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Estratégias de Estabelecimento e Implementação de Metas Contraste Mental e Intenções de Implementação Oettingen & Gollwitzer (2010) Quando Viktor Frankl (1959/1984) reflectiu sobre a forma de dominar os desafios da vida, no seu caso a horrenda tarefa de sobreviver a um campo de concentração, ele descobriu a seguinte resposta: “Não importava o que é que nós esperávamos da vida, mas o que é que a vida esperava de nós. Nós precisávamos de parar de nos interrogar sobre o significado da vida, e em vez disso de olharmos para nós como aqueles que estavam a ser interrogados pela vida – a cada dia e a cada hora. A nossa resposta tinha de consistir, não em conversa e meditação, mas em acção e conduta adequadas. Em última instância, o significado da vida era o de tomar a responsabilidade de encontrar a resposta certa para os próprios problemas e de cumprir com as tarefas que a vida estava constantemente a atribuir a cada indivíduo.” (p.122) Frankl parecia sugerir que tomar a responsabilidade das próprias acções é a forma de dominar os desafios da vida quotidiana. Mas como é que as pessoas podem tomar responsabilidade pelas suas acções? Neste capítulo sugerimos uma forma efectiva de tomar a responsabilidade pelas próprias acções: auto-regular a busca pelas próprias metas. A investigação sobre a psicologia das metas sugere que a persecução bem sucedida de metas se apoia em duas tarefas sequenciais: o estabelecimento das metas e a implementação das metas. A distinção entre o estabelecimento e a implementação das metas foi enfatizado originalmente por Kurt Lewin (1926; Lewin, Dembo, Festinger & Sears, 1944). Esta distinção revelou-se muito útil para a compreensão de muitas descobertas novas produzidas pelo ressurgimento da investigação em metas (Bargh, Gollwitzer & Oettingen, 2010; Oettingen & Gollwitzer, 2001), e por isso utilizamo-la para organizar este capítulo. Primeiro discutimos a investigação sobre auto-regulação do estabelecimento de metas, e depois passamos às descobertas sobre a auto-regulação da implementação de metas. Finalmente, propomos uma intervenção de melhoria da autoregulação, que capitaliza a aquisição e utilização destas estratégias de estabelecimento e de implementação de metas. Estabelecimento de Metas Se as pessoas querem atingir metas, precisam de as estabelecer enquadradas numa forma de maximizar a sua concretização. Enquadrar as metas numa óptica de promover resultados positivos versus prevenir resultados negativos (metas de promoção vs. de prevenção; Higgins, 1997) facilita a concretização de metas, tal como tentar adquirir competências em vez de demonstrar a posse de competências (metas de aprendizagem vs. de desempenho; Dweck, 1999; Dweck & Elliot-Moskwa, capítulo 8 do volume), e antecipar recompensas intrínsecas em vez de recompensas extrínsecas (metas intrínsecas vs. extrínsecas; Ryan & Deci, 2001). Isto é, a promoção, a aprendizagem e as recompensas intrínsecas são comummente concretizadas com mais sucesso do que a prevenção, o desempenho e as recompensas extrínsecas. A precisão com que os resultados futuros desejados são detalhados, também influencia o sucesso na concretização das metas. Por exemplo, metas com um enquadramento temporal proximal (e.g., tenho de acabar hoje o trabalho…) em vez de distal (daqui por seis meses o projecto tem de estar concluido…) (Bandura & Schunk, 1981) têm maior probabilidade de ser conseguidas, e metas com definições específicas ( “vou tirar um 15”) em vez de vagas (“irei fazer o meu melhor”) conduzem a melhores desempenhos (Locke & Latham, 1990). Também é útil estabelecer metas para com as quais uma pessoa se possa comprometer fortemente, porque tais metas (intenções) têm uma melhor probabilidade de serem concretizadas (Ajzen, 1991; meta-análise de Webb & Sheeran, 2006). Os compromissos fortes com metas baseiam-se na crença de que determinada meta é, tanto altamente desejada quanto exequível (Ajzen, 1991; Atkinson, 1957; Bandura, 1997; Gollwitzer, 1990; Klinger, 1975; Locke & Latham, 1990). A Desejabilidade compreende a união das crenças sobre a agradabilidade das consequências esperadas da obtenção de metas, de curto e de longo prazo (Heck-hausen, 1977). A Exequibilidade é definida como “expectativas de ocorrência de acções e de eventos futuros” (Gollwitzer, 1990). Alguns exemplos proeminentes incluem as expectativas que se têm de conseguir executar um comportamento necessário para a obtenção de um resultado específico (i.e., expectativas de auto-eficácia; Bandura, 1977, 1997; Maddux, 1999), expectativas que um comportamento conduza a um resultado específico (i.e., expectativas de resultados; Bandura, 1977; crenças de instrumentalidade; Vroom, 1964), e julgamentos acerca da probabilidade geral de um determinado resultado (i.e., expectativas gerais; Oettingen & Mayer, 2002). Contudo, é importante reconhecer que a percepção de uma meta desejada como sendo exequível, não garante ainda um forte compromisso com essa meta. Estabelecimento Efectivo de Metas: A Estratégia Auto-Regulatória de Contraste Mental O modelo de Realização de Fantasia diferencia três modos de pensamento autoregulatório: contraste mental, contemplação e cisma (Oettingen, 2000; Oettingen, Pak & Schnetter, 2001). Este propõe que, contrastar mentalmente um futuro desejado com a realidade que está no caminho da sua realização, irá criar um compromisso com as metas dependente das expectativas. Especificamente, no contraste mental as pessoas imaginam a concretização de um futuro desejado (e.g., tornar-se um psicólogo clínico; fazer uma boa apresentação pública) e depois reflectem sobre a realidade presente que lhes está a impedir de concretizar esse futuro desejado (e.g., grande competição pelos cursos de formação; ansiedade social). A elaboração conjunta do futuro desejado e da realidade actual torna ambos acessíveis simultaneamente e liga-os em conjunto, no sentido em que a realidade será um obstáculo à concretização do futuro desejado. O contraste mental ajuda as pessoas a decidirem-se quanto ao compromisso a estabelecer com uma meta a concretizar no futuro, escrutinando a exequibilidade de vir a concretizar essa meta. Quando a exequibilidade (as expectativas de sucesso) é elevada, as pessoas comprometem-se fortemente a atingir a meta; quando a exequibilidade é baixa, formam um compromisso baixo com a meta ou nem formam nenhum. Por outras palavras, o contraste mental coloca as pessoas a perseguirem metas que são plausíveis e mantém-nas afastadas de metas intangíveis, tornando a pessoa sensível à questão “quais são as metas que são alcançáveis?”. Esta estratégia, em última instância deverá proteger recursos pessoais (tempo, energia e dinheiro), uma vez que as pessoas não demonstrarão envolvimento face a metas inalcançáveis, e envolver-se-ão sem restrições face a metas alcançáveis. Em linha com a Teoria de Resolução de Problemas de Newelle Simon (1972), a Teoria de Realização de Fantasia concebe as pessoas que pretendem atingir um futuro imaginado, como confrontadas com o problema de quererem algo e precisarem de se envolver em acções que possam executar para atingir o resultado desejado (p.72). De acordo com isto, o espaço objectivo do problema (definido como as exigências objectivas da tarefa, que são colocadas pelo ambiente) implica tanto o futuro desejado quanto os obstáculos à sua concretização. Se o espaço subjectivo do problema (definido como a representação interna e subjectiva do problema em mãos) corresponder ao espaço objectivo do problema, as pessoas reconhecerão que precisam de actuar sobre o status quo (o estado actual das coisas) para conseguirem chegar ao futuro desejado. Assim, a exequibilidade percebida (expectativas de sucesso) de atingir um futuro desejado, deverá determinar o compromisso das pessoas com a concretização desse mesmo futuro desejado. Contudo, se o espaço de problema subjectivo implicar apenas parte do espaço de problema objectivo (quer apenas o futuro positivo, quer apenas o estado actual negativo), as pessoas não conseguirão reconhecer que precisam de agir sobre o status quo de modo a conseguirem concretizar o futuro desejado. De acordo com isto, os compromissos com metas derivados de considerar apenas um futuro positivo ou uma realidade negativa (i.e., contemplação ou cisma) não deverão conseguir ser dependentes da expectativa. Isto é, o nível de compromisso com a meta reflecte o compromisso a priori que as pessoas mantêm com a questão em aberto, independentemente das expectativas de sucesso aparentes serem altas ou baixas (Oettingen et al., 2001). Resumindo, apenas o contraste mental e não as elaborações enviesadas quer do futuro quer da realidade, ajusta o compromisso com as metas à expectativa de sucesso das pessoas. Isto é, a contemplação e a cisma são menos efectivas em proteger os recursos das pessoas do que o contraste mental; os indivíduos que contemplam ou cismam demonstram um nível de compromisso mediano, mesmo nos casos em que nenhum compromisso (no caso das expectativas de sucesso baixas) ou o máximo de compromisso (no caso de expectativas de sucesso altas) seriam as estratégias mais eficientes em função dos recursos a dispender. Poderá argumentar-se que o modelo de realização de fantasia se assemelha a teorias cibernéticas tais como o modelo teste-operação-teste-saida (TOTE; Miller, Galanter & Pribram, 1960), a teoria do controlo da percepção (Powers, 1973) ou os seus derivados, ou o modelo auto-regulatório do processo de controlo (Carver & Scheier, 1990). Estes modelos de retroalimentação (circularidade) partilham com a teoria de realização de fantasia o seu foco sobre o controlo do comportamento ou da percepção. Contudo, em contraste com a teoria de realização de fantasia, os modelos cibernéticos assumem que uma discrepância entre o feedback (estado actual) e um padrão definido (estado ideal) é detectado por um comparador e que isso leva a tentativas de redução da discrepância. A teoria de realização de fantasia especifica estratégias que influenciam diferencialmente se as pessoas utilizarão as suas fantasias sobre um futuro desejado para construir compromissos com metas inteligentes (dependentes das expectativas). Elaborar o futuro desejado e ver a realidade como um obstáculo potencial pode conduzir ao compromisso inteligente (selectivo) com as metas. O pensamento unilateral conduzirá a um compromisso uniforme e moderado com as metas. Isto é, a teoria de realização de fantasia diz respeito a fantasias vagas sobre o futuro e não a um padrão definido, refere-se à antecipação de potenciais obstáculos e não a feedback experienciado e assume que existe uma ligação entre o futuro e o obstáculo, não um comparador. Adicionalmente, especifica modos de pensamento que desviam a pessoa da redução da discrepância, apesar das discrepâncias existentes. De forma breve, retroalimentação, padrão e comparador – as variáveis centrais nos modelos de retroalimentação (ou circularidade) – não desempenham um papel na teoria de realização de fantasia, que especifica as estratégias que as pessoas podem utilizar para criar compromissos com metas que são baseadas nas suas expectativas de sucesso ou não (ver também, Oettingen & Kappes, 2009). A teoria de realização de fantasia também pode ser associada com o conceito de Eu’s possíveis (possible selves; Markus & Nurius, 1986; Oyserman & Markus, 1990) – isto é, as ideias que as pessoas têm de quem podem vir a ser, de quem gostariam de vir a ser e de quem temem vir a ser. Os Eu’s possíveis são os componentes cognitivos das esperanças, expectativas, medos, metas e ameaças, e funcionam como incentivos para o comportamento. A teoria de realização de fantasia partilha com o conceito o seu foco no pensamento sobre o futuro. Em contraste com o conceito abrangente de Eu’s possíveis, contudo, a teoria de realização de fantasia foca-se nos processos que transformam ideias vagas sobre Eu’s futuros quer em compromissos com metas explicitáveis, baseados nas expectativas de sucesso da pessoa, quer em compromissos meio descomprometidos, que são pouco importantes em termos das expectativas de sucesso percebidas pela pessoa. Dados Empíricos Uma diversidade de estudos testou os efeitos do contraste mental, da contemplação e da cisma sobre o compromisso com as metas e sobre a luta pelas metas (i.e., persecução de metas; Oettingen, 2000; Oettingen et al., 2001). Por exemplo, num estudo, os caloiros de uma escola vocacional de programação informática (Oettingen et al., 2001, estudo 4) indicou primeiro as suas expectativas de terem excelentes notas a matemática. Depois definiram aspectos que associavam à excelência na matemática (e.g., sentimentos de orgulho, maiores perspectivas de emprego) e obstáculos à excelência (e.g., estar distraído, sentir-se preguiçoso). De seguida, estabeleceram-se três condições experimentais para corresponder aos três modos de pensamento. Na condição de contraste mental os participantes tinham de elaborar por escrito dois aspectos positivos do futuro e dois aspectos da realidade, em alternância, começando com um aspecto positivo do futuro. Aos participantes na condição de contemplação era-lhes pedido que elaborassem quatro aspectos positivos sobre o futuro. Na condição de cisma era instruído para elaborarem quatro aspectos negativos da realidade. Como variável dependente, os participantes indicavam o quão energizados se sentiam respectivamente a terem excelentes notas a matemática (e.g., quão activos, agitados, enérgicos). Duas semanas após a experiência, os professores dos participantes reportaram o esforço que cada estudante tinha investido nas últimas 2 semanas e atribuíram a cada estudante uma nota relativa a esse período de tempo. Tal como previsto, apenas no grupo de contraste mental os estudantes se sentiram energizados, exerceram esforço e conseguiram notas de acordo com as suas expectativas: aqueles que tinham expectativas de sucesso elevadas sentiram-se mais energizados, investiram o maior esforço e receberam as notas mais altas do curso, ao passo que os que tinham expectativas de sucesso baixas se sentiram menos energizados, investiram menos esforço e receberam as notas mais baixas do curso. Ao contrário, os participantes na condição de contemplação e de cisma sentira-se moderadamente energizados, exerceram um esforço moderado e receberam notas moderadas independentemente das suas expectativas de sucesso. Uma variedade de estudos com respeito a diferentes domínios da vida replicou este padrão de resultados. Por exemplo, experiências sobre estudar no estrangeiro (Oettingen et al., 2001, estudo 2) e sobre aquisição de uma segunda língua (Oettingen et al., 2000, estudo 1); sobre dar e receber ajuda (Oettingen, Mayer, Stephens & Brinkmann, 2010), bem como sobre vários desejos idiossincráticos pessoais e interpessoais de grande importância (Oettingen et al., 2001, estudos 1 e 3). Também, o compromisso com as metas e a luta pelas metas foram avaliados por indicadores cognitivos (e.g., fazer planos), afectivos (e.g., sentir-se responsável pelo resultado desejado), motivacionais (e.g., sentir-se energizado) e comportamentais (e.g., esforço investido e conquistas). Os indicadores foram medidos por auto-relato ou por observações e ambos logo após a experiência ou semanas depois. Em todos estes estudos apareceu o mesmo padrão de resultados: dadas expectativas de sucesso elevadas, os participantes no grupo de contraste mental demonstraram o mais forte compromisso e luta pelas metas; dadas expectativas de sucesso baixas as pessoas demonstraram o menor compromisso com as metas e com sua conquista. Os participantes da condição de contemplação de imagens mentais positivas sobre o futuro ou de cisma em imagens negativas da realidade, demonstraram compromisso moderado independentemente das suas expectativas de sucesso. Os efeitos do contraste mental não ocorrem em resultado de mudanças nas expectativas (exequibilidade) ou no valor do incentivo (desejabilidade), mas antes como resultado do modo de pensamento auto-regulatório que alinha compromisso com expectativas (Oettingen et al., 2001, 2009). Para além disso, os efeitos do contraste mental dependem da pessoa que percebe a realidade actual como sendo um obstáculo à realização do futuro desejado. Quando os indivíduos se envolvem no contraste mental, primeiro elaboram um futuro desejado e estabelecem-no como ponto de referência, e então elaboram os aspectos da realidade actual percebendo assim aspectos negativos como obstáculos que se colocam à conquista desse futuro. A reversão desta ordem (i.e., contraste reverso), elaborando primeiro a realidade negativa e depois o futuro desejado, comporta ver a realidade presente como obstáculo à realização de fantasia, e assim frustra a emergência de um compromisso com as metas congruente com as expectativas de sucesso (Oettingen et al., 2001, estudo 3). Os estudos a seguir apresentados exploram os processos motivacionais e cognitivos subjacentes que são responsáveis pelos efeitos relatados de contraste mental, e fornecem dados neurológicos que substanciam e ampliam os princípios teóricos. Mecanismos de Contraste Mental Energização Locke e Latham (2002) identificaram sentimentos de energização como sendo críticos para a promoção do comportamento orientado para metas. Eles argumentam que o compromisso para realizar um futuro desejado está ligado a uma função de energização, também referida como incitamento à actividade (Brunstein & Gollwitzer, 1996). Por exemplo, os futuros desejados que se mostram mais desafiadores de conquistar (e.g., estudantes do secundário a praticarem o Exame de Acesso ao Ensino Superior [Scholastic Aptitude Test – SAT] e a fixarem como objectivo superar o seu próprio recorde pessoal) dão origem a um esforço maior do que futuros desejados menos desafiantes (e.g., estudantes do secundário a praticarem o Exame de Acesso ao Ensino Superior [SAT] e fixarem como objectivo a sua pontuação habitual; Locke & Latham, 2002). Foi primeiro colocada a hipótese e mais tarde confirmou-se, que a energização é mediadora dos efeitos de contraste mental ao fomentar a persecução selectiva de metas (i.e., estabelecimento e luta pelas metas), tal como medido pela insistência e pela qualidade do desempenho subjectivo e objectivo (Oettingen et al., 2009). Especificamente, os estudantes de economia foram informados que teriam que entregar uma comunicação oral em vídeo como ajuda ao desenvolvimento de uma medida de competências profissionais. Os participantes foram distribuídos aleatoriamente a uma condição, ou de contraste mental ou de contemplação. Como variáveis dependentes, os estudantes indicaram o seu sentimento inicial de energização (e.g., “Quão enérgico se sente quando pensa em realizar o seu discurso?”), e era-lhes pedido que avaliassem o seu desempenho de facto. A insistência na persecução da meta foi indicada pela extensão da comunicação de cada participante, e a qualidade da persecução da meta foi avaliada através de juízes independentes pela qualidade dos conteúdos dos vídeos (Oettingen et al., 2009, estudo 2). Consistente com os estudos anteriores em contraste mental, os indivíduos no grupo de contraste mental mas não os na condição de contemplação, demonstraram uma forte ligação entre as expectativas percebidas de sucesso e a persecução das metas, tal como medido por auto-avaliações subjectivas de desempenho e por cotações objectivas das comunicações em vídeo. Também os sentimentos de energização mostraram não apenas o mesmo padrão de resultados que as variáveis de persecução de metas, mas também mediaram a relação entre expectativas de sucesso e a qualidade (tanto objectiva como subjectiva) das comunicações na condição de contraste mental. Os dados fisiológicos, medindo a pressão arterial sistólica, mostraram o mesmo padrão de resultados (Oettingen et al., 2009, estudo 1). As respostas cardiovasculares tais como a pressão arterial sistólica são consideradas indicadores fiáveis de estados de activação fisiológica e de mobilização de esforços (Gendolla & Wright, 2005; Wright & Kirby, 2001). Planear as Dificuldades Subsequentes Não preparar nem planear as dificuldades que uma pessoa pode encontrar pelo caminho até à realização de um futuro desejado compromete as probabilidades de sucesso da pessoa (Gollwitzer, 1990). Uma vez que o contraste mental leva os indivíduos a verem os aspectos negativos da realidade actual como obstáculos à conquista de um futuro desejado, os indivíduos que contrastam mentalmente com expectativas elevadas podem preparar-se imediatamente para impedimentos potenciais planeando em antecipação a forma de os ultrapassar. Especificamente, os indivíduos que contrastam mentalmente expectativas elevadas devem formar espontaneamente planos Se… Então… que foram demonstrados serem facilitadores altamente efectivos da luta pelas metas num conjunto de domínios (meta-análise por Gollwitzer & Sheeran, 2006). Para além do mais, uma vez que estes planos emergem durante o contraste mental (Oettingen et al., 2001, estudo 1; Oettingen et al., 2005, estudo 2), qualificam-se como sendo o mecanismo cognitivo responsável pelos efeitos do contraste mental na luta pelas metas. Para testar esta suposição, Oettingen e Stephens (2009) puseram estudantes a contrastar mentalmente, a contemplar, a cismar ou a contrastar mentalmente de forma reversa uma preocupação interpessoal. A partir daí os participantes responderam a perguntas que avaliavam o seu compromisso com a resolução das suas metas (e.g., colocar esforço na persecução das metas). Para avaliar a variável mediadora para este estudo, tivemos dois avaliadores independentes a fazer análise de conteúdo das elaborações dos participantes sobre os aspectos negativos da realidade nas condições de contraste mental, cisma e contraste mental reverso, para avaliar o número de planos se… então… (e.g., “Se eu chegar a casa demasiado cansado, Então irei gastar pelo menos meia hora [com a minha companheira] ”). Um benefício significativo deste método de análise de conteúdo é a sua capacidade de capturar a formação de planos dos participantes durante o processo de contraste mental por oposição ao pensamento não contrastante (i.e., cisma e contraste reverso). Tal como nos estudos previamente descritos sobre a variável mediadora de energização, os planos Se… Então… demonstram o mesmo padrão de resultados das variáveis dependentes, e na condição de contraste mental os planos Se… Então… mediaram a relação entre as expectativas e o compromisso com as metas. Assim, quando as pessoas se envolvem no contraste mental e têm expectativas de sucesso elevadas, consideram um plano de acção com vista a conquistar as suas metas e fazem planos para ultrapassar os obstáculos antecipados. Tal planeamento, por usa vez, facilita o compromisso com e a luta pelas metas. Correlatos Neurais O contraste mental (por oposição à contemplação) é uma tarefa cognitivamente exigente que requer que os indivíduos olhem ao futuro, ao passado e ao presente para formarem os seus compromissos com as metas (i.e., intenções) de acordo com as suas expectativas. Por isso, o contraste mental deverá estar associado com um aumento de actividade em regiões cerebrais ligadas aos processos da memória de trabalho. Uma vez que os processos do contraste mental se baseiam em colocar mentalmente a actualidade negativa como obstáculo ao futuro desejado, deverá também conduzir a um aumento de actividade cerebral nas regiões associadas à memória episódica. As elaborações em contraste mental deverão recrutar memórias de obstáculos relevantes que foram experienciados no passado, bem como memórias relevantes de sucessos e de insucessos passados na tentativa de os ultrapassar. Também, o contraste mental deverá estar ligado a um aumento de actividade em regiões cerebrais que estão relacionadas com a imaginação vívida de eventos. Uma vez que o procedimento de contraste mental exige alternar imagens positivas e negativas sobre o futuro desejado e sobre os obstáculos que o impedem, as imagens, tanto do futuro desejado como dos obstáculos, deverão tornarse particularmente vívidas e cristalizadas. Finalmente, o contraste mental deverá conduzir a um aumento de actividade em regiões cerebrais que estão relacionadas com a retenção de intenções na preparação para a acção, porque conduz à formação de fortes compromissos com as metas, dadas expectativas de sucesso elevadas. De facto, um estudo com magnetoencefalografia (MEG) contínua, uma técnica de neuroimagem que mede os campos magnéticos produzidos pela actividade eléctrica no cérebro (Achtzinger, Fehr, Oettingen, Gollwitzer & Rockstroh, 2009), demonstrou que o contraste mental e a contemplação são duas actividades mentais distintas. Especificamente, quando comparado com a contemplação e com o repouso, o contraste mental revelou um aumento da actividade cerebral em regiões responsáveis pela memória de trabalho e pela formação de intenções, sugerindo que o contraste mental dirige a atenção para a informação crítica, tal como o acto de posicionar a realidade actual negativa no caminho do futuro desejado. Para além do mais, o contraste mental aumentou a actividade em regiões cerebrais responsáveis pela memória episódica e pela imagética mental vívida, sugerindo que o contraste mental se enraíza na recuperação de eventos pessoais passados, bem como no processamento de estímulos complexos tais como reexperienciar incidentes passados. Por contraste, a contemplação apoia-se menos em processos envolvendo a memória episódica. Contemplar um futuro positivo implica primariamente associações soltas entre aspectos de um futuro positivo desejado aindanão-experienciado, em vez da exploração mental de experiências passadas (Oettingen, 2000; Oettingen et al., 2001). Para além disso, o contraste mental requer um olhar crítico tanto ao futuro desejado como à realidade negativa, e por isso evoca imagens mais vívidas do que a contemplação que não se diferenciou do repouso neste aspecto. Estudos futuros deverão investigar a actividade mental em cisma e em contraste mental reverso. Nós acreditamos que estes dois modos de pensamento sejam diferentes do contraste mental e que demonstrarão padrões semelhantes à contemplação e ao repouso. Indo além da investigação anterior, estas descobertas sugerem que têm de estar reunidas certas condições para o contraste mental ser mais efectivo. Por exemplo, uma vez que o contraste mental esforça a memória de trabalho, as pessoas não deverão ser capazes de desempenhar o contrastem mental de forma efectiva quando os recursos cognitivos estão limitados por tarefas duplas (e.g., estar ocupado com tarefas cognitivamente exigentes, lidar com stressores interpessoais, fadiga extrema ou fragilidade e dor física). Além do mais, uma vez que o contraste mental é baseado na recuperação efectiva de obstáculos relevantes no passado, deverá ser particularmente efectivo para pessoas que codificaram cuidadosamente experiências passadas com obstáculos e assim poderão facilmente e com precisão recuperá-las da memória. Vividamente representada no actual estudo de MEG está a complexidade cognitiva do contraste mental. Sumário Os dados que apoiam o modelo de realização de fantasia demonstram que perceber o futuro como desejável (atitude positiva ou incentivo de valor elevado) e exequível (e.g., expectativas de sucesso elevadas) são os únicos pré-requisitos para a emergência de compromissos fortes com as metas. Para criar compromissos fortes com as metas as pessoas precisam traduzir estas atitudes positivas e expectativas elevadas em metas vinculativas, um processo que é facilitado pelo contraste mental entre futuro positivo e realidade actual negativa. Foi verificado que o contraste mental produz compromissos com metas dependentes das expectativas, em domínios da vida amplamente diferentes (e.g., interpessoal, conquistas pessoais, saúde). É baseado no processo motivacional de energização e no processo cognitivo de planeamento se… então…, ao traduzir expectativas em compromissos com metas e a subsequente luta pelas mesmas, e foi associado à actividade cerebral típica da resolução deliberada de problemas com base nas experiências passadas e na história de desempenhos da pessoa. Implementar Metas Estabelecidas A distinção entre estabelecimento e luta pelas metas de Kurt Lewin lembra-nos que a luta pelas metas pode não ser assegurada apenas por um forte compromisso e por um enquadramento adequado das metas em questão. Existe uma segunda questão que é implementar a meta escolhida (i.e., luta pelas metas), e uma pessoa pergunta-se o que é que alguém pode fazer para aumentar as suas hipóteses de sucesso nesta fase da perseguição das metas. A resposta parece ser a seguinte: as pessoas precisam de se preparar de modo a que as suas possibilidades de ultrapassar as maiores dificuldades na implementação de metas se mantenham elevadas. Mas o que são estas dificuldades ou problemas? Pelo menos quatro problemas se destacam: iniciar a persecução das metas, permanecer na tarefa, parar lutas fúteis por metas e não exigir demasiado de si próprio. Para todos estes problemas, a estratégia auto-regulatória de formar intenções de implementação mostrou ser benéfica. Intenções de Implementação: Planear Antecipadamente a Implementação de Metas Para formar uma intenção de implementação (i.e., fazer um plano Se… Então…; Gollwitzer, 1993, 1999) a pessoa precisa de identificar uma pista situacional futura que seja relevante para a meta, e planear uma resposta comportamental relacionada com essa pista. Onde as intenções de metas especificam meramente os estados futuros desejados (“Eu quero atingir o objectivo X!”), as intenções de implementação no formato “Se a situação Y surgir, Então ponho em acção o comportamento Z!” especificam adicionalmente quando, onde e como é que a pessoa pretende perseguir a meta. As intenções de implementação delegam assim o controle sobre o início do comportamento dirigido à meta a uma oportunidade especificada, criando uma forte ligação entre uma pista situacional e uma resposta comportamental orientada para a conquista dessa meta. Por exemplo, uma pessoa que tem a meta de comer mais saudavelmente pode formar a intenção de implementação “Quando eu estiver no meu restaurante favorito e o empregado de mesa me perguntar o que é que eu quero pedir, Então eu peço uma refeição vegetariana!”. As intenções de implementação demonstraram ser uma ajuda preciosa para estreitar o fosso entre estabelecer metas inicialmente, e atingi-las efectivamente. Na verdade, uma meta-análise recente envolvendo mais de 8000 participantes em 94 estudos independentes, revelou um tamanho do efeito médio a grande (d = 0.65; Cohen, 1992) das intenções de implementação sobre a conquista das metas, acima dos efeitos das meras intenções de metas (Gollwitzer & Sheeran, 2006). Uma vez que as intenções de metas por si só já produzem um efeito facilitador à execução do comportamento (Webb & Sheeran, 2006), o tamanho do efeito das intenções de implementação é notável. Como é que surgem os efeitos das Intenções de Implementação? As associações mentais criadas pelas intenções de implementação facilitam a conquista de metas com bases nos processos psicológicos, relacionados tanto com a situação antecipada (especificada na parte Se… do plano), como com o comportamento que se tem intenção de executar (especificado na parte Então… do plano). Uma vez que formar uma intenção de implementação implica a selecção de uma situação crítica no futuro, a representação mental dessa situação torna-se altamente activada e por isso mais acessível (Gollwitzer, 1999). Esta acessibilidade realçada da parte Se… do plano tem sido observada em vários estudos (e.g., Aarts, Dijksterhuis & Midden, 1999; ParksStamm, Gollwitzer & Oettingen, 2007; Webb & Sheeran, 2007, 2008). Esta acessibilidade persiste ao longo do tempo até que o plano seja executado ou que a respectiva meta seja atingida posta de parte. A activação realçada da situação crítica ajuda as pessoas a evocarem facilmente a situação especificada, e isso conduz a uma mobilização rápida da atenção quando a situação surge. As intenções de implementação também formam uma forte associação entre a oportunidade especificada e a resposta especificada (Webb & Sheeran, 2007, 2008).O aspecto positivo destas ligações fortes é que, uma vez encontrada a pista crítica, a iniciação da resposta orientada para a luta pela meta especificada no componente então… da intenção de implementação, demonstra características de automatismo, incluindo imediatismo, eficiência e redundância da intenção consciente. Quando as pessoas têm uma intenção de implementação formada, podem agir em contexto sem terem de estar a deliberar sobre o quando e o como é que deverão agir. A prova de que aqueles que planeiam Se… Então… agem rapidamente (Gollwitzer & Brandstatter, 1997, experiência 3), lidam efectivamente com exigências cognitivas (Brandstatter, Legfelder & Gollwitzer, 2001), e não precisam de ter intenção consciente para agir no momento crítico (Bayer, Achtziger, Gollwitzer & Moskowitz, 2009; Sheeran, Webb & Gollwitzer, 2005, estudo 2) é consistente com esta ideia. Estes processos componentes das intenções de implementação (acessibilidade aumentada das pistas, automação de resposta) significam que o planeamento Se… Então… capacita as pessoas a verem e a aproveitarem boas oportunidades de avançarem na direcção das suas metas. Desenhar um plano Se… Então…automatiza estrategicamente a luta pelas metas (Gollwitzer & Schaal, 1998); as pessoas fazem intencionalmente planos Se… Então… que delegam o controlo dos comportamentos orientados para as metas a pistas situacionais pré-seleccionadas com o propósito explícito de atingir as metas. Isto é, a iniciação automática de comportamentos conseguida pela intenção de implementação é originada de um acto consciente e deliberado e não do hábito (i.e., exercer o comportamento crítico na situação crítica repetidamente e consistentemente). Intenções de Implementação e Resolução de Problemas da Implementação de Metas Dadas estas características especiais de controlo da acção pelas intenções de implementação, uma pessoa questiona-se se beneficia da formação de intenções de implementação quando é confrontada com os quatro problemas centrais da implementação de metas antes referidos. Inúmeros estudos sugerem que os problemas da iniciação da acção com vista às metas podem ser resolvidos efectivamente com a formação de intenções de implementação. Por exemplo, Gollwitzer e Brandstatter (1997, estudo 2) analisaram a intenção de uma meta (i.e., escrever um relatório sobre a forma como os participantes passaram a véspera de Natal) que tinha de ser executada numa altura em que as pessoas estão habitualmente ocupadas com outras coisas (i.e., durante os 2 dias subsequentes, que na Europa são feriados dedicados à família). Mesmo assim, os participantes na investigação que elaboraram a sua intenção de meta com uma intenção de implementação que especificou quando, onde e como eles queriam começar neste projecto, tiveram uma probabilidade três vezes superior de escrever o relatório, de facto, do que os participantes com apenas intenções de meta. De modo semelhante, Oettingen, Honig e Gollwitzer (2000, estudo 3) observaram que as intenções de implementação ajudaram os estudantes a agir sobre os seus objectivos de tarefa (i.e., fazer o t.p.c. de matemática) a tempo (e.g., às 10h da manhã de quarta feira, ao longo das 4 semanas seguintes). Outros estudos examinaram a capacidade das intenções de implementação em forjar a vontade de lutar pelas metas, envolvendo comportamentos que são de algum modo desagradáveis de executar. Por exemplo, metas de examinação regular da mama (Orbell, Hodgkins, & Sheeran, 1997) ou despiste de cancro do cérvix (Sheeran & Orbell, 2000), comer uma dieta baixa em gorduras (Armitage, 2004), reciclar (Holland, Aarts, & Langendam, 2006), e envolver-se em exercício físico (Milne, Orbel, & Sheeran, 2002) foram todas executadas mais prontamente quando as pessoas tinham formulado intenções de implementação – apesar de existir uma relutância inicial em levar a cabo estes comportamentos. Para além disso, as intenções de implementação estiveram associadas com a conquista de metas em domínios onde é fácil esquecer-se de agir (e.g., toma regular de vitaminas; Sheeran & Orbell, 1999; assinar papelada pelos idosos; Chasteen, Prk, & Schwarz, 2001). Muitas metas não podem ser atingidas com acções simples e isoladas num único movimento, mas exigem que as pessoas continuem a lutar pela meta ao longo de um período de tempo extenso. Tal permanência na tarefa pode tornar-se muito difícil quando determinados estímulos internos (e.g., estar ansioso, cansado, sobrecarregado) ou estímulos externos (e.g., tentações, distracções) interferem com, e potencialmente desestruturam, a luta pela meta que está a decorrer ao longo de um período de tempo. As intenções de implementação podem suprimir a influência negativa das interferências externas às pessoas (Gollwitzer & Schaal, 1998). Por exemplo, se uma pessoa quer evitar ser antipática para um amigo que é conhecido por fazer pedidos deploráveis, a pessoa pode formar intenções de implementação com vista à contenção, tais como “Se o meu amigo me abordar com um pedido idiotia, Então eu não lhe responderei de forma hostil!”. O componente Então das intenções de implementação com uma orientação de contenção não tem de ser elaborado em termos de não demonstrar o comportamento crítico; pode em alternativa demonstrar um comportamento antagónico (“…, Então eu responderei de forma amigável!”) ou focar-se em ignorar a pista que é crítica para a situação (“…, Então eu ignoro o pedido dele!”). As intenções de implementação com orientação de contenção também podem ser utilizadas para defender a batalha que se está a travar, dos estados internos disruptivos. Achtziger, Gollwitzer, e Sheeran (2008) relataram duas experiências de campo relacionadas com dietas (estudo 1) e metas atléticas (estudo 2), nos quais as metas eram protegidas pelas intenções de implementação de supressão maquinadas para controlar os estados internos com potencial para interferirem (vontade de comer fast-food no estudo 1, e pensamentos, sentimentos e estados fisiológicos disruptivos no estudo 2). Uma forma alternativa de utilizar as intenções de implementação para proteger a luta que se tem a decorrer pelas metas de descarrilar, é formar planos Se… Então… elaborados de modo a estabilizar a actual prossecução de metas que se tem em mãos (Bayer, Gollwitzer, & Achtziger, 2010). Recorrendo de novo ao exemplo de uma pessoa que é abordada pelo amigo com um pedido estapafúrdio, vamos imaginar que a pessoa está também cansada ou irritada e por isso particularmente propensa a responder de uma forma desajustada. Se a pessoa tiver estipulado adiantadamente uma intenção de implementação sobre a forma como irá conversar com o amigo, a interacção poderá decorrer conforme planeado, e estar cansado/a ou irritado/a não deverá afectar o comportamento da pessoa com relação a esse amigo. Num estudo de Trotschel e Gollwitzer (2007) sobre negociação, foi explorado se o facto de verbalizar a luta pelas metas por meio das intenções de implementação torna a luta pelas metas torna as metas menos vulneráveis, não apenas às interferências internas mas também às externas. Eles descobriram que um cenário de negociação de perdas não conseguiu produzir os efeitos negativos típicos sobre os resultados da negociação justa e cooperativa (i.e., quando os bens a serem partilhados são enquadrados em termos de perdas em vez de ganhos os negociadores tendem a comportar-se de forma mais competitiva e a produzir resultados conjuntos inferiores). Nos estudos de Trotschel e Gollwitzer, os negociadores que formularam as suas intenções de metas para serem cooperativas (i.e., “Eu quero cooperar com o meu interlocutor!”) com planos Se… Então… que verbalizaram adiantadamente de que forma eles queriam atingir essas metas (i.e., “Se eu receber uma proposta, Então farei uma contraproposta cooperativa!”) já não evidenciaram os efeitos negativos de um enquadramento de perdas. Os negociadores na configuração com enquadramento de perdas que tinham intenções claras de metas cooperativas, atingiram agora o mesmo desempenho no conjunto dos resultados, que foi observado com os negociadores no grupo de controlo com um enquadramento de proveitos. O problema auto-regulatório de parar uma luta fútil por uma meta (i.e., libertarse de uma intenção escolhida mas não instrumental ou de uma meta que se tornou inexequível ou indesejável) também pode ser melhorado pela formação de intenções de implementação. É habitual as pessoas não se conseguirem libertar de intenções e de metas escolhidas quando elas se mostram deficitárias por causa de um forte motivo auto-justificativo (i.e., tendemos a aderir à crença irracional de que as decisões que tomámos deliberadamente têm de ser boas; Brockner, 1992). Tais efeitos de escalada (e.g., ficar apegado/a a uma intenção ou meta mesmo que os resultados negativos na prossecução do objectivo se vão continuar a acumular) são contudo reduzidos efectivamente, com a utilização de intenções de implementação. Estes planos Se… Então… só precisam de especificar a recepção de informação negativa como pista da componente Se… e modificar para intenções ou metas alternativas como a resposta adequada na componente Então… (Henderson, Gollwitzer, & Oettingen, 2007). Finalmente, a premissa de que as intenções de implementação submetem o comportamento ao controlo directo das pistas situacionais (Gollwitzer, 1993) implica que a pessoa não tenha de exercer um esforço deliberado. Como consequência, o “Eu” (self) não deverá sair depreciado (Muraven & Baumeister, 2000; ver também Doerr & Baumeister, capítulo 5 desta mesma revista [Social Psychological Foundations of Clinical Psychology, New York: The Guilford Press, 2010]) quando o desempenho das tarefas é regulado pelas intenções de implementação, e por isso deverá ser mais fácil não exigir demasiado do “Eu” dos indivíduos que utilizam intenções de implementação. De facto, mesmo utilizando diferentes paradigmas de depreciação do ego, os participantes na investigação que utilizaram intenções de implementação para se autorregularem numa tarefa não demonstraram redução na capacidade para se autorregularem numa tarefa subsequente. Quer a tarefa inicial de autorregulação fosse o controlo emocional durante o visionamento de um filme humorístico (Gollwitzer & Bayer, 2000) ou desempenhar uma tarefa de Stroop (Webb & Sheeran, 2003), as intenções de implementação preservaram com sucesso os recursos autorregulatórios tal como demonstrado pela persistência acrescida em tarefas difíceis subsequentes. Utilizar Intenções de Implementação para Apoiar Metas Terapêuticas Bayer e Gollwitzer (2007) combateram crenças disfuncionais em tarefas académicas difíceis (e.g., submeter-se ao teste de inteligência de Raven). Mesmo quando as pessoas iniciam um teste com crenças elevadas de auto-eficácia, o confronto com um item de teste difícil pode conduzir a um enfraquecimento da auto-eficácia para os itens subsequentes do teste. Para combater esse empobrecimento da auto-eficácia, Bayer e Gollwitzer (2007) pediram aos participantes que reforçassem as suas intenções de ter um bom desempenho (“Eu vou resolver correctamente tantos itens do teste quantos conseguir!”) com intenções de implementação que especificassem uma resposta de fortalecimento da auto-eficácia (“E Se eu começar um novo item, Então direi para mim mesmo: Eu consigo resolvê-lo!”). Os participantes na condição de intenções de implementação desempenharam melhor do que aqueles na condição de apenas terem a intenção de desempenhar bem; também desempenharam melhor do que os participantes numa outra condição, onde tinham de formar uma intenção de fortalecimento da autoeficácia como meta (“Eu direi a mim mesmo: Eu consigo resolver estes itens!”). Investigação recente tem explorado também se as intenções de implementação nas metas de regulação emocional tornam estas mais efectivas (Schweiger Gallo, Keil, McCulloch, Rockstroh, & Gollwitzer, 2009). Num destes estudos, analisou-se o controlo do medo em pessoas com fobia de aranhas. Com base nas distinções de Gross (2002) sobre estratégias de regulação emocional focadas-na-resposta vs. focadas-nosantecedentes, era pedido aos participantes em intenções de implementação que elaborassem as suas metas de não ficarem assustados quando fosse apresentada uma imagem de uma aranha com, quer uma intenção de implementação focada-na-resposta (“Se eu vir uma aranha, Então eu mantenho-me calmo e relaxado”) quer uma intenção de implementação focada-nos-antecedentes (“Se eu vir uma aranha, Então eu ignoro-a). Quando comparados com os participantes em meras intenções de metas, os participantes em intenções de implementação mostraram respostas de medo mais baixas às imagens de aranhas apresentadas independentemente de terem formado intenções de implementação focadas-na-resposta ou focadas-nos-antecedentes. De facto, os participantes que utilizaram intenções de implementação conseguiram controlar os seus medos a níveis tão baixos quanto os observados com participantes em grupos de controlo que não tinham quaisquer medos de aranhas. Num estudo final com base em electroencefolografia de alta densidade, a efectividade das intenções de implementação para controlo do medo com instruções para ignorar foi replicada com participantes com fobia de aranhas, e os correlatos electrocorticais revelaram que os participantes que fortaleceram as suas intenções de metas com intenções de implementação para ignorar demonstraram uma actividade precoce significativamente reduzida no córtex visual em resposta aos slides de aranhas, tal como é reflectido por um P11 mais baixo (avaliado em 120 milissegundos [ms] após a apresentação das aranhas). Esta descoberta sugere que e implementação de intenções conduz de facto a uma automação estratégica da resposta específica orientada para a meta (neste caso, uma resposta ignorar) quando é 1 Em EEG, os potenciais evocados nos córtexes visuais primários distinguem-se entre C1 e P1 por o C1 não poder ser modulado pela atenção (área V1) e o P1 ser influenciável pelo treino (córtex visual extra estriado), sendo que ambos são respostas até aos 100ms. encontrada a pista crítica (neste caso, a imagem de uma aranha), já que é sabido que o início da acção deliberada consciente leva mais de 120 ms (i.e., pelo menos 300ms). Finalmente, as intenções de implementação também foram efectivas em ajudar pessoas a ultrapassarem maus hábitos (e.g., hábitos de alimentação não saudável; Verplanken & Faes, 1999). Isto não é para nós surpresa, uma vez que Cohen, Bayer, Jaudas e Gollwitzer (2008, estudo 2) observaram que as intenções de implementação conseguem controlar até o efeito de Simon (Lu & Proctor, 1995), que é baseado na seguinte resposta instrínseca: os estímulos apresentados no lado esquerdo de uma pessoa são em geral atendidos utilizando o braço esquerdo, e da mesma forma aos estímulos apresentados do lado direito são respondidos com o braço direito. Na tarefa de Simon, a classificação de respostas que são incongruentes (i.e., o estímulo crítico e a resposta estão localizados em lados diferentes relativamente à posição da pessoa) levam em geral mais tempo do que a classificação de respostas que são congruentes (i.e., os estímulos e as respostas são do mesmo lado). Cohen et al. (2008) descobriram que o efeito da localização espacial para respostas a pistas que tinham sido especificadas na parte Se das intenções de implementação, foram abolidas. Moderadores dos Efeitos das Intenções de Implementação Existem vários moderadores dos efeitos das intenções de implementação sobre a conquista de metas, que dizem respeito a características da meta sobreordenada (e.g., interesse intrínseco, Koestner, Lekes, Powers & Chicoine, 2002; força de compromisso e estado de activação, Sheeran et al., 2005), à própria intenção de implementação (e.g., compromisso com o plano Se… Então…; Gollwitzer, 1999), e às características do próprio indivíduo. As intenções de implementação são tidas como úteis também em indivíduos com parcas capacidades autorregulatórias, tal como no caso de pessoas com esquizofrenia, problemas de abuso de substâncias (Brandstatter et al., 2001, estudos 1 & 2), e lesões nos lóbulos frontais (Lengfelder & Gollwitzer, 2001). Também se registam benefícios em crianças com perturbação de hiperactividade com deficit de atenção (PHDA) que se sabe terem dificuldades com tarefas que exigem inibição de respostas (e.g., tarefas agir/não-agir). Por exemplo, o desempenho na inibição de respostas na presença de sinais de paragem pode ser melhorada em crianças com PHDA, ao formarlhes intenções de implementação (Gawrilow & Gollwitzer, 2008). Esta melhoria na inibição de resposta é reflectida também na informação electrocortical (Paul et al., 2007). Tipicamente, o componente P300 (i.e., um potencial evocado relacionado com um evento registado numa latência de 300ms) evocado por um estímulo não-agir tem uma amplitude superior à do P300 evocado pelo estímulo. Esta diferença é menos pronunciada em crianças com PHDA. Paul et al. (2007) descobriram que os planos Se… Então… melhoraram a inibição de resposta e aumentaram a diferença no P300 (agir/não-agir) em crianças com PHDA. Sumário As intenções de implementação ajudam as pessoas a lidar mais efectivamente com os maiores problemas das lutas pelas metas; iniciar, permanecer na tarefa, parar e não exigir demasiado do próprio. Num acto consciente de vontade (“Se a situação X surgir, Então eu ajo da forma Y!”), as pessoas ligam uma pista crítica antecipada, interna ou externa, a uma resposta orientada para a meta. A resposta é então espoletada automaticamente na presença da pista crítica. As intenções de implementação podem ser utilizadas para facilitar a conquista de todo o tipo de metas difíceis, incluindo metas terapêuticas tais como mudar expectativas (auto-eficácia) e ultrapassar medos ou maus hábitos. Para além disso também parecem resultar em pessoas que se sabe terem dificuldades com o controlo da acção (e.g., crianças com PHDA). Uma Intervenção para Melhorar as Capacidades Autorregulatórias de uma Pessoa: Combinar o Contraste Mental com as Intenções de Implementação Uma variedade de teorias vê a melhoria da autorregulação como uma meta importante em psicoterapia, apesar de diferentes teorias terem termos diferentes para o conceito. As abordagens psicodinâmicas referem-se à autorregulação como desenvolvimento do carácter, os Alderianos chama-lhe modificação do estilo de vida, os comportamentalistas falam em aquisição de um repertório social adaptativo, e os psicólogos que aderem às tradições humanistas falam da pessoa totalmente funcional (ver Karoly & Anderson, 2000). Quando Viktor Frankl (1959/1984) explica que “em última instância, o significado da vida é tomar a responsabilidade de encontrar a resposta certa para os seus problemas e cumprir com as tarefas que ela está constantemente a atribuir a cada indivíduo”, ele parece concordar que uma autorregulação efectiva é um resultado terapêutico desejável. Como podem as psicoterapias ajudar as pessoas a conseguirem uma autorregulação efectiva? Em investigação recente explorámos se seria possível construir uma intervenção que ensina as pessoas a utilizarem por si mesmas uma combinação integrada de contraste mental e de formação de intenções de implementação, de modo a tornarem-se autorreguladores mais efectivos do seu estabelecimento de metas e da sua luta pelas metas. Esta intervenção – chamada MCII, para Contraste Mental com Intenções de Implementação – foi testada num primeiro estudo que utilizou o MCII integrado numa terapia estandardizada em pacientes com dor crónica de coluna. Num segundo estudo foi ensinado o MCII a mulheres de meia-idade como estratégia metacognitiva na vida do quotidiano para melhorar os comportamentos de promoção da saúde (i.e., exercitar regularmente). Finalmente, num terceiro estudo foi ensinado, mais uma vez como estratégia metacognitiva, mas agora para ajudar estudantes a lidarem com o stress da vida académica. Para avaliar as implicações da intervenção MCII para o desenvolvimento da personalidade, as variáveis dependentes foram mais amplas tais como alterações à auto-disciplina ou à auto-estima. Em todos estes estudos, a combinação MCII melhorou a persecução de metas. Para as intenções de implementação serem efectivas, há que mobilizar fortes compromissos com as metas (Sheeran et al., 2005, estudo 1), e o contraste mental cria esses compromissos fortes. Adicionalmente, contrastar mentalmente garante a identificação de obstáculos à conquista de metas. Esses obstáculos podem assim ser abordados com planos Se… Então… ao especificar situações críticas no componente Se… que estejam ligadas a respostas instrumentais orientadas para a meta no componente Então…. Para além disso, contrastar mentalmente aumenta a prontidão da pessoa para fazer planos Se… Então… (Oettingen et al., 2009). De acordo com isto, uma intervenção tal como o MCII, que sugere explicitamente formar planos Se… Então… depois de contrastar mentalmente, pode capitalizar estes efeitos. O MCII como Estratégia para Atingir uma Meta Terapêutica Específica Um primeiro estudo que testou estas ideias focou-se em melhorar a mobilidade de uma amostra clínica de pacientes com dor crónica das costas. Um grande desafio com que se confrontam muitos fisioterapeutas que trabalham com estes pacientes é conseguir motivá-los para se exercitarem. Um obstáculo à reabilitação bem sucedida é que aqueles que sofrem de dor antecipam a dor em qualquer situação relacionada com actividade, e por isso tendem a evitar todo e qualquer tipo de actividade por princípio. Um segundo obstáculo são as crenças dos pacientes de que os tratamentos passivos (e.g., cirurgia, massagem) são as únicas ou as mais efectivas vias para controlar a dor. Os pacientes que esperam que tais tratamentos “passivos” eliminem as suas dores têm menor probabilidade de vir a aprender como é que eles próprios podem efectivamente ultrapassar e gerir a sua dor (Vlaeyen & Linton, 2000), um passo difícil mas ainda assim necessário, para uma reabilitação bem sucedida. Uma vez que a mudança de comportamentos a longo prazo sob a forma de actividade física é necessária para estes pacientes recuperarem e melhorarem a sua qualidade de vida, e porque os comportamentos de longo prazo na maioria das vezes não são mantidos ao longo do tempo (Marcus et al., 2000), uma intervenção suplementar de MCII deveria ser útil. Christiansen, Oettingen, Dahme e Klinger (no prelo) recrutaram pacientes de um centro de reabilitação na Alemanha com dor crónica das costas. Os participantes foram distribuídos aleatoriamente, quer a um grupo de controlo (i.e., o programa padrão de pacientes de ambulatório) quer a um grupo de intervenção (i.e., o programa padrão mais a intervenção MCII). O programa padrão implica 3 a 4 semanas de tratamento, incluindo elementos de terapia cognitivo-comportamental, seminários de informação individualizados (e.g., técnicas de relaxamento, lidar com o stress), cuidados médicos e consulta psicológica, fisioterapia e exercício. A intervenção MCII consistiu em duas sessões de meia hora. Na primeira sessão, os participantes contrastaram mentalmente os aspectos positivos melhorados do exercício (e.g., sentirem-se em forma, fazerem uma caminhada com a família ao domingo) com os obstáculos com que se deparam para essa melhoria do exercício (e.g., medo de que a dor piore, pedir à família que abrande o passo). Durante a segunda sessão, os participantes formaram planos Se… Então… depois de identificarem comportamentos de resposta aos obstáculos gerados na primeira sessão (e.g., “Se eu ficar ansioso com o medo de a minha dor aumentar, Então assegurar-me-ei de que só posso beneficiar de me exercitar”; “Se eu me sentir envergonhado para falar à minha família durante a caminhada de domingo, Então peço às crianças para irem à frente e esperarem por mim no café”). As variáveis dependentes foram a força física e os comportamentos de levantamento adequados (i.e., “manipular pesos” da avaliação de capacidade funcional [FCE]; Gouttebarge, Wind, Kuijer, & Frings-Dresen, 2004; e um teste ergométrico de bicicleta), e a severidade da dor. As medidas foram efectuadas em pré-teste, 10 dias após a intervenção e três meses após a intervenção. O tratamento padrão com a intervenção MCII melhorou mais a mobilidade física dos pacientes com dor crónica do que aqueles com apenas o tratamento padrão, tal como observado 10 dias e 3 meses após a intervenção e avaliado por medidas subjectivas e objectivas. Estes efeitos foram independentes da dor relatada pelos participantes, que não foi significativamente diferente entre condições durante e após o tratamento. A intervenção MCII provou ser efectiva em termos de tempo e de custos no sentido em que consistiu em apenas duas sessões no total de 1 hora. Outras intervenções psicológicas de curto prazo para pacientes com dor crónica das costas levam pelo menos 4 a 6 horas (e.g., Linton & Nordin, 2006; para revisão, ver as descobertas do “Grupo das Costas Cochrane”: Ostelo et al., 2006). MCII como Estratégia Metacognitiva para a Vida do Quotidiano Nos anos mais recentes os psicólogos começaram a analisar o conhecimento metacognitivo em áreas tais como a tomada de decisão e a memória (e.g., Bless & Forgas, 2000; Koriat & Goldsmith, 1996; Metcalfe & Shimamura, 1994; Nelson & Narens, 1994). Por exemplo, as crianças (em especial aquelas com poucos conhecimentos metacognitivos) melhoraram os seus desempenhos de memória se lhes fossem ensinadas técnicas de associação e de ensaio (Schneider, Borkowski, Kurtz & Kerwin, 1986). A utilização de conhecimento metacognitivo deve ser especialmente importante para a persecução efectiva de metas. Por exemplo, ensinar as pessoas que a inteligência é plástica deveria levá-las a adoptar metas de aprendizagem (em vez de metas de desempenho), que por sua vez reforçam os esforços face às dificuldades (Dweck & Elliot-Moskwa, capítulo 8 deste volume). Adicionalmente, ensinar as pessoas a contrastarem mentalmente resultados futuros desejados e exequíveis com as respectivas realidades deverá ajudar as pessoas a formarem laços de compromisso com as metas. Finalmente, ensinar as pessoas a fazerem planos Se… Então… (intenções de implementação) deverá automatizar o início das respostas orientadas para as metas e assim facilitar a conquista dessas metas. Até à data, contudo, a maioria das intervenções dizem às pessoas para lutarem por uma meta definida à priori (e.g., controlo do peso, Stice, Shaw & Marti, 2006; controlo do álcool, Lock, 2004; perdão, Harris et al., 2006; ver também, Christiansen et al., no prelo, acima descrito). Em tais intervenções, é pedido aos participantes que se envolvam em pensamentos, sentimentos e acções orientadas para metas, que são constituídas especificamente para atingir um resultado desejado pré-definido; não são encorajados a utilizar estas mesmas estratégias de estabelecer e lutar pelas suas metas de uma forma geral. Contudo, na vida quotidiana as pessoas habitualmente desejam conseguir uma multitude de resultados diferentes e em domínios variados. Por isso mesmo, as pessoas deveriam poder beneficiar de conhecimento metacognitivo sobre estratégias livre de conteúdos, e que envolvem priorizar e planear a persecução de metas antecipadamente. De facto, um estudo recente demonstra que o contraste mental pode ser ensinado e utilizado com sucesso como estratégia metacognitiva (Oettingen, Mayer, & Brinkmann, 2010). Gestores de recursos humanos alemães que foram ensinados a contrastar mentalmente preocupações quotidianas auto-identificadas que são perturbadoras mas controláveis, relataram melhor gestão do tempo, mais facilidade na tomada de decisão e conclusão de projectos mais efectiva, quando comparados com um grupo de controlo (aos participantes do grupo de controlo foi-lhes pedido apenas que pensassem de forma positiva sobre as suas preocupações quotidianas). Os dois estudos seguintes testaram se o MCII também pode ser ensinado como estratégia metacognitiva. Efeitos sobre Comportamentos de Saúde em Mulheres Trabalhadoras de meia-idade Foram recrutadas mulheres de meia-idade para fazer parte de um estudo que se focava em estilos de vida saudáveis (Stadler, Oettingen, & Gollwitzer, 2009). As participantes eram aleatoriamente distribuídas a um grupo de controlo apenas de informação ou a um grupo de intervenção com o MCII. No grupo de controlo, as mulheres aprendiam sobre os benefícios do exercício regular. No grupo MCII as participantes receberam a mesma informação e adicionalmente aprenderam a técnica do MCII. As participantes aprenderam a estratégia do contraste mental relativamente à meta de exercitar regularmente (e.g., correr três vezes por semana), e então eram instruídas a formar três intenções de implementação com respeito a obstáculos à prática do exercício (e.g., sentirem-se demasiado cansadas na noite anterior para irem correr na manhã seguinte) sob a forma de afirmações Se… Então…: uma para ultrapassar o obstáculo gerado pelo contraste mental (e.g., “Se eu estiver exausta quando chegar a casa do trabalho esta noite, Então calço os meus ténis de corrida e vou fazer um jogging só aqui na vizinhança”), uma para prevenir este obstáculo (e.g., “Se eu der conta que são cinco da tarde, Então pego nas minhas coisas e vou-me embora para ir dar uma corrida”), e uma que identificasse uma boa oportunidade para agir (e.g., “Se o sol ainda for visível, Então vou dar uma corrida de 30 minutos no parque”). Era então dito às participantes para aplicarem este procedimento MCII relativamente à prática de mais exercício físico sempre que possível, nas semanas que se seguiam. As participantes eram livres de escolher qualquer forma de exercício com que se quisessem envolver, e eram encorajadas a identificar os obstáculos que eram pessoalmente mais relevantes. As participantes preencheram diários comportamentais para aferir a quantidade de exercício que fizeram todos os dias. No total, a técnica MCII aumentou o exercício mais do que a intervenção de apenas informação imediatamente após a intervenção, e este efeito permaneceu estável ao longo de 4, 8 e 16 semanas após a intervenção. As participantes no grupo MCII exercitaram-se aproximadamente o dobro – isto é, mais uma hora por semana – do que as participantes do grupo de controlo de apenas informação. Assim, a utilização da técnica MCII foi efectiva tanto no sucesso inicial como na manutenção a longo prazo da melhoria dos comportamentos de exercício. Melhorar a Auto-disciplina e a Auto-estima em Estudantes Universitários Dado que o MCII como estratégia metacognitiva melhora a autorregulação numa variedade de metas, nós fomos averiguar os seus efeitos em variáveis mais amplas do desenvolvimento da personalidade: Auto-disciplina e Auto-estima. De acordo com a conceptualização de auto-disciplina (auto-controlo) de Tangney, Baumeister e Boone (2004), identificámos os seus componentes chave: gestão do tempo, conclusão de projectos e o sentimento de “estar a dar conta do recado”. Adicionalmente, como o MCII deverá promover compromissos com metas mais fortes e conclusão de metas mais bem sucedida numa variedade de áreas, nós colocámos a hipótese de a nossa intervenção MCII poder até afectar a auto-estima das pessoas. Tal como sublinhado por William James (1890), a auto-estima sobe e desce como função das aspirações e dos sucessos. O efeito do contraste mental – um melhor ajustamento entre a probabilidade subjectiva de conseguir atingir as metas e o compromisso com elas – deveria ajustar os compromissos de acordo com a competência objectiva, e utilizar as intenções de implementação para perseguir metas deveria dar origem a sucessos frequentes. Ambos os resultados deveriam subir a auto-estima. Os estudantes de licenciatura participantes eram distribuídos, quer por um grupo de intervenção MCII quer por um grupo de controlo (Oettingen, Barry, Guttenberg, & Gollwitzer, 2010). No grupo de intervenção MCII, primeiro aprendiam a utilizar a estratégia de contraste mental e depois aprendiam a formar intenções de implementação, identificando o comportamento necessário para ultrapassar ou contornar um obstáculo (e.g., um colega de quarto barulhento como obstáculo ao estudo efectivo para um teste que se aproxima) gerado durante o contraste mental. Para o fazer, os participantes imaginaram um resultado desejado e um obstáculo potencial em detalhe vívido, então criaram três afirmações Se… Então… uma focando-se em ultrapassar o obstáculo (e.g., “Se o meu colega de quarto começar a fazer barulho novamente esta noite, Então eu falo com ele sobre o seu comportamento”), outra prevenindo o obstáculo (e.g., “Se eu vir o meu colega de quarto ao almoço, Então peço-lhe para manter a música baixinha esta noite”), e outra planeando uma abordagem diferente ao resultado desejado (e.g., “Se eu passar por uma farmácia no caminho para casa, Então compro um par de tampões de ouvido”). Os estudantes praticaram a utilização do procedimento MCII com a ajuda do investigador para conseguirem desempenhar a estratégia autonomamente, relativamente a uma multitude de preocupações do quotidiano ao longo de uma semana. Os participantes cotaram a auto-disciplina e a auto-estima em dois momentos diferentes: imediatamente antes da intervenção, e novamente uma semana depois da intervenção. A intervenção MCII aumentou directamente os relatos de auto-disciplina e auto-estima dos participantes, numa comparação com os participantes do grupo de controlo (que não revelaram quaisquer melhorias) após apenas uma semana. Os efeitos da intervenção MCII não foram moderados por quaisquer outras variáveis medidas (e.g., sexo, idade, nível escolar, depressão, stress percebido, satisfação com a vida, eventos problemáticos, satisfação com a vida académica, auto-eficácia). Presumivelmente, o MCII capacitou os indivíduos com capacidades autorregulatórias ajudando-os a comprometerem-se com metas mais exequíveis e ajudando-os a atingirem efectivamente essas metas. Assim, esta combinação simples mas poderosa de estratégias ajudou os estudantes universitários a reconhecerem e a realizarem o seu potencial e a terem um sentimento de auto-disciplina e auto-estima nas suas vidas quotidianas. Sumário A combinação do Contraste Mental com a formação de Intenções de Implementação pode ser utilizada para ajudar as pessoas a conseguirem metas comportamentais específicas (e.g., metas de mobilidade em pacientes com dores de costas) ou, quando ensinada como estratégia metacognitiva, a conseguirem metas na sua vida em geral (e.g., exercitar mais regularmente ou lidar com a vida académica). Até influenciou os resultados relacionados com o desenvolvimento da personalidade tais como a auto-disciplina e a auto-estima. Para além disso, como os estudos da intervenção incluíram amostras dos Estados Unidos e da Alemanha, desde jovens adultos a pessoas de meia-idade, e de diversos domínios desde as áreas académicas e profissionais à melhoria dos comportamentos de saúde, parece evidente que o contraste mental com intenções de implementação (MCII) pode ser aplicado transversalmente para ajudar as pessoas a gerirem os seus desafios da vida diária. Conclusão Começando com a observação de Viktor Frankl de que o significado da vida origina-se mais na acção do que no discurso e na meditação, nós revimos a investigação sobre a autorregulação da persecução de metas. Parece ser importante que as pessoas estabeleçam selectivamente metas que sejam desejáveis e exequíveis, e a partir daí lutem por essas metas de uma forma efectiva. Para ambas estas tarefas de perseguição de metas existem estratégias autorregulatórias efectivas: o contraste mental para o estabelecimento de metas e a formação de intenções de implementação para a luta pelas metas. Também importante, a intervenção de contraste mental com intenções de implementação pode ser utilizada para ensinar às pessoas a utilização combinada destas duas estratégias para atingir metas de curto e de longo prazo. A efectividade da intervenção MCII sugere que as pessoas podem tomar a responsabilidade pelas suas vidas quotidianas e pelo seu desenvolvimento pessoal através da autorregulação efectiva das suas perseguições de metas. Referências bibliográficas: