Histórias da gastronomia brasileira: Dos banquetes de Cururupeba ao Alex Atala
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Histórias da gastronomia brasileira - Ricardo Amaral
Histórias da
GASTRONOMIA
BRASILEIRA
Dos banquetes de
Cururupeba ao Alex Atala
Ricardo Amaral
com Robert Halfoun
2016
Copyright © 2016, Rara Cultural
Copyright © 2016, Ricardo Amaral
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998.
É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora.
Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
ISBN: 978-85-67863-06-1
Direção editorial
Robert Halfoun
Projeto gráfico, diagramação e capa
Ronaldo Serrano
Pesquisa
Marco Antonio Barbosa
Revisão
Juliana Caetano e Alvanísio Damasceno
Administração do projeto
Gustavo Lacerda e Isabella Pacheco
Produção do arquivo ePub
Booknando Livros
RARA Cultural
Rua Gal. Garzón, 22 / 504, Jardim Botânico – Rio de Janeiro – RJ – 22470-010
Tel.: (021) 2512-0348 – rara@raracultural.com.br
PATROCÍNIO
"Diz-me o que comes
e te direi quem és.",
Jean-Anthelme Brillat-Savarin,
epicurista e gastrônomo francês,
autor de A fisiologia do gosto,
obra-certidão-de-nascimento
da gastronomia.
AGRADECIMENTOS
Sempre sonhei reunir boas histórias para traçar um perfil da nossa gastronomia. Com meus 75 anos, senti que tinha chegado a hora. Minha trajetória foi simples, sempre contei com bons professores. A primeira foi a Ana, cozinheira da casa de meus pais, que me ensinou a fazer o trivial, mas bem sofisticado. Seu cuscuz-paulista, por exemplo, é de deixar saudades. As balas puxa-puxas, feitas de coco, são inesquecíveis. Ana foi quem me iniciou; depois, na vida foram tantos os mestres... Aos 21 anos, a temporada de quase um ano em Roma foi decisiva! Voltei apaixonado por gastronomia.
Alguns grandes profissionais que trabalharam para mim no correr da vida foram fundamentais: nosso Claude Lapeyre, o Claude Troisgros, o Jacques Maximin, meu sócio e amigo José Hugo Celidônio, a grande estrela americana Mattew Kenney.
Os aprendizados nas viagens gastronômicas internacionais foram essenciais. Pude exercitar minha curiosidade de forma plena. Meu amigo e companheiro de vida e de guias, Boni, que considero o melhor chef amador do mundo, foi sempre meu grande guia e professor. Recentemente fui apresentado à gastronomia de boteco. Passei a frequentar e a admirar profundamente. Desta vez, meu guia e professor foi o Juarez Becoza.
Minha gratidão a todos eles por compartilharem seus conhecimentos.
O encontro com o editor de gastronomia Robert Halfoun marcou a decisão dessa realização. Ceg – Gas Natural Fenosa acreditou no projeto e nos proporcionou a possibilidade de editar este livro. Um passeio e uma homenagem àqueles que escreveram a história e aos seus grandes herdeiros e continuadores.
Ricardo Amaral
AGRADECIMENTOS
Um livro como este, com tamanha quantidade de pesquisa, só acontece quando há muito, muito interesse por um assunto. Quando a gente é apaixonado por ele.
E como nós, epicuristas, amamos a arte de comer bem, não é mesmo? Para nós, a boa mesa (e o que está em torno dela) é tudo. É o máximo! Incluindo as histórias sempre saborosas contadas ali (e aqui) e as pessoas queridas com as quais dividimos momentos de tanto prazer.
Meu pai, Eli Halfoun, foi quem me mostrou, ainda criança, qual é a graça dessa brincadeira. Desde muito cedo, nos grandes restaurantes do Rio e de São Paulo, fui me encantando com o tilintar de louças, talheres e taças, com a dança de garçons e cumins, com a descoberta de receitas e sabores. Mal sabia ele (ou sabia?) o quanto toda essa trajetória é importante para mim e como a minha vida, perdoe o trocadilho, tem muito mais gosto por causa disso. Muito obrigado, pai.
Agradeço ainda a Ricardo Amaral, pelo privilégio de participar desta empreitada ao seu lado. E a Marco Antonio Barbosa, a Ronaldo Serrano e a toda a equipe envolvida na produção dessa obra.
Robert Halfoun
Sumário
Prefácio
Os banquetes de Cururupeba
Surge o primeiro pilar da gastronomia brasileira
Cabral, palmitos e camarões
O capitão e seus marujos colocam Portugal e Brasil nas caçarolas
Tinham tempero os escravos do Martim
Africanos impactam, de forma definitiva, a maneira de se alimentar no Brasil
D. João e o arroz com feijão
Povo copia hábitos da Corte e rei dita moda no país inteiro
A coxinha do monarca mimado
Capricho de Antônio de Orleans e Bragança, o salgado ganha as ruas
R. C. M., o cozinheiro imperial
Chefe, que não era chef, lança o primeiro livro de receitas publicado no Brasil
Constança, Anna Maria e os doces de mãe para filha
Primeiros registros de receitas açucaradas têm não uma, mas duas autoras
Paulo Salles, o misterioso cozinheiro fantasma
Um impressionante compêndio sobre os bastidores das cozinhas brasileiras
Frieiro vai além do pão de queijo
Eduardo Frieiro faz o primeiro estudo histórico sobre a culinária mineira
Seu Peres, o peixe e a banana verde
Pescador ajuda a manter viva a tradição da cozinha caiçara
O bolo dos Sousa Leão
D. Rita de Cássia Sousa Leão Bezerra Cavalcanti faz história na culinária pernambucana
Manuel Querino conta o que a Bahia tem
Ele codifica as receitas, ingredientes e significados da gastronomia da sua terra
O chucrute do Dr. Hermann Blumenau
Guia de orientação para imigrantes germânicos
Carlo Cecchini traz a Itália para um Brasil franco-português
Paesano de espírito empreendedor põe pizzas e espaguetes na mesa do brasileiro
Albino Ongaratto põe o espeto para correr
Rodízio de carnes nasce no dia em que garçons trocam os pedidos
A feijoada completa de João Alves Lobo
Português gente boa cria a versão definitiva do prato nacional
O sonho de Ruggero Fasano
Milanês arquiteta planos de abrir seu primeiro restaurante
Como era gostoso o apartamento da Myrthes
Pratos encantadores da professora lhe rendem citação no Senado Federal
A bela sacada de Robert Falkenburg
Tenista americano deixa as quadras para abrir a primeira grande lanchonete do Brasil
Toninho do Momo põe ainda mais sabor na comida de botequim
Baixa gastronomia vira febre botequeira por todo o país
Max, o barão austríaco, chega e muda tudo
Max von Stuckart apresenta clássicos da culinária internacional
Ofélia é a nossa Julia Child
Ofélia Ramos Anunciato cria o primeiro programa de receitas da TV brasileira
A pena afiada de Apicius
Roberto Marinho de Azevedo Neto é o legítimo decano de nosso jornalismo gastronômico
Paul Bocuse, o lendário chef francês, desembarca por aqui
Um dos maiores chefs de cuisine da história traz jovens talentosos e criativos
O Brasil de Alex Atala
Chef encanta o mundo com um Brasil nunca antes visto até pelos brasileiros
Chefs do Brasil
Quem faz a história contemporânea
da gastronomia brasileira
Laurent Suaudeau
Claude Troisgros
Luciano Boseggia
Roland Villard
Roberta Sudbrack
Mara Salles
José Hugo Celidônio
Helena Rizzo
Jun Sakamoto
Edinho Engel
Rodrigo Oliveira
Thiago Castanho
Nelsa Trombino
Jefferson & Janaína Rueda
Manu Buffara
Kátia Barbosa
Ana Luiza Trajano
Shin Koike
Thomas Troisgros
Onildo Rocha
Renata Vanzetto
Rafael Costa e Silva
Claude & Ricardo Lapeyre
Receitas
Moqueca capixaba
Paçoca salgada
Compota de caju
Carne assada com cachaça
Angu de milho verde com frango caipira
Acarajé
Galinha cabidela
Batida de coco
Coxinha
Coxa-creme da Colombo
Bacalhau com banana-da-terra
Vatapá
Cocada
Pé de moleque
Mingau paulista
Pernil de javali assado
Pão de queijo
Feijão-tropeiro
Azul-marinho
Caldeirada caiçara
Bolo Sousa Leão
Baião de dois
Caruru
Cuscuz de coco
Marreco assado
Chucrute
Cordeiro à caçadora
Paleta de cordeiro assada
Picanha no espeto
Farofa de banana grelhada
Feijoada completa
Picadinho carioca
Cotoletta alla milanese
Spaghetti alla carbonara
Camarão gratinado com queijo e vinho branco
Crème de tomates
Milk-shake de Ovomaltine
Queijo com banana
Farol de milha
Bolinho de arroz com queijo
Frango à Kiev
Strogonoff
Suflê de queijo | Molho bechamel de souflé
Macarrão da Ofélia
Miolo de boi à milanesa
Cavaquinha com molho de alho
Filé de cherne com banana caramelizada e molho de passas (por Claude Troisgros)
Mousseline de mandioquinha com caviar (por Laurent Suaudeau)
Pato no tucupi (por Paulo Martins)
Fettuccine de pupunha à carbonara (por Alex Atala)
Bibliografia
PREFÁCIO
Para quem é da opinião de que comida é quase religião, a mesa é templo sagrado. Não só pelos sabores, texturas e prazeres servidos ali, mas principalmente pelas histórias que regam e temperam tudo isso.
Comer sozinho é uma chatice. A boa mesa tem comensais gregários e falantes, contando suas experiências (e as dos outros, por que não?), partilhando gostos, opiniões, pensamentos e o saleiro. Há até quem cante e recite poesias!
A ideia ao escrever este livro é convidar os leitores a participar, sentar conosco à mesa. Oferecemos conteúdo farto para desvendar aspectos da gastronomia muito além dos pratos. De onde vem o que comemos? Para onde os talheres estão nos levando? Algumas respostas estão aqui, através de histórias divertidas sobre os grandes personagens que ajudaram a construir os pilares da gastronomia no Brasil. Desde o cacique que adorava comer e promovia banquetes com a essência de muita coisa consumida ainda hoje, até a descoberta de um Brasil amazônico, revelado por Alex Atala – sob influência do grande Paulo Martins – para todo o país e o mundo.
No caminho, passamos por D. João VI; pela Princesa Isabel e um dos seus filhos mimados; pelo cozinheiro fantasma, autor de um dos primeiros compêndios sobre os bastidores da nossa cozinha; e pelos criadores de clássicos como o picadinho carioca e a feijoada completa. Seguimos mexendo um panelão de referências, casos, personagens e receitas que influenciaram tanta gente.
O lendário chef francês Paul Bocuse é ingrediente fundamental na nossa trajetória. A adorável Ofélia Anunciato, apresentadora de A cozinha maravilhosa de Ofélia, também. De maneira simples e democrática, ela ensinou algumas gerações a cozinhar, respeitando as tradições, mas provocando a reflexão – palavra-chave no vocabulário de todo bom cozinheiro, não é, Roberta Sudbrack?
A chef, aliás, está entre outros nomes emblemáticos que, atualmente no comando de alguns dos grandes restaurantes do Brasil, dão sequência aos passos dados pela cozinha nacional até aqui. Ao todo, contamos a trajetória de 23 chefs, mas há tantos outros a serem citados, espalhados por todo o país… Cada um deles com sua origem, suas predileções, suas referências e – que delícia! – os casos que fizeram, fazem e farão As histórias da gastronomia brasileira.
Bom apetite!
Os banquetes
de Cururupeba
Neles surgem grande variedade de técnicas e ingredientes da culinária indígena – o pilar da gastronomia brasileira, junto às influências africanas e portuguesas.
Em tupi-guarani, o significado literal da palavra cururupeba é sapo achatado
, daqueles que incham o papo quando coaxam. Mas também significa diabo
. Era comum dar essa denominação a indivíduos coléricos e voluntariosos, como certamente era o caso dos índios tupinambás, então habitantes da região equivalente ao atual estado da Bahia. Estavam entre os primeiros a entrar em contato com os conquistadores portugueses que aportaram por lá em 1500.
Cururupeba era o nome indígena da ilha hoje conhecida como Madre de Deus, situada a 19 quilômetros de Salvador. Era ainda o nome de guerra do líder dos tupinambás daquelas paragens, que por muito tempo comandou a resistência aos avanços dos colonizadores. Cada vitória na luta contra os portugueses era comemorada com banquetes, nos quais Cururupeba e seus seguidores exibiam a variedade de técnicas e ingredientes da culinária indígena – pilar original da gastronomia brasileira, formando um tripé com as influências africana e portuguesa. Nesta viagem pela história da nossa cozinha, o cacique bem que poderia ocupar o papel de protagonista mais ancestral.
Sabe-se que as mulheres da tribo eram incumbidas de cultivar e preparar os vegetais, enquanto aos homens cabia a caça, a pesca e o fogo usado para assar carnes. Assim como os demais povos nativos da costa brasileira, os tupinambás tinham a mandioca como base da alimentação. O tubérculo costumava ser comido inteiro, assado ou cozido, ou como farinha (após secar ao fogo e ser ralado), servindo também para fazer diversos tipos de massas e pães. A tapioca – goma da farinha da mandioca – já era conhecida dos indígenas. Por último, mas não menos importante, a raiz era fermentada e usada para fazer bebidas alcoólicas. Os portugueses testemunharam e registraram diversos pileques coletivos movidos a uma beberagem chamada caxiri.
Um dos frutos favoritos do cacique guloso era o caju, que era fermentado para virar uma espécie de vinho e tinha suas castanhas transformadas em farinha.
O milho era igualmente apreciado: assado em espigas, transformado em mingau, farinhas e até em forma de pipoca. Assim como a mandioca, o grão era usado para fazer uma bebida alcoólica, o cauim. Grande variedade de frutas silvestres complementava a dieta, incluindo mangaba, araçá, jabuticaba, mamão papaia, jenipapo, pequi e maracujá. O caju era um dos frutos favoritos: virava suco, entrava na composição de bolos e pães, era fermentado para virar uma espécie de vinho e tinha suas castanhas transformadas em farinha.
Cururupeba degustou receitas ainda muito populares entre nós. Da pamonha às moquecas e paçocas salgadas. Entretanto, uma iguaria muito particular do seu cardápio foi vetada, à força, pelos portugueses: a carne humana.
Peixes grandes e mamíferos, como porcos-do-mato, queixadas, veados, macacos e antas eram abatidos a flechadas. Os bichos costumavam ser assados inteiros, com pele e tudo, e depois destripados, pois as vísceras eram muito apreciadas.
Os métodos de preparação incluíam assados sobre brasas (em fogo de chão) e cozimentos em panelas de barro ou fornos subterrâneos, os chamados biaribis. Para conservar e preservar a caça, os tupinambás também secavam carnes e peixes, numa preparação chamada de moquém.
Não existem registros específicos sobre a relação de Cururupeba com a primitiva culinária de seus pares. Ele certamente degustou diversas receitas que, cinco séculos depois, continuam muito populares entre nós: pamonha, curau, a já citada tapioca, pirões (de milho e de mandioca), moquecas e cozidos de peixes e crustáceos, paçocas salgadas e até métodos de cozimento como os assados (vegetais, carnes e peixes) envoltos em folhas de bananeira. Técnicas e ingredientes incorporados, pouco a pouco, ao cotidiano dos colonizadores portugueses, mesclando-se e adaptando-se.
Entretanto, outra iguaria muito particular do cardápio tupinambá foi vetada, à força, pelos portugueses: a carne humana. Os combates entre as tribos eram frequentes, e os vencedores das batalhas realizavam rituais nos quais repartiam a carne dos prisioneiros, em festas regadas a muito caxiri e cauim. Em meados do século XVI, Mem de Sá, então governador-geral do Brasil, decidiu enquadrar as tribos rebeldes e, usando de armas de fogo, capturou Cururupeba e o levou, amarrado e indefeso, a Salvador. Serviu como exemplo do que aconteceria a qualquer índio que ousasse enfrentar os colonizadores. A derrota, no entanto,