Dissertacao Aliana Simoes
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Dissertacao Aliana Simoes
FEIRA DE SANTANA – BA
2013
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FEIRA DE SANTANA – BA
2013
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 1
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
CDU: 614(814.2)
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 2
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
BANCA EXAMINADORA:
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, nosso grande Pai, por estar sempre presente em todos os momentos de
minha vida, cobrindo-me de benção e proteção.
Agradeço a meus pais (Ernanes e Antonia), por me apoiarem em todas as minhas decisões,
apesar da queixa constante de minha ausência.
Agradeço aos meus irmãos (Sandro, Adriana e Naldo) pela torcida e por me incentivarem a
buscar sempre mais.
Agradeço as minhas cunhadas (Adriana, Raquel, Sandra e Suzana) pela torcida e pelo grande
apoio, sempre dispostas a me ajudar em qualquer tempo e momento.
Aos meus sobrinhos (Dinny, Breno, Lucas, Henrique, Gabi e Bia). Vocês são luzes para o
meu caminho!
Agradeço aos meus sogros (Seu Bira e D. Zetinha) pela compreensão e apoio em todos os
momentos.
Agradeço ao meu esposo (Ubiratan Júnior – Ju) pelo seu amor, carinho e compreensão. Sua
presença, seu sorriso, deu-me forças para continuar, acalmou-me nos momentos difíceis e
ajudou-me a encontrar soluções para tantas dificuldades. Todos esses momentos fortaleceram
nossa relação e nos mostraram quantas vitórias podemos alcançar juntos na nossa vida.
Agradeço aos meus amigos que, mesmo distantes, me incentivaram a continuar e alcançar os
meus desejos.
Agradeço aos amigos do Mestrado (Anderson, Ana, Bruno, Carol e Márlon) por
compartilharem comigo todos os momentos do curso - alegrias, tristezas, as nossas viagens
(foram maravilhosas!), o aprendizado e o valor da amizade. Percebemos que, juntos, podemos
ser mais fortes!
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 5
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Aos demais colegas do Mestrado, que de alguma forma, contribuíram para o meu
crescimento.
Agradeço a minha orientadora (Marluce Assis) por ter me apoiado desde o início do curso,
antes mesmo de ser a minha orientadora. Sou muito grata pela paciência que teve comigo, na
condução da pesquisa e por ter acreditado no delineamento do meu objeto, encarando comigo
todas as dificuldades no desenvolvimento deste trabalho. Despertou em mim o prazer pela
pesquisa.
Aos professores, Isabela Pinto e Túlio Franco, pelas sugestões e críticas, que muito
contribuíram para o delineamento da pesquisa.
Agradeço a turma do curso de Enfermagem da UEFS em que fiz o Estágio Docência pelo
desafio em conduzir a docência e superar as dificuldades do ser professor.
RESUMO
ABSTRACT
The health system Ensures the 1988 Constitution, the principles of the Unified Health System
(SUS), universality, fairness, integrity cared for in the health of Individuals. Thus, the citizen
has the right to life and health legitimized Becoming foundation for the realization of the
fundamental right to life, human dignity and citizenship. However, the health system is facing
gaps is putting its principles. From this perspective, the lawsuits go into this scenario an
instrument for the realization of these rights. The research is Performed to describe the profile
of the judicialization of health in the state of Bahia for the access to health technologies in the
SUS, in the period from 2005 to 2010, and to discuss access technologies in relation to the
demands of health care (drugs, food, admissions, treatments, surgeries and other) and the
lawsuits filed by users of SUS. The methodology has two approaches: a quantitative
approach, with retrospective descriptive study, from primary sources collected in the database
of electronic consultation and free access to the website of the Court of Justice of the State of
Bahia, the lawsuits. That demand for access to health technologies in the SUS, in the period
from 2005 to 2010. These data comprised the General Headquarters and Analysis Analyzed
were using Microsoft Office Excel 2007 for tabulation, build charts and tables for the
distribution of absolute and relative frequencies, and the qualitative approach with an
exploratory study, descriptive and analytical, using document analysis for the composition
Summary Table of the Analysis of Thematic Content Analysis by Defining the Category
Analysis. The results obtained by the design of the profile of Legalization of Health in the
State of Bahia have 103 lawsuits. That demand for access to technologies in the SUS, in the
period from 2005 to 2010. The year 2009 presented significant data entry with 47 stocks
(45.6%). 75 actions were recorded (72.8%) Interlocutory Appeal and to the towns of origin,
74 shares (71.8%) were related to the city of Salvador. The drug delivery was more demand
pled with 72 (60%). We found 63 cases (61.2%) related to degenerative diseases Chronic and
89, equivalent to 86.4% judgments granting the user access to the SUS. The year 2009
Showed 54 (52.4%) of the cases heard. With the discussion permeated by the Judiciary
unveiling a path for access to health technologies in SUS can infer such access that provides
the guarantee of the right to life and health to users, because the demands are met pled in
almost all the shares. The Civil Society Organizations have great power in the realization of
human rights act the key players in the mobilization of the Judiciary for the satisfaction of
their rights that have been denied or dissatisfied. For the health system, the demands,
especially for drugs by judicial cause great harm to the planning and management of
programs and services offered by SUS, and displacement of budget allocations for health to
meet the individual lawsuits, the vast Majority. Moreover, there is an excessive
medicalization of health care devaluing the relational technologies and the power of the
subject active in directing the disease process. Thus, we conclude that traveled this alternative
path by the user and allows access to the health system provides citizenship determined by the
participation of the individual as a citizen who sections the fulfillment of their social rights
established in the Constitution of 1988. However, we envision the need for a strong body of
technical professionals in the health field to work together with the Judicial Authorities in the
resourcefulness of actions. That require instructions for their acts embrasure decision-making
glimpsing consistent and fair to all Involved in the search for a society with social justice.
KEY WORDS: Legalization of Health, Access, Health Technologies; Unified Health System
- SUS.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 9
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
LISTA DE ILUSTRAÇÃO
LISTA DE TABELA
AB Atenção Básica
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APS Atenção Primária à Saúde
Art. Artigo
CACON Centros de Alta Complexidade em Oncologia
CEAF Componente Especializado da Assistência Farmacêutica
CNS Conferência Nacional de Saúde
COAPS Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde
CONITEC Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias
CRM Conselho Regional de Medicina
Doc. Documento
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
ESF Estratégia Saúde da Família
FTN Formulário Terapêutico Nacional
LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias
LME Laudo para Solicitação, Avaliação e Autorização de Medicamentos
LOA Lei Orçamentária Anual
LOS Leis Orgânicas da Saúde
NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família
NOAS Normas Operacionais da Assistência à Saúde
NOB Norma Operacional Básica
PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PCDT Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas
PDR Plano Diretor de Regionalização
PNAB Política Nacional da Atenção Básica
PPA Plano Plurianual
PPI Programação Pactuada Integrada
PRSB Projeto da Reforma Sanitária Brasileira
RAS Rede de Atenção à Saúde
RENAME Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
RENASES Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde
STF Supremo Tribunal Federal
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 12
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO 24
2.1 História das Políticas Públicas de Saúde para a efetivação do Sistema 24
Único de Saúde (SUS)
2.2 Direito à Saúde como Direito Fundamental: o princípio da dignidade 30
da pessoa humana
2.3 Acesso às tecnologias de saúde do SUS: dispositivo para a construção 34
da integralidade nas ações e serviços de saúde
2.4 Cidadania e participação popular: instrumento dos cidadãos na 39
garantia do direito à saúde
2.5 Judicialização da Saúde: o acesso às tecnologias de saúde do SUS 42
3 METODOLOGIA 48
3.1 Abordagem Quantitativa 48
3.1.1 Tipo de Estudo 48
3.1.2 Delineamento da Pesquisa 48
3.1.2.1 Unidade de Análise e Universo da Pesquisa 48
3.1.2.2 Fonte de Dados 48
3.1.3 Execução da Pesquisa 50
3.1.3.1 Elaboração do Banco de Dados 50
3.1.3.2 Análise de Dados 50
3.2 Abordagem Qualitativa 51
3.2.1 Tipo de Estudo 51
3.2.2 Técnica de Coleta de Dados 51
3.2.3 Método de Análise de Dados 52
3.2.4 Considerações Éticas 53
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 54
4.1 Acesso às Tecnologias de Saúde no Setor Público: Perfil da 54
Judicialização da Saúde no Estado da Bahia
4.2 O Poder Judiciário desvelando um caminho para o Acesso às 71
Tecnologias de Saúde no Sistema Único de Saúde – SUS
4.2.1 Judicialização da Saúde para o Acesso a Medicamentos no SUS 78
4.2.2 Judicialização da Saúde para o Acesso a Internamentos e Tratamentos 90
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ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
no SUS
4.2.3 Judicialização da Saúde para o Acesso a Cirurgias 92
4.2.4 Judicialização da Saúde para o acesso a Outras Demandas 94
CONSIDERAÇÕES FINAIS 98
REFERÊNCIAS 102
APÊNDICE A – Lista de Documentos 110
APÊNDICE B – Matriz Geral de Análise por Acórdão 121
APÊNDICE C – Matriz Geral de Análise por Decisão Monocrática 126
APÊNDICE D - Sínteses das Categorias de Análise 132
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 15
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
1 INTRODUÇÃO
1990, como na atualidade, com a Portaria n. 2.488, de 2011, que revisa e aprova novas
diretrizes para a Política Nacional da Atenção Básica.
Com relação à organização e funcionamento do sistema, estes perpassam pelo
gerenciamento de tecnologias de saúde que irão permitir aos usuários a resolubilidade de suas
necessidades e demandas. Essas tecnologias de saúde são, inicialmente, discutidas, por
Mendes-Gonçalves (1994), que aborda as tecnologias nas dimensões materiais e imateriais.
As tecnologias materiais compreendidas como máquinas e instrumentos e as imateriais como
o saber científico dos profissionais, que destaca, em suas análises, o saber predominantemente
médico.
No entanto, Merhy (2007) aproxima as tecnologias de saúde para o trabalho em saúde
numa visão da micropolítica do processo de trabalho e as categoriza em três dimensões:
tecnologias duras, relativas a tudo que a priori já está construído e programado, como as
máquinas, instrumentos, normas e procedimentos; tecnologias leve-duras, que são
caracterizadas por possuírem uma parte já estruturada e outra que será construída pelo agir do
profissional, como o conhecimento técnico-científico que já está constituído e, que, ao mesmo
tempo, será relativizado no momento de sua aplicação; e tecnologias leves que são
construídas cotidianamente nos processos relacionais entre o trabalhador e o usuário do
serviço, como o vínculo, acolhimento e responsabilização.
Portanto, ao estabelecermos relações entre o pensamento de Mendes-Gonçalves (1994)
e Merhy (2007) sobre as tecnologias de saúde, podemos observar que, na micropolítica do
processo de trabalho são exemplificadas algumas das ações e serviços do SUS, que envolvem
o acesso dos usuários às cirurgias, tratamentos, internações, próteses e medicamentos, e
perpassam pelas dimensões de análise das tecnologias supracitadas.
O acesso às tecnologias está implicado desde o conceito de entrada do usuário no
serviço como do seu andamento dentro do sistema, para que seja alcançada a resolubilidade
de suas demandas permeadas por barreiras, limites e dificuldades vivenciadas pelos usuários,
como o acesso geográfico – distância, tempo e deslocamento -, funcional – horário de
funcionamento, tempo de espera e qualidade das ações - e econômico – custos para aquisição
de procedimentos como o deslocamento -, que podem interferir diretamente no acesso aos
serviços. A reorientação das práticas e da organização dos serviços está imbricada com a
melhoria no acesso a essas tecnologias e, em consequência, proporcionar um atendimento
integral, de qualidade, que promova a resolubilidade das demandas da população.
Diante dessa complexidade e dos constantes desafios enfrentados pela gestão em
consolidar e efetivar os direitos à saúde a todos os cidadãos, como instituído na Constituição
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ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
1
No presente estudo, utilizaremos, de forma indistinta, os termos demandas judiciais, processos judiciais e ações
judiciais na saúde como sinônimos para judicialização da saúde, de maneira a tornar a leitura do texto mais clara
e objetiva.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 19
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
direcionaram para a legitimidade do Poder Judiciário nas decisões que se referem à garantia
do direito à saúde (SCHEFFER, 2009; BRASIL, 2009b).
As ações judiciais na saúde, como um instrumento judicial de ampliação do acesso do
cidadão às instituições públicas, contribui tanto para a incorporação de grupos marginais da
sociedade no acesso ao sistema de saúde como, também, intensifica a assimetria da garantia
dos direitos aos cidadãos (MACHADO, 2008).
No entanto, os processos judiciais norteados pela tomada de decisão do Poder
Judiciário no âmbito do Estado, possibilitam o cumprimento da prestação de ações e serviços
de saúde aos cidadãos, garantindo aos mesmos os direitos sociais, aqui tratados, como à
saúde, fundamentado no princípio da dignidade humana (GANDINI, 2010).
Para Médici (2010), a crescente demanda judicial na saúde pode ser considerada como
um recente aspecto potencializador das iniquidades financeiras que já perduram no sistema,
principalmente, através do rompimento das prioridades, recortando a atenção individual e
curativista a um nível superior ao da Atenção Primária, focada na coletividade, prevenção e
promoção à saúde. Decorrente de sua repercussão para os diversos atores envolvidos no
processo das diferentes esferas de poder, o tema da Judicialização da Saúde revela-se
complexo na sua incorporação à gestão do SUS, da relação estabelecida do Poder Judiciário
com o Executivo, bem como da incontestável dificuldade de acesso dos usuários às ações e
serviços, evidenciando as lacunas do sistema de saúde.
A participação popular mostra-se mais evidente na busca por esses direitos com o
processo da judicialização, sendo um novo caminho possível aos usuários de vislumbrarem a
efetivação de seus direitos a partir do ingresso de suas necessidades pelo Judiciário. No
entanto, discussões complementares e necessárias são levantadas, como o conhecimento
técnico da saúde por parte dos juízes para subsidiar as decisões judiciais, a influência da
indústria farmacêutica, a inversão da lógica do sistema de saúde direcionando o foco para a
medicalização, em detrimento das ações de promoção e prevenção, além de infringir os
princípios da universalidade, equidade e integralidade. Por outro lado, também suscita
discussões quanto à garantia do direito à saúde valorizando o princípio da dignidade da pessoa
humana e o exercício da cidadania.
A participação popular, conformada em diferentes demandas, individuais e coletivas,
busca através das instâncias já definidas de participação, como as conferências e os conselhos
de saúde, ou por meio de movimentos e organizações sociais, a garantia fundamental à vida
humana, o direito social que está implicado com o direito à saúde. Poder legítimo este que
exige do Estado o cumprimento de sua Constituição Cidadã ao instituir um sistema universal,
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ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
equânime e integral na atenção à saúde dos indivíduos. O não cumprimento destes direitos
possibilita que os cidadãos, como sujeitos ativos e participativos, busquem de todas as formas
a sua garantia.
Atualmente, o acesso à Justiça está sendo visto como uma possibilidade para
efetivação destes poderes legítimos por possibilitar que os cidadãos requeiram seus direitos
constitucionalmente definidos, sem escusar o Estado do cumprimento efetivo de ações e
serviços que promovam o atendimento às necessidades de saúde da sociedade, que, muitas
vezes, se apresentam com demandas para a apreciação do Judiciário, de forma urgente e
imprescindível à vida dos indivíduos.
Ao situar a temática de estudo em relação ao campo financeiro do setor da saúde, os
gastos com ações judiciais referentes à aquisição de medicamentos em 2008 foram de R$ 48
milhões, em 2007 de R$ 15 milhões, em 2006 de R$ 7 milhões e em 2005 de R$ 2,5 milhões.
O número das ações judiciais para aquisição de medicamentos no Brasil corresponde em 2008
a 783 ações – até julho do referido ano, em 2007 a 2.279 ações e em 2006 a 2.625 ações.
Dessa forma, podemos perceber o crescente número de demandas judiciais na saúde para que
haja o cumprimento dos direitos dos cidadãos. Vale ressaltar, que esses dados referem-se
apenas à demanda de medicamentos (BRASIL, 2011a).
Machado e outros (2011) afirmam que o Governo Federal gastou com aquisição de
medicamentos via judicial, em 2005, em torno de R$ 2,5 milhões, e em 2007 esse gasto
cresceu para R$ 15 milhões, atendendo aproximadamente a três mil ações referentes à
aquisição de medicamentos. Em 2008, essas despesas passaram para R$ 52 milhões. O
referido estudo reafirma o crescente investimento financeiro do Governo Federal para
cumprimento das decisões judiciais apenas com medicamentos.
Em alguns estados esses dados estão presentes de forma bastante emblemática, como
podemos elencar: o Estado de Minas Gerais em 2005 teve 1.744 ações judiciais e pelo
cumprimento das mesmas, houve um gasto de R$ 40 milhões na aquisição de medicamentos;
no Rio de Janeiro há um acordo da Secretaria de Saúde com o Poder Judiciário para que antes
da decisão das ações que pleiteiam por medicamentos, o mesmo faça um contato preliminar
com o setor da saúde no intuito de resolução antes da via judicial. No referido Estado, os
gastos decorrentes das demandas judiciais em 2008 foi de R$ 5 milhões; no Rio Grande do
Sul, que atua de forma similar com o Rio de Janeiro, em 2007 houve 7,9 mil ações judiciais e
gasto de R$ 6,5 milhões por mês no cumprimento das decisões judiciais; em São Paulo os
gastos referentes de 2002 a 2008 com ações judiciais foram de R$ 500 milhões (MÉDICI,
2010).
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 21
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
estados do país, para que fosse garantido ao cidadão o direito à vida e à saúde por meio do
Estado; e as consequências e dificuldades enfrentadas pelos entes federados e órgãos
administrativos em promoverem a resolubilidade das ações pleiteadas.
O contexto apresentado nos inquieta em compreendê-lo e, para tanto, recortamos o
acesso às tecnologias do SUS e a judicialização da saúde como objeto de discussão. Assim, o
estudo apresenta sua relevância a partir da compreensão crítica que poderemos obter com os
resultados do estudo, para o entendimento da crescente demanda da judicialização da saúde e
como esse processo tem sido articulado na gestão do SUS. Além disso, poderá contribuir com
possíveis propostas de articulação e negociação do Poder Judiciário com o sistema de saúde,
para que, juntos com os usuários, possam proporcionar melhorias no que tange ao acesso às
ações e serviços inerentes à gestão do SUS, tornando o Estado efetivo e cumpridor de suas
normas e direitos fundamentais ao cidadão, como o direito à saúde, promovendo a vida digna
do ser humano.
Diante do explicitado na discussão, podemos perceber que o tema da judicialização na
saúde engloba diversos enfoques quanto a sua aplicabilidade para o acesso às tecnologias do
SUS. Além disso, é permeado pelo envolvimento de diferentes sujeitos nos processos
judiciais – usuários do sistema de saúde, dirigentes de saúde e autoridades judiciais – que
possuem concepções divergentes com relação à garantia do direito à saúde pela via judicial.
Nesse contexto, salientamos a importância de estudos sobre o tema, que abarquem
além dos documentos oriundos dos processos judiciais, a percepção de todos os sujeitos
envolvidos, para que haja uma maior compreensão da realidade atualmente vivenciada na
gestão de saúde diante da judicialização, e que, a partir disso, novos espaços de articulação
sejam estabelecidos, almejando a efetivação dos direitos dos cidadãos, a resolubilidade das
demandas solicitadas pela sociedade, além da manutenção organizativa e administrativa do
Estado.
Dessa forma, ao considerarmos como objeto de estudo o acesso às tecnologias de
saúde a partir da judicialização da saúde no SUS do Estado da Bahia, Brasil, no período de
2005 a 2010, delineamos as seguintes questões norteadoras:
- Qual o perfil da judicialização da saúde no Estado da Bahia para o acesso às
tecnologias de saúde no SUS, no período de 2005 a 2010?
- Como se processa o acesso às tecnologias relacionadas às demandas por
medicamentos, alimentos, internamentos, tratamentos, cirurgias, entre outras, e as ações
judiciais movidas pelos usuários do SUS no Estado da Bahia no referido período?
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 23
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para um maior entendimento a respeito do tema a ser abordado neste estudo, torna-se
relevante à busca por uma fundamentação teórica que subsidie a discussão sobre o acesso às
tecnologias de saúde a partir da judicialização da saúde, no SUS. Para tanto, buscamos
aprofundamento em temas como História das Políticas Públicas de Saúde para a efetivação do
Sistema Único de Saúde (SUS); Direito à Saúde como Direito Fundamental: o princípio da
dignidade da pessoa humana; Acesso às tecnologias de saúde do SUS: dispositivo para a
construção da integralidade nas ações e serviços de saúde; Cidadania e participação popular:
instrumento dos cidadãos na garantia do direito à saúde; e Judicialização da Saúde: o acesso
às tecnologias de saúde do SUS.
2.1 História das Políticas Públicas de Saúde para a efetivação do Sistema Único de
Saúde (SUS)
Iniciaremos a discussão nas décadas de 1970 e 1980, período em que o Brasil passava
por uma conjuntura política baseada na repressão, que anulava quaisquer tipos de
manifestações ou movimentos que buscassem mudanças no sentido político, social,
econômico. Dessa forma, segundo Faleiros (2006), não existia a democracia, muito menos a
democracia participativa, havia um controle do Estado, com ações coercitivas e hegemônicas
perante a sociedade.
O movimento sanitarista, que culminou com o Projeto da Reforma Sanitária Brasileira
(PRSB), foi conduzido por reivindicações dos movimentos voltados para a saúde e possuía
como fundamento a conquista do direito à saúde e a ampliação do conceito de cidadania,
embasado na efetivação dos direitos sociais. Com isso, a Medicina Comunitária e a Atenção
Primária à Saúde (APS) surgem como estratégias de objeção ou alternativa do modelo de
saúde vigente. No período da Nova República foi convocada a VIII Conferência Nacional de
Saúde (CNS) em 1986, que foi a primeira Conferência aberta à sociedade civil, para discussão
de uma nova proposta para a saúde do país (CARVALHO, MARTIN e CORDONI JR., 2001;
RODRIGUEZ NETO, 2003).
No processo de formulação da Constituição, houve a participação direta dos
parlamentares e de vários segmentos sociais e, mesmo diante de impasses da conjuntura
política e econômica da época, a proposta do setor da saúde foi amplamente discutida e
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 25
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
não conseguem atingir os seus objetivos descritos em leis. É necessário que haja uma
reorientação das práticas dos profissionais, da atuação dos usuários exercendo ativamente sua
cidadania, bem como do redirecionamento do foco dos serviços e das políticas para a tão
almejada integralidade das ações e serviços de saúde.
Humanos em 1989, que dispõem sobre o direito à saúde para crianças e adolescentes, são
considerados exemplos para o Brasil, que reconhece e incorpora, em seu direito interno, a
garantia do direito à saúde, como um direito fundamental, a todos os cidadãos (SARLET;
FIGUEIREDO, 2009).
À questão de exemplo, diversos países, como Argentina, Paraguai, Uruguai, Portugal,
Espanha, Itália, dentre estes o Brasil, já reconhecem o direito à saúde como um direito
fundamental e possuem, expressamente, a garantia deste direito nos textos constitucionais
(SARLET; FIGUEIREDO, 2009).
Os direitos fundamentais são compreendidos pelos direitos civis, tanto no âmbito
individual como coletivo, políticos, sociais, econômicos e culturais. Assim, esses possuem
multidimensionalidade categorizados em direitos de primeira dimensão – liberdade; segunda
dimensão – de igualdade; terceira dimensão – de solidariedade; e de quarta dimensão – de
globalização política. De acordo com Cunha Júnior (2008), o termo dimensão é utilizado para
categorizar os direitos fundamentais porque as dimensões supracitadas não atuam de forma
separada, sendo que, uma não exclui a atuação da outra, e são, no entanto, complementares e
atuam concomitantemente.
Dessa forma, os direitos fundamentais de primeira dimensão correspondem aos civis e
políticos; os de segunda dimensão são associados aos sociais, econômicos e culturais; os de
terceira dimensão estão atrelados aos direitos de solidariedade; e os de quarta dimensão
correspondem ao direito à democracia direita e os relacionados à biotecnologia. No Brasil, os
direitos fundamentais foram instituídos na Constituição de 1988, com efetivação da garantia
do direito à saúde de forma universal, equânime e integral a todos os cidadãos (CUNHA
JÚNIOR, 2008).
Diante do exposto, compreendemos que os direitos sociais presentes na Constituição
de 1988 abrangem direitos e deveres que possibilitam aos indivíduos acesso aos serviços
básicos de sua necessidade humana como direito à saúde, educação, trabalho, lazer,
segurança, moradia, assistência social, dentre outros. Estas condições permitem que o cidadão
possa usufruir da dignidade humana, reduzindo as situações sociais desiguais, em
consequência, melhorando a qualidade de vida do indivíduo. Dessa forma, o direito social
possui como alicerce o princípio da dignidade da pessoa humana (CUNHA JÚNIOR, 2008).
Esse cumprimento dos direitos e deveres do cidadão, em busca de sua dignidade
humana com o acesso a serviços básicos de necessidade existencial, perpassa pela
disponibilidade econômica do Estado em poder cumpri-la, a partir da existência de recursos
financeiros suficientes para realização e efetivação dos serviços de forma igualitária aos
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 32
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Outra abordagem a esta teoria é diferida por Sarmento (2007) que compreende a
reserva do possível como um critério importante na constituição de parâmetros para o efetivo
cumprimento dos direitos sociais pelo Estado, porém, ressalta a importância de não haver o
equívoco nesta interpretação, ao relacionar a associação desta teoria com a absoluta exaustão
de recursos públicos.
Redirecionando a discussão para os direitos sociais, o direito à saúde está diretamente
ligado ao direito à vida, garantido pela Constituição de 1988 através dos artigos 196, que
dispõe que a “saúde é um direito de todos e dever do Estado” e que deve ser de “acesso
universal e igualitário às ações e serviços de saúde para sua promoção, proteção e
recuperação”. No artigo 198, institui o SUS com seus princípios e diretrizes para efetivação
desses serviços pelo Estado, no entanto prevê, no artigo 199, a atuação da iniciativa privada
de forma complementar ao sistema de saúde (BRASIL, 1988).
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 33
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
constitucional e constitui-se como um direito fundamental de cidadania, por meio do seu uso
como elemento central da luta dos movimentos sociais.
Apesar de sua legitimação no SUS, o acesso às ações e serviços de saúde, na prática
cotidiana vivenciada pelos usuários, apresenta-se de forma contrária ao que está posto em lei.
Nessa perspectiva, Assis, Villa e Nascimento (2003) e Lima e Assis (2010) acordam ao
afirmarem que o acesso ao SUS configura-se de forma seletiva, excludente e focalizada,
tornando os serviços desarticulados e fragmentados. A partir disso, discutem que o acesso
apresenta-se seletivo, por evidenciar as desigualdades de acesso dos usuários ao sistema, com
predomínio da lógica de mercado, direcionando o poder de aquisição, a partir da capacidade
de compra dos usuários e/ou empresas, caracterizando o sistema com evidência para a saúde
suplementar, com planos privados, em detrimento do público; excludente, por submeter o
direito à saúde ao racionamento de gastos em detrimento da qualidade dos serviços; e
focalizado, pela restrição do atendimento universal aos usuários pelos programas e serviços
pré-determinados pelo sistema.
Nesse sentido, compartilhamos com Travassos e Martins (2004) ao abordarem que o
acesso aos serviços de saúde é permeado por complexidade e imprecisão, pois está
diretamente imbricado com os diferentes contextos que permeiam sua conceituação e, que,
perpassa por constantes transformações ao longo do tempo. Para tanto, retomaremos,
inicialmente, o conceito de acesso por meio da definição contida no Dicionário Priberan da
Língua Portuguesa que o revela como “o ato de chegar ou entrar; elevação em posto ou
dignidade; promoção; serventia; acessível”. Com esta definição, podemos conceituar, fazendo
analogia com a saúde, que o acesso denota, primariamente, a entrada, a chegada do usuário ao
serviço de saúde. Lima e outros (2007) evidenciam em seu estudo que a obtenção do acesso
aos serviços é a primeira fase vencida pelos usuários para o atendimento as suas necessidades
de saúde.
Vale ressaltar, que somente a entrada do usuário no serviço não contempla a
resolutividade de suas demandas nem atende aos princípios e diretrizes do SUS, no que diz
respeito à universalidade, equidade e integralidade, desde a promoção à
reabilitação/reinserção social, compreendendo o usuário no âmbito de seu processo saúde-
doença permeado por múltiplos fatores determinantes e condicionantes da saúde. Nesse
ínterim, alguns estudos concretizam a amplitude do conceito de acesso ao apontarem em seus
resultados barreiras, limites e dificuldades dos usuários que transcendem a singela entrada no
sistema como, a barreira econômica, geográfica e funcional.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 36
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
aqueles que são “usuários efetivos” do SUS, ou seja, para aqueles cidadãos que optaram por
usufruir as ações e serviços ofertados pelo sistema conforme as normas e procedimentos
estabelecidos, em todos os níveis de atenção. O autor ressalta que, este posicionamento não
implica na negação de serviços aos “usuários potenciais” do SUS, porém, enfatiza que os
mesmos, por utilizarem serviços complementares ou suplementares de atenção à saúde, não
são prioritários no atendimento de suas demandas, no sistema público de saúde.
Essa divergência de interpretação amplia o leque de discussões sobre a garantia do
direito à saúde, como direito fundamental, a sua efetivação pelo sistema público de saúde por
meio de ações positivas do Estado, além de ampliar a participação popular na proteção à
saúde, com demandas individuais e coletivas, que impliquem na reorganização dos serviços e
das políticas públicas, tendo como foco central, a multiplicidade de fatores condicionantes e
determinantes da vida e saúde dos indivíduos. Nesse ínterim, o Poder Judiciário concede
decisões que perpassam por essas interpretações, mas que evidenciam, principalmente, a
cláusula pétrea da Constituição, a dignidade da pessoa humana.
Welfare State inglês esse conceito passa por ampliação e incorpora outros direitos aos
cidadãos como o direito econômico, civil e social, como demonstra Cesar (2007 p.20-1):
políticas de saúde que atendam as suas reais demandas. Essa articulação dos usuários pode
promover melhorias que abarcam a compreensão do processo saúde-doença e melhorias
infraestruturais, de ações e serviços ofertados pelo SUS.
Essa participação popular apresenta-se ainda de forma lenta e incipiente no sistema de
saúde brasileiro, apesar dos instrumentos formais regulamentados para o seu exercício. No
entanto, alguns caminhos vêm se desdobrando, no que tange à efetivação dos direitos
individuais e coletivos e à garantia dos direitos fundamentais, que preservem a dignidade da
pessoa humana. Um destes caminhos traçados, que está tomando corpo, é o acesso a esses
direitos pela via judicial, que também se configura como um exercício para o alcance de uma
cidadania plena. Evidenciando essa discussão, abordamos Cesar (2002, p. 14-5) que afirma
que o acesso pela via judicial é considerado,
(...) uma questão de cidadania, pois a participação na gestão do bem comum através
dos instrumentos processuais institui uma cidadania responsável, onde o cidadão se
torna responsável não somente por sua história, como também pela de seu país e de
toda coletividade.
Nesse contexto, Silva (2007) afirma que a realização dos direitos sociais e econômicos
está implicada com o governo e com a mobilização da sociedade civil organizada, pois
depende da implementação de políticas públicas para que haja sua efetivação. Dessa forma,
esses direitos podem ser assegurados, no sistema processual brasileiro, por meio de ações que
possuam demandas individuais e/ou coletivas. No entanto, Sarmento (2007) enfatiza que, no
âmbito jurídico, a garantia dos direitos sociais, por meio de ações coletivas, promove, mais
facilmente, à visualização de modificações na elaboração e execução de políticas públicas,
por terem maior notoriedade e repercussão jurídica.
Assim, destacamos que a participação popular deve ser estimulada na sociedade, pois
a mesma tem potencialidade para transformações na atenção à saúde, na formulação e
implementação de ações e serviços do SUS, na efetivação dos direitos fundamentais
imprescindíveis para a qualidade de vida e de saúde dos indivíduos. Atualmente, a via judicial
está se configurando como mais um espaço para a efetivação do exercício de cidadania, e que,
a partir disso, demanda dos gestores e trabalhadores de saúde uma atuação crítica para
incorporação deste dispositivo como aliado para (re) organização do sistema de forma a
contemplar os princípios e diretrizes do SUS.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 42
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Reumatóide e Diabetes, que atingem em sua maioria, os idosos, e as doenças raras, frequentes
em crianças e adolescentes.
Nessa perspectiva, a judicialização alavanca o número de ações judiciais no setor da
saúde, pleiteando ações e serviços de saúde que não foram atendidos pelo SUS, tais como,
medicamentos, cirurgias, próteses, internamentos. Destes, o que mais causa impacto
financeiro ao sistema e que possui grande demanda das ações é o acesso por medicamentos,
que englobam desde os de Atenção Básica aos excepcionais e de alto custo para o sistema
(ANDRADE; MACHADO; FALEIROS et al. 2008; BORGES; UGÁ, 2009; CHIEFFI;
BARATA, 2009).
Os estudos de Andrade e outros (2008) evidenciam que essas ações judiciais podem
ser analisadas por meio da compreensão de duas vertentes. A primeira considera que as
demandas judiciais na saúde permitem o exercício da cidadania e do acesso de forma integral,
universal e equânime aos serviços de saúde garantindo o direito à saúde; e a segunda, que
estas ações contradizem o princípio da equidade ao colocar em prática a ação judicial, por
atender a um pequeno grupo da população ou um indivíduo em detrimento da coletividade.
Ao analisarmos sob essa perspectiva, podemos elencar que o fenômeno da
judicialização pode apresentar lados positivos e negativos tanto para o Judiciário, como para a
gestão do SUS e usuários. Dessa forma, visualizando o lado positivo da judicialização
podemos atribuir o acesso de modo integral e universal aos medicamentos para tratamento
para HIV/AIDS pelos usuários devido a sua amplitude decorrente das intensas ações judiciais
na década de 1990.
Atualmente, essas ações correspondem a menos de 5% do total de ações por
medicamentos dentro do SUS. A partir dessa ferramenta de exercício de cidadania, pode-se
garantir ao cidadão seu direito de acesso à saúde, de forma integral, colocando o Estado como
real e prático responsável por tal direito e, o direito à saúde como direito fundamental do
cidadão (MARQUES; DALLARI, 2007).
Contrapondo essa perspectiva, autores como Andrade e outros (2008), Borges e Ugá
(2009; 2010), Pepe e outros (2010a), Ventura e outros (2010), Vieira (2008) e Vieira e Zucchi
(2007), realizam estudos que abordam o lado negativo da crescente busca através da demanda
judicial para resolução das necessidades de saúde pelos usuários.
Estes afirmam que os gestores de saúde enfrentam grandes conflitos com a
judicialização que abarca desde a transparência dos conflitos relacionados à alocação de
recursos, como o envolvimento destes com processos criminais decorrentes desta situação.
Este conflito impõe aos gestores grande constrangimento diante das ações judiciais. Assim,
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 44
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
encaram como um problema devido à elevação dos gastos relacionados à compra dos
medicamentos que interferem no planejamento de saúde realizado, tornando a via judicial um
novo caminho para a dispensação de medicamentos. Complementam que, este efeito negativo,
pode estar atrelado a atuação acrítica dos gestores de saúde com a demanda judicial, apenas
cumprindo o que é determinado sem avaliação das necessidades reais da população.
Pontuam que, os recursos destinados para a saúde, quando demandados por via
judicial podem interferir no princípio da equidade do SUS, por destinar recurso a apenas um
determinado indivíduo ou pequeno grupo de pessoas em detrimento da população, o que
possibilita o aprofundamento das iniquidades sociais, bem como a ausência de garantia de
segurança do usuário com o uso de medicamentos que não constam na RENAME estabelecida
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e que não possuem declarada
segurança terapêutica no país.
Aspecto questionado por Machado e outros (2011) e Gontijo (2010) diz respeito à
inversão da lógica do conceito de saúde pela judicialização. A partir da mesma, as ações
judiciais atendem apenas a oferta de medicamentos em detrimento de outros serviços do
sistema como promoção, prevenção e reabilitação. Com o impacto orçamentário que advém
do cumprimento das ações judiciais, estas ações passam a ficar em segundo plano no sistema
de saúde interferindo na lógica do sistema, além de servir como um fator de estímulo à
medicalização e ao uso irracional de medicamentos.
Nesse sentido, Pepe e outros (2010a; 2010b), Borges e Ugá (2010) e Vieira e Zucchi
(2007) coadunam ao afirmar que o Judiciário sempre se manifesta a favor da ação no que
tange à demanda de medicamentos, independentemente, se o mesmo consta na lista técnica do
Ministério da Saúde. Nesses estudos, os medicamentos pleiteados, por sua vez, estavam com
nomes comerciais ao invés do nome do fármaco ou genérico.
Com isso, levantam-se questionamentos sobre até que ponto a influência da indústria
farmacêutica exerce sobre essas ações, sobre os médicos - responsáveis pela prescrição dos
medicamentos - e pela escolha de medicamentos que não fazem parte da RENAME, de
medicamentos que não são aprovados pela ANVISA e, até mesmo, de medicamentos que não
estão presentes e não são adquiridos no Brasil. Fica o alerta para o cuidado com a influência
da indústria farmacêutica, interferindo na lógica de mercado e atuando como propulsora da
judicialização em benefício próprio, colocando em risco a garantia da segurança e efetividade
necessária do medicamento.
Os autores supracitados acordam que o fornecimento de medicamentos de forma
indiscriminada acaba privilegiando segmentos de doentes que têm mais recursos financeiros
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 45
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
para pagar advogados, ou mais acesso à informação, em detrimento daqueles que têm mais
necessidade. Seus estudos demonstram que a maioria dos usuários que utilizam a via judicial
para aquisição de ações e serviços do SUS é de classe com menor vulnerabilidade, que
utilizam o serviço de advocacia privado em detrimento do serviço público - a Defensoria
Pública, e os medicamentos são, em sua maioria, prescritos por profissionais de serviços
privados. Estas situações suscitam questionamentos referentes à observância do princípio do
SUS, a integralidade e universalidade das ações do SUS a todos os cidadãos.
Sarmento (2007) destaca que o acesso à justiça configura-se por não ser igualitário,
uma vez que, os segmentos sociais mais excluídos pouco recorrem ao Judiciário para a
proteção dos seus direitos, contribuindo, assim, para a concentração da riqueza e canalização
de recursos públicos para segmentos da população com maior poder aquisitivo.
Podemos ainda elencar limites na legislação sobre a atuação do Estado no que tange à
saúde. Estes limites pretendem ser superados a partir da regulamentação da lei 8.080/90 por
meio do Decreto n.º 7.508, que entrou em vigor a partir de 28 de junho de 2011. Neste decreto
ficaram estabelecidas as ações e serviços ofertados pelo SUS através, do já existente
RENAME e, a partir da elaboração do RENASES.
Assim, destacamos que a falta de competência da Assistência Farmacêutica em suprir
as demandas da população, é considerada um fator que alavanca as demandas judiciais; a
excessiva judicialização por medicamentos ferindo os princípios da equidade, integralidade e
universalidade, a partir do momento que, uma decisão de ação judicial da saúde beneficia
apenas ao indivíduo e pode, com isso, afetar toda uma coletividade; e, finalmente que o Poder
Judiciário atuando em posição que caberia ao Legislativo, provoca excessiva interferência nas
políticas de saúde, com incorporação de novas tecnologias que não são avaliadas de forma
técnica sobre sua efetiva resolubilidade, além da falta de conhecimento técnico na área de
saúde pelos juízes para embasarem suas decisões (BORGES; UGÁ, 2009; CHIEFFI;
BARATA, 2009; DELDUQUE et al. 2009; SANT’ANA et al. 2011).
Assim, alguns autores elencam fatores que são possíveis de reduzir à crescente
judicialização como, a valorização da regulamentação administrativa vigente, a sugestão de,
além de determinar o fornecimento do medicamento, o acompanhamento do usuário no
sistema; a estruturação do sistema de saúde; garantia de acesso aos serviços de saúde,
atualização dos protocolos e programas que norteiam a atenção à saúde, incluídos as listas
oficiais de medicamentos, protocolos clínicos e terapêuticos (MACHADO et al. 2011; PEPE
et al. 2010a; SANT’ANA et al. 2011).
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 46
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Nesse sentido, explicitamos que cabe à gestão do sistema perceber que a judicialização
é um fenômeno crescente e, após análise crítica do levantamento dessas necessidades pelas
ações judiciais, promover atualizações e incorporação de novas tecnologias ao sistema de
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 47
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
3 METODOLOGIA
Trata-se de estudo descritivo retrospectivo realizado a partir das ações judiciais que
foram ajuizadas no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, no período de 2005 a 2010, com a
finalidade de descrever o perfil da judicialização no Estado da Bahia, através da descrição das
variáveis em estudo.
De acordo com GIL (1999, p.46), “as pesquisas descritivas têm como objetivo
primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis".
Critérios de Inclusão
Critérios de Exclusão
2
O Acórdão é uma decisão colegiada de Desembargadores que delineiam cada um, seu voto acerca de um tema
e que possui o poder de produzir jurisprudência, definindo o entendimento institucional do Tribunal.
3
A Decisão Monocrática é uma decisão formulada por um único Desembargador que expressa o seu
entendimento a respeito de um tema e não possui o poder de instituir jurisprudência.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 50
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Variáveis da Pesquisa
O banco de dados foi elaborado a partir das variáveis definidas na pesquisa e após a
digitação e correção dos dados foi construída a Matriz Geral de Análise dos Acórdãos e das
Decisões Monocráticas (Apêndice B e C) para realização da análise.
4
O Agravo de Instrumento é realizado para impugnação da decisão interposto pela parte que foi prejudicada em
ação anterior.
5
O Mandado de Segurança é realizado para a garantia de um direito líquido e certo que não foi efetivado, não
demanda de instrução, pois atua com prova pré-constituída nos autos.
6
A Apelação Cível é um recurso contra a sentença proferida por juiz de primeiro grau.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 51
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Após a construção das Matrizes de Análises, os dados coletados foram analisados por
meio da distribuição de frequências simples e relativas para a caracterização do perfil da
judicialização da saúde no Estado da Bahia para o acesso às tecnologias de saúde no SUS, no
período de 2005 a 2010.
O software Microsoft Office Excel 2007 foi utilizado para a construção do banco de
dados e das Matrizes de Análises e para a realização da análise pela distribuição de
frequências simples e relativas. Estas são sintetizadas na tabulação e elaboração dos gráficos e
tabelas apresentados na análise e discussão dos resultados.
(...) além de permitir desvelar processos sociais ainda pouco conhecidos referentes a
grupos particulares, propicia a construção de novas abordagens, revisão e criação de
novos conceitos e categorias durante a investigação. Caracteriza-se pela empiria e
pela sistematização progressiva de conhecimento até a compreensão da lógica
interna do grupo ou do processo em estudo.
Para o tratamento dos dados obtidos, optamos pela técnica da Análise de Conteúdo
Temática. De acordo com Bardin (1979, p. 42), a análise de conteúdo pode ser conceituada
como
De acordo com essa definição podemos apreender que a análise de conteúdo possui
como finalidade primordial a inferência de conhecimentos sobre determinados assuntos em
pesquisa que permitirão a compreensão de uma realidade ou de um processo social.
Diante do exposto, segundo Minayo (1995, p. 74), a análise de conteúdo possui duas
funções a partir de sua utilização nas pesquisas, a saber:
[...] uma se refere à verificação de hipóteses e/ou questões. Ou seja, (...), podemos
encontrar respostas para as questões formuladas e também podemos confirmar ou
não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de investigação (hipóteses). A
outra função diz respeito à descoberta do que está por trás dos conteúdos
manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado.
Com a coleta de dados, foram analisados 103 processos que pleiteavam acesso às
tecnologias de saúde oferecidas pelo sistema público de saúde brasileiro, o SUS, no período
de 2005 a 2010, disponíveis no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia e que foram analisados
na Segunda Instância. A totalidade dos processos é conformada com ações que possuem
decisões proferidas no Tribunal de Justiça de duas formas, por Acórdãos – quando há um
grupo de Desembargadores que avaliam, discutem e acordam sobre o voto da decisão, e, por
Decisões Monocráticas – quando apenas um Desembargador profere sua decisão a respeito da
ação.
Ao analisarmos de tal maneira as ações ajuizadas sobre a judicialização da saúde na
Bahia, pode-se entender como as decisões a respeito desses processos se configuram no
Estado, bem como qual jurisprudência se apresenta dominante e regente das decisões
proferidas no Tribunal. Ademais, podemos elencar o posicionamento adotado pelas
autoridades judiciais na Primeira Instância.
Ao traçarmos a análise, a maioria, 61 processos (59,2%) configuram-se como
Decisões Monocráticas e 42 (40,8%) apresentam-se como Acórdãos. Nesse ínterim, apenas 03
ações possuíam decisões concomitantes em Acórdãos e Decisões Monocráticas,
representando 2,9% da totalidade de processos analisados que foram conclusos na 2ª
Instância. Esse resultado pode ser analisado por duas vertentes: uma que indica a morosidade
do Poder Judiciário em julgar e por o processo em concluso nas ações judiciais para a saúde
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 55
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
40
35
33
Número absoluto de ações
30
28
25 Acórdãos
19
20
16
15 Decisões
Monocráticas
10
5 2 3 2
0
0 0 0 0 0
2005 2006 2007 2008 2009 2010
Ano de Ingresso das ações
Fonte: Elaborado pelo próprio autor com as ações disponíveis no sítio do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.
Cidade de
Origem
Fonte: Elaborado pelo próprio autor com as ações disponíveis no sítio do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 58
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Outro ponto apreciado denota que apenas um (4%) Mandado de Segurança foi
expedido por Feira de Santana e, os demais, 24 (96%) pelo município de Salvador. De forma
similar, a Apelação Cível, teve sua totalidade expedida em Salvador. Esses dados ratificam o
maior acesso que a população da comarca de Salvador possui à Justiça, que pode ser inferido
pela maior quantidade de varas atuantes, por maior acesso às informações no que tange à
judicialização, bem como maior acesso aos demais profissionais envolvidos – profissionais de
saúde, Defensores Públicos e Promotores.
Com a análise das demandas pleiteadas nas ações, alguns processos litigavam por mais
de uma tecnologia de saúde em uma mesma ação, totalizando 120 demandas analisadas.
Destas, em sua maioria, eram para o fornecimento de medicamentos, com representativo de
72 (60%), seguido de internamentos e tratamentos, 16 (13,3%), cirurgias, com seis ações,
juntamente com a solicitação de alimentos - leite, que representaram cada 5% das demandas.
Em menor quantidade, estavam as tecnologias de saúde relacionadas ao acesso a exames,
próteses, aparelho respiratório, sonda, materiais cirúrgicos, transferências hospitalares,
transferências para UTI e transporte para realização de tratamento, em que juntas, totalizaram
20 demandas (16,7%). (Tabela 02).
Do total de tecnologias pleiteadas, grande número, 71 (59,2%), foi proveniente de
Decisões Monocráticas, contra 49 (40,8%) de Acórdãos. Condizente com os dados acima
citados, que ratificam o ano de 2009 como expressivo para as ações judiciais na saúde, a lide
por medicamentos foi mais acentuada nesse ano, com 31 (43,1%) de todas as demandas por
fornecimento de medicamentos pelo SUS. Além disso, 20 (80%) Mandados de Segurança, 49
Agravos de Instrumento (68,1%) e a totalidade das Apelações Cíveis estavam relacionados à
solicitação de medicamentos. Ademais, o município de Salvador apresentou o maior número
de ações 51 (70,8%) e o município de Alagoinhas apresentou sua totalidade de demandas
voltadas para o fornecimento de medicamentos.
Com esses dados, verifica-se que a busca por medicamentos direciona a grande
maioria das ações que requerem tecnologias dos SUS. Pode-se observar, em outros estudos
como, Borges e Ugá (2009) e Chieffi e Barata (2009) que a demanda por medicamentos é
elevada pela via judicial, com solicitação de medicamentos que perpassam os da Atenção
Primária aos excepcionais e de alto custo para o sistema. Assim, infere-se que há uma grande
medicalização da sociedade, contrariando a proposta política do sistema de saúde vigente, que
preza a promoção da saúde e a prevenção de agravos como eixos norteadores, além do
excessivo uso de tecnologias duras em detrimento das relacionais no cuidado à saúde.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 59
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Com relação às decisões proferidas nesse período, da totalidade de 103 ações, a maior
parte, 89, equivalente a 86,4%, foram atendidas concedendo o acesso do usuário ao SUS.
Algumas ações, oito (7,8%) tiveram suas demandas parcialmente atendidas e apenas seis
(5,8%) foram proferidas negativamente. No entanto, vale ressaltar que, das demandas que
foram parcialmente atendidas, todas as solicitações foram concedidas, porém com ressalvas,
relativas a aumento de prazo para cumprimento da demanda pleiteada, possibilidade de
substituição do medicamento, redução do valor da multa caso não houvesse o cumprimento da
decisão, alteração do local para atendimento à demanda e tempo de adesão do medicamento
pelo SUS para fornecimento a todos os cidadãos que o requisitarem. Assim, infere-se que
94,2% das demandas litigadas permitiram o acesso dos usuários ao SUS. (Tabela 02).
As ações que não tiveram suas solicitações atendidas estavam atreladas a falta de
provas, em sua maioria, cinco (83,3%) e, apenas uma (16,7%), a falta de interesse do usuário
no andamento e julgamento do processo, caracterizado como abandono. De acordo com
Theodoro Júnior (2009), ao requerente não basta apenas alegar a veracidade dos fatos, é
imprescindível que, para a decisão seja proferida, os fatos precisam ser apreciados quanto à
veracidade, para, posteriormente ser garantida a concessão do direito. Essas provas podem ser
apresentadas por meio de depoimentos, documentos e perícias que assegurem a veracidade
dos fatos alegados.
Das demandas atendidas, grande número foi referente às Decisões Monocráticas, 56
(62,9%) contra 33 (37,1%) relativos aos Acórdãos. A partir da análise dos processos, por
2009 ser o ano que apresenta mais ações, possui, consequentemente, o maior número de
demandas atendidas, 47 (92,2%), bem como, 2005, 2006, 2007 e 2008 que tiveram todas as
solicitações pleiteadas concedidas. Por outro lado, em 2009 e 2010, alguns processos
apresentaram negativa no atendimento à demanda, por causas já abordadas, indicando maior
apreciação das ações judiciais diante da crescente judicialização e dos recursos advindos do
Estado e municípios.
Dentre as ações tipificadas como Agravo de Instrumento, a maioria, 72 (96%) obteve
o atendimento das demandas, bem como, o Mandado de Segurança e a Apelação Cível, com
respectivamente, 22 (88%) e dois (66,7%). No rol das demandas atendidas, os municípios de
Alagoinhas e Itabuna asseguraram o que foi requerido em sua totalidade e, Salvador, conferiu
o atendimento a 70 ações (94,6%). Contudo, este também apresentou a maior quantidade de
demandas não atendidas, quatro (66,7%). Ao relacionar com as demandas pleiteadas, da
totalidade por medicamentos, 68 (94,5%) obtiveram suas solicitações atendidas, 11 processos
para internamento e tratamento foram concedidos, perfazendo um percentual de 68,8% das
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 60
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
ações, assim como, 83,4% dos pleitos por cirurgias foram concedidos. Apenas as demandas
referentes ao fornecimento de alimentos retratados pelo leite foram concedidas integralmente.
Resultados de pesquisas de autores como Pepe e outros (2010a; 2010b) e Vieira
Zucchi (2007) evidenciam que a maioria das decisões que são pleiteadas tecnologias de saúde
pelo SUS são concedidas integralmente pelas autoridades judiciais, mesmo aquelas que
apresentam pontos críticos que versam sobre medicamentos que não são registrados na
ANVISA ou que ainda não são autorizados no país.
A partir de 2009, com os resultados da Audiência Pública convocada pelo Supremo
Tribunal Federal – STF, que discutiu sobre as nuances da judicialização, a jurisprudência que
prevalece no Judiciário, com os votos dos Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello, em
ações paradigmas que referiam-se ao acesso de saúde no SUS, está pautada na efetivação dos
direitos fundamentais sociais a partir do princípio da dignidade da pessoa humana com
valoração suprema do direito à vida (SCHEFFER, 2009; BRASIL, 2009b).
Nesse ínterim, a partir do momento que houve essa consolidação da jurisprudência no
país, concedendo as demandas em favor dos usuários, houve, em contrapartida, a maior
divulgação da possibilidade concreta de acesso ao SUS pela via judicial. Em consequência, a
difusão de informações corroborou para o aumento de ações ingressadas relativas à saúde no
Poder Judiciário, assim como maior número de decisões proferidas seguindo a jurisprudência
firmada após a Audiência Pública. Com isso, justifica-se o significativo número de ações
ajuizadas em 2009 no estado da Bahia.
Decisão
Demanda 02(2,2%) 03(3,4%) 02(2,2%) 14(15,7%) 37(41,6%) 31(34,9%) 89(86,4%)
Atendida
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 61
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Fonte: Elaborado pelo próprio autor com as ações disponíveis no sítio do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.
* Nessa categoria estão incluídas demandas pleiteadas por exames, próteses, aparelho respiratório, sonda,
materiais cirúrgicos, transferências hospitalares, transferências para UTI e transporte.
Outro ponto analisado nos processos judiciais foram os agravos referidos nas ações
que justificavam a necessidade de saúde requisitada nos processos. Estes agravos foram
categorizados de acordo com a característica de cada condição clínica. Assim, foram
destacados 63 casos (61,2%) de agravos Crônico-degenerativos, perfazendo a maioria das
ações, seguido de Autoimunes e Raros, com dez processos (9,7%), Gastrointestinais, sete
casos (6,8%), quatro ações (3,9%) relacionadas a Infectocontagiosos Agudos e dois (1,9%)
por Causas Externas. Foram inseridos na categoria, outros agravos, condições que não se
enquadraram em nenhuma das outras citadas e estavam de forma isolada com apenas uma
ação cada, a exemplo a Anemia e a Puberdade Precoce, perfazendo um percentual de 2,9% da
totalidade. Ademais, alguns processos, 14 (13,6%) não informaram o agravo relacionado à
demanda pleiteada. (Gráfico 02).
Com esses dados, conclui-se que os agravos crônico-degenerativos estavam
relacionados à maior parte das ações pleiteadas para o acesso ao SUS. Essa condição clínica
está de acordo com a transição demográfica que o país enfrenta, a partir do elevado número de
adultos e idosos na população e a crescente expectativa de vida. Dessa forma, os agravos que
mais estão presentes nesse perfil da sociedade são Hipertensão Arterial, Diabetes, Neoplasias,
Cardiopatias, Doenças Respiratórias, Renais e Vasculares, Hepatite C, bem como as sequelas
dessas condições (BRASIL, 2011b).
Em consonância com essas informações, com a análise dos processos evidenciam-se
muitas ações com demandas provenientes de agravos crônico-degenerativos, dentre estes, o
que mais se destacou foram as Neoplasias com 23 (36,5%), seguido de Diabetes, Hipertensão
e sequelas com 15 (23,8%) e Obesidade com cinco (7,9%). Este agravo desperta para o
elevado número de casos na sociedade que necessitam de tratamento, condição esta, que antes
considerada como fator de risco para outras patologias, mas que atualmente necessita ser vista
como um agravo.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 62
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Gráfico 02: Agravos demandados nos Acórdãos e Decisões Monocráticas no período de 2005
a 2010
29
30
23
Número Absoluto de Agravos
25
20
15
2005
10 8 8 2006
5 2007
4 4
5 3 3 3 3 2008
2 2 2
1 1 11
2009
0
2010
Agravos
Fonte: Elaborado pelo próprio autor com as ações disponíveis no sítio do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.
O município de Salvador apresentou grande parte das ações com agravos crônico-
degenerativos, 47 (74,6%), do mesmo modo com os autoimunes e raros, sete (70%) e com a
totalidade para causas externas. Entretanto, nesse município foi evidenciado o maior número
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 63
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
sua grande maioria, são proferidas a favor dos usuários, com concessão das demandas
pleiteadas, em destaque para as que solicitam medicamentos. Entretanto, esses autores
abordam a necessidade que as autoridades judiciais possam adquirir conhecimentos técnicos
na área de saúde para embasarem suas decisões e atuarem com justiça nos pleitos ajuizados.
Essa aproximação com a área poderia ser estabelecida por meio da articulação do Poder
Judiciário com as Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde, criação de núcleos de apoio
jurídicos, fóruns de discussão, que envolvessem também a sociedade para o exercício
cotidiano da cidadania.
A partir da organização processual, delinea-se todos aqueles que pleiteavam as ações
como requerentes e aqueles a quem era direcionada a ação como requeridos. Vale ressaltar
que as ações analisadas estavam na 2ª Instância e que, em sua maioria, foram procedentes de
recursos de uma decisão inicial proferida por juízes de 1ª Instância. Assim, com a análise dos
processos, 62 (60,2%) tiveram como requerentes das ações o Estado da Bahia e municípios,
posteriormente, os usuários com 28 (27,2%) e, por último, o Ministério Público, com quatro
(3,9%) ações em que se apresentou como requerente. Em contrapartida, os usuários foram os
que mais se apresentaram nas ações como requeridos das demandas, com 50 (48,6%), seguido
do Estado e municípios com 33 (32%) e, por fim, o Ministério Público com 20 (19,4%). Neste
item descrito, as Instituições Filantrópicas configuraram apenas como requerentes em nove
processos (8,7%). (Tabela 03).
Ao descrever por Acórdãos e Decisões Monocráticas, o Estado e municípios estavam,
em sua maior parte, como requerentes do processo, com valores de, respectivamente, 21
(50%) e 41 (67,2%). De forma diferenciada, com relação aos requeridos, o Estado e
municípios foi maioria para os Acórdãos com 22 (52,4%) e o Ministério Público, o menos
requisitado, em apenas nove (21,4%). No entanto, para as Decisões Monocráticas,
prevaleceram como requeridos os usuários, com 39 (64%) e o Estado e municípios, bem como
o Ministério Público foram requeridos de forma similar, com 11 (18%) cada um. As
Instituições Filantrópicas foram apenas requerentes nas Decisões Monocráticas, em sua
totalidade e não foram requeridos em nenhuma ação.
Em 2009, tanto o Estado e municípios como o Ministério Público e os usuários
estavam presentes nas ações como requerentes do processo, em sua grande maioria, como
elencados nos dados, respectivamente, 27 (43,5%), três (75%) e 14 (50%). Já as Instituições
Filantrópicas estavam, em grande parte, como requerentes, seis (66,7%), no ano de 2010. Da
mesma forma, o Estado e municípios e o Ministério Público, foram requeridos, em sua maior
parte, com ações no ano de 2009, com valores de 17 (51,5%) e 15 (75%). Ao contrário, os
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 65
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
usuários tiveram ações em que atuaram como requeridos mais no ano de 2010 com 26 (52%)
processos.
Por 2009 ter sido o ano que possuiu maior ingresso de processos sobre a
judicialização, corroborou para um grande número de ações em que o Estado e os municípios
pleitearam pela apreciação dos recursos decorrentes da busca pelo acesso ao SUS. Além
disso, observa-se que a participação do usuário foi crescente de 2009 a 2010, com a busca de
acesso às tecnologias do SUS, pela via judicial, evidenciando a difusão de informações sobre
esse caminho para o exercício da cidadania no país com a busca da efetivação dos direitos
sociais para manutenção da dignidade humana.
A partir da análise dos processos judiciais, o Estado e os municípios foram requerentes
em 60 (80%) das ações do tipo Agravo de Instrumento, visando o efeito suspensivo de
liminares que concediam o acesso dos usuários às demandas pleiteadas nos processos. De
forma similar, as Instituições Filantrópicas foram, integralmente, requerentes nos Agravos de
Instrumento, com o mesmo intuito acima elucidado. Por outro lado, o Ministério Público
atuou como requerente, em grande parte dos Mandados de Segurança, 24 (96%), em favor da
concessão de liminares favoráveis aos usuários.
Consequentemente, os usuários foram requeridos em 50 (66,7%) ações de Agravos de
Instrumento e o Ministério Público com 19 (25,4%) decorrente das ações recorridas pelo
Estado e municípios, que foram, em sua totalidade, os requeridos nos processos de Mandados
de Segurança. Esses dados evidenciam que tanto o Estado e os municípios recorrem das ações
ajuizadas para o acesso ao sistema, desde as tecnologias contempladas na Atenção Básica de
atenção à saúde e Média Complexidade, como aquelas referentes a agravos de condições
clínicas raras.
Outro ponto evidencia que o Estado e municípios estavam presentes nas ações, como
requerentes, em 36 (58,1%) processos no município de Salvador e, integralmente, para
Alagoinhas, Itabuna e os demais do interior do estado. Da mesma maneira, os usuários e as
Instituições Filantrópicas estavam, em sua totalidade, como requerentes nas ações no
município de Salvador. De outro modo, o Ministério Público foi requerente, em grande parte,
três (75%), nas ações com origem em Feira de Santana. De forma similar, o Estado e
municípios foram requeridos, em sua maioria, 29 (87,9%), nas ações de Salvador, bem como
os usuários com 40 (80%) dos processos.
Ao relacionar os requerentes com os tipos de demandas pleiteadas, infere-se que o
Estado e municípios foram requerentes em 43 (69,4%) ações em que os usuários litigavam o
fornecimento de medicamentos pelo SUS, seguidos pelos usuários com 24 (85,7%) dos
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 66
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
processos e, o Ministério Público, que atuou integralmente nas ações em que foi requerente
para o fornecimento de medicamentos. Das ações relacionadas ao fornecimento de alimentos
– leite, o Estado e municípios foram requerentes em quatro (66,7%) e, igualmente para as
cirurgias. Já as Instituições Filantrópicas atuaram como requerentes em oito (88,9%) das
ações para o acesso a internamento e tratamento.
No tocante aos requeridos, o Estado e municípios estiveram presentes em 28 (84,8%)
dos processos que pleiteavam medicamentos, o Ministério Público com 16 (80%) e, por
último, os usuários com 28 (56%). Ademais, para o fornecimento de alimentos – leite, metade
das ações, três (50%), teve como requerido o Estado e municípios e, para as cirurgias, grande
quantidade dos processos, cinco (83,4%), apontou como requeridos os usuários. Com esses
dados, conclui-se que o elevado número de processos que indicam o Ministério Público e os
usuários como requeridos estão atrelados à negativa do Estado e dos municípios em
concederem as demandas que foram pleiteadas para o acesso ao sistema de saúde.
Para os agravos que indicam as demandas pleiteadas, o Estado e municípios estiveram
presentes como requerentes em 39 (62,9%) e os usuários em 17 (60,7%) dos processos com
agravos Crônico-degenerativos. De maneira semelhante, o Estado e municípios foram
requerentes de ações para agravos Gastrointestinais em quatro (57,1%) processos e, para os
agravos Autoimunes e raros, com cinco (50%) bem como os usuários. Dado importante a ser
analisado, diz respeito aos processos que não possuem informação sobre o agravo que o
usuário está acometido para pleitear o acesso ao SUS, em que metade das ações (50%) o
Estado e municípios foram requerentes e 35,7% (cinco) os requerentes foram as Instituições
Filantrópicas. A informação sobre a condição clínica do usuário que litiga a ação é necessária
para a apreciação pela autoridade judicial quanto à urgência e/ou emergência da concessão da
liminar.
Paralelamente, o Ministério Público, usuários, Estados e municípios foram requeridos
na maioria das ações relacionados aos agravos Crônico-degenerativos, com valores de,
respectivamente, 11 (55%), 31 (62%) e 21 (63,6%) processos. Em consonância com o que foi
explanado anteriormente, os usuários foram requeridos, em grande parte, para as ações que
não continham informação sobre o tipo de agravo acometido 11 (78,6%), no intuito de
maiores esclarecimentos vislumbrando o andamento dos processos de forma célere, clara e
justa.
Na análise das decisões proferidas, já foi descrito que na maioria das ações as
demandas pleiteadas para o acesso ao sistema de saúde são atendidas. Dessa forma, dos
processos analisados, apenas dois (3,2%) em que o Estado e municípios foram requerentes
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 67
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Requerido
Estado/ 01(3%) -- 01(3%) 09(27,3%) 17(51,5%) 05(15,2%) 33(32%)
Município
Fonte: Elaborado pelo próprio autor com as ações disponíveis no sítio do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.
Gráfico 03: Ano de julgamento das ações por Acórdão e Decisões Monocráticas
35 33
Número absoluto de processos
30 27
25
20
15 Acórdãos
Decisões Monocráticas
10
5 6
4
5
0 0
0
2007 2008 2009 2010
Ano de julgamento das ações
Fonte: Elaborado pelo próprio autor com as ações disponíveis no sítio do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.
Após o detalhamento desses dados oriundos da análise dos 103 processos com
demandas que versam sobre a judicialização da saúde, no Estado da Bahia, no período de
2005 a 2010, pode-se concluir que há uma crescente demanda por ações que pleiteiam o
acesso às tecnologias de saúde do SUS, que possui uma tendência de crescimento para os
anos posteriores, decorrente da jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal em
2009 e da difusão de informação sobre o tema para a sociedade, principalmente por meio da
mídia.
Ademais, a busca por medicamentos detalha a característica emblemática da sociedade
com a supervaloração dos medicamentos e, consequente, seu uso irracional, além da
valorização dada às tecnologias duras em detrimento das relacionais vislumbradas pelo
sistema de saúde que luta pela promoção e prevenção em sua Constituição, Leis, Decretos e
Portarias, que constantemente fazem parte do arcabouço jurídico do nosso sistema de saúde.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 70
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Outro ponto intrigante da análise refere-se ao grande litígio por medicamentos essenciais, que
são contemplados pela Assistência Farmacêutica, no nível ambulatorial do sistema, para
tratamento de Diabetes, Hipertensão e Cardiopatias, associados aos medicamentos de maior
custo à Administração Pública para o tratamento de Hepatite C, Cânceres e Doenças Raras.
Posterior à análise desses dados percebe-se o quanto nosso sistema de saúde, apesar
dos 24 anos de existência, ainda caminha em passos curtos para o atendimento da
universalidade, integralidade e equidade de suas ações. Passos esses, que são permeados por
momentos de retrocessos, superação e avanços. A judicialização da saúde faz parte dessa
construção, desse delineamento de passos, corroborando com o desenvolvimento crítico e
participativo de todos que compõem o sistema - usuários, profissionais de saúde, gestores,
acadêmicos e, também, as autoridades judiciais, para estabelecimento de um SUS justo e
pertencente a todos os cidadãos.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 71
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
política, social ou até mesmo econômica enfrentada que inviabilizou ao cidadão a efetivação
dos seus direitos e, em alguns casos, de forma significativa, na manutenção da qualidade de
vida e dignidade da pessoa humana.
Os resultados obtidos advindos da análise dos processos judiciais que litigavam o
acesso às tecnologias de saúde no SUS no Estado da Bahia demonstram que a maioria das
demandas pleiteada no Poder Judiciário foi atendida com determinação de cumprimento pelo
Estado ou município do que foi solicitado, independente das alegações que os mesmos
apresentavam nos recursos como justificativa para se escusarem das decisões. Essa postura
apresentada pelo Tribunal de Justiça da Bahia é consonante com a jurisprudência adotada pelo
Supremo Tribunal Federal após Audiência Pública realizada em 2009 no que diz respeito à
judicialização da saúde no país, com a consolidação do entendimento de que a garantia do
direito à vida e a saúde está pautada no princípio da dignidade da pessoa humana na resolução
de processos judiciais que demandam cuidado à saúde pelo SUS.
Nesse sentido, na realização da Audiência Pública, casos foram destacados na
solidificação do posicionamento adotado no STF, a título de exemplo, o Estado de
Pernambuco, que foi determinado a custear as despesas na realização de cirurgia para
implante de marcapasso diafragmático muscular em vítima de assalto que foi de elevado custo
e realizado ainda como procedimento experimental, no Estado do Ceará e município de
Sobral, que foram determinados a transferirem todos os pacientes que necessitassem de UTI
para esta unidade, a determinação do fornecimento de medicamentos para um usuário com
doença genética rara e degenerativa no Estado do Paraná e no município de Igrejinha com
fornecimento de medicamento para Leucemia, que constava na lista do SUS, porém em falta
na Farmácia Popular (BRASIL, 2009).
As ações que não tiveram as demandas dos usuários atendidas estavam atreladas a
falta de comprovação da demanda com documentação legal e a falta de interesse da parte no
processamento da ação. Assim, em todos os outros casos analisados, a demanda foi atendida,
com, apenas alguns, apresentando ajustes, em relação à dilação do prazo para cumprimento da
decisão ou redução no valor da multa caso não houvesse a efetivação do que foi pleiteado.
As provas pré-constituídas são imprescindíveis para o fundamento da demanda
detalhando o estado de saúde dos usuários e a necessidade da tecnologia pleiteada e devem ser
apresentadas, por meio de receitas e relatórios médicos, devidamente assinados, carimbados e
com apresentação do registro profissional pelo Conselho Regional de Medicina – CRM, para
que sirvam de base no processamento e julgamento das ações e sustentem as decisões
proferidas pelos juízes.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 74
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Outro ponto analisado evidencia que os processos, em sua maioria, são em favor de
apenas um indivíduo. A jurisprudência adotada pelo Judiciário delineia que o Estado é
responsável pelo cumprimento do direito à saúde, que é um direito social, logo coletivo, mas,
principalmente, individual e que as necessidades de cada cidadão devem ser atendidas.
Não se mostrará lícito, contudo, ao Poder Público, em tal hipótese, criar obstáculo
artificial que revele – a partir de indevida manipulação de sua atividade financeira
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 76
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Além da alegação dos altos custos para o sistema que comprometem o planejamento
das ações e serviços do SUS, outra causa para a escusa do Executivo em cumprir a decisão faz
referência à determinação da competência de cada ente federado. Não obstante, o Judiciário
entende que independente da esfera que foi litigado a demanda, todas são responsáveis pelo
cumprimento do direito à vida e à saúde dos cidadãos, a partir do estabelecimento da
responsabilidade solidária inerente às esferas do Executivo.
A competência comum dos entes da Federação para cuidar da saúde consta do art.
23, II, da Constituição. União, Estados, Distrito Federal e Municípios são
responsáveis solidários pela saúde, tanto do indivíduo quanto da coletividade e,
dessa forma, são legitimados passivos nas demandas cuja causa de pedir é a
negativa, pelo SUS (seja pelo gestor municipal, estadual ou federal), de prestações
na área da saúde.
O fato de o Sistema Único de Saúde ter descentralizados os serviços e conjugado os
recursos financeiros dos entes da Federação, com o objetivo de aumentar a qualidade
e o acesso aos serviços de saúde, apenas reforça a obrigação solidária e subsidiária
entre eles (BRASIL, 2009b, p. 17-8).
poderiam procurar soluções cabíveis às demandas e, com isso, serem considerados pontos
chaves para a redução da judicialização.
Além disso, o Poder Judiciário destaca ser imprescindível o estabelecimento de
critérios para embasarem as decisões das ações judiciais como, por exemplo, a análise de
existência de políticas públicas de saúde sobre determinada demanda em questão, bem como a
revisão periódica dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, periodicamente, e a
elaboração de novos protocolos, por órgãos competentes, no intuito de acompanhar a
evolução tecnológica e, a partir disso, possibilitarem a incorporação de novas tecnologias ao
sistema de saúde.
Dessa forma, a existência desses protocolos permite que haja uma maior segurança ao
usuário com relação ao uso de medicamentos e/ou, bem como permite uma melhor
distribuição dos recursos públicos. Todavia, em casos que as indicações terapêuticas não
estejam contempladas pelos protocolos, o Estado não pode exonerar-se da obrigação de
cumprimento das decisões, mas, estas, devem ser categoricamente analisadas e
fundamentadas, para que não traga efeitos negativos aos usuários e uso indevido e/ou
inadequado dos recursos.
Parece certo que a inexistência de Protocolo Clínico o SUS não pode significar
violação ao princípio da integralidade do sistema, nem justificar a diferença
entre as opções acessíveis aos usuários da rede pública e as disponíveis aos
usuários da rede privada. Nesses casos, a omissão administrativa no tratamento
de determinada patologia poderá ser objeto de impugnação judicial, tanto por
ações individuais como coletivas. No entanto, é imprescindível que haja
instrução processual, com ampla produção de provas, o que poderá configurar-
se um obstáculo à concessão de medida cautelar.
Portanto, independentemente da hipótese levada à consideração do Poder
Judiciário, as premissas analisadas deixam clara a necessidade de instrução das
demandas de saúde para que não ocorra a produção padronizada de iniciais,
contestações e sentenças, peças processuais que, muitas vezes, não contemplam
as especificidades do caso concreto examinado, impedindo que o julgador
concilie a dimensão subjetiva (individual e coletiva) com a dimensão objetiva do
direito à saúde. Esse é mais um dado incontestável, colhido na Audiência
Pública – Saúde (BRASIL, 2009b, voto do Min. Gilmar Mendes, p. 28) (grifo do
autor).
O acesso a medicamentos no SUS pela via judicial tem notoriedade significativa por
apresentar o maior número de processos judiciais que foram ajuizados no Estado da Bahia.
Estas ações são, em sua maioria, decididas em favor do usuário para que o mesmo tenha seus
direitos constitucionais garantidos, independente se as medicações pleiteadas estão
disponíveis no SUS, se integram a lista do RENAME e, até mesmo, se possuem registro,
autorização e com eficácia comprovada pela ANVISA.
Alguns estudos como de Chieffi e Barata (2010), Leite e Mafra (2010) e Lopes e
colaboradores (2010) evidenciam a cautela quanto à dispensação de medicamentos pela via
judicial, por grande parte destes, estarem relacionados a inovações terapêuticas, sem registro
sanitário, com indicações diferentes das que foram registrados, caracterizando o uso off label.
Com o uso de medicamentos novos que não possuem a eficácia garantida pelo órgão
regulador do país, os tratamentos não asseguram resultados positivos aos usuários, além de
onerar o SUS ao financiar tratamentos que seriam de responsabilidade dos laboratórios
vinculados aos medicamentos.
Nesse ínterim, esses autores compreendem que a indústria farmacêutica possui grande
influência nas prescrições médicas, para que haja o aumento das vendas de determinados
produtos, estimulando a sociedade para um uso intenso de medicamentos, muitas vezes, não
acessíveis financeiramente pelos usuários e, determinando, por via judicial, que o Estado se
responsabilize pela sua aquisição, privilegiando laboratórios e indústrias farmacêuticas na
divulgação de seus produtos, tidos como inovações tecnológicas imprescindíveis para a
recuperação dos indivíduos.
Ademais, a utilização de medicamentos de forma indiscriminada poderá causar
grandes prejuízos à saúde dos indivíduos, proporcionando o advento de eventos adversos
imprevistos, caracterizado pelo uso irracional de medicamentos. Esse fator desloca a
promoção da saúde e a prevenção de doenças e agravos para um segundo plano no
direcionamento das políticas públicas de saúde, através do foco substancial dado aos
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 79
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Aduz, em sua retórica, que o provimento liminar antecipatório acarreta lesão à saúde
pública, sobretudo no que concerne à gestão dos recursos exíguos que deverão ser
destinados a um número indeterminado de pacientes e não a um único beneficiário,
o que configuraria malversação de verba pública, devendo ser disponibilizada para o
tratamento de outras doenças, mais usuais e de menor custo para o erário.
Nesse caso em específico, além das alegações acima discorridas, o Estado apresenta
uma justificativa no seu recurso que contraria todos os princípios e diretrizes do SUS e à
Constituição, ao afirmar que os recursos financeiros do sistema devem ser alocados
preferencialmente em doenças mais comuns na sociedade e que sejam de menor custo aos
cofres administrativos. Com isso, está condenando aquele indivíduo que possui uma doença
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 80
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
rara e que demanda por tratamentos de elevados custos a padecerem com suas patologias e de
não estar cumprindo aos seus deveres constitucionais, focando apenas as finanças públicas em
detrimento da dignidade da pessoa humana.
O Judiciário consolida seu entendimento que o Estado não deve exonerar-se de suas
obrigações e do cumprimento de cláusulas estabelecidas na Carta Magna evocando a
responsabilidade de assegurar aos cidadãos o direito à saúde em sua amplitude determinando
a integralidade do cuidado do indivíduo independente da patologia que o acomete. Assim,
determina que “é obrigação do Estado (...) assegurar às pessoas desprovidas de recursos
financeiros o acesso à medicação ou congênere necessário à cura, controle ou abrandamento
de suas enfermidades, sobretudo as mais graves” (Doc. 70, p.2).
Assim, os direitos sociais são garantidos a cada indivíduo e/ou coletividade com a
efetivação do direito à saúde e da preservação da dignidade da pessoa humana ratificando que
o acesso ao sistema de saúde é um direito de todos e que deve ser cumprido pelo Estado para
a universalidade e equidade do sistema e o cuidado de saúde prestado de forma integral, digna
e responsável.
Nesse sentido, a jurisprudência consubstanciada pelo Tribunal de Justiça do Estado da
Bahia direciona o Estado como responsável pelo cumprimento de suas obrigações no tocante
ao direito à saúde a todos os cidadãos.
o tratamento e acompanhamento dos usuários que são acometidos pela enfermidade. Nesse
sentido, que o Poder Judiciário determina a padronização do uso da medicação para todos os
portadores do Transtorno Bipolar. O Estado alega que realizou em 2007 o pedido de avaliação
à Comissão Estadual de Farmácia Terapêutica da incorporação da tecnologia, mas no período
de julgamento do processo, em 2009, e até os dias atuais, não houve nenhuma incorporação
do SUS para a dispensação de tal tecnologia (Doc. 31, p. 4).
Outro ponto, refere-se à utilização da via judicial como caminho para a dispensação de
medicamentos devido às dificuldades encontradas pelos usuários, evidenciando barreiras ao
acesso dos mesmos dentro do ordenamento administrativo do sistema de saúde. Em algumas
ações, os próprios usuários, anteriormente à via judicial, tinham recorrido à instituição de
saúde para realizar a solicitação da demanda de forma administrativa. Somente a partir da
ausência de posicionamento ou, até mesmo da negativa no atendimento à tecnologia pleiteada,
foi recorrido ao Judiciário.
Para tanto, o Ministério da Saúde organizou um fluxo para que haja a solicitação de
medicamentos por via administrativa junto aos órgãos competentes, que podem ser realizados
pelo próprio usuário ou responsável. Esses pedidos são analisados por um profissional técnico
na área de saúde e, se adequado, será autorizada a dispensação do que foi demandado. No
entanto, os medicamentos solicitados devem já estar contemplados e devem ser dispensados
de acordo com as recomendações listadas nos PDCT. A responsabilidade pela logística
operacional é dos gestores estaduais, enquanto que a CEAF responsabiliza-se pela avaliação,
autorização e dispensação. Os documentos necessários para que haja a efetivação do pedido
administrativo são (BRASIL, 2013b):
Cópia do Cartão Nacional de Saúde;
Cópia de documento de identidade;
Laudo para Solicitação, Avaliação e Autorização de Medicamentos do Componente
Especializado da Assistência Farmacêutica (LME), adequadamente preenchido;
Prescrição Médica devidamente preenchida;
Documentos exigidos nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas publicados
na versão final pelo Ministério da Saúde, conforme a doença e o medicamento
solicitado;
Cópia do comprovante de residência.
A limitação orçamentária é destacada como um dos principais fatores para a escusa do
cumprimento das decisões. Principalmente, com a alegação da reserva do possível e de que o
financiamento do sistema é finito. Ademais, a alocação das verbas orçamentárias para o
cumprimento das decisões proferidas com determinação do fornecimento dos medicamentos
esta diretamente atrelada ao planejamento e programação das ações e serviços do sistema de
saúde.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 84
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Ora, sendo dever do Estado (lato sensu) garantir a saúde dos cidadãos, e não
ignorando as limitações orçamentárias ditadas pela necessidade de atender a toda a
coletividade, na ponderação entre esses valores impõe-se ao magistrado eleger
aquele que, no caso concreto, revela-se merecedor da tutela jurisdicional. Com
efeito, no ensejo não cabe aprofundar o confronto entre a “reserva do possível” e o
“mínimo existencial” para saber se, neste caso, cabe ou não privilegiar o interesse
individual a despeito de serem limitados os recursos destinados à saúde (Doc. 51,
p.2).
Dos processos analisados, grande parte dos medicamentos solicitados integra o grupo
de medicamentos excepcionais, de alto custo e que não eram produzidos no país, que são
direcionados para tratamento de doenças raras como, Síndrome de Hunter, Síndrome de
Sjogren, Miopatia Mitocondrial, Epidermólise Bolhosa Distrófica, Doença de Paget, Púrpura
Trombocitopênica e Cistinose ou de inovação tecnológica com medicamentos que ainda não
foram registrados na ANVISA.
Uma das convergências das ações analisadas esta atrelada a organização das esferas
administrativas no que diz respeito à competência de cada uma. Os requeridos alegam não
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 85
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
serem responsáveis por ações que são de competência de outros entes federados. No entanto,
a jurisprudência do Judiciário consolida que todas as esferas são responsáveis pela garantia do
direito à saúde e à vida do cidadão, independentemente de ser requerido pela rede municipal,
estadual ou da União, por meio da responsabilidade solidária.
Em um único processo, o Estado, ao entrar com recurso da decisão, não nega o direito
ao usuário do tratamento solicitado, mas atribui que há tratamento alternativo no sistema para
a referida patologia. O Judiciário rebate ao afirmar que não consta nenhuma portaria
ministerial que faça a inclusão da patologia em questão e, por isso, defere em favor do usuário
para o fornecimento do medicamento.
No mérito, informa que, ao contrario do que alegou a impetrante, não houve omissão
ou descaso do Estado da Bahia quanto ao fornecimento do medicamento requerido.
Relata que o Estado, reconhecendo a relevância da droga para o tratamento de
leucemia mieloide crônica, já vem utilizando tal medicação em 135 pacientes em
tratamento mediante acompanhamento pela Rede Estadual de Oncologia, na qual
integram alguns Hospitais credenciados, condicionando-se a inclusão nos protocolos
de tratamento institucional. Assim, sustenta que, há uma dispensação criteriosa e
controlada do medicamento e não uma omissão como alegou a impetrante.
(...)
Ademais, entendo que as alegações do Estado esposadas na sua peça de defesa não
são motivo suficiente para servir de escusa ao cumprimento do dever
constitucional imposto ao Poder Publico, isso porque para que se façam presentes os
pressupostos de liquidez e certeza do direito pretendido pela impetrante, basta que
haja prova da real necessidade de tratamento medico, com comprovação da
existência da moléstia. sob pena de violação ao direito a saúde garantido
constitucionalmente (Doc. 19, pp. 3 e 7).
negativa em outra da demanda esteve atrelada a falta de documentação legal, como exemplo a
receita médica sem carimbo, número de registro do médico no Conselho Regional de
Medicina – CRM e, até mesmo, sem a assinatura do profissional responsável.
A comprovação pelo requerente para a demanda solicitada é fundamental para a
interpretação e decisão do juiz. Em um processo foi pleiteado a dispensação de vacinas que
não contempladas pelo calendário vacinal disponibilizado pelo SUS. Após escusa do Estado
no cumprimento do pedido administrativo realizado pelo usuário, o mesmo apresentou
critérios para o uso das vacinas solicitadas, que fundamentadas no manual elaborado por
corpo técnico da área de saúde, o usuário não se enquadrava nos critérios estabelecidos pelo
Ministério da Saúde para dispor de seu uso.
De forma particular, algumas ações judiciais litigavam por acesso a alimentos em
casos de Intolerância Alimentar, com usuários constituídos por crianças, que necessitavam de
um alimento especial para a nutrição. As demandas estavam relacionadas à solicitação de
leites especiais, que no mercado possuem elevados custos, mas que na situação abordada são
imprescindíveis para o crescimento, desenvolvimento e sobrevida das crianças. Todas as
demandas foram favoráveis aos requerentes, independente do valor e a quem era a
competência (ente federado estadual ou municipal), pela jurisprudência firmada pautada no
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) com garantia de atendimento prioritário às
crianças e adolescentes sob a responsabilidade do Estado.
Diante das explanações discorridas, inferimos que o Poder Judiciário atua de forma
emblemática na dispensação de medicamentos para aqueles usuários que litigaram por acesso
ao SUS pela via judicial. Entendemos que o processo de judicialização além de permitir o
acesso ao sistema, possibilita que haja a incorporação de melhorias na estrutura
administrativa, consequentemente na organização dos serviços de saúde, ampliando as ações e
serviços do SUS com a participação ativa do cidadão no processo de incorporação de
tecnologias de saúde.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 90
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Além dos medicamentos, outra tecnologia de saúde demandada nos processos judiciais
analisados relaciona-se ao acesso a internamentos e tratamentos custeados pelo SUS. Nessa
categoria, além das instituições públicas, outras fizeram parte do cenário das ações como, as
Instituições Filantrópicas e as Privadas, que foram litigadas a fornecerem os serviços aos
usuários.
Quando houve demanda para estas instituições, as mesmas alegaram a necessidade de
o usuário deixar caução, ou seja, uma fiança como garantia para que os serviços fossem
cobertos durante o período de internamento e tratamento. Essa escusa quando a fiança não era
realizada foi justificado pelo baixo repasse financeiro que recebiam do Estado para realização
das tecnologias pleiteadas, em geral, de elevado custo.
Aduz a Agravante, em síntese, que a agravada deveria ao menos ter prestado caução
(Doc. 90, p.1).
patologia do século XXI o SUS precisa se adequar para o atendimento das necessidades de
saúde de sua população, incorporando acesso aos cidadãos que nele se enquadram.
Nesse ínterim, outro ponto destacado esta relacionado com a busca por tratamentos
para emagrecimento com fins estéticos ou por solicitação de internamento em instituições que
não são registradas como médicas. Com a finalidade de restringir e evitar que haja uso
inadequado dos recursos públicos há a constante alegação da realização dos pedidos
administrativos fundamentado com documentação legal e que possuam o detalhamento da
solicitação e da sua eficácia para a patologia apresentada pelo usuário.
Além da Obesidade, outro ponto que merece destaque está atrelado ao tratamento
Home Care. Muitos usuários demandaram por esta modalidade de tratamento para resolução
de suas necessidades de saúde, por serem usuários de doenças crônicas, como a Esclerose
Lateral Amiotrófica. Todas as decisões foram favoráveis para o Estado fornecer o serviço aos
usuários, impedindo que os mesmo fossem hospitalizados para que pudessem ter garantido o
direito à vida com dignidade.
Relata que a Agravada ajuizou a ação suso apontada alegando ser portadora de
Esclerose Lateral Amiotrófica, em estágio avançado, com uma série de
complicações, e que seu atendimento está sendo realizado pelo SUS, junto ao
Hospital Roberto Santos, em condições de alta hospitalar, desde que haja
acompanhamento domiciliar multidisciplinar Home Care.
Aduz que o programa estadual de internação hospitalar criado de acordo com
a Portaria GM nº 2.529/06 e Portaria nº 1.669/08, estabelece parâmetros e
limitações de atuação para tal internação, não havendo previsão de
fornecimento de Home Care com ventilação artificial, como determinado pela
decisão agravada (Doc. 62, p.1).
(...)
Desta feita, o argumento encetado pela agravada de que lhe causaria sérios
transtornos deslocar-se para a cidade de Salvador para o tratamento e as revisões, e
de que nao teria parentes disponíveis para seu acompanhamento - nao e causa
suficiente para que o poder judiciário intervenha, de forma a promover a ruptura do
modelo administrativo adotado pelo SUS, determinando o custeio, por parte do
Estado, de procedimento a ser realizado em hospital nao credenciado. Nao ha
proporcionalidade entre os benefícios que a medida solicitada trariam a paciente e a
intervenção que o judiciário promoveria na esfera administrativa.
(...)
Ante o exposto, se restaram preenchidos os requisitos elencados pelo artigo pelo
artigo 273, CPC, para a antecipação da tutela em favor da agravada no tocante a
realização da cirurgia bariátrica as expensas do SUS, nao restaram preenchidos os
mesmos requisitos em relação ao deferimento liminar da realização do procedimento
no município de Feira de Santana, tendo em vista que o procedimento e passível de
ser realizado de outro modo que nao o solicitado pela porte, menos oneroso a
administração, porem alcançando a eficácia pretendida (Doc. 22, pp. 3-6).
Nessa situação, o Estado não negou o acesso do usuário ao serviço, pelo contrário,
comprova a real necessidade da cirurgia, porém, antes da mesma, deva ser realizado o
emagrecimento e acompanhamento das comorbidades. Assim, apenas entrou com recurso
para que o prazo de cumprimento da decisão fosse dilatado de cinco para 60 dias para que
houvesse o acompanhamento necessário do usuário.
Podemos observar a partir dessa ação, a veemente necessidade de se ter um apoio
técnico na área de saúde para o acompanhamento das decisões emitidas pelos juízes, evitando
o prolongamento desnecessário dos processos, os recursos com alegações pelas partes e os
possíveis transtornos causados aos usuários pela espera do atendimento a sua demanda.
Assim, além da comprovação, outro ponto alegado pelos requeridos está associado à
dilação do prazo para cumprimento das decisões, pois como já abordado, por serem produtos
importados, o prazo estabelecido torna-se inviável para que haja o planejamento do órgão
administrativo competente para a aquisição e, posterior, dispensação para o usuário. Na
finalização desse trâmite, caso o tempo estabelecido na decisão já tenha ultrapassado pode ser
cobrado do requerido o pagamento de multa estabelecido no processo.
Diante dessas questões, o pedido administrativo, se realizado pelo usuário, pode ser
avaliado e direcionado para setores competentes que referenciem as ações e serviços
necessários para a garantia do direito à saúde do indivíduo. Em uma ação específica, foi
requisitada do Estado, a realização de um exame em determinado hospital, entretanto a
alegação do requerido foi que o hospital citado não realiza mais o procedimento por não estar
com estrutura adequada, mas que o usuário iria ser encaminhado para realização em outro
local que atendesse aos critérios do exame.
direitos e deveres, em particular, no tocante aos direitos fundamentais sociais, como o direito
à vida e à saúde, por uma vida digna e de qualidade.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 98
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a análise dos processos judiciais para o acesso às tecnologias de saúde no SUS
disponíveis no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, na 2ª Instância, no período de 2005 a
2010, podemos inferir que a judicialização se comportou de forma evolutiva no período
analisado, com números significativos para o Estado no ano de 2009. O ano apresentando é
consonante com a consolidação da jurisprudência no Brasil pelo Supremo Tribunal Federal
após a realização da Audiência Pública convocada pelo Ministro Gilmar Mendes e com as
demandas por saúde no SUS apresentados nos demais estados do país.
As ações judiciais analisadas, em sua maioria, foram Decisões Monocráticas (59,2%),
seguidos dos Acórdãos (40,8%), estes que representam a consolidação da jurisprudência
adotada pelas autoridades judiciais na Bahia e que são adotados como referências para as
demais decisões proferidas, principalmente, nos tribunais de primeira instância que compõem
o arcabouço Judiciário do Estado.
Com relação às tipologias dos processos, o Agravo de Instrumento, se conformou
como o mais utilizado (72,8%), pois, em grande parte, as ações foram advindas de recursos
sobre as decisões já prolatadas pelos juízes de primeiro grau dos municípios do Estado. O
município de Salvador apresentou maior número de origem dos processos prolatados para o
acesso aos SUS (71,8%), coincidente com a maior demanda de usuários para o acesso à
justiça. No entanto, devemos destacar o crescimento de demandas provenientes dos demais
municípios do Estado, em destaque para, Feira de Santana (11,7%), Itabuna (3,9%) e
Alagoinhas (1,9%).
No rol das ações pleiteadas, o acesso aos medicamentos teve o maior destaque (60%),
com a maioria dos processos litigando por medicamentos, tanto para o tratamento de Doenças
Crônico-degenerativas, com medicamentos disponíveis pela Assistência Farmacêutica por
meio das Farmácias Básicas, como para o tratamento de doenças raras, com fármacos
caracterizados como excepcionais, de elevado custo e/ou que não possuíam registro na
ANVISA e incorporação ao RENAME. Além dos medicamentos, uma categoria que teve
valores significativos, foi para o acesso alimentos em casos de Intolerância Alimentar (5%),
colocando o Estado a repensar no perfil epidemiológico da população do Estado.
Nesse ínterim, a elevado procura por medicamentos nos remete à discussão sobre a
evidente medicalização da sociedade, decorrente da globalização e mercantilização das
tecnologias de saúde, principalmente pelos laboratórios e indústrias farmacêuticas,
privilegiando tecnologias consideradas “duras”, formando sujeitos passivos na sociedade, em
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 99
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
crescente quantidade de ações que são ajuizadas, para não haver uma desorganização
administrativa no Executivo que promova, ao invés de maior acesso da sociedade ao sistema
de saúde, restrições aos usuários, principalmente, por aqueles que não adotaram a via judicial
para o acesso ao sistema, corroborando para a estagnação e retrocesso do SUS.
Concluímos, que para que não haja esse retrocesso, os entes federados devem reavaliar
as ações e serviços de saúde garantidos pelo sistema e planejar as políticas públicas em
consonância com o perfil epidemiológico da sociedade, de cada localidade que o ente
federado é responsável. A partir do momento que houver uma maior efetivação dos direitos
dos cidadãos no acesso à saúde, haverá consubstancialmente, a redução da judicialização.
Desse modo, devemos compreender o fenômeno da judicialização como um fundamento para
a reestruturação das políticas públicas de saúde e reconhecimento do dever do Estado no
cumprimento de suas obrigações perante os indivíduos, no intuito de garantir a efetivação dos
direitos fundamentais sociais, como o direito à vida e à saúde, preservando a dignidade da
pessoa humana.
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 102
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
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APÊNDICES
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 110
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
ACÓRDÃOS
DECISÕES MONOCRÁTICAS
Nº Processo Ano Tipo de Cidade de Requerente Requerido Tipo de Agravo Decisão Ano do
ação origem demanda julgamento
01 58863-3 2007 Mandado de Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Artrite Reumatoide Demanda 2009
Segurança Saúde do atendida
Estado da
Bahia
02 55887-0 2008 Mandado de Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Câncer Demanda 2009
Segurança Saúde do atendida
Estado da
Bahia
03 4740-7 2006 Apelação Salvador Estado da Ministério Medicamentos Hepatite C Demanda 2008
Cível Bahia Público atendida
04 40252-2 2005 Agravo de Salvador Usuário Estado da Medicamentos Artrite Reumatoide Demanda 2007
Instrumento Bahia atendida
05 27774-5 2008 Apelação Salvador Usuário Salvador Medicamentos Mucopolissa- Demanda 2008
Cível caridoridose tipo II atendida
06 52411-2 2008 Mandado de Salvador Usuário Secretário de Alimento Intolerância Demanda 2009
Segurança administração Alimentar atendida
do Estado da
Bahia
07 39053-1 2009 Mandado de Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Esclerose Lateral Demanda 2009
Segurança Saúde do Aparelho Amiotrófica atendida
Estado da médico
Bahia
08 3904-8 2009 Mandado de Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Distúrbio Demanda 2009
Segurança Saúde do Respiratório atendida
Estado da
Bahia
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 122
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
09 64699-0 2008 Mandado de Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Epidermólise Bolhosa Demanda 2009
Segurança Saúde do Materiais para Distrófica atendida
Estado da curativos
Bahia
10 35021-8 2009 Agravo de Feira de Ministério Estado da Medicamentos Osteoporose Demanda 2009
Instrumento Santana Público Bahia atendida
11 52397-0 2008 Mandado de Salvador Usuário Secretário de Alimento Intolerância Demanda 2009
Segurança Saúde do Alimentar atendida
Estado da
Bahia e de
Salvador
12 73223-6 2008 Agravo de Feira de Ministério Estado da Medicamentos Esquizofrenia Demanda 2009
Instrumento Santana Público Bahia atendida
13 46285-7 2008 Agravo de Feira de Estado da Usuário Cirurgia Obesidade Mórbida Demanda 2009
Instrumento Santana Bahia atendida
14 57844-7 2009 Mandado de Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Leucemia Linfoide Demanda 2009
Segurança Saúde do Crônica atendida
Estado da
Bahia
15 34465-5 2008 Mandado de Feira de Feira de Feira de Alimento Intolerância Demanda 2009
Segurança Santana Santana Santana Alimentar atendida
16 70558-7 2008 Mandado de Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Retinopatia Diabética Demanda 2009
Segurança Saúde do atendida
Estado da
Bahia
17 512-9 2008 Agravo de Feira de Estado da Ministério Medicamentos Miopatia Demanda 2008
Instrumento Santana Bahia Público Botton Mitocondrial atendida
18 38089-1 2009 Mandado de Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Diabetes Mellitus tipo Demanda 2010
Segurança Saúde do Aparelho de II atendida
Estado da glicemia
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 123
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
40 59065-7 2007 Agravo de Salvador Estado da Usuário Medicamentos Artrite Reumatoide Demanda 2008
Instrumento Bahia atendida
41 74478-6 2008 Mandado de Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Diabetes Demanda 2009
Segurança Saúde do Aparelho de atendida
Estado da glicemia
Bahia Fitas reagentes
42 11.086-1 2009 Agravo de Feira de Estado da Ministério Medicamentos Câncer de mama Demanda 2009
Instrumento Santana Bahia Público atendida
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 126
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Nº Processo Ano Tipo de Cidade de Requerente Requerido Tipo de Agravo Decisão Ano do
ação origem demanda julgamento
01 14990-3 2010 Agravo de Salvador Usuário Estado da Medicamentos Câncer Demanda 2010
Instrumento Bahia atendida
02 60173-2 2009 Agravo de Itabuna Itabuna Ministério Medicamentos Citomegalovírus Demanda 2009
Instrumento Público atendida
03 2384-9 2009 Mandado Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Puberdade Demanda 2009
de Saúde do Precoce atendida
Segurança Estado da
Bahia
04 24422-7 2009 Agravo de Salvador Estado da Usuário Transferência Sem informação Demanda 2009
Instrumento Bahia hospitalar atendida
05 54530-3 2009 Agravo de Salvador Salvador Ministério Medicamentos Diabetes Demanda 2009
Instrumento Público Hipertensão atendida
Arterial
06 1016-2 2010 Mandado Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Câncer Demanda 2010
de Saúde do atendida
Segurança Estado da
Bahia
07 30.638-4 2009 Agravo de Feira de Estado da Ministério Alimento Intolerância Demanda 2009
Instrumento Santana Bahia Público Alimentar atendida
08 3454-6 2009 Mandado Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Câncer Demanda 2010
de Saúde do atendida
Segurança Estado da
Bahia e do
município de
Salvador
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 127
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
09 53867-8 2009 Mandado Salvador Usuário Secretário de Cirurgia Acidente Demanda 2009
de Saúde do Prótese Automobilístico atendida
Segurança Estado da
Bahia e do
município de
Salvador
10 33599-5 2009 Agravo de Juazeiro Estado da Ministério Medicamentos Epilepsia Demanda 2009
Instrumento Bahia Público Refratária atendida
11 9376-4 2010 Mandado Salvador Usuário Secretário de Medicamentos Osteonecrose de Demanda 2010
de Saúde do cabeça femoral atendida
Segurança Estado da
Bahia e do
município de
Salvador
12 13651-4 2010 Agravo de Salvador Estado da Usuário Medicamentos Câncer Demanda 2010
Instrumento Bahia atendida
13 38656-4 2009 Agravo de Salvador Estado da Ministério Transferência Pneumonia Demanda 2009
Instrumento Bahia Público para UTI atendida
14 13366-4 2010 Agravo de Nova Estado da Usuário Medicamentos Citomegalovírus Demanda 2010
Instrumento Fátima Bahia atendida
15 16083-3 2010 Agravo de Salvador Estado da Usuário Medicamentos Transtorno Demanda 2011
Instrumento Bahia Bipolar atendida
16 10884-3 2010 Agravo de Salvador Estado da Usuário Medicamentos Câncer Demanda 2010
Instrumento Bahia atendida
17 49825-7 2009 Agravo de Alagoinhas Estado da Usuário Medicamentos Câncer Demanda 2009
Instrumento Bahia atendida
18 428-1 2009 Agravo de Salvador Estado da Usuário Material para Doença Renal Demanda 2009
Instrumento Bahia cirurgia atendida
Cirurgia
19 38839-4 2009 Agravo de Salvador Salvador Ministério Medicamentos Hipertensão Demanda 2009
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 128
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
Segurança Estado da
Bahia
31 12734-2 2010 Agravo de Salvador Estado da Usuário Medicamentos Câncer Demanda 2010
Instrumento Bahia atendida
32 13037-3 2010 Agravo de Salvador Santa Casa de Usuário Internamento Sem informação Demanda 2010
Instrumento Misericórdia Tratamento atendida
33 49826-6 2009 Agravo de Ibicaraí Estado da Ministério Medicamentos Espondilite Demanda 2009
Instrumento Bahia Público Anquilosante atendida
parcialmente
34 11759-9 2010 Agravo de Salvador Estado da Usuário Medicamentos Diabetes Demanda 2010
Instrumento Bahia atendida
35 10938-9 2010 Agravo de Salvador Estado da Usuário Medicamentos Lesão na retina Demanda 2010
Instrumento Bahia atendida
36 2846-2 2010 Agravo de Alagoinhas Estado da Ministério Medicamentos Diabetes Demanda 2010
Instrumento Bahia Público atendida
37 11983-3 2010 Agravo de Salvador Estado da Usuário Medicamentos Doença de Paget Demanda 2010
Instrumento Bahia atendida
38 60435-6 2009 Agravo de Salvador Salvador Usuário Tratamento Sem informação Demanda 2009
Instrumento Home Care atendida
39 1405-1 2010 Agravo de Salvador Estado da Usuário Exame Câncer Demanda 2010
Instrumento Bahia atendida
40 15458-9 2010 Agravo de Acajutiba Acajutiba Ministério Transporte Paralisia Cerebral Demanda 2010
Instrumento Público atendida
41 11086-1 2009 Agravo de Feira de Estado da Ministério Medicamentos Câncer Demanda 2009
Instrumento Santana Bahia Público atendida
42 452-4 2010 Agravo de Salvador Estado da Usuário Cirurgia Sem informação Demanda 2010
Instrumento Bahia Materiais atendida
43 13594-2 2010 Agravo de Salvador Estado da Usuário Medicamentos Câncer Demanda 2010
Instrumento Bahia atendida
44 43919-7 2009 Agravo de Salvador Estado da Usuário Medicamentos Câncer Demanda 2009
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 130
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)
APÊNDICE D - Sínteses das Categorias de Análise - Unidade Temática: Acesso às Tecnologias de Saúde
fornecer o medicamento.
Processo: 13651-4 - Usuário solicita do Estado da Bahia o fornecimento de
medicamento (Transtuzumabe). O Estado alega que o medicamento para
tratamento oncológico não pode ser fornecido fora da rede especializada. A
demanda do usuário foi atendida, com determinação do Estado em fornecer o
medicamento.
Processo: 14990-3 - Usuário solicita do Estado da Bahia o fornecimento de
medicamento (Transtuzumabe). A demanda do usuário foi atendida, com
determinação do Estado em fornecer o medicamento.
Processo: 3129-5 - Usuário solicita do Estado da Bahia o fornecimento de
medicamento (Transtuzumabe). A demanda do usuário foi atendida, com
determinação do Estado em fornecer o medicamento.
Processo: 3454-6 - Usuário solicita da Secretaria de Saúde do Estado da
Bahia o fornecimento de medicamentos (Andriblastina e Transtuzumabe). A
demanda do usuário foi atendida, com determinação do Estado em fornecer o
medicamento.
Processo: 12153-0 - Usuário solicita do Estado da Bahia o fornecimento de
medicamento (Transtuzumabe). O Estado alega que o medicamento para
tratamento oncológico não pode ser fornecido fora da rede especializada. A
demanda do usuário foi atendida, com determinação do Estado em fornecer o
medicamento.
Processo: 11086-1 - Ministério Público solicita do Estado da Bahia o
fornecimento de medicamento (Transtuzumabe) ao usuário, bem como a
todas as pessoas que se encontrarem na mesma situação. A demanda do
Ministério Público foi atendida, com determinação do Estado em fornecer o
medicamento.
Processo: 10884-3 - Usuário solicita do Estado da Bahia o fornecimento de
medicamento (Transtuzumabe). O Estado alega que há a necessidade de
perícia médica para avaliar a real necessidade do medicamento para o usuário.
A demanda do usuário foi atendida, com determinação do Estado em fornecer
o medicamento.
Processo: 33599-5 - Ministério Público solicita do Estado da Bahia o
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS NO SISTEMA 141
ÚNICO DE SAÚDE DA BAHIA, BRASIL (2005-2010)