Estratégias de Estabelecimento
e Implementação de Metas
Contraste Mental e Intenções de Implementação
Oettingen & Gollwitzer (2010)
Quando Viktor Frankl (1959/1984) reflectiu sobre a forma de dominar os
desafios da vida, no seu caso a horrenda tarefa de sobreviver a um campo de
concentração, ele descobriu a seguinte resposta:
“Não importava o que é que nós esperávamos da vida, mas o que
é que a vida esperava de nós. Nós precisávamos de parar de nos
interrogar sobre o significado da vida, e em vez disso de olharmos para
nós como aqueles que estavam a ser interrogados pela vida – a cada dia
e a cada hora. A nossa resposta tinha de consistir, não em conversa e
meditação, mas em acção e conduta adequadas. Em última instância, o
significado da vida era o de tomar a responsabilidade de encontrar a
resposta certa para os próprios problemas e de cumprir com as tarefas
que a vida estava constantemente a atribuir a cada indivíduo.” (p.122)
Frankl parecia sugerir que tomar a responsabilidade das próprias acções é a
forma de dominar os desafios da vida quotidiana. Mas como é que as pessoas podem
tomar responsabilidade pelas suas acções? Neste capítulo sugerimos uma forma efectiva
de tomar a responsabilidade pelas próprias acções: auto-regular a busca pelas próprias
metas.
A investigação sobre a psicologia das metas sugere que a persecução bem
sucedida de metas se apoia em duas tarefas sequenciais: o estabelecimento das metas e a
implementação das metas. A distinção entre o estabelecimento e a implementação das
metas foi enfatizado originalmente por Kurt Lewin (1926; Lewin, Dembo, Festinger &
Sears, 1944). Esta distinção revelou-se muito útil para a compreensão de muitas
descobertas novas produzidas pelo ressurgimento da investigação em metas (Bargh,
Gollwitzer & Oettingen, 2010; Oettingen & Gollwitzer, 2001), e por isso utilizamo-la
para organizar este capítulo. Primeiro discutimos a investigação sobre auto-regulação do
estabelecimento de metas, e depois passamos às descobertas sobre a auto-regulação da
implementação de metas. Finalmente, propomos uma intervenção de melhoria da autoregulação, que capitaliza a aquisição e utilização destas estratégias de estabelecimento e
de implementação de metas.
Estabelecimento de Metas
Se as pessoas querem atingir metas, precisam de as estabelecer enquadradas
numa forma de maximizar a sua concretização. Enquadrar as metas numa óptica de
promover resultados positivos versus prevenir resultados negativos (metas de promoção
vs. de prevenção; Higgins, 1997) facilita a concretização de metas, tal como tentar
adquirir competências em vez de demonstrar a posse de competências (metas de
aprendizagem vs. de desempenho; Dweck, 1999; Dweck & Elliot-Moskwa, capítulo 8
do volume), e antecipar recompensas intrínsecas em vez de recompensas extrínsecas
(metas intrínsecas vs. extrínsecas; Ryan & Deci, 2001). Isto é, a promoção, a
aprendizagem e as recompensas intrínsecas são comummente concretizadas com mais
sucesso do que a prevenção, o desempenho e as recompensas extrínsecas. A precisão
com que os resultados futuros desejados são detalhados, também influencia o sucesso na
concretização das metas. Por exemplo, metas com um enquadramento temporal
proximal (e.g., tenho de acabar hoje o trabalho…) em vez de distal (daqui por seis
meses o projecto tem de estar concluido…) (Bandura & Schunk, 1981) têm maior
probabilidade de ser conseguidas, e metas com definições específicas ( “vou tirar um
15”) em vez de vagas (“irei fazer o meu melhor”) conduzem a melhores desempenhos
(Locke & Latham, 1990).
Também é útil estabelecer metas para com as quais uma pessoa se possa
comprometer fortemente, porque tais metas (intenções) têm uma melhor probabilidade
de serem concretizadas (Ajzen, 1991; meta-análise de Webb & Sheeran, 2006). Os
compromissos fortes com metas baseiam-se na crença de que determinada meta é, tanto
altamente desejada quanto exequível (Ajzen, 1991; Atkinson, 1957; Bandura, 1997;
Gollwitzer, 1990; Klinger, 1975; Locke & Latham, 1990). A Desejabilidade
compreende a união das crenças sobre a agradabilidade das consequências esperadas da
obtenção de metas, de curto e de longo prazo (Heck-hausen, 1977). A Exequibilidade é
definida como “expectativas de ocorrência de acções e de eventos futuros” (Gollwitzer,
1990). Alguns exemplos proeminentes incluem as expectativas que se têm de conseguir
executar um comportamento necessário para a obtenção de um resultado específico (i.e.,
expectativas de auto-eficácia; Bandura, 1977, 1997; Maddux, 1999), expectativas que
um comportamento conduza a um resultado específico (i.e., expectativas de resultados;
Bandura, 1977; crenças de instrumentalidade; Vroom, 1964), e julgamentos acerca da
probabilidade geral de um determinado resultado (i.e., expectativas gerais; Oettingen &
Mayer, 2002). Contudo, é importante reconhecer que a percepção de uma meta desejada
como sendo exequível, não garante ainda um forte compromisso com essa meta.
Estabelecimento Efectivo de Metas:
A Estratégia Auto-Regulatória de Contraste Mental
O modelo de Realização de Fantasia diferencia três modos de pensamento autoregulatório: contraste mental, contemplação e cisma (Oettingen, 2000; Oettingen, Pak &
Schnetter, 2001). Este propõe que, contrastar mentalmente um futuro desejado com a
realidade que está no caminho da sua realização, irá criar um compromisso com as
metas dependente das expectativas. Especificamente, no contraste mental as pessoas
imaginam a concretização de um futuro desejado (e.g., tornar-se um psicólogo clínico;
fazer uma boa apresentação pública) e depois reflectem sobre a realidade presente que
lhes está a impedir de concretizar esse futuro desejado (e.g., grande competição pelos
cursos de formação; ansiedade social). A elaboração conjunta do futuro desejado e da
realidade actual torna ambos acessíveis simultaneamente e liga-os em conjunto, no
sentido em que a realidade será um obstáculo à concretização do futuro desejado. O
contraste mental ajuda as pessoas a decidirem-se quanto ao compromisso a estabelecer
com uma meta a concretizar no futuro, escrutinando a exequibilidade de vir a
concretizar essa meta. Quando a exequibilidade (as expectativas de sucesso) é elevada,
as pessoas comprometem-se fortemente a atingir a meta; quando a exequibilidade é
baixa, formam um compromisso baixo com a meta ou nem formam nenhum. Por outras
palavras, o contraste mental coloca as pessoas a perseguirem metas que são plausíveis e
mantém-nas afastadas de metas intangíveis, tornando a pessoa sensível à questão “quais
são as metas que são alcançáveis?”. Esta estratégia, em última instância deverá proteger
recursos pessoais (tempo, energia e dinheiro), uma vez que as pessoas não demonstrarão
envolvimento face a metas inalcançáveis, e envolver-se-ão sem restrições face a metas
alcançáveis.
Em linha com a Teoria de Resolução de Problemas de Newelle Simon (1972), a
Teoria de Realização de Fantasia concebe as pessoas que pretendem atingir um futuro
imaginado, como confrontadas com o problema de quererem algo e precisarem de se
envolver em acções que possam executar para atingir o resultado desejado (p.72). De
acordo com isto, o espaço objectivo do problema (definido como as exigências
objectivas da tarefa, que são colocadas pelo ambiente) implica tanto o futuro desejado
quanto os obstáculos à sua concretização. Se o espaço subjectivo do problema (definido
como a representação interna e subjectiva do problema em mãos) corresponder ao
espaço objectivo do problema, as pessoas reconhecerão que precisam de actuar sobre o
status quo (o estado actual das coisas) para conseguirem chegar ao futuro desejado.
Assim, a exequibilidade percebida (expectativas de sucesso) de atingir um futuro
desejado, deverá determinar o compromisso das pessoas com a concretização desse
mesmo futuro desejado.
Contudo, se o espaço de problema subjectivo implicar apenas parte do espaço de
problema objectivo (quer apenas o futuro positivo, quer apenas o estado actual
negativo), as pessoas não conseguirão reconhecer que precisam de agir sobre o status
quo de modo a conseguirem concretizar o futuro desejado. De acordo com isto, os
compromissos com metas derivados de considerar apenas um futuro positivo ou uma
realidade negativa (i.e., contemplação ou cisma) não deverão conseguir ser dependentes
da expectativa. Isto é, o nível de compromisso com a meta reflecte o compromisso a
priori que as pessoas mantêm com a questão em aberto, independentemente das
expectativas de sucesso aparentes serem altas ou baixas (Oettingen et al., 2001).
Resumindo, apenas o contraste mental e não as elaborações enviesadas quer do
futuro quer da realidade, ajusta o compromisso com as metas à expectativa de sucesso
das pessoas. Isto é, a contemplação e a cisma são menos efectivas em proteger os
recursos das pessoas do que o contraste mental; os indivíduos que contemplam ou
cismam demonstram um nível de compromisso mediano, mesmo nos casos em que
nenhum compromisso (no caso das expectativas de sucesso baixas) ou o máximo de
compromisso (no caso de expectativas de sucesso altas) seriam as estratégias mais
eficientes em função dos recursos a dispender.
Poderá argumentar-se que o modelo de realização de fantasia se assemelha a
teorias cibernéticas tais como o modelo teste-operação-teste-saida (TOTE; Miller,
Galanter & Pribram, 1960), a teoria do controlo da percepção (Powers, 1973) ou os seus
derivados, ou o modelo auto-regulatório do processo de controlo (Carver & Scheier,
1990). Estes modelos de retroalimentação (circularidade) partilham com a teoria de
realização de fantasia o seu foco sobre o controlo do comportamento ou da percepção.
Contudo, em contraste com a teoria de realização de fantasia, os modelos cibernéticos
assumem que uma discrepância entre o feedback (estado actual) e um padrão definido
(estado ideal) é detectado por um comparador e que isso leva a tentativas de redução da
discrepância. A teoria de realização de fantasia especifica estratégias que influenciam
diferencialmente se as pessoas utilizarão as suas fantasias sobre um futuro desejado para
construir compromissos com metas inteligentes (dependentes das expectativas).
Elaborar o futuro desejado e ver a realidade como um obstáculo potencial pode conduzir
ao compromisso inteligente (selectivo) com as metas. O pensamento unilateral
conduzirá a um compromisso uniforme e moderado com as metas. Isto é, a teoria de
realização de fantasia diz respeito a fantasias vagas sobre o futuro e não a um padrão
definido, refere-se à antecipação de potenciais obstáculos e não a feedback
experienciado e assume que existe uma ligação entre o futuro e o obstáculo, não um
comparador. Adicionalmente, especifica modos de pensamento que desviam a pessoa da
redução da discrepância, apesar das discrepâncias existentes. De forma breve,
retroalimentação, padrão e comparador – as variáveis centrais nos modelos de
retroalimentação (ou circularidade) – não desempenham um papel na teoria de
realização de fantasia, que especifica as estratégias que as pessoas podem utilizar para
criar compromissos com metas que são baseadas nas suas expectativas de sucesso ou
não (ver também, Oettingen & Kappes, 2009).
A teoria de realização de fantasia também pode ser associada com o conceito de
Eu’s possíveis (possible selves; Markus & Nurius, 1986; Oyserman & Markus, 1990) –
isto é, as ideias que as pessoas têm de quem podem vir a ser, de quem gostariam de vir a
ser e de quem temem vir a ser. Os Eu’s possíveis são os componentes cognitivos das
esperanças, expectativas, medos, metas e ameaças, e funcionam como incentivos para o
comportamento. A teoria de realização de fantasia partilha com o conceito o seu foco no
pensamento sobre o futuro. Em contraste com o conceito abrangente de Eu’s possíveis,
contudo, a teoria de realização de fantasia foca-se nos processos que transformam ideias
vagas sobre Eu’s futuros quer em compromissos com metas explicitáveis, baseados nas
expectativas de sucesso da pessoa, quer em compromissos meio descomprometidos, que
são pouco importantes em termos das expectativas de sucesso percebidas pela pessoa.
Dados Empíricos
Uma diversidade de estudos testou os efeitos do contraste mental, da
contemplação e da cisma sobre o compromisso com as metas e sobre a luta pelas metas
(i.e., persecução de metas; Oettingen, 2000; Oettingen et al., 2001). Por exemplo, num
estudo, os caloiros de uma escola vocacional de programação informática (Oettingen et
al., 2001, estudo 4) indicou primeiro as suas expectativas de terem excelentes notas a
matemática. Depois definiram aspectos que associavam à excelência na matemática
(e.g., sentimentos de orgulho, maiores perspectivas de emprego) e obstáculos à
excelência (e.g., estar distraído, sentir-se preguiçoso). De seguida, estabeleceram-se três
condições experimentais para corresponder aos três modos de pensamento. Na condição
de contraste mental os participantes tinham de elaborar por escrito dois aspectos
positivos do futuro e dois aspectos da realidade, em alternância, começando com um
aspecto positivo do futuro. Aos participantes na condição de contemplação era-lhes
pedido que elaborassem quatro aspectos positivos sobre o futuro. Na condição de cisma
era instruído para elaborarem quatro aspectos negativos da realidade. Como variável
dependente, os participantes indicavam o quão energizados se sentiam respectivamente
a terem excelentes notas a matemática (e.g., quão activos, agitados, enérgicos). Duas
semanas após a experiência, os professores dos participantes reportaram o esforço que
cada estudante tinha investido nas últimas 2 semanas e atribuíram a cada estudante uma
nota relativa a esse período de tempo.
Tal como previsto, apenas no grupo de contraste mental os estudantes se
sentiram energizados, exerceram esforço e conseguiram notas de acordo com as suas
expectativas: aqueles que tinham expectativas de sucesso elevadas sentiram-se mais
energizados, investiram o maior esforço e receberam as notas mais altas do curso, ao
passo que os que tinham expectativas de sucesso baixas se sentiram menos energizados,
investiram menos esforço e receberam as notas mais baixas do curso. Ao contrário, os
participantes na condição de contemplação e de cisma sentira-se moderadamente
energizados, exerceram um esforço moderado e receberam notas moderadas
independentemente das suas expectativas de sucesso.
Uma variedade de estudos com respeito a diferentes domínios da vida replicou
este padrão de resultados. Por exemplo, experiências sobre estudar no estrangeiro
(Oettingen et al., 2001, estudo 2) e sobre aquisição de uma segunda língua (Oettingen et
al., 2000, estudo 1); sobre dar e receber ajuda (Oettingen, Mayer, Stephens &
Brinkmann, 2010), bem como sobre vários desejos idiossincráticos pessoais e
interpessoais de grande importância (Oettingen et al., 2001, estudos 1 e 3). Também, o
compromisso com as metas e a luta pelas metas foram avaliados por indicadores
cognitivos (e.g., fazer planos), afectivos (e.g., sentir-se responsável pelo resultado
desejado), motivacionais (e.g., sentir-se energizado) e comportamentais (e.g., esforço
investido e conquistas). Os indicadores foram medidos por auto-relato ou por
observações e ambos logo após a experiência ou semanas depois. Em todos estes
estudos apareceu o mesmo padrão de resultados: dadas expectativas de sucesso
elevadas, os participantes no grupo de contraste mental demonstraram o mais forte
compromisso e luta pelas metas; dadas expectativas de sucesso baixas as pessoas
demonstraram o menor compromisso com as metas e com sua conquista. Os
participantes da condição de contemplação de imagens mentais positivas sobre o futuro
ou de cisma em imagens negativas da realidade, demonstraram compromisso moderado
independentemente das suas expectativas de sucesso.
Os efeitos do contraste mental não ocorrem em resultado de mudanças nas
expectativas (exequibilidade) ou no valor do incentivo (desejabilidade), mas antes como
resultado do modo de pensamento auto-regulatório que alinha compromisso com
expectativas (Oettingen et al., 2001, 2009). Para além disso, os efeitos do contraste
mental dependem da pessoa que percebe a realidade actual como sendo um obstáculo à
realização do futuro desejado. Quando os indivíduos se envolvem no contraste mental,
primeiro elaboram um futuro desejado e estabelecem-no como ponto de referência, e
então elaboram os aspectos da realidade actual percebendo assim aspectos negativos
como obstáculos que se colocam à conquista desse futuro. A reversão desta ordem (i.e.,
contraste reverso), elaborando primeiro a realidade negativa e depois o futuro desejado,
comporta ver a realidade presente como obstáculo à realização de fantasia, e assim
frustra a emergência de um compromisso com as metas congruente com as expectativas
de sucesso (Oettingen et al., 2001, estudo 3). Os estudos a seguir apresentados exploram
os processos motivacionais e cognitivos subjacentes que são responsáveis pelos efeitos
relatados de contraste mental, e fornecem dados neurológicos que substanciam e
ampliam os princípios teóricos.
Mecanismos de Contraste Mental
Energização
Locke e Latham (2002) identificaram sentimentos de energização como sendo
críticos para a promoção do comportamento orientado para metas. Eles argumentam que
o compromisso para realizar um futuro desejado está ligado a uma função de
energização, também referida como incitamento à actividade (Brunstein & Gollwitzer,
1996). Por exemplo, os futuros desejados que se mostram mais desafiadores de
conquistar (e.g., estudantes do secundário a praticarem o Exame de Acesso ao Ensino
Superior [Scholastic Aptitude Test – SAT] e a fixarem como objectivo superar o seu
próprio recorde pessoal) dão origem a um esforço maior do que futuros desejados
menos desafiantes (e.g., estudantes do secundário a praticarem o Exame de Acesso ao
Ensino Superior [SAT] e fixarem como objectivo a sua pontuação habitual; Locke &
Latham, 2002). Foi primeiro colocada a hipótese e mais tarde confirmou-se, que a
energização é mediadora dos efeitos de contraste mental ao fomentar a persecução
selectiva de metas (i.e., estabelecimento e luta pelas metas), tal como medido pela
insistência e pela qualidade do desempenho subjectivo e objectivo (Oettingen et al.,
2009). Especificamente, os estudantes de economia foram informados que teriam que
entregar uma comunicação oral em vídeo como ajuda ao desenvolvimento de uma
medida de competências profissionais. Os participantes foram distribuídos
aleatoriamente a uma condição, ou de contraste mental ou de contemplação. Como
variáveis dependentes, os estudantes indicaram o seu sentimento inicial de energização
(e.g., “Quão enérgico se sente quando pensa em realizar o seu discurso?”), e era-lhes
pedido que avaliassem o seu desempenho de facto. A insistência na persecução da meta
foi indicada pela extensão da comunicação de cada participante, e a qualidade da
persecução da meta foi avaliada através de juízes independentes pela qualidade dos
conteúdos dos vídeos (Oettingen et al., 2009, estudo 2).
Consistente com os estudos anteriores em contraste mental, os indivíduos no
grupo de contraste mental mas não os na condição de contemplação, demonstraram uma
forte ligação entre as expectativas percebidas de sucesso e a persecução das metas, tal
como medido por auto-avaliações subjectivas de desempenho e por cotações objectivas
das comunicações em vídeo. Também os sentimentos de energização mostraram não
apenas o mesmo padrão de resultados que as variáveis de persecução de metas, mas
também mediaram a relação entre expectativas de sucesso e a qualidade (tanto objectiva
como subjectiva) das comunicações na condição de contraste mental. Os dados
fisiológicos, medindo a pressão arterial sistólica, mostraram o mesmo padrão de
resultados (Oettingen et al., 2009, estudo 1). As respostas cardiovasculares tais como a
pressão arterial sistólica são consideradas indicadores fiáveis de estados de activação
fisiológica e de mobilização de esforços (Gendolla & Wright, 2005; Wright & Kirby,
2001).
Planear as Dificuldades Subsequentes
Não preparar nem planear as dificuldades que uma pessoa pode encontrar pelo
caminho até à realização de um futuro desejado compromete as probabilidades de
sucesso da pessoa (Gollwitzer, 1990). Uma vez que o contraste mental leva os
indivíduos a verem os aspectos negativos da realidade actual como obstáculos à
conquista de um futuro desejado, os indivíduos que contrastam mentalmente com
expectativas elevadas podem preparar-se imediatamente para impedimentos potenciais
planeando em antecipação a forma de os ultrapassar. Especificamente, os indivíduos
que contrastam mentalmente expectativas elevadas devem formar espontaneamente
planos Se… Então… que foram demonstrados serem facilitadores altamente efectivos da
luta pelas metas num conjunto de domínios (meta-análise por Gollwitzer & Sheeran,
2006). Para além do mais, uma vez que estes planos emergem durante o contraste
mental (Oettingen et al., 2001, estudo 1; Oettingen et al., 2005, estudo 2), qualificam-se
como sendo o mecanismo cognitivo responsável pelos efeitos do contraste mental na
luta pelas metas. Para testar esta suposição, Oettingen e Stephens (2009) puseram
estudantes a contrastar mentalmente, a contemplar, a cismar ou a contrastar
mentalmente de forma reversa uma preocupação interpessoal. A partir daí os
participantes responderam a perguntas que avaliavam o seu compromisso com a
resolução das suas metas (e.g., colocar esforço na persecução das metas).
Para avaliar a variável mediadora para este estudo, tivemos dois avaliadores
independentes a fazer análise de conteúdo das elaborações dos participantes sobre os
aspectos negativos da realidade nas condições de contraste mental, cisma e contraste
mental reverso, para avaliar o número de planos se… então… (e.g., “Se eu chegar a casa
demasiado cansado, Então irei gastar pelo menos meia hora [com a minha companheira]
”). Um benefício significativo deste método de análise de conteúdo é a sua capacidade
de capturar a formação de planos dos participantes durante o processo de contraste
mental por oposição ao pensamento não contrastante (i.e., cisma e contraste reverso).
Tal como nos estudos previamente descritos sobre a variável mediadora de energização,
os planos Se… Então… demonstram o mesmo padrão de resultados das variáveis
dependentes, e na condição de contraste mental os planos Se… Então… mediaram a
relação entre as expectativas e o compromisso com as metas. Assim, quando as pessoas
se envolvem no contraste mental e têm expectativas de sucesso elevadas, consideram
um plano de acção com vista a conquistar as suas metas e fazem planos para ultrapassar
os obstáculos antecipados. Tal planeamento, por usa vez, facilita o compromisso com e
a luta pelas metas.
Correlatos Neurais
O contraste mental (por oposição à contemplação) é uma tarefa cognitivamente
exigente que requer que os indivíduos olhem ao futuro, ao passado e ao presente para
formarem os seus compromissos com as metas (i.e., intenções) de acordo com as suas
expectativas. Por isso, o contraste mental deverá estar associado com um aumento de
actividade em regiões cerebrais ligadas aos processos da memória de trabalho. Uma vez
que os processos do contraste mental se baseiam em colocar mentalmente a actualidade
negativa como obstáculo ao futuro desejado, deverá também conduzir a um aumento de
actividade cerebral nas regiões associadas à memória episódica. As elaborações em
contraste mental deverão recrutar memórias de obstáculos relevantes que foram
experienciados no passado, bem como memórias relevantes de sucessos e de insucessos
passados na tentativa de os ultrapassar. Também, o contraste mental deverá estar ligado
a um aumento de actividade em regiões cerebrais que estão relacionadas com a
imaginação vívida de eventos. Uma vez que o procedimento de contraste mental exige
alternar imagens positivas e negativas sobre o futuro desejado e sobre os obstáculos que
o impedem, as imagens, tanto do futuro desejado como dos obstáculos, deverão tornarse particularmente vívidas e cristalizadas. Finalmente, o contraste mental deverá
conduzir a um aumento de actividade em regiões cerebrais que estão relacionadas com a
retenção de intenções na preparação para a acção, porque conduz à formação de fortes
compromissos com as metas, dadas expectativas de sucesso elevadas.
De facto, um estudo com magnetoencefalografia (MEG) contínua, uma técnica
de neuroimagem que mede os campos magnéticos produzidos pela actividade eléctrica
no cérebro (Achtzinger, Fehr, Oettingen, Gollwitzer & Rockstroh, 2009), demonstrou
que o contraste mental e a contemplação são duas actividades mentais distintas.
Especificamente, quando comparado com a contemplação e com o repouso, o contraste
mental revelou um aumento da actividade cerebral em regiões responsáveis pela
memória de trabalho e pela formação de intenções, sugerindo que o contraste mental
dirige a atenção para a informação crítica, tal como o acto de posicionar a realidade
actual negativa no caminho do futuro desejado. Para além do mais, o contraste mental
aumentou a actividade em regiões cerebrais responsáveis pela memória episódica e pela
imagética mental vívida, sugerindo que o contraste mental se enraíza na recuperação de
eventos pessoais passados, bem como no processamento de estímulos complexos tais
como reexperienciar incidentes passados. Por contraste, a contemplação apoia-se menos
em processos envolvendo a memória episódica. Contemplar um futuro positivo implica
primariamente associações soltas entre aspectos de um futuro positivo desejado aindanão-experienciado, em vez da exploração mental de experiências passadas (Oettingen,
2000; Oettingen et al., 2001). Para além disso, o contraste mental requer um olhar
crítico tanto ao futuro desejado como à realidade negativa, e por isso evoca imagens
mais vívidas do que a contemplação que não se diferenciou do repouso neste aspecto.
Estudos futuros deverão investigar a actividade mental em cisma e em contraste mental
reverso. Nós acreditamos que estes dois modos de pensamento sejam diferentes do
contraste mental e que demonstrarão padrões semelhantes à contemplação e ao repouso.
Indo além da investigação anterior, estas descobertas sugerem que têm de estar
reunidas certas condições para o contraste mental ser mais efectivo. Por exemplo, uma
vez que o contraste mental esforça a memória de trabalho, as pessoas não deverão ser
capazes de desempenhar o contrastem mental de forma efectiva quando os recursos
cognitivos estão limitados por tarefas duplas (e.g., estar ocupado com tarefas
cognitivamente exigentes, lidar com stressores interpessoais, fadiga extrema ou
fragilidade e dor física). Além do mais, uma vez que o contraste mental é baseado na
recuperação efectiva de obstáculos relevantes no passado, deverá ser particularmente
efectivo para pessoas que codificaram cuidadosamente experiências passadas com
obstáculos e assim poderão facilmente e com precisão recuperá-las da memória.
Vividamente representada no actual estudo de MEG está a complexidade cognitiva do
contraste mental.
Sumário
Os dados que apoiam o modelo de realização de fantasia demonstram que
perceber o futuro como desejável (atitude positiva ou incentivo de valor elevado) e
exequível (e.g., expectativas de sucesso elevadas) são os únicos pré-requisitos para a
emergência de compromissos fortes com as metas. Para criar compromissos fortes com
as metas as pessoas precisam traduzir estas atitudes positivas e expectativas elevadas em
metas vinculativas, um processo que é facilitado pelo contraste mental entre futuro
positivo e realidade actual negativa. Foi verificado que o contraste mental produz
compromissos com metas dependentes das expectativas, em domínios da vida
amplamente diferentes (e.g., interpessoal, conquistas pessoais, saúde). É baseado no
processo motivacional de energização e no processo cognitivo de planeamento se…
então…, ao traduzir expectativas em compromissos com metas e a subsequente luta
pelas mesmas, e foi associado à actividade cerebral típica da resolução deliberada de
problemas com base nas experiências passadas e na história de desempenhos da pessoa.
Implementar Metas Estabelecidas
A distinção entre estabelecimento e luta pelas metas de Kurt Lewin lembra-nos
que a luta pelas metas pode não ser assegurada apenas por um forte compromisso e por
um enquadramento adequado das metas em questão. Existe uma segunda questão que é
implementar a meta escolhida (i.e., luta pelas metas), e uma pessoa pergunta-se o que é
que alguém pode fazer para aumentar as suas hipóteses de sucesso nesta fase da
perseguição das metas. A resposta parece ser a seguinte: as pessoas precisam de se
preparar de modo a que as suas possibilidades de ultrapassar as maiores dificuldades na
implementação de metas se mantenham elevadas. Mas o que são estas dificuldades ou
problemas? Pelo menos quatro problemas se destacam: iniciar a persecução das metas,
permanecer na tarefa, parar lutas fúteis por metas e não exigir demasiado de si próprio.
Para todos estes problemas, a estratégia auto-regulatória de formar intenções de
implementação mostrou ser benéfica.
Intenções de Implementação:
Planear Antecipadamente a Implementação de Metas
Para formar uma intenção de implementação (i.e., fazer um plano Se… Então…;
Gollwitzer, 1993, 1999) a pessoa precisa de identificar uma pista situacional futura que
seja relevante para a meta, e planear uma resposta comportamental relacionada com
essa pista. Onde as intenções de metas especificam meramente os estados futuros
desejados (“Eu quero atingir o objectivo X!”), as intenções de implementação no
formato “Se a situação Y surgir, Então ponho em acção o comportamento Z!”
especificam adicionalmente quando, onde e como é que a pessoa pretende perseguir a
meta. As intenções de implementação delegam assim o controle sobre o início do
comportamento dirigido à meta a uma oportunidade especificada, criando uma forte
ligação entre uma pista situacional e uma resposta comportamental orientada para a
conquista dessa meta. Por exemplo, uma pessoa que tem a meta de comer mais
saudavelmente pode formar a intenção de implementação “Quando eu estiver no meu
restaurante favorito e o empregado de mesa me perguntar o que é que eu quero pedir,
Então eu peço uma refeição vegetariana!”. As intenções de implementação
demonstraram ser uma ajuda preciosa para estreitar o fosso entre estabelecer metas
inicialmente, e atingi-las efectivamente. Na verdade, uma meta-análise recente
envolvendo mais de 8000 participantes em 94 estudos independentes, revelou um
tamanho do efeito médio a grande (d = 0.65; Cohen, 1992) das intenções de
implementação sobre a conquista das metas, acima dos efeitos das meras intenções de
metas (Gollwitzer & Sheeran, 2006). Uma vez que as intenções de metas por si só já
produzem um efeito facilitador à execução do comportamento (Webb & Sheeran, 2006),
o tamanho do efeito das intenções de implementação é notável.
Como é que surgem os efeitos das Intenções de Implementação?
As associações mentais criadas pelas intenções de implementação facilitam a
conquista de metas com bases nos processos psicológicos, relacionados tanto com a
situação antecipada (especificada na parte Se… do plano), como com o comportamento
que se tem intenção de executar (especificado na parte Então… do plano). Uma vez que
formar uma intenção de implementação implica a selecção de uma situação crítica no
futuro, a representação mental dessa situação torna-se altamente activada e por isso
mais acessível (Gollwitzer, 1999). Esta acessibilidade realçada da parte Se… do plano
tem sido observada em vários estudos (e.g., Aarts, Dijksterhuis & Midden, 1999; ParksStamm, Gollwitzer & Oettingen, 2007; Webb & Sheeran, 2007, 2008). Esta
acessibilidade persiste ao longo do tempo até que o plano seja executado ou que a
respectiva meta seja atingida posta de parte. A activação realçada da situação crítica
ajuda as pessoas a evocarem facilmente a situação especificada, e isso conduz a uma
mobilização rápida da atenção quando a situação surge.
As intenções de implementação também formam uma forte associação entre a
oportunidade especificada e a resposta especificada (Webb & Sheeran, 2007, 2008).O
aspecto positivo destas ligações fortes é que, uma vez encontrada a pista crítica, a
iniciação da resposta orientada para a luta pela meta especificada no componente
então… da intenção de implementação, demonstra características de automatismo,
incluindo imediatismo, eficiência e redundância da intenção consciente. Quando as
pessoas têm uma intenção de implementação formada, podem agir em contexto sem
terem de estar a deliberar sobre o quando e o como é que deverão agir. A prova de que
aqueles que planeiam Se… Então… agem rapidamente (Gollwitzer & Brandstatter,
1997, experiência 3), lidam efectivamente com exigências cognitivas (Brandstatter,
Legfelder & Gollwitzer, 2001), e não precisam de ter intenção consciente para agir no
momento crítico (Bayer, Achtziger, Gollwitzer & Moskowitz, 2009; Sheeran, Webb &
Gollwitzer, 2005, estudo 2) é consistente com esta ideia.
Estes processos componentes das intenções de implementação (acessibilidade
aumentada das pistas, automação de resposta) significam que o planeamento Se…
Então… capacita as pessoas a verem e a aproveitarem boas oportunidades de avançarem
na direcção das suas metas. Desenhar um plano Se… Então…automatiza
estrategicamente a luta pelas metas (Gollwitzer & Schaal, 1998); as pessoas fazem
intencionalmente planos Se… Então… que delegam o controlo dos comportamentos
orientados para as metas a pistas situacionais pré-seleccionadas com o propósito
explícito de atingir as metas. Isto é, a iniciação automática de comportamentos
conseguida pela intenção de implementação é originada de um acto consciente e
deliberado e não do hábito (i.e., exercer o comportamento crítico na situação crítica
repetidamente e consistentemente).
Intenções de Implementação
e Resolução de Problemas da Implementação de Metas
Dadas estas características especiais de controlo da acção pelas intenções de
implementação, uma pessoa questiona-se se beneficia da formação de intenções de
implementação quando é confrontada com os quatro problemas centrais da
implementação de metas antes referidos. Inúmeros estudos sugerem que os problemas
da iniciação da acção com vista às metas podem ser resolvidos efectivamente com a
formação de intenções de implementação. Por exemplo, Gollwitzer e Brandstatter
(1997, estudo 2) analisaram a intenção de uma meta (i.e., escrever um relatório sobre a
forma como os participantes passaram a véspera de Natal) que tinha de ser executada
numa altura em que as pessoas estão habitualmente ocupadas com outras coisas (i.e.,
durante os 2 dias subsequentes, que na Europa são feriados dedicados à família).
Mesmo assim, os participantes na investigação que elaboraram a sua intenção de meta
com uma intenção de implementação que especificou quando, onde e como eles
queriam começar neste projecto, tiveram uma probabilidade três vezes superior de
escrever o relatório, de facto, do que os participantes com apenas intenções de meta. De
modo semelhante, Oettingen, Honig e Gollwitzer (2000, estudo 3) observaram que as
intenções de implementação ajudaram os estudantes a agir sobre os seus objectivos de
tarefa (i.e., fazer o t.p.c. de matemática) a tempo (e.g., às 10h da manhã de quarta feira,
ao longo das 4 semanas seguintes).
Outros estudos examinaram a capacidade das intenções de implementação em
forjar a vontade de lutar pelas metas, envolvendo comportamentos que são de algum
modo desagradáveis de executar. Por exemplo, metas de examinação regular da mama
(Orbell, Hodgkins, & Sheeran, 1997) ou despiste de cancro do cérvix (Sheeran &
Orbell, 2000), comer uma dieta baixa em gorduras (Armitage, 2004), reciclar (Holland,
Aarts, & Langendam, 2006), e envolver-se em exercício físico (Milne, Orbel, &
Sheeran, 2002) foram todas executadas mais prontamente quando as pessoas tinham
formulado intenções de implementação – apesar de existir uma relutância inicial em
levar a cabo estes comportamentos. Para além disso, as intenções de implementação
estiveram associadas com a conquista de metas em domínios onde é fácil esquecer-se de
agir (e.g., toma regular de vitaminas; Sheeran & Orbell, 1999; assinar papelada pelos
idosos; Chasteen, Prk, & Schwarz, 2001).
Muitas metas não podem ser atingidas com acções simples e isoladas num único
movimento, mas exigem que as pessoas continuem a lutar pela meta ao longo de um
período de tempo extenso. Tal permanência na tarefa pode tornar-se muito difícil
quando determinados estímulos internos (e.g., estar ansioso, cansado, sobrecarregado)
ou estímulos externos (e.g., tentações, distracções) interferem com, e potencialmente
desestruturam, a luta pela meta que está a decorrer ao longo de um período de tempo.
As intenções de implementação podem suprimir a influência negativa das interferências
externas às pessoas (Gollwitzer & Schaal, 1998). Por exemplo, se uma pessoa quer
evitar ser antipática para um amigo que é conhecido por fazer pedidos deploráveis, a
pessoa pode formar intenções de implementação com vista à contenção, tais como “Se o
meu amigo me abordar com um pedido idiotia, Então eu não lhe responderei de forma
hostil!”. O componente Então das intenções de implementação com uma orientação de
contenção não tem de ser elaborado em termos de não demonstrar o comportamento
crítico; pode em alternativa demonstrar um comportamento antagónico (“…, Então eu
responderei de forma amigável!”) ou focar-se em ignorar a pista que é crítica para a
situação (“…, Então eu ignoro o pedido dele!”).
As intenções de implementação com orientação de contenção também podem ser
utilizadas para defender a batalha que se está a travar, dos estados internos disruptivos.
Achtziger, Gollwitzer, e Sheeran (2008) relataram duas experiências de campo
relacionadas com dietas (estudo 1) e metas atléticas (estudo 2), nos quais as metas eram
protegidas pelas intenções de implementação de supressão maquinadas para controlar os
estados internos com potencial para interferirem (vontade de comer fast-food no estudo
1, e pensamentos, sentimentos e estados fisiológicos disruptivos no estudo 2).
Uma forma alternativa de utilizar as intenções de implementação para proteger a
luta que se tem a decorrer pelas metas de descarrilar, é formar planos Se… Então…
elaborados de modo a estabilizar a actual prossecução de metas que se tem em mãos
(Bayer, Gollwitzer, & Achtziger, 2010). Recorrendo de novo ao exemplo de uma pessoa
que é abordada pelo amigo com um pedido estapafúrdio, vamos imaginar que a pessoa
está também cansada ou irritada e por isso particularmente propensa a responder de uma
forma desajustada. Se a pessoa tiver estipulado adiantadamente uma intenção de
implementação sobre a forma como irá conversar com o amigo, a interacção poderá
decorrer conforme planeado, e estar cansado/a ou irritado/a não deverá afectar o
comportamento da pessoa com relação a esse amigo.
Num estudo de Trotschel e Gollwitzer (2007) sobre negociação, foi explorado se
o facto de verbalizar a luta pelas metas por meio das intenções de implementação torna
a luta pelas metas torna as metas menos vulneráveis, não apenas às interferências
internas mas também às externas. Eles descobriram que um cenário de negociação de
perdas não conseguiu produzir os efeitos negativos típicos sobre os resultados da
negociação justa e cooperativa (i.e., quando os bens a serem partilhados são
enquadrados em termos de perdas em vez de ganhos os negociadores tendem a
comportar-se de forma mais competitiva e a produzir resultados conjuntos inferiores).
Nos estudos de Trotschel e Gollwitzer, os negociadores que formularam as suas
intenções de metas para serem cooperativas (i.e., “Eu quero cooperar com o meu
interlocutor!”) com planos Se… Então… que verbalizaram adiantadamente de que forma
eles queriam atingir essas metas (i.e., “Se eu receber uma proposta, Então farei uma
contraproposta cooperativa!”) já não evidenciaram os efeitos negativos de um
enquadramento de perdas. Os negociadores na configuração com enquadramento de
perdas que tinham intenções claras de metas cooperativas, atingiram agora o mesmo
desempenho no conjunto dos resultados, que foi observado com os negociadores no
grupo de controlo com um enquadramento de proveitos.
O problema auto-regulatório de parar uma luta fútil por uma meta (i.e., libertarse de uma intenção escolhida mas não instrumental ou de uma meta que se tornou
inexequível ou indesejável) também pode ser melhorado pela formação de intenções de
implementação. É habitual as pessoas não se conseguirem libertar de intenções e de
metas escolhidas quando elas se mostram deficitárias por causa de um forte motivo
auto-justificativo (i.e., tendemos a aderir à crença irracional de que as decisões que
tomámos deliberadamente têm de ser boas; Brockner, 1992). Tais efeitos de escalada
(e.g., ficar apegado/a a uma intenção ou meta mesmo que os resultados negativos na
prossecução do objectivo se vão continuar a acumular) são contudo reduzidos
efectivamente, com a utilização de intenções de implementação. Estes planos Se…
Então… só precisam de especificar a recepção de informação negativa como pista da
componente Se… e modificar para intenções ou metas alternativas como a resposta
adequada na componente Então… (Henderson, Gollwitzer, & Oettingen, 2007).
Finalmente, a premissa de que as intenções de implementação submetem o
comportamento ao controlo directo das pistas situacionais (Gollwitzer, 1993) implica
que a pessoa não tenha de exercer um esforço deliberado. Como consequência, o “Eu”
(self) não deverá sair depreciado (Muraven & Baumeister, 2000; ver também Doerr &
Baumeister, capítulo 5 desta mesma revista [Social Psychological Foundations of
Clinical Psychology, New York: The Guilford Press, 2010]) quando o desempenho das
tarefas é regulado pelas intenções de implementação, e por isso deverá ser mais fácil
não exigir demasiado do “Eu” dos indivíduos que utilizam intenções de implementação.
De facto, mesmo utilizando diferentes paradigmas de depreciação do ego, os
participantes na investigação que utilizaram intenções de implementação para se
autorregularem numa tarefa não demonstraram redução na capacidade para se
autorregularem numa tarefa subsequente. Quer a tarefa inicial de autorregulação fosse o
controlo emocional durante o visionamento de um filme humorístico (Gollwitzer &
Bayer, 2000) ou desempenhar uma tarefa de Stroop (Webb & Sheeran, 2003), as
intenções de implementação preservaram com sucesso os recursos autorregulatórios tal
como demonstrado pela persistência acrescida em tarefas difíceis subsequentes.
Utilizar Intenções de Implementação para Apoiar Metas Terapêuticas
Bayer e Gollwitzer (2007) combateram crenças disfuncionais em tarefas
académicas difíceis (e.g., submeter-se ao teste de inteligência de Raven). Mesmo
quando as pessoas iniciam um teste com crenças elevadas de auto-eficácia, o confronto
com um item de teste difícil pode conduzir a um enfraquecimento da auto-eficácia para
os itens subsequentes do teste. Para combater esse empobrecimento da auto-eficácia,
Bayer e Gollwitzer (2007) pediram aos participantes que reforçassem as suas intenções
de ter um bom desempenho (“Eu vou resolver correctamente tantos itens do teste
quantos conseguir!”) com intenções de implementação que especificassem uma resposta
de fortalecimento da auto-eficácia (“E Se eu começar um novo item, Então direi para
mim mesmo: Eu consigo resolvê-lo!”). Os participantes na condição de intenções de
implementação desempenharam melhor do que aqueles na condição de apenas terem a
intenção de desempenhar bem; também desempenharam melhor do que os participantes
numa outra condição, onde tinham de formar uma intenção de fortalecimento da autoeficácia como meta (“Eu direi a mim mesmo: Eu consigo resolver estes itens!”).
Investigação recente tem explorado também se as intenções de implementação
nas metas de regulação emocional tornam estas mais efectivas (Schweiger Gallo, Keil,
McCulloch, Rockstroh, & Gollwitzer, 2009). Num destes estudos, analisou-se o
controlo do medo em pessoas com fobia de aranhas. Com base nas distinções de Gross
(2002) sobre estratégias de regulação emocional focadas-na-resposta vs. focadas-nosantecedentes, era pedido aos participantes em intenções de implementação que
elaborassem as suas metas de não ficarem assustados quando fosse apresentada uma
imagem de uma aranha com, quer uma intenção de implementação focada-na-resposta
(“Se eu vir uma aranha, Então eu mantenho-me calmo e relaxado”) quer uma intenção
de implementação focada-nos-antecedentes (“Se eu vir uma aranha, Então eu ignoro-a).
Quando comparados com os participantes em meras intenções de metas, os participantes
em intenções de implementação mostraram respostas de medo mais baixas às imagens
de aranhas apresentadas independentemente de terem formado intenções de
implementação focadas-na-resposta ou focadas-nos-antecedentes. De facto, os
participantes que utilizaram intenções de implementação conseguiram controlar os seus
medos a níveis tão baixos quanto os observados com participantes em grupos de
controlo que não tinham quaisquer medos de aranhas. Num estudo final com base em
electroencefolografia de alta densidade, a efectividade das intenções de implementação
para controlo do medo com instruções para ignorar foi replicada com participantes com
fobia de aranhas, e os correlatos electrocorticais revelaram que os participantes que
fortaleceram as suas intenções de metas com intenções de implementação para ignorar
demonstraram uma actividade precoce significativamente reduzida no córtex visual em
resposta aos slides de aranhas, tal como é reflectido por um P11 mais baixo (avaliado
em 120 milissegundos [ms] após a apresentação das aranhas). Esta descoberta sugere
que e implementação de intenções conduz de facto a uma automação estratégica da
resposta específica orientada para a meta (neste caso, uma resposta ignorar) quando é
1
Em EEG, os potenciais evocados nos córtexes visuais primários distinguem-se entre C1 e P1
por o C1 não poder ser modulado pela atenção (área V1) e o P1 ser influenciável pelo treino (córtex
visual extra estriado), sendo que ambos são respostas até aos 100ms.
encontrada a pista crítica (neste caso, a imagem de uma aranha), já que é sabido que o
início da acção deliberada consciente leva mais de 120 ms (i.e., pelo menos 300ms).
Finalmente, as intenções de implementação também foram efectivas em ajudar
pessoas a ultrapassarem maus hábitos (e.g., hábitos de alimentação não saudável;
Verplanken & Faes, 1999). Isto não é para nós surpresa, uma vez que Cohen, Bayer,
Jaudas e Gollwitzer (2008, estudo 2) observaram que as intenções de implementação
conseguem controlar até o efeito de Simon (Lu & Proctor, 1995), que é baseado na
seguinte resposta instrínseca: os estímulos apresentados no lado esquerdo de uma
pessoa são em geral atendidos utilizando o braço esquerdo, e da mesma forma aos
estímulos apresentados do lado direito são respondidos com o braço direito. Na tarefa
de Simon, a classificação de respostas que são incongruentes (i.e., o estímulo crítico e a
resposta estão localizados em lados diferentes relativamente à posição da pessoa) levam
em geral mais tempo do que a classificação de respostas que são congruentes (i.e., os
estímulos e as respostas são do mesmo lado). Cohen et al. (2008) descobriram que o
efeito da localização espacial para respostas a pistas que tinham sido especificadas na
parte Se das intenções de implementação, foram abolidas.
Moderadores dos Efeitos das Intenções de Implementação
Existem vários moderadores dos efeitos das intenções de implementação sobre a
conquista de metas, que dizem respeito a características da meta sobreordenada (e.g.,
interesse intrínseco, Koestner, Lekes, Powers & Chicoine, 2002; força de compromisso
e estado de activação, Sheeran et al., 2005), à própria intenção de implementação (e.g.,
compromisso com o plano Se… Então…; Gollwitzer, 1999), e às características do
próprio indivíduo. As intenções de implementação são tidas como úteis também em
indivíduos com parcas capacidades autorregulatórias, tal como no caso de pessoas com
esquizofrenia, problemas de abuso de substâncias (Brandstatter et al., 2001, estudos 1 &
2), e lesões nos lóbulos frontais (Lengfelder & Gollwitzer, 2001). Também se registam
benefícios em crianças com perturbação de hiperactividade com deficit de atenção
(PHDA) que se sabe terem dificuldades com tarefas que exigem inibição de respostas
(e.g., tarefas agir/não-agir). Por exemplo, o desempenho na inibição de respostas na
presença de sinais de paragem pode ser melhorada em crianças com PHDA, ao formarlhes intenções de implementação (Gawrilow & Gollwitzer, 2008). Esta melhoria na
inibição de resposta é reflectida também na informação electrocortical (Paul et al.,
2007). Tipicamente, o componente P300 (i.e., um potencial evocado relacionado com
um evento registado numa latência de 300ms) evocado por um estímulo não-agir tem
uma amplitude superior à do P300 evocado pelo estímulo. Esta diferença é menos
pronunciada em crianças com PHDA. Paul et al. (2007) descobriram que os planos Se…
Então… melhoraram a inibição de resposta e aumentaram a diferença no P300
(agir/não-agir) em crianças com PHDA.
Sumário
As intenções de implementação ajudam as pessoas a lidar mais efectivamente
com os maiores problemas das lutas pelas metas; iniciar, permanecer na tarefa, parar e
não exigir demasiado do próprio. Num acto consciente de vontade (“Se a situação X
surgir, Então eu ajo da forma Y!”), as pessoas ligam uma pista crítica antecipada,
interna ou externa, a uma resposta orientada para a meta. A resposta é então espoletada
automaticamente na presença da pista crítica. As intenções de implementação podem ser
utilizadas para facilitar a conquista de todo o tipo de metas difíceis, incluindo metas
terapêuticas tais como mudar expectativas (auto-eficácia) e ultrapassar medos ou maus
hábitos. Para além disso também parecem resultar em pessoas que se sabe terem
dificuldades com o controlo da acção (e.g., crianças com PHDA).
Uma Intervenção para Melhorar as Capacidades
Autorregulatórias de uma Pessoa: Combinar o Contraste Mental com
as Intenções de Implementação
Uma variedade de teorias vê a melhoria da autorregulação como uma meta
importante em psicoterapia, apesar de diferentes teorias terem termos diferentes para o
conceito. As abordagens psicodinâmicas referem-se à autorregulação como
desenvolvimento do carácter, os Alderianos chama-lhe modificação do estilo de vida, os
comportamentalistas falam em aquisição de um repertório social adaptativo, e os
psicólogos que aderem às tradições humanistas falam da pessoa totalmente funcional
(ver Karoly & Anderson, 2000). Quando Viktor Frankl (1959/1984) explica que “em
última instância, o significado da vida é tomar a responsabilidade de encontrar a
resposta certa para os seus problemas e cumprir com as tarefas que ela está
constantemente a atribuir a cada indivíduo”, ele parece concordar que uma
autorregulação efectiva é um resultado terapêutico desejável.
Como podem as psicoterapias ajudar as pessoas a conseguirem uma
autorregulação efectiva? Em investigação recente explorámos se seria possível construir
uma intervenção que ensina as pessoas a utilizarem por si mesmas uma combinação
integrada de contraste mental e de formação de intenções de implementação, de modo a
tornarem-se autorreguladores mais efectivos do seu estabelecimento de metas e da sua
luta pelas metas. Esta intervenção – chamada MCII, para Contraste Mental com
Intenções de Implementação – foi testada num primeiro estudo que utilizou o MCII
integrado numa terapia estandardizada em pacientes com dor crónica de coluna. Num
segundo estudo foi ensinado o MCII a mulheres de meia-idade como estratégia
metacognitiva na vida do quotidiano para melhorar os comportamentos de promoção da
saúde (i.e., exercitar regularmente). Finalmente, num terceiro estudo foi ensinado, mais
uma vez como estratégia metacognitiva, mas agora para ajudar estudantes a lidarem
com o stress da vida académica. Para avaliar as implicações da intervenção MCII para o
desenvolvimento da personalidade, as variáveis dependentes foram mais amplas tais
como alterações à auto-disciplina ou à auto-estima.
Em todos estes estudos, a combinação MCII melhorou a persecução de metas.
Para as intenções de implementação serem efectivas, há que mobilizar fortes
compromissos com as metas (Sheeran et al., 2005, estudo 1), e o contraste mental cria
esses compromissos fortes. Adicionalmente, contrastar mentalmente garante a
identificação de obstáculos à conquista de metas. Esses obstáculos podem assim ser
abordados com planos Se… Então… ao especificar situações críticas no componente
Se… que estejam ligadas a respostas instrumentais orientadas para a meta no
componente Então…. Para além disso, contrastar mentalmente aumenta a prontidão da
pessoa para fazer planos Se… Então… (Oettingen et al., 2009). De acordo com isto,
uma intervenção tal como o MCII, que sugere explicitamente formar planos Se…
Então… depois de contrastar mentalmente, pode capitalizar estes efeitos.
O MCII como Estratégia para Atingir uma Meta Terapêutica Específica
Um primeiro estudo que testou estas ideias focou-se em melhorar a mobilidade
de uma amostra clínica de pacientes com dor crónica das costas. Um grande desafio
com que se confrontam muitos fisioterapeutas que trabalham com estes pacientes é
conseguir motivá-los para se exercitarem. Um obstáculo à reabilitação bem sucedida é
que aqueles que sofrem de dor antecipam a dor em qualquer situação relacionada com
actividade, e por isso tendem a evitar todo e qualquer tipo de actividade por princípio.
Um segundo obstáculo são as crenças dos pacientes de que os tratamentos passivos
(e.g., cirurgia, massagem) são as únicas ou as mais efectivas vias para controlar a dor.
Os pacientes que esperam que tais tratamentos “passivos” eliminem as suas dores têm
menor probabilidade de vir a aprender como é que eles próprios podem efectivamente
ultrapassar e gerir a sua dor (Vlaeyen & Linton, 2000), um passo difícil mas ainda assim
necessário, para uma reabilitação bem sucedida. Uma vez que a mudança de
comportamentos a longo prazo sob a forma de actividade física é necessária para estes
pacientes recuperarem e melhorarem a sua qualidade de vida, e porque os
comportamentos de longo prazo na maioria das vezes não são mantidos ao longo do
tempo (Marcus et al., 2000), uma intervenção suplementar de MCII deveria ser útil.
Christiansen, Oettingen, Dahme e Klinger (no prelo) recrutaram pacientes de um
centro de reabilitação na Alemanha com dor crónica das costas. Os participantes foram
distribuídos aleatoriamente, quer a um grupo de controlo (i.e., o programa padrão de
pacientes de ambulatório) quer a um grupo de intervenção (i.e., o programa padrão mais
a intervenção MCII). O programa padrão implica 3 a 4 semanas de tratamento,
incluindo elementos de terapia cognitivo-comportamental, seminários de informação
individualizados (e.g., técnicas de relaxamento, lidar com o stress), cuidados médicos e
consulta psicológica, fisioterapia e exercício. A intervenção MCII consistiu em duas
sessões de meia hora. Na primeira sessão, os participantes contrastaram mentalmente os
aspectos positivos melhorados do exercício (e.g., sentirem-se em forma, fazerem uma
caminhada com a família ao domingo) com os obstáculos com que se deparam para essa
melhoria do exercício (e.g., medo de que a dor piore, pedir à família que abrande o
passo). Durante a segunda sessão, os participantes formaram planos Se… Então…
depois de identificarem comportamentos de resposta aos obstáculos gerados na primeira
sessão (e.g., “Se eu ficar ansioso com o medo de a minha dor aumentar, Então
assegurar-me-ei de que só posso beneficiar de me exercitar”; “Se eu me sentir
envergonhado para falar à minha família durante a caminhada de domingo, Então peço
às crianças para irem à frente e esperarem por mim no café”). As variáveis dependentes
foram a força física e os comportamentos de levantamento adequados (i.e., “manipular
pesos” da avaliação de capacidade funcional [FCE]; Gouttebarge, Wind, Kuijer, &
Frings-Dresen, 2004; e um teste ergométrico de bicicleta), e a severidade da dor. As
medidas foram efectuadas em pré-teste, 10 dias após a intervenção e três meses após a
intervenção.
O tratamento padrão com a intervenção MCII melhorou mais a mobilidade física
dos pacientes com dor crónica do que aqueles com apenas o tratamento padrão, tal
como observado 10 dias e 3 meses após a intervenção e avaliado por medidas
subjectivas e objectivas. Estes efeitos foram independentes da dor relatada pelos
participantes, que não foi significativamente diferente entre condições durante e após o
tratamento. A intervenção MCII provou ser efectiva em termos de tempo e de custos no
sentido em que consistiu em apenas duas sessões no total de 1 hora. Outras intervenções
psicológicas de curto prazo para pacientes com dor crónica das costas levam pelo menos
4 a 6 horas (e.g., Linton & Nordin, 2006; para revisão, ver as descobertas do “Grupo das
Costas Cochrane”: Ostelo et al., 2006).
MCII como Estratégia Metacognitiva para a Vida do Quotidiano
Nos anos mais recentes os psicólogos começaram a analisar o conhecimento
metacognitivo em áreas tais como a tomada de decisão e a memória (e.g., Bless &
Forgas, 2000; Koriat & Goldsmith, 1996; Metcalfe & Shimamura, 1994; Nelson &
Narens, 1994). Por exemplo, as crianças (em especial aquelas com poucos
conhecimentos metacognitivos) melhoraram os seus desempenhos de memória se lhes
fossem ensinadas técnicas de associação e de ensaio (Schneider, Borkowski, Kurtz &
Kerwin, 1986). A utilização de conhecimento metacognitivo deve ser especialmente
importante para a persecução efectiva de metas. Por exemplo, ensinar as pessoas que a
inteligência é plástica deveria levá-las a adoptar metas de aprendizagem (em vez de
metas de desempenho), que por sua vez reforçam os esforços face às dificuldades
(Dweck & Elliot-Moskwa, capítulo 8 deste volume). Adicionalmente, ensinar as
pessoas a contrastarem mentalmente resultados futuros desejados e exequíveis com as
respectivas realidades deverá ajudar as pessoas a formarem laços de compromisso com
as metas. Finalmente, ensinar as pessoas a fazerem planos Se… Então… (intenções de
implementação) deverá automatizar o início das respostas orientadas para as metas e
assim facilitar a conquista dessas metas. Até à data, contudo, a maioria das intervenções
dizem às pessoas para lutarem por uma meta definida à priori (e.g., controlo do peso,
Stice, Shaw & Marti, 2006; controlo do álcool, Lock, 2004; perdão, Harris et al., 2006;
ver também, Christiansen et al., no prelo, acima descrito). Em tais intervenções, é
pedido aos participantes que se envolvam em pensamentos, sentimentos e acções
orientadas para metas, que são constituídas especificamente para atingir um resultado
desejado pré-definido; não são encorajados a utilizar estas mesmas estratégias de
estabelecer e lutar pelas suas metas de uma forma geral.
Contudo, na vida quotidiana as pessoas habitualmente desejam conseguir uma
multitude de resultados diferentes e em domínios variados. Por isso mesmo, as pessoas
deveriam poder beneficiar de conhecimento metacognitivo sobre estratégias livre de
conteúdos, e que envolvem priorizar e planear a persecução de metas antecipadamente.
De facto, um estudo recente demonstra que o contraste mental pode ser ensinado e
utilizado com sucesso como estratégia metacognitiva (Oettingen, Mayer, & Brinkmann,
2010). Gestores de recursos humanos alemães que foram ensinados a contrastar
mentalmente preocupações quotidianas auto-identificadas que são perturbadoras mas
controláveis, relataram melhor gestão do tempo, mais facilidade na tomada de decisão e
conclusão de projectos mais efectiva, quando comparados com um grupo de controlo
(aos participantes do grupo de controlo foi-lhes pedido apenas que pensassem de forma
positiva sobre as suas preocupações quotidianas). Os dois estudos seguintes testaram se
o MCII também pode ser ensinado como estratégia metacognitiva.
Efeitos sobre Comportamentos de Saúde
em Mulheres Trabalhadoras de meia-idade
Foram recrutadas mulheres de meia-idade para fazer parte de um estudo que se
focava em estilos de vida saudáveis (Stadler, Oettingen, & Gollwitzer, 2009). As
participantes eram aleatoriamente distribuídas a um grupo de controlo apenas de
informação ou a um grupo de intervenção com o MCII. No grupo de controlo, as
mulheres aprendiam sobre os benefícios do exercício regular. No grupo MCII as
participantes receberam a mesma informação e adicionalmente aprenderam a técnica do
MCII. As participantes aprenderam a estratégia do contraste mental relativamente à
meta de exercitar regularmente (e.g., correr três vezes por semana), e então eram
instruídas a formar três intenções de implementação com respeito a obstáculos à prática
do exercício (e.g., sentirem-se demasiado cansadas na noite anterior para irem correr na
manhã seguinte) sob a forma de afirmações Se… Então…: uma para ultrapassar o
obstáculo gerado pelo contraste mental (e.g., “Se eu estiver exausta quando chegar a
casa do trabalho esta noite, Então calço os meus ténis de corrida e vou fazer um jogging
só aqui na vizinhança”), uma para prevenir este obstáculo (e.g., “Se eu der conta que são
cinco da tarde, Então pego nas minhas coisas e vou-me embora para ir dar uma
corrida”), e uma que identificasse uma boa oportunidade para agir (e.g., “Se o sol ainda
for visível, Então vou dar uma corrida de 30 minutos no parque”). Era então dito às
participantes para aplicarem este procedimento MCII relativamente à prática de mais
exercício físico sempre que possível, nas semanas que se seguiam. As participantes
eram livres de escolher qualquer forma de exercício com que se quisessem envolver, e
eram encorajadas a identificar os obstáculos que eram pessoalmente mais relevantes.
As participantes preencheram diários comportamentais para aferir a quantidade
de exercício que fizeram todos os dias. No total, a técnica MCII aumentou o exercício
mais do que a intervenção de apenas informação imediatamente após a intervenção, e
este efeito permaneceu estável ao longo de 4, 8 e 16 semanas após a intervenção. As
participantes no grupo MCII exercitaram-se aproximadamente o dobro – isto é, mais
uma hora por semana – do que as participantes do grupo de controlo de apenas
informação. Assim, a utilização da técnica MCII foi efectiva tanto no sucesso inicial
como na manutenção a longo prazo da melhoria dos comportamentos de exercício.
Melhorar a Auto-disciplina e a Auto-estima em Estudantes Universitários
Dado que o MCII como estratégia metacognitiva melhora a autorregulação numa
variedade de metas, nós fomos averiguar os seus efeitos em variáveis mais amplas do
desenvolvimento da personalidade: Auto-disciplina e Auto-estima. De acordo com a
conceptualização de auto-disciplina (auto-controlo) de Tangney, Baumeister e Boone
(2004), identificámos os seus componentes chave: gestão do tempo, conclusão de
projectos e o sentimento de “estar a dar conta do recado”. Adicionalmente, como o
MCII deverá promover compromissos com metas mais fortes e conclusão de metas mais
bem sucedida numa variedade de áreas, nós colocámos a hipótese de a nossa
intervenção MCII poder até afectar a auto-estima das pessoas. Tal como sublinhado por
William James (1890), a auto-estima sobe e desce como função das aspirações e dos
sucessos. O efeito do contraste mental – um melhor ajustamento entre a probabilidade
subjectiva de conseguir atingir as metas e o compromisso com elas – deveria ajustar os
compromissos de acordo com a competência objectiva, e utilizar as intenções de
implementação para perseguir metas deveria dar origem a sucessos frequentes. Ambos
os resultados deveriam subir a auto-estima.
Os estudantes de licenciatura participantes eram distribuídos, quer por um grupo
de intervenção MCII quer por um grupo de controlo (Oettingen, Barry, Guttenberg, &
Gollwitzer, 2010). No grupo de intervenção MCII, primeiro aprendiam a utilizar a
estratégia de contraste mental e depois aprendiam a formar intenções de implementação,
identificando o comportamento necessário para ultrapassar ou contornar um obstáculo
(e.g., um colega de quarto barulhento como obstáculo ao estudo efectivo para um teste
que se aproxima) gerado durante o contraste mental. Para o fazer, os participantes
imaginaram um resultado desejado e um obstáculo potencial em detalhe vívido, então
criaram três afirmações Se… Então… uma focando-se em ultrapassar o obstáculo (e.g.,
“Se o meu colega de quarto começar a fazer barulho novamente esta noite, Então eu falo
com ele sobre o seu comportamento”), outra prevenindo o obstáculo (e.g., “Se eu vir o
meu colega de quarto ao almoço, Então peço-lhe para manter a música baixinha esta
noite”), e outra planeando uma abordagem diferente ao resultado desejado (e.g., “Se eu
passar por uma farmácia no caminho para casa, Então compro um par de tampões de
ouvido”). Os estudantes praticaram a utilização do procedimento MCII com a ajuda do
investigador para conseguirem desempenhar a estratégia autonomamente, relativamente
a uma multitude de preocupações do quotidiano ao longo de uma semana.
Os participantes cotaram a auto-disciplina e a auto-estima em dois momentos
diferentes: imediatamente antes da intervenção, e novamente uma semana depois da
intervenção. A intervenção MCII aumentou directamente os relatos de auto-disciplina e
auto-estima dos participantes, numa comparação com os participantes do grupo de
controlo (que não revelaram quaisquer melhorias) após apenas uma semana. Os efeitos
da intervenção MCII não foram moderados por quaisquer outras variáveis medidas (e.g.,
sexo, idade, nível escolar, depressão, stress percebido, satisfação com a vida, eventos
problemáticos, satisfação com a vida académica, auto-eficácia). Presumivelmente, o
MCII capacitou os indivíduos com capacidades autorregulatórias ajudando-os a
comprometerem-se com metas mais exequíveis e ajudando-os a atingirem efectivamente
essas metas. Assim, esta combinação simples mas poderosa de estratégias ajudou os
estudantes universitários a reconhecerem e a realizarem o seu potencial e a terem um
sentimento de auto-disciplina e auto-estima nas suas vidas quotidianas.
Sumário
A combinação do Contraste Mental com a formação de Intenções de
Implementação pode ser utilizada para ajudar as pessoas a conseguirem metas
comportamentais específicas (e.g., metas de mobilidade em pacientes com dores de
costas) ou, quando ensinada como estratégia metacognitiva, a conseguirem metas na sua
vida em geral (e.g., exercitar mais regularmente ou lidar com a vida académica). Até
influenciou os resultados relacionados com o desenvolvimento da personalidade tais
como a auto-disciplina e a auto-estima. Para além disso, como os estudos da intervenção
incluíram amostras dos Estados Unidos e da Alemanha, desde jovens adultos a pessoas
de meia-idade, e de diversos domínios desde as áreas académicas e profissionais à
melhoria dos comportamentos de saúde, parece evidente que o contraste mental com
intenções de implementação (MCII) pode ser aplicado transversalmente para ajudar as
pessoas a gerirem os seus desafios da vida diária.
Conclusão
Começando com a observação de Viktor Frankl de que o significado da vida
origina-se mais na acção do que no discurso e na meditação, nós revimos a investigação
sobre a autorregulação da persecução de metas. Parece ser importante que as pessoas
estabeleçam selectivamente metas que sejam desejáveis e exequíveis, e a partir daí
lutem por essas metas de uma forma efectiva. Para ambas estas tarefas de perseguição
de metas existem estratégias autorregulatórias efectivas: o contraste mental para o
estabelecimento de metas e a formação de intenções de implementação para a luta pelas
metas. Também importante, a intervenção de contraste mental com intenções de
implementação pode ser utilizada para ensinar às pessoas a utilização combinada destas
duas estratégias para atingir metas de curto e de longo prazo. A efectividade da
intervenção MCII sugere que as pessoas podem tomar a responsabilidade pelas suas
vidas quotidianas e pelo seu desenvolvimento pessoal através da autorregulação efectiva
das suas perseguições de metas.
Referências bibliográficas: