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WILLIAMS, Tennessee - O Grande Jogo

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O Grande Jogo Autor: Tennessee Wiliams Traduo: M. Teresa F. de Rezende Personagens Tony lson, uma estrela do futebol, 20 anos.

Dave, um necessitado, 20 anos. Walton, um paciente de meia idade, 49 anos. Joe, atendente Miss Abers, uma jovem enfermeira. Fussy (encrenqueira), apelido para Miss Stuart, a enfermeira chefe. Dr. North, um jovem mdico de equipe. Dr. Hynes, o mdico de Dave.

Cena: Um quarto de uma repartio de um hospital municipal onde est um homenzinho. Nela existem pelo menos 3 camas e somente duas esto ocupadas quando a pea comea. As camas podem estar posicionadas de qualquer forma, porm a cama de Dave deve dar de frente a uma janela. A mesa de cabeceira de Tony est repleta de presentes, cesta de frutas, caixas de bombons ou doces, livros, revistas e flores. o amanhecer de um sbado de outono. O ofuscante quarto branco est inundado com a luz do sol.

Tony (percebendo que Dave est acordado): Ol. Voc dormiu durante o caf da manh. Sabia?

Dave (indiferente): Tudo bem. Fico feliz que eles no me acordaram.

Tony: Voc teve outra noite ruim?

Dave: Pssima. Eu quase no consegui respirar. s 10hs30 eu toquei a companhia e pedi uma injeo. S fui conseguir meia noite.

Tony: Eu acho que eles no querem te dar muito daquela coisa.

Dave (tenso): Eu preciso disso. Eles sabem que eu preciso. Porque eles no me do quando eu peo?

Tony: Eles querem que voc fique o mximo de tempo que puder sem ela.

Dave: No. Eles sabem que eu estou aqui, por favor.

Tony: No, no isso Dave. Voc sabe que no isso. Eles so bem transparentes aqui.

Dave (depois de uma pausa): Eu no deixei voc dormir? Eu fiquei preocupado com isso. Eu tossi o tempo todo. Parecia que eu estava com o peito cheio de penas.

Tony: Nada tira meu sono. Sendo assim eles deveria te dar alguma coisa para parar esta tosse.

Dave: Ah, eu acho que eles me do tudo o que podem. Para que voc est vestido esta manh?

Tony: Hoje o dia, garoto.

Dave: Ah, voc est saindo, oh?

Tony: Estou mesmo, se o Doutor disser ok. O que voc acha dessa perna?

Dave: Est bem inchada, mas parece melhor.

Tony: Eu acho que eu tenho muita sorte de ter esta perna.

Dave: Sim.

Tony: Eu quase a perdi e preferia morrer a viver com uma perna de pau.

Dave: Aposto que no.

Tony: Voc no me conhece, garoto. Eu preciso estar me movimentando E rpido. Muito! Se eles no me deixarem sair desse lugar hoje... O que voc acha? Voc acha que eles deixaro?

Dave: Porque voc est to ansioso?

Tony: No seja estpido! Hoje sbado!

Dave: Ah, o jogo de futebol.

Tony: O maior da estao. Neste vai estar o Mizzou. Maldio! E se eu perder esse jogo? J chega no estar no time de frente! Veja! Eu s joguei em dois jogos nesta temporada! (Irnico) Que sorte, heim?

Dave: Sim. Foi sorte, no foi?

Tonny: De qualquer maneira eu ficarei sentado l no banco at de tarde. Pode apostar. No prximo jogo ns o teremos l, Dave. Voc estar sentado l no banco comigo.

Dave: Sim.

Tonny: Isso certo. Veja! Aqui vem Greta Garbo!

(Uma enfermeira alta e loira entra no quarto)

Miss Albers: (com falsa severidade): O que voc est fazendo fora da cama, Clark Gabai?

Tony: Eu pensei que ns faramos de novo aquela bela cena de amor, meu docinho.

Miss Albers: (colocando o termmetro na boca dele): Espere at eu ver quo quente voc est esta manh.

(Com uma careta intimidadora, Tony afunda para a extremidade da cama. A enfermeira se dirige para Dave).

