LÍNGUA E LINGUÍST ICA
Por
uma Pragmática
menor: tensões
entre linguagem,
corPo e Política
Dina Maria Martins Ferreira*
Jony Kellson de Castro Silva**
Resumo: Pretendemos pensar em uma pragmática menor a partir da filosofia de
Gilles Deleuze e Félix Guattari, principalmente em sua obra Mil platôs. Para
tanto, articulamos os conceitos de palavras de ordem, como atos de fala atribuí
dos a corpos; de Corpo sem Órgãos enquanto criação de corpo à disciplina do
organismo; e de máquina de guerra como uma gramática de revide. Assim, ex
perimentamos o traço do conceito #SexoÁgil que se faz devirmulher como po
lítica de uma pragmática menor, desterritorializando processos de subjetivação
ancorados em identidades de gênero. Com isso, problematizamos uma pragmá
tica menor como uma política minoritária, que pode potencializar um fazer
pesquisa em pragmática linguística.
Palavras-chave: Palavras de Ordem. Corpo sem Órgãos. DevirMulher.
INTRODUÇÃO
■
linguagem e o social são abordados como uma relação imanente, co
mo uma forma de vida – levar isso a sério acarreta um posicionamen
to político para a Pragmática e, por que não, para a Linguística. Ou
seja, a linguagem é uma questão de política, antes de ser linguística (DELEU
ZE; GUATTARI, 2011b); e a língua é uma “pura” invenção (RAJAGOPALAN,
2014). Pensamos a língua como variação contínua, como um rizoma em vez de
uma árvore, pois o rizoma como planta é meio, não tem início nem fim, é acen
trado (DELEUZE; GUATTARI, 2011a). Compreendendoa, dessa maneira, pos
sibilitamonos entender a língua “como trama instável de fluxos que só ganha
*
A
Universidade Estadual do Ceará (Uece) – Fortaleza – CE – Brasil e Paris V- Sorbonne – França. E-mail: dinaferreira@terra.com.br
** Universidade Estadual do Ceará (Uece) – Fortaleza – CE – Brasil. E-mail: jonykellson@yahoo.com.br
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LÍNGUA E LINGUÍST ICA
vida quando as pessoas e suas subjetividades e histórias são consideradas nas
práticas sociais múltiplas e situadas de construção de significado em que atu
am” (MOITA LOPES, 2013, p. 104).
Assim, uma pragmática menor é uma pragmática enquanto uma política da
língua, que leva em conta o estar fora em relação à língua, fazendo, então, com que
haja variação contínua da língua e criação de forma de vida. Porém, como pensar
numa relação entre linguagem, corpo e política por uma pragmática menor?
Este artigo tem como objetivo pensar nessa relação a partir da filosofia pós
estruturalista e/ou da diferença de Gilles Deleuze e Félix Guattari (2011a,
2011b, 2011c, 2012a, 2012b, 2012c), principalmente em sua obra Mil platôs.
Para tanto, articulamos: os conceitos de palavras de ordem, como atos de fala
imanentes atribuídos a corpos; de Corpo sem Órgãos como criação de corpo
frente à disciplinarização do organismo; e de máquina de guerra como uma gra
mática de revide, para pensarmos o caráter político dessa relação. Com essa
articulação, traçamos o devirmulher do conceito #SexoÁgil1, enquanto exemplo
– melhor, potencializador – de uma política descolonial que vai de encontro à
subjetivação, às identidades de gênero, satisfazendose de uma pragmática me
nor como política da língua.
LINGUAGEM:
UMA QUESTÃO DE POLÍTICA
O conceito de palavras de ordem encontrase presente no texto “20 de no
vembro de 1923 – Postulados da Linguística”, que compreende um platô do livro
Mil platôs, de Deleuze e Guattari (2011b). Em uma entrevista posterior à publi
cação desse livro, Deleuze (2013) diz que três temas foram necessários ser abor
dados naquela obra, no que diz respeito à linguagem e/ou à linguística: 1. as
palavras de ordem; 2. o discurso indireto; e 3. a variação contínua. Esses três
temas, ao dialogarem entre si, marcam, de certo modo, um posicionamento
pragmático para a linguística. Aqui, detemonos sobre as palavras de ordem
que, possivelmente, ecoam os outros dois temas.
Deleuze e Guattari (2011b) definem a linguagem como um conjunto de pala
vras de ordem. Essa definição não significa que a palavra de ordem aponta para
o que é a linguagem ou para uma origem da linguagem – algo não linguístico que
determine algo linguístico. Nada disso, a linguagem não tem uma origem. Não
podemos sair da linguagem, porque uma palavra de ordem devém outra palavra
de ordem, como um dialogismo: um dizer que vem de outro dizer. Então, a pala
vra de ordem vem delinear uma função coextensiva à linguagem, uma função
linguagem. Ela é uma unidade elementar do enunciado, uma vez que todos os
tipos de enunciados são palavras de ordem.
Indo de encontro às posturas na linguística que definem a linguagem, em
algum momento, pelo seu caráter informativo ou comunicativo, o conceito de
palavra de ordem nos diz que a linguagem “não é mesmo feita para que se acre
dite nela, mas para obedecer e fazer obedecer” (DELEUZE; GUATTARI, 2011b,
p. 12). A informação, no caso, é apenas um mínimo necessário para a emissão
de comandos. Todavia, o que qualifica uma palavra de ordem como enunciação
de um comando não é sua forma explícita, como se percebe nos enunciados
1
#SexoÁgil, revista fundada por Karina Buhr (feminista, cantora, compositora, percussionista) em 2014 e composta por textos e
ilustrações. Dados mais desenvolvidos no último item deste artigo.
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imperativos, mas os atos implícitos que expressam ações quando uma palavra
de ordem é enunciada.
Dessa maneira, há uma relação de imanência entre uma palavra ou qualquer
enunciado, com atos de fala, com pressupostos implícitos na palavra de ordem.
Esses atos de fala têm a característica de serem incorpóreos, potencializando sen
tidos quando são expressos. Em relação a uma proposição, o sentido é o expresso
da proposição, o acontecimento, o puro devir; e é o incorpóreo, por não se confun
dir com a proposição nem com o objeto ou estado de coisas que estaria no mundo
designados por esta, ou com a representação ou com os conceitos perpetuados
pela proposição. Temos, enfim, uma teoria do sentido, em Deleuze (2011b).
O sentido é o atributo da coisa ou do estado de coisas, como um verbo. Como
atributo de um estado de coisas, não quer dizer seu estado físico, mas, o que se
diz de um estado de coisas. Tratase de um estado de coisas ainda que não deva
ser tomado na acepção tractariana de Wittgenstein (1968), em que se pressupõe
uma relação lógica entre linguagem e mundo, uma ontologia fixa em que a lin
guagem pode representar logicamente. Deleuze (2011b) dá razão ao filósofo aus
tríaco quando este define, no segundo momento de sua filosofia, o sentido pelo
uso, ocorrendo por um jogo de linguagem (Cf. WITTGENSTEIN, 1999).
Afirmar que o sentido é o expresso, ou que está no uso, é uma posição prag
mática a toda uma dimensão logicista ou semântica da linguagem. Assim, para
Deleuze (2011b), o sentido não é um ser nem qualifica um ser, é um extrasser.
Por advir quando expresso e por se portar como um extrasser, temos as suas
duas faces: uma voltada para a expressão e a outra, para um estado de coisas;
desse modo, o sentido está no meio. Articulando a linguagem ao tempo, o senti
do passa a ser a priori em relação à significação, já que numa tradição lógica e
de filosofia da linguagem viria a posteriori, quando o significante não conseguis
se resolver os paradoxos colocados pela linguagem.
Regressando às palavras de ordem, dizemos que estas expressam atos de
fala incorpóreos, a partir da relação com uma palavra ou com qualquer enuncia
do. Esses atos são atribuídos a corpos, como variáveis de agenciamentos coleti
vos de enunciação que, relacionados de um determinado modo, reúnemse em
um regime de signos, conformando uma máquina semiótica. Os corpos, por sua
vez, formam um regime de corpos, ou um agenciamento maquínico. Um agen
ciamento, então, constituise dessa inseparabilidade entre linguagem e corpo;
por um lado, ele é coletivo de enunciação e, por outro, maquínico do desejo. Não
há um agenciamento coletivo de enunciação se ele não for, também, um agen
ciamento maquínico.
O caráter das palavras de ordem de enunciar comando nos faz lembrar do
pensamento de Austin (1990) e de sua chamada teoria dos atos de fala. Deleuze
e Guattari (2011b) até mesmo fazem menção à elaboração do ilocucionário e do
perlocucionário de Austin, ao indicarem, de forma indireta, que todos os atos de
fala são performativos. Resumidamente, duas consequências disso: a primeira
consiste em pensar as outras dimensões da linguagem a partir da pragmática; e
a segunda, uma agenda política para a linguagem a partir da pragmática.
No entanto, Deleuze e Guattari (2011b) pensam a linguagem e a questão do
sentido a partir de outras perspectivas filosóficas, diferentes das de Austin
(1990). A concepção deleuziana do sentido advém de uma filosofia da linguagem
estoica e não da lógica aristotélica, como boa parte da filosofia analítica e da fi
losofia da linguagem originase. Dessa forma, o performativo ao ser explicado
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pelo ilocutório, constituindo este os pressupostos implícitos ou não discursivos,
“as palavras de ordem ou os agenciamentos de enunciação em uma sociedade
dada [...] designam essa relação instantânea dos enunciados com as transfor
mações incorpóreas ou atributos não corpóreos que eles expressam” (DELEUZE;
GUATTARI, 2011b, p. 20).
Não há ato mais performativo do que outro. Atos incorpóreos se atribuem
a corpos, a partir da “instantaneidade da palavra de ordem, sua imediatidade,
[que] lhe confere uma potência de variação em relação aos corpos aos quais se
atribui a transformação” (DELEUZE; GUATTARI, 2011b, p. 23). O sentido de
corpo é o mais abrangente possível, desde corpos morais a corpos propria
mente como compreendemos. Palavras de ordem, exprimindo incorporeamen
te atos de fala a corpos, uma vez afetados, podem encerrar dois tons: de mor
te ou de fuga. O tom de morte acontece quando há uma parada, quando o
corpo aceita o veredito de uma palavra de ordem, segmentandose, organizan
dose; e o tom de fuga, quando o corpo não foge à palavra de ordem, e, sim,
age e cria, ao recebêla.
Daí podermos dizer que a linguagem tem esse duplo – (re)territorialização e
desterritorialização –, que, antes de ser uma questão de linguística, é uma ques
tão de política: quando a linguagem dá ordem à vida. Para a criação de novas
formas de vida, é necessário extrair das paradas de ordem as passagens de fuga.
E condizendo a movimentos de desterritorialização, as linhas de fuga são cria
ções de mundo, devires. Sendo assim, temos a linguagem enquanto devir ao
invés de representação.
Com isso, percebemos a palavra de ordem efetuando um agenciamento cole
tivo de enunciação e maquínico do desejo, composto de duas faces: uma voltada
para um plano de organização e desenvolvimento, e a outra, para um plano de
composição e criação – dois planos de vida, ou dois usos diferentes de um plano.
Todo agenciamento se faz de linguagem e de corpo que, quando voltada sua face
para um plano de composição, potencializa criação de ambos. Contudo, a lin
guagem não se encontra numa relação de correspondência e representação com
o corpo nem viceversa; entre ambos, existe apenas uma relação distributiva,
por uma pressuposição recíproca.
Se a linguagem é devir, todo devir é perspectivismo. De um ponto de vista
epistemológico, não se compartilha de uma concepção relativista e, muito me
nos, de uma concepção essencialista, acerca da relação entre linguagem e mun
do. O perspectivismo é criação de mundo, mas um mundo que somente é (ou
melhor, devém) mundo a partir de uma perspectiva – o que não é uma versão de
mundo de um mundo que existe (Cf. DELEUZE, 1991) –, derivando de uma re
lação de pontos de vista, de devires.
UM
CORPO QUE SE CONECTA
Um estrato que também nos “amarra”, segundo Deleuze e Guattari (2012a),
é o organismo. A princípio, falamos (in)diretamente sobre os dois outros estra
tos, a significação e a subjetivação, que podem ser compreendidos enquanto
territórios, que politicamente tendem a impedir processos de desterritorialização
propiciados por linhas de fuga em determinados agenciamentos. A filosofia de
Gilles Deleuze e Félix Guattari se detém, principalmente, sobre esses três gran
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des estratos, em sua obra Mil platôs. Ou seja, detémse acerca de como esses
estratos comportam um movimento interior que remete a um plano de organiza
ção e desenvolvimento (um plano de transcendência); e sobre como esses estra
tos são segmentados a partir de um outro plano, quando bloqueado suas linhas
de fuga, um plano de composição (um plano de imanência), que se faz exterior
por fluxos e conexões.
Fazer os agenciamentos voltarem sua face para o plano de composição é po
tencializar forças de criação, indo de encontro aos estratos organismo, subjeti
vação e significação: para a subjetivação, as singularidades e hecceidades; para
a significação, o sentido enquanto expresso; e para o organismo, o Corpo sem
Órgãos. Nesse momento, queremos nos compor com um pensamento sobre o
corpo que não diz respeito ao organismo, nem a um Eu nem a um Outro, e sim
a um corpo povoado por intensidades e não por extensões enquanto segmentos
– segmentos disciplinares em torno da sexualidade, por exemplo.
O Corpo sem Órgãos (CsO) se contrapõe ao organismo, seu inimigo. É um
corpo, um corpo com órgãos, no entanto, com órgãos que não pressupõem um
organismo como um regime, uma estratificação, em torno de suas funções. “O
organismo não é o corpo, o CsO, mas um estrato sobre o CsO, quer dizer um
fenômeno de acumulação, de coagulação, de sedimentação que lhe impõe for
mas, funções, ligações, organizações dominantes e hierarquizadas” (DELEUZE;
GUATTARI, 2012a, p. 24). Assim, sobre ele vão se formar ainda a significação e
a subjetivação, a significância e o sujeito.
Satisfazendose do plano de composição, o CsO propicia: uma desarticulação
do organismo, abrindo o corpo a novas conexões que lhe potencializam; uma
experimentação em vez de uma intepretação, que é própria ao regime da signifi
cação, do significante; e uma dessubjetivação, contrapondo a existência de um
sujeito de enunciação (o Ser) rebatendose em um sujeito de enunciado (o Sujei
to). Portanto, temos um corpo que se conecta, e não se conjuga, heterogeneizan
dose a cada conexão com outro elemento – um corpo, linguístico ou não linguís
tico, humano ou não humano.
É um corpo rizomático, que privilegia a multiplicação de sentidos pela expe
rimentação e o devir como singularidade ou hecceidade – subjetivação sem su
jeito – que arrasta o sujeito a uma zona de indiscernibilidade, de involução cria
dora e contemporânea.
Mas pode ser enganoso e muito perigoso pensar apenas nesse movimento de
desterritorialização absoluta, que se deixa ir pelas linhas de fuga. Deleuze e
Guattari (2012a) nos dizem que o CsO oscila entre os dois planos, entre o plano
de organização e o plano de composição, e que é necessário, em alguns momen
tos, guardar um pouco de organismo, assim como significação e subjetivação,
por questões políticas – um exemplo, citemos os movimentos atuais de políticas
de gênero, que problematizam o caráter social da noção de gênero e de sexuali
dade. O que também pode ser muito perigoso, por outro lado, quando tais polí
ticas tendem a estancar a diferença enquanto processo contínuo de criação po
sitiva de vida, ao caírem na esfera da identidade.
Oscilar entre os dois planos é considerar que o CsO é desterritorialização, ao
mesmo tempo que opera uma reterritorialização, em que a terra deixa de ser
território para fazerse solo ou suporte, onde quem habita é um nômade e não,
o migrante. Este último vai de um ponto fixo a outro ponto, por caminhos feitos;
e aquele define os pontos no trajeto, podendo ser desterritorializados a qualquer
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momento. Partindo disso, o corpo possui uma latitude e uma longitude, os dois
elementos de uma cartografia: a latitude, que se constitui por afetos e intensi
dades, aumentando graus de potência, de devir; e a longitude, por uma compo
sição de elementos extensivos, marcada por relações de movimento e repouso,
de velocidade e lentidão.
Em nível de corpo e linguagem, o corpo mantém relações de elementos exten
sivos, como os órgãos, tanto internamente como externamente; e essas relações
sentem efeitos de outros elementos, intensivos, quando da presença de um cor
po sobre outro corpo, aumentando ou não a sua capacidade de agir. Esses ele
mentos são os afetos que Deleuze (2011a), em certo momento, qualifica como
signos – que traduzimos aqui como a capacidade da linguagem de agir no (e com
o) corpo, desterritorializandoo. Afetos, de affectus, conceito advindo da filosofia
de Baruch Spinoza (16321677) (DELEUZE, 2012) diz respeito a um modo de
pensamento não representativo, diferente da ideia que se faz como modo repre
sentativo; e afecção, de affectio, diz respeito a um tipo de ideia que determina
um afeto, porém, um modo de pensar inadequado que representa uma afecção
do corpo, ou seja, a mistura de um corpo com outro corpo e/ou a marca ou pre
sença de um corpo sobre outro corpo, isto é, o efeito.
Há afetos tristes e afetos alegres. No encontro, onde se dão as ideias-afecções, um corpo pode afetar outro de maneira triste ou alegre, como diminuição
ou aumento da potência de agir, de existir. Ousemos pensar no afeto triste como
política da palavra de ordem que exprime um tom de morte, e alegre, o afeto que
potencializa o tom de fuga da palavra de ordem. Ou melhor, tratase de uma
política e uma experimentação, corpus e socius; de um exercício, de uma práti
ca, de um limite enquanto potência de diferença. Então, como desarticular os
estratos? Como construir para si um Corpo sem Órgãos?
Karina Buhr2 (2015b, p. 190), potencializadora do #SexoÁgil enquanto um de
virmulher, sobre o qual nos dedicaremos mais à frente, apontanos uma saída:
Da primeira vez chorei
da segunda vez chorou
da terceira comprei:
um globo terrestre
uma escada
e um vibrador.
Pode ser triste ou feliz o fim do amor.
Tratase de uma saída em relação a abrir o corpo a conexões, em que sua
unidade ontológica é apenas a de uma multiplicidade, que não prevê um Uno
nem um Múltiplo. Uma corporeidade vaga, que foge à coisidade sensível, forma
da e percebida – ao corpo, como de costume e cartesianamente o entendemos –,
e à essencialidade formal inteligível, ao que é o corpo. Desse modo, é uma cor
poreidade enquanto acontecimentosafetos, da ordem do desejo – não, o psica
nalítico (Cf. DELEUZE; GUATTARI, 2011c) – como produção de realidade social,
um corpo que se processualiza a partir de singularidades, devires.
2
Karina Buhr, cantora e compositora começou na música em 1992 nos maracatus Piaba de Ouro e Estrela Brilhante do Recife.
Foram inúmeras as participações em trilhas sonoras de filmes, peças de teatro e dança. Em 2014, lançou a versão anual da
revista Sexo Ágil, com seus textos e ilustrações. Disponível em: <issu.com/karinabuhr/docs/sexo_agil_01> e em: <www.karinabuhr.
com.br/blogs>. Acesso em: 14 fev. 2016.
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LÍNGUA E LINGUÍST ICA
UMA
GRAMÁTICA DE REVIDE?
Quando falamos em organismo, remetemos a um regime de corpos, configu
rado por um agenciamento que pressupõe uma máquina abstrata. A respeito de
máquina abstrata, podemos traduzila como uma gramática de uma forma de
vida. Assim, uma máquina abstrata nada mais é do que uma gramática. Concei
tos de gramática e de forma de vida que nos levam à concepção wittgensteiniana
da linguagem, em que o sentido advém de determinados jogos de linguagem,
diretamente ligado ao uso (WITTGENSTEIN, 1999). No uso, o sentido faz parte
de uma forma de vida, de um jogo de linguagem, que se constitui social, político,
histórico e cultural – sua gramática. Considerando isso, o organismo provém,
enquanto estrato para com o corpo, uma máquina abstrata que opera por seg
mentações, regimes, hierarquias e binaridades. Deleuze e Guattari (2012c) de
nominam essa máquina abstrata de dois tipos, que podem ser complementares:
máquinas abstratas de estratificação e máquinas abstratas sobrecodificadoras
ou axiomáticas. Mas o que lhes efetuam? Agenciamentos concretos.
Aparelhos de captura ou de Estado são os agenciamentos que operam seg
mentações ao corpo, impondo um organismo. A ciência pode ser um aparelho de
estado, por exemplo, a medicina, o discurso médico em torno da sexualidade.
Dessa forma, o Estado se faz e se mantém, não por apresentar um chefe que o
governe, mas, sim, pelos órgãos e dispositivos de poder que o mantém como
plano de organização e desenvolvimento, com suas linhas de segmentaridade – a
ciência, nessa direção, é um órgão de poder, uma dita ciência maior.
Como vimos anteriormente, o que vem contrapor o organismo é o Corpo sem
Órgãos, quando um agenciamento volta sua face para um plano de composição,
que se potencializa por conexões, intensidades e velocidades. O agenciamento, ao
se voltar para esse plano, prestase, então, como uma máquina de guerra. A máquina de guerra é mais próxima de uma máquina abstrata imanente, não estrati
ficada, de uma forma de vida que privilegia os processos em vez dos produtos.
Em termos de gramática, entendemos que a máquina de guerra é uma gramática de revide contra o Estado e seus aparelhos. Tem como uma de suas ca
racterísticas principais o fora, a exterioridade como multiplicidade imanente que
lhe impulsiona contra a interioridade que satisfaz uma máquina abstrata e os
aparelhos de Estado. Segundo Deleuze e Guattari (2012c), a interioridade se
apresenta a partir de uma dupla articulação entre UmDois: o déspota e o legis
lador, o ceifeiro e o organizador. Essa dupla articulação distribui as binaridades,
como homem/mulher, adulto/criança, sexo/gênero, heterossexual/homosse
xual e outras tantas mais no nível dos corpos, através de aparelhos de estado.
Baseandose em um modelo de pensamento que toma a existência de um
Universal como política – a representação –, a dupla articulação também se faz
presente na linguagem, nos moldes de língua/fala, competência/desempenho,
sujeito do enunciado/sujeito de enunciação etc. Formada por um imperium (o
Todo, o Ser) e por uma república dos espíritos livres (o Sujeito), a dupla articula
ção sanciona o Estado. Temos um modelo moderno colonial do pensamento.
Uma política descolonial é a do pensamento enquanto máquina de guerra,
devir, exterioridade. “Todo o pensamento é um devir, um duplo devir, em vez de
ser o atributo de um Sujeito e a representação de um Todo” (DELEUZE; GUAT
TARI, 2012c, p. 53). Nesse sentido, a sexualidade e, por que não, as identidades
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de gênero ou identidades sexuais, não conseguem se manter por binaridades,
mesmo apostando em formas bissexuadas, porque aí lhe atravessam n sexuali
dades, traçadas por um devir. O devir faz, por exemplo, um homem devirmu
lher. Devir que não quer dizer imitar, assemelharse, tornarse, ou identificar
se. O devir é um bloco de sensações que arrasta os pares mantidos por um
aparelho de estado para uma zona de vizinhança e indiscernibilidade, sem que
o maior e o menor, nesses pares, não sejam desterritorializados.
Nessa zona de vizinhança e indiscernibilidade, há graus ou traços de inten
sidade e expressão que aumentam ou diminuem a capacidade do corpo de me
tamorfosearse, construindo um plano de composição conectado ao exterior, ao
fora, que lhe põe em funcionamento. Esses graus ou traços, como dissemos, são
os afetos, que potencializam o corpo, valendose como as armas da máquina de
guerra contra os aparelhos de Estado. Por isso, uma máquina de guerra é uma
gramática de revide, e os afetos, as armas. Os afetos seriam devires que consti
tuem a linguagem, uma vez que, de acordo com Deleuze (2011a), os afetos são
signos, em que um signo é sempre um efeito de outro signo; e a afecção seria a
presença de um signo no corpo. Tal presença, quando aumenta a capacidade de
o corpo agir contra as segmentações – o organismo –, comportase como criação
de vida, o segundo tom da palavra de ordem, o tom de fuga.
O signo, entretanto, também pode se comportar como uma ferramenta. Se agir
como tal, faz parte de um aparelho de Estado, próprio a um regime de signos, um
regime significante. Portanto, a depender do agenciamento, um signo varia de sen
tido: no agenciamento máquina de guerra, seu sentido é projetivo como uma arma,
e no aparelho de Estado, introjetivo ou introceptivo como uma ferramenta.
As armas e as ferramentas também se diferem em relação a seus modelos de
ação. Se uma ação encontrase no nível do trabalho, pressupõe um modelo hi
lemórfico – uma ferramenta trabalha uma forma sobre uma matéria –, operando
cortes como o aparelho de Estado, de modo a vencer ou utilizar resistências; de
maneira inversa, se a ação é livre, a matéria deixase compor por singularidades
ou hecceidades e por traços de intensidade e expressão, uma matériafluxo, em
que a “arma se encontra diante de revides, a evitar ou a inventar” (DELEUZE;
GUATTARI, 2012c, p. 78, grifo nosso).
As diferenças entre armas e ferramentas devemse aos agenciamentos dos
quais são consequências. Com armas, o devirmulher se faz como uma máquina
de guerra, indo de encontro às binaridades acerca da sexualidade e das ques
tões de identidade de gênero, como movimento molecular, de criação de mundo.
Não há devir sem criação de mundo, pois somente se é máquina de guerra quan
do se cria outra coisa ao mesmo tempo – um devir todo mundo. Logo, a máquina
de guerra não tem como objeto a guerra, mas, sim, o traçado das linhas de fuga
criadoras contra a axiomática do Estado com seus aparelhos de captura.
#SEXOÁGIL:
UM DEVIR-MULHER
O que chamamos de #SexoÁgil, até o momento, referese a um conceito em
produção3. O símbolo # junto a uma ou mais palavras, ou em um enunciado,
compõem uma hashtag, que hoje nas redes sociais “faz da vida e da história as
3
O conceito compõe uma cartografia atualmente em construção no Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada (PosLA)
da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
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LÍNGUA E LINGUÍST ICA
condutoras do tempo real, ao não pararalisar o tempo, mas apropriarse dele e
reterritorializálo” (MALINI; ANTOUN, 2013, p. 188). Essa reterritorialização
acontece com uma narrativa coordenadora de uma determinada ação coletiva,
em fluxo. Desse modo, a hashtag se faz como uma palavra de ordem, constituin
dose de atos de fala atribuídos a corpos, uma variação de um agenciamento.
Sintetizando, compreendemos a hashtag em questão como um conceito em
produção e também como uma palavra de ordem, impulsionados por um agencia
mento – agenciamento que não tem apenas o #SexoÁgil como uma palavra de
ordem, mas tantas outras que podem ser mapeadas. Sendo assim, cartografamos
a produção desse conceito a partir de algumas palavras de ordem que, como va
riações de um agenciamento, o colocam em funcionamento. No entanto, qual
narrativa coordenadora de uma ação coletiva #SexoÁgil efetua, enquanto conceito
e palavra de ordem? A ação narrativa diz respeito à revista ou fanzine Sexo Ágil,
produzida pela artista brasileira Karina Buhr e por amigos(as) da artista.
A cada oito de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, é
publicada nas redes sociais uma nova edição da revista ou fanzine Sexo Ágil.
Isso acontece desde 2012. Textos, imagens, fotografias e desenhos são arranja
dos para juntos produzirem sentidos em torno de uma subjetivação, uma iden
tidade feminina. Porém, não é uma comemoração ao dia internacional da mu
lher, como se pode imaginar. É uma ação que contraria, até mesmo, a existência
de tal comemoração, como o #PegaNoMeuOitoDeMarço – uma hashtag que se faz
como palavra de ordem nesse dia, nas redes sociais, principalmente no Twitter.
Uma palavra de ordem que potencializa um devir-mulher frente a uma subje
tivação comemorada, traçando uma zona de intensidade enquanto política de
uma linha de fuga minoritária, uma nova forma de vida. Devirmulher que não
significa tornarse mulher, pois quando se “torna”, encontramonos no âmbito
da identidade do gênero. Nesse caso, o devir é uma antimemória, uma antirepre
sentação (DELEUZE; GUATTARI, 2012b):
Sexo Ágil grita aqui então pelo direito dos pais de filhas meninas pequenas as
levarem pra fazer cocô num banheiro masculino, sem a pequena ser amaldiçoada, xingada, ou estuprada, nem o pai ridicularizado, ameaçado, acusado de
pedofilia ou preso. Sem o pai precisar pedir pra uma desconhecida, no banheiro
feminino ao lado, levar sua filha pequena pra fazer cocô. Direitos básicos de um
cidadão (BUHR, 2014, p. 16).
Territórios significantes, organizados e subjetivados são desterritorializados por
um processo que privilegia o sentido, a criação de corpo e as singularidades, como
podemos perceber na citação anterior, que compôs a edição 2014 de Sexo Ágil. Pa
ra tanto, articulando o conceito de palavras de ordem, como atos de fala imanentes
atribuídos a corpos e como variações de agenciamentos, mapeamos (in)tensões
existentes entre linguagem, corpo e política na produção do conceito #SexoÁgil.
Derivando da filosofia de Deleuze e Guattari (2012b), o conceito devirmulher
funciona como uma política minoritária, contrapondose tanto a uma maioria
quanto a uma minoria política. O homem, o heterossexual, o branco, o europeu,
por exemplo, exercem políticas majoritárias, na direção de que o outro se define
a partir dele, que é o padrão. A minoria, por sua vez, diz respeito ao que é colo
cado como posição inferior ao padrão, como a mulher, o homossexual, o negro,
o latino. Entretanto, o devir não é uma política de minoria, pois, se fosse, estaria
envolvido por uma representação.
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POR UMA PRAGMÁTICA MENOR: TENSÕES ENTRE LINGUAGEM, CORPO E POLÍTICA
LÍNGUA E LINGUÍST ICA
O devir compõese de um duplo movimento, que se faz necessário para estar
minoritário: 1. “um movimento pelo qual um termo (o sujeito) se subtrai à maio
ria, e outro pelo qual um termo (o termo medium ou o agente) sai da minoria”
(DELEUZE; GUATTARI, 2012b, p. 93); 2. movimento que a mulher tem de devir
mulher, quando a minoria deixa de ser um conjunto definível em relação à
maioria. Além disso, quando uma mulher devém mulher, aquela devém na me
dida em que o sentido de devirmulher também devém. Ocorre daí uma multi
plicação de sentidos acerca do que é estar mulher, uma mobilidade de sentidos
jamais em equilíbrio. Nessa perspectiva, um homem pode devirmulher, como
#SexoÁgil experimenta e propõe em:
Vamos falar de direitos dos homens?
Pelo direito deles pequenos brincarem de boneca e de cozinha, pelo fim da nóia
deles quando gostam de uma roupa e perguntam “essa blusa é meio gay?”.
Pelo direito dos homens terem banheiros públicos mais humanos, menos baias
de cavalos, sem precisar mostrar o pau pra todos os outros e que esses banheiros tenham também fraldários, assim como os das mulheres.
Pelo direito deles de cuidarem dos filhos (BUHR, 2014, p. 15).
Dessa maneira, devirmulher não se posiciona como uma política de identida
de de gênero, porque este tende a bloquear os processos de variação contínua. Não
é uma política de semelhança, nem de imitação, nem de identificação; é uma pos
tura descolonial acerca da subjetivação ancorada em sujeitos definíveis por orga
nização e segmentação, quando a subjetivação é um estrato. Ao estrato da subje
tivação, Karina Buhr (2015a, p. 53, grifo nosso) experimenta um devir-papangu:
Um dos dias mais inteiros de minha vida foi nesse Carnaval, fantasiada de
Papangu, pelas ladeiras de Olinda.
[...]
Lá ia eu andando, pulando, correndo, sem ninguém saber que eu era uma mulher, logo, ninguém preocupado em reger meus movimentos, com a roupa frouxa
do monstrinho e a máscara que cobre a cabeça e o cabelo e que nem sua mãe
consegue te reconhecer dentro dela, a um palmo do nariz.
É isso, um dos dias mais intensos da minha vida foi quando passei pelas ruas
sem ser mulher diante de olhos violentos.
Guattari e Rolnik (1996) nos dizem que a única subjetivação possível é a ca
pitalística, pois é próprio do capital, como maisvalia de poder, bloquear os pro
cessos de devir e transformálos em produtos, moldandoos em identidades. A
mídia, a escola, a família e outros jogos de linguagem, por assim dizer, são dis
positivos de poder ou agenciamentos que capturam o devir. A esses aparelhos de
captura, como o dia internacional da mulher, e agenciamentos como máquinas
de guerra se voltam contra, potencializando devir. Seria o agenciamento revista
Sexo Ágil, enquanto máquina de guerra, com suas palavras de ordem performa
tizando armas de revide frente a regimes de significação, de disciplinarização do
corpo e de subjetivação.
O #SexoÁgil, como conceito que traça um devirmulher, parece se colocar em
movimento a partir de agenciamentos como máquinas de guerra, já que “os con
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DINA MARIA MARTINS FERREIRA E JONY KELLSON DE CASTRO SILVA
LÍNGUA E LINGUÍST ICA
ceitos são agenciamentos concretos como configurações de uma máquina” (DE
LEUZE; GUATTARI, 2010, p. 46). Podemos dizer que a revista é uma das entra
das que compõe o mapa conceitual de #SexoÁgil, e a artista Karina Buhr apenas
um anômalo que devém mulher, que tangencia esse processo.
Diferente do anormal, o anômalo não pressupõe um padrão, um normal em
contraposição; ele é composto apenas de devires, afetos, funcionando como uma
borda e ocupando uma posição ou um conjunto de posições em relação a uma
multiplicidade. Karina Buhr é cantora, compositora, percussionista, escritora,
poeta e desenhista, enquanto identidade. No entanto, como anômalo, potencia
lizou no mês de setembro de 2015 uma açãoartemanifesto intitulada Selváticas4. O fotógrafo Beto Figueiroa e a jornalista Aline Feitosa, na cidade do Recife,
lançaram um ensaio fotográfico protagonizado por 14 mulheres, entre elas Ka
rina, como uma máquina de guerra contra o aparelho de captura Facebook que,
dias antes, havia censurado na rede social a capa do novo disco da cantora em
que ela posa sem blusa, com os seios expostos na foto. No ensaio, as 14 mulhe
res também estão sem blusa.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Um agenciamento se compõe de dois eixos, um horizontal e um vertical: no
primeiro, constituise de expressão e conteúdo, ou seja, um agenciamento cole
tivo de enunciação e maquínico do desejo; no segundo, fazse de lados territo
riais e de pontas de desterritorialização. Uma micropolítica se vale do devir, da
potência das pontas de desterritorialização do agenciamento, que são linhas de
fuga aos territórios fixos de subjetivação, organismo e significação – quando o
agenciamento vira sua face para um plano de organização e desenvolvimento.
Com as palavras de ordem e seus tons de morte e de fuga, jamais podemos
sair do âmbito da linguagem. Exprimem um caráter social para a enunciação, em
que uma palavra de ordem devém outra palavra de ordem, caracterizandose co
mo uma perspectiva dialógica da linguagem – inclusive, Deleuze e Guattari
(2011b) referenciam Bakhtin e Voloshínov (2010), ao discorrerem sobre o discur
so indireto como determinação “primeira” para a origem da linguagem, para a
enunciação social e coletiva do agenciamento. Nesse sentido, a palavra de ordem,
como variação de um agenciamento, desestabiliza a ideia de sujeito como um ser
individual, autônomo e consciente. Na verdade, nem sujeito, porque o agencia
mento é coletivo – um coletivo não quantificável, um discurso indireto livre.
Karina Buhr (2014, 2015a, 2015b), como anômalo, posicionase com um li
vro de poemas, chamado Desperdiçando rima; com sua coluna mensal, na Revista da Cultura; com seus dois blogs, Romântico Defeituoso e Pane no Pântano;
com suas músicas e letras em seus três discos lançados até o momento, em
carreira solo; com blogueiras feministas no Twitter; com textos no Facebook; e
por aí – com o fora –, com muitas outras entradas por vir, engendradas por co
nexões, compondo uma gramática de revide. Diante disso, podemos traçar um
devirmulher na produção do conceito #SexoÁgil, enquanto uma relação entre
linguagem, corpo e política, a partir de uma pragmática menor; e assim, ao ex
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A ação-arte-manifesto pode ser conferida em: <http://www.betofigueiroa.com.br/ensaios/ver/5/selvaticas>. Acesso em: 13
fev.2016.
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LÍNGUA E LINGUÍST ICA
perimentar tal pragmática, problematizase de que maneira esta, como política
minoritária, pode potencializar um fazer pesquisa em pragmática linguística.
TOWARD
A MINOR PRAGMATICS: TENSIONS BETWEEN LANGUAGE, BODY AND POLITICS
Abstract: We intend to think a minor pragmatics based on the Gilles Deleuze and
Félix Guattari’s philosophy, mainly in your book A Thousand Plateaus. For this,
we connect the concepts of orderwords, as speech acts assigned the bodies; of
Body without Organs as creation of body against the discipline of organism; and
of war machine as a grammar of counterattack. Therefore, we experiment the
trace of the concept #SexoÁgil that itself makes becomingwoman as politics of
a minor pragmatics, that deterritorializes processes of subjectification rooted in
gender identities. With that, we problematize a minor pragmatics as a minorita
rian politics, that can potentizes a doing research in linguistic pragmatics.
Keywords: OrderWords. Body without Organs. BecomingWoman.
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