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Carícias - de Sergi Belbel - Adaptação de Diogo Liberano PDF

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Carcias de Sergi Belbel

Adaptao de Diogo Liberano


Traduo de Christiane Jatahy

Sala de estar
B

A gente ainda tem muito pra dizer um pro outro e voc sabe disso. Eu
sei que tem coisas que voc pensa e se cala, porque no quer falar sobre
elas, ou no quer falar pra mim, sim, falar pra mim, por algum problema
seu que eu ignoro ou que at mesmo voc ignora. E isso me ofende,
sabe? Me angustia, me di nos ver assim, enchendo com palavras vs
todos estes momentos de silncio e depois ainda tem os insultos, seus
insultos, porque uma ofensa o que voc acabou de me dizer. Me
ofende quando voc diz que no temos nada mais a dizer um pro outro.

Desculpa.

Por que voc me interrompe? Sempre me interrompe quando comeo a


construir um discurso minimamente coerente que ultrapasse os
monosslabos que tanto caracterizam as nossas conversas! Voc parece
a minha me e se eu sa da casa dela no foi pra viver com algum igual
ou pior que ela! No tem desculpa! Eu tava falando e vou continuar!

A esbofeteia B violentamente.
A

Quando uma pessoa pede desculpas, a gente desculpa. Entendeu? Eu


acabei de pedir desculpas s para fazer um breve aparte em seu
estupendo discurso e eu vou faz-lo, t me ouvindo? Eu vou faz-lo!

A volta a esbofetear B, selvagemente.


A

Eu no disse que eu j no tenho mais nada pra te dizer. Eu disse que j


no temos mais que nos dizer coisa alguma.

Silncio.
B

O que voc quer jantar?

Uma salada com e uma boa sobremesa.

Temos alface, tomate, cenoura, milho, azeitonas, aipo, cebola.

No, nada de cebolas. Cebolas me do azia.

melhor mesmo porque voc fica com um hlito insuportvel.

Sobrou pudim?

Comprei de manh. E tambm tem iogurte.

Prefiro pudim.

Eu iogurte.

Eu pudim.

Tudo bem, come seu pudim que eu como meu iogurte, sem problemas.
1

Sem problemas. Ajudo a preparar a salada?

Claro. Vamos pra cozinha?

A se ergue e B murra seu estmago, depois golpeia seu sexo. A cai ao cho.
B

No tem azeite.

Ah...

Voc vai ter que pedir um pouco vizinha. Levante! Pega um copo e
pede vizinha que encha com azeite de oliva. Tem que ser de oliva!

Voc um monstro.

B d um chute na cara de A.
B

Vai pedir o azeite pra vizinha ou no vai pedir o azeite pra vizinha?!

Outro chute, ainda mais forte.


B

Quer uma salada tropical ou no quer uma salada tropical?!

Silncio.
B

No t entendendo o que voc t dizendo.

Ah...

Quer dizer alguma coisa para mim?

Sim...

T vendo? T vendo como voc ainda tem algo pra me dizer?

Parque
A

Sim. Sim.

Se voc se sente sozinha em casa, se a velhice te d medo e voc no


sabe como acabar com ela, vai viver num asilo...

A culpa no foi minha.

Voc conheceria pessoas, ia se divertir. So hotis bacanas, pra velhos,


mas limpos, pode entrar e sair, no so to rgidos, tem at excurses...

Sinto muito ter demorado tanto em te contar.

O asilo ideal. o lugar ideal pra voc. Vai para um asilo.

Eu no sou sua me e pensei que o parque era o lugar ideal para te dizer
isso.

mesmo o lugar ideal. Um parque tranquilo. To solitrio, mame.

Eu vou adorar o asilo.

Beijo.

Me liga.

Sala de TV
B

Eu gostava de danar tango porque odeio os homens, eu os odeio.


Quando danvamos, o pobre idiota nunca percebia. E era feliz o infeliz,
pensando que estava me dominando. Sempre dizia que o tango o
domnio do macho e eu sabia que no era. Pobre homem, o deixei
plantado no meio da pista de dana. No me lembro da sua cara.
Lembro apenas das mos peludas como verrugas negras e do horror
vivo entre suas pernas. Coitadinho. O nico homem na minha vida, por
sorte, o nico. Nunca mais voltei a danar com nenhum outro, nunca
mais e olha que gostava de tango. Que coisa estranha, eu gostava.

A olha para B, pega a sua mo e se aproxima. Beijam-se na boca, por um tempo. De


repente, toca uma msica cafona e antiga. Danam.
A

No sabia que voc estava aqui.

No tenha medo.

Como o tempo passa.

Voc acabar se acostumando a esse lugar.

horrvel.

Insuportvel.

horrvel.

Tirem isso! Parem!

A msica para.
B

Freiras velhas idiotas!

horrvel.

Msica de asilo pra velhos brochas! Essas freiras de merda gostam de


msica assim, ficam excitadas! Vou me queixar de novo!
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Isso, vamos nos queixar juntas! Unidas venceremos.

Teremos que ser fortes, intransigentes e tomar medidas drsticas.

Greve de fome.

Isso! At que ponham uma msica que a gente goste!

Pausa.
B

Talvez nos deixem morrer.

Talvez sim.

Para mim j falta to pouco tempo...

No diga isso!

verdade.

Ainda bem que nos encontramos de novo.

O que voc t dizendo?

Eu achava que tinha perdido voc.

O que voc t dizendo?

Voc me ensinou tanta coisa!

O qu? O qu?

Da vida. E em to pouco tempo.

Desculpa.

O qu?

Eu no me lembro de voc.

Rua
B

Dez anos sem te ver.

T com fome.

No vai me dizer nada?

Puta vestida de velha.

E se essa for a ltima vez que a gente se v? Voc est louco. Eu estou
doente. E mesmo assim a gente sempre se entendeu. Antes, quando
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apagavam a luz do nosso quarto, ns cochichvamos e morramos de


rir. Sempre nos entendemos.
A mostra a mo a B e aponta um anel.
A

Eu tinha uma mulher.

Vem pro asilo.

Ela morreu.

J faz tanto tempo.

Mas me deixou antes de morrer.

No verdade.

A gente vivia junto.

No fale tanto.

Mas minha mulher tinha uma namorada.

Estou morrendo.

Minha irm.

Me perdoa.

Minha mulher tinha uma namorada: minha irm.

Quinze para as nove. O asilo fecha s nove. Voc no quer vir comigo?

Puta vestida de velha. Voc t morrendo.

Banheiro
B

Me conta!

No vou contar. Seno no vai ser uma surpresa.

A mame tambm no sabe?

Voc vai gostar mais do que a mame.

Puta que pariu! Um carro novo!

Me entregam amanh de manh.

Quando chegar vamos dar um role, t bom?

Claro que sim.


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E que carro ?

Eu pedi vermelho.

Vou acordar a mame pra contar agora mesmo.

No, melhor chamar ela amanh l na rua e ela encontre ns dois j


no carro. Voc vai ver a cara dela.

Vai ser engraado.

Mas ento hora de dormir. Voc tem que sair dessa banheira.

S mais um pouco. Agora que t ficando bom.

No faz bem ficar tanto tempo dentro dgua.

No comea a encher o saco!

Quem t te enchendo o saco?

Voc j t comeando a brigar comigo.

Quando foi que eu briguei com voc?

Que eu tenho que sair. Que eu vou pegar uma pneumonia.

Tem vezes que eu no te entendo.

Tem certeza que no quer tomar banho?

Tenho.

Nem comigo?

Cabem os dois?

Claro! J esqueceu?

A se despe e entra na banheira.


B

E tem alarme o carro novo?

Ar condicionado, teto solar eletrnico, trancas com controle remoto,


retrovisores regulveis eletronicamente, abertura da mala e da tampa...

Maneiro.

Ai. T pelando.

P. Muito maior, n?

Qu?

Caralho! No t vendo? Que o teu muito maior que o meu?


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Que nada.

E tem um monto de pentelhos.

verdade que t boa.

A mame?

A gua.

Papai.

Que foi?

Toca.

Por qu?

Acho que agora eu te ganho.

Em que voc me ganha?

Olha como que t grande.

Ficou duro.

Silncio.
B

A mame t roncando.

Estao Central
A

Tudo bem, eu reconheo que todas as bocetas tm cheiro, na verdade,


fedem, evidente, soltam uma pestilncia doce, com um pouco de
fedor, s um pouco, no que seja desagradvel. Mas acontece que a
sua, bom, agora que a gente terminou, eu posso falar sem papas na
lngua. A sua solta um fedor realmente insuportvel. No o tpico
cheiro de bacalhau ou de peixe podre das bocetas sujas na poca da
menstruao. O da sua boceta mais azedo, mas cido que doce, como
uma mistura de amonaco e carne podre... Na verdade, eu no sei se o
problema sujeira ou se uma espcie de doena interna ou infeco
das glndulas. A primeira vez que voc tirou a calcinha, eu no
acreditei, de verdade. Desculpa por s estar te dizendo isso agora, mas
so coisas que a gente s pode falar quando a relao acaba, quando a
gente se sente livre como eu me sinto agora. Na primeira vez eu quase
vomitei. Fedia muito. Eu me lembro, puta que pariu. Olhei assim de
lado, disfarando, tentando respirar e pensando que ia sair um vapor
espesso e quente, uma fumaa verde a qualquer momento. A merda
que a gente se acostuma a tudo. s vezes nem lavando o pau com
sabo trs vezes seguidas saa o cheiro. E eu era obrigado a carregar o
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cheiro da sua boceta comigo durante o resto do dia. Assim no tinha


jeito de esquecer voc. Agora eu t pensando, no sei como ela no
percebeu antes. Ela no deve ter olfato to fino como o meu, s pode
ser isso. De qualquer maneira, nos dias que eu fazia com voc eu no
tirava a cueca na frente dela. Eu ia correndo pro banheiro, ensaboava o
pau mais uma vez e enfiava a cueca direto na mquina de lavar. Que
estranho, quando eu era jovem as minhas cuecas s tinham o cheiro dos
meus testculos e eu adorava cheir-las. Por que no diz nada?
B

Eu sonhei tudo isso faz uns dois dias.

T ficando tarde pra mim.

No sonho era diferente, mas nem tanto. A gente falava de acabar a


nossa relao, eu via voc chegar e ouvia voc dizendo que a sua mulher
sabia da gente. Curiosamente, tambm estvamos numa estao. Mas
era voc quem ia pegar o trem. Lembro que voc me insultava, mais ou
menos como acabou de fazer. Mas o que eu lembro melhor era o que eu
dizia pra voc, gritando. No meio do barulho, cheio de gente em volta,
viajantes, vendedores, guardas, maquinistas e lixeiros vestidos com
macaces laranja, eu gritava furiosa, mas lcida. E acusava voc diante
de todos. Aos gritos. Voc o culpado. De absolutamente tudo. Todas
as suas desgraas, a histeria da sua mulher, o seu princpio de
impotncia, o desequilbrio do seu filho. Voc o nico culpado. E
todos me ovacionavam. Ento, voc se levantava e ia embora. Pegava o
trem sozinho. E ele descarrilhava. E vamos como o trem descarrilhava
com voc dentro, s voc. E todos gritavam de alegria. Eu gritava de
alegria. Comemorava. Todos comemoravam. Quando acordei, quis
acreditar que era um pesadelo. Mas agora sei que foi uma simples
premonio. Voc no diz nada? Por que no diz nada?

O seu hlito tambm fede.

A boceta. O hlito. Voc tem a desgraa flor da pele.

Se na ltima vez eu tivesse me lavado...

T arrependido de no ter lavado o pau?

Acho que no.

Ento por que voc t chorando? Voc no tem motivo pra isso.
Ningum percebeu nem ouviu nada. Ningum se interessa, nem se
importa com a sua desgraa. Nem mesmo os lixeiros dessa estao.
Fica tranquilo. Essa boceta fedida e esse mau hlito se despedem de
voc sem gritos nem ataques nem ningum que nos escute.

Adeus.

Cozinha
B

Ontem eu encontrei uma amiga que me disse uma mentira.

Esta alface t cheia de vermes.

Joga fora.

Que amiga?

Uma amiga do colgio. Fazia anos que eu no a via.

Quando voc toca neles, eles se dobram e viram bolinhas. E quando


voc joga um montinho de sal, eles explodem.

Me disse que voc o homem maduro mais interessante que ela j viu.

E que mentira ela te disse?

Que voc o homem maduro mais interessante que ela j viu.

E que mentira ela te disse?

Voc nem perguntou como foi a minha viagem.

Como foi a sua viagem?

Bem, muito bem. Estou felicssima por ter viajado e ficado um pouco
longe dessa cidade de merda.

Amo linguados!

Faz um ms que no venho e voc decide fazer o peixe mais insosso que
existe, acompanhado de uma salada triste e cheia de vermes. Eu
telefono a mil quilmetros de distncia e digo: chegarei amanh e irei
jantar com vocs, porque depois viajo de novo e voc prepara de
propsito os pratos mais inadequados. Filha chata, visita rpida,
reunio familiar forada e menu sem graa: salada e linguado!

Voc no falou da guarnio: batatas pequenininhas e redondinhas.

E a mame? No deveria ter chegado? Ou vai fechar a loja mais tarde s


porque eu estou aqui?

Seria horrvel.

Seria normal.

Cozinhar com sua me, seria horrvel. Ela detesta a cozinha, no sabe,
estraga tudo. Assim como voc.

E por que voc gosta tanto de cozinhar?

um dom, voc sabe.


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uma merda.

Uma herana, eu diria.

Uma herana perdida. Eu nunca a recebi. Nunca quis aprender.

No fundo no se pode aprender.

Portanto no falhei, como voc pensa.

So to pequenininhas, essas batatas.

No falhei.

To difcil descasc-las.

A sua herana acaba em voc.

Acho que sua me est chegando.

Acaba em voc.

No t ouvindo seus passos na escada?

E no restar nada de voc.

No t ouvindo a chave na fechadura?

Voc est sozinho. E no por minha culpa.

De sbito, A atira os utenslios da cozinha ao cho. Grande barulho. Seguido de silncio.


A

Por que voc no faz a comida?

Por que voc se ama tanto, papai?

Quarto
B

um quadro?

Me d um usque.

Voc acabou com a ltima garrafa.

Por que voc t nervoso?

Hoje, na casa da minha me, minha irm tambm estava l.

Eu a vi anteontem. Passando pela rua.

A gente tinha que morar mais longe. Que merda de bairro. Todo mundo
acaba se encontrando. J no existe mais intimidade.
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Sabe quantos anos eu tenho?

No.

Me d gua.

Abro o presente?

Ainda no.

Se serve voc mesmo.

Me serve voc.

Fica vontade.

J estou.

O que a gente tava falando?

Que eu tenho cinquenta anos.

Vou fechar a janela.

Quer chupar?

Quero.

J estou com a cala aberta.

Se a gente no fecha, eles veem tudo.

Seus lbios.

Vizinhos de merda.

Vem. Rpido.

Voc no queria gua?

Tira a minha roupa.

Voc vai me deixar louco.

Pe a mo.

Me deixa louco.

Voc gosta de mim.

Gosto muito.

A tira, violentamente, a roupa de B.


A

Agora sim. Pega o pacote.

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O Pacote?

Depressa.

O que voc quer que eu faa?

Pe aqui. No p da cama. Acima. Aqui. Isso. Endireita. No. Mais perto.


Apoia em uma ou duas cadeiras. isso. Sim. Assim. Perfeito.

E agora? O que eu fao?

O seu no t duro.

um espelho.

Vem, se aproxima. Pega nele. Assim. Sua boca. Faz gostoso. Devagar.
Sem pressa. Quero ver tudo. At o final. Sua pele. Eu t vivo. Calma. Eu
gosto tanto. Voc faz to bem. No. No olhe. Voc no olha. No olha.

Tambm quero me ver, quero ver. Quero olhar.

Depois. Continua. Sem olhar. At o final. Isso. Depois eu fao em voc.


E voc vai se olhar. Vai nos olhar. Assim. Isso. S ns. Os quatro.
Sozinhos. Vocs trs so os nicos que me amam.

Sala de jantar
B

Vou mijar.

B sai. A se levanta e mexe nos bolsos da jaqueta de B que est pendurada na cadeira.
Enquanto fala, uma nota da carteira de B, que j tinha retornado sem que A percebesse.
A

Era uma amiga da minha irm, que vive nesses lugares pra pessoas
velhas. Mexendo em uns papis ela encontrou meu telefone e me ligou
pedindo que eu fosse visitar ela e suas amigas. Que horror! Imagina! Eu
me fiz de idiota e falei coisas sem importncia, do meu estado de sade
e da gentileza dela. Desliguei o telefone em dois tempos.

E o caf?

Ai! Que susto! Voc e essa sua mania. Voc um sdico!

Acho que eu vou embora.

Voc no pode viver dando sustos desta maneira, assustando as


mulheres como voc assusta, porque se voc assusta a mim, com
certeza assusta tambm as outras mulheres.

Que mulheres?

Aqueles que voc deve esconder no buraco onde voc vive.


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Por que voc no vai me visitar um dia desses?

Voc nunca me convidou. Eu devo ser um estorvo pra voc.

Vou tomar o caf na rua.

J te disse que voc pode trazer uma amiguinha, se voc quiser. Eu no


me incomodo. Pelo contrrio, ns mulheres nos entendemos. E seria
menos chato. Por que voc to chato? Por que voc to cansativo?

Voc deveria parar de tomar esses remdios.

Vou fazer o caf para voc.

No quero mais.

Existe algum que entenda voc nesse mundo?

Voc ficou louca?

Voc tinha que ir ao mdico. Agora tem uns timos.

No sei por que a gente gasta tanto tempo dessa maneira. Voc me liga
quase todos os dias e me pede que eu venha te ver. Eu venho te ver,
mas no sei por que fico tanto tempo aqui, deve ser masoquismo. Sabe
o que significa isso, n? Se voc sabe o que sdico, tambm sabe o
que significa masoquista. No se assuste, me. Mas a partir de agora,
eu no quero mais isso de ser roubado pela minha prpria me. Porra,
eu digo pra voc que me faa um caf e voc no faz e o tempo se
alonga e tudo se revela intil entre a gente, machucando ainda mais o
que j est doendo. Por isso, dessa vez no mude de assunto nem se
faa de surda, porque eu quero ir embora daqui e ter certeza que ainda
posso voltar, porque eu sou seu filho. Quanto voc quer?

Cem.

B tira o dinheiro da carteira.


B

Dez. Vinte. Trinta. Quarenta.Sessenta. Setenta. Oitenta e noventa.

Pe o dinheiro no decote de A, violentamente.


A

O caf voc toma na tua, no verdade?

Foi um jantar maravilhoso.

Tchau, filho.

Tchau.

Amanh eu te telefono.

Se eu estiver dando o cu, no vou atender.


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Corredor
Toca a campainha. A abre a porta.
A

Desculpa a baguna.

Boa noite.

Desculpa a baguna.

Tudo bem. Eu s preciso de um favor.

Claro. Quer sentar?

No, no. Eu s preciso encher esse copinho com azeite de oliva.

O que aconteceu com o seu rosto?

No nada.

Voc caiu na escada, no verdade?

. Pois . A escada.

A vai at um mvel e pega algodo e gua oxigenada. Com muita delicadeza, passa um
algodo molhado na gua oxigenada no rosto de B, que olha A e se deixa curar.
A

No tenha medo. No precisa se preocupar. Eu cuido de voc.

B relaxa e sorri. A acaricia suavemente o cabelo de B, que pega a mo de A em sinal de


agradecimento. O ar se torna clido e sensual. Dois seres estranhos parecem se
encontrar.

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