Miss Albers: Eu te deixei dormir durante o caf da manh, seu vagabundo. Eu poderia ter sido despedida se a Encrenqueira soubesse disso.

Dave: Verdade. Obrigada, Greta. Eu precisava deste sono. Eles s me deram a injeo meia noite.

Miss Albers: Esta noite te daremos mais cedo. (Ela coloca o termmetro em sua boca, mede o pulso. Sua expresso sria depois ela olha para Tony e retira o seu termmetro.). Repulsivamente normal.

Tony: Quer dizer que eu posso sair daqui, certo.

Miss Albers: Como eu poderia perder voc, Sr. Gable!

Tony: (Agarrando-a) Isso como se faz uma linha reta no jogo.

Miss Albers: Pare com isso, voc louco!

Tony: Onde est sua autoridade! Onde est a sua autoridade!

Miss Albers: (Dando uma gargalhada): Pare, pare seu tolo! (Tony a solta) Minha sensualidade j tem provocado algumas acusaes. Eles dizem que ruim para os velhos que sofrem do corao.

Tony: (impensadamente) melhor no comear a cuidar do Dave quando eu sair.

Miss Albers: Dave no gosta de garotas? No , Dave?

(Ela retira o termmetro da boca de Dave)

Dave: No, especialmente as loiras.

Miss Albers: Viu? Eu no tenho nenhuma chance com o Dave. Ai, meu Deus, l vem a Fussy (encrenqueira)!

(Do quarto se ouve a voz da enfermeira chefe l fora. Ela entra. Uma mulher de meia idade usando culos e de traos firmes. A jovem enfermeira se torna sria e ocupada).

Fussy (firmemente): Bom dia.

(Ningum responde)

Fussy: Se eu fosse voc, Sr. lson, eu no ficaria de p com esta perna. Voc no imagina quo perto esteve de perd-la. E isso no tudo. No se deve brincar com este tipo de infeco. Se eu fosse seu mdico eu sugiro ria mais uma semana inteira na cama- mas logicamente- (funga.) Eu sou somente uma enfermeira aqui!(Ela se dirige para a jovem enfermeira.) Nosso colocaremos naquela cama. (Ela aponta uma das duas camas desocupadas.).

Miss Albers: Quem?

Fussy (agressivamente): Eu no te disse esta manh que ns colocaramos aqui aquele caso cerebral?

Miss Albers: Caso cerebral? No

Fussy: No? Bem, foi uma distrao minha. No se preocupe. Eu j providenciei tudo pessoalmente. (Ela se volta para a cama vazia.) aquele caso do Dr. Mosers. Eu nunca tinha ouvido falar de um caso cerebral no ir
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para um quarto particular, mas este insiste em ficar acompanhado Ele no quer ficar s temperamental! ento ns teremos de coloc-lo aqui, de qualquer forma Deus sabe o que faz-.

Miss Albers: Um caso cerebral, Miss Stuart?

Fussy: Cirrgico. Muito delicado. Somente Dr. Moser poderia pegar este caso. Tentar remover um tumor do lbulo frontal esquerdo...

(Ela fala dando as costas para a porta, o novo paciente, um homem de meia idade, entra, seguido pelo mdico da equipe, Dr. North. Eles entram to silenciosamente que Fussy no se a percebe da presena deles. Ela est ocupada arrumando inquietamente cama.).

Fussy (continuando em voz alta): Eu no apostaria um nquel pelo sucesso dessa operao!

(Dr. North pigarreia alto. Fussy se vira com um gesto assustado. Assustada coloca uma das mos no rosto - obvio que aquele homem de meia idade o paciente a quem ela se referia h pouco. A expresso em seu rosto mostra que ele entendeu a importncia de suas palavras. Forma-se um momento de tenso e forte silncio.).

Fussy: Oh, Eu estava estava arrumando esta cama!

Dr. North (friamente.): Sim, sim. (Ento amorosamente) Chegamos velho camarada. Este quarto agora ser chamado de o estdio. Ser aqui que agora jogaremos nosso futebol de salo todos os sbados tarde.

Tony (interrompendo): No esta tarde. Estou saindo!

Dr. North: Ah ? Bem, ns precisaremos pensar no assunto!

(Miss Albers, passa disfaradamente a traz da Fussy, pisca para Tony e sai sorrateiramente do quarto.).

Dr. North (para o novo paciente): Sr. Walton, aquele jovem Tony lson, ele o half-back do Washigton Bears!Tony este Sr. Walton, seu novo companheiro de quarto.

(Eles se cumprimentam. A face de Walton est tensa. Todos os seus movimentos so exagerados, rpidos, nervosos. Ele finge tranqilidade.).

Walton: Prazer em conhec-lo, Elson. Eu j o vi jogar. O que devo fazer? Ir para cama? (Ele ri convulsivamente) Me soa ridculo ir para cama quando me sinto to bem!

Dr. North: Voc pode se trocar atrs deste biombo. Miss Stuart, voc poderia pegar o histrico dele agora.

(Um biombo branco colocado frente da cama de Walton. Fussy se senta do outro lado do biombo com um lpis e bloco. Faz as perguntas habituais de como Walton ficou doente.).

Doutor (Northon): (examinando a perna de Tony): Ainda um pouco inchado em volta do joelho, heim?

Tony; Est tudo bem.

Dr. North (pressionando delicadamente): Ah ?

Tony: Owww!

Dr. North (sorrindo): Eu pensei que estava tudo bem. Bem, vamos ver o que Dr. Hynes tem para dizer.

Tony: Seja camarada doutor. Pea para ele me deixar sair. Eu preciso ver aquele jogao hoje tarde.

Fussy: (anotando a histria de Walton): Data de nascimento?

Walton (rouco, atrs do biombo): 3 de dezembro de 1887.

Fussy: Pais vivos?

Walton: No.

Fussy: Idade dos pais ao falecerem?

(Se instala um silncio. O jovem doutor se dirige para a cama de Dave. Dave tem seu rosto virado para fora do quarto, seus olhos esto fechados.).

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Dr. North: Porque voc est to deprimido esta manh?

Dave: Eu tive outra noite horrvel.

Dr. North (srio): uma pena ouvir isso, meu rapaz. (Ele tira o pulso de Dave.).

Walton: Minha me morreu com 52 anos. Meu pai tinha exatamente minha idade quando morreu.

Fussy: Qual foi a causa da morte de sua me?

Walton (rouco): Cncer.

Fussy: Em que rgo?

Dr. North (soltando o pulso de Dave e retirando o relgio): Qual foi o problema desta noite? Dave: Eles s me deram minha injeo depois da meia noite. Eu fiquei tossindo. Tossindo. Eu no tusso durante o dia. S noite. Eu no consigo respirar direito. Fico acordado. Eu gostaria de poder tom-las na hora que preciso delas.

Fussy (diretamente): Qual rgo, por favor?

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Walton (bravo): Doutor, ela tem que me questionar todas essa tolices? Eu estou com dor de cabea agora!

Dr. North: Isso j o suficiente, Srta. Stuart.

(Fussy se levanta rigidamente)

Dr. North (Para Dave) Nos precisamos dar as injees nos momentos em que achamos que elas sero mais eficazes.

Dave (histrico): Eu estou cansado disto, doutor. Noite aps noite, eu no durmo. Fico aqui deitado olhando para o teto com uma estranha sensao de haver penas dentro do meu peito.

Dr. North ( rabiscando em um bloco): Voc tem que ser paciente amigo. Isso demora um pouco, s isso. Ns vamos ter outra seo de fotos da sua decorao interior. (Ele toca campainha para a enfermeira)

Dave: Raio-x? Estas coisas no me ajudam. Eu quero algo que me ajude. Alguma coisa que me faa dormir noite.

Dr. North: Ns te daremos um sedativo esta noite, Dave.

Dave: Nem os sedativos me ajudam. Eles no me fazem parar de tossir noite. Eu preciso dormir. Eu no quero mais ficar deitado aqui noite olhando para este teto e e- esperando-

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Dr. North: Esperando oque?

Dave: Nada (Ele se vira de lado) Me desculpe por ter feito esta confuso. No foi minha inteno.

Dr. North: Est bem, garoto. Todos ns estamos torcendo por voc, voc sabe.

Tony (que est agora totalmente vestido): Garanto Dave. Voc estar de p a tempo de me ver jogar no jogo de Ao de Graas contra os Blues.

Dr. North (colocando seus instrumentos de lado): mais provvel Dave assistir a este jogo do que voc participar dele, half-back.

Tony: Eu participarei do jogo e Dave ficar no banco me assistindo. O que voc acha Dave?

(Pausa)

Dave: Eu nunca vi um jogo de futebol de verdade. Algumas crianas da minha vizinhana costumavam jogar aos sbados tarde no terreno da esquina. Parecia ser um jogao, mas sempre terminava em uma briga generalizada.

Tony: Voc nunca jogou garoto?

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Dave (devagar): No, eu nunca joguei nada mais violento do que tampinhas. Quem me confeccionou teve erros graves na linha de montagem. Apesar disso eu gostaria de dar uma lio no garoto!

Tony (rindo): Este o esprito de um lutador, garoto.

(Miss Albers entra.).

Dr. North: Pegue uma cadeira para o Dave. Ns vamos tirar novos raios-x, Miss Albers.

Miss Albers: Est bem, doutor.

Walton (da cama): Por favor, enfermeira, voc se importaria de por este biombo no lugar agora? Eu estou com um pouco de privacidade demais aqui.

(Ela coloca o biombo contra a parede e Walton est agora de pijama sentado na cama).

Walton: Quando o Dr. Moser vai chegar.

Dr. North: L por 01h30..

Walton: Ele vem direto me ver, no ? Eu quero acabar logo com isso.

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Dr. North: Voc est agendado para 02h00, Sr. Walton. Impaciente?

Walton: Sim, quanto mais rpido acabar melhor.

Dr. North: Assim que deve ser.

(Um estagirio entra com a cadeira de rodas. Dave colocado nela).

Dave: Voc j tem fotos suficientes do meu interior para abrir um museu. Elas devem ser extremamente bonitas. Deixe-me sozinho, por favor. Eu posso levantar. (Ele se levanta e caminha com dificuldade). Eles o ajudam a chegar cadeira. (Ele d um sorriso amarelo) Ah! exatamente como a rampa de acesso do Atlantic City! Esta a vida, amigos!

(Eles o encaminham para o corredor)

Walton: O que h de errado com esse garoto?

Dr. North (Balanando a cabea e fazendo umas anotaes finais.): Um caso congnito de corao. Totalmente estragado para um garoto dessa idade.

Walton: Ele tem pouca chance?

Dr. North; uma questo de tempo, tudo.

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Tony; Voc quer dizer que ele...?

Dr. North: Eu quero dizer que voc tem mais sorte do que voc pensa Tony, mesmo tendo que ficar fora de alguns jogos!

Tony (Pensativo): Eu acho que tenho mesmo- Deus- eu nunca pensei que fosse to srio!. Pobre do Dave! (Ele fica por um tempo sbrio. Depois se senta na beira da cama e amarra os sapatos.).

Walton: Eu me pergunto se ele sabe da gravidade do caso.

Dr. North: Ele determinado. Esta a primeira vez que eu o vejo cair e se descontrolar. Coisas como essas- bem o que se pode fazer. (Ele pem de lado seu bloco de notas) um caso muito srio, tudo! (Ento cordialmente) At logo, companheiros.

Tony e Walton: At logo.

(Pausa)

Tony: Se v cada coisa em um hospital que te faz pensar.

Walton: verdade- se faz!

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Tony: Eu nunca tinha pensado sobre essas coisas antes. Lgico que eu sabia que elas existiam. Pessoas tm doenas incurveis e morrem. Mas eu nunca as tinha visto acontecendo!

Walton: No, isso que difcil. V-las acontecendo. E nem ser capaz de impedi-las.

Tony: Voc se pergunta por que uma coisa dessa acontece para um garoto como o Dave. No se entende por qu!

Walton: No, No se entende porque uma srie de coisas tem que acontecer.

Tony; No, no faz sentido. No faz sentido, faz?

Walton: No, no faz. (Pausa.) Isto no faz sentido.

Tony: No se deve pensar muito sobre este assunto. Se pensar em sentimos to estranhos- meio que te apavora, no acha?

Tony: Porque voc est aqui?

Walton: Operao. Eles vo - (Ele d um tapinha na testa) tirar alguma coisa da minha cabea.

Tony: Ah, . Eu ouvi.

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Walton (em um tom tenso): Eu ouvi tambm. Eu ouvi o que ela disse quando eu entrei!

Tony: Ah- aquilo!

Walton: .

Tony: Eu no prestei ateno.

Walton: Que ela no daria um nquel pelas minhas chances. Oh! Talvez eu passe a perna nela.

Tony: Ah, ela tem falta de homem- ela no apostaria um nquel pelo sol de amanh!

Walton (depois de uma pausa): Estas cirurgias de crebro- elas so traioeiras.

Tony: Minha infeco era traioeira, tambm. - teve uma noite que eles pensaram que eu teria que amput-la!

Walton: Nossa!

Tony: , eu tive febre de 41C. Rapaz, eu estava delirando! Mas eu ainda estava consciente suficiente e pedir a eles para me deixarem morrer - antes

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de cortarem minha perna! (Ele d um riso forado) Eu acho que aquela la que tem falta de homem- ficou ali de p com uma machadinha de carnepronta para ao!- mas eu a enganei! (Ele se levanta) Eu estarei naquele banco esta tarde exatamente como eu falei que eu estaria!). Voc pode apostar nisso! O treinador vai usar algumas jogadas inesperadas que vai fazer o jogo desta tarde passar para a histria. Ns, juntos, estvamos pensando nelas na semana passada. Tem uma forma de terminar o jogo que perfeita. assim, veja- o atacante da direita d uma volta- no- ele bloqueia- isso- ele bloqueia e Joe Kramer- Maldito!(Ele estala os dedos) Eu fico com dor de estmago sempre que penso nisso!

Walton (aptico): O que?

Tony: Eu sentado no banco! Imagine isso! Eu esquentando o banco! (Ele sorri forosamente) Mas eu acho que eu tenho sorte. bom ter um par de pernas para andar!- (Senta-se de novo) Aquele final de jogada- ah, - o meio fundo pega a bola- passa para Joe Kramer- Joe joga de volta para Chris Lange- voc o conhece- ele est no meu lugar na linha de frenteChris finge um passe- ento Joe...

(Neste momento Dave trazido de volta na cadeira por Joe, o ajudante). Dave est plido com uma aparncia de doente. Ele se inclina pra trs exausto, mas sorri sem graa quando entra o quarto.

Tony (cordialmente). Ol!

Dave: Eu pensei que voc j estivesse no jogo!

Tony: Por Deus, eu preciso ir!

Joe: Algum quer v-lo no corredor, Tony.


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Tony: Dr. Hynes? Doutor - Doutor!

(Ele manca desesperadamente at corredor e escuta os comentrios irnicos e as risadas indulgentes do mdico.)

Joe (Ajudando Dave na cama): Vai com calma.

Dave: Ah, vai pro inferno! D-me um baseado, Joe.

Joe (relutante): No fume at Hynes ir embora.

Dave: Obrigada.

Joe: Voc tem que parar com isso.

Dave: Pro inferno!

Joe (srio): Voc tem que se cuidar mais, garoto.

Dave: Pra que?

Walton: Ele est certo, garoto. Voc no deveria fazer nada que impedisse o seu progresso.

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Dave (duramente): Meu progresso! Nada vai interferir nele! Fsforo, Joe. Eu vou guard-lo para depois do almoo.

(Tony pega violentamente o novo par de muletas, sua face est brilhando. Atrs dele est Dr. Hynes.)

Tony: Eu estou indo, indo, INDO!

Dr. Hynes: Calma, halfback. Pegou tudo?

Tony: Lgico!

(Ele veste o resto de suas roupas, Dr. Hynes assiste.)

Dr. Hynes: O seu pai estacionou o carro na entrada de trs. Ela est fechada. Voc tem que evitar o maior nmero de degraus possvel, voc sabe. - no ande sem essas muletas pelo menos por uma semana!

Tony (impaciente): Est bem, est bem! Vamos! E vou perder o incio do jogo! O maior ataque acima do campo j visto! Que horas so, Doutor? Jesus, j tarde? Oh- (Ele se volta e vai em direo cama de Dave e estende sua mo cordialmente). At logo, amigo!

Dave; At logo, Tony.

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Tony: (sem graa): Olha. Todas essas coisas - as balas, as revistas, tudo podem ficar com voc- so suas!

Dave: Ah, no. Elas foram dadas para voc, Tony. Fique com elas.

Tony (sorrindo sem graa): Fique quieto! Eu no quero essas besteiras! Aqui-(Ele coloca a grande cesta de frutas do lado de Dave) Voc as come. Eu no gosto destas coisas. Honestamente!

Dave: Eu s quero um cacho de uvas, tudo! Obrigado, Tony.

Dr. Hynes (Do lado de fora): Vamos, half-back!

Tony (Indo para porta): Estou indo! (Para Dave) Voc vai ouvir o jogo, no vai?

Dave: Pode apostar. Eu estarei ouvindo!

Tony: Tchau. (Sai)

Dave (Como que falando para si mesmo): Sim, tchau...

Walton: Eu j o vi jogar.

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Dave: ?

Walton: O melhor half-back que os Bears j tiveram h anos.

Dave: .

Walton: Estou vendo que vocs se tornaram bons amigos, certo?

Dave: Si. (Pausa) Dois meses juntos aqui. Ns ficamos muito amigos.

Walton: Voc vai sentir sua falta, no vai?

Dave: Sim. Com certeza. (Ele pega uma revista, olha a de relance sem interesse e a deixa cair) Ele tornou as coisas vivas aqui. Ele sempre tinha alguma coisa para dizer. Voc entende. A gente se sente menos isolado tendo uma pessoa como ele para conversar.

Walton: Claro. Eu sei o que voc quer dizer. Voc e eu teremos que organizar uma pequena festinha por ns mesmos. (Ambos tentam rir- sem muito sucesso. Walton olha nervosamente para o relgio em seu pulso) Eu tenho mais ou menos meia hora!

Dave: Antes de eles te operarem?

Walton: . Eles disseram que era melhor acabar com isso logo.

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Dave: Eu gostaria de ter alguma coisa para eles operarem. Alguma coisa que eles pudessem tirar fora ou consertar ou algo- ao invs de s- como...

Walton (Depois de uma pausa.): Cirurgia de crebro um negcio muito delicado. (Ele acende um cigarro. Ele treme entre seus dedos) Voc ouviu o que aquela enfermeira velha falou sobre meu caso- ela no daria um nquel pelas minhas chances!

Dave (rapidamente): Ah, eu no dou nenhuma ateno ao que ela diz.

Walton: (excitado): Ela no daria um nquel pelas minhas chances, hem? Eu vou mostrar pra ela. Eu j estive em situaes difceis antes, sim. Fiquei na linha de frente durante cinco meses. J fui arremessado por uma exploso de um morteiro. Eu no sou um medroso. (Ele ri se sacudindo) No daria um nquel pelas minhas chances! (sua expresso de coragem desaparece e fica com ar sombrio) Mesmo assim, no reclamarei dela. A cirurgia de crebro um negcio delicado. ( Sua voz se emociona e treme um pouco). tocar e ir. Isso. Tocar e ir. ( Ele ri novamente). Eu estava muito assustado ontem noite. Deitado na cama s tentando dormir. No consegui dormir nada. S pensando. Talvez este seja seu ltimo dia,velho! A idia me parece engraada. Eu no poderia me acostumar com isso. diferente quando voc est nas trincheiras. Os estilhaos sua volta- as coisas explodindo- um grande colapso- bang-boom! isso entra no seu sangue, entra em tal loucura que quase se esquece de sentir medo!- mas noite- sozinho- tentando dormir- e aqueles pensamentos voltando na sua cabea o tempo todo- talvez esta noite seja noite, velho!- mais nenhuma outra depois desta - garoto! Isso de certa maneira te pega! Quando se tem sido voc mesmo por 49 anos- entende? - de certa maneira se acostuma a ser voc mesmo- e quando se imagina no sendo mais voc mesmo no sendo na verdade, nada- morto- isso de certa maneira- (Ele apressadamente acende um cigarro.) Sabe o que eu fiz noite passada? Eu fui at a janela e levantei a persiana!

Dave (interessado): Para que voc fez isso?

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Walton: Lgico. Isto ajuda. Quando voc est assustado, a melhor coisa a fazer olhar pra cima e observar as estrelas. Isto foi outra coisa que aprendi na Frana. Eu me lembro quando eu, saindo do bote uma noite depois de um bombardeio estava muito assustado- andava como se estivesse bbado- quase no conseguia segurar minha arma de repente eu pude vislumbrar no cu- entre as nuvens de fumaa- ri muito alto havia tantas delas l estavam as estrelas e l, somente eu .Pegou a idia?

Dave: Sim, mas o que isto te faz de bom?

Walton: Eu no sei- faz voc se sentir pequeno, pouco importante. Elas so to fortes esto to longe- voc olha para elas e pensa, bem, pra que eu sirvo afinal? Tem milhares de pessoas como eu nascendo todos os dias! Entende? Voc olha para aquelas estrelas e se apercebe que elas esto l a milhares de anos antes de voc vir esta terra e elas estaro l milhares de anos depois que voc se for! Elas, de certa maneira, representam a eternidade ou alguma coisa assim! E quando voc pensa em algo como a eternidade- quando voc pensa em coisas como essas... ( Ele faz um vago gesto com ambas as mos.)

Dave (Devagar): Sim sim...

Walton (Sorrindo sem graa): Voc entende?

Dave (no muito seguro): Sim, eu entendo o que voc quer dizer...

(As luzes diminuem indicando a passagem do tempo mais ou menos 06h00). Quando o quarto se ilumina j tardezinha. A cama de Walton est vazia e pronta como estava antes de sua chegada. Dave se senta com apoio. Ele tenta ler, mas seus olhos no conseguem se desviar da cama de Walton e da de Tony. Ele est obviamente se sentindo s.

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Joe, o ajudante, vem carregando uma bandeja de comida. (Suas maneiras so firmes)

Joe: Hora de se abastecer, garoto.

Dave: Eu no estou com fome esta noite.

Joe: Voc precisa comer. So ordens. (Ele arruma a mesa de cabeceira e apia Dave um pouco mais alto) Espinafre, garoto. Disto o que voc precisa. Muito espinafre. Eu pedi para eles te mandarem uma poro dobrada.

Dave: Amigo! O que isso?

Joe: Carneiro cozido!

Dave: Eu no quero. Fala. Quando que eles vo trazer o novo cara de volta.

Joe (evasivamente): Quem?

Dave: Voc sabe! Walton! Aquele que ia fazer aquela operao.

Joe (evitando olhar para Dave): Oh. (Pausa) No se preocupe mais com ele. Coma sua comida.

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Dave (Olhando Joe tenso): Ele saiu 01h30minh. Ele j deveria ter acabado.

Joe (Pegando uma revista): Sim, ele j acabou.

Dave (ansioso): Bem, porque no o trouxeram de volta?

Joe (depois de outra longa pausa): Aquele rapaz ele no vai voltar.

Dave; Voc quer dizer que ele-

Joe: Sim. V, coma sua comida.

Dave (depois de longa pausa); Isto muito engraado! Ele disse que voltaria. Ele estava certo disto da forma que ele falou.

Joe: Estas operaes de crebros qualquer toque e vo com ele coisas.

Dave: Ele sabia disso - mas achou que conseguiria.

Joe: Bem, acho que agora pensar nisso no o machuca mais. Coma sua comida, garoto.

Dave: No estou com fome. D-me um baseado, Joe

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Joe: No.

Dave: Por favor!

Joe: contra as ordens.

Dave: Por favor!

Joe: Voc no pode fumar. Eles so perigosos para voc.

Dave: Seu grande cabea dura! D-me um baseado, anda!

Joe: Cara, voc realmente o mais chegado neste barato. Toma! (Ele lhe d o mao todo) Fique com o mao inteiro! Por mim voc pode fumar at morrer!

Dave: (pegando-o fortemente): Obrigado!

Joe (com sorriso amarelo): Voc precisa parar com essa maconha.

Dave: Por qu?

Joe: Voc sabe que elas te prejudicam.

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Dave: (sorrindo ironicamente): Nunca mais haver alguma coisa boa para mim, Joe.

Joe: Cala a boca. (Ele acende um fsforo para o Dave)

Dave: O que voc faz com as pessoas que morrem?

(Joe no gosta da pergunta. Se vira e pega uma revista)

Joe: Uh-Huh.

Dave: E ento voc tira os intestinos dele, heim?(Ele da uma gargalhada) O que voc faz com as entranhas, Joe? D para aquele seu cachorro?

Joe (violentamente): Cala essa boca!

Dave: Voc muito cabeudo! Eu estava brincando, Joe. Diz! Como foi aquele jogo do Tony?

Joe (levantando-se): Os Bears ganharam de 36x0

Dave: 36x0! Tipo, s um ganhou? Como na maior parte das vezesalgum ganha- algum perde- s um lado fica com todos os pontos! Bem, eu acho que Tony deve ter ficado bem feliz!

Joe: Sim, pode apostar. Ele estava doido para v-los ganhar esse jogao!
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Dave: Acho que ele deve estar celebrando at agora- em uma grande festa no Greek.

Joe: No Greek?

Dave: Sim, neste lugar que eles costumam celebrar. Vo tomar cerveja. Eles pegam uma pequena rea atrs, s para eles, e ficam bebendo muito. Assim disse o Tony. Eles ficam bbados e fazem a maior baguna. Fazem todos os tipos de loucuras. O Tony me disse que h uma garonete, alta e ruiva que tem uma queda por ele. Ela senta no colo dele algumas vezes (Ele ri alto). Tony o tipo de cara que as mulheres se atraem, eu acho.

Joe: , esses heris do futebol.

Dave: No s por isso. Ele cheio de vida, Joe.

Joe: , mesmo. Voc no vai comer mais?

Dave: No, tira a bandeja do meu colo e diga para a cozinheira que eu estou cansado desta gororoba nojenta.

(Ele d um sorrisinho quando Joe retira a bandeja. Em uma voz baixa e se movendo rapidamente)

Dave: Joe, eu acho que eu tomarei a injeo noite minha respirao est meio ruim.

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Joe: No a quer agora?

Dave: No. Vamos dar um tempo. Somente para eu poder dormir.

Joe: Eu te mando dar l pelas 10h00 Ok?

Dave: Ok.

(Joe diz)

Dave: Espere Joe. Voc poderia suspender a persiana um pouco.

(Joe suspende a persiana que est perto dele)

Dave: No, a outra.

(Dave aponta para uma mais longe)

Joe (fingindo estar chateado): Eu juro que voc est ficando mais chato que a Miss Fussy da ala lesta.

Dave: .

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(Joe abre a persiana mais um palmo)

Dave: Mais alto.

Joe: Mais alto?

Dave: , mais alto!

Joe (com um cuidado especial): E agora?

Dave: Ainda mais, Joe!

Joe: Oh! J entendi! Voc quer espiar a loira l de cima j entendi!(Ele sobe a persiana mais um pouco) Esta bom agora?

Dave (impaciente): No, mais alto. Mais alto! Suba tudo que der- (Pausa)Eu quero observar as estrelas!

Joe (atnito): As estrelas? S para isso?

Dave: . (Pausa) E voc pode esquecer a injeo de hoje noite Eu no mais precisarei dela.

Joe; Voc tem certeza?

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Dave: Absoluta. No vou precisar. Tchau, Joe.

Joe (saindo lentamente): Bem, tchau.

(Joe fecha a porta e sai). Depois de um tempo Dave apaga a luz do abajur. O quarto fica escuro. Ouve-se a respirao dele bem forte. Um fsforo aceso no escuro, iluminando o rosto tenso e cansado de Dave. H uma espcie de excitao em seu olhar. Ele acende outro cigarro. O brilho do fsforo desaparece. Dave se inclina para frente. Suas mos esto crispadas. Seu rosto voltado para cima. Ele quase no consegue respirar. Ele se inclina o mais longe que pode em direo a janela, tragando o cigarro e olhando para as estrelas.

Curti na

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