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  • Professora Adjunta da área de Literatura Portuguesa da Faculdade de Letras da UFMG. Possui graduação em Letras (UFF, ... moreedit
Resumo: O presente artigo tem como objetivo pensar a produção de escritores de origem angolana no âmbito da literatura portuguesa contemporânea, compreendendo a necessidade de tratar tais escritores e suas obras sem a marca da... more
Resumo: O presente artigo tem como objetivo pensar a produção de escritores de origem angolana no âmbito da literatura portuguesa contemporânea, compreendendo a necessidade de tratar tais escritores e suas obras sem a marca da "outridade", advinda não apenas da condição migrante, mas também da questão étnico-racial e de um imaginário colonial que ainda persiste em Portugal. Identificar a diversidade na abordagem do tema da migração entre Angola e Portugal, a partir das obras de Tvon, Yara Monteiro, Kalaf Epalanga e Djaimilia Pereira de Almeida, é significativo para evitar categorizações excludentes, como se esses corpos representassem uma homogeneidade estrangeira em solo português. Partindo do contexto vivenciado em Portugal após a Revolução dos Cravos e da descolonização dos territórios africanos, o conceito de postmigration é utilizado para evidenciar a necessidade de pensarmos a sociedade portuguesa como uma sociedade atravessada por processos migratórios e que precisa enfrentar suas dinâmicas de caráter colonial para rever a forma como pensa a imagem do povo luso, não excluindo outras vivências.
As violências possíveis para um sujeito em diáspora são inúmeras e quando delimitadas ao gênero feminino se multiplicam. Mila e Vitória, personagens de Esse cabelo (2015), de Djaimilia Pereira de Almeida, e Essa dama bate bué! (2018), de... more
As violências possíveis para um sujeito em diáspora são inúmeras e quando delimitadas ao gênero feminino se multiplicam. Mila e Vitória, personagens de Esse cabelo (2015), de Djaimilia Pereira de Almeida, e Essa dama bate bué! (2018), de Yara Monteiro, redimensionam a compreensão e análise das dinâmicas violentas acontecidas no período de descolonização de Angola e posteriormente no trânsito pós-colonial nos desdobramentos constituintes de figurações dos estereótipos que acompanham até hoje suas personalidades. O presente artigo tem por objetivo analisar, a partir dos estereótipos impostos sobre a negritude mestiça, como as dinâmicas das representações coloniais atingem as personagens desde a infância e no próprio ambiente familiar, espaço que deveria remeter à segurança, mas termina por ser o lugar da projeção inicial da fragmentação do sujeito diaspórico.
As concepcoes de autor e autoria que perpassam discussoes do campo literarioconstituem, na pos-modernidade, um dilema quando pensadas no âmbito da producao criativa. Apartir do conceito de autor como produtor, de Walter Benjamin, de... more
As concepcoes de autor e autoria que perpassam discussoes do campo literarioconstituem, na pos-modernidade, um dilema quando pensadas no âmbito da producao criativa. Apartir do conceito de autor como produtor, de Walter Benjamin, de pos-producao, cunhado por Nicolas Bourriaud, buscaremos compreender o processo de criacao autoral da interprete baiana Maria Bethânia na obra Caderno de Poesias (2015). Deste modo, versaremos sobre as formulacoes desses dois estudiosos, a fim de que possamos compreender o processo autoral de Bethânia a luz de discussoes teoricas e conceituais. Este trabalho e resultado do projeto de iniciacao cientifica intitulado Brasilidade mestica em fragmentos: uma analise do Caderno de Poesias, de Maria Bethânia, realizado entre 2016 e 2017 na Universidade Federal de Lavras, que contou com o financiamento do programa PIBIC-CNPq.
O livro do deslembramento (2020), último romance de Ondjaki, marca os vinte anos de carreira do escritor angolano. Diferente do que a palavra "deslembrar" pode evocar em um leitor sem familiaridade com a produção de Ondjaki, o romance... more
O livro do deslembramento (2020), último romance de Ondjaki, marca os vinte anos de carreira do escritor angolano. Diferente do que a palavra "deslembrar" pode evocar em um leitor sem familiaridade com a produção de Ondjaki, o romance estabelece um intenso diálogo intertextual a partir da retomada da infância, presente em diversas publicações do escritor, nos poemas, nos contos, em romances anteriores. Este artigo, portanto, reflete sobre a produção ondjakiana como um escrever-ler em continuum, tendo o "antigamente" da infância como um tempo/lugar de forte referência. Para tanto, a abordagem propõe que, apesar de recorrer ao "pacto" autobiográfico ou ao "contrato" autoficcional, o diálogo no interior do universo ficcional do escritor ultrapassa tais leituras teóricas. O escrever-ler em continuum será compreendido neste artigo como um processo de adaptação, no qual a escrita é também releitura da própria obra, além de interlocução com outros escritores angolanos. Nesse sentido, a constante revisitação da infância, estabelecendo uma extensa teia entre O livro do deslembramento (2020) e outros títulos de Ondjaki, como Bom dia camaradas (2001), Os da minha rua (2007), AvoDezanove e o segredo do soviético (2008), A bicicleta que tinha bigodes (2011), Uma escuridão bonita (2013), configurariam a construção de um projeto literário em que o (des)lembrar é um caminho crucial para uma opção estética pelas políticas de afeto.
A partir do conceito de “inseparabilidade”, publicado por Djaimilia Pereira de Almeida em ensaio homônimo como parte do livro Pintado com o pé (2019), este artigo propõe uma leitura de quatro obras da escritora, a saber: Esse cabelo... more
A partir do conceito de “inseparabilidade”, publicado por Djaimilia Pereira de Almeida em ensaio homônimo como parte do livro Pintado com o pé (2019), este artigo propõe uma leitura de quatro obras da escritora, a saber: Esse cabelo (2015), Luanda, Lisboa, Paraíso (2018), As telefones (2020) e Maremoto (2021). Em comum, os quatro livros apresentam histórias de imigração, majoritariamente entre Angola e Portugal, não aquela ligada ao movimento dos retornados, já amplamente trabalhado pela literatura portuguesa, mas a de uma geração posterior ao período da descolonização, portanto, vivenciada já a partir da década de oitenta. Como indica o texto da orelha de suas obras (com exceção das duas últimas publicações, mudança editorial relevante), Djaimilia “nasceu em Angola, cresceu em Portugal, vive nos subúrbios de Lisboa”, portanto, sua inserção na literatura portuguesa contemporânea, a despeito do lugar marcado pelo mercado editorial, também merece atenção. Afinal, a reflexão sobre uma ...
A companhia teatral Hotel Europa, codirigida por André Amálio e Tereza Havlíčková, estreou em fevereiro de 2019, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, a peça "Amores pós-coloniais", a quarta da série de teatro documental... more
A companhia teatral Hotel Europa, codirigida por André Amálio e Tereza Havlíčková, estreou em fevereiro de 2019, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, a peça "Amores pós-coloniais", a quarta da série de teatro documental dedicada a Portugal contemporâneo – “Portugal não é um país pequeno” (2015), “Passa-porte” (2016) e “Libertação” (2017). Em “Amores pós-coloniais”, seis atores – três homens (dois brancos e um negro) e três mulheres (uma branca e duas negras) – dividem o palco, contando histórias de relações amorosas marcadas pela Guerra Colonial, pela descolonização, e por uma sociedade portuguesa que nutre um “pensamento que ainda não se descolonizou”. A peça, composta por fragmentos de testemunhos, músicas e referências bibliográficas sobre o tema, forma uma espécie de mosaico sobre a descoberta, a sobrevivência ou não do amor como um sentimento marcado pelas transformações sociais e históricas. Amores em África, amores em Portugal, durante a Guerra Colonial, após ...
            Figura feminina de destaque para a história de Angola, principalmente, para a história de uma resistência no século XVII, Njinga Mbandi (1582-1663) já aparecia em obras de seus contemporâneos, como na do padre capuchinho... more
            Figura feminina de destaque para a história de Angola, principalmente, para a história de uma resistência no século XVII, Njinga Mbandi (1582-1663) já aparecia em obras de seus contemporâneos, como na do padre capuchinho Giovanni Antonio Cavazzi de Montecuccolo (1621-1678), Istorica descrizione de tre regni Kongo, Matamba ed Angola (1687), e na do soldado António Oliveira de Cadornega (1623-1690), História Geral das Guerras angolanas (1681), como uma personalidade incômoda, atrapalhando a interiorização dos portugueses no território angolano. Embora tais referências mereçam destaque por serem contemporâneas à existência da rainha Njinga Mbandi, percebe-se um apagamento histórico da sua relevância política ao longo dos séculos, talvez relacionado ao prolongamento da situação colonial até 1975. No entanto, este silêncio foi inicialmente interrompido por recriações ficcionais que destacam a liderança exercida por Njinga e reforçam o caráter de resistência do que já seria um...
A produção literária portuguesa, ao longo dos séculos, estabeleceu um diálogo profundo com os processos históricos vivenciados pelo país, principalmente pela vertente da construção/afirmação identitária. Desde Eduardo Lourenço (1978) e a... more
A produção literária portuguesa, ao longo dos séculos, estabeleceu um diálogo profundo com os processos históricos vivenciados pelo país, principalmente pela vertente da construção/afirmação identitária. Desde Eduardo Lourenço (1978) e a ideia de autognose, até reflexões mais recentes, como as de Onésimo Teotónio Almeida (2017) em torno da portugalidade, entende-se a imagem idealizada de nação que perpassou a literatura. Este texto, a partir do conceito de pós-memória, pretende refletir sobre narrativas do século XXI, produzidas pelas gerações posteriores ao salazarismo que, ao mesclar testemunho, autobiografia, memória, História e ficção, conduzem os leitores a um lugar desconfortável de reencenar e reconfigurar a identidade portuguesa a partir do conturbado século XX.
Em Amores pós-coloniais, seis atores-três homens (dois brancos e um negro) e três mulheres (uma branca e duas negras)-dividem o palco, contando histórias de relações amorosas marcadas pela Guerra Colonial, pela descolonização e por uma... more
Em Amores pós-coloniais, seis atores-três homens (dois brancos e um negro) e três mulheres (uma branca e duas negras)-dividem o palco, contando histórias de relações amorosas marcadas pela Guerra Colonial, pela descolonização e por uma sociedade portuguesa que nutre um "pensamento que ainda não se descolonizou". A peça, composta por fragmentos de testemunhos, músicas e referências bibliográficas sobre o tema, forma uma espécie de mosaico sobre a descoberta e a sobrevivência ou não do amor como um sentimento marcado pelas transformações sociais e históricas. Amores em África, amores em Portugal, durante a Guerra Colonial, após o 25 de abril de 1974 e seus desdobramentos na atualidade, relações inter-raciais, violência doméstica, racismo, filhos sem pais, são alguns dos temas abordados no palco, tendo a fonte testemunhal como principal elemento para a estruturação do espetáculo. Este artigo discute a construção da peça "Amores pós-coloniais" por meio do uso em cena de testemunhos sobre o recente período colonial português e suas consequências após o processo de descolonização, evidenciando os fragmentos como um "lugar" possível para o emergir das memórias ainda silenciadas na sociedade de forma geral.
A partir do conceito de "inseparabilidade", publicado por Djaimilia Pereira de Almeida em ensaio homônimo como parte do livro Pintado com o pé (2019), este artigo propõe uma leitura de quatro obras da escritora, a saber: Esse cabelo... more
A partir do conceito de "inseparabilidade", publicado por Djaimilia Pereira de Almeida em ensaio homônimo como parte do livro Pintado com o pé (2019), este artigo propõe uma leitura de quatro obras da escritora, a saber: Esse cabelo (2015), Luanda, Lisboa, Paraíso (2018), As telefones (2020) e Maremoto (2021). Em comum, os quatro livros apresentam histórias de imigração, majoritariamente entre Angola e Portugal, não aquela ligada ao movimento dos retornados, já amplamente trabalhado pela literatura portuguesa, mas a de uma geração posterior ao período da descolonização, portanto, vivenciada já a partir da década de oitenta. Como indica o texto da orelha de suas obras (com exceção das duas últimas publicações, mudança editorial relevante), Djaimilia "nasceu em Angola, cresceu em Portugal, vive nos subúrbios de Lisboa", portanto, sua inserção na literatura portuguesa contemporânea, a despeito do lugar marcado pelo mercado editorial, também merece atenção. Afinal, a reflexão sobre uma memória/história pública da colonização, para além dos testemunhos dos partícipes da guerra/da descolonização ou da segunda geração (pós-memória), que englobe a diáspora das populações das ex-colônias e ressignifique o espaço da antiga metrópole, ainda está por ser feita. Por fim, reflete-se sobre a necessidade de pensar a obra de Djaimilia Pereira de Almeida não apenas pela recorte pós-colonial, mas também passando pelo conceito de "post-migration" para compreender a sua escrita como uma memória outra na literatura portuguesa pós-25 de abril.