27 Psicologia Hospitalar
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A Psicologia Hospitalar
A psicologia hospitalar se propõe em ser uma área de conhecimento que visa fornecer suporte ao
sujeito em adoecimento, a fim de que este possa atravessar essa fase com maior resiliência. Nesse
sentido, é um campo de entendimento e tratamento dos aspectos biológicos em torno do
adoecimento, não somente doenças psicossomáticas, mas todo e qualquer tipo de enfermidade.
Comumente, o processo de adoecimento traz em seu bojo uma desorganização da sua vida, de
modo que provoca várias transformações em sua subjetividade, ou seja, o sujeito sai do conforto de
seu lar e se depara com a hospitalização, muda seus hábitos, perde sua identidade e, muitas vezes,
acaba virando um número de prontuário.
Nesse momento, junto a toda equipe multidisciplinar, surge a figura do psicólogo que tem esse intuito
de escutar e acolher o sofrimento do indivíduo frente as suas principais dificuldades no que tange a
essa fase. Enquanto a medicina visa curar a patologia, a psicologia hospitalar buscar ressignificar a
posição do sujeito frente à doença.
O trabalho da psicologia hospitalar é de possibilitar voz a esse sujeito, fazer surgir a palavra. O
instrumento de trabalho desse profissional é a escuta e a palavra, a partir desse enfoque o psicólogo
visa minimizar o sofrimento psíquico do paciente em adoecimento.
De acordo com a definição do órgão que rege o exercício profissional do psicólogo no Brasil, o CFP
(2003a), o psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos
secundário e terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde e realizando atividades
como: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia;
atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermarias em
geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e
interconsultoria.
Chiattone (2000) ressalta, contudo, que, muitas vezes, o próprio psicólogo não tem consciência de
quais sejam suas tarefas e papel dentro da instituição, ao mesmo tempo em que o hospital também
tem dúvidas quanto ao que esperar desse profissional. Se o psicólogo simplesmente transpõe o
modelo clínico tradicional para o hospital e verifica que este não funciona como o esperado (situação
bastante frequente), isso pode gerar dúvidas quanto à cientificidade e efetividade de seu papel.
Desse modo, segundo a autora, o distanciamento da realidade institucional e a inadequação da
assistência mascarada por um falso saber pode gerar experiências malsucedidas em Psicologia
Hospitalar.
O psicólogo deve estar cônscio de seu papel na instituição hospitalar, visto que sua atuação não
abrange somente a hospitalização em si, no que tange a patologia, mas, sobretudo, as sequelas e
consequências emocionais decorrentes do adoecimento. Nessa perspectiva o psicólogo deve atuar
de modo preventivo, evitando o agravamento do problema.
Para (Alamy, 1991) podemos conceituar Psicologia hospitalar como o ramo da Psicologia destinado
ao atendimento de pacientes portadores de alguma alteração orgânico-física, que seja responsável
pelo desequilíbrio em uma das instâncias bio-psico-social, bem como uma Psicologia dirigida a
pacientes internados em hospitais gerais sem deixar de se estender aos ambulatórios e consultórios,
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com sua atenção voltada para as questões emergenciais advindas da doença e/ou hospitalização, do
processo do adoecer e do sofrimento causado por estas, visando o minimizar da dor emocional do
paciente e de sua família.
Como o fato da psicologia hospitalar ser uma área que lida diretamente com a subjetividade e
sofrimento do outro, é essencial que o psicólogo entenda os limites de sua atuação para não se
tornar um dos elementos invasivos provenientes da hospitalização.
De outra parte, é também muito importante observar-se o fato de que, ao atuar em uma instituição, o
psicólogo, ao contrário da prática isolada de consultório, tem que ter bastante claros os limites
institucionais de sua atuação. Na instituição o atendimento deverá ser norteado a partir dos princípios
institucionais (ANGERAMI, 1984).
A psicologia hospitalar não deve se colocar no contexto hospitalar como uma força solitária. Deve,
acima de tudo, colaborar com seus objetivos para promover a humanização e a transformação social
no ambiente hospitalar, sem ficar preso somente as teorizações que isolam os conflitos mais amplos.
Desafios e Possibilidades
O estado precário da saúde da população é um entrave dentro do saber psicológico, pois exige do
profissional uma revisão de seus valores pessoais, acadêmicos e emocionais. Nesta perspectiva, o
contexto hospitalar difere do contexto de aprendizagem e orientação acadêmica, uma vez que ali se
percebe uma realidade desumana nas condições de saúde da população que é alvo constante de
injustiças sociais e aspira por um tratamento hospitalar digno. Os doentes são não raros obrigados a
aceitar como normais, todas as formas de agressão com as quais se deparam em busca da saúde
(ANGERAMI-CAMON,1995).
É um desafio para o profissional adentrar em um contexto onde quem predomina é a área médica,
onde há limites institucionais regidos por regras, condutas e normas. Além do que o serviço muitas
vezes é muito deficiente e deve-se considerar que o atendimento psicológico afasta-se do modelo
clínico tradicional, e muitas vezes, leva o profissional a fazer os atendimentos em macas, nos
corredores, exigindo a construção de uma nova postura profissional.
Angerami-Camon (1988) reflete sobre o trabalho do psicólogo junto ao paciente, à família, à equipe
de saúde diante de situações específicas dentro do hospital. Ele defende a importância da trajetória
hospitalar do paciente (diagnóstico e prognóstico), pois isto revela o tipo de trabalho a ser
desenvolvido pelo psicólogo. Assim, as intervenções precisam observar que a estruturação do
atendimento considera questões específicas da sintomatologia abordada em sua totalidade. Outra
atuação seria a prestação de esclarecimentos aos profissionais sobre as questões emocionais do
indivíduo internado. Além disso, junto à família, o psicólogo hospitalar precisa perceber que a mesma
vive um momento de ansiedade, o qual envolve o restabelecimento físico do paciente.
a psicologia hospitalar é uma área que se propõe a trabalhar com o sofrimento da pessoa em face a
sua hospitalização, não objetiva curar a patologia em si, mas dar mecanismos para que esse sujeito
ressignifique seu adoecimento e aprenda a lidar melhor com essa transição. Assim, temos uma
psicologia hospitalar que se constrói a cada dia em sua prática, e que tem como técnica, possibilitar o
surgimento da palavra naquele que sofre, isto é, amenizar o sofrimento e auxiliar no campo
preventivo para que o caso não evolua. Nesse sentido, é um trabalho que lida diretamente com a
subjetividade do outro e que necessita largamente de um compromisso ético com a condição
humana.
• Psicologia da Saúde
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• Psicologia Hospitalar
De acordo com a definição do órgão que rege o exercício profissional do psicólogo no Brasil (CFP), o
psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos secundário e
terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde com o objetivo tratar os aspectos
psicológicos frente ao adoecer, realizando atendimento psicoterapêutico, podendo ser utilizado de
diversas condutas:
• Acolhimento;
1. Atendimentos em ambulatório;
• Grupos Terapêuticos;
• Cuidados Paliativos
• Sistema de Plantão;
• Visita Multidisciplinar*;
• Interconsulta***;
• Programas de Humanização;
• Entre outros.
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¹ Cuidados Paliativos: A prática do psicólogo referente ao Cuidado Paliativo deve ser realizada
mediante à uma especialização de Cuidados Paliativos.
Para finalizar, também quero enfatizar o que o psicólogo não deve fazer quando está inserido no
contexto hospitalar.
• Psicólogo Hospitalar NÃO pode fornecer cartão de sua clínica para pacientes e familiares, a
menos que solicitem;
Entre uma equipe multidisciplinar que trabalha com esse tipo de situação, o psicólogo é o
responsável por escutar e acolher o sofrimento dos pacientes, analisando as principais dificuldades
encontradas pelo mesmo em sua trajetória no hospital e dando novo significado ao paciente.
Dando voz ao paciente, seu principal instrumento de trabalho nestes casos é a escuta, que tem como
objetivo encontrar o enfoque do sofrimento psíquico do paciente em adoecimento e minimizar seu
sofrimento. No hospital, as atividades do psicólogo caminham entre atendimentos psicoterapêuticos,
psicoterapias de grupo, profilaxias e psicoeducação geral, atendimentos em ambulatórios,
enfermarias e UTI, avaliações diagnósticas, psicodiagnósticos, consultorias e interconsultas,
atuações em equipes multidisciplinares de foco à saúde mental, entre outras.
A Psicologia da Saúde tem como objetivo compreender como os fatores biológicos, comportamentais
e sociais influenciam na saúde e na doença (APA, 2003). Na pesquisa contemporânea e no ambiente
médico, os psicólogos da saúde trabalham com diferentes profissionais sanitários, realizando
pesquisas e promovendo a intervenção clínica. Complementar a essa definição, o Colégio Oficial de
Psicólogos da Espanha (COP, 2003) conceitua a Psicologia da Saúde como a disciplina ou o campo
de especialização da Psicologia que aplica seus princípios, técnicas e conhecimentos científicos para
avaliar, diagnosticar, tratar, modificar e prevenir os problemas físicos, mentais ou qualquer outro
relevante para os processos de saúde e doença.
Esse trabalho pode ser realizado em distintos e variados contextos, como: hospitais, centros de
saúde comunitários, organizações não-governamentais e nas próprias casas dos indivíduos. A
Psicologia da Saúde também poderia ser compreendida como a aplicação da Psicologia Clínica no
âmbito médico.
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A APA publica, desde 1982, a revista Health Psychology, a primeira oficial da área. Seguindo a
tendência, em 1986, formou-se, na Europa, a European Health Psychology Society (EHPS, 2003),
uma organização profissional que visa a promover a pesquisa teórica e empírica e suas aplicações
para a Psicologia da Saúde européia. Cada país-membro possui, ainda, sua associação de
Psicologia da Saúde, que realiza atividades como congressos, simpósios, pesquisas etc. Foram
criadas várias revistas especializadas: British Journal of Health Psychology (Reino Unido), Revista de
Psicologia de la Salud (Espanha), Psicologia della Salutte(Itália), <i>Gedrag & Gezondheid</I>
(Bélgica), entre outras.
A Psicologia da Saúde na América Latina teve um rápido crescimento em recursos humanos, mas
uma insuficiente incorporação dos psicólogos nos setores de saúde. Apesar disso, essa área é a que
mais absorveu psicólogos nos últimos 15 anos, no Brasil e em outros países latino-americanos,
principalmente na Argentina, mas a produção científica continua escassa. Em nível mundial, as
pesquisas em Psicologia da Saúde estão sendo incrementadas, e 90% delas correspondem aos
países europeus, Estados Unidos, Japão e Austrália.
Já na América Latina, percebe-se uma insuficiência de estudos que possibilitem intervenções rápidas
para os problemas de saúde de cada região, respeitando suas especificidades e contextos
socioeconômicos. Além disso, a formação profissional do psicólogo latino-americano é limitada em
nível de pós-graduação (Sebastiani, 2000). Várias situações existentes na América Latina refletem
também a posição brasileira da Psicologia da Saúde.
A confusão entre o que seria a área clínica, a área da saúde e também a Psicologia Hospitalar não é
somente de ordem semântica, mas também de ordem estrutural, ou seja, estão em jogo os diferentes
marcos teóricos ou concepções de base acerca do fazer psicológico e sua inserção social.
Justamente dessas diferenças, e/ou antagonismos teórico-ideológicos, surge uma Psicologia da
Saúde (Yanamoto & Cunha, 1998). Considerando essas possíveis confusões, é importante
esclarecer, também, o conceito de Psicologia Clínica.
O especialista em Psicologia Clínica (CRP, 2003) também atua na área da saúde em diferentes
contextos, além do consultório particular, inclusive em hospitais, unidades psiquiátricas, programas
de atenção primária, postos de saúde etc., prevenindo doenças no âmbito primário, secundário e
terciário. Como se pode observar, esse conceito, de fato, está intimamente associado ao que é
Psicologia da Saúde. Furtado (1997), nesse sentido, argumenta que os limites da Psicologia Clínica
também são tênues, e o próprio ensino universitário é diversificado em seu planejamento. A autora
chegou a essa conclusão a partir de um estudo que analisou o plano das disciplinas em 10
universidades do Rio Grande do Sul. Apesar das imprecisões entre essas duas áreas, é importante
diferenciá-las. A Psicologia Clínica centra sua atuação em diversos contextos e problemáticas em
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saúde mental, enquanto a Psicologia da Saúde dá ênfase, principalmente, aos aspectos físicos da
saúde e da doença (Kerbauy, 2002).
Enfim, a Psicologia da Saúde, com base no modelo biopsicosossocial, utiliza os conhecimentos das
ciências biomédicas, da Psicologia Clínica e da Psicologia Social-comunitária (Remor, 1999). Por
isso, o trabalho com outros profissionais é imprescindível dentro dessa abordagem. Essa área
fundamenta seu trabalho principalmente na promoção e na educação para a saúde, que objetiva
intervir com a população em sua vida cotidiana antes que haja riscos ou se instale algum problema de
âmbito sanitário. O trabalho é multiplicador, uma vez que capacita a própria comunidade para ser
agente de transformação da realidade, pois aprende a lidar, controlar e melhorar sua qualidade de
vida. Dessa maneira, torna-se evidente que a Psicologia da Saúde dá ênfase às intervenções no
âmbito social e inclui aspectos que vão além do trabalho no hospital, como é o caso da Psicologia
Comunitária (Besteiro & Barreto, 2003; Gonzalez-Rey, 1997).
De acordo com a definição do órgão que rege o exercício profissional do psicólogo no Brasil, o CFP
(2003a), o psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos
secundário e terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde e realizando atividades
como: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia;
atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermarias em
geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e
interconsultoria.
É importante ressaltar que nós nos deparamos com dificuldades para encontrar material teórico e
pesquisas na literatura científica internacional sobre a Psicologia Hospitalar como campo específico.
Uma das razões seria que essa denominação é inexistente em outros países além do Brasil
(Sebastiani, 2003; Yanamoto, Trindade & Oliveira, 2002).
Yanamoto, Trindade e Oliveira (2002) e Chiattone (2000), inclusive, explicam que o termo Psicologia
Hospitalar é inadequado porque pertence à lógica que toma como referência o local para determinar
as áreas de atuação, e não prioritariamente às atividades desenvolvidas. Se já existe fragmentação
das práticas e dispersão teórica da Psicologia, a adoção do termo Psicologia Hospitalar caminha no
sentido oposto à busca de uma identidade para o psicólogo como profissional da saúde que atua em
hospitais (Yanamoto, Trindade & Oliveira, 2002).
Diferente do Brasil, em alguns outros países, a identidade do psicólogo especialista está associada à
sua prática e não ao local em que atua. A APA (2003) e o COP (2003), por exemplo, demarcam o
trabalho do psicólogo em hospitais como um dos possíveis locais em que atua o psicólogo da saúde.
Especificamente na Espanha, Rodríguez-Marín (2003) e Besteiro e Barreto (2003) definem que o
marco conceitual da Psicologia da Saúde é o que deve servir de base para a Psicologia Hospitalar.
Entretanto, definição parecida a essa é a da brasileira Chiattone (2000), que diz que a Psicologia
Hospitalar é apenas uma estratégia de atuação em Psicologia da Saúde, e que, portanto, deveria ser
denominada “Psicologia no contexto hospitalar”.
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restabelecimento do estado de saúde do doente ou, ao menos, ao controle dos sintomas que
prejudicam seu bem-estar.
Rodriguez-Marín (2003) sintetiza as seis tarefas básicas do psicólogo que trabalha em hospital: 1)
função de coordenação: relativa às atividades com os funcionários do hospital; 2) função de ajuda à
adaptação: em que o psicólogo intervém na qualidade do processo de adaptação e recuperação do
paciente internado; 3) função de interconsulta: atua como consultor, ajudando outros profissionais a
lidarem com o paciente; 4) função de enlace: intervenção, através do delineamento e execução de
programas junto com outros profissionais, para modificar ou instalar comportamentos adequados dos
pacientes; 5) função assistencial direta: atua diretamente com o paciente, e 6) função de gestão de
recursos humanos: para aprimorar os serviços dos profissionais da organização.
Chiattone (2000) ressalta, contudo, que, muitas vezes, o próprio psicólogo não tem consciência de
quais sejam suas tarefas e papel dentro da instituição, ao mesmo tempo em que o hospital também
tem dúvidas quanto ao que esperar desse profissional. Se o psicólogo simplesmente transpõe o
modelo clínico tradicional para o hospital e verifica que este não funciona como o esperado (situação
bastante frequente), isso pode gerar dúvidas quanto à cientificidade e efetividade de seu papel.
Desse modo, segundo a autora, o distanciamento da realidade institucional e a inadequação da
assistência mascarada por um falso saber pode gerar experiências malsucedidas em Psicologia
Hospitalar.
A partir das definições expostas de Psicologia da Saúde, que pode se confundir com a Psicologia
Clínica e com a Psicologia Hospitalar, encontramos semelhanças no que tange às formas de atuação
prática dos especialistas dessas distintas áreas. A psicoterapia individual ou grupal, por exemplo, é
uma tarefa que pode ser desenvolvida dentro dos três campos citados. Contudo, percebemos
também particularidades fundamentais. A Psicologia Clínica propõe um trabalho amplo de saúde
mental nos três níveis de atuação – primário, secundário e terciário - e a Psicologia da Saúde
também propõe um trabalho abrangente nesses mesmos níveis, mas aplicada ao âmbito sanitário,
enfatizando as implicações psicológicas, sociais e físicas da saúde e da doença. No que diz respeito
à Psicologia Hospitalar, sua atuação poderia ser incluída nos preceitos da Psicologia da Saúde,
limitando-se,entretanto, à instituição-hospital e, em consequência, ao trabalho de prevenção
secundária e terciária.
Para que o psicólogo esteja capacitado a trabalhar em saúde, é imprescindível refletir se sua
formação lhe dá as bases necessárias para essa prática. A aprendizagem não deve ser só teórica e
técnica, pois o psicólogo tem que ser comprometido socialmente, estar preparado para lidar com os
problemas de saúde de sua região e ter condições de atuar em equipe com outros profissionais.
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A falta de pesquisas na área também não privilegia ações de prevenção de saúde e, sim, ações
emergenciais. Tal situação distorce o trabalho profissional, provoca o afastamento entre acadêmicos
e profissionais e não contribui para a ampliação da prática e para a incorporação de psicólogos
recém-formados que querem trabalhar na área. Com a necessidade crescente de demonstração das
evidências dos resultados das intervenções psicológicas – o que se chama prática baseada em
provas – o desenvolvimento da pesquisa básica e aplicada é imprescindível (Ulla & Remor, 2003). As
evidências dos bons resultados das intervenções psicológicas, além de propiciarem avanços no
atendimento direto às pessoas, também abrem campo de trabalho ao psicólogo. Um exemplo seria o
caso de alguns governos de países europeus que decidiram custear o tratamento psicológico através
da saúde pública sempre que se cumpram critérios de eficácia, efetividade e eficiência.
Então, qual seria a formação indicada para os psicólogos que desejam trabalhar no âmbito da saúde?
Besteiro e Barreto (2003) afirmam que a formação do psicólogo da saúde deve contemplar
conhecimentos sobre: bases biológicas, sociais e psicológicas da saúde e da doença; avaliação,
assessoramento e intervenção em saúde, políticas e organização de saúde e colaboração
interdisciplinar; temas profissionais, éticos e legais e conhecimentos de metodologia e pesquisa em
saúde.
Com relação ao psicólogo da saúde que atua especificamente em hospitais, é indispensável um bom
treinamento em três áreas básicas: clínica, pesquisa e programação. Com relação à a área clínica, o
psicólogo deve ser capaz de realizar avaliações e intervenções psicológicas. Na área de pesquisa e
comunicação, é necessário saber conduzir pesquisas e comunicar informações de cunho psicológico
a outros profissionais. Por fim, quanto à área de programação, o profissional deve desenvolver
habilidades para organizar e administrar programas de saúde. Com essa formação integrada, é
possível melhorar a qualidade da atenção prestada, garantir que as intervenções implantadas sejam
as mais eficazes para cada caso, diminuir custos e aumentar os conhecimentos sobre o
comportamento humano e suas relações com a saúde e a doença (Ulla & Remor, 2003).
Neste momento em que somos incitados a refletir sobre nossa profissão para aperfeiçoar nossos
modelos de atuação profissional, como ocorre com a Psicologia da Saúde, é importante considerar
sempre o aspecto social em que estamos inseridos, compreendendo a realidade do nosso país. O
Brasil é o país das contradições, ao mesmo tempo em que é a décima primeira economia mundial,
portanto, um país rico, ao passo que 1/3 de sua população é pobre, melhor dito, miserável (WHO,
2003). Um terço de aproximadamente 170 milhões de pessoas significa que 55 milhões vivem abaixo
da linha da pobreza. Para termos uma dimensão ainda mais clara dessa dura realidade, podemos
pensar que é como se toda a população dos nossos vizinhos Argentina, Chile e Uruguai fossem
miseráveis, isto é, aqueles que não possuem as condições mínimas de moradia, alimentação,
educação e saúde. O Brasil também é o país das contradições em si mesmo, ou seja, são também
gigantescas as diferenças econômicas e educacionais da Região Sul/Sudeste e da
Norte/Nordeste/Centro-Oeste. Enfim, é uma nação rica com muitos pobres, como ilustra a tabela:
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Como podemos observar a partir desses dados, a situação do nosso país é alarmante devido
principalmente às desigualdades existentes. Isso exige de nós, como profissionais e cidadãos
brasileiros, em primeiro lugar, um conhecimento profundo dessa triste realidade. Conhecendo a
situação que se apresenta, a consolidação de um trabalho de promoção da saúde pode tornar-se
efetivo. Entretanto, nós, enquanto profissionais da saúde, estamos preparados para essa realidade?
Acreditamos que, em muitos aspectos, não. Parece-nos, às vezes, que os profissionais da Psicologia
são um “retrato” da desigualdade da sociedade brasileira, com suas práticas elitistas que beneficiam
uma pequena parcela da população. Um exemplo seria a utilização indiscriminada da prática da
psicoterapia individual, em contextos em que a população ou tem outras necessidades mais básicas,
ou até não chega à instituição por falta de recursos. Confirma essa idéia a recente pesquisa realizada
sobre o perfil do psicólogo brasileiro (CFP, 2003b), mostrando que 54,9% dos psicólogos que
exercem a profissão trabalham na clínica em consultório particular, enquanto apenas 12,4% dos
profissionais atuam em Psicologia da Saúde e 0,6% são pesquisadores.
Situação 1: num determinado hospital, digamos que exista grande demanda para o setor da
Psicologia com pacientes internados e se privilegie o trabalho individual. Tendo em vista a dificuldade
de atender todos os pacientes, o setor decidiria, de acordo com seus próprios critérios, atender
apenas alguns pacientes, enquanto outros ficariam excluídos desse tipo de ajuda. Situação 2:
digamos que, num posto de saúde, exista, na sala de espera do ginecologista, várias mulheres
infectadas pelo HIV. O setor da Psicologia decide, por sua vez, oferecer inscrição na lista de espera
para atendimento individual psicoterápico. No entanto, essas pessoas seriam chamadas para
atendimento, na melhor das hipóteses, dentro de um mês. A partir desses exemplos hipotéticos, mas
que podem ocorrer na realidade, é provável que seja mais produtivo realizar trabalhos grupais (em
suas distintas modalidades) enfocando a problemática comum nos dois casos.
Nesse sentido, Moura (2003), refletindo sobre “a psicologia que temos e a psicologia que queremos”,
analisa essa prática tradicionalmente empreendida pelos psicólogos. Com a diminuição da procura de
clientes para os seus consultórios particulares devido ao empobrecimento da população, os
psicólogos foram obrigados a trabalhar com pessoas cada vez mais carentes. Isso gerou o que a
autora denominou uma “crise na Psicologia”, a partir da discrepância entre as propostas terapêuticas
e a realidade do Brasil. A prática profissional passou a ser questionada no que tange à eficácia e
adequação da Psicologia frente às questões de ordem social. Dimenstein (2000) afirma, ainda, que
muitos dos problemas dos quais o psicólogo passou a deparar-se escapam do domínio da clínica,
pois referem-se às condições de vida da população. Tais dificuldades passaram a ser um entrave
para as atividades de assistência pública à saúde tendo em vista a falta de preparo nessa área.
Para mostrar tais discrepâncias, dois estudos empíricos relatam a prática de psicólogos no contexto
hospitalar. No primeiro estudo (Yanamoto & Cunha, 1998), foram entrevistadas cinco psicólogas, no
segundo (Yanamoto, Trindade &Oliveira, 2002), participaram 25, todos atuando em hospitais no Rio
Grande do Norte. Foram analisados os seguintes aspectos: formação acadêmica, trajetória
profissional, caracterização das atividades realizadas e avaliação do trabalho realizado nos hospitais.
Dentre os resultados principais, aparece uma formação universitária deficitária e não condizente com
a prática profissional, condições adversas de trabalho e práticas que, muitas vezes, não se
distinguem do fazer clínico tradicional em consultório privado. Observa-se que todos os profissionais
que trabalham diretamente com os pacientes desenvolvem atividades psicoterápicas em suas
diversas modalidades: breve, de apoio, individual ou grupal.
Levando em conta a realidade de nosso país e de nossa profissão, perguntamo-nos: onde poderia se
inserir o psicólogo para abrir novas frentes de mercado de trabalho de acordo com as necessidades
da população?
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O relato de Miyazaki et al. (2002) esclarece como pode ocorrer um processo de mudança permitindo
maior inserção profissional de acordo com a realidade do País. Descrevendo o desenvolvimento e
estágio atual do serviço de Psicologia de um hospital em São José do Rio Preto, os autores explicam
a evolução de uma equipe de psicologia eminentemente clínica individual para um trabalho dentro
dos moldes do que seria a Psicologia da Saúde. A intervenção individual não dava conta da
demanda, e então foi instalado um programa denominado Aprimoramento em Psicologia da Saúde.
Este possuía duração de dois anos e combinava a prática à pesquisa em Psicologia da Saúde.
Segundo o relato, a atuação foi realizada em equipes interdisciplinares, abrangendo os níveis
primário, secundário e terciário de atendimento. As intervenções se davam no ambulatório, no
hospital, em centro de saúde-escola e na comunidade, sempre combinadas com pesquisas que
justificassem suas ações. O hospital, na atualidade (2002), possuía 40 psicólogos (docentes,
contratados e aprimorandos).
A partir dessas idéias, evidencia-se o quanto urgem revisões e atualizações, tanto ao nível de
formação profissional quanto de estratégias de inserção dos psicólogos. É preciso romper com a
“prática do silêncio”, que compreende o indivíduo isolado da sociedade (Moura, 2003), e elaborar um
modelo profissional que considere a ação histórica dos homens. A Psicologia é uma ciência jovem, e
sua participação histórica nos programas de saúde tende a ser tímida. Queremos destacar a
importância de podermos discutir, compreender e assumir a função e o papel que nos cabe para
transformar a realidade sanitária no País. O próprio psicólogo necessita dessas reflexões para que,
efetivamente, torne seu trabalho vetor nos programas de saúde e abra espaço para a atuação de
novos profissionais nessas equipes.
Em última análise, acreditamos que, se o indivíduo não pode vir até o psicólogo, o psicólogo pode ir
até ele. Isso significa entrar em contato com a dura realidade do nosso país. Conhecendo a
população brasileira, os psicólogos podem utilizar seus conhecimentos para chegar a todos,
independentemente de seus recursos: os que têm condições e desejam um tratamento particular, e
também aqueles que nem sequer sabem o quanto poderiam ser ajudados por profissionais dessa
área.
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A polêmica sobre a existência de uma área única abrangente ou de duas áreas distintas, Psicologia
Clínica ou Psicologia da Saúde, é tema de debate internacional (Yanamoto, Trindade & Oliveira,
2002), e claro, deve ser prioritariamente nacional. Nossa inquietude frente às mencionadas
contradições das áreas de especialização e ainda da existência de uma Psicologia Hospitalar
brasileira foi a mola propulsora para a presente reflexão. Estando fora do Brasil, vimos “de longe”, e
assim, de maneira distinta, nossa realidade, tanto de país quanto de profissão. Justamente por
acreditarmos no desenvolvimento do Brasil e da Psicologia propomos este questionamento. Mais que
respostas, temos perguntas. Mais que certezas, temos inquietações. Mais que conformismo, temos a
esperança neste país, dito em desenvolvimento, em que existem realidades de primeiro e terceiro
mundo que se chocam constantemente.
Ao se pensar sobre a evolução histórica da instituição hospitalar, um dos aspectos que mais se
destaca é o fato do seu caráter de assistência em saúde, definidor de sua principal atividade em
tempos atuais, não se encontrar presente nos estabelecimentos de origem. Sob a responsabilidade
de ordens religiosas que administravam, financiavam os estabelecimentos e assistiam aos enfermos,
os hospitais apresentavam uma prática de assistência social, de caráter eminentemente religioso,
voltada para a salvação espiritual e desvinculada do exercício da medicina, deixando em segundo
plano a cura material de seus internos.
De acordo com Braga Neto, Barbosa e Santos (2008), ademais do caráter religioso, os hospitais
desempenhavam a função de separar e excluir do convívio social aqueles que ameaçavam a
coletividade por sua condição de doente, servindo de refúgio e recolhimento para uma significativa
parcela da população pobre. Foucault (2003) afirma que durante este período em que os hospitais
eram administrados por ordens religiosas, sob a denominação de Casas de Deus e Casas de
Misericórdia, o saber e a prática médica organizavam-se apenas em torno da noção de crise, numa
perspectiva individualizante, por meio da identificação de sinais e da tentativa de controle da doença.
As bases do hospital dito moderno, por sua vez, somente se consolidaram no século XVIII, como
resultado de transformações políticas, econômicas, sociais e sanitárias ao longo de catorze séculos.
Tais transformações favoreceram o período da construção de grandes hospitais gerais em todas as
cidades da Europa e a gradativa secularização da instituição hospitalar e a substituição da ação
caritativa pela prática médica e terapêutica.
Sob a égide de valores, como ordenação, eficiência e disciplinamento do mundo do trabalho e da vida
urbana, surgiu um novo olhar sobre a instituição hospitalar. Esta se tornou de responsabilidade do
Estado e local de estudos, investigação, tratamento e formação de profissionais da medicina,
favorecendo com que a prática médica se tornasse essencialmente hospitalar e o hospital, por sua
vez, se medicalizasse.
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convocada a atuar na organização do espaço interno, o que contribuiu para que o hospital se
tornasse em local primordial de formação, produção e transmissão de saber.
A partir de então, outra ordem hierárquica foi estabelecida e a prática hospitalar tornou-se vinculada,
prioritariamente, ao saber da medicina. Deste modo, o hospital e a medicina passaram a se sobrepor
de forma indissociável e atravessaram os séculos garantindo o poder médico nos hospitais e,
consequentemente, a supremacia do seu modelo de intervenção na assistência em saúde.
A consagração do hospital como espaço de excelência da prática médica, por sua vez, se concretizou
no século XIX através do desenvolvimento científico e tecnológico, em especial da bioquímica e da
microbiologia, e do desenvolvimento da medicina anátomo-clínica, que introduziu a perspectiva da
doença como resultante de lesões orgânicas e a concepção da ação médica centrada no exame
clínico e na contínua observação do paciente ao leito. Dessa maneira, a medicina conquistou de vez
a legitimidade social e se tornou essencialmente a ciência da observação e o hospital, o local
privilegiado para a investigação, exame e tratamento, experimentação de novas técnicas
semiológicas e procedimentos terapêuticos, em estabelecimento sede do saber médico.
Entretanto, este mesmo modelo hospitalocêntrico, na transição dos anos 1970 para os anos 1980,
passou a ser questionado quanto à sua sustentabilidade social, em função das dificuldades frente a
seu financiamento e gestão. Medidas de modernização gerencial, maior racionalidade administrativa
e melhor divisão organizacional do trabalho, tornaram-se necessárias e a urgência destas evidenciou
a falência de tal modelo como parâmetro para os sistemas nacionais.
Dessa forma, com tais demandas no setor saúde, políticas de desospitalização foram implantadas,
favorecendo a racionalização da oferta de serviços hospitalares, a redução do tempo de internação e
do número de leitos, a maior rotatividade destes, bem como o fechamento ou a fusão de alguns
hospitais. Em decorrência disto, um novo modelo de hospital surge, com maior densidade tecnológica
e domínio de ação mais restrito, dirigido aos casos graves, sem deixar de exercer um papel
importante no sistema de saúde por servir de referência na formação de especialistas e no
desenvolvimento de projetos de educação permanente, investigação clínica, epidemiológica e
administrativa.
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Neste sentido, os autores referidos indicam algumas transformações necessárias nos projetos
pedagógicos vigentes, tais como: o uso de metodologias pedagógicas inovadoras e centradas no
protagonismo do estudante, com foco na atenção primária, na determinação multifatorial do processo
saúde-doença e no trabalho multiprofissional; a articulação constante com o sistema local de saúde e
a priorização dos problemas de maior prevalência e relevância nos serviços de saúde; a
diversificação dos espaços de ensino aprendizagem e a valorização das atividades de extensão; e o
incentivo a atitudes éticas e humanistas.
Vale destacar que a questão em torno da qualidade da formação dos profissionais de saúde que
atuam no SUS encontra-se contemplada no artigo 200 da constituição de 1989, no qual a lei 8.080/90
cria e regulamenta a Comissão Interinstitucional de Recursos Humanos, atribuindo ao SUS também a
responsabilidade frente à formação de recursos humanos. Com o intuito de atender tal atribuição, o
Ministério da Saúde criou em seu interior, em 2003, a Secretaria de Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde, responsável por desenvolver programas diversos (Aprender-SUS, VER-SUS,
Pró-Saúde, Fnepas), com o objetivo de incentivar mudanças curriculares, favorecer a experiência
direta de estudantes na assistência no SUS e o intercâmbio entre alunos de formações distintas e
municípios diversos, bem como a integração entre atores e instituições de ensino.
Entretanto, apesar das iniciativas governamentais mencionadas, o debate sobre novas demandas no
cenário da saúde e exigências de transformações nos projetos pedagógicos e quadros curriculares de
instituições de ensino superior permanece e se estende às discussões em torno da própria formação
do profissional de psicologia, elemento de interesse maior do presente artigo.
Assim como Campos et al. (2008) apontam a necessidade de formar profissionais com capacidade de
reflexão crítica sobre o conhecimento aprendido e o seu trabalho, sabendo valorizar o trabalho em
equipe e integrar diferentes saberes no planejamento de suas ações, Campos e Guarido (2010)
tratam da necessidade específica do psicólogo de saber compor equipes multiprofissionais, nas quais
as intervenções tenham o usuário como foco, permitindo que o fazer clínico seja atravessado pelas
necessidades do sujeito. Bernardes (2010), por sua vez, discute sobre o mesmo distanciamento entre
a atuação profissional e a realidade social, apontado anteriormente em relação aos profissionais de
saúde em geral, e destaca a necessidade de reorientação da formação do psicólogo para atuar no
setor público e entre os movimentos populares, a partir da superação do modelo clínico hegemônico
e da subversão dos espaços tradicionais de intervenção.
Sendo assim, é possível afirmar que a herança do modelo flexneriano 1 sob os projetos pedagógicos
das formações em saúde é condizente com os debates no cenário da formação em psicologia. Neste
também se discute a necessidade de reorientar o enfoque centrado nos processos de
individualização e no modelo médico-curativo para uma perspectiva mais ampla e coletiva, em que o
processo saúde-doença também seja compreendido a partir dos registros do social, do econômico e
do político, ademais do psicológico.
Em consonância com esta mudança de enfoque, transformações curriculares diversas são sugeridas,
tais como a incorporação de um conhecimento sanitarista, relativo ao campo da epidemiologia e da
vigilância, além da construção de novos saberes e práticas que permitam ao profissional de
psicologia analisar a organização dos serviços e processos de trabalho, o planejamento, a gestão, as
tecnologias e as políticas de saúde (Campos & Guarido, 2010).
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Spink e Matta (2010), ao tratarem da inserção dos psicólogos no campo nacional da saúde, apontam
aspectos diversos que contribuíram para a abertura ao olhar multidisciplinar e, em consequência, à
perspectiva psicológica: a proliferação dos princípios da Reforma Sanitária e sua incorporação pelo
SUS, e a progressiva complexificação da concepção de saúde, sob uma visão mais ampla desta e
com o apoio internacional da Organização Nacional de Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana
de Saúde (OPAS).
(...) esta prática foi condenada, seja para o médico, o psicólogo, o nutricionista etc., tendo a crítica se
acentuado após a Constituição, quando passa a prevalecer o conceito da atenção integral oferecida
num Sistema de Saúde do qual cada profissional deveria fazer parte. Tal proposta descredenciou as
práticas do consultório particular/clínica individual como carros chefes da atividade do psicólogo
(p.82-83).
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Contudo, torna-se necessário questionar o quanto esta nova perspectiva de assistência foi de fato
incorporada às práticas profissionais e o quanto a mera formação de equipes multidisciplinares pode
apresentar-se como insuficiente para a efetiva concretização dos princípios norteadores do SUS e de
sua atenção integrada. Considera-se, assim, que a compreensão da determinação social da doença,
abarcando elementos diversos do processo saúde-doença, tais como o comportamento, a cultura de
classe e os significados do adoecimento, desenvolvida, em especial, no âmbito da academia e
defendida pelos profissionais da saúde e movimentos sociais das décadas de 1970 e 1980, não se
perpetuou entre estes, nem mesmo foi assumida e propagada pelas instituições formadoras.
Dessa forma, Spink et al. (2010) apontam a necessidade de reverter o quadro de motivações para o
ingresso dos profissionais de psicologia, de maneira a referendar um efetivo desejo de participação,
compromisso e transformação social.
Ou seja, temos muito a fazer de maneira a levar a proposta do SUS à atenção dos formadores em
cursos de graduação, clínicas escolas e supervisão de estágios. Para que a saúde da população
seja, de fato, uma prioridade, temos que batalhar para que o ingresso de psicólogos em serviços de
saúde deixe de ser uma opção paliativa diante do desejo da prática terapêutica em consultório, ou em
cargos sedutores da área de recursos humanos de empresas (Spink et al., 2010, p.78).
Ainda em relação aos dados da pesquisa referida, levantados a partir do Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde (CNES) e do sistema de Conselhos de Psicologia, tem-se que 14.407
profissionais de Psicologia encontravam-se inseridos na rede SUS, com uma média nacional de
10,08% do número total de psicólogos que possuem algum vínculo com o setor público de saúde. A
partir de tais dados é possível afirmar que o SUS representa uma parcela do mercado de trabalho
importante, que absorve um número significativo de profissionais formados e em atividade.
Uma inserção mais efetiva dos psicólogos no SUS, acompanhada de uma demarcação clara do
espaço, por sua vez, engloba ações e transformações por parte da categoria nos mais diversos
serviços e estabelecimentos de saúde. Mudanças que precisam atravessar a própria hierarquização
típica dos serviços de saúde (Atenção Primária, Secundária e Terciária) e suas necessidades
normatizadas segundo o perfil epidemiológico da população e o saber técnico dos especialistas. O
que na Atenção Primária, por exemplo, implica na necessidade de uma oferta de psicoterapia
individual ou grupal que não seja distanciada do profissional que solicitou o atendimento nem muito
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PSICOLOGIA HOSPITALAR
Sendo assim, o que tem sido oferecido enquanto assistência psicológica, tal como palestras e grupos
na comunidade e em escolas, triagens e avaliações para encaminhamentos, grupos de orientação em
Unidades Básicas de Saúde, plantões e terapias breves, psicoterapias individuais e grupos
terapêuticos, precisa ser reorientado na direção da integralidade do sujeito, que se encontra inserido
em um território de vida, imerso em relações e conflitos particulares, além de assistido por uma
equipe multidisciplinar que precisa funcionar como tal.
Por fim, outra análise da pesquisa referida anteriormente, apresentou a distribuição de psicólogos
inseridos na rede SUS, segundo o tipo de estabelecimento, e sinalizou que o Hospital Geral,
encontrava-se no quarto maior percentual (9,89%) de psicólogos nos quadros profissionais das
instituições, estando abaixo apenas das unidades básicas de saúde (39,35%), Ambulatório
especializado (12,37%) e CAPS (11,33%). Tais dados, portanto, sinalizam a representatividade de tal
instituição quando se considera o cenário de atuação do psicólogo na rede pública de saúde.
Segundo Chiattone (2002), a necessidade de responder às lacunas do modelo biomédico pode ser
considerada como um aspecto que circunscreve expectativas em relação ao profissional de
psicologia. Tais expectativas, por sua vez, tendem a se dirigir à busca pela facilitação do atendimento
médico e dos processos de trabalho da equipe, podendo entrar em contradição com as necessidades
do sujeito enfermo, sua família e entorno. Por outro lado, esta mesma autora ressalta que a literatura
da área aponta os prejuízos em relação à qualidade da assistência psicológica prestada, decorrentes
da atuação profissional, a partir de uma transposição acrítica do saber psicológico, próprio do modelo
psicoterápico. Do mesmo modo, a fragmentação da própria disciplina psicológica, que não se
constitui em um campo estruturado de conhecimento, por apresentar variabilidade de objeto e de
orientações teórico-metodológicas, também apresenta-se como um elemento que dificulta o
desenvolvimento de um arcabouço teórico-prático da psicologia hospitalar.
Entretanto, autores outros, como Simoneti (2004), defendem exatamente o suposto status à
psicologia hospitalar, afirmando que esta deve ser compreendida enquanto campo específico de
entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento, não se restringindo
apenas às causas psicológicas, mas considerando a subjetividade em torno da doença, e não apenas
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a cura no sentido biomédico. O referido autor defende também que o objeto de trabalho da psicologia
hospitalar não se limita à dor do paciente, mas inclui a angústia declarada da família e a angústia
disfarçada, e geralmente negada, da equipe de saúde. Para além destas manifestações em nível
individual, a prática do psicólogo no contexto hospitalar contempla, sobretudo, as relações entre tais
sujeitos e a construção coletiva do conjunto de sentidos acerca da doença.
De modo semelhante, Chiattone (2002) considera a psicologia hospitalar como uma prática que se
caracteriza por apresentar a particularidade do estabelecimento da ligação entre a medicina e a
ciência psicológica, e por abranger a tríade paciente, família e equipe de saúde, sendo norteada pelo
fundamento do saber biopsicossocial, pela atuação interdisciplinar e pela humanização da
assistência.
A partir de publicações científicas, torna-se possível afirmar sobre uma certa variação entre os
objetivos propostos pela intervenção psicológica e os recursos terapêuticos utilizados, que se
relaciona com a abordagem adotada pelos profissionais, bem como com a tendência a sua
vinculação com o arcabouço teórico-metodológico da clínica (Barbosa & Pegoraro, 2008; Yamada &
Bevilacqua, 2005). No entanto, um aspecto que atravessava tais produções científicas sobre práticas
psicológicas no contexto do hospital geral é o ordenamento e estabelecimento de objetivos e ações
em função das etapas do tratamento médico de uma sintomatologia específica. Sendo assim, torna-
se possível identificar um discurso psicológico centrado na doença, no acometimento e na
experiência aguda do adoecer, que talvez desconsidera o processo mais amplo da dinâmica saúde-
doença e dos contextos de produção desta. Neste sentido, tal aspecto pode ser relacionado às
discussões anteriores, referentes à formação do profissional de saúde em geral, e do psicólogo em
especial, à predominância do molde flexineriano e do modelo clínico biomédico nas instituições
formadoras e práticas profissionais.
Em consonância com o exposto, no que diz respeito a uma atuação psicológica no contexto
hospitalar pautada em modelos e fundamentos teórico-metodológicos clínicos, Maia, Silva, Martins e
Sebastiani (2005) discutem a respeito do descompasso existente entre o desenvolvimento inicial das
novas práticas psicológicas no âmbito da Saúde-hospitalar e o processo de construção de um
referencial teórico-prático pelas agências formadoras. A partir de dados obtidos através de um
mapeamento da realidade do profissional de psicologia, que considerava áreas de formação e
atuação, os autores apontam a linha tênue estabelecida entre psicologia clínica e psicologia
hospitalar, a carência de instrumental teórico-metodológico específico e a tendência dos profissionais
de fazerem uso de modelos já estabelecidos, tais como a Psicologia Clínica, a Medicina
Psicossomática e a Medicina Conductual.
Yamamoto e Cunha (1998), por sua vez, ao investigarem a atuação de psicólogos no contexto
hospitalar, também ressaltaram a deficiência na formação para o exercício profissional na área, a
necessidade de superação do modelo clínico tradicional e as exigências para uma inserção
consistente no campo da saúde pública. No que diz respeito à deficiência na formação acadêmica, os
resultados apontaram não apenas a predominância do modelo clínico tradicional, como a ausência de
um treinamento teórico-técnico e a carência de incentivo ao desenvolvimento da capacidade reflexiva
e crítica sobre os diversos contextos de intervenção, ultrapassando a mera difusão do conhecimento
psicológico. Ademais, o estudo apontou inconsistências que perpassam não somente aspectos
teórico-metodológicos desde a formação, mas também indefinições no próprio campo de atuação,
refletidas na identidade apresentada pelos profissionais entrevistados e nos objetivos da atuação
psicológica, explicitados de forma genérica, com carência de especificações e delimitações mais
claras, precisas e operacionais.
Por outro lado, quando se discute o reflexo de tais deficiências na formação e a ausência de um
arsenal teórico-metodológico específico por parte da psicologia hospitalar na atuação do profissional
de psicologia na saúde pública brasileira, alguns estudos (Setúbal, 2009; Tonetto & Gomes, 2007,
dentre outros), também focalizam a qualidade do processo de inserção do psicólogo em equipes
multiprofissionais e apontam possíveis facilitadores e entraves deste.
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PSICOLOGIA HOSPITALAR
teórico das intervenções psicológicas propostas. Além disso, tornou-se evidente o quanto a
intervenção psicológica frente à equipe fomentou a integração dos diferentes saberes e práticas,
favorecendo um compartilhamento de concepções e objetivos dentro da equipe e, em consequência,
a construção de um “fazer comum” que contribui para a inserção e a conquista do espaço da
psicologia.
Neste sentido, Tonetto e Gomes (2007) destacam que uma prática competente, circunscrita por
atribuições definidas com clareza e objetividade e participação ativa do profissional nos processos de
interação da equipe, são aspectos que devem ser tidos como desafios para os psicólogos inseridos
no contexto hospitalar, na direção da delimitação do espaço psicológico em tal instituição. Ao explorar
interações estabelecidas entre profissionais de psicologia e enfermagem em uma instituição
hospitalar, os autores identificaram aspectos que poderiam estar comprometendo uma ação
multidisciplinar efetiva e uma inserção do psicólogo mais eficaz, tais como: o poder hierárquico e a
visão reducionista do médico; a inconsistência ou falta de clareza e objetividade por parte dos
psicólogos para justificar a pertinência de suas intervenções; o foco na doença em si mesma por
parte dos profissionais de psicologia; e as consequentes limitações em direção a uma visão mais
integrada do processo saúde-doença.
Além disso, neste mesmo estudo também se fez evidente a demanda da própria equipe de saúde na
direção da instrumentalização desta, por parte dos psicólogos, para uma compreensão mais ampliada
do processo saúde-doença, como algo que favoreceria a potencialização da assistência prestada.
Isto porque, quando se consideraram os dados relativos às expectativas dos profissionais de
enfermagem diante da atuação do psicólogo, foram mencionados aspectos tais como: assessoria na
definição de condutas no tratamento, através de esclarecimentos das interferências dos aspectos
emocionais na evolução do quadro clínico dos pacientes; promoção da qualificação da equipe para
tomada de decisões mais condizentes com as necessidades dos pacientes; e, em consequência, o
desenvolvimento da autonomia da equipe em situações de ausência do profissional de psicologia.
A partir dos tópicos levantados, defende-se, portanto, que o profissional de psicologia tenha uma
atuação que extrapola a abordagem ao paciente e sua família e que pressupõe uma intervenção
conjunta com demais profissionais de saúde, a partir do compartilhamento do saber psi sobre o
fenômeno do adoecer e da hospitalização. Entretanto, tal prática e posicionamento do psicólogo
diante da equipe e da sua própria intervenção, exige deste uma aprendizagem prévia e um exercício
constante acerca de processos de trabalho em equipes multiprofissionais, bem como em relação à
capacidade reflexiva e crítica frente à sua prática profissional. Para tanto, a integração docente-
assistencial apresenta-se como um indicativo de mecanismo fundamental para a formação de
psicólogos comprometidos com a realidade do Sistema Único de Saúde, de forma reflexiva, crítica,
preventiva e atuante.
Somada a tal imersão no SUS promovida pela reaproximação entre rede assistencial e academia, a
interlocução entre o campo da educação e da política na formação de novos profissionais faz com
que estes se tornem potenciais atores de transformação social no cenário da Saúde Pública
Brasileira. Transformação esta que implica na superação de concepções arcaicas do fazer psi na
assistência em saúde, dissonantes com demandas epidemiológicas, sociais e econômicas há muito
instituídas, que não foram acompanhadas por mudanças na estrutura curricular do ensino superior. E,
do mesmo modo, exige rompimento e subversão do próprio modelo biomédico, que atravessado por
lacunas teórico-metodológicas, propiciou a entrada da psicologia na instituição hospitalar.
Desta maneira, torna-se possível considerar que dentre a classe de psicólogos, em formação ou
atuantes nos serviços de saúde, aqueles inseridos em instituições públicas hospitalares, as quais
historicamente se constituíram e se legitimaram sob a égide do poder e saber médicos, apresentam o
maior dos desafios na direção do exercício do compromisso social e político da categoria profissional.
E assim, poder fazer do contexto hospitalar um espaço profícuo para transformações marginais de
práticas em saúde com ressonâncias e repercussões futuras de maiores amplitudes no cenário do
Sistema Único de Saúde.
A Morte
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Desde os primórdios da civilização, a morte é um tema que por um lado fascina e por outro aterroriza
a humanidade. O fato mais desconcertante é que a morte é um lugar inacessível aos que estão vivos,
e sobre ela, tanto doutrinas filosóficas quanto religiosas vem debruçando-se em reflexões, na
tentativa de explicar, clarear, e entender seu objetivo.
Cada cultura interpreta a morte de forma particular, e seus membros tentam perpetuar interpretações,
veiculadas de formas diversas, de geração em geração. Na construção da tradição cultural, morte e
nascimento representam assuntos de relevância primordial, fundamentais para a formação da
identidade de cada grupo social.
Os diversos tipos de rituais fúnebres apresentam, em cada cultura, representações simbólicas que
intentam auxiliar o processo de elaboração do luto pela perda do sujeito. As celebrações se
apresentam como forma de juntar os indivíduos, no sentido de tentar uma reorganização social,
abalada pela entrada da morte no cenário da vida em comunidade.
Quanto maior o perigo de desorganização individual ou coletiva a morte representar em uma cultura,
mais esforços egóicos serão intentados no sentido de afastar o impacto da morte sobre a estrutura
fragilizada na qual ela incide. Assim, diferentes mecanismos de defesa do ego podem ser utilizados
para neutralizar, ou ao menos minimizar ansiedades e angústias que ponham em perigo a
homeostase interna do coletivo ou do indivíduo.
De acordo com Kovács (1992), a consciência da própria morte é fator determinante para a
constituição dos seres humanos, sendo que estes são influenciados por essa consciência objetiva. A
morte se faz presente no cotidiano, é concreta, e inexorável. Porém, o homem também é constituído
por uma subjetividade que busca a imortalidade, sendo a morte encarada como a maior inimiga que
precisa ser combatida. A finitude representa uma variante essencial na experiência humana.
Entretanto, a forma como é representada é relativa, pois as relações do homem se alteram pela
maneira como ela o atinge, dado que as diversas representações de morte estão atreladas ao
contexto cultural do sujeito em questão. Sabe-se que a religião tem o papel de socializar e dirigir os
ritos de morte, como forma de lidar com o temor à ela.
Kubler-Ross (2005) lembra que os hebreus consideravam o corpo do morto como impuro, e devido a
esta crença, não deveria ser tocado. Os antigos índios americanos falavam dos espíritos do mal,e
atiravam flechas ao ar para afugentá-los. Muitas culturas possuem rituais para cuidar da pessoa “má”
que morre, os quais se originam deste sentimento de raiva latente no ser humano. A autora cita esses
exemplos para ressaltar que o homem, basicamente, não mudou. A morte constitui ainda um
acontecimento medonho, pavoroso, um medo considerado universal, mesmo sabendo que se pode
dominá-lo em vários níveis. Segundo a mesma autora, o que mudou foi o modo de conviver e lidar
com a morte, com o morrer e com os pacientes moribundos. Ressalta ainda que o fato de se permitir
que as crianças continuem em casa, onde ocorreu uma desgraça, e participem da conversa,
discussões e dos temores, faz com que não se sintam sozinhas na dor, dando-lhes o conforto de uma
responsabilidade e luto compartilhados. É uma forma de preparação gradual, um incentivo para que
encarem a morte como parte da vida, uma experiência que pode ajudá-las a crescer e amadurecer.
Esta atitude se opõe à de uma sociedade em que a morte é encarada como tabu, onde os debates
sobre ela são considerados mórbidos, impróprios, e as crianças, em sua maioria, são afastadas da
convivência com esta temática, considerando-se este afastamento uma proteção.
Segundo Kubler-Ross (2005), existem muitas razões para se fugir do contato com a morte. Para ela,
uma das mais importantes é que, atualmente morrer é triste demais sob vários aspectos, sobretudo
muito solitário, mecânico e desumano.
O Paciente Terminal
De acordo com Gutirrez (2001) a elaboração de um conceito para paciente terminal écomplexa. Isto
se deve ao fato de existirem diversas avaliações consesuais, de diferentes profissionais, e por haver
uma dificuldade maior em reconhecer tal paciente do que objetivá-lo. Entretanto, destaca o autor que
tais dificuldades não devem comprometer o benefício que pacientes, família e profissionais da área
da saúde possam ter no reconhecimento desta condição.
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chegar a identificar este diagnóstico através de uma avaliação crítica, neutra e extinta de
preconceitos, a falta de parâmetros definitivos sobre o assunto leva a equipe de saúde a apresentar
receio de considerar um paciente como terminal. Isso se deve ao fato de que o limite entre o terminal
e o paciente com perspectivas de cura é sempre arbitrário no sentido de não existir uma linha
divisória, bem definida, entre ambos (Quintana, Kegler, Santos, Lima, 2006).
É importante destacar que tanto o estudante de medicina, quanto o de enfermagem, são “moldados”
a considerar a morte como “o maior dos adversários”, sendo o dever de tais profissionais cambatê-la,
utilizando-se de todos os inacreditáveis recursos tecnológicos e científicos, além de busca da melhor
competência disponível. Contudo, a equipe de saúde já entra na luta com o ônus de derrota, pois
esquece que a morte é maior e mais evidente do que todo tecnicismo do saber médico. Estar na
condição de lutar é uma tarefa exaustiva, em que as derrotas acontecem. No entanto, parece que
admitir que não se tenha nada mais para fazer pelo paciente, poderia geram uma imagem negativa
do profissional, mostrando, erroneamente, que ele não se preocupa com o paciente (Quintana,
Kegler, Santos, Lima, 2006).
É possível perceber que o procedimento descrito no parágrafo acima é utilizado como um mecanismo
de “formação reativa” frente ao desejo de se afastar e de ignorar o paciente (fonte geradora de
ansiedade). Mediante isso, a equipe de saúde esconde seu desejo de uma luta para mantê-lo vivo, o
que por sua vez, o coloca também numa prisão, amarrando-o à uma situação de desnecessário
sofrimento. Assim, nessa guerra imaginária que a equipe procura vencer a morte, o paciente terminal
passa a ser visto como o símbolo vivo de uma derrota, expondo assim, uma ferida narcísica frente à
prepotência médica.
É observado no trabalho de Quintana, Kegler, Santos, Lima (2005) que nos casos com prognóstico
desfavorável, é comum que se estabeleça uma aliança entre a família e o profissional de saúde no
que se refere à restrição da informação ao paciente. Sendo que o compromisso de comunicar o
diagnóstico cabe ao profissional, a negativa da família de repassar essa notícia ao doente constitui-se
num alívio para aquele que passa a ser dispensado de uma tarefa para a qual não se sente
capacitado.
A aliança com a família éapontada como o primeiro passo no trabalho com o paciente. De fato, ela
éde grande relevância para o tratamento ao permitir que a equipe e familiares trabalhem juntos
objetivando, cada um em seu lugar, o melhor para o enfermo, mas muitas vezes essa aliança adquire
um viés em que o paciente fica excluído das decisões. A equipe de saúde e o familiar tornam-se
cúmplices de um mesmo segredo em relação a ele. É nesse sentido que se crê que a escolha de se
comunicar com o familiar seja motivada pela dificuldade da equipe em lidar com a morte e, portanto,
com o paciente terminal. Assim, é passada uma informação filtrada através da qual se espera que ele
pense aquilo que a equipe avalia como benefício. Esse deslocamento da problemática faz com que o
profissional sinta-se liberado de sua responsabilidade de se deparar com o paciente, durante este
difícil momento (Quintana, Kegler, Santos, Lima, 2006).
Os autores concluem que os pacientes de médicos que não querem falar sobre o diagnóstico, tendem
a não perguntar, ou seja, os doentes cujos médicos tem mais resistência em abordar o diagnóstico de
uma doença terminal, tem a tendência a também não questionar sobre seu estado.
Para Simonotte (2004) ainda não há muito o que fazer pelo paciente dito terminal. Do ponto de vista
psicológico, o estímulo para mecanismos de enfrentamento, que o paciente pode ter desenvolvido e
utilizado em outras situações difícieis em sua vida, são fundamentais para manter a autoestima e
certa estabilidade emocional. Respeitar e estimular a relação que este e seus familiares tem com
religião e espiritualidade podem ser essenciais para a experiência paliativa.
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Ainda segundo o mesmo autor acima citado, não existe um projeto da psicologia hospitalar para que
o paciente “morra feliz”, porém existe uma priorização para a promoção, através de cuidados
fornecidos pela equipe, para que haja uma morte digna, que pode se traduzir em morrer sem muita
dor e com níveis de angústia suportáveis. É importante que se mantenha o paciente limpo apesar de
apresentar incontinência esfincteriana, neutralizar odores desagradáveis, aspirar secreções
brônquicas, controlar edemas perifericos e pulmonar, prevenir e/ou cuidar das escaras (tão comuns
em pacientes acamados) entre outros cuidados que podem ser demandados.
Segundo Caixeta (2005) se existir desde o início do tratamento uma relação médico-paciente sincera,
no lugar de uma atitude de negação, mais facilmente ambas as partes podem sentir menos
dificuldade em encarar a fase de terminalidade. Nesta fase, o doente deseja frequentemente colocar
em ordem sua vida, reatar, se preciso, laços com familiares da melhor forma possível, sem conflitos.
Quer deixar uma boa imagem antes de morrer e para isso muitas vezes pede auxílio ao médico (e/ou
a equipe), o que fica complicado quando há uma relação onde é priorizada a atitude de denegação.
Atitudes como cuidados constantes, combate da dor, arealizadas paor alguns profissionais de saúde,
provam ao paciente que não há abandono nesta fase, pois o individuo em tal condição, receia
geralmente mais a solidão do que a morte.
Já éde conhecimento bastante amplo a obra de Kubler-Ross (2005), sobre os estágios pelos quais
passam pacientes, ao tomarem conhecimento da fase terminal de sua doença. Muitos reagem,
inicialmente, com negação. A negação, ou pelo menos a negação parcial, é usada por quase todos
os pacientes, nos primeiros estágios da doença ou logo após sua constatação, ou até mesmo, em
uma fase posterior.
A negação inicial pode, em muitos casos, auxiliar alguns pacientes a se preparar para considerar a
possibilidade da própria morte, deixando de lado esta realidade, por algum tempo, para terem força e
motivação para lutarem pela vida. Este mecanismo de defesa contra a ansiedade frente ao confronto
com a inexorabilidade existencial pode ser ruim para o prognóstico do paciente, nos casos em que o
afastam da busca de auxílio profissional para lidar com a doença. Nestes casos, o diagnóstico
desfavorável pode ameaçar tanto a estrutura do ego deste indivíduo que ele precisa afastar de sua
cognição, completamente, este fato que lhe assusta, em prol da sobrevivência de sua estrutura
interna, colaborando, muitas vezes, com o agravamento de sua condição física, por falta dos
cuidados médicos necessários.
Frente ao risco de morte, a negação desta realidade pode se apresentar, e não é incomum que isto
ocorra no começo de uma doença séria, mais até do que no fim da vida. O tempo de permanência no
estágio de negação do risco da morte, dependerá de diversos fatores, incluindo: estrutura de
personalidade, apoio familiar, apoio social, tipo de cultura, idade, forma de comunicação do
diagnóstico, etc.
Outra forma de reação, ressaltada pela autora supracitada, é representada por sentimentos de raiva,
revolta, inveja e ressentimento.
É muito difícil, do ponto de vista da família e da equipe de saúde, lidar com o este tipo de reação.
Deve-se isso ao fato dela se propagar em todas as direções, e projetar-se no ambiente, muitas vezes
sem razão compreensível. Muitas vezes as enfermeiras são alvo constante da raiva destes pacientes,
pelo fato de estarem mais próximas, no seu dia a dia, do que qualquer outra pessoa: médico, familiar,
amigos etc.
Muitas vezes os familiares, amigos e até a equipe de saúde não entendem o motivo da raiva do
paciente. Entretanto, basta colocarem-se no lugar do enfermo para facilmente entenderem de onde
pode vir esta raiva. Muitas vezes este sentimento se origina como reação à interrupção prematura de
atividades existenciais; de construções começadas que ficarão inacabadas; sonhos que se
esperavam realizar; objetivos que ainda se esperavam alcançar. Desta forma, revolta,
ressentimentos, podem ser extravasados através de expressão de raiva, muitas vezes justamente
naqueles que continuarão a desfrutar de tudo isso, que lhe será retirado!
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que se encontra. O importante, neste momento, é analisar o motivo da raiva do paciente e não
assumir em termos pessoais quando, na sua origem, nada ou pouco tem a ver com as pessoas em
quem é descarregada. De pouco adianta a família ou os enfermeiros reagirem pessoalmente a esta
raiva, muito menos retribuírem com uma raiva ainda maior, dado que só contribuirá para alimentar o
comportamento hostil do paciente, assim como sua dor, desespero e desorganização interna.
A barganha, outro dos estágios comuns nos pacientes sem perspectiva de cura, se traduz pela
tentativa do paciente fazer algum tipo de acordo interno, com o propósito de adiar o desfecho
inevitável. “Se Deus decidiu levar-me deste mundo e não atendeu a meus apelos cheios de ira, talvez
seja mais condescendente se eu apelar com calma.” (Kubler-Ross, 2005, p. 87)
Aa barganha na realidade, é uma tentativa de adiamento; tenta incluir um prêmio oferecido “por bom
comportamento”, estabelecendo uma “meta” auto imposta, incluindo uma promessa implícita de que o
paciente não pedirá outro adiamento, caso o primeiro seja concedido. Percebe-se que a maioria das
barganhas é feita com Deus e, mantida geralmente em segredo, e, em troca, almeja-se um pouco
mais de tempo de vida.
Para Kubler-Ross (2005), quando o paciente em fase terminal não pode mais negar sua doença,
quando é forçado a submeter-se a mais uma cirurgia ou hospitalização, quando começa a apresentar
novos sintomas e tornar-se mais debilitado, não consegue mais esconder de si a doença. Seu
afastamento, sua revolta e raiva darão lugar a um sentimento de grande perda, que poderá ter como
consequência, a depressão.
A aceitação é o estágio atingido por aqueles pacientes que tiveram tempo necessário (que não
tiveram morte súbita ou inesperada), e/ou tiveram recebido alguma ajuda para superar tudo que foi
descrito anteriormente. O paciente atingirá um estágio em que não mais sentirá depressão nem raiva
quanto ao seu “doloroso destino”. Terá podido externar seus sentimentos, sua inveja pelos vivos e
sadios, e sua raiva por aqueles que não são obrigados a enfrentar a morte neste momento em que
ele o está.
Não épara se confundir aceitação com um estágio de felicidade. É como se a dor tivesse esvanecido,
a luta tivesse cessado e fosse chegado o momento do “repouso derradeiro antes da longa viagem”. A
família nesse momento, sem dúvida alguma, necessita também de um suporte, pois à medida que o
paciente, às vésperas da morte, encontra uma certa paz e aceitação, seu círculo de interesse diminui.
Com isso, muitas vezes este prefere que o deixem só, ou, pelo menos, que não o perturbem com
notícias e problemas do mundo exterior, fazendo a família sentir-se aflita com este seu afastamento,
e sem saber como lidar com este comportamento.
Segundo Kubler-Ross (2005), há alguns pacientes que lutam até o fim, que se debatem e se agarram
à esperança, dificultando atingir este estágio de aceitação. A família e a equipe de saúde podem
achar que esses pacientes são resistentes e fortes, e encorajá-los na luta pela vida até o fim,
deixando transparecer que aceitar o próprio fim é uma entrega covarde, uma decepção ou, pior ainda,
uma rejeição à família.
Esperança
É a que geralmente persiste, em todos estes estágios. O que sustenta psicologicamente os pacientes
através dos dias, das semanas ou dos meses que precedem a morte, é ter alguma esperança. É a
sensação de que tudo deve ter algum sentindo, que pode compensar, caso suportem por mais algum
tempo. “É a esperança de que tudo isto não passe de um pesadelo irreal; de que acorde uma manhã
com notícia de que os médicos estão prontos para tentar um novo medicamento que parece
promissor e que vão testar nele.” (Kubler-Ross, 2005, p. 144).
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Esse sentimento proporciona aos doentes, em fase terminal, um senso de missão especial, que os
ajuda a erguer o ânimo e suportem a mais exames, quando tudo se torna penoso. Para outros
continua sendo uma forma de negação temporária, mas necessária.
Contudo, é importante ressaltar que não se deve “desistir” de nenhum paciente, esteja ou não ele em
fase terminal. Quem está fora do alcance da ajuda médica merece maiores cuidados do que aqueles
que ainda podem esperar. Desistir de um paciente pode fazer com que ele se entregue, e mais
rapidamente encontre a morte. Não desistir dele, poderá fazer com que este paciente guarde um fio
de esperança, e continuar vendo em seu médico um amigo que ficará a seu lado até o fim. Esta
atitude pode auxiliar ao paciente não se sentir abandonado nem desprezado, quando o médico o
considerar fora de qualquer possibilidade de cura.
Angerami-Camon (2004) ao focar sobre a temática dos aspectos terapêuticos inerentes ao paciente
terminal, depara-se inicialmente com implicações existentes na sociedade, bem como no contexto
hospitalar, que incidem sobre ele. Numa sociedade em que a pessoa é explorada mercantilmente, a
perda da capacidade produtiva fará com que o “desamparo social” seja sentido com mais intensidade.
O (quase) total abandono a que se encontram entregues os inválidos, de maneira de geral, leva o
paciente terminal, muitas vezes, a desesperar-se diante da realidade que se lhe apresenta.
Existem diferentes dificuldades internas da equipe de saúde, em relação aos enfermos pelos quais se
acredita "já não existir mais qualquer manobra curativa a ser realizada ". Entende-se que, na medida
em que a equipe não consegue expressara claramente seus sentimentos sobre esses pacientes,
também não sente-se apta a dar ouvidos ao que os terminais têm a dizer. Trata-se de uma atitude de
defesa, assumida de diferentes formas, e, pode acarretar a condenação a uma morte social
prematura, para os pacientes fora de condições curativas.
A dificuldade de estabelecer um diálogo com o paciente sem perspectivas de cura se inicia na própria
comunicação do diagnóstico. Neste delicado momento é comum a ocultação de informações mais
precisas, geralmente sustentada pelo argumento de que essa notícia poderia levar o paciente à
depressão, gerando, muitas vezes, um agravamento da doença. No entanto, sob esse manto de
proteção, podem estar encobertas dificuldades do profissional da saúde, que receia que a
comunicação de um diagnóstico desfavorável diminua a admiração que recebe do enfermo e,
principalmente, leve-o a se envolver no sofrimento que essas situações inexoravelmente apresentam
A falta a de informação sobre o psiquismo humano não favorece a habilidade de médicos em lidar
com o sofrimento humano, tão importante num momento como este.
Alguns escolhem comunicar as notícias mais difíceis aos parentes, mas não ao paciente, para evitar
contato com eventual crise emocional deste. Outros são sensíveis, e melhores preparados
emocionalmente para lidar com as necessidades emocionais de suas pacientes, e obtêm êxito ao
transmitir-lhes a existência de uma doença séria, sem lhes tirar esperança.
Trindade, Azambuja, Andrade e Garrafa (2007), relatam que, apesar de alguns médicos ainda não
terem o hábito de informar o diagnóstico aos seus pacientes terminais, costumam fazê-lo nos
seguintes casos: quando o paciente pergunta diretamente sobre sua condição, quando os médicos
percebem que o paciente tem condições emocionais de receber as informações, quando a terapia
não está surtindo efeito, quando o paciente se encontra sintomático e/ou quando decisões sobre o
tratamento devem ser tomadas.
A própria legislação, no artigo 59 do Código de Ética Médica brasileiro proíbe o profissional “Deixar
de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e objetivos do tratamento, salvo
quando a comunicação direta ao mesmo possa provocar-lhe dano, devendo, neste caso a
comunicação ser feita ao seu responsável legal.” (Código de Ética Médica, 1988, p. 7).
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Se for decidido contar ao paciente as condições em que se encontra seu estado de saúde, é
importante comunicar junto, que nem tudo está perdido; que não se vai abandoná-lo por causa de um
diagnóstico; que é uma batalha que têm de travar juntos - paciente, família e médico -, não
importando o resultado final. Desta forma, este doente não temerá isolamento, abandono, rejeição, e
continuará confiando na honestidade de seu médico, certo de que, se algo houver a ser feito, é juntos
que farão. Esta aproximação é reconfortante, inclusive para a família, que, se acha muito impotente
diante dessas situações. Todos dependem do conforto verbal do médico, pois sentem-se encorajados
ao saber que se fará todo o possível, se não for para prolongar a vida, ao menos para aliviar o
sofrimento.
Segundo Quintana, Kegler, Santos e Lima (2006), o despreparo da equipe de saúde para lidar com
situações de terminalidade tem duas consequências para os profissionais. A primeira representa a
sensação de fracasso do que seria a sua missão: curar o doente, do qual decorre o abandono do
paciente a seu próprio destino. A segunda consequência se manifesta no afastamento que impede o
profissional de conhecer o universo desse paciente, suas queixas, suas esperanças e
desesperanças, em suma, tudo o que ele sente e pensa nesse período de sua vida e cujo
conhecimento o ajudaria a se aproximar do terminal.
Deve-se considerar aqui o fato de que o grande crescimento da tecnologia na área de saúde e a
crescente dependência da equipe em relação à mesma podem aumentar a distância entre o
profissional e o paciente agonizante, permitindo, simultaneamente, o aumento do controle sobre o
tempo e as circunstâncias da morte. Antes do surgimento de tamanha evolução tecnológica, os
médicos eram mediadores desse fenômeno natural. Nos dias de hoje, tais profissionais têm se
tornado árbitros de uma existência artificial, sendo nomeada tal transformação como “medicalização
da morte”.
Outro fator que contribui para o afastamento da equipe de saúde do paciente terminal, é a crença de
que o doente nada mais pode fazer do que esperar sua morte. Porém, sabe-se que quando os
sintomas físicos e o sofrimento gerados pela doença estão controlados, o paciente consegue dirigir
suas preocupações para aspectos psicológicos e pode encontrar, assim, novos significados para sua
vida, pois ainda existem diversas preocupações a serem levantadas e trabalhadas com tais pacientes
que surgem justamente em decorrência de tal vivência, e além desta. Rever a vida, resolver conflitos
pendentes, bem como se preocupar com a situação da família após sua morte, são assuntos
recorrentes em muitos pacientes terminais.
Outro fato que pode influenciar na dificuldade comunicacional de tal profissional está estreitamente
ligada ao despreparo para lidar com a morte. Este despreparo se vincula ao papel da equipe de
saúde na sociedade, que é visto como o encarregado de diagnosticar o mal e erradicá-lo. Isso fica
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mais evidente em relação ao profissional de medicina, pois, quando mais clara sua impotência para
manter a vida do seu paciente, maior pode ser sua resistência em relação à morte.
De acordo com Crecencio (2007), o conceito de cuidados paliativos envolve cuidados ativos e totais
do paciente para o qual não existem mais possibilidades de cura. É uma abordagem de cuidados
diferenciados que foca na melhora da qualidade de vida deste paciente até sua morte, através de
medidas que servem para sanar dor e sintomas, além de proporcionar suporte psicossocial.
Na área de cuidados paliativos existem estudos e práticas que têm como objetivo resgatar a
dignidade do paciente respeitando a sua autonomia e priorizando o princípio da não-maleficência
como forma de evitar a “obstinação terapêutica”. Percebe-se então, que uma aproximação ao
significado que a fase terminal da vida tem para os profissionais que dela se ocupam, é uma
ferramenta importante para permitir à equipe de saúde melhor aproximação destes pacientes
(Quintana, Kegler, Santos, Lima, 2006).
Estes autores destacam que com tal aproximação, se obteria um benefício duplo: por um lado para os
pacientes seria proveitoso, pois, na medida em que a equipe não mais o excluísse e pudesse dele se
aproximar, sem receio de escutar suas preocupações, estaria colaborando para sua saúde mental e,
consequentemente, produziria efeitos positivos em relação a sintomas físicos como dores e falta de
energia. Por outro lado, tal aproximação seria benéfica para os próprios profissionais de saúde,
libertando-os da culpa pelo abandono a que se submeteram seu paciente e proporcionando-lhes o
conforto de saber que ajudaram o doente a enfrentar uma das fases mais difíceis da vida.
O grupo familiar éum todo organizado, e desta forma, quando um componente adoece, outros
adoecerão também. Portanto, há uma desestruturação do desenho familiar, onde os papéis de cada
indivíduo dessa família terão que se reorganizar. Se por exemplo, o homem da família adoecer, pode
haver mudanças sutis ou dramáticas na família e na atmosfera do lar, provocando também reações
nas crianças, aumentando assim os encargos e a responsabilidade da mãe. De uma hora para outra,
ela se vê frente à realidade de ser uma mãe solitária, com responsabilidades antes repartidas com
seu cônjuge.
Se não se levar em conta a família do paciente em fase terminal, não se pode ajudá-los eficazmente.
No processo da doença, os familiares desempenham papel preponderante, e suas reações muito
contribuem para a própria reação do paciente.
Deve-se ter cuidado ao exigir a presença constante de qualquer um dos membros da família. Assim
como qualquer pessoa tem necessidade de espairecer, os familiares também têm, de querer em
algum momento sair do quarto do doente e, de vez em quando, viver uma vida normal. Não se pode
ser eficiente com a constante presença da doença.
É importante que tanto a família quanto o paciente, percebam que a doença não desequilibrou
totalmente o lar, nem privou os familiares de momentos de lazer. Desta forma, a doença pode permitir
que o lar se adapte e se transforme gradativamente, preparando-se para quando o doente não mais
estiver presente.
Da mesma forma que o paciente em fase terminal não suporta encarar a morte o tempo todo, o
membro da família não pode, nem deve excluir todas as outras relações para ficar exclusivamente ao
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Normalmente, quem recebe a notícia sobre a gravidade de uma doença é a esposa ou o marido.
Cabe a eles a decisão de compartilhar a enfermidade com o doente, ou encontrar o momento para
contar a ele e aos outros membros da família. Em geral, cabe a eles também decidir como e quando
informar aos filhos, tarefa muito difícil, sobretudo em se tratando de crianças pequenas.
No entanto, o paciente também pode ajudar seus familiares de várias formas. Uma delas é participar
naturalmente seus pensamentos e sentimentos aos membros da família, incentivando-os a proceder
da mesma forma.
Um dos sentimentos mais doloroso, quando se fala de morte, é a culpa. Quando uma doença é
diagnosticada como potencialmente fatal, não é raro os familiares se perguntarem se devem se
culpar por isto. “Se ao menos o tivesse mandando antes ao médico!” (Kubler-Ross, 2005, p. 167).
Falar nessas situações para não se sentirem culpados, não é suficiente. Normalmente, pode-se
descobrir a razão mais profunda desse sentimento de culpa ouvindo essas pessoas com cuidado e
atenção. É comum os parentes se culparem devido a ressentimentos verdadeiros para com o
enfermo grave.
Para Soares (2007), nas situações de terminalidade, os familiares de pacientes têm necessidades
específicas: estar próximo ao paciente; sentir-se útil para o paciente; ter consciência das
modificações do quadro clínico; compreender o que está sendo feito no cuidado e o motivo; ter
garantias do controle do sofrimento e da dor; estar seguro de que a decisão quanto a limitação do
tratamento curativo foi apropriada; poder expressar os seus sentimentos e angústias; se confrontado
e consolado e encontrar um significado para a morte do paciente.
Por esses motivos, seria interessante se os hospitais, nas unidades de terapia intensiva, tivessem um
espaço para acomodação dos familiares. Deveriam haver salas onde os pacientes pudessem sentar-
se, descansar, comer, compartilhar a solidão, e talvez se consolar mutuamente nos intermináveis
períodos de espera. Assistentes sociais e psicólogos deveriam estar disponíveis, com o tempo
suficiente para cada um, e os médicos e as enfermeiras deveriam visitar estas salas com frequência,
pondo-se à disposição para solucionar problemas e dúvidas relacionados a saúde dos pacientes.
Por isso, quanto mais os profissionais da área ajudarem os parentes a extravasar estas emoções
antes da morte de um ente querido, mais reconfortados se sentirão os familiares. Quanto mais
desabafar este pesar antes da morte, mais a suportará depois.
Quando a morte chega, a atenção e o cuidado com a família devem continuar. Deve-se deixar o
parente falar, chorar, desabafar, se necessário. Deve-se deixar que participe, converse, mas é
importante ficar à disposição. É longo o período de luto que tem pela frente, quando se teve
resolvidos os problemas com o parente falecido. É necessário ajuda e assistência desde a
confirmação de um chamado “diagnóstico desfavorável”, até os meses posteriores à morte de um
membro da família.
A ajuda mais significativa que os profissionais da saúde pode dar a qualquer parente, criança ou
adulto, é partilhar seus sentimentos antes que a morte chegue, deixando que enfrente estes
sentimentos, racionais ou não.
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Muitas vezes tem-se dito que não há o que fazer com o paciente terminal porque, na verdade, não se
consegue facilmente escutar sobre a morte, a real concretização da castração que o neurótico evita a
cada passo que há na vida. Negar atendimento, escuta, a um paciente assim seria mais um passo
em que se estaria evitando “dar de cara” coma própria castração. (Tourinho Moretto, 2005).
Por ter identificado neste trabalho, que grande parte das dificuldades de lidar com o paciente terminal
está relacionada à da equipe de saúde de se confrontar com a morte, recomenda-se um preparo das
mesmas através de grupos de discussão baseados na metodologia de Balint, ou seja, pressupõe a
discussão de casos para obter um melhor entendimento das questões emocionais que os médicos
encontram na sua prática diária como estratégia para diminuir a ansiedade da equipe. O
reconhecimento da transferência e contratransferência na relação médico-paciente-família pode
capacitar melhor a equipe de saúde a utilizar seu arsenal defensório de forma a lhe proporcionar
maior equilíbrio e segurança emocional neste momento difícil.
O objetivo desta metodologia é oferecer ao profissional, espaços para que a angústia e dor, frente à
situação de terminalidade de pacientes, sejam elaboradas e, assim, construir estratégias defensivas
que lhe ofereçam uma forma de trabalho em situações como esta.
Alguns temas sugeridos para manejo destes grupos são: quais sentimentos envolvidos em lidar com
um paciente terminal; sentimento de fracasso e impotência diante de um paciente sem cura;
comunicação do diagnóstico; lidar com as expectativas dos familiares; cuidados paliativos, etc.
O psicólogo atuará junto a estes profissionais como facilitador do fluxo dessas emoções e reflexões, e
sinalizando quando suas defesas se exacerbaram tanto, a ponto de alienarem-se de si mesmos, de
seus próprios sentimentos, favorecendo a compreensão de sua onipotência e potência real.
Além disto, a proposta do trabalho do psicólogo junto à equipe de saúde é auxiliar na capacitação
destes profissionais a lidar, de forma mais adequada, com fontes de tensão interna oriundas de sua
prática profissional, possibilitando a utilização de arsenal egóico defensório adaptativo que possibilite
retorno ao equilíbrio emocional, principalmente visando um estado de maior tranquilidade para lidar
com situações tão difíceis com a de terminalidade de pacientes, com também com o prazer do
exercício de sua maravilhosa profissão. Além desta árdua tarefa, o psicólogo também intenta
conseguir com que os profissionais da equipe de saúde possam estabelecer uma relação mais
saudável com os familiares e pacientes terminais, evitando que os sentimentos destes possam
interferir, de forma negativa, em sua estrutura emocional. Afinal, a saúde de sua estrutura emocional
é um fator preponderante do qual depende o êxito de sua atividade profissional.
b. Com a Família
O cuidado dos familiares éum das partes mais importantes do cuidado global dos pacientes
internados. A atuação do psicólogo deve se dar ao nível de comunicação, reforçando o trabalho
estrutural e de adaptação desses familiares ao enfrentamento da intensa crise que se apresenta, e
que lhes pode desestruturar. Nessa medida, a atuação deve se direcionar em nível de apoio,
atenção, compreensão, suporte ao tratamento, clarificação dos sentimentos e fortalecimento dos
vínculos familiares.
Dessa forma, o psicólogo tem como foco: auxiliar na reorganização egóica frente ao sofrimento;
facilitar e trabalhar medos, fantasias, angústias, ansiedades; enfrentamento da dor, sofrimento e
medo da morte do paciente; detectar e trabalhar focos de ansiedade, dúvidas; facilitar e incentivar
vínculo com a equipe de saúde; detectar e reforçar defesas egóicas adaptativas, etc. Também
importante é o trabalho do psicólogo na facilitação da comunicação da família com o próprio paciente,
para que se possa, muitas vezes, auxiliar na solução de situações emocionais muitas vezes vividas
como difíceis durante a convivência anterior ao advento da doença terminal. Não raro, se pode
proporcionar elucidação de situações existenciais mal resolvidas, gerando alívio de culpas,
ressentimentos e dores, frutos de relações neurotizadas pela convivência existencial prévia. A
preparação de um luto antecipatório, sempre facilita e minimiza dores naturais da perda de entes
emocionalmente importantes.
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A assistência que o psicólogo presta a este paciente faz com que este esteja consciente de seus
deveres, mas também de suas responsabilidades, não delegando apenas aos outros profissionais ou
parentes, a incumbência de cuidar dele.
Assim, o paciente, sentindo-se compreendido, percebe-se mais seguro, amparado, aceito e assistido
como um todo, podendo entender sua doença tanto no aspecto fisiológico como nas implicações
emocionais, conscientizando-se do que é real e das fantasias.
No caso de pacientes em fase terminal, o psicólogo poderá atuar sob a abordagem dos cuidados
paliativos, aprimorando a qualidade de vida, dos pacientes e familiares que enfrentam problemas
associados com doenças ameaçadoras de vida. A preocupação maior deste profissional é facilitar a
comunicação tanto do paciente consigo mesmo quanto com sua família e equipe médica, fazendo-o
sentir-se acompanhado durante este período existencial tão solitário, e, muitas vezes temido. Facilitar
a compreensão de seus próprios sentimentos frente ao morrer, assim como aproximá-lo de relações
com as quais ele deseje se acercar, são tarefas totalmente favoráveis para a qualidade de morte de
um paciente terminal.
Não se pode deve esquecer que o psicólogo também precisa de atenção especial neste contexto.
Muitas vezes ele fica esquecido, em relação aos cuidados. Porque? Por acaso ele é superior aos
anteriormente citados? Por acaso ele está imune ao impacto da morte em sua vida emocional? Por
acaso ele não está incluído neste contexto cultural que tenta afastar a realidade deste evento
existencial?
Obviamente, o profissional psicólogo deve ser o primeiro a se preocupar para o impacto da morte em
sua estrutura psíquica. Primeiro ele deve olhar para o significado deste evento, o significado desta
realidade inexorável, em sua participação existencial. Já lhe foi alvo de reflexão o significado da
morte? Já lhe foi alvo de conscientização o que este evento significa em sua própria existência?
A onipotência do psicólogo, tão comum em nosso meio, étão ou mais maléfica do que a onipotência
médica, tão criticada por nós, ao considerar que podem lidar com esta temática (finitude humana),
sem a necessidade de auxílio reflexivo, assim como de tratamento e apoio psicoterápico. Encontram-
se tantos psicólogos que jamais “sentiram necessidade” (!!!) de supervisão ou até de psicoterapia,
mesmo trabalhando em serviços onde o confronto com temáticas tão impactantes como está se
fazem presentes no dia a dia de sua rotina profissional. Cabe aqui o alerta para estes profissionais
que se crêem superiores às indagações antigênicas do ser humano comum.
O paciente aqui descrito se relaciona durante seu último período de vida, na maioria das vezes, com
a equipe de saúde do hospital, o que envolve médicos, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros
profissionais, e, com a família, gerando assim, dificuldades de enfrentamento da morte a todos os
envolvidos, pois, como foi visto, a morte, sendo encarada de forma mais natural ou com maior
resistência, costuma gerar um sofrimento singular aos que a vivenciam.
Conclui-se que neste momento, o trabalho dos psicólogos pode se tornar fundamental, pois estes
profissionais no hospital buscam que tais relações e questões sejam trabalhadas e estabelecidas de
maneira clara, a partir da percepção e elaboração das defesas envolvidas em prol de um cuidado
onde as avaliações e condutas serão feitas de forma humanizada, sendo esta pessoa encarada não
só como portador de uma doença que implica em sua condição de terminalidade, mas como um ser
humano provido de sentimentos, que sofre e que merece morrer com dignidade.
O apoio e cuidados com os sentimentos da família, da equipe de saúde, e, em especial, com a equipe
de psicólogos, que atuam no hospital, vem sendo foco de atuação dos profissionais preocupados com
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a qualidade de morte, assim como com a qualidade de trabalho de equipe e apoio a famílias que se
encontram nesta difícil e inexorável situação existencial.
A Psicologia desenvolve sua história, enquanto Ciência e Profissão notadamente a partir da segunda
metade do século XIX, a se considerar como marco indicativo de sua estruturação científica os
trabalhos de Wundt publicados pela Universidade de Liepezieg em 1857 1.
Foucault2 em sua obra "O Nascimento da Clínica" demonstra de forma clara, como as Ciências da
Saúde, e em particular a Psicologia, se sentem influenciadas por esses modelos, e como a
construção do modelo clinica lista, se desenvolve à sombra dos pressupostos mecanicistas que
determinaram a estruturação e hegemonia do modelo biomédico. Embora historicamente se tenha
uma divisão daquilo que Ekstermann3 identifica como modelos Nomotético e Idiográfico, associando o
primeiro ao Setting Psicanalítico a partir dos modelos filosóficos da escola médica Hipocrática, e o
segundo aos modelos Kraepelinianos derivando do modelo da Escola de Galeno, criando-se,
portanto, linhas de pensamento que priorizavam a visão do homem como ente singular ou, no caso
da visão Kraepeliniana, do homem como espécie, fica bastante evidente, no transcurso dos primeiros
cem anos de história da psicologia científica, a forte influência da visão cindida do processo corpo-
mente, fator que irá reforçar a construção de práticas voltadas ao "indivíduo psíquico" ou ao
"indivíduo biológico", na maior parte das vezes desconectadas tanto em seu pensar quanto em seu
fazer, uma da outra.
Conforme salienta Barra4, "A concepção dualista de que mente e corpo funcionam separadamente,
de forma independente, estaria representada em sua máxima expressão nas idéias do filósofo René
Descartes, o qual defende a idéia de que a alma ou a mente eram uma unidade distinta incapaz de
afetar de uma maneira direta a matéria física ou os processos somáticos. Esse Dualismo Cartesiano
mente e corpo proporcionou a base filosófica do novo campo independente da medicina, alheando-a
do enfoque holístico que enfatizava a interdependência mente-corpo, e conduziu-a ao enfoque
fisiopatológico mecanicista que tem caracterizado essa disciplina até muito recentemente".
Estes fatores influenciam, até hoje, as teorias e as estratégias que vão determinar a prática do
psicólogo, começando pelos modelos teóricos que são apresentados aos estudantes, ainda durante a
fase inicial de sua formação profissional. A própria evolução que as Ciências da Saúde experimentou,
(e enfatize-se aqui, graças em grande parte ao rigor que o modelo científico vigente sê-lhe impôs)
gerou um significativo avanço nos conhecimentos e na perspectiva de compreensão do fenômeno
humano e da relação saúde-enfermidade, não obstante, contribuiu para hierarquizar, burocratizar e
cindir o homem, começando pela divisão corpo-mente, e evoluindo de forma impressionante para a
própria divisão órgão-corpo e cérebro-mente. Os modelos de estudos do fenômeno humano passam
a valorizar cada vez mais, uma visão atomista/reducionista, que, se por um lado favorece o
aprofundamento do conhecimento, por outro dificulta, cada vez mais, ao profissional da saúde,
compreender o homem numa dimensão multifatorial e multicausal na sua relação evolutiva com os
processos de vida e existência, dificultando assim, a visão global do indivíduo, e por consequência, a
forma de se compreender e intervir por sobre o binômio saúde-doença.
De fato, o movimento científico que se inicia de forma específica no campo das Ciências da Saúde
(médicas) tem um marco importante na sua doutrina mecanicista-biologicista em 1910 através do
Relatório Flexener5, que preconiza um modelo hegemônico no campo da saúde vigente até muito
recentemente. O ponto central desse ideário é o curativismo o mecanicismo e a noção de
unicausalidade6. Como elemento de referência o curativismo e força a ideia (fortemente incidente até
os anos 70) de que a saúde é a ausência de doença em um indivíduo, levando assim, as práticas em
saúde, e em particular a formação e a prática médica, à busca da cura dos indivíduos que
manifestam algum tipo de doença, identificando esse tipo de ação como o escopo principal (único) da
função do médico e dos profissionais de saúde.
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Pode-se afirmar que a gradativa perda da visão global do indivíduo, e em particular do indivíduo
enfermo, passou a criar novos problemas dentro das práticas de atenção à saúde, e a contribuir para
que esta mesma (falta de visão) passasse a representar mais um fator de agravo à saúde das
pessoas. Nesse sentido é interessante, por exemplo, considerar-se o quanto se tem dado de
importância ao tema "Humanização da Saúde", sendo esse inclusive uma das diretrizes das políticas
e programas do Comitê Técnico do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar do
Brasil7, mas a encarar-se objetivamente o próprio tema ver-se-á o absurdo de se falar em
"humanização" de um aspecto que deveria ser inerente a si mesmo (a saúde do humano
humanizada).
Estes paradigmas começam a experimentar novas influências a partir da segunda metade do século
XX, quando se iniciam processos mais sistematizados de críticas e questionamentos às verdades que
o modelo científico biomédico propõe, geradas dialeticamente, pelos seus próprios avanços, ressalte-
se aqui as importantes contribuições do movimento psicossomático8, 9. Pode-se constatar, assim, que
a construção de uma nova ordem paradigmática no campo das Ciências da Saúde começa a nascer
por essa época, que teve na estruturação da Organização Mundial da Saúde, em 1945, importante
precursor institucional, e evolui aos dias de hoje, com a construção de um novo modelo plenamente
em curso.
As contribuições de Kurt Lewin para a Psicologia Social Aplicada (ao longo dos anos 40), assim como
a importante contribuição da Medicina Psicossomática à mesma época, representaram antecedentes
muito significativos para a Psicologia da Saúde.
Observa-se, portanto uma clara disputa dentro do campo das Ciências da Saúde entre a defesa
do status-cuo do modelo biomédico (vigente durante os últimos 150 anos) e a nova propositura de um
modelo biopsicossocial, que traz como vertente paradigmática o resgate da visão integral do
indivíduo, e a compreensão do binômio saúde-doença, como um fenômeno multicausal e
interdependente na e da relação indivíduo – mundo.
Sendo assim, pode-se considerar que, nascendo por volta dos anos 50 e mais intensamente a partir
dos anos 70, movimentos muito importantes firmam de maneira definitiva a posição de confronto que
esse novo paradigma.
Com base nesse paradigma, Foratinni10 propõe uma visão integral da saúde e compreensão do
fenômeno saúde-doença como eventos multifatoriais, que são relativamente recentes no universo das
Ciências da Saúde, e que um importante movimento de redefinição das ações de saúde vem sendo
proposto há mais de três décadas.
Ao somar-se a essas novas vozes o que propõe a leitura de Lalonde11 que questiona o papel
exclusivo da medicina na resolução dos problemas de saúde e influencia de forma decisiva o início de
uma nova era de interesse político e social pela saúde, ver-se-á que o novo paradigma tem uma
importância fundamental no que se refere à presença e participação da Sociologia, da Psicologia, da
Pedagogia entre outras ciências nas diferentes propostas de atenção à saúde da população, posto
que os elementos participantes do processo de instalação das doenças mencionados por Susser
"enfermidade" e "anormalidade" são notoriamente de cunho psicossocial.
Estas idéias tomaram corpo e forma a partir desses autores, com ênfase às leituras de Lalonde que
considerava que a ação de quatro fatores interligados seriam os determinantes da doença, ampliando
assim o conceito de saúde. Eram eles: as características biofísicas da pessoa; poluição e agravos
ambientais; estilo de vida; e inadequação e incompetência dos serviços de saúde 12.
Ao longo dos anos 80 e 90, a OMS patrocina cerca de treze conferências mundiais e regionais que
passam a construir e propor novas diretrizes para os programas e políticas de atenção à saúde 13,
onde fatores como: comportamento, estilo de vida, meio ambiente, políticas públicas, violência,
economia, entre outros, passam a compor o macro campo de estudos das Ciências da Saúde, não
mais focados exclusivamente no binômio saúde-doença e no pressuposto curativista, mas que
consideram o processo Saúde e Desenvolvimento Humano como ponto de partida para a formulação
das políticas de saúde e propõe a reformulação dos serviços de atenção à saúde, desde a formação
dos profissionais envolvidos, até a ampla reforma dos modelos e reorganização dos recursos
materiais e humanos, sob a égide da interdisciplinariedade, intersetorialidade embasadas numa
leitura biopsicossocioambiental.
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Por tanto, cada dia mais, a valorização de intervenções primárias, secundárias ou terciárias em
saúde, pressupõe a necessidade de se compreender e intervir sobre estes contextos de indivíduo
e/ou grupos, expostos às diferentes moléstias ou outras condições de agravo à saúde a partir de uma
leitura global. A Psicologia da Saúde vem sendo solicitada a dar sua parcela de contribuição à
abordagem destes problemas, e é imperativo que esse campo possa ser capaz de responder a esses
pedidos, e que a Psicologia se organize, cada vez mais, para que a inserção sócio sanitária desse
saber/fazer seja mais eficiente e reconhecida.
Como o médico atual pode ser considerado "descendente" dos feiticeiros e curandeiros pelo
imaginário de muitos pacientes, para compreender seu papel é necessário recordar que a doença
pode, em diversas culturas, ser percebida como uma punição, que resulta na introdução do corpo do
doente de um elemento maléfico e estranho, ou até mesmo a perda de um bom elemento interior.
Frente a esta situação, o médico tem como finalidade extirpar do paciente o mau elemento, ou
capturar e reintroduzir o elemento bom. Para executar tal ação, o feiticeiro necessita controlar as
forças do bem e do mal, bem como estabelecer um pacto com ambos os representantes. Neste
mesmo contexto, o doente está sujeito a sofrer e até morrer para em seguida ressuscitar e alcançar a
cura desejada.
É comum este lado mágico ainda se fazer presente no imaginário de muitos pacientes, pois a simples
visita ao médico faz o doente melhorar, e ao identificar a doença pelo profissional, o paciente acredita
que o médico irá encarregar-se dela e vencê-la, porém, é este lado mágico que leva o paciente a
enxergar o médico com reserva, prudência e desconfiança. O temor e o respeito perante o médico
estão consequentemente associados ao homem mau e ao salvador, sendo esta leitura
aparentemente paradoxal presente, e não raro determinante, de muitas relações entre o cirurgião e o
paciente. Este profissional tem acesso aos segredos da vida, da morte, do corpo e até do sexo.
Em duas pesquisas qualitativas desenvolvidas com pacientes e cirurgiões nos Hospitais do Servidor
Público Municipal de S. Paulo e Brigadeiro – S. Paulo, entre 2002 e 200314, 15, orientadas pelo
presente autor, constatou-se importante diferença de leitura e significação do processo cirúrgico e
das imagens que os protagonistas (cirurgião e paciente) faziam de si e do outro. As pesquisas
apresentavam tanto aos cirurgiões quanto pacientes questões idênticas que versavam sobre a
importância da cirurgia, o que cada um entendia como essencial para o êxito da mesma, como cada
um via seu papel e imagem no processo cirúrgico e como este via o papel do outro (cirurgião ou
paciente) na relação médico-paciente e na cirurgia em si.
Os resultados demonstraram algumas diferenças importantes entre estas leituras, e apontaram para
a influência da relação humana cirurgião-paciente em todas as fases do processo cirúrgico – do
diagnóstico e indicação da cirurgia até o pós-operatório tardio.
As respostas dos cirurgiões em relação ao que eles acreditam que o paciente espera deles eram
racionais e apontavam predominantemente para o conhecimento científico, o domínio técnico, a
seriedade e responsabilidade, ao passo que os pacientes elencavam estas características como
importantes, mas secundárias, estes esperavam prioritariamente um médico "amigo", sincero,
acolhedor, disponível para conversar com eles e ouvi-los.
Na inversão da questão os pacientes acreditavam que aborreciam os médicos com suas dúvidas e
medos, que eram vistos por eles como seres frágeis e desprotegidos e que os médicos não podiam
lhes dar mais atenção devido à sobrecarga de responsabilidades e tarefas, ao passo que os
cirurgiões julgavam que os pacientes se sentiam seguros, bem informados, frágeis e depressivos e
predominantemente com medo do processo cirúrgico. Estas duas últimas leituras dos médicos
(aparentemente lógicas) foram desmentidas pelos pacientes quando indagados sobre o que sentiam
e esperavam da cirurgia onde as respostas predominantemente indicavam otimismo, fé, e esperança
de cura ou melhora em seu quadro atual.
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Este resultado é corroborado por outro conjunto de respostas onde os grupos são indagados sobre
"como é a seu ver um paciente (ou médico) ideal":
Os pacientes respondem que o "médico ideal" é aquele amigo, bem-humorado, presente, disponível
para ouvi-lo e que transmita segurança a eles.
Os cirurgiões acreditam que o paciente espera um médico sério, responsável e com pleno domínio
técnico da situação. Na inversão da pergunta os médicos referem que o "paciente ideal" é aquele que
obedece às orientações, que se esforça por adequar-se às rotinas hospitalares, e que confie no
médico. Ao passo que os pacientes acreditam que o "paciente ideal" (para o médico) é aquele que se
preocupa com sua saúde, que não "reclama muito", que não importuna o médico com suas dúvidas,
embora não seja esta a expectativa que eles (pacientes) têm do médico. Sem dúvida estes resultados
apontam para importantes diferenças de leitura da relação e do processo de comunicação entre o
cirurgião e o paciente, denotando, entre outros aspectos, que a expectativa de uma relação mais
humanizada está presente no discurso do paciente, ao passo que o médico entende que competência
técnica e objetividade no trato com o paciente são suficientes para atender às demandas emocionais
deste.
Segundo Mello16 pode-se tentar estabelecer uma classificação dos cirurgiões, diante dos seus
grupos, reações, tendências, inclinações, comportamentos, emoções e traços mais evidentes da sua
personalidade:
O verdadeiro cirurgião
1. O exibicionista
2. O neurótico
3. O displicente
4. O anatomista
5. O inseguro de si próprio
Essa "tipologia" proposta por Mello auxilia a compreender determinados padrões de comportamento
que influenciam não somente a relação com o paciente, mas a própria postura do cirurgião, ou os
estereótipos que sub-liminarmente são passados aos acadêmicos, ainda na graduação ou residência,
sobre o que é ser cirurgião. Longe de se enquadrar todos os cirurgiões nesta tipologia, acreditamos
que ela, somada aos dados das pesquisas acima mencionadas, possam auxiliar não só o cirurgião,
mas a equipe de saúde envolvida na atenção ao paciente a redimensionar os critérios de cuidados e
mesmo os protocolos de procedimentos em pré, trans e pós-operatório.
As demandas crescentes que hospitais e serviços de saúde vêm sofrendo no Brasil, influência dos
profundos contrastes que diariamente sê-nos são impostos, onde, ao mesmo tempo em que
dispomos (ou somos cobrados a conhecer) técnicas, recursos terapêuticos e equipamentos de última
geração, vemos e somos vítimas de falta de recursos materiais e humanos para dar conta destas
demandas. O profissional de saúde, e o cirurgião em particular, sofrem com estas pressões
paradoxais que, ao mesmo tempo em que exigem excelência, impõem limites.
O domínio do conhecimento nas Ciências da Saúde há muito se perdeu, devido a seu avanço,
profundidade e multi-fracionamento, provocando conflitos e dificuldades no exercício das funções
técnicas e, sobretudo, na adequada harmonização das equipes interdisciplinares de saúde. Se por
um lado o modelo biomédico cobra pleno domínio do conhecimento e, de certa forma, hegemonia
total sobre este, o avanço deste mesmo conhecimento impõe as "sub-especialidades" o
fracionamento das ações em saúde e consequentemente nega a possibilidade dessa hegemonia, ao
passo que o modelo biopsicossocial, pressupõe ações integradas e interdisciplinares, mas ainda
padecem de amadurecimento enquanto modelo, seja na própria formação dos profissionais de saúde,
seja na difícil e rígida estrutura hierárquica que os modelos de gestão (principalmente hospitalares)
impõem, ou mesmo determinado pelas dificuldades que os contrastes da iniquidade geram para uma
eficiente atenção às demandas sócio-sanitárias que nossa população exige quando busca um
hospital.
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Sabemos que as rotinas hospitalares raramente contemplam tempo, espaço, recursos, etc., o
cirurgião para que este possa dar conta de tantas exigências e expectativas. No geral, com exceções
que confirmam a regra, vemos profissionais que trabalham exaustivamente, sobrecarregados por
horas de cirurgias ininterruptas, com pouco tempo e energia de sobra seja para seus estudos e
atualizações ou mesmo para sua vida pessoal.
O Brasil tem sido identificado em várias pesquisas(17; 18; 19) como um dos pioneiros mundiais na
construção de uma nova especialidade em Psicologia, a Psicologia Hospitalar, que agrega os
conhecimentos da Ciência Psicologia para aplicá-los às situações especiais que envolvem os
processos doença-internação-tratamento permeados por uma delicada e complexa relação
determinada pela tríade enfermo-família-equipe de saúde. Não se trata, portanto, de simplesmente se
transpor o modelo clássico de trabalho psicológico e psicoterápico desenvolvido no consultório para o
hospital, mas do desenvolvimento de teorias e técnicas específicas para a atenção às pessoas
hospitalizadas, que em sua grande maioria apresentam demandas psicológicas associadas ao
processo doença-internação-tratamento, tanto como processos determinantes quanto como reações
que podem agravar o quadro de base destes pacientes, e/ou impor sequelas dificultando ou mesmo
inviabilizando seu processo de recuperação.
Somadas a estas questões, a relação com os processos de morte e morrer, com as perdas
irreversíveis impostas pelas doenças, e toda a angústia e sofrimento gerados por tais situações, têm
sido também alvo dos trabalhos do Psicólogo Hospitalar.
Sendo assim, as contribuições que esta especialidade vem trazendo às diversas modalidades de
intervenções médicas vêm crescendo, e em Clínica Cirúrgica, vêm ganhando expressivo espaço,
sempre na busca da consolidação do modelo biopsicossocial em saúde, a partir de ações
interdisciplinares que contemplem a compreensão da pessoa enferma como um todo.
A cirurgia é uma especialidade da medicina voltada para a cura de doenças, com a atuação do
profissional diretamente no local atingido, unindo, cortando ou retirando o que está prejudicado.
Sabe-se que esta especialidade é utilizada desde o início da civilização sendo aperfeiçoada através
da tecnologia.
Apesar do avanço tecnológico das cirurgias e anestesias, o paciente cirúrgico nunca se sente
totalmente seguro, pois este procedimento tende a gerar intenso desconforto emocional, onde o
indivíduo tem o seu futuro incerto, manifestando sentimentos de impotência, isolamento, medo da
morte, da dor, da mutilação, de ficar incapacitado, das mudanças na sua imagem corporal. Assim,
diante da necessidade de realizar uma cirurgia, o paciente sente ameaçada a sua integridade física e
psicológica.
Acresce-se o fato de que a cirurgia, em si, pode alterar a imagem corporal do paciente levando-o a
desenvolver dificuldades de adaptação e produzindo no indivíduo um déficit na relação do sujeito no
mundo, e do sujeito-mundo traduzindo-se no plano da motricidade, da percepção e da relação com o
outro.
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Entende-se então, que nenhum paciente está efetivamente preparado para realizar uma cirurgia,
sendo necessário à atuação psicológica neste momento. O psicólogo deve atuar com o objetivo de
minimizar a angústia e ansiedade do paciente, favorecendo a expressão dos sentimentos e auxiliando
na compreensão da situação vivenciada, proporcionando também, um clima de confiança entre o
paciente e equipe de saúde, e facilitando a verbalização das fantasias advindas do processo
cirúrgico.
Pode-se observar, até aqui, que uma gama enorme de sentimentos confusos e dolorosos podem
acompanhar a pessoa a partir do aparecimento da doença e ser agravada com a internação
hospitalar.
Durante o transoperatório, até alguns anos atrás, acreditava-se que o fato de o paciente estar em
coma anestésico (nos casos cirúrgicos onde foi usada anestesia geral) criava uma condição de
bloqueio das interferências psicológicas sobre o estado do paciente. Como descrevemos acima, esse
fato parece não ser tão absoluto assim., no entanto, o mais surpreendente, particularmente para os
anestesistas, foram constatações apresentadas por pesquisas realizadas psicólogo norte-americano
H. Benett20, da Universidade da Califórnia, apresentadas em 1989, por ocasião do Congresso
Internacional de Anestesiologia nos EUA. O autor provou que boa parte dos pacientes em coma
anestésico não fica totalmente inconsciente e, portanto, incapaz de receber e interpretar estímulos
vindos de fora, mas encontrava-se num estado de consciência alterada e que, pelas pesquisas,
mostrava-se muito mais sugestionável aos estímulos que recebia, e que reagia a estes. Fica, então,
um ponto importante a ser considerado pelas equipes de cirurgia: palavras, frases, conversas,
discussões etc., ocorridas dentro do Centro Cirúrgico, podem influenciar tanto positiva como
negativamente o paciente em seus comportamentos no pós-operatório. Conforme assinalamos
anteriormente, costuma-se dividir o pós-operatório em dois tempos: o pós-operatório imediato e o
tardio.
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detectadas e trabalhadas junto a este de forma a não se tornarem empecilhos para sua reintegração
à vida.
Em linhas gerais, esses três momentos, como vimos, são carregados de emoções e reações
psicológicas e comportamentais que podem interferir direta ou indiretamente no curso da patologia e
da própria cirurgia. As experiências oriundas da internação, dos sentimentos de invasão e agressão,
as distorções de compreensão e participação tanto do paciente quanto de sua família no processo
cirúrgico são aspectos mais do que significativos para fundamentar e comprovar a necessidade do
Psicólogo na equipe interdisciplinar do Hospital. Longe de se propor o esgotamento do tema neste
artigo, procurou-se abordar alguns aspectos que servissem como ponto de partida para inúmeras
discussões. A evolução da especialidade Psicologia Hospitalar já se dedica a estudos sistematizados
e ao desenvolvimento de técnicas específicas de intervenção nas distintas modalidades cirúrgicas,
considerando suas peculiaridades e os inúmeros fatores que diferenciam não só os protocolos e
procedimentos, mas os impactos que estas trazem aos pacientes. Cabe, agora, não só às instituições
e demais profissionais da área de saúde possibilitarem a introdução deste profissional nas equipes,
mas, sobretudo, ao próprio Psicólogo instrumentalizar-se adequadamente para conquistar, pelo seu
conhecimento, pelo valor de seu trabalho e pela sua dedicação, seu espaço dentro das equipes
cirúrgicas.
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