundo a de Deus."
Santo Inácio dizia, ao mesmo tempo, numa carta
aos fiéis de Esmirna: "Mantende-vos unidos ao bispo,
como |esus Cristo ao Pai. Segui os sacerdotes como
o. respeitai os diácõnos como ministros de
"póttolos;
Deus. Não empreenda alguem coisa nenhuma na
Igreja sem o biipo; considêr€-sê eucaristia legítita 3
cãlebrada pelo birpo ou por -aquêle que o substitui;
encontre-se a multidão dos fiéis onde quer q_ue se
encontre o bispo, assim como se encontra a _I_greja
católica onde quer gue esteja |esus Cristo. Não é
permitid o batizar, ,ré* celebrar ágapes sem o bispo
ou sem a sua permissão; o que êle ãprova é agradável
aos olhos de Deus. . . Quem f.az alguma coisa, sem
consultar o bispo, é escravo do demônio'
Não cheqãra ainda a Esmirna nenhuma infor-
mação certa dã martírio de Ináci9, quando Policarpo
escreveu a célebre epístola aos filipenses; todavia, iâ
ouvira êle alguns rumores, ou pelo menos, conjectu-

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I

VIDAS DOS SANTOS 177

rando, o supunha morto. É por isso que, após lhes


propor os exemplos que tinham visto com os próprios
olhos em Inácio, Zozimo, Rufo e vários outros da
igreja, os quais não tinham morrido em vão, mas
tinham conguistado o seu lugar junto do Senhor de
quem haviam imitado as dores, fàcilmente pôde Íogar-
lhes que lhe mandassem as notícias mais certas sôbre
Inácio ( I ).
Haviam os filipenses rogado a Policarpo que
mandasse a carta dêles à igreja de Antioquia pelo
legado que êle próprio enviaria à Síria. Haviam-lhe
pedido também uma cópia de tôdas as cartas escritas
por Santo Inácio, tanto a êle e à sua igreja de
Esmirna, como às demais igrejas da Ásia. Respon-
de-lhes, quanto ao primeiro artigo, que mandaria a
carta deles a Antioquia pelo seu legado, ou então
que êle próprio a levaria, caso se lhe deparasse ocâ-
sião favorável. Quanto ao segundo, une as cartas
de Inácio à sua e muito recomenda a utilidade delas,
pois contém, diz, a f.e e a paciência, isto é, elevados
ensinamentos no tocante à f.ê, e grandes exemplos de
paciência, enfim tudo o que pode contribuir para a
edificação.
O mesmo elogio se pode aplicar à sua epístola;
vê-se ali reluzir ocarâter de sua fé e, mais, uma
espécie de resumo do que costumava ensinar nas suas
pregações. Após congratular-se com os filipenses
pela acolhida feita aos modelo,s vivos da verdadeira
caridade, ã saber Inácio e os seus, e de os acompa-
nhar como convinha a santos varões, carregados de
correntes, gue são os diademas dos eleitos de Deus,

(1) . Apuil Coteler., t. 2.

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I

178 PA DR E ROHRBACHER

após lhes elogiar a fe e lhes dar ensinamentos gerais


no tocante aos costumes, dá-lhes outros, particulares
a cada classe de pessoas. Primeiro, aos maridos e
às mulheres, depois às viúvas, que chama de altares
de Deus; aos diáconos, gue chama de ministros de
Deus e de |esus Cristo, e não homens; aos jovens,
aos quais recomenda particularmente reprimam as
paixões e se submetam aos sacerdotes e diáconos,
assim como a Deus e fesus Cristo; às virgens, a
quem exorta conservem imaculada a puÍeza da cors-
ciência; e aos sacerdotes, a quem incita a praticar
tôdas as obras da piedade cristã, a terem ternura e
misericórdia por todos, a ampararem os que se Per-
dem, a visitarem os enfermos, a cuidarem dos pobres,
sobretudo da viúva e do órfão, a se afastarem intei-
ramente da cólera e da avareza, a não f.azerem
distinção de pessoa, a evitarem juizos injustos, a não
acreditarem levianamente no mal, a não serem dema-
siadamente severos nos seus julgamentos, lembran-
do-se de que todos nós somos pecadores; finalmente,
a se afastarem dos homens escandalosos, dos falsos
irmãos que falsamente se cobrem do nome do Senlror
e desviam os espíritos fracos.
As seguintes palavras nos mostram de guem
pretendia falar o santo:' "Quem não confessar que
|esus Cristo veio na carne é um anticristo; quem não
confessa o martírio da cÍuz pertence ao diabo; quem
distorce a palavra de Deus, segundo os seus desejos,
e afirrna não haver ressurreição nem iuizo ê Íilho
primogênito de Satanás"; título que, sabemos, dava
de viva vaz a lvlarcion, quando, num encontro, inter-
rogado por êsse heresiarca se o conhecia, respondeu:
sim, conheço-te como primogênito de Satã.

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VIDAS DO§ SANTOS 179

De resto, vemos aqui são polcarpo condenar


os próprios hereges contra os quais se ergue santo
Inácio, por assim- dizer, ern tôdas as suas missivas, a
saber, os que negavam a verdade da carne, da paixão
e da Ressurreição de Cristo. Daí, podermos concluir
que essa heresia, mais gue as outras, infestava então
a Igreja. o santo tesiemunha ainda grande pesar
pelo pecado no qual tinha caído um dos seus sâcer-
dotes, chamado valente, coÍÍl sua mulher. parece
ter sido a avare za a causa da queda.
-ambos Exorta, coÍl-
tudo, os filipenses a perdoar a e a tentarem
reconduzi-los à unidade da Igreja, na gualidade de
ovelhas perdidas. Assim termina a .urtu: "Escre-
vo-vos por Crescente que jâ vos recomendei, e que
ainda vos recomendo, pois viveu entre nós sem ceÍr-
sura,- e espero que entre vós faça o mesmo. Reco-
mendo-vos tambem sua irmã, qurrrdo ela vos procurar.
o senhor vos conserve na sua graça com todos os
vossos! Assim seja (1 )." Tal epistola se lia ainda,
püblicamente, no tempo de São
Jãrônimo Ílâs âsserr-
bleias solenes dos fieis da Ásia.
Por volta do ano 158, tendo a Igreja readqui-
ld" a py!, São- Policarpo empreendeú a viagem a
Roma. Era, pela idade, pela doutrina e pelJ zêlo,
d.ono de grandíssima autãridade na Igreia. Nã;
sômente tinha conversado familiarmente com os após-
tolos e demais discípulos do senhor, sobretudo .o-
são_|oão, como também fôra por êles ord"ruãá-uúp"
de Esmirna. Penetrado da dúrtrina de tão exceleníes
mestres, e repleto do espírito dê!es, ca.da vez em
que ouvia blasfêmias de um herege, exclamava com

(1) Apud Coteler., t. 2.

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I
180 PADRE ROHRBACHER

dor: Ah, meu bom Deus, para que éPoca me reseÍ-


Chegando a Roáa, soL o PontiÍicado de
"àrt"rL
Aniceto, houve, entre os que Valentino e Marcign
tinham desviado, grande nímero que_ êle reconduziu
;; ,Ã da lgrela ãe Deus, protestando-lhes, em alta
voz, que a ãoutrina ensinada por.essa Igreia eÍa- a
por êle aprendida da bôca dos p_roprios após-
única 'Encontrãndo
tolos. um dia o herege Marcion, per-
;;;t;rrh" êste se o conhecia:- si4o, respondeu'
demônio. Era êsse
ãorrh"ço-te como primogênito do
o cuidãdo dos apóstoloó e dos seus discípulos em,se
não Comunicarem, nem por palavras nem por sauda-
ção amistosa, com os gue corrompiam a
verdade (21 ,
Nas conferências que o papa Aniceto manteve
com Éoü.arpo sôbre vários atíigos em tôrno dos
ouais o ultimo fôra consultar o trono apostólico, che-
;;;; u-úor a falar do -temq"- d" celebração da
Éár.or. No tocante ao dia, ãiferia o costume da
Igreja romana do das igreias da Ásia. Em Roma, o
dla óorsagrado à grande festa era o domingo que se
;fu; uà"de.i*o-[uarto dia do mês de Nisá, o qual
;;;;;únde em parte ao mês de março e ao de abril;
na asia, solenizâvâ-se a mesma festa segundo o rito
judaico, em qualquer dia.$a semana que recaísse no
âé.i-o-quartã dá lua. Como o costume da Igreia
romana remontasse ao Príncipe dos apóstolos, o das
ilt;, Ja Ásia se apoiava ,ró exemplo de São )oão,
o" q,.rul, nessa obseivância e ainda noutras, tivera
corrriderações e condescendências pelos cristãos coÍl-
vlrtidos do ludaísmo, que constituíam, então, possi-
velment e , d principal pãrte de tais igreias' O papa
houvera desê;ado, por gravíssimas razóes, gue as
(2) Iren., 1. 3, c. 3. Euseb', t' 4, c' L4'

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VIDAS DOS SANTOS 181

igrejas particulares da Ásia Menor não mais .cele-


brassem a Páscoa com os judeus, mas com a Igreja
romana e as demais igrejas do universo. A autori-
dade e o exemplo de São |oão venceram o espírito
de Policarpo sem, todavia, QUe a diversidade de
opiniões alargasse entre os dois santos o laço da
concórdia. Pelo contrário, para mais honrar o hós-
pede, Santo Aniceto quis gue celebrasse a eucaristia
diante dêle na Igreja.
' Pelo ano de 165, reiniciarâ-se -furiosamente a
perseguição contra os cristão's. Temos a prova na
célebre epístola da igreja dà Esmirna à de Filadelfia
e a tôdas as igrejas do mundo, sôbre o martírio do
santíssimo bispo Policarpo. Diz que foi como gue o
sêlo dessa perseguição, por ter tido a glória de
pôr-lhe côbro e de vender o inferno com a morte.
Outros mártires haviam lutado para tanto antes dêle.
Embora lhes não -saibamos os nomes, salvo' o de
Germânico, a mesma epístola nos mostra a sua
paciência, o'amor a Deus e a coragem de padecer
os mais horríveis suplícios. "Foram , diz a carta, de
tal maneira dilacerados a chicotadas, gue não sômente
lhes ficaram a descoberto os ossos, como também se
lhes via o interior do corpo, até as veias e artérias.
Compadecidos, lastimavârtr-ros os presentes; guanto
a êles, porém, tamanha a constância, gue ninguém deu
um grito, um suspiro, sequer, como se fôssem estra-
nhos ao corpo ou como se ]esus Cristo lá estivesse
para os consolar. O fogo parecia frio aos gue eratr
torturados, pois viam de um lado o fogo eterno gue
ninguém jamais apagará, e de outro as recompensas
prometidas aos gue perseveram, bens inefáveis gue os
olhos humanos não viram, gue os ouvidos não ouvi-
ram, que.o coração não imagina, mas que desde então

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I

182 PADRE ROHRBACHER

f azia o Senhor brilhar aos olhos daqueles homens,


porque jâ náo eram homens, mas anjos. Os que foram
condenados aos animais f erozes sofreram longo
tempo, na prisão, diversas torturas; o tirano jacta-
vâ-se de obrigá-los a renegar a Cristo. Mas foram
inúteis as armadilhas do inferno. O que mais se
assinalou pela coragem e pelo exemplo, o que âÍlpâ-
rou os outros foi o valoroso Germânico. No momento
da luta, exortava-o o procônsul a ter pena da sua
própria mocidade; êle, sem nada retrucar, atirou-se
ao encontro das feras, para mais cedo abandonar tão
ímpio .mundo. SurpÉso e irritado com a heróica
coragem, o povo bradou: abaixo os ateusl Vamos
procurar Policarpol
"Entretanto, um varão imprudente e temerário,
de nome Quinto, frígio de nascimento, ofuscou, por
seu lado, a glória do nome cristão. Havia-se âpÍe-
sentado voluntàriamente ao procônsul, e arrastara
outros. Mas quando viu as feras e lhes ouviu os rugi-
dos, empalideceu de terror e, solicitado pelo pro:
cônsul, desejou a sorte de César e ofereceu-lhe
sacrifícios. É por isso, diz a igreja de Esmirna, que
não aprovamos os que se apresentam voluntàriamente
aos juízes; não é assim que ensina o Evangelho.
A carta passa, então, ao martírio de Policarpo.
Soube o santo dos clamores do povo sem comover-se.
Tinha, a princípio, a intenção de permanecer na
cidade; mas cedeu aos rogos do número e retirou-se
para uma pequenina propriedade, bastante perto, com
algumas pessoas. A sua ocupação, noite e dia, era
Íezar, segundo o costume, por tôdas as igrejas do
mundo. Três dias antes de ser detido, teve uma visão
na prece: pareceu-lhe ver a cabeceira da cama incen-
diada. Compreendeu logo er misterioso sentido do

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VIDAS DOS SANTOS 183

profético sonho, e disse aos companheiros: irei ser


queimado vivo. Continuando as perseguições, trans-
feriu-se para outra casa de campo. Os que o busca-
vam, não tardaram em Iá chegar. Não o encontrando,
prenderam dois peguenos criados. Um dêles, subme-
tido à tortura, prometeu revelar tudo; e tal qual outro
Judas, traindo o mestre, pôs-se à testa dos soldados,
que partiram devidamente armados, como se se tÍa-
tasse de prender um assassino ou um ilustre ladrão.
Chegados à casa pelo entardecer, encontraram o santo
repousando num dos guartos de cima, donde poderia
ter-se safado, aliás; não o quis, porém, e disse: "Seja
f.eita a vontade de Deus! Rumou ao encontro dos
soldados, e falou-lhe sem perder a calma. As suas rnâ-
neiras afáveis, o ar cheio de mafestosidade, ã doçura
das palavras, lhes inspiraram tão profundo respeito
que, surpreendidos e fora de si, não podiam coÍtr-
preender por que motivo se haviam os magistrados
empenhado com tamanho afinco para prenderem um
ancião daquela idade e daquele merecimento. Quanto
a êle, mandou-lhe fôsse servido de comer e beber,
quanto quisessem, e rogou-lhes que lhe permitissem
retirar-se durante uma hora para orar à vontade.
Obtido o solicitado, prolongou a prece náo sômente
uma hora, senão duas, com tão grande fervor que
todos os que. o ouviam ficavam assombrados, e vários
lastimavam ser autores da prisão de tão divina
criatura.
Quando findou a oração e soou a hora da par-
ticla, conduzirâÍn-Íto à cidade, montado num burrico.
Herodes, o irenarca, e seu pai Nicetas, correndo
para a frente, f.izeram com gue subisse no seu carro.
Era o irenarca naquelas cidades um magistrado
* in-
cumbido do policiamento. Portantg, havendo-o

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184 PADRE ROHRBACHER,

Herodes, em virtude do seu cargo, feito subir no


carro, tentava, bem como seu pai, conquistá-lo por
meigas palavras, dizendo-lhe: que mal há em dizer
Senhor César, sacrificar e salvar-se? Os pagãos
davam aos Césares o nome de Senhor, num sentido
que só convinha a Deus. A princípio, Policarpo não
respondeu. Mas, vendo gue instavam: não, respoÍI-
deu resolutamente, não farei o gue me aconselhais.
Proferiram-lhe então injúrias e o expulsaram do carro
com tal precipitação, que, ao cair, o santo feriu a
perna. Não se comoveu, porém; não tendo sofrido
nada de grave, caminhou alegremente no meio dos
soldados ã deirou que o levassem ao anfiteatro. Era
tal o barulho lâ dentro, gue nada se compreendia.
Quando Policarpo entrou, uma voz, do céu, lhe disse:
Coragem, Policarpo; mantém-te firme. Ninguém viu
guem f.alava, mas os cristãos presentes ouüram a voz,
Êle avançou, e quando se soube que havia sido
prêso, originou-se grâode tumulto. Apresentaram-no
ao procônsul, que lhe perguntou se era Policarpo; o
santo respondeu gue sim. O procônsul exortou-o â
renegar a f esus Cristo, dizendo-lhe que tivesse_ pena
da iáade, e concluindo: jura pela sorte de César!
Volta a ti, e dize: abaixo os ateus! Era uma aclama-
ção comum contra os cristãos. Policarpo fitou, com
rosto severo, a multidão infiel que se achava no
anfiteatro, estendeu a mão para ela, ergueu os olhos
ao céu e disse, suspirando: abaixo os ateus! O santo
mártir proferiu tais palavras noutro sentido que não
o exigido pelo procônsul. Por ateus ou ímpios, um
entendia os cristãos, outro os pagãos. Um queria que
se exterminassem da face da terra os adoradores do
verdadeiro Deus, outro pedia a Deus gue não mais
houvesse idólatras, e gue todos §e çonvertessem 'a

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,

VÍDAS DOS SANTOS 185

êle e à sua religião. .Assim, pronunciando aquelas


palavras, mantinha Policarpo a mão estendidu puru o
povo_profano e o olhar voltado para o céu.
Insistindo o procônsul, peãindo-lhe, mais, que
proferisse injúrias contra Cristo, respondeu póh-
carp-o: há citenta e seis anos gue o sirvo, e nunca
me Í.êz mal; como poderei blasfemar contra o meu rei
e salvador?
Apesar de resposta tão bela e digna de um velho
bispo,, de um discípulo dos apóstolos,"não se deu por
venciclo o procônsul o qual, pelo contrário, r.pôti,
com mais fôrça: jura pela sorte de César. O-que,
no espírito dos p?.gãos, significava: jura pelo gênio
ou divindade de césar. sá credes, ráplicou o sánto,
que importa à vossa honra jure eu pelo que chamais
de sorte de césar, e se fingis não saber quem sou,
digo-o livremente; ouvi-me: so, cristão! Sã deseyais
conhecer a razã,o do cristianismo, dai-me um dia, e o
sabereis. ordenou-lhe o procônsul que se explicasse
ao povo: quanto a vós, disse o santo, sim, pois sabe-
*o: que devemos_ prestar aos principados e aos
poderes estabelecidos por Deus á horru que lhes é
devida, e que nos não prejudica; guanto a êsses,
porém, não os considero dignos de uÍna defesa minha.
Tenho feras, disse o procônsul, e a elas te expo-
rei, se não mudares. E Policarpo: mandai-as ,rir,
pois não mudaremos do bem pará o mar, enabora me
convenha passar dos sofrimentos à
iustiça. Retornou
o orocônsul: far-te-ei morrer pelo fogo, .ã d".p, ezares
as feras e não mudares. vos me iarais de ,,,, r"g",
retorquiu Policarpo, que-arde uma hora e que depãis
se extingue, porque não conheceis o fogo do juizo
que há de vir e do suplício eterno reúrvado aos
ímpios. Por gue tardais? Trazei o que rnais vos

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186 PA DR E ROHRBACHER

aprouver. Disse Policarpo essas palavras e outras,


cÍreias de atrevimento e de alegria, com o rosto ilu-
minado pela graÇa, de modo que, em vez de tremer,
assombrãva o procônsul, o qual mandou um arauto
gritar três vêíes no meio do anfiteatro: Policarpo
confessou que é cristão.
Diante de tais palavras, tôda a multidão de
pagãos e judeus que habitava em Esmirna, dominada
po, irr.onirolável fúria, pôs-se a bradar: aqut- está o
ãoutor da Ásia, o pai dos cristáos, o destruidor dos
nossos deuses. Êle é que ensina tanta genlle a não
sacrificar aos deuses e a não adorá-los. Gritando,
pediam ao asiarca Filipe que soltasse um leão contra
'Polica.po.
Era o asiarca o magistrado escolhido pelo
conselho comum de tôda a Ásia, para chefiar a inten-
dência de tudo guanto dizía reÁpeito ? religião, de
que f.aziam parte os espetáculos. Tendo Filipe fes-
pondido qusaquilo lhe não era permitido, por estarem
ierminados os óombates das feras, clamaram que Poli-
carpo fôsse queimado vivo. A profecia tinha de reali-
ZàÍ'-St- . Imediatamente, acorreu todo o povo em busca
de lenha. Os judeus, segundo o costume, eram os
mais apressados.
Quando a pilha {icou pronta, Policarpo-despiu-se
e tento,u tirar o calçado, o que não estava habituado
a fazer, pois era tamanha a veneração dos_fieis pela
sua virtud", que peleiavam para ver quem lhe tocava
o corpo ou lhe beiiava os PUt. Quando os algozes
se prepararam pata segurá-lo ao poste que se ergula
,o'*"io da piúa. disse-lhe o santo: deixai-me assim;
aquâle qr" à" da a f§r:ça Ce enfrentar o fogo, fôrça
me dará tambám paÍa gue eu permaneça f irme na
fogueira, sem neceósidade de cravos. Contentâfâfi-se
em" amarrá-!ç), De mãos atadas atrás do poste, como

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VIDAS DOS SÂNTOS 181

ncbre ovelha escolhida para ser ofertada a Deus em


holocausto, ergueü os olhos ao céu e f}.z a seguinte
prece: Senhor Deus Todo-Poderoso, Pai de vosso
Filho abençoado e amado, ]esus Cristo, de guem
recebemos a graça de vos conhecer, Deus dos ánjos
e das potestades, Deus de tôdas as criaturas e'de
tôda a nação dos justos gue vivem em vossa presença,
dou-vos_ graças do que ,Í.azeis que me u.orri.ça hóje
e nesta hc,ra em que devo participar do número dos
vossos mártires, do cálice do vosso Cristo, para Íes-
suscitar plr_a a vida eterna cla alma e do corpo, na
incorruptibilidade do Espírito Santo. Seja eu admi-
tjdo à vossa presença hoje como vítima gorda ? àgra-
dável, tal qual preparastes, predissestes e cumpriJtes,
vós que sc,is o verdadeiro Deus, incap az de mentira.
E pol isso que vos louvo, que ,ror ub.nçôo, que vos
glorifico com _o pontífice eterno e celestial, ]"rrt
Cristo- vosso Filho amado com c, qual, glória á vós
e ao Espírito Santo, agora e por todos os séculos
vindouros. Amém.
Mal terminou a prece e disse Amém, foi ateado
Íogo à pilha. uma grande chama se levantou, e viu-se
surpreendente milagre, pois o fogo se estendeu em
tôrno do mártir, como abóbada, cô*o vela de navio
inflada pelo vento. Estava Policarpo no meio, seÍl€-
lhante não a carne gueimada, mas á ouro ou prata na
fornalha. Exalava um odor de incenso ou âe outro
perfume valioso. os profanos, notando que o corpo
não podia ser queimado pela chama, ordenaram a um
9or guardas gue lhe enfiasse a espada no peito.
]orrou copioso sangue, tão copioso que o foio se
apagou. I povo espantou-se -de ,r"r tul dife"rença
entre os infiéis e os eleitos. "Do número dêstes ulii-
mos. dizem os atos, foi'indubitàvelmente, nos nossos

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188 PA DR E ROHRBACHER

dias, o glorioso mártir Policarpo, bispo da igreja


católica de Esmirna, doutor apostólico e profético,
pois tudo guanto jamais predisse, ou já vemos cürl-
prido, ou se cumprirá um dia.
"Mas.o inimigo dos justos, o invejoso demÔnio,
vendo, após um ilustre martírio e uma vida sempre
imaculada, sôbre a cabeça a coroa da imortalidade
e na mão as pahnas da vitória, esforçou-se âo menos
por nos roubar o consôlo de termos o corpo do santo
e comunicar-nos com as suas santas relíguias. Insu-
flou na mente de Nicetas, pai de Herodes e irmão de
Alceu, a idéia de avisar ao procônsul gue nos não
desse o seu corpo, de mêdo, dizia, gue os cristãos
abandonem o Ciucificado para adorar a êste. Eram
os judeus gue sugeriam aos pagãos semelhantes idéias
e Í.aziam atenta guarda, enguanto alguns dos nossos
tentavam retirar o corpo. Ignoravam, os insensatos,
que jamais poderemos abandonar |esus Cristo o gual
morreu pela salvação de todo o mundo, nem, em seu
lugar, adorar outro. Adoramos a )esus, porgue é.
Filho de Deus, mas os mártires, a êsses amamos como
é digno; amamo-los como discípulos e imitadores do
mestre, em virtude do afeto invencível ciue nutrem
pelo Rei e Senhor. Possamos, um dia, entrar na
ãomunidade dêles, e como êles, tornar-nos discípulos
do mestre! O centuriáo, vendo pois a pressa dos
judeus, mandou, segundo o costume dos pagãos, guei-
mar o corpo do santo mártir. Nós, em seguida, reti-
ramos os ossos, mais preciosos do gue jóias, e
pusemg-lOs em lUgar Conveniente. DeuS rroS CooCe-
dera a graça de ali nos reunirmos todos os anos, lrià
medida ão possível, para celebrar com júbilo a festa
do seu nascimento imortal pelo martírio, paiÍd nos
lembrarmos dos que combateram,. e dispor à imitação

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VIDAS DOS SANTOS
J
189

de tão n6bres exemplos os gue hão de vir. Foi êsse


o martírio de Policarpo, ou seja,. do admirável bispo
que, na cidade de Esmirna, com outros doze de Fila-
delfia, alcançou a coroa da vitória. Entretaàto, só
a êle é que se celebra em todo o mundo, de maneira
gue os próprios pagãos ainda o lembram ( 1 ) ."
Eis o que se lê na carta escrita algum tempo
depois do martírio do santo. Tendo o rumor chegado
aos cristãos de Filomelia, cidade de Licaônia, segundo
Plínio, de Pisídia, segundo outros, escreveram aos
de Esmirna pedindo mais pormenores. Os discípulos
de Policarpo apressarârn-sê em sati sÍazer o piedoso
desejo, enviando-lhes esta narrativ d, d que chamalm
resumo, por um de seus irmãos, de nome Marcos.
Para ainda mais alastrarem a glória do santo mestre,
rogam no fim aos filomelianos que enviem cópias às
cidades mais distantes; assim, embora na inscrição da
carta, só esteja expresso o nome de Filomelia, âcres-
centam: e a tôdas as dioceses da Santa Igreja Cató-
lica, espalhadas pela terra. Vem daí, sem dúvida, o
fato de no comêço de alguns exemplares se ler o
nome de Filadélfia. Segundo os cálculos mais pro-
váveis, o martírio de São Policarpo ocorreu em 23
de fevereiro de 166.

***

(1) Apud. Euseb., et Ruinart, et Acta SS., 28 de janeiro.

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SANTA PAULA
Viúr:a

É Santa Paula a mais ilustre das damas romanas


que São ]erônimo instruiu nas santas letras. Era
filha de Rogato e de Blesila. O pai, grego de origem,
Í.azia subir a sua genealogia atê Agamenon; a mãe
descendia dos Cipiões, dos Gracos e dos Paulos-
Emílios. Paula desposou fulio Toxótio, da família
frilia, e, por conseguinte, descendente de Iula e Enéias.
Teve ouatro filhas e um filho. A mais velha das
filhas, Blesila, como a avó, estêve casada apenas
sete meses, como Santa Marcela, e ficou viúva aos
vinte anos de idade. São |erônimo explicou o livro
do Eclesiástico, para instiqá-la ao desprêzo do
mundo. Rogou-lhe ela que lhe deixasse um pequeno
comentário, a fim de o poder compreender sem a sua
presenca; quando São ]erônimo se preoarava para
essa obra, morreu a jovem de uma febre que em
pouco tempo a levou. Santa Paula, sua mãe, afli-
giu-se excessivamente, e São |erônimo lhe escreveu
uma carta de consolação, na qual assinala que Blesila
falava tão bem o gr:eso como o latirn, e que aprendera
em poucos clias o hebraico , trazendo sempre entre
as mãos a Sagrada Escritura.
A segunda filha de Santa Paula foi Paulina,
que desposou Pamáquio, primo de Santa Marcela, da

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VIDAS DOS SANTOS 101

família Furia, e gue, entre os antepassados, contava


vários cônsules. Era velho amigo de São Jerônimo,
que havia estudado com êle e, mais tarde, lhe dedicou
vários trabalhos. Paulina morreu antes, e êle, vefl-
do-se viúvo, sem filiros, entregou-se inteiramente ao
serviço de Deus e das boas obras, abraçou a vida
monástica e empregou todos os bens em socorrer o,s
pobres, particularmente os estrangeiros, num abrigo
estabelecido em Porto, nas proximidades de Roma.
A terceira filha de Santa Paula foi ]ulia Eustoguio,
gue jamais a abandonou, mantendo-se virgem; a
guarta foi Rufina, que desposou Aletio, da ordem
dos ilustres. O Íilho de Santa Paula recebeu o nome
do pai, Toxótio. Desposou Leta, filha de Albino,
pagão e pontífice do,s ídolos, mas que se converteu na
velhice, persuadido pela filha e pelo genro. Do casa-
mento de Toxótio e de Leta nasceu a jovem Paula,
sôbre a gual escreveu Jerônimo a Let a, jâ viúva, um
ensinamento acêrca da maneira de a educar cristã-
mente. Eis aí a família de Santa Paula.
A santa viúva deixou Roma pelo ano de 385,
e embarcou para o Oriente, sem dar ouvidos à ternura
materna, gue devia impedir-lhe deixar a filha Rufina,
já casadoura, e o filho Toxotio, ainda menino. Con-
duziu em sua companhia a filha Eustóguio, com pou-
guíssimos servidores, e, a princípio, deteve-se na ilha
Pontia, nas costas da Itália, para visitar as celas em
que Santa Domitila passara o exílio sob o imperador
Domiciano, trezentos anos antes. Em seguida, foi
ter a Chipre, onde se lançou eos pés de Santa Epifâ-
l1a, gue a reteve dez dias para f.azê-la descansar.
Mas ela empregou o tempo em visitar os mosteiros
do país, e ali distribuiu esmolas aos solitários gue o
amor do santo bispo afiaira de todos os lados do

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São Jerônimo explica as Escrituras a Santa Paula e a Eustóquia,


sua filha. Miniatura da BÍblia de Carlos, o Calvo. Século IX.
VIDAS DOS SANTOS 193

mundo. De lá, transferiu-se para Antioquia, onde se


viu detida um pouco pelo bispo Paulino. Partiu em
pleno inverno, montada num burrico, em vez de ser
transpo'rtada pelos eunucos, como estava acostumada.
Atravessou a Síria e chegou a Sidon; nas c€rcâ-
nias, em Sarepta, entrou rru p"guena tôrre de Elias.
Em Ces aréia, r4iu a casa do centurião Cornélio trans-
formada em igre ja; a casa de São Filipe e os guartos
das quatro virgens profetisas, suas filhas. O gover-
nador da Palestina, gue conhecia a família de Santa
Paula, mandou na frente oficiais para gue lhe pre-
parassem um palácio em ]erusalém; mas ela deu
preferência a uma pobre cela. Visitou os santos luga-
res com tal devoção que só deixava os primeiros pela
pressa de ver os outros. Prostrada diante da cÍuz,
adorava o Senhor, como se o estivesse vendo pÍe.-
gado. Entrando no sepulcro, beijava a ped.u gú" o
anjo tirara para abri-lo, e, mais ainda, o lugar no
qual havia repousado o corpo de |esus Cristo. No
,monte de Sião, mostraram-lhe a coluna a gue êle fôra
seguro durante a flagelação, ainda tinta de sangue,
e sustentando então a galeria de uma igreja. Mosira-
ram-lhe o lugar em gue o Espírito Santo descera
qobre- os apóstolos no dia de Pentecostes. Após
distribuir esmolas em |erusalém, tomou o caminho de
Belém, e viu, de passagem, o sepulcro de Raguel.
Entrando na gruta da Natividade, julgou ver o M"-
nino ]esus adorado pelos magos e pasiôrer. visitou
a tôrre de Ader ou do Rebanho, e os demais,lugares
célebres da Palestina. Viu, entre outras, em BetÍ agé,
o sepulcro de Lâzaro e a casa de Marta e Mar-ia.
No monte de Efraim, reverenciou os sepulcros de
|osué e do pontífice Eleazar, Em Sichar, entrou na
igreja construída sôbre o poço de |acó, onde o salva-

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194 PADRE ROHRBACHER

dor falou à Samaritana. Viu, depois, os sepulcros


dos doze patriarcas, e em Sebasta ou Sam aria, os de
Eliseu e Abdias, e sobretudo o de São |oão Batista,
onde a aterroúzaram os efeitos do demônio nos pos-
sessos. Viu em Morasti uma igreja onde estivera,
outrora, o sepulcro do profeta Miquéias. E São lerõ-
nimo que descreve a peregrinação de Santa Paula,
e assim nos transmite os vestígios da sagrada anti-
guidade que, na sua época, se mostravam na Pales-
tina (1).
Santa Paula, aco,mpanhada da filha Eustoquio e
de outras virgens, rumou em seguida para o Egito.
Chegou a Alexandria, depois ao deserto de Nítria,
onde o bispo Isidoro, confessor, se lhe apresentou
com inúmeros grupos de monges, dentre o's quais
vários eram sacerdotes ou diáconos. Visitou os tnais
famosos solitários, entrou-lhes nas celas, prostrou-
se-lhes aos pés, e de muito bca vontade houvera Per-
manecido naguele deserto, com as filhas, se a não
atraísse o amor dos santos lugares. Voltou imedia-
tamente à Palestina, e estabeleceu-se em Belém, onde
ficou três anos num pequeno alojamento, atê que
mandasse construir algumas celas, mosteiros e casas
de hospitalidade perto do caminho, para receberem
os peregrinos. Foi lá que passou o resto dos dias,
sob a guia de São |erônimo que no mesmo lugar
terminou a vida, dedicado ao estudo das Sagradas
Escrituras e à hospitalidade para com os estrangeiros
(2). Santa Paula morreu em 26 de janeiro de 404,
***

(1) Ilieron., Epist. 27.


(2) Acta SS., 26 de jan.

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SANTA NOTBURGA
Críado no Tirol

Nasceu na aldeia de Rotenburg, no Tirol, em


1265, filha de um piedoso lavrador. Mal tinha seis
anos, e jâ dividia com c,s pobres o pão que os pais
lhe davam. Aos dezoito anos de idade, entrou no
castelo de Rotenburg, na qualidade de ajudante de
cozinha, e mereceu a estima do conde Henrique, pelos
'seus.belos predicados. Contentando-se com pouco,
partilhava com os pobres a nutrição que lhe deixavam,
e era com reliqioso cuidado que desempenhava as
suas funções. Após a morte dá mãe do ôonde Hen-
rique, dispensaram-na do serviço, pelg fato de a
espôsa do jovem amo, mulher avarenta e interessada,
a acusar de dissipação dos bens da casa. A espôsa
adoeceu algum tempo depois, e Notburga, esquecida
dos maus tratos de anter, foi visitá-la e"lhe p-digou
todos os auxílio,s possíveis. Assistiu-lhe no momento
da mort.--, e, em seguida, voltou aos seus af.azere* o
conde Henrique, sabendo o que se havia passado,
mandou que voltasse ao casteío lhe confiou o cui-
dado da casa. A piedosa jovem" permaneceu, pois,
at'é a morte, constante modêlo de tôdas as virtúdes,
aliando sobretudo duas coisas tão difíceis, o trabalho
exterior e a contemplação das coisas divinas. Rece-

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196 PADRE ROHRBACHER

beu favores extraordinários do céu. Uma cruel enfer-


midade lhe mostrou gue se aproximava o derradeiro
dia; então, reunindo as fôrças, dirigiu ao conde e aos
filhos comoventes palavras, recomendando-lhes_ êspe-
cialmente o cuidado dos pobres. Bem cedo adorme-
ceu na paz do Senhor, em 14 de setembro de 7313,
dia da Exaltação da Santa Cruz, com a idade de
quarenta e sete anos. Vários milagres provaram-a
ruu rurtidade. A Igreja honra a santa mulher em 14.
-É 'uma
e 15 de setembro. das padroeiras do Tirol,
onde lhe foi dedicada magnífica igreja ( I ) .

No mesmo dia, em Hipona, na África, os santos


Teógenes, bispo, e outros trinta e seis cristãos, QUe,
desp"rezando á morte temporal, obtiveram, durante a
p"rÁ"grição de Valeriano, a coroa da vida eterna. -
Nu di"ocãse de Paris, Santa Batilde, rainha, tão ilus-
tre pela santidade de vida como p"-lo esplendor dos
milágres. ' (Ver-lhe a vida em 3Q de janeiro ) ' -
\o -"tmo dia, na Tebaida, Santo Âmon, abade,
morto em 400.
Em Tràves, São Maro, bispo e confessor, a guem
Deus favoreceu com o dom dos milagres'
Em |erusal,ám, São Gabriel, abade, um dos reli-
giosos qú" Santo Eutímio encaminhou a Teoctisto.
ôriginário da Capadócia, iniciou-se muito cedo na
vidã monástica, sendo encarregado do mosteiro que
se erigiu no lugar em que Santo Estêvão fci lapidado,
gor.r"rrundo-o por vinie e quatro anos. Com oitenta
anos, faleceu em 490,

(1) Godescard, et Acta SS., 14 de setembro'

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VIDAS DOS SANTOS 19?

' Em Citeaux, o bem-aventurado Alberico, abade,


homem de rara piedade, versadíssimo, grande conhe-
cedor das letras divinas e humanas, grande devoto de
Nossa Senhora. O bem-aventurado, gue é represen-
tado recebendo das mãos de Maria um habito branco,
característico dos religiosos beneditinos da reforma de
Citeaux, faleceu, bastante idoso, em 1109.
Na ilha de Man, São Conan, liispo e confessor.
Natural da Escócia, deixou a terra natal, demandando
a ilha, onde continuou a obra de São Patrício: acabar
com o druidismo e implantar o cristianismo'. Vene-
rado pelo grupo todo das Hébridas, faleceu, acredi-
ta-se, por volta de 648, como bispo dg.Man.
Entre os gregos, os santos Xenofonte, Maria e
os filhos |oão e Arcádio, conÍessores. Os filhos,
enviados pelo pai para estudar direito em Berito,
hoje Beirute, tempos depois, às pressas, eram chama-
dos de volta. Doentes, gueriam ter os dois ao pé de
si. Curados Xenofonte e Maria, tornaram ]oão e
Arcádio aos estudos, mas, no decurso duma grande
tempestade, acabaram sendo levados a uma região
onde não podiam dar notícias. De comum acôrdo,
abraçaram a vida monacal. Os pais, sem quaisguer
novas dos filhos, pârtiram à procura de ambos.l Em
|erusalém, contando o que lhes sucedera a um monge,
enviou-os êste a um mosteiro, onde dois irmãos pro-
fessavam. Grande foi a alegria dos pais guando
descobriram tratar-se de |oão e Arcádio. Vendendo
tudo o gue possuíam, deram o apurado aos pobres,
e abraçaram a vida religiosa . .

Na Inglaterra, Santa Teoritgide, ürgem, gue


levou vida religiosa em Barking, sob a direção da
abadessa Etelburga.

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ROHRBACHER

Na diocese de Amiens, Sãó Teofredo, bispo e


confessor, falecido em 690.
Na diocese de Fréjus, Santo Ausilo, bispo e
mártir, também conhecido pelo nome de Antíolo, com-
panheiro de São Lôbo e de São Máximo. Homem
de grande austeridade, foi vítima do furor de Êurio,
rei ariano dos visigodos.
Na Vestfâlia, a bem-aventura daHazeca, reclusa,
que viveu ao lado da igreja próxima do mosteiro de
Sichem por trinta e seis aÍlos.

***

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I

27: DIA DE IAMIRO


sÃo JoÃo cRrsósToMo
Bisçto de Constqntínopla
Nasceu em Anticqúia, capital do Oriente, pelo
ano de 344, Em idade ainda tenra, perdeu o pai,
comandante-chefe das tropas do império, na Síria.
A máe, viúva aos vinte e dois anos, cuidou de sua
educação. O menino estudou com os mais hábeis
mestres. Era tão admirável a sua eloqüência, que
lhe granjeou o apelido de Crisóstomo, ou bôca de
ouro. Desde os vinte anos de idade, advogou com
extraordinário êxito. Por essa época, deixou-se levar
ao teatro por cc,mplacência. Nãc tardou em avaliar
o perigo que corria, e desde então começou â reflufl-
ciar ao mundo. Vestido de uma paupérrima túnica,
empregava a maior parte do tempo na oração, na lei-
tura e na meditação da Sagrada Escritura. |ejuava
diàriamente, e era sôbre o piso do quarto que des-
frutava do pouco sono concedido ao corpo após tão
longas vigílias. Em 374, retirou-se para o meio de
uns santos anacoretas que habitavam as montanhas
vizinhas de Antioquia, e que, entre outras coisas,
mantinham um silêncio perpétuo, resumindo-se-lhes
a cenversação na que sustentavam com Deus. Con-

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200 PADRE ROHRBACHER

sistia-lhes o alimento num pedaço de pão e num pouco


de sal; alguns acrescentavam a isso a2eite, e os €Ír.-
fermos um pouco de ervas e legumes. Trabalhavam
anualmente, fazendo cêstos e cilícios, lavrando a
terra, cortando lenha, aprontando a comida, e lavando
os pés dos hóspedes, a guem, depois, serviam com
grande caridade, sem dar-se ao trabalho de verificar
se eram ricos ou pobres. Não tinham outra cama que
não uma esteira sôbre o chão. Tais eram os religio-
sos entre os guais São Crisóstomo Íêz um noviciado
de guatro anos.
Em tal retiro, escreveu várias obras de piedade:
seis livros do sacerdócio, três livros da defesa da
uida monástica. Compôs sobretudo um pequeno
escrito elegantíssimo, com o seguinte título: Compa-
tação entte um rei e um Ínonge. POe nêle, de um
lado, um rei circundado de todos os sinais de gran-
deza, e do outro um moÍrge na simplicidade do seu
estado. Aquêle se afigura, aos olhos do mundo, o
mais Íelíz dentre os homens; a sua condição lisonjeia
e ofusca os olhos; êste, pelo contrário, passa por
miserável,ao gual não há quem queira assemelhar-se.
Para mostrar gue, não obstante, está em situação
mais Íeliz que a dos mais poderosos príncipes, observa
São Crisóstomo entre outras coisas gue 'a realeza
termina coà a vida, e gue depois dela os reis, tal
qual o restante dos homens, comparecem ao tribunal
de Deus para receber os castigos devidos aos seus
pecados, enquanto o solitário surge com segurança
perante tal tribunal. Se os príncipes comandam os
povos, os exércitos e o senado, o monge comanda as
paixôes, o que constitui um império muito mais impor-
tante. As vitórias alcançadas pelos reis contra os
bárbaros são muito menos esplendentes gue as alcan.

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I
VIDAS DOS SANTOS 201

çadas pelo varão virtuoso contra os demônios, inimi-


gos muito mais temíveis. Um dales mantem um
comércio contínuo com os prof etas e os apóstolos,
enquanto os príncipes só têm por companhia cortesãos
e soldados; como, de ordinário, nos assemelhamos aos
que freqüentamos, os solitários pautam a vida pela
dos apósto,los e profetas, ao passo que os reis imitam
freqüentemente os costumes corrompidos dos seus
dignitários e generais; os príncipes pesam sôbre o
povo em virtude dos tributos com que os afligem,
enquanto o monge faz, nâ medida do po,ssível, bem
a todos; os reis não podem dar outra coisa senão
ouro e prata, ao passo que os monges conferem a
graça do Espírito Santc; os primeiros, quando ben-
f.azejos, podem, é exato, expulsat a pobreza do país,
mas os outros libertam as almas da tirania do demô-
nio. O homem possuído de tão maligno espírito não
pensa em recorrer ao soberano para que o liberte,
procurando, pelo contrário, a cela de um anacoreta.
Foi aos rogos de Elias que Acab aguardou o fim
da fome, e, seguindo-lhe o exemplo, inúmeros outros
reis dos judeus recorreram aos profetas, nas suas
desventuras. Contudo, a diferença entre o rei e o
monge surge melhor na morte. O monge, que des-
preza tudo quando prende os homens à vida, deixa-a
sem pesar, ao passo que é terrivel aos reis a morte.
O solitário sai dêste mundo para receber a recom-
pensa das suas virtudes; os reis, se mal se houveram
no govêrno dos seus países, não abandonam esta
vida senão para, na outra, ser entregues a inconcebí,
veis suplícios. Por conseguinte, quando virdes, coÍl-
clui São Crisóstomo, um varáo poderoso, ricamente
trajado, montado em magnífico carro, não digais que
tal varáo é venturoso, pois lhe é efêmera a ventura.

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202 PADRE ROHRBACHER

Pelo contrário, quando encontrardes um solitário, de


aspecto humilde e modesto, e cuja serenidade de
espírito se lhe pinta no rosto , dizei que rá verdadeira-
mente fehz, e desejai tornar-vos semelhante a êle.
Havendo Crisóstomo tombado gravemente erl-
fêrmo na gruta em que vivia, voltou para a cidade
de Antioquia em 387, a fim de recobrar as fôrças.
No mesmo ano, São Melécio, bispo de Antioquia, o
ordenou diácono. Cinco anos mais tarde Flaviano
o elevou ao sacerdocio e o fêz seu vigário e pregador.
Não cessou de compor opúsculos de piedade, de
escrever e pregar homilias sôbre o Velho e o Novo
Testamentos, sermões contra os judeus, contra o
gentio, contra os arianos, panegíricos dos santos
cuja festa se celebrava durante o ano.
Era Antioquia uma cidade de prazer e dissolu"
ção. E o que se percebe, em particular, pelas palavras
-j<

de São Crisóstomo. Numa população de duzentas mil


almas, constituíam os cristãos pouco mais da metade.
Aplaudiam a eloqüência de Crisóstomo, mas nem por
isso se tornavam melhores. Vários dentre êles nunca
tinham visto uma igre ja; o,utros abandonavam as
assembléias sagradas para irem ao teatro contemplar
prostituídas que ofereciam os mais obscenos espe-
táculos. Em 26 de fevereiro de 387 mudou a cidade
sübitamente. Ao anúncio de um novo impôsto, veri-
ficou-se terrível sedição. Insultou-se o nome do
imperador Teodósio, rasgaram-se-lhe as imagens,
derrubaram-se estátuas, a de seu pai, de sua mulher,
de seus filhos, despedaçaram-se e arrastarâÍl-se os
destroços pelas vias. Tudo isso durou apenas uma
manhã. A revolta começara ao raiar do dia; reinava
a calma. Aquela calma, porém, tinha tudo de sombrio
e lúgubre. O imperador Teodosio era bondoso, lrâ§

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I
VIDAS DOS SANTOS 203

terrível nos seus primeiros impulsos. Todos temiam


que aniquilasse a cidade de ponta a ponta. Era
-
possível censurar aos magistrados nada hurrer.* feito
para impedir o crime, e êles tanto mais implacáveis.
Antiogu ia )â não era a mesma cidade. lsada mais
se via de alegre, não havia jogos, nem festins, nem
devassidões, nem canções nem-dànças lascivas, nem

reodósio
i;,"',T"1"0""
distrações tumultuosas. Só se ouviam preces e salmos.
O teatro estava abandonado; purrurrurn-se os dias
. inteiros na igreja,_ onde os corações mais agitados
repousam no seio do, próprio Deus. A cidade inteira
parecia ter-se tornado um mosteiro.
. O .povo dirigiu-se_ ao bispo Flaviano, para que
intercedesse por êle. o bispo partiu, realmente, pára
constantinopla, a fim de abrandar a cólera do impe-
TdoI e lograr o perdão de Antioquia. À
".p"ru,
Crisóstomo continuou a pregar ao povo, cal-undo-
lhe os temores e enxugandõ-he u. lag.imas, e foi
princ_ipalmente a êle quà se deveu a trariqtiilidade em
que Antioquia se manteve no meio dos díversos alar-
mes so,brevindos. Proferiu, durante tal intervalo,
vinte discursos, comparáveis a tudo guanto Atenas e
Roma produziram dâ mais elcqüente. A arte e nêles
maravilhosa. Incerto sôbre o partido que iria tomar
Teodósio, mescla a esperança áo perdãó e o d"rpr"rã
-o'uvinier
da morte, e dispõe os u ,"."ber com sutmis-
são e sem incômodo as ordens da Providência. Entra

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204 PA DR E ROHRBACHER,

sempre com ternura nos sentimentos dos concidadãos,


mas releva-os e fortifica-os. Nunca os detém por
demasiado tempo no caminho das suas desditas; não
tarda em transportá-los da terra ao céu. Para dis-
traí-los do temor presente, inspira-lhes outro mais
vivo; oCUpâ-oS com a recordação dos vícios, insta com
êles para que se corri jam, scbretudo em se tratando
da bíasfêmia, e mostra-lhes o braço de Deus erguido
sôbre as suas cabeças, e inf initamente mais temível
que o do príncipe.
Em tal calamidade, viu o povo de Antioquia
chegarem consoladores inesperados. Não eram os
filoõofos pagãos, gue haviam fugido des-de o primeiro
instante ,' paÍa Se não verem envolvidos na ruína
comum. Eram os anacoretas das montanhas vizinhas,
os guais entraram, então, na cidade, a fim de obterem
o pãrdão do povo, ou morrer com êle. Intercederam
com os magiótrados, e, com os sacerdotes e- bispos,
opuseraÍt-Se às execuções, atê qu9 se recebesse a
rásposta do imperador. Chegou finalmente a fes-
portu: Teodósió, por amor a Deus e a rôgo do bispo,
perdoava à cidade inteira.
No ano de 397 , foi Crisóstomo eleito bispo de
Constantinopla, mediante o consentimento unânime
do povo áo clero, e com aprovação do imperador
Ariadio." Mas sabia-se como era amado em Antio-
quia e como era facil comovef-se o povo daquela
ádud". O imperador escreveu, poil, ao conde do
Oriente que o enviasse sem espalhafato. O conde,
recebendó a missiva, rogou a Crisóstomo gue o fôsse
visitar, como se se tratasse de uma guestão qualguer,
numa igreja de mártires fora de Antioquia. La,
mandanão que montasse no casse conduziu-o ime-
diatamente áte certo lugar, onde o deixou entre as

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I
VIDAS DOS SANTOS 205

mãos dos oficiais do imperador, que o levaram a


Constantinopla.
Mal o novo bispo falou na sua igreia, estabe-
leceu-se entre êle e o povo um recíproco afeto. Não
vos falei senão uma vez, disse no segundo discurso,
e já vos estimo como se hc,uvesse sido criado entre
vós, desde o comêç o; jâ estou unido a vós pelos laços
da caridade, como se me fôra dado ha longo tempo
desfrutar das doçuras do vosso trato. Vem isso não
de ser eu sensível à amizade, mas de serdes vós esti-
máveis acima de todos. Quem não admiraria o vosso
zêlo de fogo, a vossa caridade sem Íingimento, o
vosso afeto pelos que vos ensinam, a vossa concórdia
mútua, coisas que bastariam para vos conciliar uma
alma feita de.pedra? É por isso que vos não amamos
menos que esta igreja na qual nascemos, fomos cria-
dos e instruídos. Esta ê irmá daquela, e vós provais
tal parentesco pelas obras. Se a outra é mais antiga
no tempo, esta é mais fervorosa na fe; la existe uma
assembláia mais numerosa e um teatro mais famoso;
mas aqui se percebe mais constância e coragem. Vejo
aqui os lôbos rodear, por todos os lados, as ovelhas,
e, entretanto, não diminui o redil. Tais lôbos eram
as diversas espécies de hereges, marcionitas, mani-
queus, aos quais se podem acrescentar os judeus e os
pagãos, que, ainda então, não constituíam pequeno
número em Constantinopla.
Havia na grande cidade, capital de todo o impé-
rio do Oriente. inúmeras desordens e grandes escân-
dalos. São Crisóstomo empreendeu a reforma. E
conseguiu-a pelq exemplo de uma vida santa, pelo
ardor do zêlo e pela fôrça da eloqüência. No
entanto, o seu zêlo apostólico indispôs contra êle,
não o povo, senão várias personagens poderosas,

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206 PA DR E ROHRBACHER

sobretudo a imperatriz. Mandou ela gue, por duas


vêzes, o depusessem alguns bispos, e por duas vêzes
fôsse exilado pelo imperador. A deposição era nula.
A velha regra, desde então, até no Oriente, era não
poder ser nenhuma questão de maior importância
concluída na Igreja sem a autoridade do Pontífice
romano. Ora, o santo papa Inocêncio, primeiro do
nome, a guem se escrevia de uma parte e de outra,
jamais aprovou a depc'sição de São Crisostorno, con-
siderou-o sempre o único bispo legítimo de Constan-
tinopla e lhe escreveu como a irmão e colega, para
exortá-lo à paciência, ao mesmo tempo em que tra-
tava como intruso o sucessor que lhe fôra dado.
Enquanto o chefe da Igreja consolava os fieis
catolicos de Constantinopla, dava a Prgvidência aos
cismáticos advertências de outro gênero. SucederâIn-
lhe vários acidentes considerados, punições divinas,
pela perseguição instigada contra São Crisóstomo.
Em 30 de setembro do mesmo ano de 404, caiu, em
Constantinopla e nas cercanias, uma chuva de pedras
do tamanho de nozes. No dia 6 de outubro seguinte,
a imperatriz Eudóxia morreu pelo parto de uma
criança morta. Cirino, bispo de Calcedônia, que
sempre censura São Crisóstomo, morreu do ferimento
que lhe causou São Marutas pisando-lhe, por des-
cuido, o pé. Tiveram de amputar-lhe várias vêzes a
perna; o mal estendeu-se à outra perna, depois ao
corpo inteiro, e tornou-se irremediável. Outro's Ítor-
reram de várias mortes ou foram afligidos por horrí-
veis doenças; um dêles, caindo de uma escada,
matcu-se; outro [oí torturado pela gôta nos pés;
c,utro morreu sübitamente, exalando insuportável
fedor; outro teve as entranhas queimadas por lenta
febre, com dores de colicas contínuas, e, [ora, insu-

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VIDAS DOS SANTOS 207

portável comichão; outro teve os pés inchados por


hidropisia; outro sofreu de gôta áor guatro deãos
com os quais subscrevera; outro viu o baixo ventre
inchar-s e e a parte vizinha corromper-se , com enorme
infecção e produção de vermes; outros supunham
ver, de noite, cães enfurecido,s e bárbaros, de espada
na mão, dando gritos medonhos; um dêles, cáirdo
do cavalo, quebrou a perna direita e morreu imedia-
tamente; outro perdeu a palavra e durante oito meses
ficou acamado, sem mesmo conseguir levar a mão à
bôca; o,utro, tendo a língua tão inchada que lhe
ocupava a bôca inteira, escreveu a confissão em
tabuinhas ( 1 ).
São Nilo, saído da primeira nob Íeza, e prefeito
de Constantinopla, tornando-se ilustre solitarió, escre-
via ao imperador Arcádio: como pretendeis ver Cons-
tantinopla livre dos freqüentes tremores de terra e do
togo do céu, enquanto nela se cometem tantos crimes
e o vício reina com tamanha impunidade, após ter
sido banida a coluna da lgreja, a luz da veráade, o
clarim de |esus Cristo, o bã*-uventuraao UirpíÊá..
Como quereis que eu conceda preces u ,-á .ídud"
sacudida pela cólera de Deus, de quem ela só aguarda
os raios a todo instante, eu que estou aniquiládo de
tri_steza, gue sinto o espírito agitado e o coração
'dos
dilacerado pelo excesso *ui". que se cometem
presentemente em Bizãncio (2) ?
De resto, o exílio de são crisóstomo não foi abso-
lutamente estéril para a religião. Nao somente dava
a todos os seculos vindouros o exemplo de homem
(1) Pallad., Soc., 1.6, c. 19. Soz., 1. B, c.27.
(2) Nil, Epist. 265.

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2AB PADRE ROHRBACHER

acima do mundo e de si próprio, numa palavra o


exemplo de verdadeiro bispo; não somente entretinha
uma óo.r"tpondência ativa com os principais membros
do seu cleio e do povo para manter a ordem, reavi-
var o zêlo, reanimár a caridade para os pobres, como
também se empenhava na propagação da Íe entre os
infiéis. Enviou missionários aos gôdos, à Pérsia e à
Fenícia, e alcançou, por intermédio de tais varões
apostólicos, u .or,r.ríão de grande númerc de idó-
latras. O sacerdote Constâncio, que o ambicioso
Porfírio havia expulsado de Antioquia, fê-lo São
Crisóstomo superiôr geral das missões da Fenícia e
da Arábia. NÍr*u dás missivas à santa Olimpíada,
recomenda-lhe o bispo Marutas, por dêle precisar
para a missão da Pérsia.
Sao Crisóstomo, sabendo, flo exílio, o que se
passava no Ocidente, e como se interessavam o papa
ã or demais bispos pelo seu restabelecimento, escÍê-
veu-lhes várias missivas para lhes agradecer. Escre'
veu particularmente a Venério de Milão, a Cromácio
d" Águiléia, a Gaudêncio de Brescia, a Aurélio de
Cartago, a Hesíguio de Salona, e em geral aos bispos
vindoJ do Ocidsnte e aos sacerdotes de Roma. Es-
creveu, também, a três das mais ilustres damas ÍOIIIâ-
nas, dentre as quais a principal era Proba Falconia.
Na última missiva que dirigiu ao papa Santo Inocên-
cio, agradece-lhe o cuidado em defendê-lo, e colll-
para-o a um pilôto cuja vigilância ê tanto maior
quanto mais piofunda é a noite e mais ameaçador
á *ur. É em vós, acrescenta, que Íepousa o pêso do
mundo inteiro, pois tendes de combater simultânea-
*""te pelas igrâ;as abandonad-as, e pelos povos dis-
persos, e pelós sacerdotes rodeados de inimigos, e

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I
VIDAS DOS SANTOS 209

pelos bispos postos _em fuga, e p"lT constituiçôes


ã" ,torroi puit, insultantemente pisados ( 1-)'
Os inímigos de São Crisóstomo, sabedores dos
"qu"
grurrdes bens êle Í.azia pela conversão dos infiéis
ãu e como eraÍL famosas as suas virtudes
"úi"hança,
àm Antioguia, resolveram envi a-lo ainda mais longe.
Mandará, portanto, à côrte, e obtiveram do impe-
radorArcádio uma ordem mais rigorosa para o trans-
Íerir, e imediatamente , pafa Pitionto, paragemdeserta
do país dos Tzanas, ,rãr *argens do Ponto Euxino.
Erá longa a viagem e durou três meses, embora os
dois solãados do prefeito do pretório gue conduziam
à ,urrto bispo o apressassem extremamente, afirmando
q.r" aguelás as ordens recebidas. Um dêles,
"ru*
menos interessado, the testemunhava alguma huma-
nidade como gue às furtadelas; guanto ao outro,
porém, era tão brutal que se ofendia com as carícias
'feitas
para que poupasse o santo. Mandava-o sair
com a mais Íorte das chuvas, e desafiava o maior
ardor do sol, sabendo que o Santo, calvo, se sentiria
incomodado. Não lhe permitia detef-s€ um instante
sequer nas cidades ou áas aldeias gue dispunham de
banhos, temeroso de gue se valesse de tal alívio.
Ao se aproximarem de Com arLa, foram além, sem
deter-se, e ficaram fora numa igreja gue se situava
a cinco ou seis -milhas, dedicada a São Basilisco,
bispo de Comana, que sofrera o martírio em Nicomé-
dia, sob Maximino-Daia, com São Luciano de Antio-
quia. Estando alojados nas dependências da igteia,
ápureceu São Basilis.co, de noite, a São Crisóstomo
e- disse-lhe: "Coragem, meu irmão )oão, amanhã
estaremos juntos!" Cõntava-se até gue o predissera ao

(1) Crisóstomo, t. 3, p. 522. Const., 809'

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210 PADRE ROHRBACHER

sacerdote gue lá vivia, dizendo: preparai o lugar a


meu irmão, pois êle vem! São Crisóstomo, certo da
revelação, rogou, no dia seguinte, aos guardas que
lá permanecessem até ofize horas da manhã; mas não
viu o pedido outorgado. Partiram, e caminharam
cêrca de légua e meia, após o que foi preciso voltar
à mesma igreja de que tinham partido, de tal modo
passava mal São Crisóstomo. Chegado, mudou de
vestes e ccbriu-se inteiramente de branco, até o cal-
çado, estando ainda em jejum. Distribuiu aos pre-
sentes o pouco que lhe restava e, tendo recebido a
eucaristia, Íez a derradeira prece perante todos e
acrescentou estas palavras, que tinha o costume de
dizer: Deus seja louvado por tudol Em seguida,
falou: Amém! estendeu os pés e entregou a alma.
Hcuve no seu funeral tão grande concurso de virgens
e de monges da Síria, da Cilicia do Ponto e da
Armênia, que era como se tivessem combinado encon-
trar-se. A celebração foi a de mártir, e o seu corpo
sepultado ao lado do corpo de São Basilisco, na
mesma igreja. O sucessor de São Pedro, que o
defendera durante a vida, defendeu-o após a morte, e
não admitiu à sua comunhão os bispos de Constanti-
nopla, Antioquia e Alexandria, senão depois de have-
rem restabelecido a memória do falecido e chamado
de novo os bispos exilados por sua causa ( I ) .
No ano de 437, estando São Proclo, novo bispo
de Constantinopla a f.azer o panegírico de São |oão
Crisóstomo, no dia da sua festâ, effi 26 de setembro,
interrompeu-o o povo por aclamações, exigindo lhe
fôsse devolvido o bispo ]oão. Proclo achou, ademais,
gue era o meio de reunir à Igreja os que se haviam
(1) Pallad., Ceillier, Tillemont. etc.

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VIDAS DOS SANTOS 271

separado por ocasiãô do santo e que ainda rcalizavam


separadamente as suas assembléias. Falou do assunto
aó imperador Teodósio o ioveffi, e persuadiu-o ê ÍlâÍra
dar trazer o corpo do santo bispo de Comana, ào
Ponto, onde fôra sepultado. Efetuou-se a trasladação;
o povo foi na frente; o mar do BOsforo cobriu-se de
barcos e iluminou-se de archotes, como quando êle foi
ch_amado do primeiro exílio. O imperador aplicou os
olhos e o rosto no relicário, pedindo perdão pelo pai
e pela mãe, os quais tinham ofendido o santo, desto-
nhecendo o que f.aziam. As relíguias foram transfê-
ridas para Constantinopla püblicamente, com grande
honra, e depostas na igreja dos Apóstolos em 27 de
ianeiro de 438, dia em gue a Igreja latina celebra a
festa de São Crisóstomo.

aaa

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I

SANTA ÂNGELA MERICI


F undadora das Religíosos Ursulinas

Enquanto o anjo apóstata, caído do céu ao infer-


r1o, suscitava em Wittember um monge apóstata,
Lutero, para blasfemar contra as bcas obras, contra os
votos dã castidade, de pobr eza e de obediência reli-
giosa, impelir à apostasia monges e religiosas da
ÂI"-urhá, e corromper as gerações presentes e futu-
ras, suscitava Deus na Italia uma iovem ór[ã para
tornar-se mãe de várias congregações de santas ;'ovens
devotadas à ministração de uma educação cristã às
crianças do seu sexo e a conservar, dessarte, a f-ê, a
piedade, o zêlo das boas obras em inúmeros reinos.
Queremos falar de Santa Ângela Merici ou de Brés-
cia, fundadora das religiosas ursulinas.
Nasceu Santa Ângela, no comêço do século
dezesseis, em Decenzaro, perto do lago de Garda, no
território de Brráscia. Eram nobres seus pais, segundo
uns, e, segundo outros, pobres artesãos. Fôssem
quem fôssem, educaram-na no temor de Deus; mas
álu or perdeu bem cedo. Com uma irmã mais velha
foi acoihida por um tio o qual, com grande piedade,
teve para ambas coração de pai e de mãe. As duas
crianças, embora tão jovens, só tinham um praz.eÍ e
era o de se entreterem nas práticas de devoção, não
em práticas comuns e ordinárias, mas em práticas mais

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I
VIDAS DOS SANTOS 2t3

fervorosas. De noite, descansavam um pouco sôbre


a teruanua ou sôbre algumas pranchas; depois, levan-
tavam-se para as orações. A tal mortificação, ?cr-es-
'da fregüentes e grandes austeridades.
centavam jejuns
O desejo solidão e do retiro causara-lhes tão
forte impressão, achâvârl-Ítos tão favoráveis ao seu
projeto àe sO se comunicarem com Deus, gue um dia
f.rgira* rumo a uma ermida; foram, todavia, dissua-
diãas pelo tio, que as seguiu e de novo as levou pata
casa. Santa Ângela não tinha outro consôlo senão
o de estar sempre com a irmã. Deus, porém, retirou-
lha. Aguela morte muito a penalizon, tanto mais que
consideiarra a irmã seu apoio e guia no caminho da
virtude. Todavia, padeceu tão dolorosa separação
com perfeita submissão à vontade de Deus.
Pouco tempo depois, perdeu também o tio. Assim,
duas e três vêzes orfá, redobrou as orações e auste-
ridades. Cada vez mais atraída pela graça divina a
abandonar o mundo, entrou na ordem terceira de São
Francisco, e, não §e contentando com observat exata-
mente a regra, acrescentou novas austeridades às
prescritas. À pobre za de São Francisco foi o princi-
pal objetivo de Santa Ângela; não guis nada no seu
quarto, nem nos hábitos, nem nos móveis, que não
fôsse'pobre e simples. Revestiu-se de um cilício gue
não deixava nem de dia nem de noite. O leito
compunha-se de alguns ramos de árvores, sôbre os
guais estendia uma esteira. Por alimento, dispunha
apenas de pão, água e alguns legumes. Não bebia
vinho senão no Natal e na Páscoa. Durante d gtta,-
resma, comia apenas três vêzes por semana.
Fêz a peregrinação a |erusalém, a fim de visitar
os lugares sagrados gue Nosso Senhor |esus Cristo
honrou com a sua presença. No regresso, visitou os

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2L4 PADRE ROHRBACHER

túmulos dos santos apóstolos e dos gloriosos mártires


que se encontram em Roma. Quis, ainda, dar provas
de piedade no monte de Varalle no Milanês, onde
s_e r_epresentam vários mistérios, quer do Velho quer
do Novo Testamento, em oratórios separados.
Acabou por se fixar em Bréscia.
Imediatamente, várias pessoas piedosas atraídas
pela santidade de sua vida, quiseram viver em comu-
nidade com ela; mas a santa lhes recomendou gue
continuassem no mundo, para edificar, mediante as
virtudes, os outros, para instruir pobres e ignorantes,
visitar hospitais e prisões, e socorrer os desgraçados
de tôda espécie. De acôrdo com tais corrsãlhos, as
santas jovens se uniram, com efeito, para tal fim
caritativo, sem ligar-se por nenhum voto. Empe-
nharam-se sôflrente, por uma simples promessa, e por
tempo curtíssimo, â observar a regra geral da socie-
dade. Ângela valera-se das luzes de pessoas experi-
mentadas para redigir tal regra, mas, prevendo gue
as mudanças que sobreviriam nos hábitos e costumes
do mundo poderiam tornar necessárias, posterior-
mente, várias modificações, inseriu esta cláusula:
Far-se-iam, de tempos em tempos, as correções exi-
gidas pela fôrça das circunstâncias. Os membros
da associação escolheram-na unânimemente como
superiora, cargo que ela não aceitou senão com pesar
e com os sentimentos da mais profunda humildade;
contudo, receando que dessem o seu nome à ordem,
colocou-a sob a invocação de Santa úrsula e chamou-
lhe sociedade das Ursulinas. A sociedade, em pouco
tempo, produziu tão grande bem, que em Brráscia e
nas regiões vizinhas, a chamavam de diuina compa-
nhia; contudo, só foi admitida à categoria das ordens

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VIDAS DOS SANTOS 215

religiosas mais tarde, guatro anos após a morte da


santa fundadora.
Durante o pontificado de Paulo V, foram as
ursulinas clausuradas e autorizadas a f.azer votos per-
pétuos. Desde então, a ordem não sofreu qualguer
outra mudança nas regras. As santas jovens, parti-
cularmente votadas à educação da juventude, atraíram
o respeito universal dos países católicos; divididas em
várias congregações, como a ordem de São Francisco,
à qual se prendem, estabelecerârn-se por tôda parte,
com iúbilo dos pais cristãos, que nelas encontraram
instituidoras igualmente sábias e iluminadas para a
formação das filhas no caminho da virtude, incul-
cando-lhes os primeiros conhecimentos.
Ângela governou a congregação durante vários
anos com rara prudência e morreu santamente em
27 de janeiro de 1540. São Carlos Borromeu, que
apreciava singularmente as ursulinas, ocupou-." tdu
beatificação de Ângela; mas não teve o consôlo de
obtê-la antes da morte. Ângela só foi declarada bem-
aventurada em 30 de abril de 1768, pelo papa Cle-
mente xlll, e Pio vll a canonizau solenemente em
24 de maio de 1807 ( 1 ) .

ssa

(1) Helyoü, t. 4. Godescard, 27 de janeiro.

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sÃo LôBO (*)
Bispo e Conf e.ssor

LObo nasceu numa nobre família do reino da


Borgonha e chegou a bispo de Chalon-sur-Saone.
Era-caridoso, desvelava-se com a pobreza e se inte-
ressava demasiadamente com o destino dos prisio-
neiros, livrando muitíssimos dêles da condenação à
pena capital.
Certa yez, impressionado com o grande número
de doentes que havia em Baugrá, [êz surgir da terra
uma fonte, cujas águas tinham o poder de curar tôdas
as doenças. Contá-se que, durante um incêndio que
ameaçava destruir tôda a cidade, pôs-se de ioelhos, a
orar fervorosamente, pedindo a Deus que preservasse
o povo daquela catástrofe. Quase qqe no mesmo
instante, o vento mudou de direção e levou o fogo
para regiões despovoadas.
Quando morreu, em 610, levavam-lhe o corpo
para o enterramento, e, à medida que o cortejo [úne-
bre se aproximava da prisão, cada vez mai_s pesava o
caixão áo. que o transportavam. Afinal, defronte
do presídio, tão pesada se f.izera a carga, que a deposi-
taram, para um descanso. Imediatamente, as portas

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VIDAS DOS SANTOS

tôdas do cárcere se abriram, e, enquanto os presos


que estavam condenados à morte não foram postos
em liberdade, ninguém conseguiu mover o esguife um
centímetro sequer.
Sao Lobo foi sepultado em São Pedro de Chalon.

*fí*

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sÃo DOMICIANO (*)
Monge e Confessor
São Domiciano, de'Militene, viveu sob a conduta
de Santo Eutímio, o Grande, que apreciamos no dia
20 dêste mesmo mês de janeiro, e de Teoctisto. Foi
ecônomo da comunidade do Sahel, e trabalhou para
a formação do grande monge que se chamou Sabas.
Mcrto Santo Eutimio, do qual recebeu o último
suspiro, e sabendo que logo o acompanharia para a
glória do Senhor, não dese;'ava sair de perto cla
sepultura do grande abade amigo. E, conforme Eutí-
mio dissera, sete dias depois que falecera, âpâreceu-
lhe, dizendo:
Vem gazar da gloria que te está preparada!
Deus quer que, juntos, habitemos o céu!
No dia seguinte , 27 de janeiro, Domiciano refe-
riu aos irmãcs a visão que tivera. E, cheio de alegria,
daquela alegria que muitos poucos conhecem, deixou
o mundo e foi reunir-se ao velho amigo da solidão,
em 473.

s+s

http://www.obrascatolicas.com a
SANTA DEVOTA (*)
Virgem e Mártir

Esta santa virgem, morta no cavalete, era natural


da Corsega e foi encaminhada ao batismo pela ama
de leite, que era cristã.
Correndo pela ilha a nova de gue alguem vinha
de Roma executar os decretos da perseguição que
então se movia em 300, Devota, moça e grandemente
religiosa, refugiou-se na casa de um amigo, Eutício,
e la, dando-se à oração, ao jejum e ao estudo das
sagradas Escrituras, preparou-se para enÍrentar as
vicissitudes tôdas.
Apcntada como cristã, puseram-se a procurá-la,
e acabaram por saber do seu paradeiro. Eutício, inti-
mado a entreg â-la ao algoz, recusou-se veementemen-
te, sendo, então, morto. A santa mártir, por sua vez,
constrangida a sacrificar aos ídolos, também se
recusou. Foi o suplício, o horror, o cavalete.
Delicada, trabalhada pelos jejuns e pelas peni-
tências, Devota não suportou os maus tratos e
faleceu. Ordens, então, foram expedidas, terminantes,
para gue lhe gueimassem o corpo, mas, dois cl*árigos,

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PA DR E RÔHRBACHER

avisados por uma visão, às escondidas, arrebatarârn-


lhe o corpo, para sepultá-lo. E, diz a lenda, uma
pombinha guiou os dois caridosos personagens atê
Mônaco, onde as preciosas relíquias ficaram sob a
guarda do povo, sendo Devota desde logo venerada
como santa.

aas

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sÃo JULIÃO (*)
Bistto e Conlessor

Êste apóstolo do Mans era originário de Roma


e preqou o Evangelho entre os cenomanos, secundado
por Turíbio, sacerdote, e Pavácio, diácono.
São |ulião, antes de entrar na cidade, ficou
evangel izando as gentes das redondezas, batizando
idólatras que se convertiam. Ora, logo o rumor de
sua atividade chegou à cidade. Sabedor de que
naquele centro faltava âgua constantemente, diante
de todo o povo curioso por conhecê-lo, fêz com que
da terra brotasse um farto veio cristalino, o que
encantou a população tôda e ao Santo carreou a boa
vontade do defensor do Mans.
A entrada de São fulião foi triunfal, e as auto-
ridades, diante daquele prodígio, concederam-lhe
inteira liberdade para pregar o Evangelho de Nosso
Senhor.
Logo de inícfb, a principal figura da cidade con-
verteu-se, e, com ela, tôda a família recebeu das
mãos do santo homem o batismo. Ofertando a ]rrlião
grande parte do palácio para que o transformasse em
igreja, o defensor não cabia em si de contentamento.
Foi ali a primeira catedral do Mans, inicial-
mente colocada sob as invocações da Santa Virgem

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PADRE ROHRBACHER

Maria e de São Pedro, mais tarde sob as de São


Gervásio e de São Protásio, depois de São f ulião
mesmo.
Com a chegada do Santo tudo ficou modificado.
E a gente do lugar, maravilhada, acompanhava-lhe
todos os movimentcs com interêsse e unção.
Doentes, antes relegados ao abandono, eram
socorridos carinhosa e prestamente. Os pobres, coÍr-
solados e amparados, sofriam menos, e os orfãos, que
o santo bispo tratava com um desvelo todo especial,
eram encaminhados e passavam a viver sob uma orien-
tação sadia e exclusivamente cristã.
Todo o Mans se edificava, e as conversões pro-
cessavam-se em massa.
Um dia, urrl dos importantes da cidade, chama-
va-se Anastácio, perdeu o filho. Falecia-lhe na idade
mais linda, mais graciosa. E a dor dos pais, enorme,
que lacerava, comoveu São fulião profundamente. E
foi a maravilha: cheio de confiança no Todo-Pode-
roso, o santo homem ressuscitou o pequenino morto.
Muitcs milagres mais operou Deus por inter-
médio daquele santo bispo.
Pouco depois do combate que empreendeu contra
o druidismo, entre o Loire e o Sena, sentindo-se perto
do fim da vida, São |ulião confiou a Turíbio o
cuidado da Igreja que viera governando com tanta
firmeza e esmêro. Prêsa de uma legta, mas constante
febre, faleceu, provàvelmente, no ano de 250.

sarÊ
No mesmo dia, no mosteiro de Val-Benois, na
França, São Mauro, abade, originário de Orleans.
Professando num mosteiro da cidade natal, caracte-

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VIDAS DOS SANTOS 223

rizou-se por uma grande inocência. Obtendo o


lonsentimento de Gondebaud, então rei da Borgonha,
os monges de Bodon ou de Val-Benois, diocese de
Sisteron, escolherâÍn-Íro para abade, escolha gue |oão,
bispo do lugar, confirmou. Deus concedeu-lhe o
dom dos milagres. Falecido em 550, muitos prodígios
tiveram ocasião.
Na Siria, São Pedro, o Egípcio, confessor, natu-
ral do Egito. Viveu na Síria como anacoreta, f.ale-
cido em 400.
Na Espanha, Santo Emereu, confessor, e a máe,
Santa Candida. Emereu fundou na Espanha o
mosteiro de Bagnols, perto de Girona. A mãe, fican-
do viúva, pôs-se sob os cuidados do filho, gue lhe
indicou um lugar onde pôde terminar santamente os
dias.
Em Roma, São Vitaliano, papa, sucessor de
Eugênio I. Elevado à cátedra de São Pedro, logo
procurou restabelecer as relações entre Roma e Cons-
tantinopla. Falecido em 672, foi enterrado em São
Pedro do Vaticano.
Em Orléans, São Thierry, o Segundo, bispo e
confessor, filho do Senhor de Chateau-Thierrylsur-
Marne, formou-se sob a direção do abade Rainard,
seu tio. Protegido do rei Roberto e da rainha Cons-
tância, com a morte de Fulco, bispo de Orléans,
gcqpou a sede daquela cidade, sustentado pelo rei.
Faleceu em 1022.
Na diocese de Rennes, Sao Gilduíno, confessor,
nascido em 1052, quando do pontificado de Sao
Leão IX. Jovem ainda, tal a viáa santa e exemplar
que levaya, viu-se à frente do canonicato, na cate-
dral de Dol. Faleceu em 1077, e muitos milagres, à
beira do túmulo, tiveram ocasião.

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224 PADR,E ROHRBACHEIT

Na diocese de Arras, São João de Warneton,


bispo e confessor. Confiado a mestres sábios, virtuo-
roí . prudentes, como Lambert de Utrecht e Yves
de Chârtres, tudo levava a crer que seria, como de
fato [oi, um grande e desvelado servidor de Deus.
Foi modêlo de vida clerical. Para se elevar a uma
mais alta perfeição, tomou a resolução de abraçar a
vida monástica, aglegando-se aos cônegos regulares
de Monte Santo Elói, que ficava perto de Arras.
Ordenado padre em 1099, foi sagrado bispo em Reims,
o que tu."ã"u em julho, â 17 , do mesmo ano. Bispo
de Teruana, querido, firme, enérgico, ao mesmo tempo
que suave, governou a Igreja que lhe fpra confiada
óo. trinta anos. Faleceu em I 130, e foi enterrado
na catedral. Assistiu aos concílios de Santo Omer
(1099), d" Beauvais (1114), de Reims e de Chalons-
sur-Marne (1115).
No mesmo dia, em Sora, São |ulião, mártir, que,
tendo sido aprisionado durante a perseguição de
Antonino, por ter um templo de ídolos desabado du-
rante o interrogatório, teve a cabeça cortada, Íece-
bendo, dessarte , a .coroa do martírio. Na África,
Santo Avito, mártir. No mesmo lugar, os santos
Dácio, Reato, e seus companheiros, mattirízados du-
rante a perseguição dos vândalos. Ademais, os
santos Dativo, fulião, Vicente e outros vinte e sete
mártires.

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28,. DIA DE IAIVEIRO
SÃO CIRILO
Bispo de Alexandria

Pelo ano de 430, Nestório, bispo de Constan-


tinopla, com o pretexto de abolir certas crenças supers-
ticiosas introduzidas entre o povo, pôs-se a ensinar
que a Santa Virgem não era e não devia ser chamada
mãe de Deus. Para reforçar a nova doutrina, tentou,
de início, persuadir os magistrados pelos artifícios, e
conquistar, pelas liberalidades, os ccrtesãos mais fa-
vorecidos. Em seguida, espalhou clandestinamente
nas províncias e nos mosteiros diversos escritos nos
quais insinúava os sentimentos hereticos sob o véu
da piedade e do zêlo pela glória de Deus. Final-
mente, fez subir ao trono um bispo a quem havia
seduzido, e que proferiu püblicamente ser impiedade
dizer que a Santa Virgem era mãe de Deus. Diante
de t_ais palavras, ergue-se todo o povo, dando gritos
de horror e abandonando a igreja. A cidade de
Constantinopla alarma-se com a narração de seme-
Ihante blasfêmia. os velhos solitárioi, que havia
uns guarenta anos, não tinham pôsto o pé fora do
claustro, saíram dos retiros pará confessãr püblica-
mente a Íe recebida dos pais e sustentar, à éusta da

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-\.

PADRE ROHRBACHER

própria vida, a honra da maternidade divina da San-


iirri-u Virgem. Vários, com efeito, foram maltta-
tados, batidos, atirados à prisão pelos homens que o
heresiarca havia conquistado. Como se iulgavam
felizes por sofrer em prol de |esus e de sua Santa
Mãe!
Finalmente, tendo-se alastrado a notícia da
impiedade por tôda a terca, os bispos de tôdas as
putt.t do mundo cristão, sob as ordens do paPa §.""
Celestino e sob a presidência de São Cirilo de Ale-
xandria, gue substituía o chefe da Igreja, reuniram-se
em Efeso, na mesma igreja que trazia o nome de
Maria. Durante o tempo da primeira sessáo, que
durou desde a manhá atê a tarde, o povo de Éfeso,
interrompendo as habituais ocupações, esquecendo-se
até de beber e comer, manteve-Se constantemente às
portas da igreja em gue se reuniam os bispos, à espera
ãa senterrçã gu" seriá proferida. De repente, de tarde,
abrem-se as portas da igreja, São Cirilo compale.g à
testa de duzántos bispoi, e anuncia ao povo a conde-
nação do ímpio Nestório. Imediatamente enchem os
ares, gritos de iúbilo. O inimigo da -Virgem está
aniquilado, grita-se por todos os lados. Viva a
g.uád", u,rgrÀtu e gloriosa mãe de Deus! Não se
ãabia como iestemunhar o júbilo aos bispos do concílio;
eram acompanhados pelas ruas com archotes; gueima-
vârr-Se perfumes à passagem dêles; acendialll-se
fogueiras em tôda' a cidade. Parecia .que uma nova
viãa fôra dada àguele povo, de tal modo ficara
afligido pela injúria feita por Nestório a Maria.
NaJ demãis cidades o mesmo se verificou. Os fieis
uniam-se aos sacerdotes e aos solitários para cantarem
em procissão cantos de ação de graças.

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VIDAS DOS SANTOS 227

São Cirilo, segundo o Dominiquim.

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I 228 PA DR E ROHRBACHER

ó Maria, uÍro-Íre a todos êsses piedosos fieis


para rejubila Í-me com o vosso triunfo. Sim, sois
verdadeiramente mãe de Deus. Aquêle que destes
ao mundo une verdadeiramente a natvÍeza divina e
natuteza humana numa única e mesma pesso a; ê ver-
dadeiramente Deus e homem, Filho de Deus e vosso
Filho. Seja-me dado aumentar ainda a vossa glOria!
São Cirilo, que teve a ventura de contribuir
para o triurrfo da Santa Virgem,_ foi -eleito bispo de
Alexandria em 412. Quando Nestório começou a
disseminar o veneno da sua heresia, Cirilo esCreVeu-
lhe com o intuito de o Í.azer voltar à doçura. Ven-
do-o obstinado, denunciou-o ao papa São Celestino,
;;" proferiu
'Cirilo
a sentença, e o incumbiu da execução'
São empregou o resto da vida em restabelecer
e cimentar u' puí perturbada pela heresia durante
vários anos. MorrLu em 28 de iunho de 444, dei-
xando numerosos escritos, que o Íízeram incluir entre
os doutôres da Igreia. Vê-se, entre outras coisas, a
;;t á..'roçao para com a Santa Virgem' Exclama:
"Eu vos saúdo, Maria, mãe de Deus' tesouro
venerável de todo o universo, farol que se não extin-
g"", úiúante coroa da virgindade, cetro da boa dou-
í.ina . . . Eu vos saúdo, vós que' no vosso seio
virginal, contivestes aquêle -que é imenso e incom-
pr"lr.irrel; vós por quem a Santa Trindade rá glori-
ii.udu e adoradu, .rot por quem a cÍuz preciosa do
Salvador é exaltada por tôda a terca; vós por quem o
céu triunfa, os anios se rejubilam, os_ demônios Íogem,
o tentador é venôido, a criatura culpada se eleva ao
.e", o conhecimento da verdade se estabelece sôbre
à, ,uirru. da idolatria; vos por quem os fieis obtêm

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IDAS DOS SANTOS 229

o batismo, e são ungidos com o óleo da alegria; vós,


por guem tôdas as igrejas do mundo foram fundadas,
e as naçóes conduzidas à penitência; vós, enfim, por
quem o Filho único de Deus, gue ê a luz do mundo,
iluminou aguêles gue se achavam sentados nas som-
bras da morte! . . . Haverá homem gue possa louvar
dignamente a incomparável Maria?"

tÊaa

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A BEM-AVENTURADA MARGARIDA
DA HUNGRIA
Teve por pai o rei Bela IV. Seus pais, qúe a
tinham consagrado ao Senhor por um voto, desde o
nascimento, mandararfr.-rlàt com a idade de'três anos
e meio, ao convento das dominicanas de Vesprin.
Tendo, em seguida, o rei fundado um mosteiro da
mesma ordem numa ilha do Danúbio, Margarida
para lá Íoi transferida, e f.êz proÍissão dois anos mais
tarde, isto é, com a idade de doze anos. O fervor
substituiu nela o número de anos, e mereceu-lhe as
íntimas comunicações do Espírito Santo, gue se desti-
nam apenas às almas perÍeitas. Fazia da prática da
mais completa abjeção as suas delícias. Tê-la-iam
sensivelmente mortificado falando-lhe do seu nasci-
mento, e houvera preferido dever a vida a pobres e
não a reis. É assombroso a gue ponto levava o amor
à penitência; cieitava-se sôbre o piso do guarto, co-
berto simplesmente de uma pele bastante rude, e por
cabeceira dispunha de uma pedra apenas. Quando
via serem punidas as irmãs por uma transgressão
gualguer da regra, invejava santamente a ventura
gue tinham de poder praticar a mortificação. Se
Deus a f.azia padecer uma doença, ocultava o seu
estado com o maior ctridado , para não ser obrigada

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VIDAS DOS SANTOS 231

a usar os alívios concedidos aos enfermos. Era


admirável a sua doçura, e qualquer receio de ter uma
das irmãs o rirenor motivo de descontentamento a
levava a lançar-se-lhe aos pés, para suplicar-lhe
perdão. §

Teve Margarida, desde a infância, terna devo-


ção por |esus crucificado. Trazia constantemente
uma cruzinha feita da madeira da do Salvador, e
muitas vêzes a levava à bôca, quer de noite, quer de
dia. Observava-se que na igreja orava de preferência
diante do altar da Cruz. Ouviam-na proferir com
bastante freqüência o norne sagrado de fesus da ma-
neira mais afetuosa. As abundantes lágrimas que
Ihe rolavam dos olhos durante a celebração dos divinos
mistérios e à aproximação da santa comunháo, diziam
bem o que lhe ia no âmago do coração. Na véspera
do dia em que devia unir-se a ]esus Cristo pela
recepção da sua adorável carne, o seu único alimánto
era pão e âgua; passava também a noite em oração.
No dia da comunhão, orava em f efum até o entardecer,
e só comia o necessárío para sustentar o corpo. O
seu amor a |esus Cristo a levava, outrossim, a honrar
especialmente a criatura da qual deseiou êle nascer
no tempo; daí o júbilo que lhe iluminava o rosto
ouando se anunciavam as festas da mãe de Deus.
Cetebrava-as com piedade e fervor pouquíssimo fre-
qüentes.

AIma tão santa como a de Margarida não podia


ter apêgo às coisas terrenas. Morta para o mundo e
para si própria, suspirava apenas pelo momento em
que se uniria ao divino espôso. Finalmente, viu
satisfeito o desejo; adoeceu, e morreu com a idade
de vinte e oito anos, em I 8 de janeiro de l27l .

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PADRE ROHRBACHER

Encontra-se-lhe o corpo na cidade de Presburgo.


Embora jamais tenha sido canonizada, não deixam de
celebrá-la na Hungria, sobretudo os dominicanos do
reino. O seu culto foi autorizado por um decreto do
papa Pio II (1 ). o

tÊas

(1) Aptl §S., e Godescard, 28 de ianeiro.

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sÃo JoÃo DE RÉoMÉ
Contrtsor
Êste Santo, na juventude, aspirando uma vida
de perfeição, retirou-se da terra natal, na diocese de
Langres, onde nascera no ano de 424. Meditando
sôbre os progressos que |oão Batista f.izera no deserto,
no dçsprendimento de |oão Evangelista, que deixou
a casa paterna, e à barca e a pesca, f.êz-se também
para a solidão.
Deixando o pai e a máe, estabeleceu-se em
Auxois, mais ou menos perto de Semur, num lugar
ermo, despovoado, chamado Réomé. E ali, com Deus
no coração, principiou uma vida tôda de penitência e
de meditação, longe de tudo e de todos.
Descoberto por caminhantes, Iogo a reputação
de santidade de que passou a gozaÍ espalhou-se pelas
redondezas tôdas, e uma multidão começou a visitá-lo,
à busca de confôrto e de conselhos.
Discípulos, com o tempo, agruparam-se-lhe ao
redor. Com dois dêles, visitando os mosteiros da
região, acabou por se fixar no de Lerins, onde viveu
por oito anos, despercebido de todos.
Pioneiro, na França, da vida monástica, famoso,
em meio de honras e de Iiberalidades gue os reig g e.

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PADRE ROHRBACHER

senhores faziam ao seu mosteiro, o Santo viveu selr-


pre na humildade e na prática da penitência, lutando
para livrar os irmãos dos perigos da ambição, da
glória vã do mundo, e do relaxamento da disciplina.
Morto em 545, viveu por mais de cem anos,
sendo enterrado na abadia de Réomé, mais tarde, sob
os beneditinos, denominada Moutier de São ]oão.

ssa

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sÃo TIAGO (*)
Ermitão
Tiago teve qma juventude agitada e pecami-
nosa. Renunciando ao mundo, accnselhado por um
velho anacoreta, gue lhe inspirou a prátic a da peni-
tência, encerrou-se, por guinze
- anos, numa caverna
do carmel, na Palestina. Ali, chorando a vida pas-
sada, exerceu a mais rigorosa mortificação. Tantos
e tais foram os, prcgressos que f.ê2, qr" Deus lhe
conferiu o dom dos milagres.
sem sair da caverna, converteu uma infinidade
de pessoas, que grande era a multidão que ia visitá-lo.
Um dia, o pui de uTa jovem dominada pelo
impuro, levou a filha à bôca da grutã, e
ffpírito
'r
iago, por meio de fervorosas orações, .uplicando
ao senhor com tôda a confiatrÇâ, livrou a pobre do
domínio de satanás. Temeroso de gue o demônio
voltasse a dominá-la, o pai resolveu deixá-la com
!i1so na caverna, por uns tempos, com outro filho.
o santo, cedendo à ientação, num momento de imensa
fuagueza, corrompeu-a. É, para se livrar d" q"ãiil;;
traço do crime, matou-a, mais ao irmão.
Foi, então, o desespêro. Tresloucado, deixou a
gruta, onde vivera po. funtos anos, e
@s-sê â vagar
pelo país, sem destino.

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-l

PA DR E ROHRBACHER

Um dia, encontrando-se com um santo homem,


confessou-lhe o grande crime gue praticara. E -o
desconhecido, coápadecido de tanto desespêro e de
tanta lágrima derramada, disse-lhe:
Não te apoguentes tanto. Se a maldade hu-
mana tem seus abismos, a divina m.isericórdia tem-nos
muito mais profundos.
E aconselhou-o: gue se sepultasse vivo ÍluÍl se-
pulcro abandonado, que conhecia, e ali-se peniten-
liurt. da falta que cometera. Assim [oi. Tiago,
sepultando-se vivo no abandonado sepulcro, viveu por
déz anos, dia e noite a chorar sôbre o mal praticado.
E Deus, na sua infinita misericórdia, perdoando-o,
que imensa foi a penitência feita, chamou-o doce-
mente para si.

ss{Ê

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I
-

BEM-AVENTURADO AMADEU (*)


Bispo
Amadeu era filho de Amadeu de Clermont, se-
nhor de Hanterive. Nascido em I I 10, era ainda muito
criança quando o pai, com companheiros, resolveu
tomar o habito monacal na abadia de Nonnevaux.
A mãe, Adelaide de Albon, por sua vez, retirava-se
para a abadia. de Val-de-Bressieue.
O filho, a princípio com o imperador Henrique V,
na Alemanha, seu parente, erl ll25 apresentou-se
em Clairvaux, e, sob a direção de São Bernardo, f.êz
rápidos progressos na perfeição cristã, adquirindo,
num instante, grande fama de ciência e de santidade.
Em 1135, Amadeu era abade de Hautecombe,
abadia que adotara a reforma de Citeaux. Em 1144,
querido de todos, o bom abade foi eleito bispo. Hu-
milde, fez tudo para recusar a dignidade a que o
levaram a piedade, a caridade e a grande religiosi-
dade que lhe eram características. Afinal, com a
intervenção do Santo Padre reinante, Lúcio II, aceitou
o cargo e foi sagrado no dia 2l de janeiro de 1145,
quase um ano depois.
Grande devoto da Virgem Santíssima, Amadeu,
sob sua proteção, exerceu fielmente e com talento o
ministério da pregação.

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BACHER

Ao bom bispo não faltaram tribulações. Cons-


trangido pelo conde de Genevois a deixar a sé, trans-
feriu-se para Moudon, onde viveu cercado de' ini-
migos. Na hora da morte, perdoou a todos, falecendo
santamente em 1159. Em 1903, Pio X confirmou o
culto gue desde ha muito já lhe era rendido.

ss+

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sÃo JULIÃO (*)
Bíspo e Confe.§sor

)ulião eÍa natural de Burgos, onde nasceu em


ll27 .Mortos os pais, deixou a vida mundanâ, reco-
lhendo-se a uma cabana situada ao lado do mosteiro
de Santo Agostinho de Burgos, perto do eremitério
gue abrigou São Domingos de Silos.
.Depois de ordenado padre, principiou o minis-
tério de pregação, percorrendo zelosamente várias
províncias da Espanha, alcançando grande sucesso
e colhendo frutos abundantes.
Quando o rei Afonso IX reconquistou Cuenca,
Tt-uo- em poder dos mouros, ]ulião era arcediago de
Toledo. Bispo de Cuenca aos sessenta urro"r, de
humilde que era, tornou-se mais pegueno ainda
debaixo daquela dignidade, o gue vinlra edificar a
gente tôda do país. vivia do trabalho das próprias
mãos, e o que lhe advinha do bispado traásferia-o
imediatamente à pobreza, gue o venerava e amava.
As paróguias tôdas que pertenciam à sua diocese,
visitava-as freqüentemente, zelosa e prestativamente.
Diante de tanta santidade, Deus faíoreceu-o sobre-
modo. Conta-se que, por ocasião da epidemia gue
se manifestou em Cuenca, quern guer que tocasse em
alguma coisa que tive.re puó.ado pelar
-ãor do santo
bispo ver-se-ia infalivelmente cúrado e imunizado.

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PADRE ROHRBACHER

Velho jâ, carreqando noventa anos nos arcados


ombros santos, grave enfermidade atirou com ]ulião
para o leito. Ciente de gue aguela doença ia levá-lo
ão túmulo, preparou-se para ter uma boa morte. E,
fazendo-se transferir para uma cama de cinzas, no
chão, tendo por travesseiro uma pedra, ali morreu,
em 1208, depois de ter tido a suprema felicidade de
ser visitado ã exortado por Nossa Senhora, que lhe
apareceu e confortou até o último suspiro.
Aos funerais do bom e velho bispo, uma infini-
dade de milagres surpreendeu e maravilhou a todos
quantos pr".erciaram os prodígios ou_ dêles ouviram
óontar. A Igreja de Cuenca celebra-lhe a festa com
oitava.
Em 1518, houve uma transladação do corpo de
São )ulião, e novos prodígios ocorreram. Regiqtra-
fâr1-Se, num só dia, catorze casos de miraCulosas
curas.

tpâcs

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t-

BEM-AVENTURADA GENTILIS (*)


Víúoa
Gentilis, filha de um ourives de Verona, era
casada com um alfaiate de Yeneza, chamado |aime
Pianella, que a maltratava dura e obstinadamente,
porque piedosa, dada às orações e aos jejuns, cari-
dosa e austera.

]ovem ainda, com paciência, e princípalmente


com a grande confiança que depositava em Deus,
Gentilis conseguiu, ccm o tempo, adoçar o marido,
tornando-o ,ret os agressivo e mais tolerante, acaban-
do mesmo por convertê-lo ao Senhor.
Viúva, teve a alegria de trazer para Deus um
empedernido homem, ]erônimo Maluselli, que seria
seu colaborador na crganizaçáo da sociedade do Bom
|esus, fundada pela bem-aventurada Margarida de
Ravena, que tivemos ocasião de ver no dia 23 dêste
mesmo mês.
Gentilis teve dois filhos de f aime Pianella: Leão,
um dêles, Íêz-se padre e, quando faleceu, a máe,
adotando Maluselli, legou-lhe todos os bens que
possuíao
Bem-aventurada, as Acta sanctorum gualificam-
na tão-sômente de venerável. Faleceu em 1530.

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242 PADR,E R,OHRBACHEII

,sss
No mesmo dia, em Roma, a segunda menção de
Santa Inês, virgem e mártir. Tal menção se encontra
em antiguíssimos sacramentários e martirológios. Di-
zem gue_ a menção tem por cbjeto comemorar a apari-
ção de Santa Inês, ocorrida oito dias depois da morte,
pala revelar sua glória aos parentes. Há os que a
referem como simples oitava do natalis Agnetis.
Em Trevi, na ltâlia, Santo Emiliano, mártir,
desaparecido no ano de 302.
Na Síria, São Paladio, anaccreta nos fins do
século IV. Contemporâneo de Simeão, o Antigo,
viveu retirado do mundo. Acusado como assassino,
injustamente, ressuscitou a vítima, a fim de que ela
mesma indicasse .o verdadeiro criminoso.
Na Escócia, São Glastiano, bispo no condado
de Fife, falecido em 830.
Em Vancelles, Flandres, o bem-aventurado
Ricardo, abade, originário da Inglaterra. Elevado
na piedade por São Bernardo de Clairvaux, faleceu
em I 160.
Em Pisâ, o bem-aventurado Bartolomeu, camál-
dulo, morto em odor de santidade em 1224. Em 1675,
encontraram-lhe o corpo absolutamente conseivado,
sem gualquer sinal de corrupÇão. O culto, imemorial,
foi confirmado por Pio IX em 1857.
Em Todi, na úmbria, o bem-aventurado Rogé-
rio, confessor. Foi dos primeiros a receber das mãos
de São Francisco o habito dos irmãos menores. Con-
fiando-se-lhe a direção das clarissas fundadas pela

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T
VIDA§ DO§ SAN'f O§ 243

bem-aventurada Filipa de Mareri, assistiu-a no leito


de morte. Rogério, santamente, morreu em Todi,
em 1 237.
Em Saragoça, o bem-aventurado Nicolau Orbita,
confessor, irmão da ordem francisc ana, faleceu em
1259.
Em Saragoça ainda, São Valério, bispo, morto
em 315, um dos primeiros subscritores do concílio
de Elvira no ano de 300. Nascido em Saragoça,
foi feito bispo da cidade. Quando da perseguição
de Diocleciano, sob o prefeito Daciano, foi condenado
ao exílio, indo viver, possivelmente, em Anet, em
Aragão, onde se consagrou à solidão. Faleceu na
paz do Senhor. Vicente, seu diácono, que o âcoÍr-
panhou no exílio, foi martirizado (22 de janeiro ) .
Na Lombardia, o bem-aventurado Tiago, o
Esmoler, confessor, filho de nobre família da humil-
de cidade de Pieve. Recebendo esmerada educação,
viveu santamente, levando vida austera. alimentan-
do-se exclusivamente de pão e água. Tudo o que
possuía, de.u-o aos pobres, e tudo aquilo que porver-
tura vinha ter às suas mãos, aos pobres dava igual-
mente. Morto por ladrões, há os que o consideram
mártir.
Em Apolônia, os santos mártires Lêucio, Tirso e
Calinico, nos tempos do imperador Décio, Que pâssâ-
ram por diversos tormentos. Lêucio e Calinico foram
decapitados. Tirso era um c,álebre atleta que se admi-
ÍaÍa e edificara com a constância de Lêucio nos
tormentos. Apresentandc-se ao cumpridor dos editos
contra os cristãos, repreendeu-o püblicamente, com
desassombro. Prêso pela afronta, foi entregue aos

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PADRE ROHRBACHER

carrascos, falecendo herôicamente depois de ter pâs-


sado por todos os horrores gue a imaginação pagã
ideou para infligir suplícios. As Atas mostram que
os três santos mártires hoje festejados não faleceram
no mesmo dia. Em datas diferentes, o pr.imeiro a
entregar a alma a Deus foi Lêucio, depois Calinico e
finalmente Tirso.
No mesmo dia, em Roma, São Flaviano, padeceu
a morte sob Diocleciano. H Na Tebaida, São Leô-
nidas, e seus companheiros, os quais, no tempo de
Diocleciano, lograram a palma do martírio. Em Ale-
xandria, a comemoração de vários santos mártires,
que, tendo sido surpreendidos na igreja no instante
em que celebravam os divinos mistérios, padeceram
vários gêneros de morte pelo crime de Siriano, chefe
de soldados, da seita dos arianos.

a'

s 8A

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I

DIA DE IAIVEIRO
29'.
SÃO FRANCISCO DE SALES
Bislto de G enebra

Francisco de Sales, tão conhecido e tão amado


de todos, nasceu em 2l de agôsto de I 567 , no castelo
de Sales, a três léguas de Annecy. Teve por pai
Francisco, conde de'Sales, e por mãe Francisca de
Sionas, ambos de ilustre nascimento, mas muito menos
recomendáveis pela nobreza do sangue do gue pela
piedade que professavam. Desde os primeiros meses
de gravidez, a condêssa de Sales cfereceu ao Senhor
a criança gue trazia, rogando-lhe, com os sentimentos
da mais terna devoção, que a preservasse da corrup-
ção do século e a privasse, antes, do prazer de se ver
mãe a permitir gue desse à luz uma criança bastante
inÍeliz para tcrnar-se, um dia, seu inimigo pelo pe.-
cado.
Nasceu Francisco ao cabo de sete meses, apesar
das precauções tomadas pela mãe, o gue fêz com gue
nos primeiros anos fôsse extremamente fraco. Houve
muito trabalho para criá-lo, e várias vêzes desespe-
raram os médicos de salvar-lhe a vida. Escapou,
entretanto, aos perigos da infância e tornou-se gÍâfl-
de e robusto. Descobriu-se nêle, à medida que as
feições se lhe iam formando, uma beleza e um encanto

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I

246 PADR,E ROHRBACHER

gue não permitiam se visse, sem amá-lo. Ao exterior


tão vantajoso, unia uma natureza excelente, uma
grande penetração de espírito, uma rara modéstia,
uma singular doçura e absoluta submissão aos pais e
mestres.
A condêssa, cuidadosa em afastar do filho tudo
guanto tivesse até a aparência do vício, não o perdia
um instante de vista. Levavâ-o à igreja e inspir àya,-
lhe um profundo respeito pela casa de Deus e por
tôdas as coisas da religião; lia-lhe a vida dos santos e
aliava a tal leitura reflexões. Quis, até, gue â âcorl-
panhasse guando visitava os pobres, gue lhes pres-
tasse os peguenos serviços de gue era cap az e distri-
buísse esmolas. O menino correspondeu perf.eita-
mente aos cuidados tomados pela virtuosa mãe para
Íormá-lo aos exercícios da piedade cristã. Fazia
as orações com um recolhimento e uma devoção gue
não eram próprios da sua idade. Amava ternamente
os pobres, e guando ját não iinha o gue lhes dar,
solicitava em favor dêles a liberalidade de todos os
parentes; prciupava uma parte da nutrição para melhor
assistir a êles. Tinha a sua sinceridade alguma coisa
de extraordinário; tôdas as vêzes em que lhe âcor-
tecia tombar nos erros costumeiros dos meninos, pre-
feria ser castigado a evitar o castigo por uma mentira,
A condêssa de Sales, conhecedora dos perigos
tão comuns nas escolas públicas, pretendia gue a
elas não fôsse enviado o filho, e gue, pelo contrário,
se contratassem mestres capazes de lhe ensinar as
letras humanas; mas o conde, sabendo gue a emula-
ção não contribui pouco para o progresso dos meninos
nas ciências, divergiu, e persuadiu-a de que Deus
conservaria disposições de gue era autor. O jovem
conde, gue ainda não contava seis anos, foi enviado

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I
VIDA§ DOS SANTOS 247

ao colégio da Roche, de onde se transferiu, effi se-


guida, para o de Annecy. Os progressos distingui-
rârn-ro, em breve, dos coetâneos. Unia a maior apli-
cação a uma excelente memória, viva concepção, sólido
julgamento; as lições dos mestres não bastavam paÍa
ocupá-lo, e êle as completava com outros exercícios
adeguados a lhe ampliar os conhecimentos; mas o
seu amor ao estudo não prejudicava os deveres da
piedade. Na distribuição dos momentos, sabia ârrâÍr-
jar intervalos para nutrir o coração com a leitura
de bons livros, sobretudo com a da vida dos santos.
Disposições tão raras num menino f.izeram com que o
conde de Sales julgasse perder o filho o tempo em
Annecy; resolveu, pois, e* 1578, mandá-lo a- Paris
para lá terminar os estudos. Tinha então Francisco
onze anos.
A condêssa, gue ia perder o filho por longo
tempo, redobrou de zêlo para firmá-lo na virtude.
Recomendava-lhe, sobretudo o amor de Deus e da
prece, a fuga do pecado e das ocasiões que a êle
conduzem. Repetia-lhe freqüentemente estas pals-
vras que a rainha . Branca costumava dizer a São
Luís: "Meu filho, preferiria ver-vos morto a saber
que cometestes um único pecado mortal." No dia
marcado para a partida, rumou para Paris, sob a guia
de um sacerdote habil e virtuoso. Cursou retóiica
e filosofia no colégio dos jesuitas com o mais brilhante
êxito: enviarâÍl-Íro, em seguida, à academia, para que
aprendesse a montar a cavalo, a man ejar as armas, a
dançar-, enfim tudo quanto não podia ignorar um
gentil-homem da sua qualidade. Não sentia o menor
interêsse por tais exercícios; mas, poÍ ser-lhe lei invio-
Iavel cumprir a vontade dos pais, não deixou de ter
êxito' e adquirir aguêle aspecto à voptade guç sempre

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248 PADRE ROHRBACHER

conservou. Não se aplicando a tais exercícios


- senão
à guisa de diversão, cultivou sempre os primeiros
estudos e aprendeu tambem hebraico, grego e teologia
positiva com Génebrard e o padre Maldonat, jesuita,
professor de fama, então, em Paris. PassaraÍr-se
seis anos.
Entretanto, os estudos de que acabamos de falar
não constituíam a única ocupação de Francisco. Des-
pendia grande parte do tempo nos exercícios de pie-
dade, a fim de animar todos os seus atos de um
espírito de cristianismo. O seu maior prazeÍ era
ler e meditar a Sagrada Escritura; depois do divino
livro, não havia outro cuia leitura mais o encantasse
do que o Combate espiritual, do qual nunca se sepa-
rava. Procurava a companhia dos virtuosos, e corl-
prazia-se acima de tudo com a do padre 4"g" de
|oyeuse, o qual, de duque e marechal da França,
se Íizera capuchinho. As conversações do santo varão
sôbre a necessidade de nrortificação levaram o iovem
conde a acrescentar às suas devoções comuns a de
usar o cilício três vêzes por semana . Fê2, ao mesmo
tempo, voto de castidade perpétua na igreia de Santo
. Estêvão des Grés, aonde ia freqüentemente orar, por
se tratar de lugar retirado e afastado do tumulto;
colocou-se, eÍl seguida, sob a proteção particular da
Santa Virgem, a quem rogou fôsse sua advogada ao
pé de Deus, e lhe obtivesse a graça da continência.
Chegou, então, o momento determinado por Deus
para provar o servidor. Densas trevas se lhe espa-
lhutu* no espírito, uma violenta agitação substituiu
a profunda paz de que desfrutara atê então, e o
jovem caiu numa secura e melancolia de desesperar;
Íinalmente, persuadiu-se que Deus, a quem tant-o
êmava, o incluíra no número dos reprovados. A

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VIDAS DOS SANl'OS 249

medonha idéia o lançou em temores gue não podem


ser conhecidos senão dos que sofreram a .mesma
tentação. Francisco transcorria os dias e as noites
chorando e lamentando-se. Espalhou-se-lhe pelo
corpo a icterícia, e êle não lograva comer nem beber
nem dormir. O seu preceptor, gue ternamente o
amava, afligia-se com o estado em que o via tanto
mais que the buscava inütilmente a causa. Deus,
enfim, permitiu que a calma se sucedesse à tormenta.
Tendo Francisco regressado à igreja de Santo Estê-
vão des Grés, sentiu que lhe renascia a confiança à
vista de um quadro da Santa Virgem. Prosternou-se
diante da mãe de Deus, e, reconhecendo-se indigno
de dirigir-se diretamente ao Pai de tôda consolação,
suplicou-lhe intercedesse em seu favor e the obti-
vesse, ao menos, a graça de amar de todo o coração,
sôbre a terra, um Deus gue êle teria a desventura de
odiar eternamente após a morte. Mal estava feita
a prece, gue a perturbação desapareceu; pareceu-lhe
que lhe tiravam um pêso enorme do coração, e reco-
brou imediatamente a tranqüilidade de que antes
gozava.
'Tendo
terminado os estudos acadêmicos aos de-
zessete anos de idade, foi chamado de volta pelo pai,
o qual, em 1 584, o mandou estudar em Pádua, sob a
guia do famoso Guido Pancirola. Nessa cidade,
Iigou-se o jovem ao padre Antônio Possevin, a quem
incumbiu de lhe dirigir a consciência e os estudos
teológicos. O piedoso e sábio jesuíta explicava-lhe a
Summa de Tomás de Aquino, e com êle lia as contro-
vérsias do cardeal Bellarmino; mas tratava menos de
torná-lo sábio do que firmá-lo nos caminhos da per-
feição onde caminhava a largos passos. Francisco
preparou uma regra de vida gue nos foi conservada

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25U PADH.TJ ROHfI,BAOHER

pelo sobrinho, e nela se nota, entre cutras coisas,


que se mantinha sempre na presença de Deus, que a
tudo Í.azia para lhe agradar, e que lhe implorava o
auxílio da graça no comêço de cada um dos seus atos.
Soube conservar uma castidade inviolável no meio da
corrupção reinante em Pádua. As armadilhas prepa-
radas pelos libertinos contra a sua inocência não
serviram senão para multiplicar-lhe os triunfos e f.azer
rebrilhar a fidelidade votada ao Senhor.
Uma perigosa enfermidade, que o atacou na
mesma cidade, lhe ministrou a ccasião de mostrar como
estava separado do mundo e submetido aos decretos
da divina providência. Chamaram-se os mais hábeis
médicos, e êles, após esgotarem inütilmente todos os
recursos da arte, declararam que o jovem conde era
incurável. Somente êle não se alarmou com. o seu
estado; esperava com resignação, e até com júbilo, o
momento em que a alma, livre dos laços do corpo, se
abismaria no seio da Divindade. O seu preceptor,
acabrunhado pela mais amarga das dores, perguntou-
lhe, banhado em lágrimas, o que desejava fizessem
do seu corpo depois da morte. "Se;'a dado, respondeu
Francisco, aos estudantes de medicina, para gue o
dissequem. Considerar-me-ei feliz se, após ter sido
inútil na vida, fOr de alguma utilidade depois da
morte; com isso, impedirei também algumas das dispu-
tas que se erguem entre os estudantes de medicina e
os parentes dos mortos que êles desenterram." Deus,
porém, que tinha os seus planos quanto ao servidor,
devolveu-lhe a saúde, contra tôda e qualquer espe-
rança, e em pouco tempo o repôs em condições de rei-
niciar os estudos. Terminado o curso, recebeu o grau
de doutor, após sair-se das provas comun§ com uma

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VIDA§ DOS SANTOS 25L

superioridade de inteligência tal gue Íêz com gue o


admirassem todos os sábios de Pádua.
Enguanto o jovem conde, gue tinha então vinte e
guatro anos, se preparava para regressar para a Íami-
lia, recebeu uma missiva do pai, pela gual se lhe
ordenava viajasse à Itália. Partiu, pois, para Ferrara,
de onde se transferiu para Roma. Quando se viu
nesta cidade, o seu primeiro cuidado foi visitar os
santos lugares. Enternecido à vista do túmulo dos
mártires, não conseguiu refrear as lágrimas. Os restos
da magnificência da antiga Roma lhe lembravam o
nada das grandezas humanas, e cad a vez mais apeÍ-
tavam os laços sagrados gue o'ligavam a Deus. De
Roma, foi a Nossa Senhóra de Loreto, após o gue
percorreu as mais famosas cidades da Itália. Final-
mente, terminada a viagem, retomou o caminho da
pátria. TOda a família o acolheu com as maiores
demonstrações de júbilo. Fundava nêle as mais lindas
esperanÇâs, vendo-o reunir no grau mais eminente
tôdas as gualidades de espírito e coração. Com efeito,
o jovem conde encantava guantos o conheciam. Cláu-
dio de Granier, bispo de Genebra, e Antônio Faure
ou Fabre, gte mais tarde foi primeiro presidente do
senado de Chambéry, mal o conheceram, por êle
conceberam os mais sinceros sentimentos de estima e
amizade, e, €Ílbora o nosso santo ainda fôsse apenas
leigo, o bispo chegava a consultá-lo sôbre guástões
eclesiásticas.
Sendo Francisco o filho mais velho da família, o
pai havia-lhe arranjado um rico partido, e obtivera-
Ihe do duque de saboia as provis-ões de um cargo de
conselheiro no senado de chambéry. Mas o jãvem
recusou uma e outra coisa, sem ousar entretanto, de-
clarar o projeto que nutria de adotar o estado ecle-

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252 PADR,E ROHRBACHER

siástico; abriu-se apenas com o preceptor, a guem


rogou conversasse com o pai. Não guis o mestre
inCumbir-se de missão tão delicada , e atê empregou
todo o prestígio de gue dispunha no espírito do aluno
para f.izê-lo ábandonar tal resolução. Francisco diri-
giu-r", então, a Luís de Sales, seu primo, cônego da
ãatedral de Genebr a, para obter o consentimento do
pai, e tão bem o colocou nos seus interêsses, gue
ão.rr"guiu êxito, mas após grandes dificuldades.
O prebostado da igreja de Genebra estava vago
na rápoca. Luís de Sales pediu-o ao papa para o seu
parente, e obtev€-o. O jovem conde, gue ignorara
inteiramente os passos do.primo, recebeu com grande
surprêsa a ,ová da sua nomeação a tal dignidade;
protestou gue a não aceitaria, e só à custa de muito
irabalho prd"tu* determiná-lo a tomar posse-. Mal
recebeu o diu.onato, incumbiu-o o seu bispo do mi-
nistério da palavra. Os primeiros sermões lhe atraí-
ram grande reputação e produziram os maiores Írutos.
Efetiíamente, possuía tôdas as qualidades exigidas
para ter êxito em tal gênero: tinha aspecto grave_ e
modesto , yoz Íorte e a§radável, ação viva e anímada,
mas sem pompa e sem ostentação; falava com uma
unção que demonstrava dar êle aos outros um pouco
da-abundância e plenitude do seu coração. Antes
de pregar, cuidavá de se renovar perante Deus por
meiã dã gemidos secretos e preces Íervorosas. Estu-
dava uoJ pés do crucifixo mais ainda gue nos livros,
persuadidô de gue nenhum pregado r ê capaz de PÍo-
duzir frutos, se não é homem de oração.
Quando viu aproximâr-se o dia em que- seria
elevado ao sacerdóéio, preparou com fervor celestial,
e recebeu, com a imposíçãó das mãos, a plenitude do
espírito sacerdotal. Obrigou-se â oferecer todos os

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VIDAS DOS SANTOS 253

dias o santo sacrifício da missa, e f.azia-o com piedade


verdadeiramente angelical. Todos se sentiâÍr peÍI_e-
trados da mais ternã devoção, âo vê-lo no altar. Os
olhos e o rosto brilhavam-lhe visivelmente, tão grande
era a atividade do fogo divino que the ardia oo cofâ-
ção. Após a missa, que costumava dizer de manhã-
Linhu, ouvia as confissões de quantos se lhe apreseÍI-
tassem. Gostava de percorrer as aldeias, para instruir
aquela parte do rebanho de ]esus Cristo que vive,
góralmente, numa profunda ignorância dos seus deve-
ier; a sua piedade, o desinterêsse, a caridade para
com os enfermos e os pobres o Í.aziam querido nos
lugares pelos quaís passava, e lhe attaiam a confiança
do povo. Os pobres aldeões , cuia rudeza repugna- às
alrnas comuns, considerâvâ-os filhos; yivia com êles,
como se thes fôra pai, compadecia-se das suas fleces'
sidades, e a todos dispensava auxílio. Nada, porrám,
lhes conquistava os corações como a inalterável doçu-
ra. Nascera vivo e colérico. À fôrça de estudar a do-
çura na escola de |esus Cristo, tornou-se o mais meigo
dos homens. O remédio melhor que conheço contra
as súbitas emoções de impaciência, disse êle, ê. o
silêncio doce e sem fel. Por poucas que sejam as
palavras proferidas, esgueira-se Ítelas o amor-próprio,
e escapam coisas que lançam por vinte e quatro
horas o coração na amargura. Quando náo dizemos
uma palavra, e sorrimos de coração despreocupado,
passa a tormenta; afasta-se a cólera e a indiscrição,
e desfruta-se uma alegria pura e duradoura. Foi
particularmente por tal doÇura sobrenatural que êle
converteu setenta e dois mil hereges.
lJm ano depois de ter sido ordenado sacerdote,
erigiu em Ann ecy a confraria da Cruz. EmpenhâvâIr-
se os confrades em instruir os ignorantes, consolar os

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254 PADRE ROHRBACHER

enfermos e prisioneiros, evitar qualguer processo.


Um ministro calvinista valeu-se da oporturridade para
escrever um libelo, sem nome de autor nem de impres-
sor, contra a honra que os católicos prestavam à erur.
Francisco de Sales refutou-o com a primeira das suas
obras O ESTANDARTE DA CÍúIJZ, dividida em
quatro livros: Da honra e virtude da Cruz, Da honra
e virtude da imagem da Cruz, Da honra e virtude do
sinal da cruz, Da qualidade da honra gue se deve
à Cruz.
Havia cinco ou seis séculos gue a cidade de
Genebra vivia, católica e f.eliz, sob ô govêrno espiri-
tual e temporal dos seus bispos. Pãla metade do
_

século dezesseis, a apostasia de Lutero foi nela intro-


duzida à fôrça pelos tiranos municipais de Berna,
e definitivamente organizada pelo ap'óstata Calvino,
de Noyon. As melhores familias dã Genebra, para
permanecerem fieis à fé dos pais, preferiram o exilio
à apostasia e servidão; a nova população de Genebra
apóstata formou-se do refugo da antiga e talvez mais
ainda da canalha bastardá dos puár.r e monges
apóstatas, a pior espécie entre a pior gente. A nõva
Genebra chamâvâ-s€ a Roma protestante: era como
se o inferno se chamasse o céu invertido.
Tendo-se Genebra tornado após tata, de mêdo a
Berna, os dois cantões se valeram da guerra entre
Francisco I e q duque Filiberto de Sabóia puru
arrancar a êste último o ducado de Chablais, com os
três distritos de Gex, Terny e Gaillard, e dêles expul-
sar a religião católica. Restabelecida a paz, sob FÍen-
rique II, com o duque, foram os protestantes obrigados
a lhe devolver o Chablais e os irês distritos, mas com
a cláÍrsula de gue a religião católica não seria resta-
belecida. Pela morte de-Filiberto e a subida ao trono

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VIDAS DOS SANTOS 255

de Carlcs Emanuel, seu filho, os suíços e os gerrê-


brinos romperam o tratado, caindo de improviso sôbre
as regiões. O novo dugue retomou-as dêles, e resolveu
restabelecer a religião católica, não se ligando mais
a um tratado rompido pela parte contrária. Entre-
tanto, não o guis f.azer pela fôrça, como tinham feito
Berna e Genebra, preferindo começar pela doçura.
Com tal intuito, pediu ao bispo de Genebra, resi-
dente em Annecy, missionários capazes, pela virtude
e doutrina, de tornar a levar ao seio da Igreja as
populações do Chablais e dos três distritos, transvia-
dos, havia sessenta anos, pela heresia. O bispo, Cláu-
dio de Granier, falou elogüentemente ao seu clero,
oferecendo colocâr-se pessoalmente à testa dos missio-
nários. Um único se revelou pronto, e foi Francisco
de Sales, a guem se uniu, como segundo, Luís de
Sales, seu primo. Francisco foi declarado chefe da
missão, sendo todos da opinião de gue o bom bispo,
sobretudo por causa da idade avanç ada, não devia
aparecer, no comêço. O conde de Sales gue conhecia
o caráter arrebatado dos calvinistas, temia pela vida
do filho e tudo envidou para o demover de sefie-
lhante empreendimento. Francisco apresentou-lhe
tão boas razóes, gue lhe obteve o consentimento.
Imediatamente, pegando Luís de Sales pela mão:
vamos, disse-lhe, para onde nos chama Deus. Há
várias lutas em çlue sômente se consegue a vitória
pela fuga. Uma demora mais dilatada serviria apenas
para nos enfraguecer; e outros, mais generosos do
gue nós, poderiam muito bem ganhar a coroa gue
nos estava reservada.
Na fronteira do Chablais, Francisco ajoelhou-se,
e, debulhado em lágrimas, rogou a Deus que lhes
abençoasse a entrada e a estada naguelÊr província.

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ffiw
256 PADRE ROHRBACHER

Depois, abraçando ternamente o primo Luís, disse:


tenho uma idéia; entramos nesta província para nela
desempenhar as funções dos apóstolos. Se quisermos
ter êxito, nunca os imitaremos em demasia. Mandemos
de volta os nossos cavalos, caminhemos a pé e coÍr-
tenÍ'emo-r9s, como êles, do necessário. Luís de Sales
consêntiu, e ambos chegaram ao pé. de Allinges, praça
forte no alto de uma pequena montanha separada das
outras. O barão de Hermance, varão sábio e amigo
do santo, comandava pelo dugue de Sabóia. Condu-
ziu os dois missionários à plataforma do castelo, de
onde a.vista se estendia sôbre todo o país. Francisco
observou de todos os lados igrejas abatidas, mostei-
ros arruinados, cruzes derrubadas, cidades, burgos e
castelos destruídos, funéstas conseqüências da here-
sia e da guerra por ela atraída a tão bela província.
Para reparar tantos desastres, ficou combinado gue
era mister começar a missão por Thonon, capital do
Chablais, pouco distante de Allinges, aonde eeÍâ pÍe-
ciso voltar tôdas as noites, pois Thonon, inteiramente
calvinista, não oferecia nem segurança nem abrigo aos
missionários.
Francisco, acompanhado de Luís de Sales e de
um único criado, pôs-se a caminho. A sua bagagem
consistia numa sacola onde só havia uma Biblia e um
breviário; caminhava a pê, apoiado a um bordão, e
percorria diàriamente duas boas léguas, através de
uma região bastante rude, para ir deitar-sê €ffi Allin-
gesi não partia sem celebrar a santa missa e nutrir-se
do pão dos fortes. Era simples o hábito'que usava,
e, costumando-se naquela época usar botas, erlpÍe-
gava-as comumente, de modo que, estando na moda
os cabelos curtos e a barba cheia, pouco diferia no
exterior dos próprios seculares, gue se gabavam de

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VIDAS DOS SANTOS 257

alguma modéstia. Serviu tal para dar-lhe entrada


na casa de alguns calvinistas, que conquistou final-
mente pata a Igreja. Pela mesma tazáo de uma cari-
dosa condescendência, resolveu jamais empregar têr-
mos injuriosos ao Íalar dos hereges g da doutiina dê-
les,,e não opor aos seus ultrajes e maus tratos senão
uma invencível doçura e paciência.
Os magistrados de Thonon, todos calvinistas,
prometeram exteriormente obedecer às cartas do go-
vernador, gue lhes ordenava proteger os dois missio-
nários; mas desde o primeiro dia, penrll o povo em
sublevar-se . Em Genebra, gue dista ;penas umas
guatro ou cinco léguas, chegaram a ponto de quase
empunhar as armas. Luís de Sales estremeceu, mas
Francisco o trangüil izou, dizendo-lhe, entre outras
coisas, gue o costume do povo era Íazer muito barulho
e gue, guando se tivesse bastante firm eza para não
ficar assombrado, por si próprio se habituaria às
coisas gue, antes, Ihe tinham parecido esquisitíssimas.
Tendo o governador escrito novas cartas aos
magistrados de Thonon, Francisco Íoi recebido com
mais consideração, mas em breve verificou gue havia
severa proibição de ouvi-lo, de sorte gue estava
sôzinho, como num deserto. Não deixava de ir todos
os dias a Allinges, e partia fregüentemente, com
,tempo tão duro e incômodo, gue os camponeses mais
robustcis não ousavam aventurâr-s€. A chuva, a neve,
o gêlo, os ventos'mais terríveis, a própria noite não
eram capazes de o impedir. Às vêzes, apoderavâ-se
dele o frio a ponto de imobilizâ-la e pô-lo em perigo
de morrer, mas nada era capaz de lhe deter nem
tampouco de lhe afrouxar o zêlo.
Foi tão rigo.roso o inverno daquele ano e tão
intenso o frio, que os seus pés e pernas estavam

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I
,g' PA DRE ROHRBACHER

rachados. Um dia, tendo partido mais tarde do gue


habitualmente, de Thonon, para regressar a Allinges,
surpreendeu-o a noite. Perdeu-se, e, após ter per-
corrido inütilmente um bom trecho de caminho, chegou
muito tarde a uma aldeia cujas casas se achavam
fechadas. À terra estava coberta de neve e era tão
violento o frio gue até durante o dia os .camponeses
se viam obrigados a permanecer fechados com os
seus rebanhos. Bateu o santo em tôdas as portas,
rogando aos moradores por tudo o que era capaz
de- comovê-los gue o não deixassem morrer de frio.
Ninguém lhe abriu; eram todos calvinistas, e, por
cúmulo de azar, o criado o nomeara, fulgando inspi-
rar nêles alguma consideração. Deus, porêm, gqe
jamais abanáona os seus, o f.êz encontrar, na_guela
emergência, o forno da aldeia, ainda guente. Lá se
alojaram como puderam, e foi o gue lhes salvou a
vida.
|ulgou morrer, de outra feita, pela dureza dos
moradores de outra aldeia. Chegara de noite no
meio de uma furiosa chuva, mas não logrou arraniar
abrigo, por mais que rogasse, e viu-se obrig{lo a
passãr á noite exposto à chuva, louvando a Deus,
Lo.o os apóstolos, por ter julgado conveniente Íazê-lo
sofrer pela gloria do seu nome.
Certa vez, à saída de Thonon, retirando-se para
Allinges, encontrou um calvinista gue, molido pelos
seus 6otrs exemplos e pelos incríveis trabalhos gue se
dava todos os dias, em prol da salvação de qm povo
até então pouco reconhecido, lhe suplicava pelo amor
de Deus ó instruísse sem tardança na religião catô'
lica. Francisco empreendeu imediatamente a tateÍa,
apesar das censuras do primo, gue lhe rogava dei-
xasse o caso para o dia seguinte, visto gue a noite

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T
VIDAS DOS SANTOS 259

se aproximava e gue era mister atravessar uma flo-


resta. O que Luís previra sucedeu: Francisco demo-
rou-se tanto tempo com o calvinista, gue a noite os
surpreendeu à entrada da floresta, e tornou-se tão
trevosa, que foi impossível descobrir o caminho. En-
tretanto, os uivos dos lôbos, os gritos dos ursos e
dos demais animais selvagens descidos das montanhas
vizinhas, tinham algo de tão terrível, que não era
. possível deixar de ficar aterrado; o criado morria de
mêdo; Luís de Sales não se sentia mais seguro.
Sômente Francisco, cheio de confiança, os consolava
e lhes prometia, por sua parte, livrá-los do perigo
como livrara Daniel da fossa dos leões. Naquele
mesmo instante, tendo-se levantado a lua, percebeu
que não estavam longe duma construção arruinada,
onde havia ainda restos de cúpula capaz de abri-
gá-los das injúrias do tempo. Entraram e lá passa-
ram o resto da noite. Francisco, todavia, não
conseguiu pregar ôlho. Percebeu, ao luar, que aquelas
ruínas eram as de uma igreja destruída pelos here-
ges. Passou a noite gemendo, como o profeta sôbre
as ruínas de |erusalém.
No entanto, não via Francisco nenhum resultado
dos seus trabalhos no Chablais, quando Deus lhe
suscitou auxiliares de um novo gênero. Os solda-
dos da guarnição de Allinges, impressionados pela
sua virtude, converterârn-se, alguns do calvinismo à
fé católica, e todos a uma vida melhor. Indo f.re-
qüentemente a Thonon, a mudança dêles causou lâ
profunda impressão e diminuiu singularmente a âver-
são experimentada contra o varão apostólico. Vendo
êste que não mais o evitavam tão intensamente, pôs-se
a f.azer visitas a particulares cuja estima e afeto
conguistou pelos encantos da sua doçura e polidez,

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260 PADRE ROHRBACHER

São Francisco de Sales. Segundo a glavura de Morin;

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VIDAS DÔS SANf OS zô1

enquanto os ministros huguenotes só se distinguiam


pela arrogância e soberba. Ao mesmo tempo, soube
Francisc. que dois gentis-homens, seus conhecidos,
se batiam em duelo. Imediatamente acorreu, e, com
perigo da própria vida, os separa e leva a se abra-ça-
ieor. Deus fêz mais: tocou-lhes o coração, e ambos
f.izeram uma confissão geral e tornarâÍl-Se f ervorosos
cristãos. llm dêles, distinto na carreira das armas,
habitava uma casa de campo na vizinhança de Tho-
non. Visto que as pessoas ilustres da região lhe
f.aziam freqüentes visitas, falou-lhes do santo varão
com tal entusiasmo, gue todos manifestaram grande
desejo de vê-lo e falar-lhe. O gentil-homem ofereceu
a sua casa para tanto. E lá se reali zaram, a partir
de então, conferências entre Franciscc' de Sales e os
principais calvinistas do país.
Expôs, sôbre os principais pontos de controvér-
sia, o gue a Igreja católica acreditava e. o que reiei'
tava. Os presentes ficaram maravilhados de saber
que a Igreja católica não admitia absolutamente as
enorrnidades gue lhe imputavam os ministros hugue-
notes nos seus sermões, e gue, pelo contrário, a sua
doutrina eÍa o bom senso e a própria moderação.
Tendo-se espalhado a notícia, os pregaciores hugue-
notes sustentaram que a doutrina católica não era a
que Francisco expusera. Escreveu-a êle, então, nos.
têrmos do concilio de Trento, e ofereceu aos prega-
dores esclarecimentos em conferências pacíficas, quer
escritas, guer orais. Não aceitaram nem uma coisa
nem outra, e resolveram mandar matar o gentil-homem
católico que cedia a casa a Francisco. Um gentil-
homem calvinista, parente do primeiro, incumbiu-se
do ato. Foi, poltanto, procur â-lo, como gue para
distrair-se. Conduziu-o o outro expressamente a um

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262 PA DR E ROHRBACHER

passeio solitário e disse-lhe: meu amigo, sei que plano


tendes; vindes aqui assassinâr-rtrei - entretánto não
temais, pois se a vossa religião vos leva a matar
amigos e parentes, a minha me obriga, a exemplo de
[e9us Cristo, a perdoar aos mais cruéis inimigos.
Abraça-o cortr cordial amizade. O calünista conf-un-
de-se, confessa o intento, pede perdão e promete ao
parente a mais inviolável amizade. Não se detém
nisso: pede-lhe entrevistas particulares com Fran-
cisco e torna-se católico tão fervoroso guão fervoroso
calünista havia sido.
A conversão dêsse homem, a exposição impressa
da doutrina católica, a gue nenhum pregador óusava
responder, causaram grande impressão em todo o
país. Os calvinistas cada vez mais numerosos iam
ouvir Francisco. Os pregadores resolveram, então,
matá-lo, e para tanto contrataram os serviços de dois
proÍissionais. Mas os católicos, avisados, escoltartrm
Francisco no seu regresso a Allinges. Mal entraram
qum bosgue por onde era mister passar, saíram os
dois assassinos dentre as moitas em gue se haviam
ocultado, e avançaram de espada na mâo. Francisco
não perde a habitual firmeza. Proíbe aos gue o
acompanham gue se sinram de armas, vai ao encontro
dos matadores, e diz-lhes com inalterável doçura:
.enganai-vos, meus amigos; aparentemente nada ten-
des contra um homem gue, bem longe de vos ter
ofendido, seria capaz de dar a vida poivós. Aguelas
palavras acalmam num instante a cólera dos assassi-
nos, gue por algum tempo permanecem imóveis pârê,
logo depois, lançar-se aos pés do santo, e pedir-lhe
perdão, protestando gue no futuro não disporia de
servidores mais fiéis nem mais dispostos a segui-lo
fôsse onde fôsse. Francisco erçlue-os, abraça-os ter-

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VIDAS DOS SANTOS

namente e' lhes aconselha se afastem para evitar a


perseguição do governador da província, o gual não
leria ianta indulgência guanto êle.
Com efeito, tomou o governador medidas parP
agarrar os culpados. Franiisco se empenhou inütil-
m?nte para impedi-lo. O governg{o1 guis, ao menos'
dar-hé uma ãscolta de ãeis soldados. Francisco,
obter,
felo contrário, pediu-lhe licença, e terminou Pgl
ã fOrç" de rogos, permissão para ir viver em Thonon,
onde então ãaviá vários câtólicos. Receberârl-ro
êstes com inexprimível júbilo, como recebiam os pri-
meiros católicos aos apóstolos. Francisco, -pôr s,la
vez, mantinha o seu ministério de maneira digna de
Deus. Nada esgapava à sua caridade e aos seus
cuidados; empregava os dias no ensino e nas CoIl-
ferências, na ,iriiu aos pobres e enfermos,, passando
as noites no estudo, na prec e e na reconciliação dos
pecadores. A vida lhe sustentava As pregações, e.as
pregações completavam o que os bons exemplos
tinham começado.
Tantas virtudes atraíam diàriamente para a
Igreja novos fiéis, mas, simultâneamente, Aumentava
i ft ria dos hereges. Que fazemos? perguntavam.
Eis um homem que conguista insensivelmente a estima
d" pá""; considãrâm-nó um apóstolo, " {s perdemos
todos os dias um pouco de prestígio. Esperaremos
gue nos reduza a mendigar o pão e que estabeleça
_

ó papismo sôbre as ruínãs dos-nossos templos? Se


o deixarmos terminar o que começou, o duque oe
SabOia virá, e, valendo-se do pegueno número a -qqe
ficaremos reduzidos, estabeleLeú a sua autoridade
sôbre a ruína dos nossos privilégios e nos teduzitâ
a uma triste servidão. A conclusão foi ser necessário
desfaeeÍ-se de tal h-q-4ç-g1, De fato, na noite seguinte'

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2M PADRE ROHRBACHER

estando Francisco a passar uma parte dela na oração,


ouviu uma bulha de armas e em seguida o ruído de
várias pessoas que falavam baixinho. Percebendo
que a casa fôra invadida, ocultou-se. Nem bem o
f.izera, a porta foi abatida e os assassinos entraram
$3ndo grandes gritos e procurando-o por tôda parte.
Não o encontrando, supuseram que tivesse ido visitar
um enfêrmo, e retirarâÍl-se. Tãndo sabido, depois,
que estava em casa, acusararn-Ílo de ser feiticeiro.
Um calvinista chegou atê a jurar que o vira no sabá
e que lâ o tinham em grande cc,n-"ideração. Fran-
cisco, sabedor de tal, limitou-se a sorrir; depois,
f-azendo o sinal da cruz: eis, disse, os feitiços de que
me sirvo; ê. com êste sinal que espero vencer o in-
ferno, e nunca entrar em acôrdo com êle.
Entretanto, após as reiteradas tentativas de
assassínio, o presidente Faure,o bispo de Genebra,
e sobretudo o conde de Sales, pai, instaram, por
escrito, com Francisco para o obrigarem a deixar
-
chablais e voltar para Annecy, oãd" o seu zêl;a
não careceria de oportunidade. o pai lhe repetia
o que iâ dissera ao bispo: considerâr-rrle-iâ feiicís-
-por ter santos em minha casa, mas preferiria
simo
que fôssem conf essores e não mártires.
Francisco pensava de outro modo. Tranqüilizou
os amigos e o pai. Aquelas tentativas de assassínio
se voltavam contra os autores; dizia-se,por tôda
parte, que se os pregadores de Thonon e de Genebra
tinham certeza da sua doutrina, não recorreriam a
semelhantes violências, aceitando, pelo contrário, as
ccnferências que Francisco não cessava de lhes pro-
por. Eram, enfim, convidados, a proceder assim. Ap"-
sar dessas provocações, mantiveram-se calados. Mu.
Françisco não se calou: uma úniça das suas pregações

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VIDAS DOS SANTOS 265

converteu seiscentas pessoas. Os pregadores hugue-


notes reuniram-se em cc'nsistório em Thonon, para
estudar o meio de deter os pro'gressos daquele novo
conquistador; propuseru*-rá três ou quatró soluções;
a conclusão foi gue se não tomou nenhuma. Fran-
cisco não procedeu da mesma maneira: provocou-os
e, por vários escritos, a uma conferência pública.
Foram, por fim, obrigados a aceitar. No dia combi,
nado, porém, recuaram, com o pretexto de lhes faltar
a auto'rização do soberano, duque de' Sabóia. Foi
em vão gue Francisco lhes mostrou que a autorização
do governador da província era bastante e que êle
lhes garantiria a do soberano. Nada se concluiu.
Sômente um dos pregadores, envergonhado do recuo
do's co-irmãos, aceitou uma conferência particular com
Francisco. O resultado foi que abjurou os erros e
se f.êz católico. Os demais envidaram todos os
esforços para o atraírem de novo a,o seu seio. Nao
o conseguindo, acusararn-Ílo, f.izeram-flo coÍldenar à
morte e executar tão depressa, que Francisco não
teve tempo de solicitar o perdão ao duque de Sabóia.
Aquela violência horroúzou todos, e aumentou
as conversões, em vez de'as impedir. a advogado
Poncet, renomado em Genebra e em tôda a província,
declarou-se câtólico, e o seu exemplo foi seguido de
grande número de pessoas de tôdas as categorias. A
conversão do barão d'Avully Íoi a mais ruidosa. Era
êle chefe do partido calvinista no Chablais. Des-
posara mulher católica, a quem esperava converter
ao calvinismo; mas encontrou-â tão culta quão vir-
tuosa. Arraniou-lhe ela algumas conferências com
Francisco de Sales, e o homem notou imediatannente
que não era sua espôsa, mas êle próprio quem estava
çrrado. Ag conversações mantidas com Francisco de

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266 PADRE ROHRBACHER

Sales foram escritas e enviadas aos pregadores de


Genebra e Berna. Nem uns nem outros responderam.
O barão d'Avully guis gue se soubesse em todo o
país, e até em Genebra, o dia em que iria abjurar.
Convidou guanta gente pôde, declarou püblicamente
os motivos da sua conversão, e foi recebido rê comu-
nidade católica, râ presença de todo o povo de Thon
e de grande número de calvinistas de Genebra.
Francisco converteu e reconduziu ao seio da
Igreja setenta e dois mil hereges. Entre os próprios
católicos, converteu um número não menos conside-
rável de pecadores. Os seus escritos, ertr particul at a
Introdução à uida deuota e o Tratado do amor de
Deus, iluminam e entretêm a devoção num sêfr-
número de fieis: a ordem da Visitação, que estabe-
leceu com Santa Francisca de Chantal, e gue pôs
em Paris sob a direção de São Vicente de Paulo,
não cessa de conduzir à perfeição um grupo seleto
de almas fervorosas. O santo morreu em Lião, err
28 de dezembro de 1622. Foi canonizado em 1665
pelo papa Alexandre VII, gue lhe fixou a festa em
29 de janeiro, dia no gual.o seu corpo foi levado para
Annecy.
São Francisco de Sales escreveu em francês, e
nós conhecemos alguns dos seus livros. Leiamo-los
com particular devoção. Roguemos ao nosso santo
compatriota que nos obtenha de Deus a graça de
tirar proveito dos seus exemplos e escritos, de modo
tal que nos tornemos seus compatriotas no céu.

***

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I I
-B

sÃo CONSTÂNCIO (*)


Bispo e Mártí

São Constâncio governou a Igreja de Perusa


com zêlo. Caracterizado por um espírito de mortifi-
cação, por uma generosidade sem limites, foi um
verdadeiro pai dos pobres.
Quando de Marco Aurélio, foi prêso e coÍrpe-
lido a sacrificar aos ídolos. Como se recusasse,
dizendo gue só servia a |esus Cristo, foi encerrado
numa sala térmica, gue elevaram à mais alta tempe-
ratura. Como nada sofresse, os homens incumbidos
de maltratá-lo, olhando-o com admiração mesclada
de temor, acabaram por se converter.
Libertado, voltou a levax a mesma vida de sem-
pre, abertamente a servir a Deus. Prêso pela segunda
vez, acusado de ter pervertido os que convertera, foi
condenado a caminhar descalço sôbre brasas. Enco-
mendando-se a Deus com todo o fervor, €ÍlpÍ€eo-
deu a marcha sôbre os carvões ardentes. Livre
miraculosamente de qualguer gueimadura, foi deca-
pitado sem delongas.
Era em 17 8, e muitos prodígios se seguiram à
sua morte.

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SANTOS SARBÉLrO E BÁRBIA (*)
M ártires

Dois irmãos de Edessa, convertidos pelo bispo


Barsimeu, o que veio emocionar todo o povo, uma
vez gue eram pagãos, e Sarbélio sacerdote, pÍovocou-
Ihes a prisão, por ordem de Lizio, o juiz que funcio-
nava naquela cidade.
Confirmando que se f.izera cristão, depois de
passar por vários suplícios, Sarbelio foi atirado a uma
horrível masmorra, donde, dois meses depois, foi reti-
rado para novo interrogatório, rápido, que culminou
com' a seguinte sentença:
"Sarbélio, que foi sacerdote de nossos deuses,
renegou-os e teve a ousadia de dizer
tão! recusando-se obstinadamente - aEusacrificar.
sou cris-

Não e, pois, digno de qualquer consideração, nem


merecedor de qualquer compaixão. Aplique-se, âssiÍÍI,
um freio à bôca do blasfemador. Parta-se-lhe o corpo
em dois, e, quando estiver para morrer, decepem-lhe
a cabeça".
A sentença foi cumprida sem demora, e Sarbélio,
decapitado, depo,is de ter herôicamente passado pelo
suplício tremendo de se ver partido ao meio, cumpriu
o martírio.

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VIDAS DOS SANTOS 269

Morto Sarbélio, a irmã, que estivera presente,


e tudo presenciata, cobrindo-o coÍr uma capa ajoe-
lhada ao seu lado, disse-lhe, como se êle de fato
pudesse ouvi-la:
Que minha alma seja unida à tua, ao lado do
Cristo que conhecemos e no gual acreditamos.
Ouvindo aquelas palavras, um dos carrascos
referiu-as ao juiz. Bárbia, sem perda de tempo, levada
a interrogatório, terminou por ser condenada. Soli-
citando ser executada ao lado do irmão, concederam-
lhe a graça. E assim, morta pela espada, caiu sôbre
aquêle gue amava e a aguardava na glória.
À noite, pessoas caridosas recolheram os corpos
e foram sepultá-los no túmulo do bispo Absalão.

***

I http://www.obrascatolicas.com
sÃo SABINIANO (*)
Mártir

Sabiniano era de Samos, na Grécia, filho de pai


idólatra, que desejava vê-lo triunfar Ros estudos.
Sabiniano, ou, como guerem alguns, Saviniano, para
a filosofia, chegou à contemplação da nattreza e,
ràpidamente, ao conhecimento dum Ser Supremo,
invisível e imortal, criador do céu e da terra Deus.
-
Certa vez, 'lendo o livro dos Salmos, deparou
com um versículo que, por mais que se aplicasse, não
conseguia compreender nem interpretar. Então, mc-
recedor gue era, enviou-lhe o Senhor um anjo, que
ao jovem tudo explicou.
Sabiniano cada vez mais se dedicava ao estudo
do Evangelho. E o pai, notando grandes mudanças
no filho, ameaçou-o com a delação aos tribunais. O
jovem, decidido, deixou a casa paterna, deixou o
país, fugiu para a Gália, chegou 'a Troyes. Dias
depois, recebia o batismo das mãos de São Patro-
clo (1).
Começou, então , paÍa Sabiniano uma vida dife-
rente daquela que atê então levara. Pregando o

(1) 21 de janeiro,

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VIDAS DOS SANTOS 27t

Evangelho com ardor, conhecimento e desembaraço,


principiou a converter multidões.
Aureliano, o imperador, encoleri zado', ordenott
que o prendessem. ]á havia martirizado Patroclo, a
Sabiniano também o Í.aria. Prêso o Santo, procurou,
com ameaças, intimid â-lo, mas não o conseguiu. Tor-
turado, Sabiniano recebeu favores inúmeros do céu,
acoroçoamentos sem conta.
Impossibilitados de vergá-lo, condenaram-no à
decapitaçáo. E em Rilly, perto de Troyes, cumpriu
o Santo o martírio. Era em 27 5, e guarenta e oito
neófitos também haviam sido sacrificados fazia pouco
tempo.

***

il http://www.obrascatolicas.com
sÃo JULIÃO, O HOSPITALEIRO (*)
]ulião nasceu em Nápoles, de pais espanhóis,
vindos de Aragão. SObre êste santo ha umã lenda,
que conta uma aventura deveras extraordinária.
|ulião so se sentia satisfeito quando, montado
a cavalo, e seguido pelos escudeiros, corria a floresta,
que a paixão gue o consumia era a caça, principal-
mente a caça aos veados. Nem os ventos ou as
chuvaradas eram obstáculos para as suas sortidas.
Alimentava-se de frutas do mato, e quando cansado,
deitava-se à sombra das árvores e dormia. Aquela
era a vida que desejava, a vida que amava.
Um dia, sucedeu-lhe algo extraordinário. Quan-
do, como costumeiramente, varava as f lorestas,
encontrou-se com um casal de veados e seu veadinho.
Era a caça predileta. |ulião colheu flechas no caÍcaz,
armou o arco com uma delas, e disparou, abatendo
a cria.
A mãe cio pobrezinho, ao vê-lo sem vida, lançou
um qemido de dor. E lulião. armando novamente o
arco, enviou-lhe uma seta certeira e varou-lhe o
coração,
O veado, então, avançou para o terrível caçador.
Tinha um quê de raiva nos olhos, um brilho tal gue
]ulião jamais havia visto.

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VIDAS DOS SANTOS 213

O moço,.vibrando com a caçada, endereçou ao


último sobrevivente uma f lecha ligeira, que se lhe
cravou na cabeça. O veado, porém, parecia não per-
tencer ao número dos mortais: como se nada fôra,
continuou a avançar. O ódio, a dor, a perda dos entes
que amava mantinhâÍr-ro de pe, entretendo-lhe a
vida. Afinal, cambaleou, caiu sôbre os joelhos. E,
com voz profunda, disse ao atônito caçador:
Um dia ainda has de matar teus pais!
|ulião como que se petrificou. Um insuportável
desassossêgo lhe invadiu a alma, como invencível
vendaval, e, incontrolado, rompeu a chorar âInâͧfâ-
mente.
Desde aquêle dia, mudou-se-lhe por completo a
conduta. [Jm só pensamento o torturava dia e noite:
poderia porventura matar o pai, tão bondoso , a máe,
tão carinhosa e doce?
|ulião vivia murcho, pálido, assustadiço e quieto.
Os pais julgaram-no grandemente enfêrmo. E os
melhores médicos nada puderam f.azer por êle.
Quando lhe perguntavam alguma coisa ou lhe
indicavam uma possível causa da enfermidade, o tor-
turado jovem baixava os olhos, suspirava e permanecia
no mais absoluto silêncio.
Finalmente, conseguiu curâÍ-se. Quanto à caça,
porém, jamais a ela se deu, porgue as armas só lhe
inspiravam pavor.
Um dia, passeando pelo jardim, pareceu-lhe ver
duas asas de cegonha, branguinhas no verde dos
canteiros. E, não se contendo, correu, como que
impelido por uma estranha fôrça, atrás do arco e das
flechas.

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I

274 PADRE ROHRBACHER,

Quando voltou, lá continuava a 'cegonha atrás


do mesmo arbusto qm gue a vira. Armou o arco e
disparou a seta. LIm grito de mulher, de susto, porém,
não de dor, ecoou pelo jardim: as brancas asas da
cegonha eram as pontas da touca de sua máa
O jovem, aterrado, deixou a casa paterna, fugiu.
E, depois de errar por muito tempo, acabou por se
empregar na casa dum rico, o qual, um dia, satisfeito
com o trabalho, deu-lhe, e bem dotada, uma das filhas
em casamento.
Ora, os pais de )ulião viviam desolados com o
desaparecimento do filho e, pois, resolveram pro-
curá-lo. E, depois de muita procura, acabaram por
lhe descobrir o paradeiro.
À casa de |ulião chegaram justamente num dia
em que o moço, novamente impelido por uma fôrça
sobrenatural, saíra no encalço duma rapôsa que vira
nas imediações.
A espôsa de )ulião recebeu os sogros com alegria.
E, como estavam cansados, levou-os ao próprio
guarto, para que repousassem.
as matas atrás da
Entrementes, |ulião corria'muito
rapôsa, sem conseguir matá-la, menos feri-la.
As flechas tôdas gue disp arava não alcançavam o alvó.
Afinal, cansado e aborrecido, resolveu voltar
para casa,
A noite caía. Ao pensar na espôsa, do aborre-
cimento passou à alegria e à tranqüilidade.
Quando chegou, tudo era silêncio. |ulião pro-
curou a mulher e não a encontrou. Estaria no guarto,
repousando, esperando gue êle chegasse?

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VIDAS DOS SANTOS 215

Lâ, na penumbra, viu dois vultos gue se moviam


perto da cama. Era a espôsa? Com outro? Louco
de dor e de cólera, arrancou do caÍcaz duas flechas
e atirou. E, desta vez, não aconteceu o gue nas matas
acontecera; as duas setas, certeiras, atingiram o alvo
em cheio.
Quando ]ulião se certificou de que se cumprira
a profecia do veado, perdeu a noção das coisas. E
a chorar, como louco, deixou o lar, alucinado, para
sempre. , i

Pelos caminhos, humildemente, andou, eruante, a


pedir esmolas. E a todos, melancôlicamente, como
que se penitenciando, contava a trágica história de
sua vida.

São Julião e sua mulher levam em seu barco a Jesus Cristo, sob
a figUra de qm leproso. Segundo qma esqultura do século XIII.

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276 PADRE ROHRBACHER

Um dia, resolvido a procurar o papa, endireitou


para Roma. E, dias depois, chegou às margens dum
grande rio. Atracada, deu com uma velha barca.
Pensando que seria útil ao próximo, passando duma
margem a outra os que tinham necessidade de
atravessar o grande curso d'água, ali se fixou. Cons-
truiu uma choça e nela se estabeleceu.
Certa noite, quando o vento gemia e o inverno
ia no auge, ouviu que o chamavam. Era, parecia-lhe,
na margem oposta.
Lá chegando, deu com um homem coberto de
farrapos. LJma lepra horrível comia-lhe o corpo todo.
Não obstante, qualquer coisa de indefinível emanava
daquela asquerosa figura, dando-lhe grande ma-
jestade.
)ulião levou-o à choça que havia construído e ao
doente deu de comer e beber. Em seguida, deitou-o
na própria cama, porque assim lhe pedira o leproso,
acrescentando que o apertasse num abraço, porque
morria de frio.
fulião, penitente, não vacilou. Deitou-se ao lado
do feio estranho e sentiu-se abraçado pelo doente. E,
ao invés de aspirar, como julgara, o fétido que lhe
vinha das chagas, o que aspirou foi um doce perfume
desconhecido e inebriante. Era um anjo, e fulião,
assombrado, ouviu-o dizer:
Não te assustes! Foi o Senhor que me enviou
e te chama paÍa a glOria! lâ te torturaste muito e
mereces o eterno repouso! (1).

t**

(1) Ver a lenda de Sáo Juliáo, o Hospitaleiro, com pequenas


variantes, na Enciclopédia Univ. da Fábula, Vol. XXVf, pá9. 68.

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I

sÃo sut-PÍcto SEVERO (*)


São Sulpício Severo, que foi amigo, admirador e
discípulo de São Martinho de Tours e de Paulino
de Nole, nasceu em Agen, duma nobre família da
Aqüitânia, em 353. Tendo recebido excelente edu-
cação, estudou direito, chegando a ser advo'gado de
grande reputação. Bem casado, um dia, morta a
espôsa, resolveu deixar o sêculo e servir Nosso Se-
nhor na pobreza e na humilhação.
Entre Tolosa e CarcassoÍla, em terras mesmas da
madrasta, Sulpício principiou a levar a vida que então
desejava longe de tudo e de todos. Ali, erigiu
belíssima igreja, que enriqueceu com uma partícula
do lenho da verdadeira cruz de ]esus Cristo.
Conta-se dale que, tendo sido partidário do pela-
gianismo, renegou-o. E, por penitência, ficou, ate o
fim da vida, sem pronunciar uma só palavra.
Nos seus dois livros, as Crônicas, Sulpício
Severo resumiu a história judaica e cristã desde a
criação até o ano 400 depois de Cristo,. E o principal
interêsse da última parte está na exposição que f.az
das controvérsias priscilianistas.
São Sulpício faleceu em epoca incerta. Sua
morte situa-se entre os anos de 406 e de 432.

***

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I

sÃo GILDAS, O PRUDENTE (*)


Abade

Êste Santo, nascido na Escócia, era de família


originária da Grã-Bretanha, tendo estudado sob a
direção de Santo Iltut, no mosteiro de Llantwit, no
país de Gales, juntamente com São Sansão e São
Paulo de Leon.
Espírito pacífico, procurando a santificação da
alma, dado à mortificação e ao silêncio, desejoso de
solidão, passou à Armórica e foi viver na pequenís-
sima ilha de Houat. Ali, longe de tudo, suas princi-
pais ocupações eram a oração, â meditação e a leitura
das sagradas Escrituras.
Pecadores da ilha, convertidos pelas inflamadas
exortações de São Gildas, principiaram a espalhar por
tôda a costa continental a sua santidade. E os visi-
tantes não tardaram, muito menos os discípulos que
se lhe agruparam ao redor, desefosos de levar a mesma
vida de penitência, tôda ela visando ao fim supremo:
a salvação da alma e 'a vida eterna. E, instado pelos
jovens que o procuravam, erigiu um mosteiro na ilha
de Rhuys, ajudado por um rico bretão chamado
Guerech.
Depois de ter ministrado prudentes regulamentos
à comunidade, nosso Santo recolheu-se â um eremitê-

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I
VIDAS DOS SANTOS

riozinho às margens dum ribeiro, o Blavet, dali saindo


279
I
raras vêzes para visitar os discípulos e a ilha de Houat,
onde se fixara inicialmente.
_ -A
pedido do rei Ainmire, f.êz-se, já idoso, pêrâ
a Irlanda, onde, sempre inflamado, principiou uma
série de pregações que convertiam multidOés. Foi a
época em que operou os maiores milagres.
Saudoso de Houat, sentindo-se no fim da vida,
tornou à ilha querida. convocou os discípulos e
deu-lhes os últimos conselhos.
Temeroso de que, após a morte, surgissem dispu-
tas quanto à posse de seu corpo, pediu aos discípulos:
Quando eu morrer, suplico-vos um favor.
Qual, pai? perguntaram-lhe.
Quando minha alma imortal deixar êste
corpo perecível, tomai-o, deponde-o numa barca junto
com esta pedra que vêdes me serviu de travesseiro
por tôda a vida. E, uma vez no mar, deixai que
vogue ao sabor dos ventos, ao capricho das correntes,
na direção que Deus quiser. Êle escolherá o lugar
em que meu corpo ha de repousar.
São Gilda-., que faleceu em 5TO, escreveu um
sumário da historia da Inglaterra, o De excidio Bri-
tanniae, obra gue retrata tôda a época que vai da
invasão romana até os seus dias. Na obra, vê-se o
homem culto que são Gildas foi, e a sua santidade.
Alam dêsse sumário, escreveu tambem o De poeni-
tentia.
satisfeito no desejo que formulara aos discípulos,
o barco em que o depositaram, depois de morto, vogou
por t_rês meses ao deus-darâ e desapareceu.
Um dia, urn dos discípulos teve u*a visão. Via-
Ihç o corpo estendido perto duma peguena capela,

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280 PADRE ROHRBACHER

que reconheceu ser a gue o po'vo chamava de A Casa


da Cruz.
Com efeito, lá o encontraram, e, transportando-o
para Rhuys, ali o enterraram a 11 de maio, data em
que se celebra a sua transladação.

No mesmo dia, em Bourges, Aqüitânia, São Sul-


pício Severo, bispo e confessor, notável pelas virtudes
ã pelo saber. Êste Sulpício Severo era poeta e glo:
qüentíssimo. Como o outro Sulpício (17 de ianeiro)
tãmbem foi bispo de Bourges, também foi, como o
Sulpício de Agen, celebrado neste mesmo dia,- amigo
de Sao Martinho de Tours, que o elogiou pela Pru-
dência, inteligência e solicitude pastoral. Faleceu em
5gl e foi entãrrado na igreja de São |ulião de Bour-
ges, mais tarde sendo transferido para a de Santo
Ursino.
Na Toscana, Santa Severa, virgem e mártir,
filha do conde Máximo, Çue, depois de ter visto o
pai convertido por obra do papa Marcelo, e mais
tarde ser decapitado pela fé, entregou-se como cristã,
juntamente com a mâe, Segunda, e os- irmãos Marcos
e Calendino, para soÍrer o martírio, durante a perse-
guição de Diocleciano.
Em Todi, São Seusto e companheiros, mártires,
em 303. Seusto era sc,brinho do procônsul Ablár'io.
Prêso como cristão, por ordem do próprio tio, foi
condenado a ser decapitado ccm oitenta outros cris-
tãos, convertidos, como Seusto mesmQ fôra, pelo
bispo Çgqgiano.

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VIDAS DOS SANTOS 287

Em Sorrento, São Báculo, bispo e confessor,


filho de ilustre família de Nápoles. Gãrrernou a Igreja
de Sorrento com prgCência, amado por tc,do o
io,ro,
que, logo após sua morte, pessou a vener â-lo ao*o
santo, invocando-o como um dos protetc,res da cidade.
Faleceu em 660.
Na diocese de Burgos, na Espanha, a bem-
aventurada Radegunda, virgem, desaparecida no ano
de 1156. Radegunda foi u.u das úÍtimas religiosas
da ordem dos premonstratenses, no convento dã sao
Paulo, perto dó Vita-Maior, a sete milhas d" B;;;r.
viveu no mais rigoroso ascetismo. Depois de "sua
morte, foi o corpo cc,nservado com grande veneração
na igreja até o século XVII,
Em Villers, Brabante, o bem-âventurado Carlos
de §uyr,. ab_ade e confessor, da antiga família dos
condes de s.ayn. Modêlo de perf eição religiosa,
associado ao bem-aventurado Herman, fundou i aba-
dia de Heisterbach, perto de Colônia, por volta do
ano de 1188. Em 1197, quando faleceú o abade de
Villers de Brabante, foi o bem-aventurado Carlos
escolhido para lhe suceder. Faleceu em 1212.
Em Flines, diócese de Cambrai, a bem-aventu-
rada Imaine de Loss, abadêssa, filha única de Hen-
rique de Lo-"s. orfã na mais tenra idade, levou vida
santa, falecendo em 1270.
Em Cysoing, Santo Arnulfo , mârtir, filho de pais
ricos e poderosos, que o desejavam na carreira 'das
armas. Morreu enforcado, vítima de maus tratamen-
tos e do devotamento (742\ . Curas miraculosas foram
opera"clas à beira do túmulc sue o abrigou.
Em Cluny, o bem-aventurado Gelásio, o Se-
gundo, papa, no século JoãO de Gaeto, nascido em

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PA DR E ROHRBACHER

1058, falecido em 1119, Fêz profissão debaixo da


orientação do abade, Didier. Chanceler da Igreja
romana, nomeado por Urbano II, sob Pascoal II, a
guem sucedeu no trono de São Pedro, foi conselheiro.
Obrigado a deixar Roma, como papa, excomuÍrgou
Henrique V e o antipapa que aquêle príncipe havia
criado. Morto, foi sepultado na grande igreja de
Cluny.
No mesmo dia, em Roma, na via de Nomenta,
os santos mártires Pápias e Mauro, soldados, gue
na epoca do imperador Diocleciano, mal confessaram
a |esus Cristo, tiveram os maxilares partidos a pedra-
das, por ordem de Laodício, prefeito da cidade. Em
tal estado, gtandou-os encerrar numa masmorra, e
depois assassin ar a bordoadas e a golpes de chicote
de ponta de chumbo. - Em Milão, Santo Aguilino,
sacerdote, que, tendo tido a garganta furada por um
golpe de espada dos arianos, recebeu a coroa do
martírio. - Em Tràves, morte de São Valério, bispo,
discípulo do apóstolo São Pedro.

**r

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i0., DIA DE IANEIRO
SANTA BATILDE
Rqinha d,a França

santa Batilde nascera de uma ilustre família de


anglo-saxões. Prêsa, durante as guerras então fre-
qüentíssimas na Grã-Bretanha, e conduzida à França,
muito jovem ainda, foi vendida como escrava a Erqui-
noaldo, prefeito do palácio de Nêustria. o r.u
comportamento sábio e modesto lhe conciliou imedia-
tamente a estima e o afeto do amo, bem como de
tôda a família. Deu-lhe êle por obrigação o mister
de dar de beber. A distinçãó torn urá-à ainda mais
humilde com relação às co,mpanheiras, a queÍl pres-
tava, sobretudo às mais idosas, todos os presiimos
de uma criada, como por exemplo tirar-lhãs e Ii;-
par-lhes o calçado, dar-lhes águá puru lavar-se , pte-
parar-lhes os vestidos. Tendo Erquinoaldo peráido
a primeira_ espôsa, resolveu desposar Batilde. Mas
esta, que desejava permanecer virgem, arranjou ,,tã-
neira de se ocultar até que êle desposasse outra. A
Providência a reservava a uma posição mais elevada,
pois não tardou em câsâr-s€ com o rei clovis II.
Rainha, só usou o poder para f.azer o bem. Estimava
os bispos como se lhe foisem pais, os religiosos como

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284 PA DR E RÔHRBACHÉR'

irmãos, os pobres como filhos. Para aiudâ-la na


distribuição-das esmolas, deu-lhe o rei por -e.qmoler
São Genls, então abade e, depois, arcebispo d9 Lyo-n'
Após a morte do rei, seu espôso, dedicou-se Batilde,
a'conselho de alguns bispos, entre os gqais- Santo
Elói, Santo Ouão, São Léger d'Autun e Crodeberto
de Paris, a banir a simonia, gue realizava constante-
mente grandes progressos, e a elÍminar cobranças
gue redíziamos particulares a deixar morrer os filhos.
' Tinha singúat veneração por Santo Elói. Du-
rante a primeúa gravidez, sentia-se dominada p9r
cruêis inguietações-, por temer ter uma filha, vindo
assim o rãino á r,r.u*bir. Sao expressões de Santo
Ouão, que revelam como se estava persuadido, na
época, d" qu" a cgroa da França não podia pertencer
as jovens. Santo ElOi consolou a rainha, assegüÍâÍt-
do-lhe gue iria ter um Íilho, que êlg seria o padrinho,
e que dásde então o chamaria de Clotário, ou melhol,
Lotário, como se diz na vida de Santo Elói' O
evento justificou a predição.
Santa Batilde fundou o mosteiro de Córbia, um
dos mais renomados da França, tanto pela tiqueza
como pelos estudos monásticos gue-lá Íloresceram com
habeió mestres. Outra fundação de Santa Batilde, o
mosteiro de Chelles, não foi menos célebre. Chelles
era uma -casa real a " guatro léguas de Paris, onde
Santa Clotilde havia estabelecido, outrora, un lllos-
teiro de jovens em honra de São Io-t9". Achava-se
visivelmente arruinado. Santa Batilde mandou que
o reconstruíssem, ou antes, fundou outro, novo' no
intuito de para êle se retirar, desde gue o filho atin-
gisse. a idáde de governar por s.i próprio;_ Entregou
ao mosteiro u- .álice de ouro feito por Santo Elói,
que se conservou atê a destruição do mosteiro na

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VIDAS DOS SANTOS 285

época da Revolução Francesa. h{al estiveraÍl pÍor-


tas as fundações, Batilde manCou pedir a Santa Tele-
childa, abadessa de |ouarre que lhe cedes.se algumas
das suas religiosas de grande virtude, a Íim de lâ
estabelecer 'a regra e solicitou especificadamente
Santa Bertila, que foi conduzida a Chelles por Sao
Genes, à testa da nova colônia.
Tinha a rainha Batilde grande veneração por
Santo Elói, bispo de Noyon. Sabendo que udo..áru,
pôs-se imediatamente em caminho com os príncipes,
seus íilhos, e nurneroso séquito, mas ao chegar a
Noyon, encontrc'u-o morto. Para consolar-se , ordenou
fôsse o corpo transportado para o seu mosteiro de
Chelles. Outros achavam que convinha enriquecer
com aquêle tesouro a capital do reino. Mas o clero
e o povo de Noyon se opunham cora;'osamente a tais
pretensões, e o ceu se declarou por êles, pois, ao se
pretender retirar o corpo do pastor por ordern do
rei, nunca foi possível mover o ataúde.
A rainha Batilde, gue desejou pessoalmente certi-
ficar-se do milagre, não desanimou. Após um jejum de
três dias, Í.izeram-se novos esforços tão inúteis quanto
os primeiros. A rainha, para aliviar a dor, descobriu
o rosto do santo bispo e beijou-o com terna piedade.
Então, embora estivesse morto havia dias, e se esti-
vesse no inverno, escorreu sangue em abundância
das ventas. A rainha e os bispos, presentes, com
êle embeberam lenços para cs conservar como relí-
quias. Foi sepultado em Noyon, no mosteiro de
Saint-Loup, o qual, em seguida, lhe tomou o nome.
A rainha quis seguir o cortejo a pé, e, não obstante
o mau caminho, não puderam persuadi-lg a montar
a cavalo.

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I 286 PADRE ROHRBACHER

Santo Elói, por guem a rainha Batilde testemu-


nhara tão meiga devoção, não tardou em ÍecoÍrper-
sa-la. Havia pouco tempo que êle morrera, quando
surgiu por três noites consecutivas a um cortesão, e
Ihe ordenou [ôsse, de sua parte, advertir a rainha
gue abandonasse o ouro e as jóias que ainda trazia
como ornato. O cortesão, temendo pela sua sorte,
no caso de um recado que poderia desagradar à
regente, demorou em obedecer. Foi imediatamente
apanhado de ardente febre, gue considerou punição
da falta, e teve em breve a oportunidade de a reparar,
pois a rainha, indo-o visitar, declarou-lhe êle o que
recebera ordem de lhe dizer, e logo recobrou a saúde.
Batilde despojou-se das jóias e dos demais orna-
tos e só conservou os braceletes de ouro. Mandou o
cinto tecido de pedras preciosa§ aos monges de Cot-
bion, e distribuiu o resto em esmolas. Mas reservou as
jóias mais belas para uma cruz que seria colocada
sôbre a cabeceira de Santo Elói. Mandou também
f.azer uma coroa de ouro e prata para o túmulo
do santo, dizendo ser justo ornar o sepulcro de quem
ornara os sepulcros de tantos santos. Com efeito, um
ano após a morte de Santo Elói, São Momolino, a
conselho da rainha, transferiu-lhe o corpo para uma
espécie de capela atrás do altar, e nessa ocasião veri-
f icaram que não estava absolutamente corrompido.
Revestiram-no de hábitos de sêda dados pela rainha,
e ergueram-lhe um magnífico mausoléu.
Entre as suas outras virtudes, tinha Santa Ba-
tilde uma grande compaixão pelos cativos, tendo sido
ela propria cativa. Proibiu em tôda a França que os
mandassem para o exterior. Resgatou grande número
dêles e f.êz com que alguns entrassem em mosteiros,

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VIDAS DOS §ANTOS 281

principalmente da sua nação. Mandou freqüente-


mente esmolas até Roma, para as igrejas de São
Pedro e de São Paulo, e para os mendigos romanos.
Childerico, seu segundo filho, foi declarado rei da
Austrásia pelos francos em 660, e Clotário, rei da
Neustria e da Borgonha, viu-se, pouco depois, com
idade para governar. Batilde executou, então, o plano
formado havia longo tempo de se retirar paÍa o rtros-
teiro de Chelles. A ingratidão de alguns senhores,
erguidos por ela com ternura de mãe, lhe aumentou
o desejo de retiro. Tinham feito morrer, a revelia
dela, o bispo de Paris Sigebrando, gue lhes atraíra o
ódio pela grandeza. Temendo, então, gue ela um
dia se vingasse, deram de boa mente ao retiro o con-
sentimento atê então recusado, Retirou-se Batilde
para Chelles , e, para Que nada faltasse ao seu sacri-
fício, perdoou, a conselho dos bispos, os senhores
gue a tinham ofendido, e rogou-lhes gue também lhe
perdoassem. Passou o resto dos anos em todos os
exercícios da vida monástica, submetida à regra e à
abadessa como a última das religiosas. Morreu em
Chelles, por volta do ano de 680, em 26 os 30 de
janeiro, pois o Martirológio romano lhe mar ca a festa
em 26, e na França a celebram em 30.

t*t

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I

SANTA ALDEGUNDES
Virgem e ab,adessa

Santa Aldegundes e sua irmã Santa Valdetruda


fundaram dois mosteiros de jovens, que se tornaram
inícios das cidades de Maubeuge e de Mons. Eram
filhas de São Valberto e de Santa Bertila, ambos de
ilustre nascimento. Santa Valdetruda casou-se muito
jovem com o conde Maldegaire. O marido e a mulher,
e quatro filhos que lhes nasceram, Landric, Aldetruda,
Madelberto e Dentelino, que morreu muito iovem,
são todos honrados como santos. Maldeg aire, ten-
do-se consagrado a Deus a conselho de sua espôsa
Santa Valdetruda, fundou o mosteiro de Soignies;
Valdetruda fundou o de Mons, e Aldegundes o de
Maubeuge, de que foi a primeira abadessa. Deus lhe
comunicou o espírito de prece em grau eminente, e
Íavoreceu-a com várias revelações. Tendo-lhe sido
a reputação atacada pela calúnia, Íêz ela bom uso de
tal provação, e rogou a Deus que lhe enviasse outras
mais duras. Deus ouviu-lhe a prece, pois lhe apareceu
no seio um câncer que lhe causou as mais terríveis
dores. Sofreu-as, bem corno as intervenções dos mé-
dicos, com heróica paciência. Foi receber â Íecorr-
pensa das suas virtudes em 30 de janeiro de 680.

+r+

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E

SANTA JACINTA DE MARISCOTTI


Virgem da Ordem Terceira de São Frutcisco

Era filha de Marco Antônio Mariscotti, conde


de Vignatello e de Otávia Orsini. Viu o dia em
1588, e recebeu, no batismo, o nome de Clarissa, que
mudou pelo de )acinta, quando entrou na religião.
Educada no temor de Deus, revelou a princípio, na
primeira mocidade, uma particul ar atração pela vir-
tude; mas, avançando em anos, tomou gôsto aos
ornatos e às vaidades do mundo. Embora posta num
convento de religiosas para ser educada, entretinha-se
apenas com futilidades. A mocidade lhe decorreu
na dissipação. Desejava estabelecer-se, e o casamento
de sua irmã mais nova com o marquês de Cap izrta-
chi lhe causou grande despeito e inveja. Fez-lhe
perder a alegria, o bom humor, e tornou-se câpÍichosa
e de trato dificílimo.
O pai intimou -a a f.azer-se religiosa, e, embora
facinta não sentisse a menor vocação pela vida soli-
târia, cedeu às instâncias da família e tomou o véu
no mosteiro de São Bernardino de Viterbo, da ordem
terceira de São Francisco; mas os seus gostos e caráter
não mudaram com o seu estado. Mal chegou ao
convento, mandou lhe construíssem uin guarto parti-
cular, gue mobilou com luxo e decorou com suntuo-

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290 PADRE ROHRBACHER

sidade. Quanto aos deveres gue a regra lhe impunha,


sômente os cumpria com negligência e por simples
obrigação. A sua única ocupação era satisfazer as
fantasias de sua doida vaidade. Os defeitos, contudo,
não deixavam de estar permeados de boas gualidades.
Podia-se louvar nela' um amor particular à puÍeza,
um profundo respeito aos mistérios da religião e uma
grande submissão à vontade dos pais, coisa, aliás,
que a levara ao convento.
|acinta havia transcorrido cêrca de dez anôs no
meio das virgens do Senhor, com hábitos contrários
aos santos exemplos que todos os dias testemunhava,
guando a atingiu uma séria enfermidade. Mandou
chamar o confessor da casa, urrl respeitável religioso
da ordem de São Francisco, o gual surpreendido, ao
entrar no guarto da doente, co,m o luxo gue o deco-
rava, se recusou a ouvi-la, e lhe disse em tom severo
"qu" o paraíso não era feito para pessoas vãs e
soberbas". Tais palavras impressionaram |acinta, gue
foi tomada de salutar espanto. "Quer dizer que não
há mais salvação para mim!" exclamou. Respon-
deu-lhe o confessor gue o único meio de salvar a
alma era pedir perdão a Deus pela vida passada,
reparar o escândalo dado às companheiras e iniciar
uma vida inteiramente diversa. facinta prometeu-lhe
tudo, derramando torrentes de lágrimas; depois, obe-
decendo imediatamente aos conselhos do santo reli-
gioso, rumou para o refeitório no momento em gue
a comunidade lá se encontrava reunida. Debulhada
em lágrimas, prostrou-se Ílo meio da sala, reconheceu
ôs erros em alta voz, e pediu lhe fôssem perdoados
os escândalos dados. As companheiras, assombradas
e comovidas com tão heróico ato de humildade, apres"
sâÍârl-se em lhe testemunhar o contentamento gue

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VIDAS DOS SANTOS 291

a conversão lhes ministrava, e prometeram-lhe unir os


seus rogos aos dela para lhe obterem a graça de
consumar com generosidade o sacrifício tão fõlizmente
iniciado.
A mudança de santa |acinta não [oi, todavia,
tão rápida, e foi mister gue novas enfermidades a
advertissem da sua f.ragueza, pãÍã gue ela tratasse
de cumprir as promessas em ioda ; sua extensão.
Finalmente, cad a vez mais impelida pela graça p.io,
"
remorsos da consciência, não mais fiesitoir. Co."ço,
por entregar à superiorg
{a casa tudo quanto possuía,
e dedicou-se às austeridades de uma vida sinceramente
penitente. Um feixe de palha tornou-se-lhe leito, uma
pedra o travesseiro, uma velha túnica esfarrapada o
seu único hábito; caminhava quase sempre de pés
descalços, e pod e dizer-se gue rrao tirrha outros eXer-
cícios diários que os atos de maceração. As vigílias
9 as privações que se impunha não tinham oútros
Iimites senão a impossibihdãde de progredir mais ."o,
pôr em perigo a vida. o que a sustentava e animava
em tais santas práticas, eram as suas meditações [re-
qüentes sôbre a paixão de fesus cristo. A narração
dos sofrimentos do divino- espôso lhe inspirava tal
horror- pelo luxo passado, gue procura,ru ápugar-lhe
atê a lembrança mediante áustãridades de'toáo gc-
,eI9. Experimentava apenas um sentimento qu" ih"
subjugava o- coração e úe absorvia os demais ãfetos,
o do amor de Deus e do próximo.
Embcra encerrada no convento, achou meio de
exercitar a caridade fora. Durante uma epidemia qug
devastou viterbo, fundou duas associaçõãs, ,*u áui
quais tinha por objeto recolher esmolas para os coÍl-
valescentes, os mendigos envergonhados e os presos,

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292 PADRE ROHRBACHER

sendo ob;etivo da outra colocar num hospital que pala


tanto se construiu, aS pessoas idosas e enfêrmas. As
duas associações, que ela dirigia e às quais _ d.Y o
nome de Oblátas daMaria, ainda existem em Viterbo,
onde f.azem se abençoe o nome da santa fundadora.
'Viveu assim ]acinta vários anos, inteiramente
ocupada com os infáli zes, de gue9 era mãe, favorecida
p"lár mais preciosas graças a pelo dom. da mais subli-
me oração.- Não tinha mais do que cingüenta anos,
quardo sübitamente a atacou um mal agudo e vio-
lãnto que, em algumas horas, a levou ao túmulo.
Apesa, da viva ãor de gue eÍa prêsa, recebeu os
sacramentos com grande piedade, e adormeceu tran-
qüilamente no Serihor, -prãferindo os nomes de ]esus
; de Maria. O cardãal Mariscotti, sobrinho de
)acinta, solicitou a sua beati!]cação,- 9-Y9 fqi
proÍruo-
áiudu em 1726 pelo papa -de Bento XIII, da mesma
família. Em 24 áe maio I 807 , Pio VII a colocou
no rol das santas ) ( I .

t**

(1) Godescard, 30 de janeiro.

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SANTA TIADILDA (*)
Abades;sa

Tiadilda, de Vestfâlia, perdeu os pais quando


nos primeiros meses de vida, sendo adotada pelos
tios Everaldo e Geva, piedoso casal que à órfã
prodigalizou os maiores cuidados e a melhor educação.
Sobre Tiadilda, conta-se o seguinte. Pouco
depois que passou a viver com os novos pais, estava,
um dia, no berço, e sôzinha no quarto. Virando-se
dum lado a outro, acabou por cair dentro duma bacia
enorme, com água fervente, gue a criada deixara por
um pouco, enquanto atendia alguém.
Aos gritos da menina, todos, aflitos, acorreram
a ver o que lhe sucedera.
Geva e Everaldo, consternadíssimos, arrebata-
ram a sobrinha para si e, dirigindo-se a Deus, fervo-
rosamente, prometeram consagr â-lha se escapasse
com vida. E, no mesmo instante, atraídos pelas risa-
dinhas da pequena Tiadilda, viram, maravilhados, que
no rostinho redondo estava estampada uma alegria
sem par.
O fato, verdadeiramente miraculoso, correu por
tôda a cidade num instante, e não havia quem não
dissesse que os dois bons tios eram santos e §fÍan-
demente merecedores.

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I
294 PA DR E ROHRBACHER

Everaldo e Geva, criada a sobrinha, de comum


acôrdo, não titubearam em abraçar a vida religiosa,
consagrando as posses tôdas na ereção dum convento.
Era a abadia de Freckenhorst, de Vestfália, gue
nascia. E Tiadilda, moça piedosa e tôda do Senhor,
foi a primeira abadessa da comunidade, a gual edi-
ficou pelas virtudes de gue era dotada e governou
com prudência, sabedoria e doçura.

No mesmo dia, na Irlanda, Santo Ailbo, coÍr-


fessor, contemporâneo de São Patrício, que lhe
conferiu a unção sacerdotal. Quando São Patrício
foi informado, por via divina, que Ailbo nada tinha
para a celebração do santo sacrifício, foi dizer-lhe
que, numa caverna, encentraria um finíssimo altar e
todo o necessário para a cerimônia da santa missa.
Se é verdade que Ailbo foi discípulo de São Patrício,
deve ter morrido bastante. idoso, uma vez gue faleceu
em 540.
Em Fulda, o bem-aventurado Amnichad, coÍr-
fessor. Escocês de origem, foi educado no mosteiro
de Iniskeltra, sob a direção do abade Corcran. Por
não ter seguido as prescrições do abade, foi conde-
nado a deixar a comunidade. Na Alemanha, para
onde se transferiu, recebeu-o a abadia de Fulda.
Modêlo de regularidade, desejou viver recluso, pâs-
sando o resto da vida na contemplação e na penitên-
cia. Santamente, faleceu em 1043,
Em Burgos, na Espanha, Santo Elesmo, confes-
sor, natural de Loudun, em Poitu. Militar, dedidiu
deixar o munclo. Ouvindo falar de sua santidade, â

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VIDAS DOS SANTOS 295

rainha Constância de Borgonha, espôsa de Afonso VI


de Castela, chamoll-o para a Espanha, para fundar a
abadia de São |oão de Burgc,s, onde Elesmo 'riveu
santamente, e santamente morreu, em 1 097 .
Em Alexandria, Santo Agripino, bispo e confes-
sor, desaparecido, segundo o que tudo indica, por
volta de 180. Segundo Eusébio, êste Agripino Íoi
o nono bispo que ccupou a Se de Alexandria, f.ale-
cendo mais ou Ínenos no fim do govêrno de Marco
Aurelio.
Em Suábía, a bem-aventurada Haberila, virgem
do século VII. Recebendo o véu das mãos de São
Gall, foi escolhiCa para governar uma comunidade
em Bregentz. Operand.o milagres depois da morte,
ficou como padroeira daquela localidade.
Na Sicília, São Peregrino, conf essor, que,
supõe-se, tenha sido enviado de Roma, pelo papa,
para evangelizar os sicilianos. Faleceu em 1098.
No mesmo dia, em Roma, Santa Martinha, vir-
gem, martirizada no primeiro dia do mês. Em
Antioquia, o martírio de Santo HipOlito, sacerdote,
a princípio seduzido pelo cisma de Novat; mas, por
efeito da graça de |esus Cristo, reconheceu o êrro,
e voltou à uniclade da lgreja, pela qual e na qual
padeceu um glorioso martírio. Antes de morrer, teÍ1-
do-lhe os amigcs rogado lhes dissesse que seita era
a verdadeira, respondeu, detestando o dogma de
Novat, que era preciso seguir a fé sustentada pelo
trono de São Pedrc,, após o que estendeu o pescoço
ao verdugo.
- Na Africa, os santos Feliciano, Fila-
piano e outros cento e vinte e quatro mártires. F
Em Edessa, na Síria, Sãe Barsip.çu, bispo, que, tendo

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ffifr
296 PADRE ROHRBACHER

convertido à fe vários pagãos que enviou na sua


frente em triunfo, os seguiu de perto, sob Trajano,
e conquistou a palma do martírio Na mesma
cidade, São Barses, bispo, renomado pelo dom de
curar as enfermidades, e gue, tendo sido, pela fê.
católica, relegado às fronteiras dêsse país por Va-
lente, imperador ariano, lâ terminou a vida.
- Ade-
mais, Santo Alexandre, venerável pela idade e por
ter freqüentemente confessado a fe: tendo sido prêso
durante a perseguição de Decio, entregou a alma no
meio das torturas . p Em f erusalém, São Matias,
bispo, do gual se narram coisas maravilhosas, e que
constituem outras tantas provas da grandeza da sua
f.ê, Êsse santo, após tq padecido bastante sob o
imperador Adriano, morreu em paz. Em Roma,
São Félix, papa, que trabalhou muito pela fé católica.
Em Pavia, Santo Armentário, bispo e confessor.
Em Milão, Santa Savina, mulher piedosíssima,
que adormeceu no senhor, quando orava sôbre o
túmulo dos santos Nabor e Felix.

***

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3t: DIA DE IANEIRO
SÃO PEDRO DE NOLASCO

Fundador da ordem do Graça para a Redenção


dos catioos.

Pedro de Nolasco era um gentil-homem francês,


nascido numa das primeiras famílias do Languedoc.
Viu a luz pelo ano de I 189, numa localidade do
Lauragais chamada Masdes-Saintes-Puelles, a uma
légua de Castelnaudari. Perdeu o pai com a idade
de quinze anos. Sua mãe pretendeu obrigá-lo a
câsâr-se , para que se transformasse em apoio da
família. Mas o jovem Pedro já aspirava à alguma
coisa de mais perfeito , iâ havia resolvido entre gâr-se
a Deus sem reserva. Entrou, contudo, Íro cortejo do
conde Simon de Montfort. Era no tempo em que o
rei Pedro de Aragão acabava de confiar ao piedoso
e valente senhor o jovem filho Simon deu
'por preceptor ao jovem príncipe|acques.
São Pedro de No-
lasco, que seguiu o discípulo, até que em 1215, após
a morte do pai na batalha de Muret, voltou a Aragão.
Pedro Nolasco tentou inspirar-lhe piedade para com
Deus e sua Igreja, amor à justiça e à verdade , ten-
tando, outrossim, acostumá-lo a tôdas as práticas
convenientes a um prÍncipe cristão. Nem as di',,ersões

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298 PA DR E ROHRBACHER

Apariçáo da Santa Virgem (Nossa Senhora da Graça) a Sáo Pedro


de Nolasco e a São Raimun-do de Penhaforte, (Seçundo Zurbaran).

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VIDAS DOS SANTOS 299

da côrte, nem os favores do seu príncipe o impediram


de se aplicar aos exercícios dá moítificuçáo e da
prece. Tinha guatro horas de oração por dà, e duas
de noite. ocupâv'-sê também da leitúra da sagrada
Escritura, e dava às práticas da penitência tõdo o
tempo em gue não estava perto do rei. Sentiu-se,
desde então, tão vivamente- comovido de compaixão
para-os
-pobres cristãos cativos entre os muçu[*aros
e os bárbaros_, gu€ resolveu consagrar os bens de que
dispunha a libertá-los.
Mas que assombro, gue surprêsa a dêle, guando,
ao tomar as medidas necessárias para executar tal
obra de misericórdia, a santa vir§em lhe apareceu
de noite, a fim de lhe dizer gue era vontade de Deus
trabalhasse para o estabelscimento de uma ordem
p"Ju qu?l os religiosos se obrigariam por voto parti-
cular a dedicar-se ao resgate dós cativós! Como-nada
fizesse sem consultar o pai espiritual, São Raimundo
de Penhaforte, foi visi[á-lo para comunicar-lhe tal
visão. Aumentou-lhe a surprêsa, guando soube do
santo varão gue vira a mesma cc,isa, e gue a santa
v.irggm lhe ordenara fortalecê-lo no proyáto. Assim,
não duvidando mais de que se tratará cla vontade de
Deus, só cuidaram ambós dos meios de executar o
plano. Sendo necessário o consentimento do rei e do
bispo, foram, em primeiro lugar,,à procura do prín-
cipe. Ouviu êste com tanto maior aÍegria porque, na
mesma noite, tivera a mesma visão. Ofereceu-s€ para
contribuir para tão santo empreendimento, quer pela
sua autoridade, guer pela liberalidade. Incumbir-r"
até de Í.azer com gue o novo estabelecimento fôsse
do agrado do bispo de Barcelona. Ambos conversa-
ram sôbre a tríplice aparição da santa Virgem e as
ordens expressás que ã1" lh". dera, aos três] sepârâ-

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PADR,E ROHRBACHER,

damente. O erguimento da nova ordem ficou, Pois,


resolvido, em viitude de um indulto especial recebido
da Santa Sede pelos reis de Aragão.
Desde o ano de I 192, vários gentis-homens das
primeiras famílias da Catalunha, instigados pelo
exemplo de algumas pessoas piedosas, formaram entre
si uma congregação, com o intuito de contribuírem
para o socorrõ dos cristãos guê eram cativos dos
sarracenos ou estavam reduzidos à necessidade. A
ocupação dos nobres congregacionistas consistia em
servir os enfermos nos hospitais, visitar os presos,
arranjar esmolas p'aÍa o resgate dos cristãos cativos,
guardar as costas do Mediterrâneo contra as incur-
rO"r dos infiéis. A maioria de tais gentis-homens
abraçou a nova ordem, bem como os sacerdotes que
a êles se haviam ligado.
No dia de São Lourenço, 10 de agôsto de 1223,
realizou-S€ â solene instituição. O rei, acompanhado
de tôda a côrte e dos magistrados de Barcelona,
rumou para a catedral, châmada Santa Ctuz de
|erusalém. O bispo Berengário- oficiou pontifical-
mente. São Raimundo de Penhaforte subiu ao trono,
e diante de todos declarou que Deus revelara mila-
grosamente ao rei, a Pedro Nolasco e a êle próprio
ã ruu vontade no tocante à instituição da ordem de
Nossa Senhora da Graça para a redenção dos ca!i-
vos. No momento da oÍeitâ, o rei e São Raimundo
apresentaram o novo fundador ao bitp_o, qu19 revestiu
aã nabito da ordem. Recebido o hábito, São Pedro
Nolasco deu-o, como principal fundador, a treze geil-
tis-homens, dos guais os dgi_s prim-eiros foram Gui-
lherme de Bas, senhor de Montpellier, e seu primo
Arnaldo de Carcassona. Os treze tinham sido câvâ-

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VIDAS DOS SANTOS

leiros ou confrades da eongregação de Nossa Senhora


da Misericórdia. AlCm dos três votos 'de pobreza,
castidade e obediência, f.izeram mais outro, bem como
São Pedro de Nolasco, isto é, o voto de empenharem
a sua própria pessoa e permanecerem no cativeiro, se
necessário, para a libertação dos cativos.
Sendo seis sacerdotes e sete cavaleiá, eram
diferentes os seus trajes. O dos sacerdotes consistia
numa túnica. ou sotaina branca, com um escapulário
e uma capa ou manta; o dos cavaleiros era também
branco, mas puramente secular, com exceção de um
pequeno escapulário que punham sob o hábito. O
rei, para dar uma prova da sua amizade aos novos
religiosos e manifestar-lhes a sua proteção, quis que
usassem sôbre o escapulário o escudo das suas armas.
Terminada a missa, o príncipe conduziu São Pedro
Notasco, co(n os seus religiosos, ao palácio, na parte
gue lhes reservara como mosteiro. Assim, coisa notá-
vel, o primeiro mosteiro da ordem da Graça para o
resgate dos cativos foi o palácio do rei de Aragão;
os primeiros religiosos, os primeiros redentores foram
gentis-homens franceses. Conservaram nêle, exata-
mente, a regra de vida prescrita por São Raimundo
de Penhaforte, à espera de que a Santa SC lhes deter-
minasse uma regra'particular.
Os religiosos empenhârârn-s€ a princípio em res-
gatar alguns cativos. Não saíam das terras suieitas
aos príncipes cristãos. Mas São Pedro Nolasco
mostrou-lhes gue, pela perfeição da ordem, era mister
ainda passar p;ara o campo dos infiéis, e libertar os
irmãos da cruel servidão do inimigo, até com o risco
de Iá ficarem, escravos, no lugar dêles, de acôrdo com
o voto feito ao pé do altar. Não se tratava de

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302 PA DR E ROHRBACHER,

ir imediatamente, mas de delegar um dentre êles para


as santas negociações, que desde então se chamou
com o glorioso nome de redentor. Foi êle próprio
escolhido, corr outro, para abrir aos demais o caminho
de tão perigosa viagem. A primeira coisa que fêz no
reino de Valencia, então ocupado pelos sarracenos,
foi bastante feliz. -A segunda viagem, ao reino de
Granada, não obteve menor êxito, tanto gue retirou
quatrocentos escravos das mãos dos infiéis, nas duas
expedições (1).
Os muçulmanos ficaram singularmente impres-
sionados com o brilho das virtudes do santo varão,
e vários dentre êles abriram os olhos à luz do Evan-
gelho.
Considerâvâ-se Pedro Nolasco o último dos seus
religicsos, e procurava com solicitude os mais humil-
des misteres da comunidade. Gostava, sobretudo, de
distribuir esmolas à porta do mosteiro, porque tal fun-
ção o punha em condições de instruir os pobres e
exortá-los à prática da virtude.
Passou por longas e dolorosas enfermidades, e
morreu no dia de Natal de 1256, em Barcelona, onde
se lhe conservam os restos. O papa Clemente VIII
fixou-lhe a festa em 31 de janeiro.

***

(1) Vita S. Petr. Nolasci, Acta SS., 31 jan. Helyot, Histoire


des ordres religieux, t. Iff.

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sÃo crRo E sÃo JoÃo
M ártire,s
Cyr ou Ciro eÍa da própria Alexandria, e lâ
exercia a profissão de médico, cur;.r Co as almas dos
erros paganismo, bem como elir:.;iando dos corpos
-do
as enfermidades. Foi denunciado ao governador sirio
como homem que desviava as pessoas do culto dos
ídolos e as persuadia a adorar ]esus crucificado. o
governador ordenou que o prendessem. Refugiou-se
o santo nas fronteiras da Arábia, mudou de vestes,
raspou a cabeça, envergou o habito de monge, e con-
tinuou a curar corpos e almas, valendo-se apenas da
fé e da prece. |oão era de nascimento ilustre e ocupava
cargo elevadc na milícia secular. Tendo ido Íur",
uma peregrinação a ]erusalém visitc,u o Egito, e
uniu-se a Ciro, atraído pelas notícias das suai mila-
grosas curas. Edificando-se um ao outro, realizavam
todos os dias novos progressos na virtude. Tendo
redobrado a perseguiçãó, três virgens cristãs de
canopo, consagradas a ]esus cristõ foram detidas
com sua mãe Anastásia, e levadas à presença do
governador sírio. são ciro, tendo sabidó da nova no
seu retiro, temeu que aquelas jovens, intimidadas à
vista dos suplícios, renegassern o cele-qte espôso,
sobretudo po; causa ca jüventude, pcis Teotista, á
mais idosa das três, mal contava guinze anos, Teodota
a segunda, contava treze, e EudOxia, a última, tinha

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304 PA DR E ROHR,BACHER,

apenas orlze. Sao Ciro voltou, portanto, ê Alexan-


dria, acompanhado de ]oão. Entram na prisão, ixor-
tam as joíens virgens a depositar tôda a confiança
em |esus Ctisto, a guem se consagraram, e gue l!r"t
darâ fôrças no meió dos tormentos. Inspiram-lhes
uma coragem superior à idade e ao sexo. O gover-
nador, saledor do gue se havia passado, mandou
fôssem ambos levados ao seu tribunal, bem como as '

três virgens e sua mãe, A princípio, tentou conguistar


Ciro e foão, por promessas, oferecendo.lhes dinheiro,
honras, postôs, óe voltassem a adotar a religião do
príncipe. Diante da recusa dêles, obrigou-gs a supoÍ-
iar tôãa espécie de tormento, chicotadas, ferro, fogo.
Vendo os dois homens insensíveis, como se tivessem
sofrido num corpo estranho, mandou gue os afastas-
sem, e começou 'a torturar as virgens e sua mãe.
Como se revelassem inguebrantáveis, ordenou Cof-
tassem a cabeça da mãe e das três filhas. Depois,
voltou aos dois mártires, Ciro e foão, com uma mistura
de promessas e torturas, acabando, porém, poi deca-
pitá-los. Os cristãos transportaram os corpos para
â igre;a de São Marco, e colocaÍâr.Í-ÍIos, as três vir-
gens e sua mãe num túmulo, os dois alnigol S."o
Õiro e São Ioão noutro. Mais tarde, São Cirilo,
patriarca de Alexandria, transferiu São Ciro e São
ioão para a igreja dos Evangelistas, à beira do mar,
ârrde efetuarã- uma infinidãde de milagres. São
Sofromo, patriarca de )erusalém, escreveu â Ílâffâ-
tiva pormen oúzada de setenta dos milagres, tendo-se
o ultimo realizado com êle próprio. Por reconheci-
mento, compôs a história doi dois santos, encontrada
nos nossos dias pelo cardeal Mai.

T+T

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I I

A BEM-AVENTURADA LUÍSA
ALBERTONI
Nasceu em Roma, em 1470, de pais ilustres pelo
nascimento. Desejou, desde a mocidade, consagrâf-se
ao Senhor, mas, por obediência à vontade de pai e
máe, desposou |âcomo de Citara, gentil-homem Íe-
pleto de'boas gualidades, de guem tev.e três filhas,
e que a deixou viúva após alguns anos de casamento.
Livre, então, abraçou á ordem terceira de São Fran-
cisco e mostrou-sL digna filha do bem-aventurado
patriarca, pelo amor à penitência e mortificação, a-ssim
ão*o pelo- desapêgo às coisas da terra. Numa fome
que, no seu tempo, devastou a ltália, vendeu os bens
$uru aliviar os pobres, e ela própria se viu reduzida
; indigência. h esmo,la fisíca uniu a misericórdia
espiritüal, dirigindo aos pobres palavras de saudação,
e cuidando das suas necessidades. Deus lhe deu a
conhecer o momento da morte, para a qual ela se
preparou mediante os sacramentos, e manifestando
'ruú" júbiic ao ver chegar o fim do seu caminho na
teÍra. A santa mulher ado,rmeceu no Sono dos iustos,
em 31 de janeiro de 1530, com a idade de sessenta
anos. A ordem de São Francisco lhe honra no mesmo
dia a memória, por licença do papa Clemente X ( I ).
s&s
(1) Godescardo, 31 de janeiro.

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SANTA MARCELA (*)
Viúüa
Santa Marcela é o modêlo das viúvas cristãs.
Nascida numa ilustre família de procônsules e de
governadores de províncias, casada, perdeu o espôso
sete meses depois do casamento. Resolvida a se
ccnservar em tal estado, consagrada ünicamente a
Deus, Marcela empregou a riqueza fazendo o bem:
alimentava e vestia a pobre za de Roma. Uma das
primeiras mulheres a levar vida solitária e retirada,
era o protótipo do ser que vive isolado no seio da
multidão que se azaf.affiâ, e azaf.ama em vão.
Dada ao estudo da Escritura santa, manteve
contatos com São |erônimo, quando o grande Santo
estêve em Roma. Explicando à santa viúva âs pâssâ-
gens mais difíceis, adquiriu Marcela tais luzes, que
úegou a ser uma como intérprete dos ensinamentos
do doutor imenso, que lhe escreveu onze cartas e dela
fala em vários dos seus escritos.
Santa Marcela jejuava com regularidade, e as
abstinências a gue se dava eram rigorosas. Vestin-
do-se com simplicidade, era sempre procurada por
virgens e viúvas modestas, gue desejavam consôlo e
edificação.

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VIDAS DOS SANTOS 307

Santa Marcela. (Segundo uma estampa do século XVII),

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I
308 PADRE ROHRBACHER

Pouco antes da sua morte, os gôdos invadiÍarn a


cidade de Roma, pilhando-a e calcando-a bàrbara-
mente. Vários dêles, entrand.o-lhe pela casa, exigiram
a riqueza que julgavam Marcela possuísse.
Terâ riquezas, perguntou calmamente aos
bárbaros, quem como eu vive tão pobremente?
Considerando aquela simplicidade, aquela po-
breza no vestuário apenas aparente, avançaram para
ela e a esbordoaram impiedosamente. Marcela, em
silêncio, sem uma queixa, a tudo suportou, como que
insensível. Varejaram-lhe a casa, revistando-a cômo-
do por cômodo, e deram com a filha, Princípia.
Aqui, a heróica viúva, interpondo-se, rogou aos
invasores:
Fazei o que guiserdes, mas não afastai minha
filha de mim.
Deus, intervindo, abrandou o coração daqueles
homens, e Marcela e Princípia foram encaminhadas
à igreia de São Paulo, que thes devia servir de asilo.
Dando sraças a Deus por aquela bondade divina,
Santa Marcela, pouco depois, falecia santamente. Era
no ano de 410, e São ferônimo dizia: "Cadâ rro-
mento de sua vida foi uma preparação para a morte".
Santa Marcela, corajosa e ptrblicamente, defen-
deu a verdade ortodoxa contra os erros dos originis-
tas, confundindo-os e mostrando-lhes a impiedade da
doutrina. Supõe-se que o 31 de janeiro não tenha
sido o dia de sua morte, que deve ter ocorrido, segundo
São ]erônimo, a 30 de agôsto.

***

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I
-

SANTO ADAMNAN (*)


Conf essor
O venerável Beda conta que Adamnan era ainda
bem moço, quando se viu culpado de uma falta grave,
recorrendo, então, a um sacerdote para obter perdão.
E, humildemente, dizia:
Tudo aquilo que me impuseres como penitên-
cia, cumpri-lo-ei.
O padre olhou-o docemente, e respondeu:
Content a-te com um jejum de três dias. Dir-
te-ei, depois, o que deverás f.azer.
Adamn an Í.êz o que lhe disse o confessor, mas,
antes de terminar os três dias de jejum, veio a saber
que o bom sacerdote que procurara havia morrido. E
pensando que aquilo significava a vontade de Deus
no que dizia respeito à continuação da penitência, e
penitência para tôda a vida, foi apresentar-se à abadia
de Coldingham, onde passou a professar, vivendo
debaixo das maiores austeridades.
Certa vez, estava Adamnan com um monge, a
alguma distância do mgsteiro, quando, sem Que âpa-
rentemente houvesse mótivo, principiou a chorar ser-
tidamente, derramando abundantes lágrimas.
Que tens, irmão? perguntou o monge âssus-
tado. Sentes alguma coisa?
Adamnan, apontando o mosteiro, sempre a cho-
rar, resDondeu ao espantado comDanheiro:

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3ro PA DR E R,OHR,BACHER

Dia virá em gue todos aguêles belos edifícios


gue daqui vemos serão consumidos, irremediàvel-
mente, pelo fogo.
Era uma profecia? O fato é gue o sucesso acabou
chegando ao conhecimento da abadessa, então Ebba,
gue o mandou chamar. Diante dêle, perguntou, muito
séria:
Que vem a ser isto que dizem sôbre um incên-
dio gue haverá de consumir com o mosteiro?
Adamnan então contou gue tivera uma visão,
dizendo:
Certa noite, estava eu orando, guando alguém
me apareceu, alguém que jamais vi em tôda a minha
vida, e declarou que todo o mosteiro seria devorado
pelo fogo, como punição do relaxamento que se intro-
duziu entre os membros da comunidade.
E por que não disseste nada atê hoje?
Adamnan, desculpando-se, respondeu:
Porque tenho por ti muito respeito, e não
queria câusâÍ-te transtornos ou vexames. Devia,
porem, contar-te tudo, uma vez gue a pessoa que me
apareceu na cela disse que o incêndio não ocorrerá
na tua administração.
A abadessa advertiu as religiosas. E, por algum
tempo, o fervor e as austeridades voltaram a imperar.
Durou pouco, todavia, aguêle ardor, e Coldingham,
com efeito, em 686 foi devora§o pelas chamas, tal a
decadência do meio, gue resultou de uma freqüência
de religiosos e religiosas a uma só igreja.
Santo Adamnan, santamente, faleceu em 689.

ssa
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sÃo IoÃo Bosco (*)
Conf essor
|oão Bosco era filho de Francisco Bosco e de
Margarida Occhiena, simples aldeões de Murialdo,
lugar situado na província de Turim, onde o anjo da
família salesiana nasceu a 15 de agôsto de 1815.
Aos dois anos, morreu-lhe o pai, e Margarida
encarregou-se da educação do filho, inspirando-lhe
a sobriedade, o amor ao trabaiho e o gôsto da oração.
Ansioso de instrução, senhor de ótima memória e de
grande espírito de observação, ajudado pelo cura
da paróquia, padre Caiosso, gue lhe administrou
algumas lições de grarnática, foi |oão crescendo em
ciênciaapoucoepouco.
Eis que chegou ao jovem o momento de escolher
a carreila qug devia seguir. Como não podia deixar
de ser, |oão Bosco não titubeou em abraçar o sâcer-
dócio. Inicialmente, propenso a se unir aos francis-
canos, desistiu do intento, a conselho do confessor,
padre Cafasso, diretor do instituto de São Francisco.
Em 30 de outubro de 1835, |oão Bosco entrava
para o orencle seminário de Chieri. E ali, ccmpene-
tradarnente, estudou com grande afinco.
Or.denaclo padre em 1841, oo dia 5 de junho,
principiou obra de apostolado. Visitava os pobres,
buscando-os pelas ruas, os dgçntq5 gos hospiiais, os

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I
312 PADRE ROHRBACHER

presos nos cárceres. E, achando gue tal ministêrio


ih" duria maiores frutos se entrasse no instituto do
padre Cafasso, assim [ê2.
São )oão Bosco ia iniciar brevemente o seu Ora-
tório salesiano. Um dia, o sacristão de Sáo Francisco
expulsava da igreja, brutalmente, um menino desco-
nhlcido. |oão, o futuro pai de incontáveis órfãos,
compadecido, tomou-lhe a defesa. E o pequeno, .lr"-
*urrã-r" Garelli, desde aquêle dia, 8 de dezembro
de 1841, deu de ir ao padre |oão Bosco para dêle
receber lições de catecismo.
Não demorou muito, vários amiguinhos passaram
a acompanhar o pequeno Garelli. E, em Íevereiro,
vinte deles enchiam a sacristia de São Francisco.
Nomeado diretor do instituto de Santa Filo-
mena, era então em 1844, São |oão e o abade Borel
ocuparam-se de um asilo que a marquesa Barolo
havia fundado. Ali, trezentas crianças viviam aperta-
damente. Deixando o orfanato, pouco depois, |oão
Bosco, que estivera bem doente e fôra curado por um
milagre, desde então, passou a se consagrar exclusiva-
-erte à obra bem amada, sem mais recursos gue a fé
que em Deus depositava. Que devotamento! Quanta
luta! Quão grande a falta de dinheiro! Que heroís-
mo. que persistência e que confiança na Mãe de
Deus!
Graças à generosidade de pessoas caridosas, em
19 de fevereiro de 1851, uma casa fôra adquiridâ, e
uma igreja construída. E o número de crianças
crescia.
Tratando-sê de crianças, São |oão Bosco estava
sempre atento, dia e noite, procurando preservá-las

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I
VIDAS DOS SANTOS 313

do mal, dos sofrimentos, levando-âs ao bom caminho.


Com sua paternal bondade, com uma doçura que lhe
fôra sempre característica, |oão Bosco cuidava de
tudo: desde a saúde do corpo até o desenvolvimento
das infantis inteligências, trabalhando febrilmente,
com os olhos voltados para Maria Auxiliadora, para
o aperfeiçoamento das almas daqueles que desejava
sempre inocentes. E os pequenos, confessando com
freqüência, e com freqüência comungando, assistiam
à santa missa todos os dias.
Em 1856, o grande e santo homem perdeu a mãe,
mulher piedosa, desprendida e tôda devotamento, a
colaboradora de tôdas as horas. E o bom filho, êle
mesmo, administrou-lhe os últimos sacramentos. Que
pensamentos relampagueariam no cérebro de uma
santa mãe moribunda naquele extremo, vislumbrando
o filho amado a cumprir tão santos deveres?
Em I 857, reuniu São |oão Bosco numa comuni-
dade religiosa padres e clârigos formados por seus
desvelos e lhes deu uma regra. Estava fundada a
Sociedade Salesiana, que o papa Pio IX aprovou
em 1874.
São |oão Bosco, com a obra das vocações Sâcer-
dotais, deu à Igreja mais de dez mil padres, e por
todo o mundo espalharâÍr-se os seus oratórios: no
Tirol, na Sicília, na França, na América. Em Paris,
era queridíssimo, e o povo, quando lá estêve, receb€u-o
festiva, reverentemente.
Em 1887 sentiu que chegara ao fim da vida. Era
em dezembro, e pôs-se a redigir uma longa circular
sôbre as obras salesianas. E a 31 de janeirô, rodeado

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314 PA DR E ROHRBACHER

da família religiosa, o venerável padre, o pai de uma


infinidade de ôrfãozinhos, consolado pelos sâcrâ-
mentos da Igreia, docemente, entregava a alma, a
grande alma, a Deus.
Turim propiciou-lhe funerais magníficos. E a
multidão, sem cessar, repetia, contrita e convencida-
mente:
Dom Bosco é santo! Dom Bosco ê santo,
santo, santo!
Ainda em vida, denominaram-no o São Vicente
de Paulo da ltália, e o povo a êle atribuía uÍl seÍl-
número de milagres. Com efeito, São ]oão Bosco
soube realizar milagres no exercício da caridade. A
obra mesma do santo homem foi verdadeiramente
miraculosa, e do disciplinador da infância desprote-
gida, dizia Pio IX a um doente ansioso por se ver
curado:
Se desejas um milagre, dirige-te a Dom Bos-
co, padre de Turim. O que êle f.az é um verdadeiro
milagre, e não me admirarei nem um pouco se operar
outros mais.
qÊ {Ê {Ê

No mesmo dia, em Módena, São Seminiano,


bispo, notável pelos milagres, falecido em 348.
Na região milanesa, São |ulio, padr-e e confessor,
nos tempoJ
-
do imperador Teodósio. Com o irmão,
]uliano, ambos originários da Grécia, deseiosos de
propaga r a f.é no Ocidente, foram bem acolhidos na
-
.Oríe. Iuliq exa padre, e o irmão diácono. A São

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VIDAs Dos saxros ái5

|ulio é atribuída a ressurreição de um morto e a


travessia miraculosa de um lago pata alcançar uma
ilha, onde, mais tarde, construiu uma igreja em honra
dos doze apóstolos. Morto o irmão, erúo em Nov aÍa,
a quem assistiu e rendeu os últimos deveres, faleceu
São |ulio, anos depois, em 399.

Na Irlanda, Santo Aidan, bispo e confessor,


falecido em 626. Nascido no condadó de connaught,
desejoso de se formar na vida religiosa, procurou, na
Gália, viver sob a direção de Davi de Menevia. Ter-
minados os estudos das ciências sagradas, tornou à
Irlanda, guando, então, grande número de milagres
foi por êle operado.
Em Amiens, Santa Ulfa, ou Ulfia, virgem, Írâs-
cida em soissonnais. consagrando-se a Deús, joven-
zinha ainda, retirou-se para perto de Ami"r., onde
erigiu um eremitério e se devotou ao serviço de um
anacoreta velho e enfêrmo, chamado Domício, gue
vivia solitàriamente nas vizinhanças. Falecida ã*
750, sôbre seu túmulo foi levantado um mosteiro
denominado do Paracleto. As relíquias de santa
ulfa, juntamente com as de Domício, t veho ârâco-
reta, foram transferidas para a catedral de Amiens.
Em Evreux, São Gaudio, bispo e confessor, que
trabalhou ardorosamente paÍa abôlir as superstiçóes
do paganismo que imperavam por todo o pâir, o que
conseguiu quase que totalmente. Faleceu em +gt.
Em São Gall, na Suíça, o bem-âverturado Eusé-
bio, recluso e mártir, irlandês de origem. cheio do
desejo de viver recluso, obte_ve perárissão para se
encerrar numa cela situada no Monte são vítór, onde

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316 PADRE ROHRBACHER

praticou extraordinárias mortificações e se entregou às


ãoçurur da contemplação. Deus conferiu-lhe o dom
da profecia. Consta gue, por ter admoestado um mau
homem das vizinhanças, Íoi por êle morto a golpes de
foice, em 884.
Em Troyes, São Potâmio, confessor, que foi
senhor daquela localidade e gue, cometendo uma
falta gturr", demandou Roma para obter o pe1d.ão do
Santo Padre. De volta, entregou-s€, na solidão, à
penitência.
Em Troyes ainda, São Bobino, ou Bovino, bispo,
antes abade de Moutier-la-Celle. Faleceu em 766.
Na Grécia, Santo Atanásio, bispo e confessor,
originário de Catânia, Írâ Sicília. Bispo de Metona,
desapareceu no ano de 880.
Em COrdova, São Martinho, mártir, português,
nascido nas vizinhanças de Coimbra. Foi padre,
depois cônego de Braga. Distinguiu-se pelo carinho
dedicado aos doentesr gue consolava e exortava a ser
pacientes e resignados. Aprisionado pelos mouros,
edificou os companheiros de infortúnio. Morreu numa
prisão de Córdova em ll47 , sendo honrado como
mártir.
No mesmo dia, em Alexandria, São Metrano,
mártir gue, sob o imperador Décio, não querendo
-palavras
proferir ímpias impostas pelos pagãos, teve
; corpo inteiro quebrado a bordoadas; os algozes,
depoii de lhe Íurarem o rosto e os olhos com pontudas
varas, e de o expulsarem da cidade, sem interromper
o tormento. mataram-Ílo â pedradaS. Na mesma

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VIDAS DOS SANTOS 317

cidade, os santos mártires Saturnino, Tirso e Vítor.


Ademais, os santos Tarcísio ,'Zotico, Ciríaco e seus
-companheiros, mártires. ,- Em Cizica, no Helesponto,
Santa Trifena, que, após superar vários tormentos,
foi mcrta por um touro e mereceu a_palqa do martírio.
,- No -es*o dia, trasladação de São Marcos, evâÍl-
gelista, guando o seu sagrado corpo, guese encontrava
ãm Alexãndria, cidade do Egito, ocupada então pelos
bárbaros, foi levado aYeneza e colocado, com honra,
na principal igreja, dedicada a Deus sob o seu nome.

Deus dando os Dez Mandamentos. (Mi-


niatura de um mosteiro do século XrV).

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", everelrc
/>

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1,. DIA DE FEVEREIRO
SANTO INÁCIO
Bispo de Antioquia e mártir

Apó-s as santas personagens gue tinham tido a


ventura de ser instruídas na própria escola da divina
sabedoria, vêm as gue, tendô tiatado familiarmente
com os apóstolos e discípulos do senhor, foram, no
segundo século, fieis intérpretes da divina palavra,
puros canais das tradições apostólicas e defensores
da fe contra a audácia das heresias.
À testa dêsses grandes varões surge o santo
mártir Inácio, cognominado Teóforo. Tãndo abra-
çado a .Í.e.pelo ministério dos apóstolos, particular-
mente de são João, foi um dos seus discipulos mais
íntimos, recebeu a ordenação das mãos deles e por
êles foi destinado ao bispádo de Antioquia, a mais
famosa igreja de todo o oriente, e metrópole de tôda
a Síria. sucedeu a santo Evódio, gue hurria substi-
tuído são Pedro. Governava tal ígreja durante a
tormenta provocada pela perseguição de Domiciano.
sabio e experimentado píloto, leCorria umas .vêzes,
pelo jejum e pela precej a guem comanda ventos e
mar; outras, com o brilho da sua doutrina, dissipava

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322 PADRiü ROTiRtsAÇIiER

as nuvens gue aguêles tempos tormentosos podiam _

formar no eipírito dos neoÍitos; outras pela IOrça da


aima inspirava coragem aos pusilânimes e os animava
à perseverança. Pássada a tormenta, rejubilava-se
com a paz devolvida à lgreja, mas afligiaje por não
ter sidó considerado digno do martírio. Entretanto,
submetido às ordens da Providência, dedicavâ-s€ a
tudo guanto cabe a um bom pastor, editicando o
rebanho com as suas raras virtudes, nutrindo-o todos
os dias com o pão da divina palavta, e garantindo-o
pela vigilância contra tôdas as emboscadas do cisma
e da heresia.
Chegava, entretanto, o momento fixado no céu
para recompensar os trabalhos do f iel servidor e

latisÍazer-lÉe os desejos. Trajano, entusiasmado com


as vitórias obtidas contra os dácios, citas e outros
povos, persuadido qqe à sua gloria só faltava
submeter o proprio -deDeus-dos cristãos e a êstes obrigar
ao sacrifício às divindades dêle, provocou uma pefse-
guição tão violenta, gue os cristãos se viram Dâ oec€s-
íiaãa" de perder a fé ou a vida. O perigo ameaç1yu
especialmente os bispos, julgando o inimigo gue lhe
.ã"iu facil destruir o exérci-to aPos abater o chefe,
dispersar
- --- o rebanho apól matar ou desviar o pastor.
t.ujano, saindo áe. Ro*a com tal plano, chegou
a Antioqrriu, e lá se deteve algum tempo, a fim de
Íazet
os prepárativos para a guerla contra os partat.- F*-
bora sãubess" qú" os biipos eram as primeiras vítimas
destinadas ao sacriÍício, Inácio, intranqüilo apenas
nem subtrair-
Éfu sua igreja, n9m guis abandona-la, pelo contrário'
,e, p"lu [ugu, ao furoi da perseguição;
deixou-se conduzir, sem resistãncia, à presença do
imperador, gabando-se de the poder temperat o 11-1o-t
da ira com o seu sangue, ou encorajar as ovelhas'

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VIDAS DOS SANTOS 323

pelo exemplo, a não temerem a morte. Trajano, ao


vê-lo, disse-lhe: "Quem és, mau demônio, ( I ) para
não sômente ousares infringir as minhas ordens, como
também persuadir os outros a fazer o mesÍno e perecer
tão miseramente?
- Ninguém, respondeu Inácio. ja-
mais chamou Teóforo de mau demônio, pois os demô-
nios tremem diante dos servidores de Deus e deitam a
correr. Se me dais tal nome por me haver eu tornado
temível aos Ínaus gênios e por lhes ter feito mal, será
para mim uma glória usá-lo, porquanto recebi de |esus
Cristo, rei clo céu, o poder de lhes estragar todos os
planos. E quem é Teóforo? acrescentou o impe-
rador. Inácio: Aquêle que traz a Cristo no coração.
Parece-te que nós tambem não temos no coração
os deuses que nos aiudam a vencer? Se chamais
cleuses os demônios dos povos, replicou Inácio, enga-
nais-vos. Não há senão um Deus, que Í.êz o céu e a
terra, o mar e tudo quanto nêles se contém. Não
hâ senãc um |esus Cristo, seu Filho único. Quem
me clera chegar ao seu reinol Quem estás invo-
cando? indagou imediatamente Trajano. Como, por-
ventura êsse ]esus gue Pôncio Pilatos mandou fôsse
pregado numa cruz? Dizei antes, retrucou Inácio,
que êsse |esus pregou, êle próprio, à cÍuz o pecado e
o seu autor, e que desde então deu aos que o trazem
no seio o poder de pisar todos os embrrstes dos demô;
nios e tôda a sua maldade.
cado contiqo? interrompeu-o - Trazes, pois, o Crucifi-
o imperador. Sim,
indubitàvelmente, respondeu Inácio, pois está escrito:
habitarei nêles e ali caminharei."
- Trajano,
feriu
irritado eom respostas tão vivas, pro-
esta sentença r "ordenamos qtre Inácio, o qual

(1) o vocábulo grego quer dizer também infeliz, kakodatnon.

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324 PADRE ROHRBACHER

se gloria de fiazer o Crucificado,'seja pôsto a ferros e


conduzido por soldados à grande Roma a fim de ser
devorado pelas feras e servir de distração ao povo."
Ao ouvir tais palavras, o santo mártir exclama num
transporte de júbilo: "Dou-vos graças, Senhor, por
vos haverdes dignado honrar-me com um perÍeito
amor a vós, por ser agrilhoado com as mesmas cadeias
usadas pelo vosso apóstolo Paulo." Terminando tais
palavras, êle próprio se agrilhoou, orou pela igreja,
recomendou-a ao Senhor, com lágrimas, e colocou-sê
entre as mãos dos cruráis soldados que deviam condu-
zi-lo a Roma para servir de pasto aos leões ( I ) .
A intenção de Trajano, transportando para tão
longe das suas cidades os bispos condenados à morte,
era esgotar-lhes a paciência, esfriar-lhes, com os incô-
modos de longa e penosa viagem, o ardor da caridade,
dobrá-los, enfim, à sua vontade e triunfar da coÍIS-
tância que apresentavam. Mas a Providência riu-se
de todos aquêles cálculos; a viagem do santo mártir
até Roma pareceu-se à do sol que, caminhando do
oriente para o ocidente, espalha por onde passa torren-
tes de luz e calor (2) .
Deseiando ardorosamente sofrer, partiu o santo
com grande pressa e alegria de Antioquia para Selêu-
cia, onde embarcou com dois dos seus discípulos,
Filon, diácono de Cilicia, e Agatópode, que se iulgam
ser autores dos atos do seu martírio, alêm de dez sol-
dados que constituíam a guarda. Após longa e peri'
gosa navegação, chegaram a Esmirna, famosa cidade
da ]Oniâ, güe então disputava o primeiro lugar com
(1) Ver os atos do martírio de Santo fnácio, nos Acta S§, 1 de
fevereiro e em Ruinart.
Q) Crisóst., Homil. in §. Ignat,

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VIDA§ DO§ §ANTO§ 32b

ÉÍeso. Mal desceram à terra, apressou-se InáciJ


em ir visitar Santo Policarpo, bispo dessa cidade, o
gual, como êle, Íôra discípulo do apóstolo São João.
Quem poderá descrever o consôlo de semelhantes
amigos ao se reverem, os seus abraços, beijos, lágri-
mas, palavras? Se o bispo de Antioguia se rejubilava
por estar agrilhoado por ]esus Cristo, com gue afe-
tuosa ternura e com gue sagrado ciúme não lhe devia
Sao Policarpo beijar os grilhões?
Mal as igrejas da Àsia souberam da chegada
do santo mártir a Esmirna, movimentaram-se para
lhe testemunhar o seu amor e veneração, prover a
tudo guanto lhe era mister, e valer-se dos seus eX€rtr-
plos; admirar-lhe a constância, o fervor e a piedade;
ouvir-lhe os ensinamentos, desfrutar das suas coÍtver-
sações, dar-lhe e dêle receber os derradeiros adeuses;
e finalmente, por meio dos bispos e diáconos, celebrar
com êle a Eucaristia, e, pelas suas mãos, participar
dos divinos mistérios. Assim, a igreja ãe Efêso
etrviou-lhe o bispo Onésimo, â quem êle chama varão
de inefável caridade; Burros, diácono, digno dela e
do seu pastor, bem como Croco, Euplo é Frontão.
Inácio julgou ver na reunião dagueles cinco varões
a cristandade inteira. Os magnesianos enviaram-lhe
Damasco, seu bispo, varão digno de Deus; os sâcer-
dotes Basso e-Apolônio, e o diácono Sózion, nos guais
diz êle, semelhantemente, ter admirado, com or orhot
da fe e da caridade, tôda a multidão dêles. Final-
mente, os tralianos lhe mandaram o bispo Políbio, gue,
vendo-o acorrentado por amor a ]esls cristo, óo*
êle se congratulou tanto em seu nome como no de
sua igreja.
Inácio, sensivelmente comovido com aguêles si-
nars de benevolência, louva-os como verdadáiros imi-

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326 PAD}üE ROHRIJÂOTTEH

tadores de Deus, acrescentando ter visto no bispo


uma espécie de espelho de sua caridade; bastava vê-lo
para receber ensinamentos; a sua fôrça estava na
doçura, tanto que os próprios ateus o deviam venerar.
O santo mártir chama aqui de ateus e infieis os here-
ges gue negavam a realidade da encarnação de |esus
Cristo. Quando o santo percebeu, em seguida, a
ternura com a qual todos o amavam, as lágrimas que
sôbre êle vertiam, o pesar por o verem conduzido
daquela maneira a Roma, a fim de servir de pasto aos
Ieões, e rnuito mais por notarem que se apagava na
Igreja tão gran de luz, temeu que, em Yez de o aiuda-
rem com as preces a terminar a jornada, pedissem a
Deus a sua libertação, e, assim, lhe arrebatassem a
coroa que jâ via fulgir sôbre a cabeça. Foi por isso
gue, tanto nas conversas particulares como nas cartas
conjurava tôdas as igrejas, e particularmente Poli-
carpo, a que lhe granjeassem de Deus a graça do
término do combate, e, sepultado nas entranhas das
feras, invisível ao mundo, se tornasse visív el a ]esus
Cristo.
O que receava, sobretudo, eram os rogos e o
demasiado amor dos romanos por êle. Tendo, pois,
encontrado em Esmirna cristãos que rumavam para
Roma, deu-lhes, para os da capital, uma carta que
não tem, por assim dizer, outro objetivo senão conju-
rá-los a não retardar, mediante preces, a execução
do seu martírio. Na inscrição de tal epístola, pode
vef-se um ilustre testemunho da prim azia da Igreja
romana. Quando o santo mártir escreve aos fieis
das demais cidades , diz, acrescentando muitos lou-
vores: À Igreja gue está em Éfeso, à Igreja gue está

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V lD A§ DO§ §ANT O§ 32',1

em Magnêsia, à Igreja que está em Esmirna-(l) ' Mas


aos romanos a linguagem é diversa: À Igreja que
preside o país de Roma, à.I_g.reja gue.preside a cari-
ãade, diz-se no enderêço (2) ; e no fim da missiva:
Lembrai-vos, nas vcssas preces, da igreia da Síria;
não tenha ela cutro bispo senão |'esus Cristo e vossa
caridade (3 ) .
"Temo a vossa caridade, diz, temo que me preju-
,dique. Se não falardes de mim, estarei com Deus;
mas Se me amardes Segundo a Carne, Sef-IIle-á preCiSO
voltar ao caminho. Escrevo às igrejas e a tôdas digo
que morro de boa vontade por Deus, se não opuserdes
óbstáculos. Coniuro-vos, portanto, não tenhais por
mim uma benevolência inoportuna. Deixai que eu
me transforme em nutrimento das feras, e que, por
elas, chegue a Deus. Sou o trigo de Deus; seia,
pois, moído pelos dentes dos leões, para que em
|esus Cristo eu seja um pão sem mancha! Acariciai
as feras , para que me -sirvam de túmulo e não deixem
nada do meu corpo. Serei, dessarte, ufl verdadeiro
discípulo cle |esus Cristo, quando o mundo não vir
sequer CI meu corpo.
"Orai a fesus Cristo por mim, para que termine
o meu sacrifício. Oh, como suspiro pelas feras que
me aguardam! Desejo vê-las prontas. Hei de acari-
ciá-las para que me devorem seÍn demora e não me
façam o que fazem a muitos, a quem temem tocar.
Se me não quiserem, saberei forçá-las.
(1) Ekklesía. . . te ouse en Smyrne. Coteler., Patres Apost.
t. ff, p. 86.
(2) Hetis prokathetai en topo Chorou Romaion.. ., kai pro-
kathemene tes agapes. Ibid.. p. 26.
(3) Monos auten fesous X Christos episcopese, kai hymon
agape. fbid., p. 30.

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328 PADR,E ROHRBACHER

"Perdoai-fro. Sei'o que me é útil. Agora é gue


começo a ser discípulo. Nem as coisas visíveis, nem
as invisíveis, nada me toca, contanto gue obtenha
]esus Cristo. Caiba-me o fogo, a cruz, as feras, a
separação dos ossos, a divisão dos membros, a des-
truição de todo o corpo, todos os tormentos inventa-
dos pelo diabo, contanto que me rejubile em ]esus!
Morrer por |esus é para mim melhor do que ieinar
até os extremos da terra. Busco guem por nós rnor-
reu, quero guem por nós ressuscitou.
"Perdoai-rno, meus irmãos; não me impeçais
rumar para a vida, não queirais gue eu morra. Visto
que quero ser de Deus, não me faleis do mundo;
deixai que desfrute da pura luz; guando lâ estiver,
serei varão de Deus. Permiti que imite a Paixão do
meu Senhor. Se alguém em si o possui, compreende o
gue almejo; e conhecendo o gue experimento, tem
pena de mim. O príncipe dêste mundo quer arreba-
tar-me, e corromper a minha vontade rumo a Deus;
ninguém, dentre vós, lhe siga o exemplo; segui, antes,
o meu, isto é, o de Deus. Não viva em vós a inveja.
Se vos pedisse outra coisa, estando presente, ,râo
me deis ouvidos; crede, antes, no que vos escrevo,
p_ois vos escrevo cheio de vida, mas desejoso da morte.
O meu amor está crucificado. Não há em mim uma
fagulha sequer que ame a matéria, mas uma viva áqua
que fala dentro em mim e me diz: Vamos ao Pai!
Não sou sensível nem ao nutrimento corruptível,'nem
aos prazeres desta vida. Desejo o pão de Deus, o
pão: celestial, que é a carne de ]esus Cristo, o Filho
de Deus, nascido da raça de Davi e de Abraão; deseio
a bebida de Deus, o seu sangue, gue é a caridade
incorruptível e a vida sem fim. Não guero mais viver
segundo os homens. Terei tal prazer, se guiserdes;

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VIDAS DOS SAN:tOS 329

se sofrer, será sinal de que o guisestes, se não, que


me tereis odiado ( I )."
As demais epístolas não são menos dignas de
um discípulo dos apóstolos, de um mártir de |esus
Cristo, numa palavra, de um Inácio. Pode-se-lhes
ver o resumo e a doutrina na História da lgreja.
De Esmirna, foi Santo Inácio levado a Troadas,
onde teve o consôlo de saber gue o Senhor dera a
tranqüilidade e a paz à sua igreja de Antioquia, como
se depreende das suas últimas três missivas às igrejas
de Filadelfia e de Esmirna e ao santo bispo Policarpo.
Não satisfeito, contudo, de lhes participar tal nova,
que êle supõe com razáo dever ser-lhes agradabilíssi-
ma e que atribui principalmente ao fervor e ao mérito
dos seus rogos, conjura-os ainda a escolher um
diácono ou cutra pessoa autofizada, e enviá-la na
gualidade de legado à Síria paÍa, em nome dêles,
congratular-se com os de Antioquia e com êles glori-
ficar o Senhor por lhes haver devolvido a primitiva
grandeza e por terem retomado o lugar os membros
dispersados pela furiá da perseguiçãó.
É indubitàvelmente coisa assombrosa ver com
que ardor se esforça o santo mártir para movimentar,
com tal intuito, tôdas as igrejas da Ásia, e com que
pressa essas mesmas igrejas lhe secundaram os pie-
dosos desejos. o santo houvera querido escrever a
tôdas, mas, instado a embarcar e ir de Troadas a
Neápolis na Macedônia, e de Iá, por terra, a Filipes,
roga a Policarpo lhes escreva para que enviem igial-
mente delegados ou, pelo menos, cartas de congi atu-
lações que a Antioquia, seriam levadas pelo eriviado

(1) Epistola s. rgnatii ad Romanos, coteler., patres apostol., t. rr,


p. 26-31.

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I

330 PADR,E ROHRBACHER

de Esmirna ( I Tinha o santo em tal conta a missão


).
que reccmenda ao mesmo Policarpo a reunião de
uma espécie de concílio para discutir a questão e
escolher pessoa digna de semelhante mister.
Eram tais as disposições das igrefas quais exigia
aquêle dever de caridade. Quando escrevia aos de
Filadelfia, as mais vizinhas iít lhe tinham previsto
os desejos e, para tal efeito, enviado os seus bispos
a Antioquia, e algumas os seus sacerdotes e diáconos'
Finalmente, São Policarpo, escrevendo aos filipenses,
não estava ainda decidido se confiaria a legação a
outro ou se dela se desempenharia pessoalmente.
Tendo Inácio passado pelo mar de Troadas a
Neápolis, e de lá, por terra, atravessado tôda a Ma-
cedônia até Epidano, mais tarde chamada Durazzo,
no mar Adriático, de ncvo embarcou, desceu o gôlfo
e, pelo estreito da Sicilia, entrou no mar da Toscana.
À vista de Pozzuoli, deseiou vivamente poder descer
à terra, a fim de percorÍer o mesmo caminho percorri-
do noutros tempos pelo apóstolo, conduzido, como êle,
acorrentado, para fazer triunfar a fê na capital do
mundo. Mas os ventos eram contrários, e foi preciso
prosseguir. Por fim, após um dia e uma noite de
navegação favorável, chegaram a Pôrto, emboca-
dura do Tibre. Os espetáculos públicos, nos quais
Inácio seria exposto às feras, iam atingindo o fim. O
santo mártir não deseiava menos que os soldados
chegar em tempo a Roma. Mas os companheiros de
viagem mais se afligiam por verem aproximâr-se o
momento que iria separá-los daquele varão iusto.
A nova da cheqada não tardou em se espalhar
por Roma, e os cristães acorreram em multidão ao seu

(1) Ad PolycarP.' rr. 7.

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VIDAS DOS SANTO§ 331

encontro, jubilantes e temerosos. AlegravâÍt-se por


ver e abraçar aguêle homem repleto de Deus, mas
choravam porgue em breve iriam perdê-lo. Alguns
dos mais ousados se gabavam de pode r apaziguar o
povo, para gue não exigisse a morte dêle naqueles
jogos, e se pudesse, dessarte, obter-lhe a graça do

MartÍrio de santo rnácio de Antioquia. (segundo uma ,miniatura


do século IX).
imperador ou, pelo menos, adiar por algum tempo o
martírio. O santo, através do Espírito, soube- dos
projetos dêles. Saudando-os, pois, com enorme afeto.
suplicou-lhes mais vivamente ainda do gue fizera por.
missiva gue tivessem para com êle uma verdadeira
caridade e lhe não invejassem a ventura. os fieis
ajoelharam-se, todos, e o santo rogou ao Filho de
Deus se apiedasse da sua lgreja, puse*e côbro à

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332 PADRE ROHRBACHER

perseguição, e conservasse entre os cristãos uma mú-


tua caridade.
Enfim, conduzido ao anfiteatro, para onde acudi-
ra Roma inteira, e, de acôrdo com a ordem do impe-
rador, exposto às feras, não tardou em ser, como
sempre dãsejara, despedaçado por dois leões, e de
tal modo devorado gue só restaram os ossos maiores.
Os restos, recolhidos com respeito e envoltos num
pano branco, foram transportados parl Antioguia ^e
ãorrr"rrrados na igreja como inestimável tesouro. O
fato se verificou, segundo os Atos, sob o consulado
de Sura e de Senécio, isto é, no ano 107 de |esus
Cristo, décimo de Trajano, no dia 20 de dezembro,
enguanto se celeb ruuu., em Roma, a festa chamada
pelôs pagãos sigillaria ou dos bonecos, qlre, com a das
iaturáaiJ, prolõngava por sete dias a licenciosidade
do povo.
Os atos do seu martírio foram escritos por teste-
munhas oculares, que, segundo se acredita, são o
diácono Filon da Cilícia e Reo Agatópode, os quais
tinham acompanhado o santo até Roma, e de lâ
levaram os seus restos para Antioquia. Eis como
terminam a narrativa:
"Após têrmos estado nós próprios presentes a
tão cruel espetáculo, retiramo-nos para casa 9 Passa-
mos a noite em pranto, suplicando ao Senhor, de
joelhos e com mil-pedidos, que nos desse a conhecer
o resultado da luta. Adormecidos de um leve sono,
vimos uns, Inácio de pe caminhando para nós, a Íim
de nos abraçar; outros, vimos o santo a orar e prontc
para nos abençoar; mais outros, vimo-lo inteiramente
ãoberto de suor como ao sair de penoso trabalho, e

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VIDAS DOS SANTOS 333

apresentando-se ao Senhor com grande confiança e


inefável glória. Ao despertarmos, comunicamos uns
aos outros os nossos sonhos, glorificamos a Deus,
fonte de todos os bens, celebramos os louvores do
santo, e resolvemos assinalaÍ-vos o dia e o ano do seu
martírio, a fim de que, reunindo-ros na mesma época,
los comuniquemos com o generoso paladino, glori-
ficando, na sua santa memória, a Nosso Senhor lesus
Cristo ( I )."

***

(1) Acta §S., 1 fevereiro.

I http://www.obrascatolicas.com
I I

SÃO SIGISBERTO
Reí da Austrásia
Pela metade do sétimo século, a França, dividi-
da em dois reinos, a Austrásia e a Nêustria, estava
povoada de santos e de mosteiros. O rei da Austrá-
sia, Sigisberto III, sem ser grande príncipe, não
deixavã de ser um santo varão. Os seus dois pri-
meiros ministros eram o bem-aventurado Pepino de
Landen, e São Cuniberto, bispo de Colônia. Seu
irmão Clóvis II, rei da Nêustria, tinha por mulher
Santa Batilda, por chanceler Santo Ouen, e por.chefe
das finanças Santo ElOi. Por tôda parte se fundavam
mosteiros, governados por Santos, e onde os bárbaros'
com a doçura e a perfeição do Evangelho, iam âpÍ€ÍI-
der as letras humanas. O bispado, por sua vez , ãpte-
sentava igualmente santos varões. Em Metz, capital
da Austrãsia, São Goerico, sucessor de Santo Arnulfo,
teve por sucessor São Godão, e êste São Clodulfo.
Santá Amando acabava de reiniciar as suas caminha-
das apostólicas. O rei Santo Sigeberto ou Sigisberto
da Austrásia, que êle batizara e que o amava como
pai, havia-o obrigado, no ano de 647, a aceitar o
bispado de Mastiicht, após a morte de São )oão,
cogt o-inado c Cordeiro, bispo dessa cidade, para
onde fôra transferida a sede de Tongres. Vendo que
o êxito não correspondia ao seu zêlo Santo Amando

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VIDA§ DOS SANTOS

solicitou ao papa São Martinho e obteve a permissão


de deixar a sua diocese para retomar o curso das
missões apostólicas e estabelecer novos mosteiros. Foi
substituído no bispado por São Remaclo, originário
da Aquitânia. O rei São Sigisberto, conhecendo-lhe
o mérito, chamou-o para o seu lado e fundou, a seu
conselho, dois mosteiros nos bosques das Ardenas, a
saber Stavelo e Malmédi. Foi enquanto eram cons-
truídos que São Remaclo se viu erguido ao trono de
Mastricht. O rei Sigisberto era digno da amizade
de tantos santos e pela sua piedade para com Deus
e a caridade para com os pobres. Morreu em l.n de
fevereiro de 656, aos vinte e cinco anos de idade. O
seu corpo foi transferido de Metz para Nancy, na
igreja colegial, atualmente catedral, de Nossa Se-
nhora.

ss8

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sÃo PIôNIO (*)
M ártir
Piônio era padre da Igreja de Esmirna, homem de
grande reputação, bem visto mesmo por pagãgt, tanta
ã ,uu -oãé.tiã, probidade e vida sem mácula. Era
ho*.- viajado, passara por várias vicissitudes, conhe-
cera mesmo as amarguras da fome.
Era, então, em 250. Desencadeada a persegui-
ção do imperador Décio, teve Piônio a revelação
de
qr" seria sacrificado. E, com o choque de judeus
io* cristãos, que não se Íêz esperar, tal a atmosf.eta
de Esmirna, o Santo, gue estava na igreja, foi prêso.
Era a 23 de fevereiro, data em que se deu o martírio
de Policarpo.
Conduzido à presença de Polemon, o magistrado
então incumbido áe aprisionar, interrogar e obrigar
os cristãos a sacrificãr aos deuses, de vergá-los,
enfim, levando-os a renegar a fesus Cristo, Piônio
foi submetido a longo e cansativo interrogatório.
Impossível adorar teus deuses, disse o Santo
a Polemon. Não posso venerar estátuas de ouro.
Polemon ameaçou-o com a morte na fogueira
E outro cristão, Sabino, que estava ao lado de Piônio,
pôs-se a rir.
De que ris? perguntou o magistrado entre
enraivecido e agastado.
Sabino resPondeu incontinenti:

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VIDAS DOS SANTOS 337

Rio porgue sou cristão, e tcdos aguêles que


são constantes em Jesus Cristo estão eternamente
- e riem de satisfação.
alegres
Polemon, rubro de cólera, exPlodiu:
Pois rirás muito! Irás iâ pata um belo lugar
onde há muita, muita pândega!
Deus, tornou Sabino no mesmo tom jovial,
- é santo, cuidará
que de nós, será nosso protetor.
Todos os que estavam com Piônio e Sabino foram
levados, aos trancos, para uma esCuríssima e estreita
prisão, onde os cristãos, aos magotes, iaziam no maior
desconfôrto, respirando môfo e suor.
Com a chegada a Esmirna do procônsul Quinti-
liano, Piônio compareceu pela última vez diante dos
juizes. O tribunàl estava repleto.
Recusando-se com f.irrneza a sacrificar aos ído-
los, foi condenado a ser queimado vivo. E, para o
suplício, marchou o santo com passos decididos e
rápidos. Levantando os clhos para o- céu, orou fervo-
rosamente a Deus, agradecendo tôdas as bondades
que o Senhor lhe concedera durante a vida.
Dou-te graças, Senhor, por teres permitido
que eu, teu servo muito humilde, pudesse perseveÍaÍ
e conservar a castidade e a pureza do corpo.
Tudo pronto, foi aceso o fogo. E PiOnio, sereno,
de olhos fechados, pensando na ressurreição, abriu-os
pela última yez. E, fixando o ceu, disse bem alto e
pela última vezl
Amem!
São Piônio morreu tranqüilamente, de rosto ilu-
minado, antes gue o consumisse o fogaréu, por, uma
alegria sem par.

frfr*

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I

sÃo souR (*)


Ermitão e Confessor
São Sour deixou o nome ligado a uma abadia de
Terrasson. Nascido em Auvergne, Sour, desde a
inÍância, sentiu-se âtraído pela vida de solitário. E,
já moço, com a autorizaçáo paterna, com dois outros
jovens, Armando e Cipriano, bons amigos da meni-
nice, demandou Genouillac, onde viveu dois ou três
anos sob a direção de um culto abade, o abade Sala-
ne, aperfeiçoando a alma.
Findo aguêle tempo de aprendizado, solicitou do
superior a permissão. para se retirar ao deserto. Era
a solidão gue amava gue o chamava com insistência.
Obtido o consentimento do abade, Sour, com os dois
companheircs, deixou a comunidade e se f.êz para o
isolamento.
No ermo, os três oravam, jejuavam , f.aziam as
mais rigorosas penitências e, em determinadas horas,
dedicavârl-se aos hinos sagrados, que cantavam bem
alto e com calor.
Logo os curiosos e os desejosos de instrução
principiaram a chegar. E, todos os dias, os três rece-
biam visitantes incontáveis.
Sour não gostou daguelas interrupções gue era
obrigad o a Íazer no serviço de Deus. E, impaciente,
deixando Armando e Cipriano, foi fixar-se mais lon-

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I E
VTDA§ DOS §AN'f O§

ge, a guatro ]éguas da localidade de Sarlat. Era em


t".ru.rorr, e, áurt rochedos, acabou por descobrir
espaçosa caverna. Fixou-se ali, agradado do lugar,
dó silencio e da paz que ia por tôda a região'
Ali também, depois de certo tempo, aconteceu
a mesma coisa. Atraindo a atenção das qentes, Pâs-
sou a ser procurado. Convencido de que Deus assim
queria, construiu um oratório, onde um padre vinha
ielebrar a santa missa e êle, Sour, pregava ao povo'
Deus, então, principiou a operar prodígios por
intermédio daquele santo servo. E tal foi a rePg-
tação do bom ãrmitão que, um dia, Gontran, rei da
Borgonha, carregando tristemente a sua lepra, foi
procurá-lo, Íogando que Sour o curasse.
Atendido, limpo e saudável, Gontran fez tudo
pelo Santo, reconhãcidíssimo. E, com a total ajuda
do príncipe, nasceram um mosteiro para_religiosos e
um hospital para a pobreza, os viandantes e os
viajores.
Esta é a história da abadia de São Sour. Morto
o ermitão em 580, enterrarâÍÍl-Ilo na igref a de São
|uliano, e, imediatamente, principiaram a invocá-lo
como santo.

s,ÊáÊ

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SANTA BRÍGIDA (*)
Virgem
Santa Brígida eÍa de importantíssima família
estabelecida em Leinster, na Irlanda, de pais coÍrveÍ-
11dos por São Patrício. Nascida em Faugher, no
[Jlster, recebeu excelente educação.
Moça jâ, e com a autorização do pai, o bom
Dubtach, Santa Brígida recebeu das mãos do bispo
Macaleus o véu das virgens. Contava, então, dezés-
seis anos, e muitas outras jovens, também se coÍlsâ-
grando a Deus no mesrno dia, passaram a viver sob
sua direção.
Bem cedo a reputação de santidade da virgem
de Kild are atraiu novas servidoras de |esus Criito.
Favorecida com o dom dos milagres, Santa Brígida,
pela humildade, pelo desejo sempre e sempre crescente
de se aperfeiçoar, tornou-se uma das mais importantes
figuras femininas da época. As numerosíssimâs grâ-
ças obtidas por sua intercessão, prodígios operados
em vida e depois da morte, alçaram-na ao patronato
da Irlanda, ond e dezoito paróquias lhe trazem o nome.
Kildare ê a mais célebre de suas fundações, e
tôda a ilha estava cheia de conventos que o seu desvêlo
criou.
Quatro anos antes do falecimento, Santa Brí-
gida, por via divina, ficou sabedora da época em

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VIDAS DOS SANTOS

gue se lhe findariam os dias. E, em 523, depois de ter


recebido a comunhão das mãos do padre gue oficiava
no mosteiro de Kildare, deixou o mundo santamente.
Os preciosos restos da grande Santa foram se-
pultados em Kildare mesmo, onde perman eceram ate
o século IX, passando depois pa.ra Down, no Lllster.
Esguecidos, em I 185, com uma visão do bispo de
Down, Íoram relembrados e transferidos para a cate-
dral. Destruída esta, perderaÍIl-ser mas, consta, a
cabeça da Santa foi entregue à capela imperial do
castelo de Neustadt, na Áustria, e, em seguida, à
igreja de Lisboa, dos jesuítas.

iFitS

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BEM-AVENTURADA VERIDIANA (N)

Virgem e Mártir
Veridiana era de Castelo Florentino, filha de
nobre família, os Attavanti. Quando com doze anos,
um parente, homem riguíssimo, recebeu-a e f.ê.-la
administradora de sua casa.
Certa vez, era então numa época de carestia, Ve-
ridiana, num so dia, distribuiu à pobreza faminta e
necessitadíssima, tôda uma provisão de legumes gue
o rico homem havia reservado para o caso de extrema
apertura.
Tomado de grande cólerâ, o protetor da jovem
Veridiana increpou-â duramente. E a moça, desapa-
recendo no guarto, lá se trancou, a chorar. E, rogan-
do a Deus, passou todo um dia e tôda uma noite.
No dia seguinte, a despensa, então vazia dos legumes,
amanheceu repleta.
Consolada, Veridiana determinou retirar-se e
dedicar o resto de seus dias a uma vida solitária,
onde pudesse servir tão-sômente a Deus, vivendo
esguecida de todos. Antes, porrám, da reclusão a gue
se ateve, f.ê2, contritamente, uma peregrinação a
Roma.
Recolhida, guando de volta, a uma cela gue se
lhe construiu em Castelo Florentino, revestida com o
singelo habito dos ermitães, muraram-lhe a porta, e

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I
VIDAS DOS SANTOS 343

sômente uma janelinha, que dava para o oratório de


Santo Antônio , eÍa a única comunicaçáo com o mundo
exterior
Ali viveu a bem-âveflturada Veridiana por trinta
e quatro anos, levando vida de mortificação, a meditar
nos mistérios da paixão de Nosso Senhor ]esus Cristo,
numa rigorosa austeridade.
Refere-se que desejando sofrer pelo Salvador,
sempre e cada vez mais, duas serpentes enormes,
entrando pela abertura da pequenina janela, martiri-
zaYam-na todos os dias.
Eqa por volta de I 221, e São Francisco de Assis
espalhava o nome por tôda a Itália. Sabendo daquela
serva de Deus, gue batalhava herôicamente para
honrar o Senhcr e alcançar a perfeição e a salvação
da alma, foi visitá-la.
Um dia, as duas serpentes deixaram de aparecer.
Cessavam as tribulações, e Veridiana tomou aquilo
como presságio. Estava-lhe próximo o dia da morte?
Estava, e a bem-âverturada mulher que se dera total-
mente a Deus redobrou de fervor. E solicitando a
presença do diretor espiritual, fêz-lhe, a chorar, a
derramar abundantíssimas lágrimas, a última confis-
são, dizendo, âo final:
Não demorará muito e estarei longe dagui.
Com efeito, pouco depois, falecia, operando Íru-
merosos milagres.
Morta em 7242, em 1483 sôbre a pequena cela
que ilustrou elevava-se uma portentosa igreja, onde
suas relíquias permaneceram.

No mesmo dia, J";rr, São Severo, bispo,


"; daguela cidade, sucessor de
décimo-segundo prelado

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PADRE ROHRBACHER

Marcelino. Casado, apresentou-se na assembléia com


as roupas mesmas com que viera do trabalho. IJma
pomba, descendo das alturas, pousou-lhe na cabeça,
sendo, então, aclamado por todos os [iéis. A espôsa
e a filha, consagrando-se a Deus, propiciaram-lhe
meios de ser sagrado e assim dirigir a Igreja para a
qual fôra levado por obra de Deus, diretamente.
Faleceu em 389.
Em Fiesole, na Tosc ana, outra Brígida, virgem,
dos fins do século IX, também da lrlanda. Ignora-
se-lhe a data da morte mas peÍrsâ-se gue tenha sido
a 1.0 de fevereiro, no mesmo dia, pois, em que ê
honrada a sua homônima, a grande taumaturga de
Kildare. Esta Brígida teve um irmão, Andrê, que
acompanhou o bispo Donato numa peregrinação a
Roma. Donato fê-lo diácono. Quando André, jit
há muitos anos separado da irmã, estava à morte e
deseioso de revê-la, Brígida, miraculosamente, achou-
se-lhe ao lado, prometendo-lhe viver ao pé do túmulo.
De fato, ali viveu ela atê o fim da vida, Ílâ solidão,
dada às mais austeras penitências, numa ermida.
Na diocese de Rennes, São ]oão de Ia Grille,
bispo, também conhecido pelo nome de Ioão de Cha-
tillon. Nascido na Bretanha em 1098, foi o primeiro
abade de Santa Cruz de Guingamp. Eleito bispo
em 1143, estabeleceu a reforma de numerosos Ílos-
teiros, introduzindo na sua catedral os cônegos regu-
Iares de São Vítor de Paris. Era de tanta virtude,
ciência e zêlo pela fustiça e pela religião gue no
momento da morte, ocorrida em 1163, o povo, unâni-
memente, colocoü-o sôbre os altares.
Na Inqlaterra, a bem-aventurada Ela, viúva,
filha de Guilherme Fitzpatric&, casada com Guilher-
rre, o Longa Espada, morto Iogo após regressar

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VIDAS DOS SANTOS
I345

de uma das cruzadas. Viúva, tomou o habito em


Laycocl<, onde faleceu santamente em 1261. Conta-se
gue, um dia, depois de vir sofrendo ,por muito tempo
de uma incômoda febre, Edmundo Rich, cônego de
Salisbury e depois arcebispo de Cantorbéry, enviou-
th" um pegueno frasco contendo sangue de São
Tomás de Cantuâria, gue a curou imediatamente.
Fm Pádua, o bem-aventurádo Antônio, 9 Pere-
grino, confessor. Deixando a pátria, então sob o taco
do tirano Ecelino, que se desmandava terrivelmente,
percorreu inúmeros países, mendigando. visitou os
santos Lugares, São Tiago de Compostela, Roma,
Loreto, e outros centros. Novaments em Padua, ali
ficou até o fim dos dias, absolutamente ignorado de
todos. Morto em 1267, operou milagres.
Em Anagni, o bem-aventurado André de Segni,
confessor, da nobre família dos condes de Segú e
aparentado com o papa Alexandre IV. Professõu rro
convento de São Lourenço, fundado pelo Pobrezinho
de Assis. Retirando-se, com permiisão superior, a
uma-gruta solitária, Ievou vida de oração e penitência,
assaltado constantemente pelo demônio. Eitudiosíssi-
mo, tornou-se um dos maiores teólogos do seu tempo.
Deus conferiu-lhe o dom dos milagrãs e o da profeóia.
Falecido em 1302, levaram-lhe o corpo para o coÍr-
vento de São Lourenço. Poderoso contra o demônio.
Em Aosta e na diocese de Digne, São Ours,
confessor do VI século. originário áa lrlanda, pas-
sou à França, indo evangel iiar uma região em que
o arianismo imperava e causava os mais sérios males.
Arcediaqo do santo bispo Grat, à morte dêste os
arianos foram sustentados por Tlouanus: Ours, então,
procurou nos arredores da cidade o oratório dedi-
cado a são Pc.d,{o, orrde se estabeleceu, passou o resto

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346 PADRE ROHRBACHER

da vida e morreu. A Igreja de Aosta tem-no como


um dos padroeiros.
Na diocese do Pry, Santo Agreve, bispo e-mártir
do século VII, nascido na Espanha. Bispo do Velay,
sagrado pelo papa São Martinho I, o Santo encontrou
u ãio.".á qu" lhe estava afeta debaixo do poder dos
godos, infástada, então, pela heresia ariana. Quando
íoltava de uma viagãm á Ro*u, onde fôra relatar o
gue fizera-para a cor,rersão das g-entes que the com-
furha* o ,ebanho, foi prêso em Vivarais, apontado
por uma rica mulher pagã. Torturado por três tiias,
Agreve foi decapitado pela fe. Diz-se- qu-e, no lugar
qu" lhe caiu a cabeça ensangüentada, brotou uma
"rn
fontã, cu;'as águas curavam tôdas as moléstias.
Na diocese de Coutances, São Severo, bispo dos
fins do VII século, filho de humilde família. Colo-
cado a serviço de um infiel, converteu-o e a todos oS
parentes. Retirando-se para levar vida na solidão,
que amava scbremodo, reuniu em tôrno de Si nume-
rosos discípulos, aos quais construiu um mosteiro.
Sacerdote, ãepois bispo, ocrrpou a sede de Avranches.
Na diocáse de Lille, Santo Euberto de Seclin,
bispo. Morto santamente em 294, o culto tornou-se
esquecido, sendo reavivado sômente em 1848'
' Na diocese de Valença, São Torquato, bispo'
Em Antioquia, Síria, São Pedro, o Gálatâ, ermi-
tão, originário da Galácia, como indica o cognome.
Depois ãe uma peregrinaçã9 ? ]erusalém, fixou-se
,r,rrnu região de Antioquia e ali levou vida de ermitão.
-em
Faleceu 429, avançadíssimo em idade.
Na Irlanda, Santa Kinnie, virgem, de família
real. Pagã, converteu-se ao cristianismo, recebendo
o véu das'virgens das mãos de São Patrício. Faleceu
em 482.

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DO§ §AN'l'O§

Na Escócia, Santa Darlugdach, virgem, desapa-


recida por volta de 524, de origem irlandesa. Foi
religiosa em Kildare, sob a direção de Santa Brígida,
a guem sucedeu por muito pouco tempo como supe-
riora.
Na diocese de Soissons, São Precórdio, solitário,
natural da Escócia, atraído à França pela reputação
de São Remi, bispo de Reims.
Em Tessalônica, Sáo Basílio, bispo daguela ci-
dade, antes monge de Peristera. Faleceu em 920.
Em Trois-Châteaux, Í1â França, Sao Paulo, bispo,
famoso durante a vida pelo brilhc, das virtudes, e
cuja morte preciosa está provada pelos milagres.
No mesmo dia, Santo Efrém, cuja vida veremos em
9 de julho.

***

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DIA DE FEVEREIRO
A PURIFICAÇÃO DA SANTA VIRGEM
Tinham os profetas anunciado gue Cristo nasce-
ria em Belém, e Cristo lá nasceu; tinham anunciado
gue Cristo iria ao segundo templo, e gue êle próprio
se ofereceria a Deus, seu Pai, em substituição aos
antigos sacrifícios. E Cristo cumpriu o gue os pro-
fetas anunciaram. Saiu de Belém para ir a Jerusalém,
no seu templo.
"E guando os dias da purificação a. Maria
foram cumpridos, segundo a lei de Moisés, levaram
o menino a |erusalém para apresentá-lo ao Senhor,
como está escrito na lei do Senhor: todo primogênito
do sexo masculino será consagrado a |eová; e para
oferecer, segundo o gue se diz na lei do Eterno, duas
rolinhas ou dois filhotes de pombo ( l ) ".
A lei de Moisés ordenava duas coisas aos pais
das crianças recém-nascidas. A primeira, no caso de
serem os primeiros, apresentá-los e consagrá-los ao
Senhor, cuja lei dá duas razões: tfma geral : Con-
sagrai.me tocios os prímogênitos, pois tudo é meu; e
na pessoa dos primeiros, vem a mim o resto da famí-
lia. A segun da razáo era particular ao povo judaico.
Deus havia exterminado numa noite todos os primo-

(1) Lucas IÍ, 22-24.

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VIDAS DOS SANTOS 349

gênitos dos egípcios; e, poupando os dos judeus,


quis gue a partir de então todos os primogênitos lhe
fôssem consagrados por uma lei inviolável, de modo
que seus pais não pudessem reservar para si a dis-
posição, nem direito nenhum sôbre êles, se antes os
não resgatassem de Deus pelo preço estabelecido.
Essa lei se estendia aos próprios animais; e, em geral,
tudo quanto era primogênito ou, com o diz a lei, tudo
quanto abria o seio da mãe, e eta o primeiro a sair
pertencia a Deus.
A segunda lei dizia respeito à purificação das
mães, impuras desde gue tivessem dado àluz um filho.
Era-lhes proibido, durante quarenta ou sessenta dias,
segundo o sexo dos filhos, tocar qualquer coisa santa,
e aproximar-se do templo e do santuário. Mal se
tornavam mães , eÍam como que excomungadas pela
própria fecundidade, de tal modo era infeliz e subme-
tida a uma maldição inevitável o nascimento dos
homens. Eis, porém, que |esus e lvlaria iam purifi-
ca-la, sofrendo-a voluntàriam ente, e para exemplo do
mundo, uma lei penal, à qual só estavam submetidos
pelo fato de não ser ccnhecido o segrêdo da partu-
rição virginal
Nessa purificação, os pais deviam oferecer um
cordeiro; e se eram pcbres e não possuíam os meios
necessários, podiam of erecer, effi substituição, duas
rolinhas ou duas pombinhas gLíe seriam imoladas uma
em holocausto e outra (segundo o rito do sacrificio)
pelo pecadc. Eis o gue aca.rretava a lei de Mois*ás,
para opróbrio eterno dos filhos de Aclão e de tôda a
raça pecadora (1).

(1) Bossuet, Élévat.

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350 PADRE ROHRBACHER

A primeira das duas leis parecia ter sido feita


manifestamente na figura de )esus Cristo que sendo,
como diz São Paulo, o primogênito antes de tôda.s âs
criaturas, era aquêle em quem tudo devia ser santi-
ficado e eternamente consagrado a Deus. Assim, o
seu primeiro ato, êo entrar no mundo foi dedicar-se
a Deus, seu Pai, e colocar-se no lugar de tôdas as
vítimas, fôsse qual fôsse a natureza delas, para cüÍÍl-
prir-lhe a vontade de qualquer maneira. O que [êz
no seio de sua mãe pela disposição de espírito, fá-lo
hoje realmente, em se apresentando ao templo e em
se entregando ao Eterflo, como coisa que lhe pertence
inteiramente. Visto que se oferece por nós, uÍrâ-
Íro-Ílos a êle, a fim de não f.azermos com êle mais do
que a mesma oferta e, por êle, uma oferta agradável
a Deus.
Aprendamos com fesus e Maria a não procurar
nenhum pretexto para isentar-nos da observação da
sua lei. Pelos próprios têrmos da lei da purificação,
parece que a santa Virgem estava isenta, não tendo
contraído nem a impureza das concepções ordinárias,
nem a dc sangue e demais conseqüências das pârtu-
rições vulgares. Obedece, contudo; julga-se a tanto
obrigada em prol da edificação pública, como o filho
obedecera à lei servil d'a circuncisão.
OfereceÍ-se-â, dizia a lei, um cordeiro de um ano
de idade, .em holocausto por um filho e uma filha: e
um filhote de pombo ou uma rolinha pelo pecado. Se
se não dispuser de cordeiro de um ano, nem houver
meios de arranjâ-Lo, oferecer-se-ão duas rolinhas ou
dois filhotes de pombo, um em holocausto e outro
pelo pecado ( 1 ) . Deus tempera a sua lei segundo

(1) Levit., XII, 6-8.

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I
I
VIDAS DOS SANTOS 35r

as necessidades. O seu rigor, embora regular, se


acomod d, ? êle permite gue o pobre , em vez de um
cordeiro gue, na sua indigência, lhe custaria demasia-
damente, ãf"r"çu aves de baixo preço, mas a_gradáveis
aos seus olhos pela simplicidade e doçura. Seja como
fôr, é constantã serem rolinhas e pombos vítimas dos
pobres. Na oblação do Salvador, o Evangelho,
ãxcluindo o cordeiio e assinalando apenas a alter-
nativa dos pombos ou das rolinhas,_ quis !.xpressa-
mente assinãlar que o sacrifício de |esus Cristo foi
o dos mais pobres. Assim é que se-apraz na pobre'?,
que lhe u^á a insignificância, que lhe ostenta em tudo
e por tudo os sinais.
Por mim , dizia Orígenes, considero felizes essas
rolinhas e essas pombai por serem oferecidas pelo
Salvador, pois êle salva tanto os homens como os
animais, ? à todos concede a pequenina vida (1)'
Ide, animaizinhos e vítimas inocentes, ide morrer por
)esus. Nos é que deveríamos morrer Pllo nosso
pecado; salvai, pois, )esus da morte,- padecendo a
âu" tínhamos nterecido. Deus nos livra {"13 por
f"rut que morre por nós, e ê na- figura de ]esus,
nossa verdadeira vítima, gue se imolam animais; mor-
rem, portanto, por êle, de gualguer modo, atê que
êle vánha, e nós estamos isentos da morte pela sua
-"E (2) .
oblação
eis que havia em )erusalém um homem cha-
mado Simeãó; e êsse homem era justo e temeroso de
Deus, aguardando a consolação de Israel, 9 o Espírito
Santo eitavu nêle, e fôra advertido pelo Espírito
Santo de que não veria a morte sem antes ver a Cristo.

(1) Oú9., In Luc. Homll., 14.


(2) Bossuet, Élévat.

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352 PA DR E ROHRBACHÉR

Conduzido pelo espírito, foi ao templo; e como o pai


e a mãe levassem p lesus, a fim de por êle cumprir o
costume da _lei, êle próprio o tomóu nos braços, e
abençoou a Deus, e dissã, "Agora, senhor, deixareis
ir em paz o vosso servo, segundo a vossa palavra,
porque os meus olhos viram a vossa salvaçãó, a sal-
vação gue preparastes diante da face de todos os
povos, como a luz gue iluminará as nações e a glória
do vosso povo Israel' ( I )".
Desde Adão até Noé, desde Noé até Ab raáo,
desde Abraão até Simeão, todos os patriarcas, todos
gs plofetas tinham desejado ver o qre simeão via.
Foi-lhes revelado, porem, gue não era para o tempo
dêles, mas para uma épocá mais distánte. si*eão
é o primeile, Simeão é o único a guem se diz gue
veria o Salvador, não de longe, orár de perto; íao
sômente com os olhos da alma, mas com os olhos
do corpo. Antes o Espírito San to, iâ nêle, o guiava
nos s€us passos, o conduzia ao templo. Mas como
não deve ter estado inundado das giaçus e luzes do
Espírito divino, guando recebeu os braços a
"ãtr" de beijos e o
salvação, o Salvador; quando o cobriu
banhou com lágrimas áe júbilo! |ulgue-s" pár isto.
o gue os próprios apóstoios tiverám"dificulãade em
compreender, o santo ancião o proclama de antemão:
gu9 o menino não é sômente a glória de Israel, mas
o Salvador de todos os povos, a luz de tôdas as
nações.. Quanto a êle, não tem senão um desejo,
é o de partir para o seio de Abraão, e narrar aos
patriarcas e profetas o gue acaba de ver.
"E o pai e a mãe do menino se admiravam do
gue dêle se dizia." Por gue tal admiração? Sóiam

(1) Luca.s, TI,, 26-32.

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VIDAS DOS SANTOS 353

disso mais gue todos os que lhes falavam. É ver-


dade gue o anjo_ ainda lhes não anunciara a vocação
dos gentios. Maria só tinha ouvido falar do troro
de Davi e da casa de facó. Sentira, porém, por um
instinto manifestamente profético ré- Iimitãs, gue
tôdas as gerações, tôdas as raças "e todos os tempos
iriam chamá-la bem-aventuradá, o gue parecia .ó--
preender todos os povos bem como tôauJ as idades; e
a adoração dos magos era um presságio da conversão
dos gentios.
.seja ãomo-fôr, simeão Z o primeiro gue
parece havê-lo anunciado; e era um gránde urrurrto
de admiração. Acrescentando-se taí maravilha às
maravilhas gue Maria e |osé iâ conheciam, a alma
dêles, assombrada, penetrada, vencida pela grandeza,
pela magnificência, pela majestade de todas ãs coisus,
permanecia em silêncio diante de Deus sem poder
proferir uma única palavra, a não ser talvei com
Davi, gue exclama: o silêncio, só o silêncio é o vosso
louvor ( I )!
"E Simeão os abençoou e disse a Maria, mãe do
menino: eis que êst e ê ,estabelecido para a ruína e
para a ressurreição de vários em Israel, e para ser
um sinal de contradição; e vossa própria uí*u será
varada por um gládio, a fim de que r" d"..ubram os
pensamentos de vários, ocultos no fundo do corâ-
ção (I)".
Eis novos e estranhos assombros para Maria.
o Filho do Altíssim9, gre veio salvar o seu povo
Israel, será ocasião de riina para vários em Israel.
o querido Filho, louvado, abençoado até entáo pelos
(1) Ps LX[V, 2, segundo o hebraico.
(1) Lucas, II, 33-85.

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PADRE ROHRBÀCHER

anios e pelos homens, adorado pelos pastôres e pelos


reis, estará exposto a contradições de todo gênero,
contradições tôbt" a sua pessoa, contradições sôbre
a sua doutrina, contradições tão violentas que atra-
vessarão com um gládio de dor a alma de sua santa
máe, contradições gge põem a descoberto o âmago
-verá
dos coraçõeS, e se quem era verdadeiramente
justo e piedoso, ou quem o era apenas na aparência.
"Havia também uma profetisa chamada Ana'
filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual iâ era bas-
tante idosa, e vivera com o marido sete anos Cofl-
servando a viigindade. E permanecera viúva até os
oitenta e quatio anos; nãó se afastava do templo,
servindo a Deus noite e dia nos jejuns e nas preces.
Tendo chegado à mesma hora que Simeão, pôs-se a
louvar o Senhor e a falar dele a todos quantos â$tlâÍ-
davam a redenção de Israel ( 1 ) ".

+sa

(1) Lucas, If, 36-38.

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I E

SÃO CORNÉLIO
Centurião romqno

O santo ancião Simeão dissera do menino |esus


que era a luz iluminadora das nações. Iremos ver o
cumprimento de tal profecia.

Havia, em Ces aréia, um homem, chamado Cor-


nélio, centurião numa coorte da legiáo, a italiana,
religioso e temeroso de Deus, com tôda a família,
fazendo inúmeras esmolas ao povo e orando a Deus
sem cessar. E viu manifestamente numa visão, por
volta da nona hora do dia, um anjo de Deus gue
lhe disse: "Cornélio! Êle, olhando para o anjo, e
tomado de terror, respondeu: Que hâ, Senhor?
As vossas preces, disse-lhe o anjo, e as vossas esmo-
Ias subiram à presença de Deus e fizeram com que
se lembrasse de vós. Agora mandai chamar em
Haifa um tal Simão, cognominado Pedro. Acha-se
abrigado na casa de outro Simão, curtidor de peles,
situando-se â casa perto do mar; êle vos dirá o que
deveis f.azeÍ." E quando o anjo que lhe falava se
retirou, Cornelio chamou dois dos seus criados e um
soldado temeroso de Deus, e, após narrar-lhes tudo,
os enviou a Haifa.

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356 PADR,E ROHRBACIIER

No dia seguinte, estando em caminho e aproxi-


mando-se da cidade, Pedro subiu ao alto da casa ou
à plataforma, pela sexta hora, a fim de Íezar. Es-
tando com fome, quis comer. Mas, enquanto se lhe
preparava a refeição, sobreveio-lhe um êxtase, e êle
viu o céu aberto, e uma espécie de grande toalha
suspensa pelas quatro pontas, gue descia do céu à
terra, e onde havia tôda espécie de quadrúpedes
campestres, animais selvagens, répteis e aves do céu.
E uma voz lhe chegou aos ouvidos: Levanta-te , Pedro,
sacrifica e come. Pedro, no entanto, respondeu:
Não, Senhor, pois jamais comi coisa que fôsse impura
ou imunda. E a voz, pela segunda vez, lhe disse:
não chames impuro ao que Deus purificou. Sucedeu
aquilo três vêzes; depois a toalha foi retirada para
o céu.
Enquanto Pedro hesitava sôbre o gue significava
a visão, eis gue os homens enviados por Cornélio,
tendo indagado do paradeiro da casa de Simão, se
apresentaram à porta. Chamando alguém, pergunta-
ram se não era lá que vivia Simão, chamado Pedro.
Ora, Pedro, refletindo na visão, disse-lhe o Espírito:
"Eis que três homens perguntam por ti. Levanta-te,
desce e não hesites em ir com êles, pois fui eu que agui
os trouxe." Imediatamente desceu Pedro ao encontro
dos hom€ls, e lhes disse : " Câ estou; sou aqu+ a
quem procurais; por que motivo viestes aqui? Res-
ponderam-lhe: Cornélio, centurião, varão justo e
temeroso de Deus, segundo o testemunho que lhe
presta tôda a nação dos judeus, foi advertido por um
ánjo que devia mandar chamar-vós, a fim de ouvir o
que, por acaso, teríeis que lhe dizer." Pedro Irâ11-
dandô-os entrar instalou-os na casa. No dia
seguinte, partiu com êles; alguns dos irmãos de Haifa,

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V ID A§ DOS §ANT OS

eram seis, foram com êle. E no outro dia chegaram


a Cesaréia. Cornélio, gue os aguardava, reunira os
parentes e amigos. Quando Pedro entrou, Cornélio
pôs-se-lhe na frente e, lançando-se-lhe aos pés, o
adorou. Mas Pedro, o ergueu, dizendo: "Levan-
tai-vos, gue eu não passo de simples homem." Con-
versando com êle, entrou na casa, onde se lhe deparou
grande número de pessoas. Disse-lhes: "Sabeis como
é odioso a um judeu unir-se ao forasteiro, ou visitá-lo;
mas Deus me ensinou a não chamar nenhum homem
de profano nem de impuro. Por isso, desde que me
chamastes, vim sem hesitar. Pergunto-vos, pois, por
que me chamastes? Respondeu-lhe Cornélio: iâ f.az
guatro dias gue, estando a orar em casa, na hora nona,
um varão vestido de roupa branca a mim se âpreser-
tou e disse: Cornélio, tua prece foi ouvida, e Deus
se lembrou das tuas esmolas. Manda chamar em
Haifa a Simão, cognominado Pedro, o gual vive na
casa de Simão, o curtidor, perto do mar. Quando
êle vier , hâ de falar-te. Mandei imediatamente cha-
rtrâr-vos, e vós me fizestes a graça de vir. Agora,
pois, eis-nos todos diante de Deus e diante de vós,
paÍa ouvirmos o que o Senhor vos ordenou dizeÍ,"
Abriu Pedro a bôca e disse: "Na verdade, bem
vejo que Deus não escolhe as pessoas e gue, pelo
contrário, em gualguer nação, o gue o teme e pratica
a justiça lhe é agradável. Foi o gue Deus deu a ouvir
aos filhos de Israel, aos lhes anunciar a paz por
|esus Cristo, Senhor de todos. Sabeis o gue se veri-
Íicou em tôda a )udeia, começando p'ela Galiléia, após
o batismo pregado por loão; sabeis como Deus ungiu
]esus de Nazaré com o Espírito Santo e fôrça; ia
|esus de lugar a lugar, fazendo o bem é curando todos
os gue se achavam dominados pelo diabo, porgue

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358 PADRE ROHRBACHER

Deus estava com êle. E nós somos testemunhas de


tôdas as coisas gue Í.êz na |udeia e em lerusalém.
No entanto, fizeram-no morrer, pregando-o a uma
crtJz, Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, e guis
gue se manifestasse, não a todo o povo, mas às teíte-
munhas preordenadas por Deus, a nós, gue comemos
e bebemos com êle, após ter ressuscitado dos mortos.
E nos ordenou pregarmos ao povo, e testemunharmos
gue êle é gue foi escolhido por Deus para juiz dos
vivos e dos mortos. Todos os profetas lhe prestam
tal testemunho, gue todos os gue nêle crêem recebem
pelo seu nome a remissão doi pecados."
Estava ainda Pedro falando, guando o Espírito
Santo desceu sôbre todos os gue ouviam as palavras.
E os fieis circuncisos, gue tinham vindo com Pedro,
ficaram tomados de assombro.ao notarem gue a graça
do Espírito Santo assim se espalhava sôbre tôdàs as
nações, pois os ouviam falar várias línguas e gloriÍicar
a Deus. Disse Pedro, então: "Pode-se recusar a
água do batismo aos gue iâ receberam o Espírito
Santo como nós?" E ordenou fôssem batizados em
nome do Senhor. Rogaram-lhe êles gue se demo-
rasse alguns dias naguela.casa (l ).
. Assi{n, o primeiro dos gentios gue entrou na
Igreja cristã foi um homem de guerra, um centurião
romano. O seu nome é o neme de família dos CipiOes
e da mãe dos Gracos, cuja posteridade ,r"ie-os
produzir uma multidão de santôs. E é Pedro gue
lhe abre a porta da Igreja e do céu. SO a Pedro
é que Deus revela, no princípio, o mistério da reunião
dos judeus e dos gentios numa mesma lgreja, mis-
tério mais difícil de crer para o comum dos Íiéis edu-

(1) Act., X.

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VIDAS DO§ §ANl OS 359

cados nas máximas do judaísmo, como nos será dado


ver agora e mais tarde.
. Entretanto, os apóstolos e oS irmãos QUe Se e11-
contravam na ]udeia souberam que ospróprios gentios
tinham recebido a palavra de Deus. Por conseguinte,
quando Pedro chágou a ]erusalém,..oj fieis da cir-
iuncisão discutiam com êle, dizendo: "Por gue entras-
tzs na casa de homens incircuncisos e com êles
comestes?" Contou-lhes Pedro, pela ordem, como
se havia passado a coisa, e concluiu:
"Quando CoÍDe-
cei a falár-lhes, desceu sôbre êles o Espírito Santo,
como sôbre nós, no comêço. Lembrei-me, então, da
palavra do Senhor; ]oão -batizou na água; o,as vós'
,rOr sereis batizados no Espírito Santo. Se Deus,
po,is, lhes concedeu a mesma graça que a nós, que
cremos em fesus Cristo, quem era eu, para me opoÍ
a Deus?" Ouvindo aquilo, tranqüllizaram-se êles e
glorificaram a Deus: "Deus concedeu aos .povos o
áo* da penitência, que conduz à vida!" (1)'
Aberta, dessarte, a porta da salvação a todos
os povos, dispersaram-se os apóstolos para fazê-los
entrar.

**r

(1) Act., Xf, 1-18.

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BEM-AVENTURADO JOÃO TEóFANO
VENARD (*)
Mártir
Eu tambem quero ir a Tonkin e ser mártir!
Tal exclamação partiu, um dia, dum menino
doce, amável e alegre, Ílês firme, resoluto e positivo.
Chamava-se foão Teófano Venard, filho de família
cristã, honesta e pobre.
Nascido a 2l de novembro de I 829, pastoreava
o rebanho do pai, gue matutava em como poderia
Íazê.-lo estudar, se os recursos eram bem minguados.
Com sacrifício, porém, tirou-o do trabalho e enviou-o
ao prebistério de São Lobo.
|oão foi estudante consciencioso. Sabia do sacri-
fício que por êle estavam fazendo e, pois, aplicou-se
a fundo nos estudos. O resultado foi a transferência
que teve para Anjou, para o colégio de Doué.
Com a morte da mãe, em I 843, um terno laço uniu
]oão Teófano à irmã mais velha, a boa Melânia, a
Melânia das confidências, das longas cartas, dos
colóquios sem fim.
Quando no grande seminário de Poitiers, o pen-
samento de se f.azer missionário principiou a se cris-
talizar. E durante as férias que seguiram sua
ordenação nas ordens' ulenores, referiu à irmã a

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VIDAS DOS SANTOS 361

vocação. Queria ser missionário. Era o eco da excla-


mação hâ tantos anos proferida que reboava agora
na juventude.
Quando ]oão Teófano obteve a decisão de seu
diretor espiritual, escreveu uma longa e carinhosa
carta ao pai. E, quando partíu, jâ missionário, tudo
fôra tão às pressas, que nem mesmo tempo tivera
de se despedir da familia.
Em 23 de setembro de 1852, o zeloso servidor
de_ Jesus_Cristo embarcava em Antuérpia. Chegado
a Hong-Kong, pôs-se alegremente a estudar o chinês.

Tonkin, na missão. Ali, espeÍâvâ-o uma surprêsa:


ryyia, depois de muitos anos, uÍn colega de outrora,
Theurel. Ia principi ar paÍa o doce, amável e alegre
pastorzinho doutros tempos a via dolorosa.
- Depois de vários anos de missão, 'Era
foi prêso por um dos chefes de cantões.
|oão Teófano
em 1860,
e o ardoro,so missionário estava tão-sômente com 3l
anos de idade.
Encerrado numa como jaula de bambu, lá se foi
o bravo soldado de Cristo levado paÍa o tribunal
de Annam. Condenado à morte, sômente em 186l
os mandarins deram ordens para a execução.
Nesse meio de tempo, de novembro de 60 a feve-
reiro de 61 , |oão Teófano escreveu cartas admiráveis
à família, sofrendo com heroísmo.
Levado ao lugar do suplício, foi decapitado. E
a cabeça, num salto, mergulhou no rio gue corria a
poucos metros, e desapareceu.
O corpo foi sepultado no local mesmo do suplí-
cio, e a cabeça, dias depois, isto ê, a 15 do ,nei-o
mês, foi encontrada guatro léguas afastada,

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I

362 PADRE ROHTÍ,BACHER

Com |oão Teófano Venard, morreram tambêm


vinte e nove companheiros, naturais do país.

No mesmo dia 2 de fevereiro, na Capadócia,


Santo Agatodoro, mártir, cristão de Tyane, que coÍl'
fessou a Íê diante do governadc'r. Sofreu os mais
Cruráis tormentos, falecendo nas mãos dos carrascos.
Em Fossombrona, na Umbria, os santos Lourenço
e HipOlito, mártires.
Na África, um grupo de santos, chamados do
Cartério, mártires em 304.
Na Sicilia, São Rodipo, bispo e confessor, suces-
sor de Neófito.
Na Úmbria, o bem-aventurado Simão de Cássia,
confessor, religioso da ordem dcs ermitães de Santo
Agostinho. Fói escritor e pregador muito celebrado.
Fãvorecido por Deus, operava milagres e prof etizava,
Faleceu em 1348.
Em Piemonte, o bem-aventurado Pedro Cam-
biano de Ruffia, O. P., mártir.
Em Cantuária, na Inglaterra, São Lourenço,
bispo, que governou
-o aquela Igreja depois de Santo
Agostinho, que São Gregório, o Grande havia
para evangel izar a Grã-Bretanha. Morto
".ríiudo
Agostinh,o, gov"tt ou a Igreja sem dificuldade , atê o
fim do reinádo de Etelberto. Desaparecido o rei,
Edbaldo, o filho, tornou ao culto dos ídolos. Refe-
rindo ao rei uma visão que tivera, converteu-o. Fale-
ceu em 619.
Em Flandres, Santo Adalbaldo, confessor, filho
de Rigomer e de Santa Gertrudes, ê que fundou o
mosteúo de Hamage, e irmão de Eguinoaldo, gu€

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VIDAS DOS SANTOS 363

viveu sob a regência de Santa Batilda. Fregüentando


â côrte do rei Dagoberto I, câsou-se com Rictrude,
filha de Ernoldo, da gual teve guatro filhos, a saber:
Mauront, Eusébio, Adalsinda e Clotsinda, todos hon-
rados como santos. Assassinado por .parentes de
Rictrude, em 650, milagres tiveram ocasião, guando
dos magníficos funerais gue a espôsa, inconsolável,
lhe proporcionou. A Adalbaldo,- virtuoso desde a
meninice, dão-lhe o título de mártir, uma vez que
faleceu de morte violen ta e em terras onde imperáva
a idolatria (Periguex ) .
Na Francônia, Santa Hadeloge, virgem do VIII
século, a gual dão alguns como filha de Carlos Mar-
telo, outros de Pepino, o Breve. Notável pela beleza,
e virtuogíssima, foi pedida em casamento por diversos
príncipes. Desde a infância, porém, que se coÍlsâ-
grarq a Deus, e, pois, permaneceu na virgindade.
Fundadora do convento de Titzingen, depois áe muito
tempo foi-lhe uma das abadessas.
Na Saxônia, os mártires de Ebbekstorp, na época
em que dinamargueses e normandos corriam a Saxônia
e a Boêmia, a invadir igrejas e a profanar coisas
santas. Numa grande batalha entre êles e os alemães,
em Ebbekstorp, no ducado de Luneburgo, os gerrnâ-
nos, comandados por Bruno, dugue da Saxônia, foram
vítimas dos profanadores infiéis. Dentre os mártires,
destacavârl-se Bruno, Teodorico, bispo de Minden,
Ivlarquard, bispo de Hildesheim, Eilufo, bispo de
Verden, Gosberto, bispo de Osnabruck, e outros, gue
operaram milagres, apenas sepultados.
Em Trento, o bem-aventurado Estêvão Bellesini,
confessor, filho dum notário daguela cidade, nascido
em 25 de novembro de 1771. Devotado aos pobres
e aos doentes, ocupou-sê tâmbém com a fundaçao de

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PA DR, E R,OHRBACHER

escolas gratuitas. Faleceu em 1840 no convento 'de


Genazano. Beatificado por Pio X em 1904, no dia
27 de dezembro.
Em Bordéus, a bem-âVerturada |oana de Les-
tonnac, viúva, nascida em 1556, filha de Ricardo de
Lestonnac e de )oana Eyquem de Montaigne, irmã
do autor dos Ensaios. Casada com o barão de Lan-
diras, enviuvou aos quarenta e um anos. Faleceu
santamente em 1640, depois de profícua vida.

No mesmo dia, em Roma, o martírio de Santo


Aproniano, verdugo que, ainda pagão, e tirando da
prisão São Sisino para o levar à presença do prefeito
Laodício, ouviu estas palavras proferidas por uma
voz descida do céu : Vinde, abençoados de meu Pai,
possuí o reino gue uos toi pr"Parado desde a criação
do mundo! Creu imediatamente, e recebeu o batismo,
e perseverando depois em confessar Nosso Senhor,
foi condenado à decapitação. - Ainda em Roma, os
santos mártires Fortunato, Feliciano, Firmo e Cân-
dido. Em Orleans, São Flósculo, bispo.

**r

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J., DIA DE FEVEREIRO
SANTO ANSGAR
Arcebispo de Hamburgo e de Bremen

Nos começos do século nove, abriu a Providência


as portas da fê e da Igreja aos povos do norte.
Entre os dinamarqueses e os normandos, bem como
entre os demais bárbaros, eram freqüentes e sâÍl-
grentas as revoluções po,líticas. Em segtrida a uma
dessas revoluções, Herioldo ou Haroldo, rei dos dina-
marqueses, tendo sido destronado pelo filho de
Godefredo, um dos seus predecessores, refugiârâ-se,
havia vários anos, na côrte do imperador Luís o Bom,
que o acolhera com bondade e o exortara a se Íazet
cristão, a fim de que os francos empregassem com
maior empenho as armas no seu serviço. No mês
de junho de 826, estando Luís em Ingelheim, coÍlver-
teu-se Haro,ldo e recebeu o batismo com a rainha, sua
espôsa, os príncipes, seus filhos, e grande número
de súditos, que o tinham seguido. A cerimônia rea-
lizou-se em MaienÇa, na ioreja de Santo Albano. O
imperador foi o padrinho do rei, e a imper atriz |udite
madrinha da rainha.
Estando Haroldo prestes a regressar para a Di-
nannarca, desejou conduzir na sua companhia um

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366 PADRE R,OHRBAOHER

missionário que o fortalecesse na [é e a pregasse ao


povo. O imperador, não o desejando menos, falou
aos bispos e senhores da assembléia que convocou no
meio de outubro do mesmo ano de 826, e rogou-lhes
procurassem um varão apostólico disposto a seguir o
rei e possuidor das qualidades necessárias. Quase
todos responderam que não conheciam pessoa que
tivesse zêlo e coragem para consagrar-se a tão labo-
riosa missão. Vala, porem, abade de COrbia, tomando
a palavra, afirmou que conhecia um monge gue possuía
tôdas as gualidades do apóstolo, e, sobretudo, um
enorme desejo de sofrer por |esus Cristo; não ousava,
contudo, garantir que pretendesse sacrificaÍ-se a uma
expedição tão penosa e cheia de perigos.
Falava de Ansgar, monge da antiga Córbia, que
vivia então na nova Córbia, para onde fôra enviado
a fim de ensinar os, ;'ovens religiosos e Íazer, ao
mesmo tempo, pregações ao povo. Era nativo da
antiga Córbia, ou pelo menos das cercanias. Desde
a mocidade, o favoreceram várias graças extraordinâ-
rias que lhe lançaram no co,ração as sementes das
virtudes cujos preciosos frutos foram vistos mais
tarde. Ainda em tenra idade, vestiu o hábito religioso
no mosteiro de Córbia, e, a princípio, patenteou um
grande fervor de que pareceu, entretanto, desmen-
tir-se um pouco, mais tarde; a notícia da morte de
Carlos Magno, tão grande príncipe, o f.êz readquirir
o bom-senso, e a momentânea negligência se lhe tornou
novo motivo de tendência à mais alta perfeição.
Estudou sob as ordens do famo,so Pascásio Radberto,
e realizou tantos progressos nas ciências, que gover-
nou a escola da antiga COrbia durante a ausência do
mestre. De lâ saiu sômente para exercer a mesma
função da nova Córbia, Os superiores, apreciando-

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T
VIDAS DOS §ANTOS 36?

lhe as qualidades e o zêlo, incumbiram-se, além do


cuidado da escola, de anunciar a palavra de Deus
ao povo, o que êle fêz com grande proveito.
Diante das palavras do abade Vala sôbre as
virtudes do santo religioso, recebeu êste ordem de
se apresentar à côrte, Mal chegou, Vala lhe propôs
a missão da Dinamarca, declarando-lhe, contudo,
gue nada lhe ordenaria em tal ponto, que o deixava
inteiramente senhor de aceitar ou de recusar tão
penosa missão. Ansgar, gue só buscava a oportuni-
dade de conquistar a gloria de Deus, respondeu sem
deliberar que aceitava com júbilo. Imediatamente
foi apresentado ao imperador, o qual ficou tão satis-
feito quão edificado com aquela resolução; quando,
porém, o partido gue êle havia tomado se tornou
público, falou-se diversamente. Alguns não se câÍt-
savam de admirar a coragem do santo religioso, que
se arrancava à pátria e aos estudos para ir viver
no meio de barbaros idólatras, sem outro intento gue
não o de os conquistar para Deus; outros, atribuin-
do-lhe intenções menos puras, o censuravam com
violência; alguns tratavam até, abertamente, de o des-
viar da resolução. Assim encontra a obra de Deus,
sempre, por tôda parte, contradições; às vêzes, entris-
tece-nos ver outros f.azer um bem gue nós, pessoal-
mente, não temos ânimo de f.azer,
Ansgar, a fim de não responder a tão vãs pala-
vras e preparar-se para o apostolado na solidão,
retirou-se para uma vinha vizinha de Aix-la-Cha-
pelle, onde se entregou à prece e à leitura. Um
monge da antiga Córbia, Auberto, que acompanhava
Vala na côrte, foi visitá-lo e perguntou-lhe se pensara
bem no compromisso assumido. Ansgar, certo de
que aguêle aparecera apenas para contradizê-lo, res-

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368 PADRE ROIIRBACHER

pondeu-lhe: Que necessidade tendes de me perturbar


na resolução gue tomei? Auberto protestou que não
era tal o seu intento, e sim apenas o de saber se
perseverava na sua boa vontade. Ansgar, agradeceo-
do-lhe a benevolência, disse-lhe, então: "Pergunta-
raú-me se, por amor aDeus, gueria ir a povos
estranhos anunciar o Evangelho de Cristo. Não
ousei rcjeitar semelhante proposta; pelo contrário,
desejo, com tôdas as minhas fôrças, ir, e ninguém
será capaz de mudar o meu propósito.
- Basta, repli-
cou Auberto, não vos deixarei ir sôzinho; por amor
a Deus, partirei convosco; obtende-rne a permissão
do senhor abade." Ansgar, indo encontrar Vala,
disse-lhe gue havia conhecido um companheiro para
a viagem. Quando nomeou Auberto, ficou o abade
surprêso como se estivesse presenciando um inilagre,
não se capacitando de gue um varão de tão ilustre
nascimento, seu confidente e procurador do seu rros-
teiro, nutrisse semelhantes idéias. Interrogou-o pes-
soalmente, e deu-lhe a licençâi mas declarou tanto a
um como a outro que não lhes cederia ninguém para
os servir, a não ser gue alguém pretendesse ir de livre
vontade, parecendo-lhe inumano enviar guem guer
gue fôsse, contra a vontade, para o meio dos pagãos.
Conduziu a ambos à presença do imperador gue,
encantado com a boa vontade dêles, lhes doou p?t-
tences de capela, cofres, tendas e os demais utensílios
necessários par a táo grande viagem, recomendando-
lhes gue cuidassem de firmar na fé o rei Haroldo e
os seus, paÍa gue não recaísse nos antigos erros, e
se esforçassem em converter outros. Partiram pois,
sem ter guem os servisse, pois Haroldo, ainda neófito
e rude, não sabia absolutamente como convinh a tta-
tá-los; e os seus, criados como êle em costumes

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VIDAS DOS SANTOS

diversos, não prestavam muita atenção aos dois estra-


nhos. Assim, sofreram bastante no comêço da viagem.
Quando chegaram a Colônia, o arcebispo Hadeb-aldo
apiedou-se, e deu-lhes, para lhes levar a bagagem,
uma excelente barca com dois guartos. Achou-â o
rei Haroldo tão cômoda, gue para ela se transferiu
gom os religiosos, apoderou-se de um dos guartos e
lhes deixou o outro, aumentando-se, dessarte, a fami-
liaridade entre êles. Desceram o Reno até o mar e,
'fronteiras
passando a Frísia, chegaram às da Dina-
marca. Haroldo, porém, não podendo ainda lá estar
tranqüilamente, permaneceu na Frísia, numa terra gue
o imperador lhe havia doado.
Ansgar e Auberto ficaram com êle, umas vêzes
entre os cristãos, outras entre os pagãos, pregando
e instruindo guantos lhes era dado instruir. Conver-
teram-se vários, e o número dos fieis crescia de dia
pala dia. Os dois missionários procuravam, sobre-
tudo, comprar jovens escravos, para educá-los no
serviç_o de Deus e, poÍ êles, converter-lhes os patrícios;
o rei Haroldo deu-lhes alguns dos seus para gue os
ensinassem, e a escola se compôs em breve de doze
meninos e atê, mais. Foi êsse o início da conversão
dos dinamargueses ao cristianismo. Os dois apóstolos
trabalharam assim mais de dois anos, depois dos guais
Auberto adoeceu, e, tendo sido levado-para o Su*",
na nova Córbia, lá morreu santamente.
Pelo ano de 829, recebeu o imperador Luís errl-
baixadores dos suenônios ou suecos, os guais, entre
outras guestões de gue estavam incumbidos, lhe decla-
raram gue várias pessoas da sua nação desejavam
abraçar a religião cristã, rogando-lhe enviasse sâcer-
dotes para instruí-las, e assãgurando gue o rei estava
disposto a permitir aguilo. O imperador, radiante com

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3?0 PADRE ROHRIJACHER

a proposta, tratou de ver quem poderia mandar a fim


de reconhecer a verdade, e perguntou ao abade Vala
se um dos seus monges não desejava rumar para a
Suécia, principalmente Ansgar, que já se encontrava
ao lado de Haroldo, rei da Dinamarca. Mandaram
que comparecesse à côrte; e como duvidasse, lem-
brou-se de uma visão tida em Córbia, onde recebera
ordem de ir pregar aos pagãos. Chegando, pois, à
presença do imperador, aceitou a incumbência. O
ãbud. Vala deu-lhe por companheiro Vitmar, monge
de Córbia, e mandou que Gislemar ficasse na côrte
do rei Haroldo, ern substituição de Ansgar.
Santo Ansgar e Vitmar embarcaram com destino
à Suecia. Pela metade do caminho, todavia, avistaram
piratas que, não obstante a resistência dos mercadores
que os conduziam, se apoderaram dos barcos e de
tudo quanto nêles havia, de modo que os dois mal
conseguiram atingir a terra e salvar-se, caminhando.
Nessa ocasião, perderam os presentes do imperador
e cêrca de quarenta volumes que tinham unido para
o serviço de Deus; não lhes restava senão o pouco
gue puderam levar, ao abandonarem o barco. Havia
os que achavam prudente regressar, mas Ansgar não
conseguia decidir-se.
Fizeram, então, a pê, um longo caminho com
extrema dificuldade, passando de vez eÍn quando em
barcas alguns braços de mar. Finalmente, atingiram
Birche, então capital e pôrto do reino da Surácia,
numa ilha a dois dias de Llpsala, perto de onde se
situa Estocolmo; a velha cidade não mais subsiste.
O rei, chamado Bern ou Biorn, tendo sabido dos emis-
sários que mandara à França o fito da vinda dos
missionários, acolheu-os favoràvelmente. A questão
foi examinada no seu conselho, e unânimemente lhes

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VIDAS DOS SANTOS 371

foi concedida permissão de ficar no país e Iá pregar


o Evangelho, o que começaram com êxito. Vários
cristãos cativos rejubilarâfii-se muito por poderem
participar dos santos mistérios, e foi reconhecida a
verdade de tudo quanto os emissários da Suécia
tinham dito ao imperador Luís. Alguns suecos pedi-
ram e receberam o batismo, entre outros Herigário,
governador da cidade e muito estimado pelo soberano.
Mandou Herigário construir uma igreja nas suas
terras exercitou-se na piedade e perseverou constan-
temente na [é.
Santo Ansgar e Vitmar, após se demorarem
seis meses na Suécia, regressaram para a França com
missivas escritas pela própria mão do rei, segundo o
uso da nação, e narraram ao imperador Luís as graças
que Deus lhes havia concedido, e como lhes abrira
a porta para a conversão dos pagãos. O imperador
mostrou-se radiante, e refletiu na maneira de poder
estabelecer uma sede episcopal naquela fronteira do
seu império, a fim de facilitar e firmar tais conversões.
Em Hamburgo estabeleceu uma sede arquie-
piscopal, à qual ficaria submetida tôda a igreja de
Ncrdalbingues, isto ê, povos que se situavam ao
norte do Elba, e o resto dos países setentrionais, para
lá enviar bispos e sacerdotes. Mandou pois, coÍrsâ-
grar solenemente Santo Ansgar arcebispo, pelas
mãos de seu irmão Drogon, bispo de Metz, Ílâ pÍe-
sença de três arcebispos. Sendo a nova diocese de
Hamburgo pequena e exposta às incursões dos bár-
baros, acrescentou-lhe o imperador um mosteiro de
Gália, chamado Turholt em Flandres; e, para âSSe-
guraÍ perpàtuamente a erecção da sede de Hamburgo,
mandcu Santo Ansgar a Roma, com dois bispos e
um çon de, a fim de solicitar do papa Gregório IV a

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PA DR,.E R,OITR,BACHER

confirmação. O papa a tudo autorizou mediante um


decreto, deu o pálio a Santo Ansgar, nomeou-o
legado apostólico para os suecos, dinamarqueses,
eslavos e demais povos setentrionais, entre outros os
islandeses e groenlandeses, juntamente com Ebbon,
arcebispo de Reims, que já recebera tal legação pre-
cedentemente. Concedeu-lhe, diante do corpo de São
Pedro, a autoridade pública de pregar o Evangelho, e
ameaçou de anátema quem quer que se opuse-sse. São
palavras do biógrafo contemporâneo de Santo Ans-
gar. Os povos setentrionais jamais deveriam ter-se
esquecido de onde lhes chegaram os pregadores legi-
timamente enviados do Evangelho, e os seus padres
na f.ê.
Uma particularidade bem notável é que na lega-
ção apostólica de Santo Ansgar e do arcebispo
Ebbon, se encontra não sômente a Islandia, senão
também a Groenlândia, gue f az parte da América do
Norte. O papa Gregório IV ilos ensina na sua bula
a Santo Ansgar que Carlos já tivera a intenção de
preencher aquela afastada missão. Portanto, no fim
do oitavo, ou no comêço do nono século, conheciâ-se
bastante não sômente a .Islândia, senão também a
Groenlândia, ou parte setentrional da América, a
ponto de se cuidar do envio de missionários.
Ebbon e Santo Ansgar, discutindo tal legação,
julgaram necessário um bispo na Suécia. Assim, com
o consentimento do imperador, Ebbon escolheu um de
seus parentes chamado Gauzberto, a quem mandou
ordenar bispo, dando-lhe abundantemente, tanto do
seu como da liberalidade do imperador, tudo quanto
se f.azia mister para o serviço da lgrcja; e enviou-o
como vigário à Suécia, para incumbiÍ-se da legação
recebida da Santa Sé. Ebbon fêz com gue o imperador

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VIDAS DOS SANTOS 373

lhe cedesse o mosteiro gue êle próprio fundara em


Vedel, como lugar de retiro. Gauzberto Íoi chamado
Simão na ordenação, segundo o exemplo de outros
bispos, como São Bonifácio; e, chegando à Suécia,
foi recebido com honra pelo rei e pelo povo, corle-
çando a erguer uma igreja e a pregar .püblicamente
o evangelho, de tal modo gue o número dos Íieis
crescia de dia para dia. Santo Ansgar conseguiu
o mesmo êxito em Hamburgo. Comprou alguns rle-
ninos dos dinamargueses e eslavos, e resgatou outros,
cativos, instruiu-os Íro serviço de Deus, enviou-os âo
mosteiro de Turholt, e atê ac de Córbia, onde foram
educados para se tornarem zelosos missionários, por
suavez (l).
Em 845, foi Santo Ansgar expulso de Hamburgo
pela incursão dos normandos; não deixou de exercer
a missão, senão no Saxe. Tirava a subsistência do
mosteiro de Turholt na Bélgica, gue Luís lhe dera
para tal fim. Mas o rei Carlos, o Calvo, €rr cujos
estados se encontrava o mosteiro, após a partilha dos
reinos, o doou a um senhor, o gue reduziu Santo
Ansgar a uma extrema indigência, Os monges da
antiga Córbia, que o tinham seguido, voltaram para
o seu mosteiro, e alguns o abandonaram; contudo,
com o reduzido número de discípulos gue lhe rest ava,
náo deixou de continuar as suas funções. Mais tarde,
para lhe obter a subsistência necessária, uniu-se em
849 o bispado de Bremen ao de Hamburgo, que era
peguenino, só dispondo de guatro igrejas batismais,
sendo aliás bastante exposto às incursões dos bâr-
baros.

(1) Vita S. Ansc., Acta Bened., sec. L4, pars. ff, It. Acta
SS., 3 febr.

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374 PADRE ROHRBACHER

Entretarlto, a igreja da Suécia ficara sem sâcer-


dote, depois de haver sido expulso o bispo Gauz-
berto, cognominado Simão. Ao cabo de sete anos,
isto é, poi volta de 852, Santo Ansgar enviou para
lá um sacerdote anacoreta, chamado Ardgário, para
consolar os cristãos restantes, principalmente um santo
varão, Herigário, gue sustentara a igreja enguanto
Íaltara o sacerdote, e muito sofrera às mãos dos infiéis;
Deus, porém, o sustentava por milagres.. Um dia,
realizando a assembléia em pleno campo, louvavam
os seus deuses, dos guais pretendiam ter recebido
grandes favores, e repreendiam Herigário, o único
empenhado num a vá crença. Disse-lhes êle, então:
"Provemos por milagres guem é mais poderoso, os
vossos deuses ou o meu. Vai chover, gomo estais
vendo; rogai aos vossos deuses gue não chova sôbre
vós, e eu suplicarei a mesma graça a meu Senhor
|esus Cristo." Sentaraffi-se êles todos de um lado, e
Herigário, com um valete, do outro. Foram de tal
modo encharcados pela âgua, gue era como se tivessem
sido atirados, trajados como estavam, âo rio; pelo
contrário, nenhuma gôta atingiu Herigário e o criado.
Os pagãos Íicaram confusos. Sobreveio a Herigário
uma dor na perna, e êle não podia caminhar. Muitos
foram vê-lo: uns lhe aconselhavam sacrificar aos
deuses, a fim de obter a cura; diziam-lhe outros gue
não tinha saúde, pelo fato de não ter deus. Não coflse-
guindo suportar-lhes as censuras, pediu que o levas-
sem à sua igreja, e disse, diante de todos os presentes:
"|esus Cristo, meu Senhor, devolvei-rle jà a saúde,
para gue esta pobre gente reconheça gue sois o único
Deus, e a vós se converta!" Imediatamente recobrou
a saúde, tanto gue abandonou a igreja sem o menor
auxílio.

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I
VIDAS DOS SANTOS 375

Um rei dos suecos, expulso do seu reino, fôra


sitiar Birch com a ajuda dos dinamargueses; estavam
prestes a se apoderar da cidade e a pilháJa. Os
habitantes, ricos mercadores na sua maioria, não se
encontrando em estado de poderem deÍender-s€, ti-
nham recorrido aos seus deuses. Herigário, gov€r-
nador da cidade, disse-lhes, encoleri zado: "Até
quando pretendeis servir os demônios e arruinar-vos
com vãs superstições? Fizestes grandes ofertas aos
vossos deuses e ainda lhes prometestes outras maiores;
de gue vos seryiram?" Os habitantes confiaram-lhe
a salvaçáo e, seguindo-lhe o conselho, prometeram a
]esus Cristo jejuar e Íazer esmolas. Entretanto, o
rei gue os sitiava, dizia acs dinamaÍqueses: "Há lá
dentro vários deuses e uma igreja outrora dedicada
a |esus Cristo, que ê o mais poderoso. Vejamos,
pela sorte, se Deus quer gue tomemos a cidade".
Não puderam os dinamargueses recusar o pedido,
pois que se tratava de ccstume seu, e verificaram
que o empreendimento não teria êxito. Retirararn-se,
então, e Birch viu-se livre. Herigário aproveito'u-se
do êxito para exortar os habitantes à conversão, e
pregar ousadamente a Íe por onde quer que se ercoÍr-
trasse. Perseverou até o fim. Tendo adoecido, ficou-
lhe à cabeceira, até a morte, o sacerdote Ardgário,
que lhe ministrou o viático.
'j Ministrou-o também a uma santa mulher, Fri-
burga, um dos principais ornamentos daquela igrel'a
nascente. Resistiu ela, com inquebrantável f.fumeza,
a todos os afaques dos infiéis, dizendo: "Se devemos
-
ser ,tiéis aos homens, como não devemos ser fiéis a
e .,.

Deus? Meu Senhor ]esus Cristo ê todo-poderoso;


sq eu lhe rfôr fiel, poderá dar-me tudo aquilo de que
preciso.l' Sendo idosa, não havendo mais sacerdotes

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376 PADRE R,OHRBACHER

na Suécia, e julgando-se prêstes a morrer, ÍecoÍner-


dou à filha um pouco de vinho gue mandara reservar,
e ordenou-lhe que lhe colocasse algumas gôtas na
bôca, quando a visse perto do fim, por não dispor
do sacrifício, que sabia ser o viático dos cristãos. O
vinho ficou guardado durante cêrca de três anos, e
vê-sê, por tal exemplo, que o viático ainda era minis-
trado sob forma de vinho.
O padre Ardgário chegou, entretanto; e assistiu
à santa criatura. Sendo Friburga rica e amante de
esmolas, ordenou à filha que distribuísse todos os
bens aos pobres. E como, acrescentou, temos poucos
pobres aqui, vendei tudo e levai o dinheiro a Dorstat,
onde se erguem diversas igrejas e onde existem pobres
em grande número. A filha executou a ordem fiel-
mente, e em Dorstat se lhe depararam mulheres pie-
dosas gue a ajudaram a empregar da melhor maneira
as esmolas. Um dia, de regresso à casa em que vivia,
pôs de lado a sacola na qual levara o dinheiro, e que
estava vaziai algum tempo depois, encontrôu-â repleta
e, chamando as piedosas mulheres, contou o dinheiro
e verificou que se tratava da mesma quantia já levada,
com exceção de quatro moedas empregadas Írâ com-
pra de um pouco de vinho, num momento de cansaço.
Contou o milagre aos mais estimados sacerdotes, que
lhe disserâm: "É o fruto da vossa obediência e da
vossa fidelidade; crede firmemente que vossa mãe
está salva, e não temais dar dessa maneira a vossa
rigueza a ]esus Cristo."
Tais milagres são dignos de fé, sendo narrados
na vida de Santo Ansgâr, escrita por São Remberto,
seu discípulo e sucessor; e se é permitido dizer que
Deus teve de, algumas vê,zes, f.azer milagres, foi sem
duvida por Íntermédio das igrejas nascentes. De

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I
VID§ DOS §AN'1'U§

resto, parecia gue o sacerdote Ardgário só fôra à


Suécia para assistir à morte daquelas duas santas
pessoas, pois, em seguida à de Herigário, voltou à
querida solidão, e a igreja continuou, mais uma vez,
sem ministro.
Santo Ansgar esforçavâ-se, contudo, para intro-
duzir a fé na Dinamarca. Horico ou Erico reinava
sôzinho, e era filho de Godefredo, morto no ano de
810. Ansgar visitava-o fregüentemente e tratava de
Ihe conquistar_ a amizade por meio de presentes e por
tgda espécie de préstimos, a fim de obter permisão
de plegar naguele reino. Algumas vêzes, ô rei Luís
da Germânia o mandava como emissário a Horico,
quer para tratar a paz, quer por outras questões, das
gqai! se desincumbia com bastante capacidade e fide-
Iidade. O rei Horico, conhecendo-lhe, assim, a probi-
dade, começou a respeitá-lo e a estimá-lo, a viver
familiarmente com êle e a dar-lhe entrada nos seus
mais secretos conselhos. Desejava sempre tê-lo como
garantia,dos tratados que estipulava com os saxões,
afirmandg g_ue para êle nada êra mais seguro que a
palavra de Ansgar.
Valeu-se, pois, Santo Ansgar de tal amizade
do rei para o exortar a tornâr-s€ õristão. o rei ouvia,
de boa vontade, o gge o bispo lhe contava da sagrada
Escritura, e concordava em ser a doutrina boa e"salu-
tar. Finalmente, o santo bispo pediu-lhe licença para
construir uma igreja no reino, e nela colocar üm sâcer-
dote gue pregasse a palavra de Deus e administrasse
o batismo a quantos o desejassem. o rei concedeu-
Ihe com prazé, a licença, permitiu se construísse uma
igreja em Slesüc, desde então pôrto freqüentadíssimo
pelos mercadores. o santo biipo imedi ata-
uente o projeto e deixou na igreja"*..utou
üm sacerdote gue

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PADRE ROHRBACHER

I
378

trabalhava com grandes resultados, uma vez que iit


existiam , frd paragem, diverSos cristãos, mesmo entre
os vultos maís iluãtres da cidad e, batizadcs em Dors-
tat ou em Hamburgo, e que se sentiam encantados
com o livre exercícú da sua religião. Vários infiéis
de ambos os sexos se convertiam, seguindo-lhes o
exemplo. O júbilo era grande, e naquilo se via até
o interêsse tempcral, pois, em tal ocasião, os ÍIlefCâ-
dores de Dorstat e de Hamburgo, notando que a segu-
rança estava estabelecida, surgiam com muito mais
,orriade em Slesvic. Contudo, a maior parte dos
novos cristãos Se contentavam com receber o sinal
da cruz e Ser catecúmenos, para entrarem na igreia
e assistirem aos oÍícios divinos; adiavam o batismo até
o derradeiro dia de vida, fulgando mais vantajoso
sair inteiramente purificado. Vários enfermos, tendo
inütilmente sacrificado aos ídolos para recobrar a
saúde, prometiam f.azer-se cristãos, chamavam o sâ-
cerdote, recebiam o batismo e imediatamente se viam
curados. Converteu-se, dessarte, grande multidão
de dinamarqueses. /
Santo Ansgar, entristecido pelo fato de a Suécia
enContrâf-Se , mais uma vez, Sem sacerdote, depois da
retirada de Ardgário, rogou ao rei Horico o aiudasse
a voltar para aqüele país. Falou também com o bispo
Gauzberio, u qú".n outrora enviara para lá, temeroso
de que a Íê perecesse po-r negligênc.ia. Gauzberto
,"rpàrd", quâ, quanto i êle, tendo sido de la expulso
uma vez, temia que a sua presença irritasse de novo
os infiéis. "Será melhor, acrescentou, volteis vós
mesmo, vós, que, tendo sido o primeiro incumbido
de tal missão, fôstes muito bem acolhido; mandarei
convosco meu sobrinho,que lá permanecetâ para
desempenhar as funções de sacerdote, se houver opof-

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VIDA§ DO§ §ANTO§ 3?9

tunidade de pregar." Tomada a resolução, foram


solicitar permissão ao rei Luís, o Germânico, gue a
cpncedeu de boa mente, e confiou a missão ao bispo
Ansgar, na gualidade de seu emissário à Suéci,a.
Horico, rei da Dinamarca, enviou outro, poÍ suâ
vez, para o acompanhar e dizer ao rei da Suécia Olef
ou Otavo, gue conhecia perfeitamente o servo de
Deus enviado pelo rei Luís, e gue nunca vira um
homem tão honrado e dotado de tanta boa fé. "Eis
porgue, acrescentava, lhe permiti no meu reino tudo
guanto guis para nêle estabelecer a religião cristã; e
Íogo-vos gue o trateis da mesma maneira, pois só
cuida de f.azer o bem." Após vinte dias de navegação,
Santo Ansgar chegou a Birch, onde encontrou o rei
e o povo perturbados, pois surgira um homem que
dizia ter assistido à assembleia dos deuses julgados
senhores do país. Pretendia gue.tais deuses o tinham
mandado dizer ao rei e ao povo: "Nós vos fomos
por longo tempo favoráveis, e demos abundância e
prosperidade à terra em gue viveis. Por vos sa vez,
bem vos houvestes com os sacrifícios e votos gue nos
devíeis, e o vosso serviço nos foi agradável. Atual-
mente, deixais de realizar os sacrifícios comuns e
fazeis menos votos, e, o gue mais nos desagrada,
pretendeis introduzir um deus estranho. Não acolhais
êsse culto contrário ao nosso, se guereis gue vos
sejamos propícios. Se pretendeis um novo deus, Íece-
bemos de boa vontade, effi nossa companhia, Erico,
gue jâ Íoi vosso rei." Os suecos, impressionados com
a advertência dos deuses, ergueram um templo em
honra do rei Erico, e ofereceram-lhe votos e sacri-
fícios.
O santo bispo, ao chegar, perguntou aos velhos
amigos de gue maneira podéria áprãsentar a proposta

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t,A Dfü E TüOH}iI'â,CItETt

ao rei. Responderam todos que nada poderia esperar


daguela viagem, e gue, se houvesse algo gue dar, gue
o empregasse em resgatar a vida. Respondeu-lhes
êle gue se tal era o desígnio de Deus, estava pronto
a padecer os tormentos e atê a morte. Finalmente,
a conselho dêles, convidou o soberano a visitá-lo,
deu-lhe de comer, deu-lhe presentes e explicou-lhe
a missão gue o levava àguele país. O rei, conten-
tíssimo com a recepção do bispo, disse-lhe: "Consen-
tiria de boa vontade no gue desejais; mas nada me
e dado conceder, sem consultar os deuses pela sorte,
e sem saber a vontade do povo, mais senhor do
que eu dos negócios públicos. Enviai alguém à pró-
xima assembléia, falarei por vós e vos farei saber a
resolução." Depois de tal resposta, recomendou o
bispo a guestão a Deus,'mediante jejuns e preces, e
Deus lhe deu a conhecer interiormente gue o êxito
seria f.eliz.
O rei Ole[ reuniu, a princípio, os senhores, e
explicou-lhes a proposta do bispo. Responderaú os
senhores gue mister se Íazia consultar os deuses,
saíram para o campo, segundo o costume, Iançaram
a sorte, e verific aÍam ser vontade divina o estabeleci-
mento, entre êles, da religião cristã. Imediatamente
um dos senhores, amigo do bispo, foi levar-lhe a boa
nova. No dia da assembléia geral, gue se realizou
em Birch, o rei, de acôrdo com o costume, mandou
gue um arauto anunciasse o assunto da missão. Et'
guêu-se um murmúrio no seio do povo, dividido por
sentimentos diversos. LIm ancião, todavia, levantan-
do-se, disse: "Rei e povo, escutai-me. |á conhecemos
o serviço dêsse deus, e sabemos gue constitui grande
auxílio aos gue o invocam; vários dentre nós o pro-
varam nos perigos do mar e em outras oportunidades;

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VIDA§ DOS SANTOS 38r

por gue, entáo, haveremos de o repelir? Outrora,


alguns iam a Dorstat abraçar essa religião , cuja utili-
dade conheciam; agora, tal viagem é perigosa, effi
virtude dos piratas; por gue não havemos de receber
o bem que agui se nos oferece?" O povo, persuadido
por tais palavras, consentiu unânimemente no Çsta-
belecimento dos sacerdotes e da religião cristã. O
rei avisou imediatamente o bispo, acrescentando,
porém, não poder conceder-lhe ainda uma total per-
missão, até gue obtivesse o consentimento de uma
assembléia que se realizaria em outra parte do reino.
Foi esta tão favorável quanto a primeira.
O rei chamou o bispo, e ordenou a construção de
igrejas, a acolhida dos sacerdotes; ordenou, mais, gue
quem quisesse poderia, livremente, tornar-se cristão.
Santo Ansgar recomendou o sacerdote Erimberto,
sobrinho do bispo Gauzberto. O rei cedeu-lhe um
lugar em Birch para a construção de uma igreja, e
prometeu-lhe proteger, em tudo, a religião cristã.
Santo Ansgar, tendo f.elizmente terminado a missão,
voltou ao Saxe. Algum tempo depois, o rei Olef ata-
cou os coros, povo outrora sujeito aos suecos, e cuio
país se chama Curlândia. Sitiou-lhes uma das cidades,
onde as suas tropas enfrentaram um grande perigo e,
tendo lançado a sorte, nenhum dos deuses lhes pÍome-
tia auxílio. Em tal extremo, vários mercadores, lem-
brados dos ensinamentos de Santo Ansgar, exortaram
os suecos a invocar o Deus dos cristãos. Lançada
a sorte, e verificado que |esus Cristo os iria socorrer,
reanimarâÍl-se e marcharam para a luta. Os curlan.
deses, contudo, sem aguardá-los, entregaram a cidade
em condições mais vantajosas gue as pretendidas pelos
inimigos.

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382 PADRE ROHRBACHER,

Após essa vitória, perguntaram os suecos que


voto deviam Í.azer a ]esus Cristo. Os mercadores
lhes aconselharam prometer-lhe jejuns e esmolas e,
mais exatamente, que, no regresso, após ficarem em
casa durante sete dias, se absteriam de carne nos sete
dias seguintes; e que, após outros quarenta dias,
fariam a mesma abstinência durante quarenta dias.
Observaram êles a tudo, de muito boa vontade, e
começaram a dar auxílio a tudo quanto era pobre,
tendo verificado que se tratava de coisa agradável a
|esus Cristo. Desde então, Erimberto exerceu livre-
mente as suas funções de sacerdote, e a religião cristã
realizou grandes progressos na Suécia.
Na Dinamarca, porém, houve uma grande revo-
lução, uma yez gue os normandos, que de Iá tinham
saído e haviam devastado a França durante vinte
anos consecutivos, se reuniram e regressaram ao país.
Surgiu uma disputa entre o rei Horico e seu sobrinho
Guturm, que fôra expulso do reino, e que ate aquêle
momento vivera como pirata. Chegaram cs dois às
vias de fato, e a carnificina foi tamanha, que morreu
um número incalculável de pessoas, vingando dessarte
Deus a morte de tantos cristãos trucidados pelos
normandos. O rei Horico foi morto e, da raça de
Godefredo, seu pai, só restou um menino, também
chamado Horico, que foi reconhecido como soberano.
Mas os senhores que o rodeavam, e que não eram
absolutamente conhecidos de Santo Ansgar, âcoflSe-
lharam ao jovem príncipe abolir o cristianismo, af.fu-
mando que o desastre sofrido era efeito da cólera dos
deuses, por ter sido introduzido no país o culto de um
deus desconhecido. O maior inimigo do cristianismo
era o governador de Slesvic, chamado Hory, gue

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E
VIDAS DOS SANTOS 383

mandou fechar a igreja e proibiu o exercício da verda-


deira religião, o que cbrigou o sacerdote a retirar-se'
Santo Ansgar, penetrado de dor, não sabia a
quem voltar-se, não dispondo na côrte do novo rei
de ,enhum dos senhores cuja amízade havia conquis-
tado pela liberalidade. Abandonado dos homens,
,"aorr",, a Deus, segundo o costume, e não foi em
vão. Dispunhâ-se a ir visitar o rei, quando êste,
expulso o gor"rnador de Slesvic, rogou pessoalmente
ao santo bispo que tornasse a enviar o sacerdote à
igreja, dizendo não desejar merecer menos que -o
p"r"á"."ssor a proteção de-|esus Cristo e a amizade
do bispo. Santo Ansgar foi à presença do rei, que
lhe fpi apresentado pelo conde Burchard, parente
tanto'de um como de cutro príncipe. O jovem Horico
acolheu muito bem o santo bispo, renovou tôdas aS
velhas concessões e concedeu atê aos cristãos um sino
para a igreja, o que, antes se afigurava abominável
ãor pugãLs. Permitiu tambrám a construção de outra
igrefa ãa cidade de Ripa, dirigida por um sacerdote.
Entretanto, o bispo Gauzberto mandou para a
Suecia um sacerdote de nome Anfrido, dinamarquês
de nascimento, e criado no serviço de Deus por Ebbon,
outrora arcebispo de Reims. Ao chegar êle, Erim-
berto r"gr"srorr. Anfrido lá se demorou mais de três
anos, estimado por todos, mas, sabendo da morte
do bispo Gauzberto, abandonou o país, e morreu
algum tempo depois. Santo Ansgar, não querendo
deixar perecer a igreja da Suécia, enviou outro sâcef-
dote, Ragimberto, saqueado na viagem por piratas
dinamarqueses, e vindo a morrer. O santo bispo, sem
desanimar, ordenou para tal missão outro sacerdote,
Rimberto, dinamarquês; Foi êste muito bem acolhido

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384 PADRE ROHRBACHER

pelo rei e pelo povo, e ainda exercia as suas funções


inteiramente livre, guando o sucessor de Santo Ans-
gar escrevia a vida dêste. O santo bispo recomendava
a todos os sacerdotes, a guem enviava para o meio
dos pagãos, gue nada pedissem a ninguém, e gue
trabalhassem com as suas próprias mãos, segundo o
exemplo do apóstolo São Paulo, e se contentassem
em receber comida e roupa. Não deixava, na medida
em gue lhe era possível, de cuidar abundantemente
das suas necessidades, e de lhes dar o com gue coo-
guistar amigos. Foram êsses os primórdios das igrejas
da Suécia e da Dinamarca (1 ).
Em 858, o papa São Nicolau confirinou a união
das ,igrejas de Hamburgo e Bremen em favor de
Santo Ansgar. Desde essa época, Santo Ansgar
viveu mais seis anos, dedicando-se, sem esmoreci-
mento, ao govêrno do seu rebanho. Mesclava nas
suas pregações a severidade e a doçurâ, de modo gue,
pelo rosto e pelas palavras, era terrível aos pecadores,
principalmente aos poderosos e aos rebeldes; ao cor-
trário, era meigo com os bons , af.âvel com os humildes,
como irmão, e pai para os pobres. Eram imensas as
esmolas que. f.azia. Fundou em Bremen um hospital
em gue eram tratados os enfermos e abrigados os
viajantes. Cuidava particularmente dos anacoretas,
homens e mulheres, e visitava-os cotr fregüência. Na
quaresma, nutria quatro pobres todos os dias, e, nas
suas visitas, não se sentava à mesa, sem antes servi-los.
Tinha um zêlo especial no resgate dos cativos.
Alguns nordalbingos, embora cristãos, se apoderavam
dos gue, fugindo aos pagãos, iam teicom êles. [.Isa-
vârl-rros como escravos e até os revendiam aos pagãos.

Vita S. Ansc. Acta S§., 3 fever.

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VIDAS DOS SANTOS 385

Santo Ansgar, sabendo do gue se passava, ficava a


pensar na maneira de impedir aquêles crimes, de que
eram culpados vários dos poderosos e mais nobies.
Todavia, encorajado por uma visão que se lhe afi-
gurou vir de Deus, encontrou nos mais soberbos
tamanha submissão que, por tôd a parte, foram liber-
tados pobres cativos. o santo prelado tinha o dom
dos milagres, e curava grande ,rúrrero de enfermos
mediante a prece e a unção do óleo, Falando-se disso,
certa vez, na presença dêle, disse a um dos amigos:
"se eu tivesse algum prestígio com Deus, rogar-lh"e-ia
me concedesse um único milagre: f.azer de àim, pela
sua graça, um homem de bem."
, Propunha-se imitar todos os santos, e sobretudo
São Martinho. Trazia noite e dia um cilício sôbre a
carne. Enquanto teve fôrças, vivia freqüentemente
de pão e água, e bem medidos, principalmente quando
se retirava para a solidão, num abrigo que mandara
erguer para tal fim, a fim de repousar e chorar livre-
mente, durante os intervalos das suas funções. euan-
do a velhice o obrigou a aumentar a nutrição, conti-
nuou a beber apenas água, compensando a abstinência
mediante esmolas. Para instigar a devoção, recolheu
boa quantidade de sentençus da Escritura, com as
quais encheu grossos volumes escritos pela sua pró-
pria mão. Tirava de lá orações gue proferia no fim
de cada salmo, como ainda hoje rã rrótu* em arguns
velhos saltérios. Tôdas as manhãs mandavu ,í.rur,
na sua frente, três ou quatro missas, enquanto recitava
o seu ofício, e não deixava de cant u, á grande missa
na hora oportuna, a não ser gue o impçdlsse um incô-
mo§q_Uualquer. Muitas vêzes, ao recitar os salmos,
trabalhava manualmente.

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386 PADRE ROHRBACHER

Sempre havia esperado terminar a vida pelo


martírio; assim, quando se viu atacado da enfermi-
dade gue o matou, tornou-se inconsolável, e imputava
aos pecados vef-se desiludido na esperança sempre
nutrída. 'A enfermidade que o acometeu foi uma
disenteria contínua durante quatro meses, a gual de
tal modo o esgotou .gue estava reduzido a pele e osso,
embora a soÍresse com extrema paciência. Acertou
as guestões da sua diocese, e Íêz recolher todos os
privilegios da sede apostólica concernentes à legaçãg;
'Íor"*
Lnviadas cópiãs a todos os bispos do reino de
Luís e ao próprio rei, rogando-lhe favorecesse a
execução. Vendo-se próximo do fim, na véspera da
Purificação, I .s de fevereiro de 865, mandou f.azet
três grrttd"t círios um dos guais foi aceso diante do
altarla Virgem, outro diante do altar de São Pedro,
sendo-o o teiceiro diante do altar de São foão Batista,
a fim de se recomendar às orações dêles, em tão
terrÍvel passo. No dia da festa, todos os sacerdotes
presentes celebraram por êle missas, como Í.aziam
lodos os dias. Ordenou proferissem um sermão e
nada quis tomar antes de terminada a missa solene.
Depois de comer alguma coisa, empregou o resto do
dia e a noite seguinte em exortar os discípulos, umas
vêzes em Comum, outras particularmente, a fim de os
animar ao senriço de Deus, mas sobretudo para SUS-
tentar a missão entre os pagãos. Estavam sendo f€ci-
tados os salmos e litanial dos agonizantes, quando
mandou acrescentar o Te Deum e o símbolo de Santo
Atanásio. Chegado o dia, todos os sacerdotes cele-
braram outra missa para êle; recebeu o corpo e o
sangue de Nosso Senhor, ergueu a§ mãos e rogou
por todos os gue o tinham ofendido, repetiu vários

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VIDAS DOS SANTOS

versículos dos salmos, e morreu no terceiro dia de


Íevereiro de 865, com sessenta e quatro anos de idade,
trinta e quatro dos quais como bispo. A Igreja lhe
honra a memória no dia da sua morte. A"viáa do
santo foi escrita por Sao Remberto, seu discípulo e
sucessor ( 1 ).

sas

(1) Acta SS., 3 fever.

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O BEM-AVENTURADO ODERICO
Franciscano, Missíonário no China

A China, a que os iesuítas foram ter Pjlo fim.do


século dezesseis, recebera os germes do Evangelho
muito tempo antes. Há os que pensam que â coo-
versão doô chineses ao cristianismo foi iniciada por
São Tomás. Para tanto, fundam-se na menção_ que
se encontra no breviário caldaico da igreja de Mala-
bar. O cânone do patriarca Teodósio fala do metro-
politurro da China;' e essa qualidade f.azia parte do
iitrlo do patriarca que gov"irurra os cristãos de Co-
chim, qrárdo os portuguêses atingiram a costa de
Malabár. ArnObió, autor do terceiro século, conta os
chineses entre os povos que, na sua época, tinham
abraçado a fé. fu[as o primeiro feito de tal gênero,
àtu.tàdo pelos monumentos, á a chegada de Olopen
a Singafu, capital da China, em 635, com outros mis-
sionáiics da Síria, e a história do cristianismo na
China desde essa época até 781. Mais tarde, graças
ao impulso universal dado pelas cruzadas, vêem-se
pr"guâores, enviados apostólicos penetrar a Pérsia, a
tuitariu, a Índia, a Chín3; rzêem-se embaixadores dos
tártaros no concílio geral de Lião, os imperadores da
T artâria e da Chinã em relação amigável com os
pontífices de Roma, um arcebispo católico em Pequim,
no início do sráculo catoÍze,

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VIDAS DOS SANTOS 389
I

O primeiro dêsses arcebispos foi o irmão ]oão


de Monte Corvino, da ordem de São Francisco,
missionário no Oriente, por ordem do seu superior
geral. Relatou, ern 1289, ao papa Nicolau IV, gue o
cá dos tártaros, Argun, o qual comandava na
Pérsia, estava favoràvelmente disposto para com êle
e a Igreja romana. O papa tornou a enviar o irmão
com missivas não somente para Argun, senão também
para o grande cá Kublai, residente em Peguim, a
guem Argun recomendara escrever, ]oão de Monte
Corvino construiu na própria Peguim duas igrejas,
e lâ ensinou letras gregas e latinas. Em 1307, o
papa Clemente V o estabeleceu arcebispo de Peguim,
e lhe enviou s-ete religiosos de São Francisco. Enviou
mais três em l3ll. Nos anos 1318 e 1321, o papa
foão XXII erigiu novos bispos entre os tártaros, e
para lá enviou novos missionários. Entre êles figu-
rava o bem-aventurado Oderico de Friul, talvez o
maior viajante-dentre todos.
Nascera em Pôrto-Naon, e Írà, mais tenra moci-
dade entrou na ordem dcs irmãos Menores, onde se
distinguiu pela austeridade de vida e humildade, gue
o levou a recusar as incumbências da ordem para as
guais fôra escolhido. Pelo ano de 1314, o desejo de
conquistar almas para Deus o fêz passar para o meio
dos infiéis com a permissão dos superiores. Embar-
cando no Mar Negro, chegou a Trebisonda, donde
se transferiu para a grande Armênia; chegou, então,
a Tauris e, em seguida, a Sultânia, residência do
imperador dos persas, isto é, dos mongóis ou tártaros
gue ocupavam o país. Oderico tomou, depois, o
caminho da Índia e chegou a Ormuz; lâ, embarcando
no Oceano, atingiu a costa de Malabar, o cabo Como-
rim, as ilhas de |ava e Ceilão. Nesta última, mostra-

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1

390 PADRE ROHRBACHER

vam os nativos uma elevada montanha, onde, diziam,


Adão havia chorado por cem anos o filho Abel; o
lago gue lá se distingula era feito das lágrimas derra-
madas por Adão e Eva.
Finalmente, o bem-aventurado Oderico chegou à
China, ficou três anos em Cambalick ou Peguim,
residência do grande cá, a cujas festas assistiu
várias vêzes. Visto gue os irmãos Menores dispunham
de um alojamento especial na côrte, tinham de ser os
primeiros em caminhar e dar a bênção ao amo. Ode-
rico converteu vários infiéis, entre os guais alguns
grandes senhores. Um dia, (estava sentado, com
quatro irmãos Menores, à sombra de uma árvore,
não distante do caminho gue o imperador devia per-
correr, quando um dêles, bispo, vendo-o aproximar-se,
se revestiu dos hábitos pontificais, ergueu uma cÍuz,
e entoou o Veni Creator. Ouvindo aquilo, perguntou
o cã aos príncipes gue o acompanhavam o que era.
Responderam-lhe gue eram guatro rabanth francos,
isto é, quatro religiosos cristãos. Mandou o impe-
rador gue fôssem à sua presença, e, vendo a cÍuz,
levantou-se no carro, tirou o chapéu de pérolas e
beilou a cÍtrz com humildade. E sendo regra não
aproximâr-se ninguém do seu carro, de mãos vazias,
o irmão Oderico lhe apresentou um pequeno cêsto
cheio de belas maçãs. O imperador pegou duas,
comeu um pedacinho de uma e guardou a outra. Tudo
isso prova gue o cã sabia alguma coisa da Í.ê cato-
Iica, e por insinuação dos irmãos Menores gue viviam
constantemente na sua côrte.
Da China, o irmão Oderico foi ao Tibete, reino
submetido ao grande cã. Na capital vive o Abassi,
o gue significa papa na língua daquele povo. ',8 o
chefe de todos os idólatras, aos guais êle distribui,
I
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VIDAS DOS SANTOS 391

segundo o costume, graus e dignidades. Vê-se que


fala do grande lama. Acrescenta Oderico que, no
país, os irmãos da sua ordem expulsavam os demônios
e convertiam inúmeras almas. Termina a narrativa
das viagens com estas palavras: "Eu, irmão Oderico
de Friul, atesto diante de Deus e diante de )esus
Cristo, que tôdas as coisas que aqui escrevi, ou as vi
com os meus próprios olhos, ou as soube de grande
número de varões dignos de Íê. Vi muitas outras
que não escrevi, porque pareceriam impossíveis aos
nossos compatriotas, a não ser que as tivessem pre-
senciado como eu próprio, pecador, nas terras dos
infiáis." Os autores da vida do bem-aventurado
Oderico dizem que batizou mais de vinte mil de tais
infiéis.
Após dezesseis anos de viagens, voltou a Italia
em 1330, e rumou para Pisa, a fim de embarcar com
destino a Avinhão para prestar contas ao papa do
estado do Oriente, e pedir missionários para aTartâ-
ria, ou seja, cinqüenta irmãos Menores de diversas
províncias. Mas, estando em Pisa, atacou-o grave
enfermidade, que o obrigou a voltar para o Friul a fim
de respirar de novo o ar da sua tetra, e morreu em
Udine, no dia 14 de janeiro de t331. AtribueÍr-s€-
lhe vários milagres, e é honrado como santo Ílo pa-
triarcado de Aquiléia ( 1 ) .

sss

(1) Acta §S., 14 de jurho,

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I

O BEM-AVENTURADO NICOLAU DE
LONGOBARDI
Mínimo

Nasceu Nicolau em [ongobardi, Calábria, no


dia 6 de janeiro de 1649, de pais piedosos, mas pobres.
A única educação gue recebeu foi a que a gente do
campo costuma dispensar aos filhos. Mas a religião,
cujas piedosas práticas amava bastante, a tudo lhe
substituiu, e o compensou mediante sublimes consola-
ções por tudo quanto lhe faltava do lado do espírito.
Uma grande vigilância exercida sôbre tôdas as suas
ações tornou-se para o santo jovem fonte das extra-
ordinárias graças gue obteve mais tarde. Tendo sido
recebido na ordem dos Mínimos, esforçou-se por
adquirir as virtudes necessárias a um bom religioso, e,
embora não tivesse sido admitido às ordens sagradas,
nem por isso aspirou Írenos à perfeição. Era dotado
de angelical piedade, e praticava de maneira admirá-
vel a obediência. Rigorosas as suas austeridades,
absoluto o silêncio, ilimitada a caridade. Obteve dos
superiores da sua ordem licença para visitar Roma
e Nossa Senhora de Loreto, o gue não contribuiu
pouco para lhe aumentar mais o fervor. Atingiu
.dessarte, após mil lutas contra as paixões, uma elevada
perfeição, e tornou-sê objeto da veneração pública,
Grandes e pequenos, ricos e pobres, todos o conside-

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I
VIDAS DOS SANTOS 393

ravam amigo de Deus, e lhe ofereciam, em tôdas as


ocasiões,
- testemunhos de respeito. Longe de se valer
da boa opinião que todos tinham dêle, Nicolau tornou-
se mais humilde aos seus próprios olhos, e tratou de
ocultar aos homens os favores especiais que o Senhor
lhe pradigava. Houvera faltado alguma coisa a tão
pura virtude, se ela não tivesse sido provada por sofri-
mentos físicos. Várias cruéis enfermidades causaram
a Nicolau longas e duras aflições, sem que se- Ihe
alterasse a paciência. Algumas predições e vários
milagres patentearam aos fiéis o prestígio que o santo
varão desfrutava com o Senhor. A sua derradeira
doença lhe ccroou a glória, e revelou no seu todo a
bela alma tão digna de gozaÍ da ventura dos eleitos.
O piedoso irmão morreu em I 2 de fevereiro de 1709,
após breve agonia. No momento de expirar, lançou
para o cráu um olhar ardente, exclamando: ao paraíso,
ac paraíso! Quando entregou a alma nas mãos do
Criador, viu-se-lhe gravado no rosto o júbilo, e julgou-.
se ler naquelas feições tôda a felicidade celeslial.
Nicolau tinha sessenta anos. Pio VI beatificoü-o erl
12 de setembro de 1786 (1 ).

sa&

,r, 3 de fevereiro.
"*eseard,

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sÃo BRÁs (*)
Bispo e Confessor

Quando do imperador
-
Licínio,'Agrícola gover-
nava a Capadócia. Em Sebasta', principiou a perse-
guição aos cristãos. À procura de animais ferozes,
diante dos quais deseiava expor as vítimas, ordenou
aos seus homens que se embrenhassem nas florestas
das vizinhanças e os apanhassem vivos. Um grupo de
caçadores acabou chegando ao pé de uma montanha
e, ali, abismados, viram todos que várias feras, Íeco-
nhecidamente irreconciliáveis, confraternizavalr-se oâ
maior tranqüilidade, diante da bôca de uma caverna.
E eram leões, tigres, Iôbos, chacais, ursos, antílopes
de tôda a espécie, e hienas, e leopardos, e macacos
de grande porte.
Que significava aquilo? Era o que se perguÍr-
tavam, atônitos, os caçadores. Logo, porém, da admi-
ração, passaram ao estupor. Um homem, aparecendo
à luz, saído da escuridão da gruta, considerou as
feras e, em seguida, como que as abençoou. E tôdas,
em ordem, sossegadas, desapareceram, foram-se para
as brenhas donde haviam vindo.
Um leão, todavia, grande e de enorme fulva,
'os fuba
permaneceu onde se encontrava. E homens que
observavam, agora estatelados, viram-no erguer uma

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VIDA§ DOS SANTOS 395

das patas e o habitante da caverna aproximâÍ-se dêle.


Era talvez um estrepe que se lhe cravara na mão.
E, feita a intervenção, o animal, trangüilamente, como
os demais, foi-se dali.
_ Aquêle fato, relatararn-Íro os que o observaram
a Agrícola. E o governador, ordenando aos soldados
que fôssem à caverna e prendessem o homem que nela
vivia, ficou aguardando o resultado da expediçáo.
São Brás, armênio de nascimento, hômem puro e
inocente, doce e modesto , eÍa o morador da gruta.

sáo Brás abençoando os animais, que se colocam à sua passagem.

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396 PADRE ROHRBACHER

Tocado pelas virtudes que o adornavam, o povo de


Sebasta escolherâ-o pàfd bispo, e o santo varão, inspi-
rado pelo Espírito Santo, estabeleceu residência no
buracá daqueÍa montanha, onde os homens da cidade
e os animais do deserto iam procurá-lo, ambos em
busca de lenitivo para os males que os afligiam.
Brás Íoi prêso sem esboçar a menor resistência
e conduzido ao tribunal.
Agrícola, impossibilitado de vergar o santo ho-
mem dê Deus, de vê-lo apostatar, ordenou que o
batessem sem piedade, depois do que atirassem com
êle, e à teimosia que nêle morava, na mais negra,
úmida e escura das masmorras.
Como acontecia quando na caverna da montanha,
os fieis foram procurá-lo para dele receber â costu-
meira bênção. Brás, abençoando a todos, curava os
que porventura se achavam doentes disto ou daquilo.
Um dia, apareceu ao s-anto bispo umq pobre lrlu-
lher, vestida dá farrapos. Vinha aÍlita, chorosa, nos
braços uma criança quase estrangulada por uma espi-
nha de peixe que se lhe atravessara na garganta'
São Brás, comovido com o sofrimento do peque-
nino ser e com a fe gue ia naquela pobre esfarrapada,
pousou a mão na cabecinha da criança, ergueu os
ãlhor para o alto e orou por um momento. E, em
seguidã , f.azendo o sinal da cÍuz na garganta do aci-
dentado, pediu:
o Senhor |esus, acolhei favoràvelmente mi-
nha prece. Por vosso poder, tirai esta espinha e
propór.ionai êste socorro a todos os que, aÍligidos
ão *".oro mal, a vós implorem e pronunciem a oração
que vos endereço.

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VIDAS DOS SANTOS 397

Pouco depois, livre a criança do que a maltra-


tava, a máe, agora chorando de contentamento e de
gratidão, deixava o bom bispo na sua feia masmorra.
Por várias vêzes foi o santo homem retirado da
prisão e levado à presença de Agrícola. E, como
perseverasse em confessar ]esus Cristo, eÍa supli-
ciado. Como paga de tanta constância, de tanta
f.irmeza e doçura, o Senhor, sempre que o grande bispo
retornava à cela que lhe haviam destinado, operava
algum prodígio. Contâ-se que, numa destas vindas
do tribunal, apresentou-se-lhe uma pobre viúva, a
quem um lôbo lhe leva Ía a única coisa que possuía
um porco.
-
Vai em paz, disse-lhe São Brás. Tem Íê
em Deus.
A viúva, consolada, voltou à pobre choça em
que vivià, e, pouco antes de chegar, jâ estava a ouvir
o roncar do suíno no pequeno chiqueiro gue lhe
construíra.
Dcutra Íeita, sete mulheres que se apresentaram
à prisão para cuidar das feridas do santo prelado,
foram denunciadas como cristãs. Levadas ao tri-
bunal e interrogadas, acabaram os pagãos por desco-
brir que haviam sido as autoras do lançamento dos
ídolos do governador ao fundo de um lago que se
situava nas imediações. Martirizadas, São Bras de-
plorou-as, e Agrícola, agastado, condenou-o a ser
precipitado ao fundo daquele mesmo lago que agora
lhe era pouso dos ídolos. Quando o levaram para as
margens, São Brás fez o sinal da cruz e avançou
sôbre as áquas, sem que submergisse, como por uma
estrada. E, uÍna vez bem no meio, parou, virou-se
para os maravilhados ministros da justiça e desafiou:

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I
398 PADRE ROHRBACHER

Vinde, vinde vós, e ponde em prova o poder


de vossos deusesl
Vários infiéis aceitaram o desafio. Entraram no
Iago e mergulharam no mesmo instante.
Agrícola, confuso, observando o' Santo, viu-o
retornar . E que um anjo do Senhor, aparecendo
tão-sômente ao bom e purd bispo, dissera-lhe:
Volta, ganha a margem e recebe a coroa do
martírio!
Condenado pelo governador a ser decapitado,
São Brás, antes de apresentar a cabeça ao carrasco,
suplicou a Deus:
Senhor, favorecei todos aquêles que me assis-
tiram no combate que travei, bem como os que me
implorarem o socorro, depois que me levares para a
vossa glória.
]esus, então, naquele último instante, âpâreceu-
lhe. olhando-o docemente, prometeu:
E,
Ouvi tua súplica e te concedo tudo aquilo
que a mim me pediste.
Decapitado a 3 de fevereiro, com o grande bispo
de Sebasta foram-no também duas crianças conde-
nadas à mesma pena.
O culto de São Brás espalhou-se grandemente
no Oriente e no Ocidente. As curas maravilhosas
operadas pela invocação do nome do santo bispo são
inúmeras, principalmente em males de garganta, rrl€s-
mo de dentes. Diz-se gue, quando prêso, uma mulher
o procurou, levando-lhe alimento e uma lamparina,
para sue espantasse a escuridão da cela. Comovido
por tal lembrança da boa mulher, prometeu-lhe qye,
se todos os anos levasse uma vela à igreja, ela, e todos

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I
VIDAS DOS SANTOS 39e

os gue a imitassem, haviam de se achar sempre bem.


Vem daí, naturalmente, a prática das velas de São
Brás.

sa a-

No mesmo dia, na diocese de São Claudio, Sanro


Anatólio, confessor, nascido na Irlanda.
Em Espoleto, Sao Lourenço, o Iluminador, bispo
e confessor. Ordenado padre em Roma, foi encaÍte-
gado de pregar o Evangelho na Umbria. Morto o
bispo de Espoleto, Lourenço sucedeu-o. Conta-se
que o povo, inconformado com a escolha, porgue um
estrangeiro ia governar-lhe a Igreja, fechou-lhe a
porta da cidade, em sinal de protesto. Lourenço não
se agastou, e maravilhou os cidadãos todos da cida-
de: do lado de fora, ajoelhou-se e orou a Deus, com
fervor, pedindo-lhe a ajuda. No mesmo instante, o
povo viu as pesadas portas abrirem-se por si mesmas
e o novo bispo, que repudiavam, ajoelhado, de olhos
voltados para o céu. Acolhido, Lourenço foi um
pastor paciente, zeloso e infatigável. Favorecido com
o dom dos milagres, deu vista aos cegos. Grande
esclarecedor das almas, cognominaram-no o llumina-
dor. Fundador do mosteiro de Farf a, paÍa êle se re-
tirou depois de ter abdicado, falecendo na solidão
monacal em 576.
Em Marselha, São Teodoro, bispo e confessor,
sucessor deEmetério. Perseguido pelo governador
de Marselha, foi prêso e submetidó a maus tratos.
Banido, anos depois, r_etornava a ocupar a se daguela
cidade. Elogiado por são Gregório, oGrande, faleceu
o santo bispo em 591.

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400 PADRE ROHRBACHER

Na diocese de Liàge, Santo Adelino, abade e


confessor, nascido numa nobre família de Antioguia'
Renunciando ao mundo, colocou-se sob a orientação
de São Remacle, abade de Solignac, em Limousin, a
guem acompanhou à Austrásia. Ordenado -padre'
Íul"."u bg6, como abade de Celles, que fundou
"
com o concurso de Pepino de Heristal e espôsa'
Na Ingl aterra, Sãnta Wereburg_a, abadêssa, filha
de WulferL, rei de Mércia, e de Santa Ermenilda.
Humilde, doce e obediente, obteve permissão para
professar na abadia de Ely,-fundada por uma tia-
àvO. Mais tarde, deixando a abadia para dirigir todos
os mosteiros do reino, faleceu em Trentham no ano
de 7OO. Padroeira de Chester, guando de Henri-
gue VIII, suas relíquias Íoram atiradas ao vento.
' Em Londres, o bem-aventurado |oão Nelson'
mártir, natural do condado de York, nascido em
1543, quando do cisma anglicano_._ Prêso em New-
gate como papista, foi morto em l57B'
Na diocese do Puy, santa Margarida da Ingla-
terra, virgem do século XII.
Na ãiocese de Beauvais, o bem-aventurado He-
linando, confessor. Elevado ao sacerdocio, foi padre
verdadeiramente zeloso. Converteu, pelas inflamadas
pregações, grande'número de pecadores, inclusive o
ir*áo, Guilterme, que levou vida de religioso. Fale-
ceu em 1237.
Entre os gregos, o Profeta Azarias'
Em Ces uíeiu, nu Capadócia, outro São Brás, êste'
porém, pastor. Como ó grande bispo, também foi
martirizâdo, mas ignora-s" u epo.a em que viveu e foi
morto.
Em Viena, Santo Evâncio, bispo e confessor'
sucessor de Filipe, bispo daquela cidade'

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VIDAS DOS SANTOS 401

Na Belgica, Santa Berlenda, virgem. Filha de


um rico homém, senhor de Meerbecke, professou no
convento de Moorsel, debaixo da mais rigorosa peni-
tência. Faleceu em 700.
Na Suécia, São Nitardo, mártir, uffi dos compa-
nheiros de Santo Ansgar. Martirizado em 845.
Em Ripen, finalmente, na Dinamarca, Sao Liaf''
dug, bispo e mártir. Massacrado pelos pagãos no
ano de 980, sob o prínciPe Haraldo.
Na Africa, São Celerino, diácono, o qual, tendo
estado durante dezenove dias aprisionado, carregado
de ferros, amarrado pelos pés e pelo pescoço, e conde-
nado a várias espécies de castigos, tornou-se glorioso
confessor de fesus Cristo, e, triunfando do inimigo,
em gloriosa luta, pela invencível f.irmeza de que- era
dotado, abriu aos outros o caminho da vitoria. Ade-
mais, São Laurentino, seu tio paterno; Santo Inácio,
tio materng, e Santa Celerina, avó, que, antes dê-le,
tinham recebido a coroa do martírio; resta-nos uma
excelente carta de São Cipriano em louvor de todos
êsses santos.
- Na mesma província, os santos mâtti-
res Félix, Sinfrônio, Hipolito e os seus companheiros.
Em Gap, no Delfinado, os santos Tigides e Re-
médio, bispos. Em Lião, os Santos Lupicino e
Félix, também bispos.

***

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I

4., DIA DE FEVEREIRO

SANTO ANDRÉ CORSINO


Bispo de F iésole na T oscona

Contava Florença, entre as mais nobres famílias,


a dos Corsinos. Nicolau Corsino e sua mulher Pele-
rina eram piedosos e nobres, mas não tinham filhos.
Tendo ouvido um pregador relembrar estas palavras
do Êxodo: "Não demorarás em oferecer a Deus os
dízimos e as primícias", prometeram a Deus corsâ-
grar-lhe o primeiro de seus filhos, se lhe aprouvesse
conceder-lhos. Fizeram a promessa, um independen-
temente do outro, na igreja dos Carmos, diante de
gma imagem da santa Virgem, chamada Nossa
Senhora do Povo. De regresso a casa, tendo comü-
nicado um ao outro o que haviam feito, 'ajoelharâÍl-se,
e renovaram, juntos, a promessa. Tornando-se f.e-
cunda, Pelerina rogava a Deus gue o seu fruto fôsse
agradável a êle. Na véspera do parto, pareceu-lhe,
em sonho, dar à luz um lôbo; excessivamente aflita,
queixou-se à Santa Virgem, quando viu o lôbo entrar
numa igreja e transformar-se imediatamente em alvís-
simo cordeiro. Despertando, ficou a refletir na possí-
vel causa daquele sonho estranho, mas sem ousar
dizer nada a ninguém. No dia seguinte, dia de Santo

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I
VIDAS DOS SANTOS 403

André, 30 de novembro de 1302, deu ao mundo um


belíssimo filho, que recebeu no batismo o nome de
André.
Com a idade de doze anos, sendo muito bem
proporcionado e dono de bastante inteligência, ama-
vâÍfl-Ilo ternamente os pais, embora tivessem tido
muitos outros filhos depois. André tornou-se indócil,
f.azendo sempre o contrário do que pretendiam os
pais, provocando todos os dias brigas e disputas,
apreciando apenas o jôgo, as armas e a caça, e pouco
se importando com igrejas e religião. Temiam os pais
que o seu fim fôsse mau, mas não sabiam o gue
Íazer. Um dia, quando André jâ contava guinze
anos, e cada vez se ia tornando pior, ambos o cha-
maram. Recusou-se o Íapaz, e acrescentando atê
palavras de' desprêzo. A mãe, então, disse em voz
alta: "Verdadeiramente, André, meu filho, és o lObo
que sonhei." Ouvindo tais palavras, André, postan-
do-se na frente dela, retrucou: "Que dizeis, mamáe?
Como posso ser um lôbo?" "Sabe, meu filho, que
teu pai e eu, sendo estéreis, f.izemos uma promessa à
gloriosa virgem Maria, a de lhe ceder o primeiro de
nossos filhos, que és ttr; sabe tambem que sonhei que
dava à luz um lôbo, mas que, entrando numa igreja,
êle se transformou em cordeiro. Assim, meu filho, só
pertences a nós pela geração; na verdade, pertences
à virgem Maria; suplico-te, po,rtanto, que não desde-
nhes servir a tão poderosa padroeiÍa." Aquelas pala-
vras foram para o jovem André uma flecha divina
que lhe penetrou o coração; a noite tôda pensou na
Virgem, dizendo: "ó Virgem Maria, jâ que vos
pertenço, servir-vos-ei de boa vontade, nc,ite e dia;
rogai, porém, a vosso misericordioso Filho que me
perdoe os pecados da mocidade; na mesma medida

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404 PADRE ROHRBACHER

em gue vos desagradei, a vós e a êle, vivendo mal,


me esforçarei por agradar a ambos, mudando de vida."
No dia seguinte, bem'cedinho, entrou na igreja
dos Carmos, e, prostrado diante da imagem de Nossa
Senhora do Povo, proferiu esta oração: "Gloriosa
virgem Maria, eis o lObo devorador e repleto de ini-
qüidades que vos roga humildemente, assim como
destes à luz o cordeiro imaculado cujo sangue nos
resgatou e purificou, me purifique de tal modo, e de
tal modo transforme a minha cruel natureza de lôbo,
gue me transforme em dOcil cordeiro, para lhe ser
imolado e servir-vos na vossa santíssima ordem."
Persêverou em tal prec e atê a hora nona, com o rosto
banhado em lágrimas. Levantou-se, então, e foi rogar
ao superior do mosteiro, provincial dos Carmos na
Toscana, o acolhesse. Respondeu-lhe o provincial:
"Dizei-me, meu filho, de onde vos vem tal desejo, se
sois de estirpe nobre e de nada careceis? Disse-lhe
André: É obra do Senhor e de meus pais, que pro-
meteram consagrâr-rÍl€ para sempre, neste lugar, em
honra da Santa Mrgem. * Esperai um momento,
replicou o provincial, daqui a pouco vos responderei."
Imediatamente advertiu os pais do jovem e reuniu os
religiosos. O pai e a mãe, não sabendo o que tinha
sucedido, muito se alegraram com a boa nova. Acor-
reram ambos à Igreja e a mãe exclamou: "Eis meu
filho gue, de lôbo se transformou em cordeiro." André
Corsini recebeu o hábito do Carmo em 1318, com a
bênção do pai e da mãe.
Para experimentar a constância do jovem noviço,
foram-lhe confiados os mais humildes misteres, como
varrer a casa, guardar a porta, servir à mesa, lavar
os pratos na cozinha. André a tudo considerava uma
glória. Dedicavâ-s€, sobretudo, ao silêncio e à oração.

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VIDAS DOS SANTOS 405

Ridicula rizado por vários dos parentes e pelos coÍrpâ-


nheiros de prazer, suportava o vexarne com paciência,
sem nada retrucar. Um dia em que, estando os irmãc's
a jantar, Andre guardava a port a, alguém bateu com
fôrça. Andrrá, olhando pela janelinha, viu uma P?t-
sonagem bem trajada, acompanhada de vários domes-
ticos, e que lhe ordenou com voz imperiosa; "Abre
depressa; pertenço aos teus parentes, e não quero
que fiques aqui com êstes maltrapilhos; e tambem a
vontade de teu pai e de tua mãe que te prometeram
por marido a uma linda jovem. Respondeu-lhe André:
"Não quero abrir, pois, por obediência, me foi orde-
nado que não abrisse a ninguém, sem licença; não
creio que sejais um dos meus parentes, pois nunca
vos vi; e se agui sirvo êstes humildes irmãos, o próprio
]esus Cristo se f.êz homem paÍa nos servir; não creio
tampouco gue seja a vontade de mÊu pai e de minha
mãe que eu saia daqui, porque foram êles que me
dedicaram a Deus, à Virgem, serviço com o qual me
rejubilq soberanamente; creio, pelo contrário, que sois
parente do diabo. Replicou o outro: rogo-te, Andrê,
abre-me um instante só, para poder Í.alar contigo de
certas coisas; o prior nada verâ. Disse-lhe Andre:
Mesmo que o prior nada visse, há acima dêle Deus,
que perscruta os corações e de guem não pode nin-
guém ocultar-se. É por amor a êle que guardo a
porta, paÍa que êle me guarde e me auxilie." Assim
falando , f.ê.2 André o sinal da cruz. Imediatamente,
o tentador, que não era mais do que o espírito maligno,
desapareceu como um raio f etido. Andre rendeu
graças a Deus' pela vitória, e com aquilo se tornou
mais forte e perfeito.
Tendo professado um ano mais tarde, com a
bênção de todos os religiosos e parentes, redobrou

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I
406 PADRE ROHRBACHER

de fervor na prática das virtudes, particularmente da


humildade. Ó .., prazeÍ consistia em servir os outros
e os enfermos, lembrado da palavra do Senhor: "O
gue Íazeis à menor das minhas criaturas, a mim é que
o fazeis." Nunca faltava às horas santas: noite e dia,
eÍa o primeiro no côro; não resistia de maneira
nenhuma às ordens dos superiores; guanto mais lhe
ordenavam, maior era o júbilo gue o invadia. Para
não perder um instante , eÍa assíduo no estudo das
letras sagradas. Um dia, pediu ao provincial, como
grandíssima graça, permissão para ir à cruz tôdas as
sextas-feiras. Naqueles dias, submetia-se à disciplina
até gue o sangue escorresse; depois, com um cêsto
prêso ao pesccço, rumava para a rqa principal, no
meio dos nobres e dos seus parentes, mendigar pão
e esmolas. Os parentes, persuadidos de que aquilo
era f eito com o intuito de envergonhá-los, ficavam
indignados, e recomendavam a todos que se rissem de
André e lhe atirassem injúrias ao rosto. Êle, pelo
contrário, afastava-se com alegria, ref letindo: Meu
Senhor |esus Cristo, ao ser injuriado, não injuriava;
aniquilado pela dor, não se irritava. André evitava
a companhia das mulheres e as palavras lascivas. A
sua distração era o jardim e a solidão do quarto;
o seu paraíso a igreja, a árvore da vida o crucifixo,
a terra santa a virgem Maria. Era dotado de extra-
ordinária abstinência e austeridade; além dos jejuns
da Igre ja e da ordem, jejuava com pão e água nas
segundas-feiras, nas quartas-feiras, nas sextas-feiras
e nos sábados, por amor a Mãe de Deus. Dominava a
carne com um rude cilício, e era com êle que dormia
sempre, sôbre a palha.
Um dos parentes vivia atormentado por uma
doença da perna gue lhe roía as carnes. Para dis-

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I
VIDAS DOS SANTOS 407

trair-se da dor, entregava-se ao jôgo, sendo a casa


o ponto de encontro de jogadores. Uma sexta-feira,
tendo André saído para pedir esmolas, foi visitá-lo
e disse-lhe: "Meu tio |oão, quereis curar-vos? Res-
pondeu-lhe |oão; vai-te daqui, mendigo, queres rir-te
de mim. Replicou André: não vos incomodeis, meu
tio; se desejais cuÍâr-vos, aquiescei aos meus coflse-
lhos." ]oão, dominado por sentimentos mais humildes,
disse então: "Farei tudo quanto pretenderes, se tal
fôr possível . 4 Se desejais ser curado, retrucou
André, quero que durante sete dias vos abstenhais
de jogar, que jejueis durante seis, e que durante sete
rezéis sete Padres-Nosso e sete Ave-Marias, com o
Salve Regina, e prometo que a gloriosa Virgem obterá
do Filho a vossa cura." Embora fôsse |oão homem
sem nenhuma devoção, ouvindo falar o sobrinho e
vendo-lhe a simplicidade, prometeu a tudo f.azer, e
fê-lo com efeito, deixando o jôgo, orando e jejuando.
No sétimo dia, sábado, foi Andrá perguntar-lhe como
se sentia. Disse-lhe ]oão: "Sois verdadeiramente um
amigo de Deus, nada mais sinto; posso caminhar como
qualquer jovem, ao passo que antes tinha de me ÍrâÍr-
ter sempre deitado. Falou-lhe André: Vamos ao
convento". Foram os dois diante da imagem da
santa Virgem, e, de joelhos, oraram juntos. Depois
da prece, disse André: "Meu tio, tirai da perna o
penso, pois ela está perfeitamente curada." Com
efeito, em vez de roídas atê os ossos, apresentavam
as carnes o aspecto das de um menino. Desde então,
tornou-se o tio piedoso devoto, não cessando de dar
graças a Deus e à Santa Virgem.
Foi André ordenado sacerdote em 1328. Os
pais já tinham preparado tudo para a celebração da
§ua primeira missa, gue pretendiam fôssem solenís-

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408 PADRE ROHRBACHER

sima; mas o humilde religioso lhes estragou todos os


planos. Retirou-se para um pequeno convento a sete
milhas de Florença, onde, sem que ningurám o conhe-
cesse, ofereceu a Deus as primícias do sacerdócio, com
um recolhimento e afeto extraordinários. Imediata-
mente após a comunhão, a santa Virgem lhe apareceu
e disse: "És meu servo, escolhi-te, e em ti serei glo-
rificada." Andre mais humilde ainda se f.ê2. Após
pregar por algum tempo em Florença, foi enviado
para Paris, onde estudou três anos, e .recebeu vários
graus; em seguida, foi continuar os estudos em Avi-
nhão, com o cardeal Corsini, seu tio, e lâ curou
um cego
De retôrno à pâtria, foi eleito prior do cdnvento
de Flcrença, por um capítulo provincial. Os seus
exemplos e sermões produziam tão maravilhosos fru-
tos, que todos o consideravam o segundo apóstolo do
país. Alem do dom dos milagres, tinha o da profecia.
Enquanto o nosso santo edificava seus irmãos
e o povo da Toscana mediante o espetáculo de tôdas
as virtudes, a cidade de Fiésole, a três milhas de
Florença, perdeu o bispo. O capítulo da catedral
escolheu unânimemente André Corsini para suceder-
lhe; mas êste, mal soube o que se passava, ocultou-se
numa casa de cartuxos, para evitar tão perigoso fardo.
Por longo tempo se f.izeram buscas inúteis para o des-
cobrir, e os cônegos iam proceder a uma nova eleição,
quando Deus permitiu que um menino apontasse -o
retiro do seu servo. André consentiu temeroso de
resistir à vontade do céu, e recebeu a unção episcopal
em 1360. A mudança de estado não produziu nenhu-
ma mudança na maneira de viver. Êle redobrou até
as primeiras atrsteridades. ]a lhe não bastou um cilí-
cio; acrescentou mais um cinto de ferro. Todos os

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VIDAS DOS SANTOS 409

dias dizia os sete salmos da penitência, e recitava as


litanias dos santos, submetendo-se â uma rude disci-
plina. Uns ramos de vinha estendidos sôbre o chão
lhe serviam de leito. Todo o tempo era por êle divi-
dido entre a prece e as f unções do bispado. Só deslei-
xava o trabalho para meditar e ler a Sagrada
Escritura. Só raramente falava às mulheres, e não
suportava lisonjeadores nem murmuradores. A cari-
dade paÍa com os pobres, e sobretudo para os pobres
envergonhados era incrível; procurava êstes últimos
com grande cuidado, e dava-lhes assistência o mais
secretamente possível. TOtlas as quintas-feiras cos-
tumava lavar os pés aos pobres, a fim de f.azet com
maior perfeição a caridade e a humildade tão reco-
mendadas por |esus Cristo. fIm, dentre êles, não
guis apresentar ao santo os seus, por estarem cobertos
de úlceras, mas Andre Ihe venceu a resistência; con-
tudo, mal os pés do infeliz ficaram lavados, ficaram
também curados. O bispo de Fiesole, digno imitador
de São Gregório o Grande, tinha numa lista os nomes
de todos os pobres a guem conheci d, ã fim de mais
fàcilmente poder auxiliá-los. Não despedia nenhum
dêles, sem antes dar-lhe esmola, e certá vez multipli-
eou o pão para ter o com que satisf.azer os indigentes.
Possuía singular aptidão para reunir os espíritoi divi-
didos; assim, apaziguou tôdas as sediçáes do seu
tempo, _q_uer em_ Fiésole, quer em Florença ( I ) . O
papa Urbano V, informado, enviou-o como legado a
Bolonha , paÍa pôr côbro às facções gue excitavam a
-
nobreza e o povo um contra o outro. O santo resta-

(1) Ver as dUaq vidas de Santo André Corsino. Acta SS.,


30 de jan.

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410 PADRE ROHRBACHER

beleceu a paz na cidade, e ela subsistiu enguanto


êle viveu.
O santo bispo de Fiésole sentiu-se ÍIâ1, em I 372,
quando dizia a missa na noite do Natal; a febre o
áominou em seguida, e foi sempre aumentando. Em
breve, não houre mais esperança de o salvar. O
enfêrmo não se alarmou; esPerava o derradeiro mo-
mento com tranqüilidade, e até com surpreendente
alegria. Faleceu em 6 de janeiro de 1373, aos setenta
e dãis anos de idade, no d,ácimo-terceiro ano do seu
bispado. Tendo-o Deus honrado com vários milagres,
a voz do povo o canonizou imediatamente após a
morte. O-papa Eugênio IV, informado de que o
estado de Florença experimentara freqüentemente os
efeitos da Sua intercessão, permitiu se expusessem
os seus restos à veneração dos fiéis, e o papa Ur-
bano VIII o colocou no número dos santos em 1629.
A sua festa foi transferida para 4 de fevereiro.

***

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I

SANTO REMBERTO
Arcebispo de Bremen

Estando Santo Ansgar no seu mosteiro 'de


Turholt, ern Flandres, p"r"to de Bruges, viu um dia
alguns meninos que rumavam correndo para a igreja,
brincando ao mesmo tempo; um dentre êles, pórém,
quase o menorzinho, caminhava gravemente. En-
trando na igreja, lâ orou com respeito , f.ê.2 o sinal
da cÍtJz, levantando-se, e em tudo se portou como
homem maduro. O santo bispo mandou chamar os
pais do menino e perguntou-lhes qual era o nome dele.
Responderam-lhe que se chamava Remberto. O
santo, com o ccnsentimento de ambos, deu ao menino
a tonsura e o habito eclesiástico, e mandou se instruís-
se no mosteiro, onde o recomendou particularmente.
Chamou-o, ertão, pâra o seu lado, é Remberto tor-
nou-se o mais íntimo dos seus discípulos. Assistiu à
morte de Santo Ansg aÍ e, por ordem dêste, dizia as
orações que o agonizante jâ não tinha fôrça para dizer.
Durante a última enfermidade, no ano de 865,
tendo alguém perguntado a santo Ansgar o seu
parecer sôbre a escolha do sucessor e sôbre Remberto
e-* R-urticular, respondeu o santo gue não cabia a êle
decidir, mas gue Remberto era mais digno de ser
arcebispo gue êle de ser subdiácono. Três dias antes
de morrer, declarou a Remberto gue seria seu suces-

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412 PADRE ROHRBACHER

sor, e no mesmo dja do sepultamento, foi Remberto


eleito unânimemente. Conduziram-no, com o decr.eto
de eleição, ao rei Luís, e guem o conduziu foram
Tiadrico, bispo de Minden,- e Adalgário, abade da
nova COrbia. O rei o acolheu com honra e entre-
gou-lhe, segundo o costume, o bordão pastoral, para
significar-lhe que lhe entregava o bispado. O papa
Gregório IV, ao erigir aguela sé, ordenar_a gue, u\ê
o momento no gual-houvesse número suficiente de
sufragâneos, o príncipe' cuidaria da ordenação- do
arcebispo de Hamburgo; foi por isso que o rei Luís
mandou Remberto a Liutberto, arcebispo de Maiença,
gue o sagrou com Luidardo de Paderborn, seu sufra-
gâneo, e Tiadrico de Minden, sufragâneo de Co'lônia;
e foram misturados propositadamente, para Çue re-
nhum de tais arcebispos se atribuísse a ordenação do
de Hamburgo.
Santo Remberto Í.izera voto, havia muito, de
abraçar a vida monástica imediatamente após a morte
de Santo Ansgar. Assim, a conselho dos coosâ-
gradores, desdã gue foi ordenado, rumou para a nova
Córbia, lá tomou o hábito e prometeu observar a regra
de São Bento, na medida em que lho permitissem as
suas funções pastorais; e, não podendo ficar ro Ílos-
teiro, pediu 'um companheiro para lhe ensinar 'a
prática da regra. Deiam-lhe um diácono, irmão do
âbade, e chamado Aldegário como êle. São Remberto
dirigiu a sé de Hamburgo por vinte e três anos,
prat-icando as virtudes, quê constituem o essencial da
,idu monástica, tão perfeitamente como se tivesse
vivido no claustro ( I ).
**t

(1) Acta SS., 4 de fevereiro.

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SÃO JOSÉ DE LEONESSA
Religioso capuchínho

Nasceu em 1556, na cidadezinha de Leonessa


perto de Otricoli, que é o Estado eclesiástico. Com
a idade de dezoito anos, f.êz profissão no convento
que os capuchinhos possuíam no lugar em que nascera,
e mudou o nome de Efrânio pelo de |osé. Foi sempre
um modêlo perfeito de doçura, humildade, paciência,
castidade e obediência. Em três dias da semana, só
to'mava pão e âgua; assim passou várias quaresmas;
dormia sôbre umas tábuas, e servia-lhe de travesseiro
um tronco de árvore. Nunca era maior a sua alegria
do que quando podia sofrer injúrias e desdéns. Con-
siderava-se o último dos pecadores e costum ava dizer:
"É verdade que, pela misericórdia de Deus, não caí
em crimes enormes, mas tão mal co,rrespondi à sua
Graça, que houvera merecido ser abandonado mais
do que qualquer outra criatura." Tinha singular de-
voção por Jesus crucif icado, e os padecimentos do
nosso divino Salvador constituíam, para êle, o mais
comum objeto das suas meditações. Pregava io*rr-
mente com um crucifixo entfe as mãos, e as palavras,

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414 PADRE ROHRBACHER

feitas de fogo, abrasavam de amor sagrado os coÍâ-


ções dos ouvintes,
Em I 587 , enviaram-no os seus superiores à Tur-
quia, para trabalhar, como missionário, no ensino dos
gristãos de Pera, arrabalde de Constantinopla. O
santo dedicou-se com uma caridade verdadeiramente
heróica ao serviço dos galeotes, sobretudo durante as
devastações de horrível peste. Sendo êle próprio
atacado da cruel enfermidade, Deus lhe devolveu a
saúde para o bem de uma grande multidão de almas.
Converteu Sao )osé de Leonessa vários apóstatas,
entre os quais um paxâ. Os muçulmanos, furiosos
com o êxito das suas pregações, f.izeram com que
fôsse atirado a uma masmorra por duas vêzes, e coo-
denaram-no à morte. Penduraram-no de uma Íôrca
por um dos pés e uma das mãos, e longo tempo o
deixaram em tal estado. Finalmente, tiraram-no de
lâ, e o sultão comutou em exílio a sentença de morte.
Tendo |osé embarcado para a ltália, desceu em Ve-
rLeza e chegou ao seu convento após uma ausência de
dois anos. De regresso à pátria, recomeçou os tra-
balhos apostólicos, e o céu continuou a os abençoar,
como já havia feito antes. O santo, pelo fim da vida,
foi af ligido por horrível câncer que lhe causou as
mais cru+áis dores. Sofreu duas vêzes as operações
dos cirurgiães, sem dar o menor suspiro. Durante o
tempo todo, segurou entre as mãos um crucifixo, só
murmurando estas palavras: "Santa Maria, orai por
nós, míseros pecadores". Tendo um dos presentes

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I

VIDAS DOS SANTOS

proposto que o amarrassem durante a operação, disse


êle, mostrando o crucif ixo : " Eis o mais f orte dos
laços; manter-me-â imóvel muito melhor gue qualguer
corda." Não tinha remédio a medonha enfermidade,
e o santo morreu em 4 de fevereiro de 16L2. Nesse
dia, depârâ-se-ros o seu nome no Martirológio romano
publicado por Bento XIV. Foi beatificado por Cle-
mente XII em 1737, e canonizado em 1746 por
Bento XIV (1).

***

(1) Godescard, 4 de fevereiro.

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I r

SANTA VERÔNICA (*)


Quando Nosso Senhor seguia a via dolorosa que
o havia de conduzir ao Calvário, diz-se que uma
mulher, compadecida de tanto sofrimento, achegou-se
piedosamente do divino Mestre e, desprendendo da
cabeça uma peça de linho que a recobria, com ela
enxugou o suor e o sangue que ia pelo rosto todo,
macerado, de |esus. Fala, então, a tradição que, em
recompensa por aquela boa ação, o Senhor deixou no
branco linho impressa a divina [ace.
A mulher chamava-se Verônica, e, com unção,
guardou aquêle pano, então sagrado, eue, um dia,
pelo simples contacto, curou o imperador Tiberio de
grave doença.
O nome de Santa Verônica não figura no marti-
rológio romano nem nos antigos ou nos da ldade-
Media. Há os que a querem apresentar como sendo
Marta, irmã de Lâzaro, o de Betânia, que |esus res-
suscitou, depois de estar mo,rto hâ iit quatro dias ( I ) ,
ou mesmo aquela mulher que, f.azia doze anos, padecia
um fluxo de sangue, que se vê em Sao Mateus (2) .
Reconhecida por se ver curada por ]esus, encontrou

(1) fo. 11, 17.


(2) Mat. 9, 20.

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VIDAS DOS SANTOS 417

aquêle rneio de lhe mostrar a gratidão, enxugando-


lhe o rosto ensangüentado, quãndo, flo caminho da
crucificação, passou-lhe o diüno Mestre defronte da
casa em que habitava.
No evangelho apócrifo de Nicodemos, a verô-
nica é mencionada com o nome de Berenice.

/
- Mas, e o linho, estampando a sagrada Face?
Refere-se que santa verônica, antes " d. ,norÀ,
deixou-o aos cuidados do papa sao clemente. Toda-
via, tudo são hipóteses.

qÉ&&

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sÃo FILÉIAS E SÃO FILOROMO (*)
\ \
Mártíres ,\
tI

Fileias era natural do Egito, da cidade de


Thmuis, filho duma das mais nobres, antigas e-impor-
tantes famílias do lugar. Enquanto tôda a família,
espôsa e filhos, mesmo os amigos, permaneciam no
paganismo, Fileias, com grandei conhecimentos [ilo-
.Oii.or, foi levado à cor,rersão pela filosofia mesma.
Pelas virtudes, foi feito bispo da cidade em que
nasceu.
Filoromo, na mesma ocasião, era funcionário na
administração imperial de Alexandria, convertido ao
cristianismo.
Ambos os dois, Fileias e Filoromo, foram Presg:
e encarcerados no mesmo dia, em fins do ano de 306
ou princípios do de 3OT . Estava então Culciano' na
prefeitura do Egito.
Em virtude de diversos cargcs publicos que exer-
cera e do grande nome da família, advogados corre-
ram deferider Filéias. Levados os dois presos à
presença do prefeito, Culciano iniciou o interrogatório,
qu" f"i longo e culminc'u do seguinte modo'
se sacrificares aos deuses, disse culciano,
tu serás pouPado.

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I
VIDAS DOS SANTOS 419

Não sacrifico; retrucou Fileias com Íirmeza.


É assim que eu hei de me poup'ar a mim mesmo.
Os advogados, insinuando-se, disseram ao pre-
feito, para contornar:
Mas êle iâ sacrificou! |á satisfez os editos
a que referistes ha pouco!
|amais! gritou o santo bispo de Thmuis.
|amais sacrifiqueil
Culciano, olhando o interrogad.o por algum
tempo, acabou por lhe dizer t
Tens um momento para refletir.
Refletir? Íêz Filéias. Como se já não, tivesse
refletido tão longa, tão maduramente! la escolhi,
quero sofrer com Cristo.
Houve, então, um inusitado movimento no Íe-
cinto: advogados, gente do governador, o curador da
cidade, os parentes todos do santo bispo correram a
êle, a gritar, acoroçoando-o:
Reflete, reflete com calma! Ve tua espôsa
não te esgueças de teus filhos! Tem piedade, prin-
cipalmente de teus filhos.
Filoromo, atê então calado, como se fôra tão-
sômente um espectador, entrou em cena:

Ó gente, elevou a voz, por que tanta movi-


mentação, tanta ffuia? Por gue tentar inütilmente a
coragem dêsse homem? Por que levá-lo a ser infiel

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420 PADRE ROHRBACHER

a Deus? Não vêdes que está êle alheio a tudo, de


olhos secos, todo voltado para Deus, todo absorvido
pela contemplação da gloria divina?

Todos, então, entreparados por um instantà,


tolhidos que f oram pela surprêsa, descarregaram o
nervosismo sôbre Filoromo transformado em cólera, e
cólera imensa, acusando-o raivosamente a Culciano.

O prefeito, cuja paciência se esgotara, impôs o


silêncio e a ordem no tribunal. E, solenemente, serl-
tenciou gue os dois presos cristão,s Íôssem decapitados.

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l,'I
I

sÃo TEóFILO, O PENITENTE (*)


A lenda que se conhece sôbre Sáo Teof ilo,
cogncminado o Penitente, ê deveras interessante, e
nos mostra o quão misericordiosa e poderosa é a doce
Mãe de fesus, que ela, aqui, é uma das principais
personagens.
Teófilo, da igreja de Adana, na Cilicia, homem
assaz considerado, foi, com a morte do bispo, nomeado
para substituí-lc, no trono episcopal. Humilde, Íe-
c^usou a dignidade, e cutro foi ocupar o pôsto.
Caindo na desgraça do novo prelado, Teófilo viu-se
perseguido e reduzido à po'b Íeza.
Que teria levado o Santo a mudar tão repentina-
mente de sentimentes, passando a dese jar a vingança
com ardor?
Vivia na cidade um judeu que mantinha relações
com o diabo. Teófilo, irritadíssimo, foi procurá-lo,
cheio todc, êle de perversos pensamentos, desejando
entrevistar-se com Satanás. O judeu, excitadíssimo,
encantado com aguela ótima oportunidade que se lhe
apresentava, atendeu o raivoso homem que lhe soli-
citava os préstimos. E, sem tardança, promoveu uma
entrevista.
O espírito infernal, diante de Teofilo, pergürl,
tou-lhe:
Que desejas de mim?

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422 PADRE ROHRBACHER

TeoÍilo, sem pestanejar, expôs:

me persegue e me reduziu à mendicância.


Assim será, respondeu Satanás, mas ha uma
condição essencial...
Qual? perguntou o Santo com firme deter-
minação
Hás, impôs o diabo, de renegar o Cristo e
sua Mãe.
Renego-o,s, avançou Teofilo, cego.
- Sim, sim, Í.êz o diabo, mas não há de ser
assim, precipitadamente. Aludar-te-ei, prometo-te,
mas quero que me dês, por escrito, o que há pouco
pronunciaste, e assinado.
Teofilo, sempre na mais obstinada f.irmezâ, escre-
veu os têrmos da declaração, firmando-a em seguida.
Desaparecido o diabo, Teófilo caiu em si. Que
havia feito! E todo o crime lhe 'apareceu com as mais
negras pinceladas. Chorando, pôs-se a implorar o
auxílio da Virgem Maria. E, noite e dia, a suplicar
à Mãe de Deus, juntando às preces que f.azia,
banhado em lágrimas, o jejum e outras mortificações,
passou quarenta longos dias atormentado, numa igreia
consagrada especialmente à Maria, I
Decorrido aquêle tempo, a Virgem apareceu-lhe:
Tu me chamas, filho? perguntou-lhe ela doce-
mente. Que desejas?
Teofilo, de alma aberta, confortado, respondeu-
lhe, balbuciando, â tremer:
Teu perdão, Mãe de fesus Cristo!
Maria, então, desapareceu, e três dias depois,
novamente lhe aparecia. E, sorrindo-lhe, disse:

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VIDAS DOS SANTOS 423

Filho, estás perdoado!


Outros três dias transcorreram, e Teofilo, mais
desaÍogado, dormiu um pouco' E sonhou. Sonhou
que Nossa Senhora lhe aparecia por terceira vez,
desta feita trazendo nas mãos a declaração que assi-
nara e entreg aÍa a Satanás.
Com uma grande sensação de tranqüilidacle,
Teofilo acordou e, vendo qualquer coisa sôbre o peito,
deu com o execrável documento.
Durante a missa, flo dia seguinte, era domingo,
o santo homem, após a leitura do evangelho, correu
ajoelhar-se âos pés do bispo, confessando, de público,
a' falta que havia cometido. E, contandc pormenori-
zadamente o que se passara, acabou por lhe mostrar
a declaração milagrosamente recuperada pela Virgem,
suplicando ao prelado que a lesse em voz alta para
que todos os fieis dela se inteirassem.
Em 538, São Teofilo, o Penitente, na mais santa
disposição, falecia.

No mesmo dia, em O";r, Santo Eutíquio, que


terminou a vida por um glorioso martírio, e foi sepul-
tado no cemitério de Calixto. Sao Damásio, papa,
lhe escreveu o epitáfic' em versos' Em Fossom-
bruna, os santos mái'tires Aquilino, Gêmino, Gelásio,
Magno e Donato. Em Pelusa, no Egito. padre e
*orig", de grandes méritos e muito saber, Santo Isi-
cloro. Ascéta, teólogo e diretor de almas, era de
Alexandria, de impc,rtante f amília. Pref erindo o
cenobitismo organizado por São Pacômio, retirou-se
para as vizinhanças de Pelusa. Admitido no mosteiro
de Licnos, levou vida de mortificação, intervindo na

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424 PADRE ROHRBACHER

questão do nestorianismo. Votava grande admiração


e irnenso respeito por São foão Crisóstomo. Deixou
vários escritos e muitas cartas, respostas sôbre Çues-
tões das Escrituras sagradas, que lhe solicitavam,
como se f.azia a Santo Agostinho, e sôbre regras de
conduta e conselhos. As cartas, mais de duas mil,
reunidas em cinco volumes, tornaram-no célebre.
Faleceu em 449.
Em Maiença, o bem-aventurado Rabano Mauro,
bispo e confessor, nascido em 784. Com dez anos
entrava para a abadia de Fulda, sendo ordenado
diácono aos dezessete. Foi, então, pelo abade enviado
a Tours, onde continuou os estudos, sob Alcuíno. De
volta a Fulda, passou a dirigir a escola do mosteiro,
e, com 30 anos, era ordenado padre pelo arcebispo
de Maiença. Com a morte de Eigil (822) , o abade
que então governava o mosteiro, sucedeu-lhe, admi-
nistrando a comunidade por vinte anos, sendo sagrado
bispo de Maiença em 874. Com setenta e dois anos,
faleceu santamente.
No oriente, São Nicolau Estudita, confessor,
natural da ilha de Candia. Enviado pelos pais a
Constantinopla, o,nde o irmão, Teófilo, jâ se eflcoÍr-
trava debaixo dos cuidados de Teodoro Estudita,
então superio,r do mosteiro de Stude, foi obediente,

I
austero e dado às vigílias, quando dos tempos da
perseguição de Leão, o Armênio, contra os que vefle-
ravam as santas imagens. Faleceu em 868.
Na diocese de Arras, o bem-aventurado Simão,
abade e confessor. Originário de Gand, fêz-se bene-
ditino, fc,i abade de Auchy, mas sendo a eleição coo-
testada, retirou-se para Gand, falecendo em 1148.
Em Bréscia, Santo óbice, confessor. Pagão,
converteu-se ao cristianismo diante duma visão que

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I
VIDAS DOS SANTOS 425

teve do inferno. Faleceu em 1200, sendo honrado


na igreja de Santa )ulia, naquela cidade.
Em Bourges, Santa |oana de Valois, rainha,
também conhecida como |oana de França, fllha de
Luís XI, rei da França, e de Carlota da Savoia.
Espôsa do duque de Orléans, depois Luís XII. Fale-
cida em 1505, encontraram-na revestida dum rude
cilício, e, sôbre os rins, uma corrente de ferro, cujos
elos lhe provocaram ulcerações. A reputação de san-
tidade veio-lhe de inúmeras graças ccncedidas aos
fieis que lhe pediram a intercessão junto do Senhor.
Em Sempringham, na Inglaterra, Sac Gilberto,
padre e cbnfessor, o instituidor da ordem de Sem-
pringham. Nascido no fim do reinado de Guilherrne,
o Conquistador, eÍa filho de focelyn, senhor de Sem-
pringham, terras que recebeu em reccmpensa de
serviços prestados. Estudadc, na França, f.êz-se
professor. Querido do bispo de Lincoln, dêste rece-
beu a tonsura e as ordens menores, e, do sucessor,
a ordenação. Padre, não tardou em entrar na ordem
dos cônegos regulares. Quando do exílio do arcebispc
de Cantuária, São Tomás Becket, Gilberto f oi
acusado de socorrê-lo. Acusação falsa, porém, que o
Santo calou, para mais sofrer'por fesus Cristo. Sua
longa r,,ida foi uma contínua penitência. Alimenta-
va-se somente de legumes e tubérculc,s, assim mesmo
em pequena quantidade. Cego nc fim da vida, insen-
sibilizado, morreu com mais de cem anos, em 1 190.
Em Irenópolis, na Cilícia, São |oão, bispo e
confessor, desaparecido em 32( .
Em Milão, São Gêmulo, mártir, origiriário da
Germânia.
No mesmo dia, São |ásimo, taumaturgo.

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PADRE E,OHRBACHER

Na diocese de Troyes, Sao Vicente, bispo e


conÍessor, sucessor de São Camiliano. Faleceu
em 546.
Na diocese de Cambrai, São Liefardo, bispo e
mártir, morto por pagãos na f loresta de Arrouaise,
quando de volta duma peregrinação a Roma, no ano
de 640,
Na Escócia, Sao Modan, abade e confessor do
VIII ou IX sráculo.

Na Índia, São ]oão de Brito, jesuíta e mártir,


natural de Lisboa, onde nasceu em 1617, de nobre
família portuguêsa. Condenado à morte pelo príncipe
de Marava, morreu em 1693.

sss

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t-

ÍNDICE
IANEIRO
18.0 dia de janeiro
O trono de Sáo Pedro em Roma 7
Santo Fázio, ourives de Verona 15
A bem-aventurada Beatrrz de Vicência l7
Sã,o Deícola, abade 18
Bem-aventurada Maria de Brabante, rainha e mártir 20
Sáo Leobaldo, recluso e eonfessor ....\ 22

l9.n dia de janeiro


Sáo Canuto, rei da Dinamarca 26
Sáo Volstano, bispo de Worcester . 34
O bem-aventura.do André Grego, dominicano 37
Sáo Bassiano, bispo e confessor .. 39
São Laumer, aba.de e confessor 4L

20..n dia de janeiro


São Sebastião, e os seus companheiros, mártires fo

Santo Eutímio, o grande, abade 64

2l} dia de janeiro


Santa Inês, virgem e mártÍf de Roma ..'....... 73
Sa^nto Epifânio, bispo de Pavia 78
Sa,ntôs E rutuoso, bispo, Augúrio e Eulógio, diáconos e mártires 91
São Meinrado, ermitão e mártir 94

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428 ÍNDICE

22} dia de janeiro

Sáo Vicente, diácono, mártir


Santo Anastácio, persa, már'tir
Santa Lufthilda, virgem
Bem-aventurado Gautier de Bruges, bispo e confessor ... .. .

Bem-aventurada Maria Mancini, viúva

23} dia de janeiro

Sáo Joào Esmoler'. patriarca de Alexandria . 724


Santo Ildefonso, bispo de Toledo 133
Santa Emerenciana, virgem e már'tir 137

24." dia de janeiro

Sáo Timóteo, bispo e mártir L41


O bem-aventurado Marcolino, da Ordem dos Irmáos Prega-
dores 746
' Sáo Feliciano, bispo e mártir 148

Bem-aventurada Paula Gambara, viúva L52

25.' dia de janeiro


Conversáo de Sáo Paulo 156
Sáo Popo, abade de Stavelo 164
Santo Ananias 166
São Bretânio, bispo e confessor 167
Santo Apolônio, abade 169
Sáo Projeto, bispo e mártir 170

26.n dia de janeiro


'Policarpo,
Sáo bispo de Esmirna e mártir .... .

Santa Paula, viúva


Santa Notburga, criada no Tirol ....r,r-,

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I I I
ÍNDICE 429

27 .n dia de janeiro
Sáo João Crisóstomo, bispo de Constantinopla 199
Santa Ângela Merici, F undadora das Religiosas Ursulinas 2L2
Sáo Lôbo, bispo e confessor 276
Sáo Domiciano, monge e confessor 2L8
2]..9
221

28.' dia- de janeiro


São Cirilo, bispo de Alexandria ZZ5
A bem-aventurada Margarida da Hungria .. 280
Sáo Joáo de Reomé, confessor . .. .... ..... ZBg

:L:Tí?J;il"1"-;;;;, ;;;; ::::::::::::: ::::::: :: i: ;iX


São Juliáo, bispo e confessor ...:.... ZBg
Bem-aventurada Gentilis, viúva 24L

29,' dia de janeiro


Sáo tr'rancisco de Sales, bispo de Genebra 245
Sáo Constâncio, bispo e mártir 267
Santos Sarbélio e Bárbia, mártires 268
São Sabiniano, mártir . ,. r . , 270
Sáo Juliáo, o hospitaleiro 272
Sáo Sulpício Severo 277
Sáo Gilda, o prudente, abade . .. 278

30.n dia de janeiro


Santa Batilde, rainha da França 283
Santa Aldegundes, virgem e abadessa 288
santa Jacinta de Mariscotti, virgem da ordem Terceira de
Sáo tr'rancisco !. .. .. . 289
Santa Tiadilda, abadessa 293

3l.n dia de janeiro


Sáo Pedro de Nolasco, fundador dâ Ordem da Graça para a
redenção dos cativos ... 297

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I
4t:]o ÍNDICE

303
A bem-aventurada Luísa Àlbertoni 305
Santa Marcela, viúva 306
309
Santo Adamnan, confessor . ..
Sáo Joáo Bosco, confessor 311

FEVEREIRO
l.e dia de fevereiro
Sa^nto Inácio, bisPo de Antioquia e mártir 32]-
334
Sáo Sigisberto, rei
336
Sã.oPiônio, mártir
338
Sã,o §bur, ermitã.o
340
Sa^nta Brígida, virgem
342
Ilem-aventurada Veridia^na, virgem e mártir

2.e dia de fevereiro


348
A Purificação da Sa.nta Virgem
355
Sáo Cornélio, centuriáo rornano
Bem-aventurado João Teófano Venard, mártir 360

3j dia de f evereiro
Santo Ansgar, arcebispo de Hamburgo e de Bremen 365

o bem-aventurado oderico, franciscano, Missionário na china 388

O bem-aventurado Nicolau de Longobardi, mínimo 392

Sâo Brás, bisPo e confessor ...


394

4.o dia de fevereiro


Santo André Corsino, bispo de Fiésole na Toscana
402
4t].
T Santo Remberto, arcebispo de Bremen
413
Sáo José de Leonessa, religioso capuchinho
4L6
Santa Verônica
418
Sáo Filéias e Sáo F iloromo, mártires
421
Sáo Teófilo, o Penitente

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