Ele Precisa Comecar Felipe Rocha
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de Felipe Rocha
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Não?
Ok.
Ela.
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E ele deixa.
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[Tentamos.]
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Sangue.
Muito sangue.
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carro
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mar
Nessa hora, podia cair do teto um pano grande e suave que cobrisse a
gente, lentamente.
xx
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Agora
Ele
Tá
Lá
Fodido.
Fodido.
Saco.
x x
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- No cú.
- Perdão?
- Sou eu.
- Eu quem?
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- Eu, aqui, na tua frente, ô palhaço! De óculos, camiseta sem manga e tênis
vermelho.
- Cala a boca, palhaço. Essa história é um lixo, não tem sequência, não tem
acontecimentos, não tem assunto, fala do quê, essa merda? Não tem história, não tem
diálogo.
- É isso mesmo!
- Ele tem razão.
- É isso aí, cansamos.
- Cansamos!!
- É! Um lixo!
Esse momento é assustador porque todos vocês se
insurgem contra mim e contra ele, e os rostos de vocês
vão se remexendo e se transformando em figuras
assustadoras... Darth Vader; Chucky, o brinquedo
assassino; o réveillon de 89 que ele passou sozinho com a
vó Carminha em Araruama; a Cuca; João Figueiredo; minha
tia Zeza; Gerald Thomas; Sargento Garcia; a crítica de
teatro Bárbara Heliodora; George, o menino maior da
quinta série; a noite em que ele acordou procurando a
chupeta e viu que não tinha ninguém em casa; as contas do
mês; a responsabilidade... Todos vocês vindo na minha
direção como os zumbis do videoclipe Thriller, do Michael
Jackson. Eu não sei o que fazer, eu não sei para onde ir,
não sei como continuar, eu quero parar!
Ele também.
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Fátima, que louca! Como é que você se joga assim, no nada? Só pra
ficar do meu lado? E essa roupa? É um látex? Parece pintada no corpo,
revelando cada dobrinha... menina, ficou linda, você tinha que ver! Você ia
adorar. Tá uma coisa! Um amanteigado de Petrópolis! Uma porcelaninha chinesa
do século XIV antes de Cristo. Você aponta pro meu bolso, eu pergunto o
quêêêê?!? Os nossos corpos caindo no vazio, você aponta pro meu bolso, eu
vejo aquela garrafinha térmica que você me deu no princípio da história,
lembra? Eu abro a garrafinha e...
Ah!
Eu te agarro com força, você fica louca com o meu apertão másculo, a
minha barba por fazer, os meus cabelos nas orelhas. Eu uso todo meu poder
mental, me concentro nessa cadeira [a cadeira que juntos a gente fez levitar],
ela começa a tremer, tremer, e sai voando na nossa direção, como mais um
cometa entre os meteóricos escombros voadores do edifício. Eu seguro a
cadeira com uma das mãos, com a outra seguro em você. Nós quase lambemos
o chão da rua e saímos sobrevoando os céus da noite carioca até pousar no
cocuruto de Jesus Cristo, no alto do morro do Corcovado.
Eu sinto o peso do teu corpo sobre o meu, teus ossos, tua carne, tuas
articulações sobre as minhas. O teu hálito doce e quente quase lambendo meu
rosto. Uma sensação de cumplicidade que eu não imaginava existir no mundo.
Penso em finalmente aproximar os meus lábios dos teus, mas eu sou
interrompido (Merda!) por um barulho metálico... O que é
isso?
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[Eu cochicho no ouvido de Fátima. Peço que ela vá até a minha mesa
(aonde está um laptop, um abajur, uma pequena mesa de luz e um gravador k7)
apague as luzes, feche a tampa do laptop, e saia pela porta por onde entrou.]
Sobre o texto
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