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Mulheres partidárias: atuação militante e participação nas atividades dos partidos Antonio Teixeira de Barros1 Willber da Silva Nascimento2 186 Resumo: O artigo analisa como as mulheres filiadas a partidos políticos atuam no âmbito interno da estrutura e da organização das legendas. O foco analítico está na participação das mulheres nas atividades partidárias, considerando que a literatura aponta tal participação como um dos fatores que impulsionam carreiras políticas femininas. São avaliadas como os seguintes fatores influenciam essa participação: variáveis socioeconômicas; capital familiar e capital militante; espectro ideológico das legendas; interesse das informantes em se candidatar para disputar eleições. A hipótese, confirmada, é que mulheres filiadas a partidos de esquerda, solteiras e mais escolarizadas são as mais participativas na estrutura das agremiações. O estudo deriva de um questionário com 419 filiadas. O principal locus de atuação delas se dá na esfera virtual. Os movimentos estudantis e sociais são os principais mecanismos de recrutamento partidário de mulheres de esquerda, enquanto na direita são as relações de parentesco. Palavras-chave: Filiação partidária; Mulheres e partidos políticos; Recrutamento partidário feminino; Mulheres e política partidária. Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (1999). Pós-doutor em Comunicação pela Universidade Fernando Pessoa (2008). Docente e pesquisador do Programa de Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Centro de Formação da Câmara dos Deputados. Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCTDD). Coordenador do grupo de pesquisa " Parlamento e sociedade: representação política, participação e controle social. E-mail: antonibarros@gmail.com. Orcid: http://orcid.org/0000-0002-3061-8202. 2 Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Mestre em Ciência Política pela mesma instituição e graduado em Ciências Sociais pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Tem experiência em pesquisa na área de Ciência Política atuando, principalmente, em temas como Partidos Políticos e Eleições, Métodos willbernascimento@outlook.com. quantitativos e Políticas Públicas. E-mail: Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2257-8108. 1 Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 1. Introdução Há uma vasta literatura que procura explicar os fatores que afastam as mulheres da política, a partir das lógicas da dominação masculina, tais como a divisão entre trabalho produtivo e reprodutivo (PINTO, 2001; BIROLI, 2016, entre outros autores). Entretanto, há poucos estudos empíricos focados nos fatores que atraem as mulheres para a política, a exemplo das mulheres filiadas a partidos políticos, que fazem militância, ocupam cargos na estrutura organizativa e concorrem a cargos eletivos. Apesar de serem minorias em todas as esferas e instâncias políticas e partidárias, acreditamos que os estudos não devem se pautar apenas pela tônica na ausência ou na falta delas, mas também na emergência e no ativismo dessas mulheres. Grande parte dos estudos sobre gênero e política chama atenção para as dificuldades sobre o uso da categoria “mulheres”, pois pode sugerir que se trata de um bloco homogêneo, como se todas as mulheres tivessem as mesmas demandas e perspectivas no âmbito político (CELIS; CHILDS, 2012; BERNAUER et al., 2015; 187 GOMES, 2016). O compartilhamento de uma identidade de gênero comum não apaga as divisões partidárias (KLAR, 2018). Lloren (2013) chama atenção para a necessidade de se considerar as contribuições positivas da inclusão das mulheres nos partidos e na política de modo geral, pois o gênero constitui um recurso político que impulsiona a cidadania das mulheres. Cabe, portanto, ressaltar que, ao nos referir a mulheres partidárias ou mulheres filiadas a partidos políticos, estamos lidando com uma diversidade de perfis e um elenco variado de interesses, demandas e perspectivas. Aliás, o mesmo se aplica aos partidos e suas formas de relacionamento com os filiados e militantes (KOSIARA-PEDERSEN; SCARROW; VAN HAUTE, 2014; SCARROW, 2015; RIBEIRO; AMARAL, 2019). Os normativos e comportamentos partidários relativos à inclusão das mulheres também são diferenciados (MORAES; GOULART; SILVA, 2017; NOVELLINO; TOLEDO, 2018). No que se refere às filiações, “é prudente supor que os partidos combinam modalidades em diferentes graus em resposta a situações diversas e adversas, decorrentes de contextos ambientais vari|veis” (PERES; MACHADO, 2017, p.136). Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 Embora não seja possível estabelecer uma relação causal, grande parte dos problemas relacionados aos déficits de participação feminina nas estruturas e nas instituições de representação política estão relacionados com as deficiências relativas à inserção e à participação das mulheres nas estruturas organizacionais dos partidos (THOMSEN, 2015; THOMSEN; SWERS, 2017). Uma alternativa, portanto, para superar os déficits de representação feminina seria maior investimento no recrutamento feminino pelos partidos e no estímulo para que elas participem mais das atividades partidárias. Com base nessa perspectiva, o artigo aqui proposto tem como objetivo analisar a presença das mulheres na política, a partir da percepção das mulheres filiadas a partidos políticos no Brasil. Afinal, mesmo diante de um cenário de descrença na política e de desconfiança expressiva no sistema político representativo, em especial nos partidos políticos e de um cenário de baixa representação feminina na política institucionalizada, cabe questionar: (a) quais variáveis do perfil socioeconômico mais influenciam a participação das mulheres nas atividades internas dos partidos? (b) como o capital familiar e o capital 188 militante3 interferem nos níveis de participação? (c) que relevância exerce o espectro ideológico das legendas na participação das informantes? (c) em que medida o interesse delas em se candidatar para disputar eleições aumenta a participação nas atividades partidárias? Essas são as questões que orientam a pesquisa, cujo foco é analisá-las à luz do olhar das próprias mulheres que são filiadas a partidos políticos na atualidade. Para tanto foi aplicado um questionário com questões fechadas e abertas a 419 mulheres filiadas a partidos políticos, em novembro de 2019. A estratégia utilizada para atingir esse público foi o envio do link da pesquisa, acompanhado de uma carta de apresentação dos autores, para o e-mail dos núcleos e secretarias da mulher dos partidos, incluindo esses organismos no plano nacional, estadual e O capital militante resulta de trajetórias de militância em movimentos sociais específicos, o que pode se converter em capital político e facilitar o acesso aos quadros partidários ou a candidaturas na arena eleitoral (ROMBALDI, 2006; SEIDL, 2014; PALUMBO, 2018). Entretanto, trata-se de um tipo de capital que é obtido especificamente pelas vias da militância. Convém ressaltar ainda que nem sempre o capital militante é usado para fins político-eleitorais. Por essa razão, justifica-se aqui o uso do conceito, diferenciando-o do capital político. 3 Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 municipal4. De forma complementar foram realizados contatos telefônicos para reforçar a divulgação entre as filiadas. O texto está estruturado em duas partes. A primeira apresenta um breve panorama sobre recrutamento e inserção de mulheres no âmbito partidário, enquanto a segunda contém a descrição e a análise dos dados, organizada conforme as perguntas de pesquisa expostas anteriormente. 2. Recrutamento e inserção de mulheres nos partidos políticos: o recrutamento A organização interna dos partidos é um fator primordial que tanto pode favorecer como dificultar o acesso das mulheres a cargos políticos, inclusive na estrutura interna dos partidos. A literatura aponta os seguintes fatores como os principais nesse processo: a atuação das mulheres na estrutura organizacional das legendas, o processo de recrutamento político e as normas relativas ao sistema 189 eleitoral (ARAÚJO, 2005, p. 196). Segundo a autora, “considerando o sistema partidário em sua relação com o sistema eleitoral de cada país e o sistema de representação mais geral, há evidências de que os sistemas proporcionais são mais favoráveis às mulheres, seguidos dos sistemas mistos e, por último, dos sistemas majorit|rios”. Os valores culturais de cada sociedade também são apontados como relevantes para a inclusão ou exclusão das mulheres. Quanto mais uma cultura valoriza a igualdade e a paridade entre os sexos, maiores as chances de um sistema político e partidário mais inclusivo e vice-versa (NORRIS; INGLEHART, 1996; HEIDAR, 2006; ELDER, 2012). O amplo levantamento de Katz e Mair (1992), relativo a um período de 30 anos (1960-1990), acerca da organização de 79 partidos inseridos em países em estágio consolidado de regime democrático, revela que os partidos de esquerda foram os primeiros a adotar normas e procedimentos internos voltados para a Esses organismos atendem aos ditames da Lei Orgânica dos Partidos Políticos (Lei 9.096/95). As legendas usam nomenclaturas próprias para designar as secretarias destinadas à promoção da inclusão das mulheres nos partidos, tais como MDB Mulher, PSDB Mulher, PV Mulher, Patriota Mulher, Mulheres Progressistas, etc. Esses núcleos existem em âmbito nacional, estadual e municipal (BARROS, 2015). 4 Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 inserç~o de mulheres na organizaç~o interna das agremiações. “Todos os estudos mais recentes corroboram essa tendência” (ARAÚJO, 2005, p. 199). A ades~o de partidos de centro, centro-direita e direita ocorreu a partir da década de 1990, na maioria dos casos em razão das políticas de cota. Além disso, esses partidos perceberam que “as mulheres s~o uma força eleitoral decisiva e, portanto, suas demandas n~o podem ser desprezadas” (ARAÚJO, 2005, p. 201). Os estudos de Lovenduski e Norris (1993) sistematizaram as estratégias dos partidos em várias partes do mundo para oferecer respostas às demandas das mulheres. Essas estratégias podem ser assim resumidas: (a) estratégias retóricas impulsionadas pela ação de organismos internacionais, especialmente a Organização das Nações Unidas, que passaram a conclamar os partidos para agirem em prol da paridade na política; (b) defesa de ações afirmativas para favorecer a inserção partidária e o desenvolvimento de carreiras políticas bemsucedidas; (c) adoç~o de políticas de cotas como forma de “discriminaç~o positiva”. Embora reconheçam a importância dessas medidas, vários estudiosos (NORRIS, 1996; MATLAND, 2002; ARAÚJO, 2005) apontam a inclusão das 190 mulheres na organização e na estrutura interna dos partidos como igualmente relevante, pois a experiência no exercício de cargos na hierarquia das agremiações constitui um fator impulsionador de carreiras políticas. Os partidos mais à esquerda apresentam maior equidade de gênero (ALMEIDA, 2015). Conclusões de Ronald Inglehart e Pippa Norris, quando afirmam que, na maioria das nações no presente, as mulheres têm valores mais à esquerda e também votam mais à esquerda ( LOVENDUSKI; NORRIS, 1993, p. 99). Além disso, mulheres de esquerda geralmente apresentam perfis políticos diferenciados, pois “tendem a ser menos enquadradas nos esquemas tradicionais”. Assim, s~o mais propensas “a quebrar padrões de comportamento esperado de mulher, esposa e mãe. Essas mulheres pertencem a movimentos estudantis e sindicatos, viveiros de lideranças partid|rias” (PINTO, 2018, p. 199). Sistemas pluripartid|rios s~o mais propensos à inclusão de mulheres, tanto na gestão interna quanto nas candidaturas (ELDER, 2012). Outro dado relevante é que ao serem eleitas por partidos de esquerda, AS mulheres tendem a desenvolver uma carreira longeva, galgando cargos numa Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 escala gradativa, como vereadoras, deputadas estaduais e depois é que chegam ao legislativo federal. Nos partidos de centro e direita, observa-se um padrão de ascens~o mais célere na carreira política, o que se deve “{ utilizaç~o de atalhos, tais como o capital político acumulado por outros indivíduos e compartilhado mediante relações de parentesco, de modo que a conquista do cargo ocorre de maneira precoce” (RESENDE; EPITÁCIO, 2017, p. 250). No caso brasileiro, os estudos sobre o tema mostram algumas características que mais dificultam do que estimulam a inserção e a participação das mulheres na estrutura organizacional dos partidos. Destacam-se os seguintes aspectos: (a) fragmentação partidária; (b) baixo nível de nacionalização; (c) personalismo na direção e na gestão das agremiações; (d) formação de oligarquias e dinastias partidárias; (e) baixo investimento em políticas de inclusão feminina; (f) baixa presença de mulheres nas instâncias decisórias dos partidos; (g) baixo nível de institucionalização da militância feminina (ARAÚJO, 2005; GUIMARÃES; RODRIGUES; BRAGA, 2019). Guimarães, Rodrigues e Braga (2019) complementam que os partidos brasileiros, em sua maioria, configuram-se como oligarquias, com 191 regras formais e informais que favorecem a concentração de poder e o personalismo. Esse conjunto de fatores atuando de forma convergente produz um quadro que perpetua a discriminação negativa das mulheres, inclusive no âmbito interno das agremiações. Ao analisar casos bem-sucedidos de candidatas eleitas a vereadoras no município de S~o Paulo, Merlo (2017, p. 13) reitera que a import}ncia da “atuaç~o dos partidos e lideranças partidárias no fomento ou bloqueio desse caminho até a vitória”. As conclusões do estudo mostram que a vivência prévia como filiada é um dos fatores fundamentais para que as mulheres tomem a decisão de se candidatar. Além disso, o suporte partidário durante as campanhas eleitorais é considerado igualmente relevante, “especialmente por darem legitimidade e o acesso {s redes de contato com outras figuras políticas j| bem estabelecidas” (MERLO, 2017, p. 13). Aliás, o sucesso eleitoral de mulheres gera o efeito contagiante (SPECK, 2018). Em todas as etapas, o autor ressalta que são as lideranças das legendas que exercem papel central no suporte às candidatas e depois às eleitas para o exercício do mandato. É oportuno ressaltar aqui as dificuldades após a eleição, tema pouco Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 explorado na literatura, que se concentra nos obstáculos às candidaturas e à eleição das mulheres (BARROS, BUSANELLO, MITOZO, 2020). Ao se concentrarem nas barreiras para o exercício do mandato os autores mostram que as lógicas de exclusão, após a eleição, levam as mulheres a guetos ou nichos temáticos menos prestigiados e, portanto, pouco disputadas pelos homens, como educação, família, saúde, seguridade social, meio ambiente e direitos humanos. Isso leva a uma agenda política que, embora relevante socialmente, é pouco expressiva em termos de formação de capital eleitoral (SANTANO; BERTOLINI; RADOMSKI, 2015). Em outro estudo Barros e Busanello (2019) mostram como até os espaços de debate político são dominados pelos homens e pelo machismo discursivo, reduzindo o poder de palavra das mulheres eleitas. O debate é conduzido e decidido pelos homens. Os autores identificam 15 formas de machismo discursivo no caso da Câmara dos Deputados, variando desde a interrupção frequente dos pronunciamentos das parlamentares, uso abusivo de apartes pelos homens, falta de atenção deles enquanto elas falam na tribuna, além de expressões gestuais de desaprovação e depreciação relativas às falas das parlamentares. As deputadas 192 “s~o pouco escutadas no parlamento, s~o mais interrompidas nas falas e nos discursos e que, por isso, acabam se acostumando a ter menos disposição em ocupar a tribuna para uso da palavra” (MATOS, 2010, p. 42). Levantamento realizado por Barbosa (2015) mostra a baixa participação feminina nas comissões executivas dos diretórios estaduais dos principais partidos políticos brasileiros. A ocupação de cargos nessas comissões pelas mulheres fica na média de 30%. Ao considerar o espectro ideológico, a situação é a seguinte: partidos de esquerda, com 22% de mulheres; direita com 15% e centro, com 8%. O PT apresenta o maior percentual de mulheres com cargos nessas comissões, com 30%. Os demais partidos incluídos no levantamento apresentam o seguinte ranking: PP, com 16%; PDT, 15%; DEM, 13%; PSDB, 12%; MDB, 5%. Ao examinar o exercício da presidência das comissões executivas estaduais, o autor registra que tal cargo nunca foi exercido por mulheres nos seguintes partidos: MDB e PDT. Entre os que já contaram com mulheres no cargo de presidente estão PSDB e PP, com 4% de mulheres. No topo do ranking estão PT e DEM, com 14% e 10%, respectivamente. Os cargos do escalão inferior na estrutura Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 das comissões são os mais exercidos por mulheres, enquanto os homens ocupam o topo da pirâmide. Em outras palavras, a elite partidária é formada por homens. Vários estudos brasileiros mostram que fortalecer a representação partidária das mulheres no interior das agremiações é um passo importante para garantir melhor representação feminina de forma mais ampla (BARBOSA, 2015; BARREIRA; GONÇALVES, 2012; CROWDER-MEYER; LAUDERDALE, 2014). Isso porque as agremiações partidárias exercem função relevante em toda a escada de acesso à política, desde a filiação ao lançamento de candidaturas e à eleição propriamente dita. Atuam, portanto, como “reguladores das desigualdades de gênero no campo das disputas” e como “lugares importantes tanto na gest~o e ampliaç~o de espaços democr|ticos como na construç~o de candidaturas” (BARREIRA; GONÇALVES, 2012, p. 321). Na pesquisa que realizaram sobre a participação de mulheres nos diretórios partidários no Ceará, as autoras registram alguns argumentos emblemáticos dos dirigentes das legendas: 193 As mulheres chegam ao partido através de convites de membros e lideranças (dirigente do PPS); As mulheres chegam no partido através de movimentos. A base da militância são os movimentos sociais (dirigente do PT) - (BARREIRA; GONÇALVES, 2012, p. 323). As autoras observaram que os dirigentes, ao serem entrevistados, na maioria dos casos, não reconhecem que existe segregação ou discriminação no }mbito dos partidos, “omitindo as possíveis dificuldades de reconhecimento e incentivo limitado no interior da agremiaç~o”. Na percepç~o deles, os problemas existentes são extrapartidários, ou seja, as barreiras ao protagonismo feminino são atribuídas a fatores alheios aos partidos (BARREIRA; GONÇALVES, 2012, p. 324). Assim, ao analisar o discurso dos dirigentes partidários, as autoras concluem que, além de eximirem os partidos, a responsabilidade “é atribuída {s mulheres pela pouca participaç~o na política”. Outro argumento acionado por eles é que “h| necessidade de uma ingerência educativa, a longo prazo, voltada para a formação política das mulheres” (BARREIRA; GONÇALVES, 2012, p. 324). Em síntese, fatores como a vida familiar, os papéis diferenciados entre homens e mulheres e a dificuldade de conciliação entre política e afazeres familiares, além da maneira como “a própria sociedade vê as mulheres”, s~o Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 mencionados, nos discursos de dirigentes partidários, como fortes obstáculos para a ampliação da participação política feminina nos partidos. De modo geral, a explanação de obstáculos extrapartidários como fator preponderante na desigualdade de participação política de gênero é consensual entre os dirigentes entrevistados, sendo considerados alguns elementos explicativos para a desigualdade de representaç~o: discriminaç~o histórica; “machismo da sociedade”; tripla jornada de trabalho; e “cultura paternalista”. Em alguns casos, o descrédito geral na política, incluindo as mulheres, é também apontado como impeditivo para uma repartição de candidaturas mais equânimes por gênero. Alguns dirigentes partidários conseguem elaborar uma crítica à sua agremiação, alegando a falta de comprometimentos das lideranças em incitar a participação de mulheres ou da vontade de ouvi-las, estimulando assim a abertura de espaços internos. Há, no entanto, quem atribua à própria lógica das campanhas eleitorais a prioridade conferida aos homens, resultado da dificuldade de financiamento para campanhas femininas (BARREIRA; GONÇALVES, 2012, p. 324). 194 Como acabam ocupando cargos pouco relevantes na estrutura interna dos partidos a atuaç~o das mulheres militantes resulta em “histórias invisíveis” (GOLDENBERG, 1997). São mulheres que se filiam aos partidos, atuam como militantes, mas em termos de exercício de cargos na estrutura organizacional dos partidos limitam-se a ocupar postos de menor escalão, mais em nível de apoio. Em outras palavras, atuam como assistentes ou auxiliares dos dirigentes masculinos, como secretárias ou funções similares. Nessa ordem de ideias convém mencionar os achados do estudo empírico de Gomes (2016) realizado com candidatas a deputadas estaduais em Minas Gerais. As conclusões do autor mostram que elas se sentem negligenciadas pelos seus respectivos partidos, sem apoio efetivo para a competição eleitoral. Baseada nos relatos das próprias candidatas, o autor demonstra como os discursos das legendas nas arenas públicas em muito diferem de suas práticas nos bastidores e nas práticas dos partidos. O estudo ressalta ainda que dois fatores são fundamentais para o sucesso eleitoral: o financiamento de campanha e a ocupação Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 prévia de cargos públicos ou eletivos, ambos dificultados às mulheres pelas estruturas partidárias (GOMES, 2016). Segundo Sacchet (2012, p. 165), a quest~o central é que os partidos “n~o apenas têm preferência por candidatos homens, mas que eles funcionam por uma lógica de comportamento masculino que isola e desestimula a participação feminina”. Os líderes partid|rios, entretanto, ao serem questionados sobre o assunto, “contestam tal noç~o e, de forma mais ou menos explícita, atribuem {s próprias mulheres a causa de seu baixo desempenho eleitoral, apresentando como explicação contundente seu suposto desinteresse político (SACCHET, 2012, p. 165). A constatação, entretanto, é que os partidos exercem um peso central para a promoç~o política das mulheres, “considerando-se sua importância no processo de recrutamento e seleção de candidatos, como fonte de recursos financeiros e sua influência sobre a agenda política” (SACCHET, 2012, p. 184). No caso dos partidos brasileiros, estudos mostram que existem especificidades que interferem nas formas de recrutamento, inclusive de mulheres, uma vez que partidos diferentes teriam diferentes maneiras de se organizar 195 internamente e, por isso, diferentes estratégias e mecanismos para o recrutamento (COSTA; BOLOGNESI; CODATO, 2013). Para os autores, é necessário avançar no emprego de variáveis sociais e político-institucionais no entendimento dos processos de recrutamento político no Brasil, uma vez que a discussão tem sido prejudicada pela dicotomia entre as vertentes culturalistas e as perspectivas institucionalistas. Enquanto a primeira é centrada nas heranças culturais do patriarcalismo e na visão de que as mulheres são discriminadas no campo político, a segunda procura enfatizar explicações causais especificamente políticas, como as formas de seleção, formação e treinamento de líderes políticos, a estrutura partidária e o nível de institucionalização das legendas. Os autores chamam atenção para não se absolutizar ou naturalizar nem os aspectos sociais, nem os institucionais. A perspectiva analítica mais adequada, conforme a avaliaç~o dos autores mencionados “n~o é puramente sociológica, nem puramente politológica”, mas é a da sociologia política, tal como formulada por Giovanni Sartori: “A sociologia política é um híbrido interdisciplinar que tenta combinar as variáveis sociais e políticas explanatórias, isto é, os insumos sugeridos Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 pelo sociólogo e os sugeridos pelo cientista político” (COSTA; BOLOGNESI; CODATO, 2013, p. 5). O recrutamento partidário de mulheres é uma das estratégias para atrair e formar lideranças femininas. O recrutamento constitui um tema amplamente estudado na ciência política e continua relevante na atualidade (POWER; MOCHEL, 2008; SIAVELIS, 2012; PERES; MACHADO, 2017). Apesar das especificidades das diferentes abordagens, um ponto de convergência é a visão de que o recrutamento partidário é indispensável para a sobrevivência política das organizações partidárias (CZUDNOWSKI, 1975; HAZAN, 2002). Por isso as legendas atribuem relevância aos variados tipos e estratégias de recrutamento político, principalmente às seguintes modalidades: recrutamento de quadros por meio da filiação e da militância; recrutamento legislativo e parlamentar; e o recrutamento para cargos executivos (PERES; MACHADO, 2017). O recrutamento partidário é a parte essencial da formação de novas lideranças e compreende um amplo e longo processo que pode ser dividido em três etapas: (a) filiação, (b) formação/treinamento e (c) ocupação de alguma 196 posição de importância para o partido, seja fora ou dentro dele (PERES; MACHADO, 2017). É por meio do recrutamento que se dá a renovação dos quadros partidários. Esse processo “n~o é crucial apenas para a permanente reconstruç~o da legitimidade da democracia, mas igualmente para a reprodução das organizações partid|rias mesmas ao longo do tempo” (MACHADO, 2016, p.123). Toda a discussão precedente chama atenção para o fato de que a ciência política atribui grande importância aos partidos, a ponto de considerar que as agremiações partidárias criaram a democracia moderna (SCHATTSCHNEIDER, 1960). Isso reforça a necessidade de permanente recrutamento, visto que atrair novo(as) adepto(a)s é uma estratégia essencial para a renovação das lideranças políticas, o que é imprescindível para a longevidade dessas organizações. Maurice Duverger (1985) é outro autor central no estudo dos partidos políticos que destaca a importância do recrutamento de quadros para as organizações partidárias. Para o autor, a presença de novas lideranças contribui para renovar a perspectiva das elites dirigentes das legendas e também pode colaborar para aumentar a visibilidade das agremiações perante os diversos Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 segmentos das sociedades, especialmente por meio da eleição para o parlamento. Além disso, o recrutamento de mulheres em si já possibilita experiências de formação política que são valiosas para a renovação de quadros de um partido. Afinal, uma mulher que recebeu formação adequada pode assumir cargos mais cedo na estrutura e na organização do partido, atuando como chamariz para atrair mais mulheres. Assim, as legendas conseguem estabelecer uma dinâmica efetiva de incorporação das visões das novas adeptas e, assim, assimilar suas formas políticas de atuação contribuindo para a renovação das lógicas de disputa de poder na organização interna do partido e também na relação com as demais agremiações. No sistema político representativo, “os principais gatekeepers ao acesso das mulheres à política formal são os partidos. Mas a importância destes, passada a fase de seleção, pode ser relativizada a partir de uma perspectiva que considere o impacto de outros elementos institucionais, como, por exemplo, o sistema eleitoral e o financiamento de campanhas” (SACCHET, 2012, p. 165). Afinal, “os partidos s~o atores centrais para a inclusão progressiva das mulheres em processos político- 197 decisórios”. Por outro lado, apesar dessa possibilidade, a estrutura partid|ria, “via de regra, é considerada, por candidatas e membros de grupos organizados de mulheres nos partidos, um dos principais empecilhos para a entrada das mulheres na vida pública” (p. 165). Apesar das estruturas oligárquicas e de viés machista, os partidos políticos passaram a receber incentivos institucionais a partir do início da década de 1990 no sentido de promover a inclusão das mulheres (MOISÉS; SANCHEZ, 2014). Entre esses incentivos destacam-se a Lei de Cotas (Lei 9.100/95), que determina a viabilização de cotas para candidatura de mulheres em cada partido ou coligação. A Lei Orgânica dos Partidos Políticos - LOPP (Lei 9.096/95) em seu artigo 44 estabeleceu que as agremiações devem destinar o mínimo de 5% dos recursos do Fundo Partidário para a criação e manutenção de programas de promoção da participação política das mulheres. A LOPP determinou ainda que em todas as legendas fosse criado um órgão específico para cuidar disso, o qual foi denominado de secretaria da mulher. Outra iniciativa relevante foi a criação da Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 ONU-Mulher, entidade da Organização das Nações Unidas, em 2010, para implementar políticas de igualdade de gênero nos partidos políticos. Considerando esse contexto, Ferreira (2012) argumenta que a experiência continuada de novo(a)s filiado(a)s no interior das organizações partidárias funciona como uma “escola”, no sentido de que possibilita o desenvolvimento de competências políticas específicas, que não seria possível sem esse aprendizado. Além disso, proporciona a formação de uma rede de contatos pessoais, que permite o acesso de mulheres às redes de recrutamento parlamentar. A experiência de formação política possibilitada pela imersão no cotidiano partidário também contribui para a produção de vínculos entre o(a)s futuro(a)s líderes do partido e os dirigentes populares. Ademais, o interesse por este tipo de atividade partidária é legitimado e reafirmado pelas redes sociais de pertencimento do(a)s novo(a)s recrutado(a)s, transformando-se em um valor simbólico interno que confere capital social entre seus pares (SILVA, 2015). As mulheres partidárias exercem várias funções em relação aos partidos, tais como potencializar e dinamizar o relacionamento dos partidos com o 198 eleitorado feminino, exercendo o papel de elo comunicativo entre as mulheres e as legendas (BARROS, 2015). Devido à proximidade e à relação continuada com as elites da legenda, ainda segundo o mesmo autor, as mulheres partidárias podem atuar como grupo de pressão intrapartidário, fazendo advocacy de causas, bandeiras ou interesses das mulheres. 3. Análise dos dados Antes da apresentação e da análise dos dados, é oportuno apresentarmos a lógica que seguimos no presente trabalho. King, Keohane e Verba (1995) apontam para a necessidade patente da descrição dos fenômenos sociais. Embora a lógica da inferência seja o que guia a Ciência Política enquanto ciência, boas inferências dependem do conhecimento e descrição do fenômeno. Nesse sentido, nosso trabalho analisa como se dá a participação delas nas atividades das agremiações às quais elas são filiadas. Ainda não possuímos fundamentos teóricos sólidos para proposições de hipóteses teóricas robustas, nem possuímos conhecimento acumulado sobre o Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 perfil e as expectativas de mulheres filiadas aos partidos, pois há poucos estudos sobre esse tema no Brasil. As pesquisas existentes tratam da militância partidária de mulheres em partidos de esquerda (GOLDENBERG, 1997); análise sobre a atuação feminina nos diretórios partidários do estado do Ceará (BARREIRA; GONÇALVES, 2012); participação das mulheres nas comissões executivas estaduais dos partidos (BARBOSA, 2015); influências da experiência como filiada em eleições para o cargo de vereadora (MERLO, 2017). Contudo, como guia para a análise de dados e para responder nossas questões de pesquisa partimos das seguintes proposições: (a) as mulheres solteiras e descasadas (divorciadas e viúvas) são mais ativas na política partidária do que as casadas; (b) as relações familiares são predominantes na motivação para a filiação partidária; (c) os partidos de esquerda estimulam mais a participação feminina; (d) o interesse em se candidatar para a disputa eleitoral aumenta o interesse das mulheres em participar das atividades partidárias. A amostragem foi desenhada com base no modelo de cálculo amostral de Kish (1995), com intervalo de confiança de 95% e variância máxima (p=0,5): 199 Onde n é o tamanho da amostra, N é o tamanho da população e e especifica o erro amostral, dado por 1-precisão. Com base nesse cálculo obtivemos as metas amostrais que constam na tabela abaixo, com uma amostragem de 400 respondentes. Para tanto, foi considerando o total de filiadas de cada partido. Tabela 1– Cálculo Amostral Tamanho da População N 7.348.450 e 0,05 e² 0,0025 95% Tamanho da Amostra n= 400 Fonte: Elaboração própria, com base em Kish (1995). Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 A partir do cálculo amostral acima especificado, foram estabelecidas as metas de amostragem que constam na Tabela 2, considerando o total de filiadas de cada partido. As metas de respostas foram atingidas em todos os casos. Tabela 2 – Metas de amostragem x respostas obtidas Total de filiados Partido 200 % feminino Metas amostragem % % Respostas 36 8,61% MDB 2.402.264 45% 34 8,50 PT 1.587.916 45% 29 7,25 31 7,42% PSDB 1.446.854 44% 27 6,75 29 6,94% PDT 1.251.350 44% 24 6,00 26 6,22% PTB 1.193.113 45% 20 5,00 23 5,50% DEM 1.096.537 43% 20 5,00 22 5,26% PP 1.438.392 44% 18 4,50 19 4,55% PSB 648.444 43% 14 3,50 15 3,59% PR 799.463 44% 14 3,50 14 3,35% PCdoB 392.195 45% 12 3,00 12 2,87% CIDADANIA 482.543 42% 10 2,50 11 2,63% PRB 389.434 51% 10 2,50 11 2,63% PSD 317.420 44% 10 2,50 10 2,39% PV 376.512 41% 10 2,50 10 2,39% PATRIOTA 72.702 40% 8 2,00 9 2,15% AVANTE 185.564 45% 8 2,00 9 2,15% PRP 250.469 45% 8 2,00 8 1,91% PSC 421.661 44% 8 2,00 8 1,91% PSOL 122.571 43% 8 2,00 8 1,91% NOVO 8.825 11% 7 1,75 7 1,67% PCB 14.836 45% 7 1,75 7 1,67% PCO 2.938 41% 7 1,75 7 1,67% PPL 39.562 43% 7 1,75 7 1,67% PROS 91.077 40% 7 1,75 7 1,67% PSDC 186.337 44% 7 1,75 7 1,67% PSL 226.551 43% 7 1,75 7 1,67% PTC 198.443 44% 7 1,75 7 1,67% PODEMOS 161.551 43% 7 1,75 7 1,67% REDE 17.761 17.761 7 1,75 7 1,67% SD 181.125 45% 7 1,75 7 1,67% PHS 210.402 44% 7 1,75 7 1,67% PMB 38.299 55% 6 1,50 6 1,44% PRTB 136.236 43% 6 1,50 6 1,44% Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 PSTU 17.408 46% 6 1,50 6 1,44% PTdoB 223.895 45% 6 1,50 6 400 100 419 1,44% 100,0 0 Total Geral Fonte: Elaboração própria, 2020. A Tabela 3 mostra uma descrição do perfil das informantes da pesquisa. O perfil predominante é de mulheres entre 25 e 49 anos, solteiras, com renda mensal entre cinco e dez mil reais, com ensino médio e superior. Quanto à região geográfica, prevalecem as de maior população: SE, S e NE, que são também as que concentram o maior eleitorado e maior quantidade de filiados/as. Tabela 3 – Perfil das informantes FAIXA ETÁRIA 201 FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA % 16 a 17 anos 12 2,86% 18 a 24 anos 34 8,11% 25 a 29 anos 82 19,57% 30 a 39 anos 118 28,16% 40 a 49 anos 122 29,12% 50 a 59 anos 40 9,55% Acima de 60 anos 11 2,63% 419 100,00% FREQUÊNCIA ABSOLUTA Subtotal ESTADO CIVIL Solteira 233 FREQUÊNCIA RELATIVA % 55,61% Casada / União estável 84 20,05 % Divorciada 63 15,04 % Viúva 39 9,31 % 419 100,00% FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA % Acima de 10 mil reais 136 32,77% De 5 a 7 mil reais 102 24,58% De 7 a 10 mil reais 88 21,20% De 2 a 5 mil reais 65 15,66% Até 2 mil reais 22 5,30% Prefiro não declarar 6 0,48% 419 100,00% FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA % Médio 97 23,15% Superior tecnólogo 89 21,24% Técnico 82 19,57% Superior graduação 81 19,33% Pós-graduação 51 12,17% Subtotal RENDA FAMILIAR MENSAL Subtotal ESCOLARIDADE Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 Fundamental 19 4,53% Subtotal 419 100,00% REGIÃO FREQUÊNCIA ABSOLUTA FREQUÊNCIA RELATIVA % Sudeste 150 35,89% Sul 95 22,49% Nordeste 94 22,49% Centro Oeste 51 12,20% Norte 29 6,94% 419 100,00% Subtotal Total Fonte: Elaboração própria, 2020. 419 Antes da análise dos dados apresentamos ainda um panorama relativo à filiação partidária no Brasil, com a descrição das informações referentes a cada um dos 35 partidos registrados na Justiça Eleitoral até o ano de 2018 (Apêndice 1). O total geral de mulheres filiadas corresponde a 44%, enquanto os homens são 56%. A predominância de filiados masculinos ocorre em todas as legendas, com exceção do PMB e do PRB, que contam com 55% e 51% de mulheres filiadas, 202 respectivamente. Destacam-se ainda com 45% de mulheres entre seus filiados: PCdoB, PCB, MDB, Avante, PRP, PT e SD. O Partido Novo conta com o menor percentual de mulheres filiadas (11%). Observa-se que a distribuição de filiadas entre os partidos é fortemente assimétrica. Como vemos no Gráfico 1, 50% das filiadas concentram-se em 22% dos partidos (8 em números absolutos). Nesse contexto destacam-se MDB (8,59%), PT (7,40%) e PSDB (6,92%) como os partidos com mais filiadas. É importante notar que entre os maiores partidos em termos de filiação todos os matizes ideológicos clássicos estão contemplados, centro, esquerda e direita.5 5 Utilizamos a classificação de Codato, Berlatto e Bolognesi (2018). Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 Gráfico 1 - Participação em atividades do partido Fonte: Elaboração dos autores, 2020. A concentração de mulheres filiadas aos maiores partidos reflete elementos da cultura política brasileira e da própria estrutura do sistema partidário nacional (RIBEIRO, 2013). Aquelas agremiações com inserção e ramificação na maior 203 quantidade de estados e municípios apresentam condições mais favoráveis para o recrutamento e a filiação de mulheres, desde que isso seja definido como prioridade. Além disso, o sistema brasileiro favorece as maiores legendas, com mais recursos financeiros do fundo partidário. Esses recursos permitem maiores investimentos em estratégias para atrair mulheres, como cursos online direcionados para o público feminino e a institucionalização de núcleos, secretarias e similares voltados especificamente para agregar e organizar a militância feminina (BARROS, 2015; BARROS; RODRIGUES; MARTINS, 2015; BARROS, 2017). Uma das características fundamentais da filiação partidária é a possibilidade de incremento na participação política desses membros. Isto é, ser um filiado já é uma característica que distingue esse grupo da população em geral. Mas aqui, vamos avaliar quais são as variáveis de perfil pessoal que afetam a intensidade da participação. O Gráfico 1 resume a situação relativa à participação das mulheres nas atividades partidárias. No questionário aplicado as atividades elencadas eram as seguintes: militância das redes digitais (96%); reuniões dos diretórios femininos locais Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 (17%); cursos de formação política (17%); militância de rua (16%); reuniões municipais (15%); apoio na organização de campanhas eleitorais (12%); reuniões nacionais (8%); reuniões estaduais do partido (7%). A predominância da militância digital se explica pelo baixo investimento e pelas facilidades oferecidas às filiadas, cuja atuação pode ocorrer em qualquer lugar e a qualquer hora, inclusive no ambiente doméstico (BARROS, 2015). A participação nas reuniões dos diretórios femininos locais também se justifica pela facilidade de acesso às reuniões, pois são realizadas na cidade onde moram as filiadas. Além disso, destaca-se o baixo custo, visto que não exige longos deslocamentos. Tais reuniões geralmente são realizadas nos finais de semana, outro fator que facilita a presença das mulheres. Os cursos de formação política se explicam pelo elevado interesse das mulheres pelo conhecimento e pela exigência da legislaç~o brasileira, que obriga os partidos a investir até “20% dos recursos oriundos do Fundo Partidário para atividades de educação política, além de manutenç~o de institutos de pesquisa e doutrinaç~o” (BARROS; RODRIGUES; MARTINS, 2015, p. 11). 204 A participação em atividades relacionadas aos partidos é diferente quando se leva em conta o tipo de atividade. Por exemplo, no Gráfico 2, observamos que no que se refere as atividades de campanha e recrutamento as filiadas tendem a exercer apenas uma atividade. Nesse sentido, esse tipo de atividade parece engajar menos as filiadas. Essa afirmação parece fazer sentido, principalmente ao olharmos as atividades partidárias e de formação política. Na média, as filiadas participam de 2,08 atividades partidárias e 1,39 atividades formação política. A mediana das atividades só foi superior a 1 no caso de atividades partidárias; metade da distribuição participou de pelo menos 2 atividades partidárias, mas apenas 25% deles participaram de pelo menos 3. No caso, de formação política, os últimos 25% participaram de, pelo menos, duas atividades. De fato, atividades de campanha política na rua e recrutamento são aquelas com menor engajamento. Aqui há dois fatores que devem ser considerados. O primeiro é o tempo necessário para as atividades de campanha política e eleitoral na rua, o que dificulta a participação de mulheres, especialmente aquelas que são casadas, devido ao tempo destinado aos afazeres domésticos. O segundo Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 certamente está relacionado à centralização do planejamento e execução das atividades relativas ao recrutamento, cujos responsáveis, geralmente são pessoas que ocupam cargos na hierarquia administrativa dos partidos, sendo, portanto, um número limitado de indivíduos, geralmente homens (BARROS, 2017). O Gráfico 2 apresenta ainda a distribuição média da soma da participação em todas as atividades partidárias, de formação, campanha política e recrutamento. Observamos uma distribuição assimétrica à direita, isto é, à medida que o indicador de participação aumenta menos frequente ele é. Ao levar em conta todas as atividades, na média cada filiada participa de 5,86% atividades. De acordo com a mediana, metade das filiadas participou de pelo menos cinco atividades, sendo que os 25% participaram de pelo menos sete delas. Trata-se, aparentemente, de um nível expressivo de participação das filiadas. Gráfico 2 - Média de participação em atividades do partido A B 205 Fonte: Elaboração dos autores, 2020. O Gráfico 2 (acima) evidencia que não há uma correspondência perfeita entre ter mais filiadas e maior participação em atividades. MDB e PSDB mesmo sendo dois dos maiores partidos em termos de filiadas, estão pouco acima da média de participação. Por outro lado, as filiadas do PSOL, REDE e PT destacam-se no engajamento nas atividades dos partidos. Isso mostra que o volume de filiadas não é necessariamente um indicador de qualidade em termos de envolvimento das filiadas com as atividades partidárias. Os partidos à esquerda, como no caso dos acima mencionados, mesmo com um número menor de mulheres filiadas, contam com maior engajamento das mulheres. Além dos fatores já conhecidos pela literatura ( ALMEIDA, 2015; PINTO, Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 2018), certamente a cultura interna dessas legendas favorece a maior participação de mulheres. Estudos recentes sobre os estatutos partidários mostram as agremiações mencionadas buscam oferecer condições mais favoráveis para a participação de mulheres (GUIMARÃES; RODRIGUES; BRAGA, 2019). Por outro lado, vemos que mesmo com menos filiadas (tamanho organizacional) partidos como Patriota, PTdoB e PSTU não conseguem engajar suas filiadas como seria esperado pela lógica da ação coletiva em grupos menores (LACERDA, 2011; SOMBRA, 2016). Certamente isso se deve à estrutura hierarquizada e oligárquica e da baixa nacionalização. Convém ressalvar, contudo, que participar em menos atividades não significa necessariamente baixo engajamento, considerando a qualidade ou impacto da participação das filiadas, inclusive do ponto de vista do tempo dedicado. Essa medida apenas sintetiza disponibilidade para participar. É totalmente cabível que uma filiada participe pouco, mas seja de importância fundamental no desenvolvimento do partido. Outras, ao contrário, podem participar de muitas atividades simultaneamente, porém com dedicação de pouco 206 tempo e em atividades de menor peso para o fortalecimento da participação feminina no interior das agremiações. Mas quais são as variáveis que afetam a participação em atividades do partido? Quais são as possíveis causas do maior engajamento nesse tipo de atividade? Abaixo comparamos o indicador de participação e variáveis de perfil das filiadas. Podemos iniciar com características de perfil socioeconômico das filiadas. Ribeiro (2013, p. 43) ressalta que a desigualdade na distribuição dos recursos financeiros e políticos é um problema estrutural no Brasil. Para o autor, todas as modalidades de envolvimento político “s~o distribuídas de forma desigual entre a população, sendo mais recorrentes entre aqueles que possuem maior volume de recursos materiais e cognitivos”. Elementos como a renda, escolaridade, gênero, raça/cor, região de residência são apontados como os principais fatores que podem estimular ou limitar a participação política. Isso porque as desigualdades socioeconômicas produzem desigualdades políticas (ALENCAR et Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 al., 2013). A inclusão e inserção de mulheres no âmbito dos partidos políticos estão diretamente relacionadas com essas questões. 3.1 Variáveis socioeconômicas x participação partidária A figura abaixo sumariza como a participação está relacionada ao estado civil das filiadas. Gráfico 3 - Estado civil e participação em atividades do partido A B F = 1.073, p-valor = 0.343 207 Fonte: Elaboração dos autores a partir dados do TSE, 2018. De acordo com os dados do Gráfico 3, podemos observar que à medida que se aumenta os valores de participação, menor tende a ser a diferença entre as solteiras e as demais. Isto é, quando se fala de participação entre quatro e seis atividades diferentes no partido as solteiras levam vantagem em relação às casadas e descasadas, mas o contrário não é verdadeiro. Mulheres não casadas também são participativas. Fizemos uma comparação entre as médias de participação com intervalo de confiança de 95%. Observamos que as casadas na média participam de mais atividades do que os demais. Contudo, como vemos nas barras, os intervalos de confiança se interpõem indicando não haver a possibilidade de diferenciação estatística decorrente do estado civil.6 Fizemos também o teste agregando solteiras e descasadas no mesmo grupo. Do mesmo modo o teste indicou não haver diferenças estatísticas significativas no que concerne a participação em atividades partidárias. 6 Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 Gráfico 4 - Variáveis socioeconômicas e participação em atividades partidárias A B C 208 Fonte: Elaboração dos autores a partir dados do TSE, 2018. O Gráfico 4 apresenta as típicas variáveis de perfil socioeconômicas e sua relação com a participação em atividades partidárias. Filiadas que estão empregadas são um pouco mais participativas do que as desempregadas (uma diferença de 0.12). Entretanto, essa diferença é praticamente nula em termos de significância estatística. Vemos, por outro lado na parte B do gráfico, que alta renda familiar está relacionado a menor participação. Filiadas com renda mensal de até R$ 2 mil tem participação média de 6,09, enquanto o grupo de até R$ 7 mil aparece com média 6,0; e 5,74 para renda superior a esse intervalo. Como vemos, as médias são praticamente iguais nas duas primeiras faixas. Filiadas com renda no maior estrato tendem a ser menos participativas em média, que as do grupo anterior. A questão da renda certamente é complexa, mas um dos fatores que devemos considerar é que pessoas de baixa renda tendem a participar mais Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 quando se trata de mobilizações em prol de reivindicações associadas a políticas públicas voltadas para suprir necessidades materiais da população. Entre essas reivindicações destacam-se: emprego, saúde, educação, segurança, transporte público e moradia. As pessoas de maior renda, ao contrário, mobilizam-se menos em relação a esses temas, devido sua condição financeira (VIANA, 2019). No caso dos partidos, certamente esses fatores também influenciam, mesmo que não seja possível estabelecer uma relação direta no caso em estudo. Finalmente, na parte C do Gráfico 4 observamos o perfil educacional. Como vemos alto nível educacional parece indicar maior participação. Tanto curso técnico, graduação e pós-graduação possuem média superior que filiadas com apenas nível fundamental ou médio. Esses dados, não podem ser generalizados para a população, contudo. Apesar disso, convém mencionar os estudos que mostram o quanto a educação pode favorecer a cultura democrática e a participação política (BARROS, 2016b). Embora ainda não haja estudos específicos acerca da influência da escolarização na filiação partidária de mulheres e na participação delas no interior das agremiações, certamente as conclusões de 209 estudos mais amplos não devem ser desconsideradas. 3.2 Capital familiar, capital militante e participação nas atividades partidárias Agora podemos descrever como variáveis sociopolíticas podem afetar a participação das filiadas. Os dados mostram que 48,93% das filiadas atribuem a filiação ao incentivo da família. Quanto à influência de movimentos militantes, 20,5% informaram que foram motivadas pela militância estudantil, enquanto 11,22% filiaram-se em função do ativismo em movimentos sociais. A convivência com pessoas já filiadas aos partidos aparece com 13,60%, superando a influência dos movimentos sociais. Apenas 6,21% tomaram a iniciativa de procurar o partido por conta própria, revelando o quanto as relações sociais interferem na decisão de se filiar. Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 Estudos sobre socialização política de jovens7 são convergentes com esses resultados, como o de Barros (2018, p. 870) que mostra “a força dos suportes sociais de proximidade na formação e socialização política, tanto em termos de fontes de informaç~o como de influência política e partid|ria”. O mesmo estudo apresenta percentuais similares relativos à influência dos movimentos estudantis e dos movimentos sociais na socialização política, com 20,83% e 12,60%, respectivamente. Essa convergência nos leva a pensar que a socialização política das mulheres que decidiram se filiar a partidos políticos, pelo menos na fase juvenil, não foi tão diferenciada em relação aos homens. Interessante observarmos que 52,03% delas indicam que possuem algum familiar na política. Esse dado mostra a força do capital familiar na política brasileira (MIGUEL; MARQUES; MACHADO, 2015). O capital familiar é definido pelos autores como uma forma de capital político que é derivado das relações de parentesco, levando alguém a ter sucesso na política pelo simples fato de fazer parte de uma família com tradição na política. Isso significa que o simples fato de carregar um sobrenome de prestígio no campo político já pode gerar capital 210 eleitoral, com larga vantagem em relação àqueles e àquelas que não contam com familiares em cargos de liderança política. As pesquisas empíricas mostram que as mulheres são as que mais se beneficiam do capital familiar, principalmente no caso de partidos tradicionais, conservadores e de direita. Esse tipo de capital é mais concentrado em regiões menos desenvolvidas, com baixo índice de desenvolvimento socioeconômico e eleitores pouco escolarizados. Esse tipo de capital gera práticas políticas clientelistas e contribui para a “formaç~o de cl~s políticos, cujos integrantes s~o estimulados ou mesmo constrangidos a ocupar os espaços que os membros mais velhos ou mais importantes deixam para tr|s” (MIGUEL; MARQUES; MACHADO, 2015, p. 727). Agora vamos verificar se esse fato afeta a chance de uma filiada participar mais ou menos das atividades do partido, conforme exposto no Gráfico 5. Utilizamos estudos sobre socialização política de jovens porque não há estudos brasileiros sobre a socialização política de mulheres. Entretanto, consideramos o paralelo válido, visto que essas mulheres também foram jovens. 7 Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 Gráfico 5 - Influência familiar x Participação em atividades do partido (ic 95%) A B t = 2.4157, df = 407.92, p-value = 0.016 t = 3.0377, df = 416.94, p-value = 0.003 Fonte: Elaboração dos autores a partir dados do TSE, 2018. Embora a família influencie as mulheres na decisão de se filiar, os dados sugerem que mulheres que não foram suscetíveis a influência familiar possuem maior indicador de participação em atividades partidárias. De acordo com esses dados, a média de participação de mulheres que não tem familiares na política 211 partidária é de 6,14%, enquanto para aquelas com algum familiar na política, o percentual é de 5,59%. É oportuno mencionar aqui que, em contraposição ao capital familiar, existe o capital militante, que é construído ao longo de uma trajetória de engajamento e ativismo em um movimento social específico, com uma pauta definida e socialmente legitimada. O alcance e a força do capital militante estão condicionados à abrangência geográfica do movimento, à inserção em múltiplas redes sociais e conexões com movimentos similares (ROMBALDI, 2006; SEIDL, 2014; PALUMBO, 2018). Geralmente o militante político vai acumulando capital ao conquistar a confiança das bases, o que o leva a exercer postos de comando em liderança em níveis mais abrangentes, passando de uma associação de bairro ao plano da cidade, do município, do estado, até alcançar visibilidade e prestígio em nível nacional. No caso das mulheres filiadas, esse capital as credencia inicialmente ao cargo de vereadora e depois a postos de maior abrangência geográfica, como prefeita, deputada estadual, governadora, deputada federal, senadora. Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 De maneira semelhante, mulheres que receberam incentivos de outras pessoas para sua filiação (colegas de movimentos estudantis e de movimentos sociais) participam em média de 6,19% das atividades. Isso representa 0,68% a mais do que pessoas que se filiaram graças ao incentivo de algum parente. As diferenças apresentadas possuem significância estatística. Isto é, mesmo sendo uma diferença pequena, temos evidências de que seria bastante improvável observá-la ao acaso. O capital militante é mais relevante, portanto, para esse segmento específico. 3.3 Espectro ideológico x participação nas atividades partidárias O Gráfico 6 apresenta os dados relativos ao espectro ideológico dos partidos, conforme a percepção das informantes. Gráfico 6 - Ideologia partidária e participação das filiadas 212 F = 5,988 , p-valor=0,003 df=411 Fonte: Elaboração dos autores a partir dados do TSE. Normalmente espera-se que no Brasil, partidos de esquerda consigam manter suas filiadas engajadas em maior quantidade e qualidade, como mostram vários estudos já mencionados na primeira parte do texto ( ALMEIDA, 2015; PINTO, 2018). Nossa variável não captura a ideologia real dos partidos, mas sim, como as filiadas os enxergam. Nossos dados mostram que partidos considerados de esquerda pelas informantes possuem mulheres filiadas mais engajadas no que Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 se refere a sua participação em atividades do partido, uma média de 6,30% atividades. Partidos considerados de centro possuem uma média de atividade de 5,98% e os de direita 5,28%. Contudo, ao avaliarmos os intervalos de confiança e um teste de Tukey, a única diferença significativa a 5% é entre partidos de esquerda e direita. Sendo que os primeiros contam com filiadas mais participativas: 1,02 a mais na média. Os partidos considerados de centro são os predominantes na escolha das filiadas, quando se trata de espectro ideológico, como mostra a Tabela 4, seguidos dos partidos de esquerda. Os de direita aparecem em último lugar. É oportuno ressaltar que aqui estamos tratando das autopercepções das filiadas. Afinal, o debate acerca do enquadramento dos partidos brasileiros em determinado espectro ideológico não é simples, mas bastante controverso. Mesmo assim, como explicam Tarouco e Madeira (2013, p. 109), “apesar da alardeada inconsistência ideológica dos partidos brasileiros, a sua classificação na dimensão esquerda- 213 direita é reconhecida tanto pelos próprios políticos quanto pelos analistas”. Para os autores, “isto significa que as classificações correntes s~o na maioria válidas e podem continuar sendo usadas nos estudos que, ainda hoje, procuram pelos efeitos da ideologia partid|ria sobre outras vari|veis” (TAROUCO; MADEIRA, 2013, p. 109). Para os nossos propósitos aqui, achamos pertinente a definição de (SCHEEFFER, 2018, p. 4) de que a esquerda representa o conjunto de forças que luta, essencialmente, por transformações que resultem na instauração de uma ordem diferente da capitalista, ou transformações que resultem em uma reformulação substancial da mesma. Mesmo que o teor e o grau das mudanças possam variar de acordo com uma esquerda mais ou menos “radical”, o que est| presente em qualquer esquerda é o caráter contestatório assumido. A direita, por outro lado, se refere às forças favoráveis à manutenção da ordem social e política. A direita se preocupa, basicamente, em conservar e não alterar o sistema que está dado. Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 Tabela 4 - O que teve mais peso na escolha do partido quanto ao posicionamento ideológico? Respostas O fato de ser um partido com um claro posicionamento de centro O fato de ser um partido com um claro posicionamento de esquerda O fato de ser um partido com um claro posicionamento de direita Não sei avaliar Total Frequência Frequência absoluta relativa % 199 47,84% 114 27,40% 101 5 419 24,28% 0,48% 100,00% Fonte: Elaboração própria, 2020. Em estudo mais recente Codato, Berlatto e Bolognesi (2018) também reconhecem que o quadro partidário instável no Brasil dificulta a classificação em função de um eixo esquerda-centro-direita e citam o trabalho de Tarouco e Madeira (2013) como válido atualmente. 214 3.4 Interesse em disputar eleições x participação nas atividades partidárias O interesse em disputar uma eleição pode incentivar a participação das filiadas em atividades partidárias. A figura abaixo sumariza essas informações. Gráfico 7 - Interesse em concorrer e média de participação A B Anova: F = 3.75; p-valor 0,026. Diferença: Sim Não sabe = 0,78; p-valor= 0,024 Fonte: Elaboração dos autores a partir dados do TSE (2018). Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 De acordo com nossos dados, o item “filiadas que assinalam o interesse em disputar alguma eleiç~o” possui uma média de atividade maior que as demais. A diferença é de 0,28 entre aquelas que dizem “N~o” e aquelas que dizem “Sim”. A diferença entre as que dizem “Sim” e “N~o sabe” é 0,73. A única diferença significativa é justamente essa, filiadas que pensam em ser futuras candidatas são estatisticamente mais participativas do que aquelas que ainda não sabem se serão candidatas. No caso da pretensão em assumir cargos na burocracia do partido a participação em atividades partidárias é maior em média (6,14) do que as que não querem (5,69) ou não sabem (5,77). Embora não haja possibilidade de generalização é importe salientar como as médias tendem a se afastar indicando uma diferença importante. O interesse em disputar eleição pelo partido parece estar relacionado à participação nas atividades, mas não de forma linear. Enquanto, filiadas que dizem que pensam em ser candidatas são mais participativas em média, as menos participativas são aquelas que respondem não saber se irão se candidatar. Isto é, as 215 que respondem “N~o” { quest~o possuem nível de atividade partid|ria mais próximo das que respondem “Sim” do que aquelas que est~o em dúvida. No caso da ocupação de cargos, as filiadas com interesse são consideravelmente mais ativas na participação do que as demais. Novos estudos podem ser realizados para aprofundar como a ambição política afeta o comportamento das filiadas. Entretanto, já existem pesquisas que confirmam maior predisposição das afiliadas a se envolverem mais intensamente nas atividades partidárias quando há interesse em se candidatar e concorrer a eleições, a exemplo do estudo já citado de Resende e Epitácio (2017) que mostra como isso ocorre de forma expressiva no caso de candidaturas de mulheres ao cargo de vereadora. 4 Considerações finais Mais que propor correlações ou generalizações, os dados descrevem um elemento essencial da atividade político-partidária: a participação das filiadas nas atividades das legendas. Tanto informações de participação nos partidos, quanto Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 de perfil de filiados/as são escassas no Brasil (RIBEIRO; AMARAL, 2019). Nesse sentido, iniciamos um campo aberto de investigação. Observamos que as filiadas tendem a se concentrar nos grandes partidos nacionais em todos os espectros ideológicos, o que se explica certamente pelas maiores possibilidades de recursos oferecidos pelas grandes agremiações. Nesse sentido, as filiadas estão sendo integradas na política mais tradicional (sem nenhuma conotação pejorativa), ou seja, nas maiores agremiações, que já dominam o cenário político em termos nacionais. Aqui percebemos empiricamente a relevância da nacionalização dos partidos, como mostram vários estudos citados na primeira parte do texto (GUIMARÃES; RODRIGUES; BRAGA, 2019). A integração ativa dessas filiadas também não é homogênea entre os partidos. Uma agenda futura poderia buscar responder o que cada um desses partidos faz para estimular a participação de suas filiadas ou a quais papeis internos elas são incentivadas a exercer. Nossos dados sugerem a existência de diferenças entre as legendas, o que demandaria estudos mais detalhados, especialmente pesquisas qualitativas. 216 Os dados sugerem ainda que as filiadas participam de forma diferente ao variar as atividades. Militância partidária nas redes digitais e cursos de formação política contam com maior adesão delas, do que as atividades de campanha e recrutamento político. Uma nova agenda pode contribuir ao avaliar novos tipos de atividades, sejam em estudos com large n ou estudos de casos. Os dados de perfil socioeconômico são pouco conclusivos. Em alguns casos diferenças são mais claras, mas com baixa capacidade generalizante. Mulheres solteiras, viúvas e divorciadas, com situação ocupacional empregada, com renda de até R$ 2 mil reais e com educação maior que ensino médio são mais participativas. O problema relativo ao estado civil parece ser facilmente explicado em função da menor demanda doméstica em termos de cuidados com filhos e com a casa de modo geral. Entretanto, chama atenção o fator renda, visto que as filiadas com maior renda mensal familiar são menos participativas. No caso de variáveis sociopolíticas, os resultados mostram que o capital familiar não atua como motivador da participação nas atividades internas dos partidos. O que podemos deduzir de tais informações é que aquelas que se Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 beneficiam das relações familiares não se sentem motivadas ao envolvimento nas atividades porque o status familiar já parece suficiente para lhe garantir prestígio interno no âmbito das legendas e sucesso na carreira. Ao contrário dessas, aquelas que não usufruem desse tipo de capital buscam pelos seus próprios meios, formas de credenciamento no interior dos partidos, por meio das atividades internas proporcionadas pelas agremiações. Desprovidas de capital familiar, essas mulheres procuram desenvolver capital militante, como forma de adensar sua atuação no partido e se credenciar perante suas parceiras de legenda e também fora do âmbito partidário. Aqui percebemos convergência com as conclusões de Barreira e Gonçalves (2012), no que se refere à atuação de mulheres militantes de partidos de esquerda. Por outro lado, a distinção é clara entre a percepção da ideologia partidária e participação das filiadas. Aquelas que enxergam seus partidos à esquerda são em média mais participativas que aquelas que enxergam seus partidos como de centro e de direita. Esse resultado encontra respaldo teórico que indica mais capacidade de mobilização participativa nos partidos mais à esquerda no espectro ideológico, 217 conforme foi ressaltado na primeira parte do texto (KATZ; MAIR, 1992; SACCHET, 2012; ALMEIDA, 2015). Nossos resultados possuem baixa capacidade de generalização, mas entregam descrição e insights para futuras investigações que parecem promissoras. Novos estudos poderão ser direcionados de forma a superar as limitações apontadas aqui e estabelecer uma agenda frutífera de investigação sobre filiação e participação de mulheres nas organizações partidárias brasileiras. Essa abordagem se reveste de especial interesse mediante os estudos que mostram o quanto isso pode impulsionar candidaturas femininas (RESENDE; EPITÁCIO, 2017; MORAES; GOULART; MERLO, 2017). Igualmente relevantes são os estudos internacionais que mostram que a filiação partidária e a participação das mulheres nas atividades internas das legendas impulsionam carreiras políticas ( MATLAND, 2002; ARAÚJO, 2005). Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 5 Referências ALENCAR, Joana et al. Participação social e desigualdades nos conselhos nacionais. Sociologias, v. 15, n. 32, 2013. p. 112-146. ALMEIDA, Maria Antónia Pires. Mulheres na política portuguesa. In: FERREIRA, Eduarda et al (Org.). Percursos feministas: desafiar os tempos. Lisboa: Universidade Feminista/UMAR, 2015. p. 164-174. ARAÚJO, Clara. Partidos políticos e gênero: mediações nas rotas de ingresso das mulheres na representação política. Revista de Sociologia e Política, n. 24, 2005. p. 193-215. BARBOSA, Tiago Alexandre Leme. 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Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 APÊNDICE 1 – DADOS SOBRE FILIADOS A PARTIDOS PORLÍTICOS POR SEXO Partido DEM NOVO PC DO B PCB Feminino % Feminino Masculino % Masculino 1.096.537 475.849 43% 611.829 56% 8.825 959 11% 7.863 89% 392.195 174.651 45% 216.277 55% 14.836 6.615 45% 8.095 55% PCO 2.938 1.211 41% 1.722 59% PDT 1.251.350 553.297 44% 694.501 56% 72.702 29.350 40% 43.321 60% PHS 210.402 92.061 44% 117.881 56% PMB 38.299 20.984 55% 17.297 45% 2.402.264 1.076.851 45% 1.317.980 55% 223.895 100.690 45% 122.725 55% 1.438.392 637.084 44% 797.663 55% PATRIOTA PMDB PMN PP PPL 224 Filiados total 39.562 17.179 43% 22.363 57% CIDADANIA 482.543 200.770 42% 278.885 58% PR 799.463 355.239 44% 442.541 55% PRB 389.434 198.857 51% 190.004 49% PROS 91.077 36.456 40% 54.595 60% PRP 250.469 112.009 45% 137.743 55% PRTB PSB PSC 136.236 648.444 421.661 59.113 278.098 185.203 43% 43% 44% 76.688 368.382 235.466 56% 57% 56% PSD PSDB PSDC PSL PSOL PSTU 317.420 1.446.854 186.337 226.551 122.571 17.408 129.808 643.283 82.712 98.297 53.051 7.945 41% 44% 44% 43% 43% 46% 187.463 798.197 103.141 127.330 69.411 9.442 59% 55% 55% 56% 57% 54% PT AVANTE PTB PTC PODEMOS PV 1.587.916 185.564 1.193.113 198.443 161.551 376.512 703.572 83.209 534.840 86.569 68.940 156.123 44% 45% 45% 44% 43% 41% 875.813 101.815 654.585 111.427 92.114 219.397 55% 55% 55% 56% 57% 58% 17.761 181.125 16.630.650 6.253 81.322 7.348.450 35% 45% 44% 11.496 99.719 9.225.171 65% 55% 55% REDE SD Total Fonte: Elaboração própria com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral, 2020. Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7 225 Women members of political parties: militant action and participation in party activities Mujeres del partido: actuación militante y participación en actividades del partido Antonio Teixeira de Barros Willber da Silva Nascimento Antonio Teixeira de Barros Willber da Silva Nascimento Abstract: The article aims to evaluate how women affiliated to Brazilian political parties work within the structure and organization of the captions. The analytical focus is on the participation of these women in party activities, considering that the literature points to such participation as one of the factors that boost women's political careers. The following factors are assessed as influencing this participation: socioeconomic variables; family capital and militant capital; ideological spectrum of subtitles; informants' interest in running for election. The hypothesis adopted and confirmed is that women affiliated to left-wing parties, single and more educated are the most participative within the associations. The study is based on a survey applied to 419 women affiliated to parties. The main locus of militant action by affiliated women occurs in the virtual sphere. Student movements and social movements are the main mechanisms for the party recruitment of women on the left, while on the right are kinship relations. Resumen: El artículo tiene como objetivo evaluar cómo las mujeres afiliadas a los partidos políticos brasileños trabajan dentro de la estructura y organización de los subtítulos. El enfoque analítico está en la participación de estas mujeres en las actividades del partido, considerando que la literatura apunta a dicha participación como uno de los factores que impulsan las carreras políticas de las mujeres. Se evalúa que los siguientes factores influyen en esta participación: variables socioeconómicas; capital familiar y capital militante; espectro ideológico de subtítulos; interés de los informantes en postularse para elecciones. La hipótesis adoptada y confirmada es que las mujeres afiliadas a partidos de izquierda, solteras y más educadas son las más participativas dentro de las asociaciones. El estudio se basa en una encuesta aplicada a 419 mujeres afiliadas a partidos. El lugar principal de la acción militante de las mujeres afiliadas ocurre en la esfera virtual. Los movimientos estudiantiles y sociales son los principales mecanismos para el reclutamiento de mujeres por parte de la izquierda, mientras que a la derecha están las relaciones de parentesco. Keywords: Party affiliation; Women affiliated to political parties; Female party recruitment; Women and party politics. Palabras clave: afiliación partidista; Mujeres afiliadas a partidos políticos; Reclutamiento femenino del partido; Mujeres y política de partidos. Recebido em 20 de janeiro de 2020 Aprovado em 9 de julho de 2020 Agenda Política. Revista de Discentes de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos Volume 9, Número 1, p. 186-225, janeiro-abril, 2021 https://doi.org/10.31990/agenda.2021.1.7