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Como adolescentes resistem ao confinamento em países marcados por políticas de encarceramento massivas? Para abordar essa pergunta, esta tese analisou as estratégias de resistência de adolescentes no Brasil e França, países que possuem... more
Como adolescentes resistem ao confinamento em países marcados por políticas de encarceramento massivas? Para abordar essa pergunta, esta tese analisou as estratégias de resistência de adolescentes no Brasil e França, países que possuem estratégias adotadas pelos Estados que enxergam no confinamento as respostas necessárias para obstar o crescimento do número de crimes. Por meio do estudo de quatro instituições de confinamento, nos dois países, foram entrevistados adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação. A metodologia qualitativa foi composta, notadamente por entrevistas episódicas, com o intuito de uma abordagem dos episódios de internação a partir da experiência e olhares dos próprios atores. A partir da interpretação e análise de 18 entrevistas, uma tipologia, composta por 3 tipos principais, foi desenvolvida: i) os resistentes – aqueles que enfrentam, por meio de ações sutis, as regras impostas nas instituições de privação de liberdade e obtém alguns ganhos a partir disso; ii) os conformados – que enxergam no confinamento uma possibilidade de alterar suas trajetórias e apenas seguem as regras impostas; iii) e os oscilantes – que a depender do tipo de variável analisada (escola, local e relação com os profissionais) variam entre a resistência e a conformidade. Assim, analisando os três tipos, conseguimos compreender algumas das dinâmicas existentes na privação de liberdade. Por fim, explicamos que as respostas institucionais que são dadas aos adolescentes em situação de conflito com a lei, nos dois países, são semelhantes, à medida que identificam no confinamento somado à educação a possibilidade de alterar a trajetória desses sujeitos, muito embora os locais em que são privados de liberdade estejam em desacordo com as legislações vigentes nos dois países.Comment les adolescents résistent-ils à l'enfermement dans des pays marqués par des politiques aussi massives ? Pour aborder cette question, cette thèse analyse les stratégies de résistance des adolescents au Brésil et en France, pays qui ont des stratégies adoptées par les États qui voient dans l'internement les réponses nécessaires pour prévenir la croissance du nombre d'actes de délinquance. Grâce à l'étude de quatre établissements de détention dans les deux pays, les mineurs ont été interrogés conformément aux mesures socio-éducatives de privation de liberté. La méthodologie principalement qualitative repose notamment sur des entretiens, dans le but d'aborder les épisodes d'enfermement en fonction de l'expérience et des points de vue des acteurs eux-mêmes. De l'interprétation et de l'analyse de 18 entretiens, une typologie composée de 3 types principaux a été développée: i) les résistants - ceux qui, par des actions subtiles, font face aux règles imposées aux institutions de privation de liberté et obtiennent quelques gains de ceux-ci; ii) les conformes - qui voient dans l'enfermement la possibilité de changer leurs trajectoires et ne font que suivre les règles imposées; iii) et les oscillants - en fonction du type de variable analysée (école, localisation et relation avec les professionnels) varient entre résistance et conformité. Ainsi, en analysant ces trois types d'attitudes, nous pouvons comprendre certaines des dynamiques qui existent dans la privation de liberté. Enfin, nous expliquons que les réponses institutionnelles données aux mineurs en conflit avec la loi dans les deux pays sont similaires, car elles visent dans le confinement avec l'éducation, la possibilité de modifier la trajectoire de ces sujets, bien que les lieux où ils sont privés de leur liberté sont en discordance avec les lois en vigueur dans les deux pays
The paper, a part from a doctoral dissertation in progress, aims to present the partial results of a survey conducted in 2013 in an executing unit of socio educative means of a mid open system in Porto Alegre / RS. First we present, in... more
The paper, a part from a doctoral dissertation in progress, aims to present the partial results of a survey conducted in 2013 in an executing unit of socio educative means of a mid open system in Porto Alegre / RS. First we present, in short, some of the key concepts of Axel Honneth to understand the theory of recognition and thus the ways in which the teenager passing through the Juvenile Justice System is reified by the agents of that system. From there, and from the narratives of adolescents, we focus on Michel Foucault’s resistance concept to understand how, despite the change in legislation from 1990 and the adoption by Brazil, the international conventions concerning the subject adolescents in conflict with the law, the officials of the juvenile justice system continue reifying these teenagers, making them a number of process or action to segregate them from society. However, it is clear that teenagers can reinvent themselves, within the system itself, resisting bonds and crea...
The legal socialization framework emphasizes the importance of adolescents' encounters with police. This study aims to understand how different types of police contact and neighborhood experiences are linked to the legal socialization... more
The legal socialization framework emphasizes the importance of adolescents' encounters with police. This study aims to understand how different types of police contact and neighborhood experiences are linked to the legal socialization process among adolescents living in São Paulo, Brazil. Drawing on 669 participants across three waves of panel data from the São Paulo Legal Socialization Study, results from the multilevel longitudinal model revealed that within-person increases in vicarious police contact was linked to a decrease in police legitimacy over time. Exploratory analyses using a multilevel mediation model indicated that the observed negative effect of vicarious police contact was mediated by evaluations of police procedural justice. As for the between-person effects, voluntary police contact positively predicted police legitimacy over time. However, the effects of vicarious police contact and violent police contact were mediated by police procedural justice. Additionally, police legitimacy decreased for people who had more exposure to violence and lower levels of fear of crime. The study revealed that the nature of police contact and levels of exposure to violence can have important effects on adolescents' perceptions of police legitimacy, even after accounting for procedural justice.
Growing research indicates that police legitimacy is a strong predictor of whether people behave respecting or violating rules. Perceptions of legitimacy are an output of socializing processes through which individuals develop their... more
Growing research indicates that police legitimacy is a strong predictor of whether people behave respecting or violating rules. Perceptions of legitimacy are an output of socializing processes through which individuals develop their values and orientations toward authorities and the legal system. Legal socialization studies show that encounters with legal authorities are critical “teachable moments” in this process. The present study verifies whether direct or vicarious negative contacts with police officers affect changes in the perception of the legitimacy of police authority by adolescents over time. The adolescents were classified according to whether or not they had witnessed or experienced any negative contact or experience with the police during the period before the interview, composing two group trajectories at the first wave, four at the second wave, and eight at the third wave. Then the trajectories were compared in terms of the extent to which they agree with statements ...
A partir de uma perspectiva sociológica e histórica, busca-se recuperar aspectos da dinâmica de controle social, de internação e de punição de jovens (na época caracterizados como "menores") na primeira metade do século XX no... more
A partir de uma perspectiva sociológica e histórica, busca-se recuperar aspectos da dinâmica de controle social, de internação e de punição de jovens (na época caracterizados como "menores") na primeira metade do século XX no estado de São Paulo, Brasil. As principais fontes de pesquisa empregadas remetem aos prontuários do Serviço Social de Assistência e Proteção de Menores de São Paulo, de 1934 e 1950, exploradas a partir de técnicas de análise documental. Foram identificados alguns mecanismos usados pelos operadores e internos na construção da vida institucional. Observou-se a existência de uma associação de reforços, presentes nas sentenças judiciais, na chave dupla ‘abandono’ e ‘delinquência’, assim como na sua resposta político institucional, que envolvia tanto uma rede de instituições de natureza "social", quanto outras voltadas para a internação e disciplina. Esta dupla chave foi uma presença constante nos documentos, a avaliação do ‘aproveitamento’ e do ...
Este trabalho busca articular o campo teórico da socialização legal e os estudos sociológicos sobre o adolescente em situação de conflito com a lei a partir de uma pesquisa qualitativa com adolescentes em cumprimento de medidas... more
Este trabalho busca articular o campo teórico da socialização legal e os estudos sociológicos sobre o adolescente em situação de conflito com a lei a partir de uma pesquisa qualitativa com adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas. A partir da análise preliminar dos dados coletados, observou-se que adolescentes infratores já se relacionam com as autoridades legais (polícia) antes de sua entrada no sistema e, nas audiências para decisão de seus processos, não interagem com os atores do sistema de justiça e não tem entendimento sobre o que se passa.
Growing research indicates that police legitimacy is a strong predictor of whether people behave respecting or violating rules. Perceptions of legitimacy are an output of socializing processes through which individuals develop their... more
Growing research indicates that police legitimacy is a strong predictor of whether people behave respecting or violating rules. Perceptions of legitimacy are an output of socializing processes through which individuals develop their values and orientations toward authorities and the legal system. Legal socialization studies show that encounters with legal authorities are critical “teachable moments” in this process. The present study verifies whether direct or vicarious negative contacts with police officers affect changes in the perception of the legitimacy of police authority by adolescents over time. The adolescents were classified according to whether or not they had witnessed or experienced any negative contact or experience with the police during the period before the interview, composing two group trajectories at the first wave, four at the second wave, and eight at the third wave. Then the trajectories were compared in terms of the extent to which they agree with statements about police legitimacy, allowing the quantification of changes of opinion after negative contacts with the police. Results show that three main factors diminish the perception of police legitimacy: having negative contact with the police; having more than one negative contact; and having a recent negative contact. These findings have important implications for police patrolling and approach strategies.
O presente artigo consiste em um estudo de caso do Recurso Extraordinário com Agravo 1.161.625/RJ, julgado pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, que considerou constitucional o Decreto Estadual 41.553/2008, proveniente do RJ, o qual... more
O presente artigo consiste em um estudo de caso do Recurso Extraordinário com Agravo 1.161.625/RJ, julgado pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, que considerou constitucional o Decreto Estadual 41.553/2008, proveniente do RJ, o qual autoriza a aquisição e emprego, irrestritos, de armamento menos letal no sistema socioeducativo fluminense. Pretende-se investigar se é possível atribuir – e, em caso positivo, em que medida – responsabilidade do Judiciário brasileiro pela legitimação da tortura praticada no sistema socioeducativo através do abuso na utilização de tal armamento sobre adolescentes privados de liberdade. Assim, apresenta-se o que são armas menos
letais e sua situação atual no Brasil; na sequência, são analisadas as normas internacionais relativa ao emprego da força na justiça juvenil, além do caso “Instituto de Reeducação do Menor” vs. Paraguai, Corte IDH (2002), que envolveu o uso de armamentos menos letais pela justiça juvenil paraguaia. Por fim, apresentamos o caso julgado pela Suprema Corte do Brasil em que houve a perda de oportunidade de garantir um mínimo de direitos para adolescentes privados de liberdade.
O presente artigo consiste em um estudo de caso do Recurso Extraordinário com Agravo 1.161.625/RJ, julgado pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, que considerou constitucional o Decreto Estadual 41.553/2008, proveniente do RJ, o qual... more
O presente artigo consiste em um estudo de caso do Recurso Extraordinário com Agravo
1.161.625/RJ, julgado pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, que considerou constitucional o
Decreto Estadual 41.553/2008, proveniente do RJ, o qual autoriza a aquisição e emprego, irrestritos,
de armamento menos letal no sistema socioeducativo fluminense. Pretende-se investigar se é
possível atribuir – e, em caso positivo, em que medida – responsabilidade do Judiciário brasileiro
pela legitimação da tortura praticada no sistema socioeducativo através do abuso na utilização de tal
armamento sobre adolescentes privados de liberdade. Assim, apresenta-se o que são armas menos
letais e sua situação atual no Brasil; na sequência, são analisadas as normas internacionais relativa
ao emprego da força na justiça juvenil, além do caso “Instituto de Reeducação do Menor” vs.
Paraguai, Corte IDH (2002), que envolveu o uso de armamentos menos letais pela justiça juvenil
paraguaia. Por fim, apresentamos o caso julgado pela Suprema Corte do Brasil em que houve a
perda de oportunidade de garantir um mínimo de direitos para adolescentes privados de liberdade.
Nesta apresentação do dossiê O adolescente visto como problema: disputas narrativas, produção legislativa e punição, partimos do debate internacional sobre as tendências contemporâneas da justiça juvenil e apresentamos uma reflexão sobre... more
Nesta apresentação do dossiê O adolescente visto como problema: disputas narrativas, produção legislativa e punição, partimos do debate internacional sobre as tendências contemporâneas da justiça juvenil e apresentamos uma reflexão sobre o diagnóstico do avanço do assim chamado punitivismo no âmbito do sistema de justiça juvenil brasileiro, a partir da análise das disputas travadas na arena política em torno da temática. A reflexão envolve (i) a sistematização dos indicadores de punitivismo e de dados e informações relativos a esses indicadores; e (ii) a análise das disputas políticas nas esferas do legislativo e do judiciário a partir de dados sobre as proposições legislativas relativas ao tema apresentadas nos 30 anos de existência do ECA e do caso da ADI 3.446. Buscamos demonstrar que, na arena política, a perspectiva de defesa do ECA tem prevalecido e os discursos punitivos têm efeitos mais simbólicos do que práticos. As práticas punitivas, discursivas e não-discursivas, não se institucionalizaram em dispositivos legais ou políticas oficiais do sistema de justiça juvenil brasileiro. No entanto, os dados existentes sobre os demais indicadores de punitivismo sinalizam que a lógica punitiva parece desfrutar de amplo espaço no funcionamento das instituições diretamente responsáveis pelo processamento dos adolescentes autores de atos infracionais.
This essay aims to resume the discussion about the trajectory of juvenile justice in Brazil. Based on the dialogue with works already carried out in the scope of Sociology, Criminology and other areas, it is intended to reflect on the... more
This essay aims to resume the discussion about the trajectory of juvenile justice in Brazil. Based on the dialogue with works already carried out in the scope of Sociology, Criminology and other areas, it is intended to reflect on the possible continuities and ruptures, throughout Brazilian history, of this justice. From the Codes of Minors of 1927 and 1979 to ECA, including the creation of the Assistance Service for Minors, Funabem etc., legal operators, sectors of political elites, specialists and researchers, social movements, the press and other actors have permanently redesigned this area, by mobilizing diverse knowledge and diagnoses. It seeks to recover the complexity of such a historical trajectory in order to better reflect on the paradoxes of juvenile justice even today.
A partir de uma perspectiva sociológica e histórica, busca-se recuperar aspectos da dinâmica de controle social, de internação e de punição de jovens (na época caracterizados como "menores") na primeira metade do século XX no estado de... more
A partir de uma perspectiva sociológica e histórica, busca-se recuperar aspectos da dinâmica de controle social, de internação e de punição de jovens (na época caracterizados como "menores") na primeira metade do século XX no estado de São Paulo, Brasil. As principais fontes de pesquisa empregadas remetem aos prontuários do Serviço Social de Assistência e Proteção de Menores de São Paulo, de 1934 e 1950, exploradas a partir de técnicas de análise documental. Foram identificados alguns mecanismos usados pelos operadores e internos na construção da vida institucional. Observou-se a existência de uma associação de reforços, presentes nas sentenças judiciais, na chave dupla ‘abandono’ e ‘delinquência’, assim como na sua resposta político institucional, que envolvia tanto uma rede de instituições de natureza "social", quanto outras voltadas para a internação e disciplina. Esta dupla chave foi uma presença constante nos documentos, a avaliação do ‘aproveitamento’ e do ‘comportamento’ eram centrais na vida institucional de acordo com a lógica disciplinar adotada.
The legal socialization framework emphasizes the importance of adolescents' encounters with police. We examine how different types of police contact and neighborhood experiences are linked to the legal socialization process among... more
The legal socialization framework emphasizes the importance of adolescents' encounters with police. We examine how different types of police contact and neighborhood experiences are linked to the legal socialization process among adolescents living in São Paulo, Brazil. Drawing on 669 participants across three waves of panel data from the São Paulo Legal Socialization Study, results from the multilevel longitudinal model revealed that within-person increases in vicarious police contact were linked to a decrease in police legitimacy over time. Exploratory analyses using a multilevel mediation model indicated that the observed negative effect of vicarious police contact was mediated by evaluations of police procedural justice. As for the between-person effects, voluntary police contact positively predicted police legitimacy over time. However, the effects of vicarious police contact and violent police contact were mediated by police procedural justice. Additionally, police legitimacy decreased for people who had more exposure to violence and lower levels of fear of crime. The study revealed that the nature of police contact and levels of exposure to violence can have important effects on adolescents' perceptions of police legitimacy, even after accounting for procedural justice.
A partir de uma perspectiva sociológica e histórica, busca-se recuperar aspectos da dinâmica de controle social, de internação e de punição de jovens (na época caracterizados como "menores") na primeira... more
A  partir  de  uma  perspectiva  sociológica  e  histórica,  busca-se recuperar  aspectos  da  dinâmica  de  controle  social,  de  internação  e  de  punição de  jovens  (na  época  caracterizados  como  "menores")  na  primeira  metade  do século  XX  no  estado  de  São  Paulo,  Brasil.  As  principais  fontes  de  pesquisa empregadas  remetem  aos  prontuários  do  Serviço  Social  de  Assistência  e Proteção  de  Menores  de  São  Paulo,  de  1934  e  1950, exploradas  a  partir  de técnicas de análise documental. Foram identificados alguns mecanismos usados pelos  operadores  e  internos  na  construção da  vida  institucional.  Observou-se  a existência  de  uma  associação  de  reforços,  presentes  nas  sentenças  judiciais, na chave dupla ‘abandono’ e ‘delinquência’, assim como na sua resposta político institucional,  que  envolvia  tanto  uma  rede  de  instituições  de natureza  "social", quanto outras voltadas para a internação e disciplina. Esta dupla chave foi uma presença  constante  nos  documentos,  a  avaliação  do  ‘aproveitamento’  e  do ‘comportamento’ eram  centrais  na  vida  institucional  de  acordo  com  a  lógica disciplinar adotada.
O presente ensaio tem por objetivo retomar a discussão acerca da trajetória da justiça juvenil no Brasil. A partir do diálogo com trabalhos já realizados no âmbito da Sociologia, da Criminologia e áreas vizinhas, pretende-se refletir... more
O presente ensaio tem por objetivo retomar a discussão acerca da trajetória da justiça juvenil no Brasil. A partir do diálogo com trabalhos já realizados no âmbito da Sociologia, da Criminologia e áreas vizinhas, pretende-se refletir acerca das possíveis continuidades e rupturas, ao longo da história brasileira, dessa justiça no país. Dos Códigos de Menores de 1927 e 1979 ao eca, passando pela criação do Serviço de Assistência aos Menores, da Funabem etc., operadores do direito, setores das elites políticas, especialistas e pesquisadores, movimentos sociais, imprensa e outros atores redesenharam permanentemente essa área de atuação estatal, ao mobilizar saberes e diagnósticos diversos. Busca-se recuperar a complexidade de tal trajetória histórica para melhor refletir acerca dos paradoxos da justiça juvenil ainda na atualidade.
É possível criarmos uma teoria para discutir a Justiça Juvenil de forma comparada? É interessante para o saber criminológico adentrar no mundo dos adolescentes que se encontram em uma (Autores) ANA CLAUDIA CIFALI situação de... more
É possível criarmos uma teoria para discutir a Justiça Juvenil de forma comparada? É interessante para o saber criminológico adentrar no mundo dos adolescentes que se encontram em uma
(Autores)
ANA CLAUDIA CIFALI
   
situação de conflito com a lei? É conveniente compreender o que se passa durante todo o procedimento de apuração de um ato infracional e, também, durante o cumprimento de uma medida socioeducativa? Como construir um modelo de intervenção que responda ao delito cometido por um jovem, em um marco de garantias, mas que não se centre na administração e distribuição do castigo? Quais são as características de um modelo de intervenção juvenil e no que difere da intervenção operada pelo sistema penal tradicional? Existe a possibilidade de trabalharmos na esfera pública com o tema do jovem e da criminalidade para romper com discursos punitivos e estereotipados que privam de liberdade, a cada dia, mais e mais adolescentes Brasil a fora?
JUVENILE JUSTICE IN PORTO ALEGRE Coupled to the constitutional principles of the due process of the law and access to justice, the brazilian Child and Adolescent Statute (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA) guarantees full... more
JUVENILE JUSTICE IN PORTO ALEGRE Coupled to the constitutional principles of the due process of the law and access to justice, the brazilian Child and Adolescent Statute (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA) guarantees full protection to minors under the age of 18. The ECA came into force in 1990 establishing not only specific procedures but introducing the understanding of children and teenagers as subjects of rights. Despite this legal improvement, adolescents in conflict with the law still face extreme discrepancies between their legal rights and the actual reality of the treatment they receive, especially when the socio-educational measures include incarceration. The University Legal Assistance Service (SAJU/UFRGS) is formed by both volunteer students and lawyers and provides free legal assistance to adolescents in conflict with the law. This group has an interdisciplinary approach due to its conformation as it includes not only law students but psychology and education v...
RESUMO Este artigo tem por objetivo o estudo da política criminal (penalidade e segurança pública) brasileira. O recorte teórico metodológico é de comparação entre dois momentos históricos importantes e distintos da história do país,... more
RESUMO Este artigo tem por objetivo o estudo da política criminal (penalidade e segurança pública) brasileira. O recorte teórico metodológico é de comparação entre dois momentos históricos importantes e distintos da história do país, quais sejam: a ditadura militar e as duas primeiras décadas do século XXI, tomados como pano de fundo para a crítica a três recentes formulações: o PLS nº 728/2011, PLS nº 499/2013 e Portaria nº 3.461/2013. Para tanto, o trabalho é dividido em dois eixos: no primeiro, são analisadas as leis penais aprovadas nos dois períodos, no sentido de aferir-se se expandem ou limitam o poder punitivo, além de contextualizados os respectivos momentos político-criminais; no segundo, são analisados os paradigmas de segurança pública aplicados no Brasil em ambos os períodos. A aproximação foi necessária para deixar claro que, apesar dos avanços, não houve um total rompimento com as estruturas autoritárias vigentes na ditadura. Palavras-chave: Política criminal. Segurança pública. Ditadura militar. PLS nº 728/2011. PLS nº 499/2013. Portaria Normativa nº 3.461/2013. RÉSUMÉ Cet article vise à étudier la politique criminelle brésilienne (pénalité et sécurité publique). Le cadre théorique méthodologique est basé sur la comparaison entre deux moments historiques importants et distincts de l'histoire du pays, à savoir: une dictature militaire et les deux premières décennies du XXième siècle, le dernier considéré comme important à cause de trois formulations récentes: Projet de loi 728/2011, PL n° 499/2013 et le Décret n° 3.461/2013. À cette fin, le travail est divisé en deux axes: le premier analyse les lois pénales adoptées dans les deux périodes, afin de mesurer si il y a une développement ou limitation du pouvoir punitif et dans la deuxième partie sont analisées les paradigmes de sécurité publique au Brésil. L'approche était nécessaire pour qu'il soit clair que, malgré les progrès, il n'y avait pas une rupture totale avec les structures existantes depuis l'autoritarism. Mots-clé: Politique Pénale.
Research Interests:
O trabalho parte de uma tese de doutorado em andamento visa apresentar os resultados parciais de uma pesquisa realizada no ano de 2013 em uma unidade executora de medida socioeducativa de meio aberto em Porto Alegre/RS. Primeiramente... more
O trabalho parte de uma tese de doutorado em andamento visa apresentar os resultados parciais de uma pesquisa realizada no ano de 2013 em uma unidade executora de medida socioeducativa de meio aberto em Porto Alegre/RS. Primeiramente apresenta-se, em resumo, alguns dos conceitos principais de Axel Honneth para compreendermos a teoria do reconhecimento e, dessa forma, as maneiras com as quais o adolescente que passa pelo Sistema de Justiça Juvenil é reificado pelos agentes desse sistema. A partir daí, e das narrativas dos adolescentes, enfoca-se no conceito de resistência de Michel Foucault para compreendermos como, apesar da mudança de legislação a partir dos anos de 1990 e da adoção, por parte do Brasil, das convenções internacionais concernentes a temática do adolescente em conflito com a lei, os agentes do sistema de justiça juvenil continuam reificando esses adolescentes, tornando-os mais um número de processo ou de atuação para segregá-los do convívio social. Contudo, fica claro que os adolescentes conseguem se reinventar, dentro do próprio sistema, resistindo às amarras e criando novos modos de subjetividades.


The paper, a part from a doctoral dissertation in progress, aims to present the partial results of a survey conducted in 2013 in an executing unit of socio educative means of a mid open system in Porto Alegre / RS. First we present, in short, some of the key concepts of Axel Honneth to understand the theory of recognition and thus the ways in
Research Interests:
Em junho de 2014, foi protocolado, em Brasília, na Comissão Especial designada para a análise do Projeto de Lei 7.197/2002 e seus apensos-que contavam vinte e três em março de 2015-, um parecer técnico produzido pelo Programa... more
Em junho de 2014, foi protocolado, em Brasília, na Comissão Especial designada para a análise do Projeto de Lei 7.197/2002 e seus apensos-que contavam vinte e três em março de 2015-, um parecer técnico produzido pelo Programa Interdepartamental de Práticas com Adolescentes e Jovens em Conflito com a Lei da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em parceria com di-versas entidades 1. No parecer, foram analisados os referidos projetos de lei que pretendem alterar a legislação que trata da temática da criança e do adolescente. Diversas são as estratégias que se limitam a um caráter mais punitivista propostas pelos legisladores, as quais abrangem desde o aumento do tempo máxi-mo de internação dos adolescentes até seu recolhimento em instituições dotadas de características hospitalares/psiquiátricas. Esse conjunto de propostas apresen-tadas causariam mudanças na legislação, sendo a grande maioria considerada um retrocesso no âmbito dos direitos das crianças e dos adolescentes. O trabalho do grupo partiu do pressuposto de que a falta de informação sobre os direitos da criança e do adolescente, bem como sobre a realidade do 1 Rede Nacional de Defesa do Adolescente em Conflito com a Lei, Conectas Direitos Humanos, Instituto Braços, Comissão de Direitos Humanos Sobral Pinto e Comissão Especial da Criança e do Adolescente, ambas da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Rio Grande do Sul, Associação Nacional de Direitos Humanos-Pesquisa e Pós-graduação (ANDHEP) e Justiça Global.
colunas e blogs (//www1.folha.uol.com.br/colunaseblogs) blogs FACES DA VIOLÊNCIA (HTTPS://FACESDAVIOLENCIA.BLOGFOLHA.UOL.COM.BR/)
Quando falamos em segurança pública, normalmente o primeiro pensamento que passa pela nossa cabeça é o fato de nos sentirmos inseguros. E não é para menos. Hoje, no Brasil, temos uma taxa de 27,5 homicídios para cada 100 mil habitantes,... more
Quando falamos em segurança pública, normalmente o primeiro pensamento que passa pela nossa cabeça é o fato de nos sentirmos inseguros. E não é para menos. Hoje, no Brasil, temos uma taxa de 27,5 homicídios para cada 100 mil habitantes, ou seja, só em 2018, mais de 57 mil pessoas foram vítimas de mortes intencionais violentas em nosso País.

Essa taxa, contudo, é a média registrada no País. Oscilamos de taxas de 9,5 mortes a cada 100 mil habitantes em São Paulo, para 66,6 em Roraima. Temos, em um país de dimensões continentais como o nosso, taxas de homicídio equivalentes às dinamarquesas e às de países em guerra civil, tudo ao mesmo tempo.

Ultimamente temos visto uma queda no número de homicídios no Brasil. De janeiro a setembro de 2018 tivemos um total de 39.527 mortes, enquanto no mesmo período de 2019, o número foi de 30.864, uma queda de 22%. Ainda que a taxa continue muito alta, paradoxalmente, temos o que comemorar: menos pessoas morreram no nosso país em 2019.

Essa queda no número de homicídios ainda não pode ser explicada na sua integralidade. Os especialistas têm indicado que ela ocorre a partir de políticas integradas de segurança pública estaduais e municipais, e também em razão da alteração nas dinâmicas dos grupos criminais organizados.

Ocorre que, ao falarmos de homicídios, tratamos de uma realidade muito desigual. Nem todas as pessoas são afetadas por esse fenômeno da mesma forma. Para explicar isso, escolho olhar para o estado de São Paulo, onde essa mudança de realidade ocorre há mais tempo.

São Paulo tem conseguido reduzir a taxa de homicídios da população em geral. De 2008 a 2017, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu de 15,3 para 10,6 – sendo, inclusive, a menor do País. Nesse mesmo período, entretanto, a taxa de homicídios de adolescentes de 15 a 19 anos por 100 mil habitantes oscilou de 19,1 para 19,6. Isso significa dizer que mais de 6.800 adolescentes entre 15 e 19 anos foram vítimas de homicídios entre 2008 a 2017. E, apenas no ano de 2017, 623 adolescentes e jovens de 15 a 19 anos foram assassinados no estado.

Hoje, no estado de São Paulo, adolescentes correm mais risco de serem assassinados do que adultos em uma probabilidade 85% maior. Ainda que a maior parte das mortes, em número absoluto, seja de jovens entre 20 e 29 anos, as taxas de homicídios nessa faixa etária caíram mais de 36% entre 2008 e 2017.

Entre os adolescentes, contudo, não caiu, e desde 2015 a taxa de homicídios de adolescentes de 15 a 19 anos é maior do que a taxa de homicídios de jovens entre 20 e 29 anos (dados compilados a partir da Fundação SEADE e do DATASUS).

Ainda entre os adolescentes e jovens, o risco de ser assassinado aumenta entre os adolescentes pretos e pardos. A taxa de homicídios de adolescentes negros era de 23,5 mortes por 100 mil, enquanto a taxa de homicídios de adolescentes brancos era de 13,4 mortes por 100 mil. Isso significa que a probabilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídio era 75% maior do que a de um adolescente branco em 2017.

Mesmo que comemorando pequenas vitórias no combate às mortes violentas no nosso país, é necessário um esforço conjunto para a criação de políticas intersetoriais de prevenção aos homicídios, especialmente voltada aos adolescentes e jovens e, principalmente, aos jovens e adolescentes pretos e pardos.

Mas, para criar políticas públicas efetivas é necessário diagnosticar, estudar e, acima de tudo, entender o que tem ocorrido para que essa população específica seja vitimada dessa forma.

Nesse contexto, propostas oportunistas e frases de impacto comumente proferidas, do Congresso Nacional à padaria da esquina de casa, não contribuem em nada para mudar a realidade violenta. Ao contrário, apenas aumentam nossa sensação de insegurança e contribuem para seguirmos ignorando o aniquilamento do futuro do nosso país.



Mariana Chies
É socióloga e advogada. Pesquisadora de pós-doutorado do Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), é coordenadora-chefe do Departamento de Infância e Juventude do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM).
Texto de autoria do Prof. Dario Melossi.
Traduzido por Mariana Chies-Santos e Marcos César Alvarez
Research Interests: