Materialidade do texto

J. H. Chajes, The Kabbalistic Tree as Material Text
Ilanot (Hebrew, “trees”) refers to a distinct kabbalistic iconotextual genre constituted by the marriage of schema and medium: the arboreal diagram and the parchment sheet. The present article seeks to highlight the latter and explore the ways in which the media of ilanot effected their meaning and function. The constitutive role of the material text of the ilan is communicated by the synecdoche yeri‘ah ([parchment] sheet) commonly used to refer to such artifacts in the fourteenth and fifteenth centuries. Two definitive characteristics of ilanot—their map-like nature and the mimetic significance of the act of scrolling—are also shown to be intimately related to their materiality.

Capítulo do livro Edição: objetos "A leitura vem de dentro: sentidos no ato de ler em diferentes dispositivos", de Marília Barcellos, aborda literaturas que visem a perceber o sujeito e suas subjetividades para o ato da leitura, e o quanto as reflexões a respeito do tema podem suscitar ações de incentivo e, por conseguinte, atender à expectativa de compreensão do campo editorial. Uma das questões a ser considerada é saber até que ponto os dispositivos externos fazem com que a apreensão da leitura, aqui referenciada como a funcional, estimula, ou não, a apreensão dos conteúdos e a busca da felicidade. Ao mesmo tempo, pergunta-se: sendo o livro uma mídia que permite o registro do conhecimento – cujo diferencial é possibilitar narrativas longas, ao contrário do jornal com notícias, ou das mídias sociais, com fragmentação dos dados –, o quanto de desafio há em tempos
de compartilhamento intenso e de múltiplos suportes e materialidades?
Há de se considerar, também, sob o foco da investigação, como ocorrem, então, as sinapses mentais? Quais as peculiaridades de uma, ou de outra leitura? Sendo assim, os dispositivos têm em si a missão de carregar os conteúdos, mas cabe à mente, dentre outras possibilidades, decidir se vai adaptar-se a este ou àquele suporte para a leitura. O que antes era tido como apreensão do conhecimento, dos saberes, conforme Edgar Morin (2002), transforma-se, o mais das vezes, em mera notícia, com o surgimento das novas mídias e a velocidade com que as
informações são transmitidas – do profundo ao superficial, do reflexivo ao meramente participativo e compartilhado. Ao mesmo tempo, isso permite o acesso amplo às informações e à decisão de cada sujeito, respeitante a seu uso, ou não, atinente à busca da verdade, ou não, daquilo que lhe é repassado. Essas inquietações hão de roteirizar este trabalho, ademais de consistirem em desafios para além do aqui fundamentado.

Referência: BOGO, Marc Barreto. Intersemioticidades do objeto literário. 2020. 485 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, cotutela Université de Limoges, São Paulo, 2020.

Resumo: O objeto de estudo desta tese é o que se propõe chamar de “objeto literário intersemiótico”: uma determinação material e espaço-temporal investida de significação, que comporta um discurso percebido como “literário” pelo corpo social, construída a partir de relações entre diferentes semióticas. Percebe-se neste início de século XXI, no mercado editorial e especialmente em espaços como feiras de arte impressa ou livrarias focadas em publicações independentes, a presença intensificada desse tipo de obra contemporânea. São publicações engajadas na construção de uma nova estética do livro, marcadas sobretudo pela exploração plástica de seus formantes e pelo investimento nas relações entre vários sistemas semióticos (escultura, fotografia, infografia etc.). A partir do mapeamento do cenário editorial, define-se um corpus de referência de três editoras com abordagens semelhantes no tratamento de suas publicações: Lote 42 (Brasil), Visual Editions (Inglaterra) e Éditions Non Standard (França). De cada editora, um livro considerado emblemático é selecionado para análise: Inquérito Policial: Família Tobias (Ricardo Lísias), Tree of Codes (Jonathan Safran Foer) e Lettres du Havre (Élodie Boyer e Jean Segui). O problema de pesquisa é: como se constroem as relações de intersemioticidade nos objetos literários para adultos do século XXI? Dele desdobra-se uma problemática complementar, que perpassa: (1) a própria concepção do literário, (2) as relações entre mídias, (3) a apreensão sensível como condição de leitura, (4) as relações entre o impresso e o digital e (5) os tipos de riscos assumidos pelas editoras. A moldura teórica e metodológica empregada nas análises consiste na Semiótica desenvolvida por A. J. Greimas e seus desdobramentos, em especial nos estudos de J.-M. Floch sobre a plasticidade, de E. Landowski sobre os regimes de interação, risco e sentido, e de A. C. de Oliveira sobre o sincretismo. A hipótese principal, de que os tipos de relações entre semióticas propiciariam ao leitor a experiência vivida da construção por meio de várias linguagens do próprio objeto literário, é validada ao longo do estudo de cada obra selecionada. Tendo por objetivo montar uma tipologia dos modos de intersemioticidade nos objetos literários, o principal resultado alcançado é a elaboração de tal esquematização, partindo da oposição estabelecida entre as relações intersemióticas articuladas internamente no objeto literário (“sincretizadas”) e aquelas processadas entre a obra e manifestações externas a ela (“discretizadas”). Essa proposição busca integrar as questões usualmente abordadas pelos estudos da “tradução intersemiótica” e do “sincretismo de linguagens” em uma mesma problemática geral, das inter-relações entre linguagens.

O presente artigo faz alguns apontamentos referentes à edição bilíngue de Ariel, de Sylvia Plath, publicada pela Verus Editora em 2007, em breve contraposição com outras duas edições cujos direitos de publicação remontam aos anos de 1965 e 2004, respectivamente. Buscou-se fundamentação no referencial de Roger Chartier, no que diz respeito às questões ligadas à materialidade dos textos, que extrapolam as peculiaridades de apresentação do livro como objeto. Foi possível identificar diversos elementos que constituem a identidade distinta da edição brasileira analisada, sendo sua constituição considerada um elemento influenciador do ato da leitura.

Estudio que acompaña la edición facsimilar de La Señorita Etcétera de Arqueles Vela (editada por Rose Corral en 2020), la primera novela de vanguardia hispanoamericana, reflexionando sobre sus condiciones de publicación y su materialidad textual.

This article examines how the written text has negative connotations in some well known poems of the most canonical modernist Brazilian poets such as Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade and Jorge de Lima. It is asserted that this negativity it should be considered as a new transversal and cohesive feature in the Brazilian modernist poetry.
https://lljournal.commons.gc.cuny.edu/2012-1-climent-texto/

Roger Chartier é um historiador bastante conhecido no Brasil e, precisamente por isso, dispensaria maiores apresentações. Entretanto, em respeito às quase quatro décadas de circulação de suas ideias por aqui, é justo dedicar algumas linhas sobre o autor e a circulação de seu pensamento no país, antes de tratar propriamente do livro que acaba e sair em português. Nos anos 1980, segundo o importante estudo de Andréa Daher La historia cultural como historia de las prácticas letradas en Brasil, publicado em 2012, e que nos servirá como uma das referências para essa introdução de autor e obra, Roger Chartier era lido principalmente por historiadores da educação. Ainda que traduções de seus livros só aparecessem no final da década, o autor já era notado por pesquisadores dessa área. (DAHER, 2012: 201). Não à toa, pois além de seus trabalhos iniciais na década de 1970 terem sido sobre a história da educação na França moderna, ao longo da década seguinte, sua obra foi notadamente dedicada à história do livro, da leitura e da escrita, distribuindo seus estudos sobre períodos entre os séculos XIV e XIX. Por isso, não só historiadores da educação, como também pesquisadores da área de letras, da comunicação, da arquivologia e da biblioteconomia, entre outras, a partir das décadas de 1990 e 2000, com a intensificação de traduções da obra de Chartier, passaram a se interessar por ela, momento em que historiadores de diferentes áreas de especialidade também despertavam um interesse cada vez maior pelo historiador francês, professor no Collège de France na área de "Escrita e culturas na Europa Moderna". Mas os historiadores brasileiros, incialmente, tomaram sua obra por caminhos diversos do tipo de abordagem cultural da história que Chartier realizava, isto é, desconsiderando a condição de que o autor já vinha sendo

Tensionando as relações entre tecnologia, materialidade e cognição, o presente artigo tem como objetivo analisar a recepção televisiva combinada com a navegação simultânea na Internet em outros dispositivos. A proposta é investigar os possíveis impactos que a televisão multiplataforma gera na experiência subjetiva, sensorial e cognitiva dos telespectadores, recondicionando hábitos e comportamentos. Para elucidar as questões que se colocam, elege-se como objeto de estudo o programa SuperStar. O artigo propõe uma análise do modo como a alteração do status material dos dispositivos pode influenciar as relações que o telespectador estabelece com o meio televisivo.

O artigo analisa a produção poética de Roberta Camila Salgado, que, entre 1964-1965, compôs os poemobjetos que viriam a integrar a instalação ambiental Tropicália, de Hélio Oiticica, exibida em 1967 na célebre exposição "Nova Objetividade Brasileira". Relacionando a escrita poética com materiais como cerâmicas de telhado, blocos de tijolo, isopor e placas de madeira, a poeta torna tais materiais industrializados intrínsecos ao poema. O poemobjeto apresenta-se como uma conexão direta com o ambiente circundante; a poesia transforma-se em matéria aparentemente sem centralidade na atenção do leitor-participante, que passa a experienciá-lo como descoberta inesperada. Em suma, o presente artigo pretende examinar como a materialidade dos poemobjetos de Roberta Camila Salgado se situa dentro da esfera de produção poética brasileira.

O artigo discute as transformações ocorridas na poesia concreta paulistana a partir do contexto cultural dos anos 1960, quando a função social da literatura, em um país de passado colonial e em desenvolvimento, ganha força no meio cultural brasileiro. Nosso objetivo-por meio da leitura das reflexões de artistas que participaram do movimento, bem como de estudos críticos acerca do assunto-é explicitar as transformações do concretismo enfocando, sobretudo, os popcretos de Augusto de Campos. Essa obra não só demonstra um diálogo com seu tempo, mas também a antecipação de características do campo literário e artístico nacional em fins do século XX e início do XXI. PALAVRAS-CHAVE: Poesia concreta brasileira; concretismo; augusto de campos; popcretos. 1 INTRODUÇÃO A demanda por determinar exatamente o que constituiria uma literatura genuinamente brasileira existe desde os primórdios da institucionalização de um ambiente literário em solo nacional, sobretudo, a partir do século XIX. A década de 1960 avivou o debate sobre a função social da literatura brasileira, desta vez, acrescentando a ele uma demanda por aproximação das mazelas de classes populares e por buscar, assim, maior relevância política. Nosso objetivo principal neste artigo é examinar como os poetas concretos-em especial, Augusto de Campos-responderam a essas demandas em sua produção teórica e artística. A nossa hipótese é a de que o conjunto de obras denominado popcretos exemplifica bem a maneira peculiar com que o concretismo dialogou com esse cenário, que influenciou o movimento, irreversivelmente, ainda durante os anos 1960 e o modificou em relação ao seu momento mais ortodoxo. Os popcretos, assim, condensam uma série de traços que seriam determinantes em fins do século XX e início do XXI, como o abalo das utopias políticas e estéticas totalizantes e a convergência das mídias. Para tanto, utilizaremos majoritariamente as reflexões dos próprios poetas concretos (CAMPOS; CAMPOS; PIGNATARI, 2006; PIGNATARI, 2005; CAMPOS, 2014), bem como de outros expoentes do concretismo, como Ferreira Gullar (1965)-que, ao romper com o movimento, criou uma dissidência, o neoconcretismo-e o artista plástico Waldemar Cordeiro (2014). Além disso, serão importantes para compreendermos a inserção polêmica dos concretos na história literária nacional estudos como os de Paulo Franchetti (1993) e de Iumna Maria Simon (1995).

A história da literatura costuma dar pouco destaque às produções textuais que erigem sua voz na fronteira entre as artes e as letras. No entanto, desde fins do século XIX, a materialidade das palavras foi posta em relevo por Mallarmé e, posteriormente, por expoentes da vanguarda europeia, como Apollinaire, Zdanovitch e Marinetti. Essa ênfase no aspecto visual do texto foi recuperada, em solo nacional, pela poesia concreta. Ancorados na teorização de seus pressupostos, os poetas concretos foram alvo tanto de admiração quanto de rechaço por parte da crítica literária. Como estratégia de resistência a essa vocação polemista, seus próceres objetivaram suas ideias com a ajuda do conceito poundiano de paideuma, estabelecendo critérios para seu trabalho a partir da identificação de procedimentos criativos em um rol seleto de autores que os precederam. Devemos acatar essa linhagem autoestabelecida de uma poesia de invenção ou seria melhor inseri-los no legado de uma textualidade expandida, que caminhou em paralelo à história literária canônica e antecipou potencialidades intermidiáticas? Palavras-chave: poesia concreta brasileira; poesia visual; intermedialidade. ABSTRACT: The history of literature usually gives little prominence to the textual productions that erect their voice on the border between the arts and the Letters. However, 1 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-Brasil (CAPES)-Código de Financiamento 001. 2 Pós-Doutoranda no PPG-Design da Universidade Anhembi Morumbi e professora substituta no curso de Letras (Português