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  • PhD. in Communication Sciences, Unisinos. Media, Ethnic-Racial relations, and Decoloniality Researcher at the Pontifi... moreedit
A presente pesquisa investiga producoes, processos e experiencias historicas, comunicacionais e midiaticas, com enfase no contemporâneo, com caracteristicas antirracistas que tenham potencia descolonizadora. Adota-se, desta forma, a... more
A presente pesquisa investiga producoes, processos e experiencias historicas, comunicacionais e midiaticas, com enfase no contemporâneo, com caracteristicas antirracistas que tenham potencia descolonizadora. Adota-se, desta forma, a proposicao fanoniana que consiste na producao de critica a modernidade racialista que leve em consideracao de memoria e experiencias dos povos discriminados (FANON, 2005). Alem de textos escritos, interessam produtos de oralidade, corporeidade, visualidade, materialidade, sonoridades entre outros dispositivos, dialogando com a proposicao de Gomes (in SANTOS; MENESES, 2010). A fim de enfrentar a epistemologia racialista dos instrumentos de producao de conhecimento da modernidade ocidental nos muitos textos possiveis de observacao, ou reanalise, propoe-se o uso da nocao de duplo na constituicao de um modelo heuristico, ao qual se tem denominado nesta pesquisa como leitura insolente. Essa nocao baseia-se nos rastros de africanismos mantidos na cultura afro-atlântica. Metodologicamente tem-se adotado uma abordagem abdutiva (GINZBURG, 1997) com perspectiva transmetodologica (EFENDY-MALDONADO, 2008, p.40). Os objetos empiricos tensionados ate o momento a partir dessa perspectiva sao a festa Negra Noite; os eventos Encrespa Geral, Cacheia Sul e o Sopapo Poetico; e ainda o livro autobiografico Ilhota, testemunho de uma vida , escrito por Zeli Barbosa na decada de 70 e publicado em 1993. A pesquisa esta em andamento e como resultados parciais tem a formulacao epistemica do duplo e das categorias de insolencia, politica de presenca, banzo e lamento ainda em processo de consolidacao conceitual, alem da construcao de um modelo teorico que contempla a construcao de um tempo-espaco complexo a partir do consumo de midia sonora, atraves da performance. Algumas das categorias apontadas foram experimentadas em apresentacoes orais e estao distribuidas em tres artigos a serem publicados, ja contando com um retorno de aceite.
As culturas negras adquiriram na diaspora carateristicas desterritorializadas. O rompimento com o lugar levou a uma demanda por ressiginificacao local e a permanente presentificacao das tradicoes frente a experiencia de ser sem pertencer.... more
As culturas negras adquiriram na diaspora carateristicas desterritorializadas. O rompimento com o lugar levou a uma demanda por ressiginificacao local e a permanente presentificacao das tradicoes frente a experiencia de ser sem pertencer. Com isso, o navio se tornou um importante veiculo para a circulacao desses rastros culturais, sendo substituido inicialmente pelo LP (GILROY, 2001). Propoe-se neste estudo que o desenvolvimento das tecnologias digitais produziu um lugar igualmente em fluxo para essas culturas viajantes, sobrepondo a desterritorializacao do afro ao contexto de midiatizacao da sociedade, considerado o “processo interacional de referencia” (BRAGA, 2010) na contemporaneidade. Essa condicao tem possibilitado o acesso mediado aos rastros de africanismos e estilos que servem de material para fomentar presentificar e potencializar ao que Gilroy (2001) denomina “contraculturas raciais insubordinadas”. Na pesquisa, tem-se testado um modelo heuristico de identificacao e leitura desses rastros, guardados na tradicao negra com suas caracteristicas de presentificacao e movimento, denominado de leitura insolente (CAMPOS, 2017). A leitura insolente e operacionalizada a partir da nocao de duplo que tem sido utilizada criativamente na manutencao das culturas negras, resistindo ao processo de assimilacao cultural. A partir da nocao de duplo, busca-se apreender, atraves da abducao (GINZBURG, 1997), o elemento tradicional que emerge da obra, visibilizando aquilo a que Gilroy (2007) denomina de mesmo mutante [1] . Esse estudo em especifico discute o uso das redes sociais por grupos de mulheres articuladas em torno do empoderamento politico atraves cabelo crespo, que tem produzido o que se denomina, igualmente no conjunto desta pesquisa, de politica de presenca . Esse estudo insere-se numa pesquisa mais ampla que investiga producoes, processos e experiencias comunicacionais e midiaticas, com enfase no contemporâneo, com caracteristicas antirracistas. Esses confrontam as estrategias de branqueamento, de invisibilidade e de aprofundamento do epistemicidio promovido pela cultua Ocidental. Trata-se de uma proposta de pesquisa com potencia decolonizadora [2] por atentar ao que de negritude existe nos produtos, lidos hegemonicamente a partir da branquidade, considerando a proposicao fanoniana (2005) de producao de critica a modernidade racialista, levando em consideracao memorias e experiencias dos povos discriminados. [1] “o mesmo e retido sem precisar ser reificado. Ele e permanentemente reprocessado. Ele e mantido e modificado naquilo que se torna decididamente uma tradicao nao tradicional, pois nao se trata de uma tradicao como uma repeticao fechada ou simples. Sempre promiscua, a diaspora e a politica de comemoracao definida por ela nos desafiam a apreender formas mutaveis que podem redefinir a ideia de cultura atraves de uma reconciliacao com o movimento com a variacao complexa e dinâmica” (GILROY, 2007, p.159). [2] A decolonizacao “implica a criacao de uma nova ordem material e simbolica que leva em consideracao o espectro completo da historia humana, incluindo a suas conquistas e fracassos” (MALDONADO-TORRES, 2010, p.409)
O presente artigo propoe uma releitura da autobiografia Ilhota, testemunho de uma vida, escrito por Zeli Barbosa em 1972 e publicado 21 anos depois pela colecao Outras Vozes da prefeitura de Porto Alegre. O objetivo e apontar a potencia... more
O presente artigo propoe uma releitura da autobiografia Ilhota, testemunho de uma vida, escrito por Zeli Barbosa em 1972 e publicado 21 anos depois pela colecao Outras Vozes da prefeitura de Porto Alegre. O objetivo e apontar a potencia de denuncia, deste e de outros textos possiveis, com a desconstituicao de suas perspectivas racialistas. Propoe-se para isso, no conjunto dessa pesquisa, o uso da nocao de duplo na constituicao de um modelo heuristico, denominado no conjunto dessa pesquisa de leitura insolente. Busca-se entao a aproximacao de elementos da tradicao negra, considerando suas caracteristicas simbolicas e em movimento. As caracteristicas de oralidade empregadas na escrita e a tristeza que motiva sua producao remetem para os lamentos dos escravizados, guardadas em cantos graves e repetitivos. Por outro lado, essa tristeza contida e principalmente descrita pela autora aponta para o banzo, referido na bibliografia sobre o escravismo como constante e mortal entre os escravizados. Essas referencias tradicionais sao utilizadas como categorias para a analise do relato de Zeli, a fim de desvelar suas denuncias em potencia.
Este artigo tem o objetivo de analisar como esta ocorrendo o processo de migracao de radios jornalisticas da amplitude modulada para a frequencia modulada, em Porto Alegre. Sendo assim, sao descritas as caracteristicas de programacao e a... more
Este artigo tem o objetivo de analisar como esta ocorrendo o processo de migracao de radios jornalisticas da amplitude modulada para a frequencia modulada, em Porto Alegre. Sendo assim, sao descritas as caracteristicas de programacao e a linguagem utilizada pelas emissoras, buscando compreender as adequacoes que o FM e a convergencia tecnologica tornaram necessarias. Trata-se de um estudo de comunicacao do veiculo radio (MENEGUEL; OLIVEIRA, 2013), utilizando os conceitos de radiojornalismo (MOREIRA, 1991) e de programacao (FERRARETO, 2000). A pesquisa foi realizada atraves de entrevistas com profissionais das emissoras que passaram a veicular suas programacoes AM em FM, de uma observacao das grades de programacao e de uma escuta atenta a programas das radios. Constatou-se que as mudancas mais significativas, apos a migracao, estao na maior utilizacao do meio digital, no uso de uma maneira coloquial de falar e de uma linguagem radiofonica que possui mais qualidade e celeridade. Concl...
Este artigo investiga como as 22 graduacoes de Jornalismo do Rio Grande do Sul trabalham as relacoes etnico-raciais em seus curriculos. Discute-se a legislacao relacionada a area, observando as grades curriculares e informacoes prestadas... more
Este artigo investiga como as 22 graduacoes de Jornalismo do Rio Grande do Sul trabalham as relacoes etnico-raciais em seus curriculos. Discute-se a legislacao relacionada a area, observando as grades curriculares e informacoes prestadas pelas coordenacoes de curso e o MEC (Ministerio da Educacao). Utilizou-se os conceitos curriculo de identidade social (SILVA, 1995) e preposicoes de ecologia dos saberes e reforma da universidade (SANTOS, 2014). A pesquisa concluiu que os cursos abordam a tematica etnico-racial quase sempre em disciplinas transversais, com a questao tratada geralmente em disciplinas eletivas.
O presente artigo busca analisar como a branquitude se inscreve nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores, pensando em particular na formação de professores de História. É evidenciado o processo histórico deste... more
O presente artigo busca analisar como a branquitude se inscreve nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores, pensando em particular na formação de professores de História. É evidenciado o processo histórico deste campo e como o mesmo esteve pautado em uma concepção eurocêntrica do currículo. Ao mesmo tempo, na contemporaneidade se perpetua, apesar de alguns avanços, a ideia de uma história euroreferenciada. Nesse sentido, a partir de uma análise cultural, as DCN`s para a formação de professores são analisadas, dentro de seus respectivos contextos, entendendo suas particularidades - por exemplo, a atenção dada à temática étnico-racial - e similaridades - o modo como perpassa nos documentos a noção multiculturalista de diversidade, que contempla diferentes grupos raciais, mas não questiona as estruturas sociais. Conclui-se que as atuais diretrizes não contribuem para a problematização da branquitude enquanto estrutura de poder e da História enquanto instrument...
O presente artigo trata de uma revisão bibliográfica de teses sobre branquitude no ensino produzidas no Brasil nesta década, buscando analisar as abordagens e os diálogos possíveis entre elas. A pesquisa mostra como tem sido pensada a... more
O presente artigo trata de uma revisão bibliográfica de teses sobre branquitude no ensino produzidas no Brasil nesta década, buscando analisar as abordagens e os diálogos possíveis entre elas. A pesquisa mostra como tem sido pensada a branquitude brasileira e quais as perspectivas para uma educação mais igualitária. Para o tensionamento teórico, foram utilizados os conceitos de branquitude (SCHUCMAN, 2012), racial literacy (TWINE, 2006) e colonialidade (QUIJANO, 2009). Foram analisadas cinco teses de doutorado, a partir de um estudo documental, utilizando como categorias objetivos, metodologia e aportes teóricos de cada autor. Os resultados mostram que o conceito de branquitude é proposto de maneira distinta entre os pesquisadores, sendo que alguns realizam uma diferenciação do conceito de branquidade. De modo geral, todos entendem que é possível os sujeitos brancos se tornarem críticos e conscientes de sua condição racial e apontam para a (re)educação como o meio mais eficaz para a...
Este estudo investiga a produção audiovisual para redes sociais do projeto Jornal Boca de Rua, desenvolvida por pessoas em situação ou vivência de rua, no período entre março e outubro de 2018, a partir das lógicas de produção de conteúdo... more
Este estudo investiga a produção audiovisual para redes sociais do projeto Jornal Boca de Rua, desenvolvida por pessoas em situação ou vivência de rua, no período entre março e outubro de 2018, a partir das lógicas de produção de conteúdo do grupo integrante do projeto. Objetiva-se analisar as formas como esta produção atravessa a construção de identidade e de pertencimento dos integrantes do grupo. Utiliza-se da transmetodologia, que desenvolveu-se a partir de três elementos: o observado; vídeos desenvolvidos entre março e outubro de 2018; o que dizem os pessoas do grupo. Por fim, observou-se a construção e repetição de vínculos e alianças e a utilização de discursos identitários de forma tática com o objetivo de disputar espaços simbólicos, sensibilizar o público e autorepresentar-se.
Resumo: O artigo discute como o filme Corra!, de Jordan Peele, apresenta experiências sensíveis do horror e do racismo nas sociedades contemporâneas. O conceito de horror é entendido a partir de Eugene Thacker (2011 e 2015), para quem a... more
Resumo: O artigo discute como o filme Corra!, de Jordan Peele, apresenta experiências sensíveis do horror e do racismo nas sociedades contemporâneas. O conceito de horror é entendido a partir de Eugene Thacker (2011 e 2015), para quem a fruição com o gênero se dá no ato de pensar sobre um mundo impensá-vel, não humano e desconhecido. Considerado o outro na sociedade Ocidental, a condição de ser negro, categoria criada durante o processo de escravização e colonização para a desumanização dos africanos (GILROY, 2007), atende a essa definição do gênero. O ser negro causa horror em quem ignora a condição humana, ao mesmo tempo que é afetado em sua humanidade pelo racismo. O texto promove o encontro de duas pesquisas que investigam as características das possíveis experiências estéticas do horror na contemporaneidade: pensando o fe-nômeno para além do medo (ACKER, 2018) com a que propõe uma crítica ao racismo estrutural a partir do midiático (CAMPOS, 2018).
Palavras-chave: horror; racismo; experiência estética.
O artigo propõe uma leitura insolente do videoclipe Que bloco é esse? Ilê Aiyê, lançado em 2012 num projeto da Petrobrás que reuniu músicos reconhecidos para dar mais visibilidade aos blocos afro tradicionais do carnaval baiano (TOURINHO,... more
O artigo propõe uma leitura insolente do videoclipe Que bloco é esse? Ilê Aiyê, lançado em 2012 num projeto da Petrobrás que reuniu músicos reconhecidos para dar mais visibilidade aos blocos afro tradicionais do carnaval baiano (TOURINHO, 2013). O escolhido para o videoclipe do Ilê Aiyê foi o rapper Criolo que conduz os espectadores do Centro Histórico de Salvador até a sede do bloco no Curusu. A partir da leitura insolente, observa-se que enquanto na leitura preferencial Criolo apresenta, em outra camada narrativa o rapper experiencia “o mundo negro que viemos mostrar pra você.”, produzindo uma metáfora da caminhada de tornar-se negro. O estudo insere-se numa pesquisa (CAMPOS, 2016) que propõe o uso da noção de duplo na constituição de um modelo heurístico para observação, ou reanálise de processos e produtos comunicacionais e midiáticos relacionados às culturas negras. A primeira versão do texto foi apresentado no 41º congresso da Intercom em 2018.
O presente artigo analisa a disputa por representação entre a cobertura dos jornais Correio do Povo e Zero Hora e as postagens no Facebook do coletivo negro Balanta sobre o acampamento na reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do... more
O presente artigo analisa a disputa por representação entre a cobertura dos jornais Correio do Povo e Zero Hora e as postagens no Facebook do coletivo negro Balanta sobre o acampamento na reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) contra alterações no processo de aferição étnico-racial de aprovados pelas cotas no vestibular. Insere-se, portanto, nos estudos de críticos da mídia, especificamente no debate sobre a abordagem pela imprensa dos movimentos sociais. Também aponta para o tensionamento do jornalismo, como lugar de saber, pelas mídias sociais. Utilizam-se como articuladores teóricos os conceitos mídia (SODRÉ, 2002), valor-notícia (WOLF, 2003) e acontecimento jornalístico (SODRÉ, 2004). Quanto ao método, é um estudo documental, através da análise de conteúdo (BARDIN, 2009). Os objetos empíricos utilizados foram matérias veiculadas nos dois jornais e as postagens de caráter informativo na página do Facebook do Balanta. O embate entre a Universidade e o coletivo estendeu-se por 10 dias, resultando em uma nova configuração no processo.
A memória adquiriu um papel central nas culturas negras da diáspora pelo fato de os escravizados africanos não terem podido transportar nenhum elemento material. A grande travessia representou um corte e um apagamento não só da relação... more
A memória adquiriu um papel central nas culturas negras da diáspora pelo fato de os escravizados africanos não terem podido transportar nenhum elemento material. A grande travessia representou um corte e um apagamento não só da relação com o lugar, mas com qualquer forma de suporte de memória. Ao mesmo tempo em que produziu uma cultura em movimento e uma tradição constantemente presentificada, tornou a oralidade a principal forma de transmissão dessa tradição e da manutenção dessa cultura. Partindo desse pressuposto, essa reflexão, inicialmente apresentada como uma fala, aborda o desafio de se produzir documentos a partir da História Oral numa cultura que tem a oralidade como principal forma de expressão e comunicação. Trata-se, portanto, de uma metodologia que ganha complexibilidade ao sobrepor uma práxis cultural. Com isso, algumas questões conduzem a reflexão: Quais particularidades do universo afro são necessárias conhecer para uma real compreensão do que é dito? Como escutar aquele cuja experiência é mediada pela oralidade? E aquele que fala sobre o que lhe foi falado? A metodologia pode auxiliar a compreender produções midiáticas afro? Aliado a isso, as possibilidades transdisciplinares observadas nas apresentações do evento e no GT sobre Oralidade e Negritude reforçaram a ideia de que a oralidade possibilita uma reflexão ainda mais complexa a partir de outros lugares que não somente o da disciplina-cujo próprio termo é restritivo. Por outro lado, estão presentes na reflexão questões que se apresentam pela condição de jornalista e de militante da causa negra do pesquisador que levantam questões epistêmica e metodológicas. O permanente tensionamento na pesquisa entre o posicionamento político e o rigor científico ganha dimensão pelo fato dos objetos empíricos serem os mesmos nos dois casos. Gomes (2010) entende que é inerente ao pesquisador negro que "constrói suas trajetórias de produção, reflexão e intervenção na interatividade entre o ethos político da discussão da temática racial e do ethos acadêmico-científico adquirido no mundo da ciência moderna".
O consumo coletivo de música é "um pilar central do Atlântico Negro" (COSTA, 2006, p.117). Essa importância da música, no entanto, só pode ser entendida dentro de um contexto em que a comunicação pela palavra tornou-se uma... more
O consumo coletivo de música é "um pilar central do Atlântico Negro" (COSTA, 2006, p.117). Essa importância da música, no entanto, só pode ser entendida dentro de um contexto em que a comunicação pela palavra tornou-se uma impossibilidade, restando o corpo como meio de manifestação e comunicação. A música, neste contexto, "no és una forma de expressar ideas; és una forma de vivirlas" (FRITH, 2003, p.187). As interações possíveis a partir da música são constituintes de pertencimento que pode ser apreendido nos textos construídos pelo corpo em relação com a música, configurando uma experiência. Essa vivência tem construído espaços de sociabilidade, produzindo ambiências e territorialidades simbólicas afro na diáspora. Esses aparecem e desaparecem condicionados pelas interações sociais possíveis. Organizados tradicionalmente em roda e reelaborados em outras ambiências, como a festa Negra Noite 3 , nos quais até pode surgir uma roda, dependendo do engajamento dos participantes, esses espaços produzem uma territorialidade e reconstitui o ethos afro que "incorpora e privilegia a musicalidade e tudo o que ela permite de extravasamento emocional e utilização do corpo de modo comunicativo e sensual" (AMARAL; SILVA, 2006, p. 190). Esse movimento na cultura popular negra, de tal forma hibridizada que impossibilita qualquer aspiração essencialista, favoreceu a criação de uma esfera pública alternativa, denominada por Gilroy (2001) como Atlântico Negro, na qual estilos, dramatizações e processos de autoconstrução são produzidos e circulam servindo de material para "contraculturas raciais insubordinadas", cujo processo de comunicação tem sido realizado através da música, dança e pela representação. Neste sentido, as festas que oferecem uma territorialidade para essa contracultura têm potencial de mobilização e construção de representação identitária. 1 O texto foi construído a partir da tese defendida em 2014 na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. 2 Doutor em Ciências da Comunicação. Jornalista. Coordenador do bacharelado em Jornalismo da Universidade Luterana do Brasil. 3 A festa Negra Noite acontece uma vez por mês em data e local incertos em Porto Alegre. A informação circula entre os frequentadores, lembrando a organização de uma irmandade. A festa reúne mais de mil pessoas a cada edição.
O presente artigo propõe uma releitura da autobiografia Ilhota, testemunho de uma vida, escrito por Zeli Barbosa em 1972 e publicado 21 anos depois pela coleção Outras Vozes da prefeitura de Porto Alegre. O objetivo é apontar a potência... more
O presente artigo propõe uma releitura da autobiografia Ilhota, testemunho de uma vida, escrito por Zeli Barbosa em 1972 e publicado 21 anos depois pela coleção Outras Vozes da prefeitura de Porto Alegre. O objetivo é apontar a potência de denúncia, deste e de outros textos possíveis, com a desconstituição de suas perspectivas racialistas. Propõe-se para isso, no conjunto dessa pesquisa, o uso da noção de duplo na constituição de um modelo heurístico, denominado no conjunto dessa pesquisa de leitura insolente. Busca-se então a aproximação de elementos da tradição negra, considerando suas características simbólicas e em movimento. As características de oralidade empregadas na escrita e a tristeza que motiva sua produção remetem para os lamentos dos escravizados, guardadas em cantos graves e repetitivos. Por outro lado, essa tristeza contida e principalmente descrita pela autora aponta para o banzo, referido na bibliografia sobre o escravismo como constante e mortal entre os escravizados. Essas referências tradicionais são utilizadas como categorias para a análise do relato de Zeli, a fim de desvelar suas denúncias em potência. Palavras-chave: Ilhota; leitura insolente; negro; racialismo; autobiografia. ABSTRACT: This article proposes a new reading of the autobiography Ilhota, testemunho de uma vida, written by Zeli Barbosa in 1972 and published 21 years later by the collection of Outras Vozes of the city of Porto Alegre. The objective is to point out the power of denunciation, from this and other possible texts, with the desestablishment of their racialist perspectives. In this research, we propose the use of the notion of double in the constitution of a heuristic model, named insolent reading in the set of this research. We search then for the approximation of elements of black tradition, considering its symbolic and moving features. The features of orality used in writing and the sadness that motivates its production refer to the laments of the enslaved, stored in serious and repetitive songs. This sadness contained and described by the author points to banzo, referred to in the bibliography about the slavery as constant and deadly among the enslaved. These traditional references are used as categories for the analysis of Zeli report to unveil their potential denunciations.
O presente texto constitui-se na proposição de eixo teórico de uma investigação de doutorado em andamento. A pesquisa enfoca a construção do pertencimento afrobrasileiro pela experiência em festas de Black music, problematizando o papel... more
O presente texto constitui-se na proposição de eixo teórico de uma investigação de doutorado em andamento. A pesquisa enfoca a construção do pertencimento afrobrasileiro pela experiência em festas de Black music, problematizando o papel da música gravada no processo. A partir da articulação dos conceitos de experiência e consumo, relacionando-os com elementos da cultura africana e tendo a roda, presente em diferentes manifestações culturais africanas e da diáspora, como elemento síntese, propõe-se um circuito teórico-metodológico que apreende as dinâmicas culturais e midiáticas envolvidas no processo.
Research Interests:
A música manteve os negros ligados simbolicamente à África, construindo novos espaços de sociabilidade de cunho sagrado e profano. Nesses espaços, organizados a partir do princípio da circularidade, a oralidade manteve-se como... more
A música manteve os negros ligados simbolicamente à África, construindo novos espaços de sociabilidade de cunho sagrado e profano. Nesses espaços, organizados a partir do princípio da circularidade, a oralidade manteve-se como transmissora da tradição afrobrasileira. Os cânticos sagrados de Nação, religião de matriz africana do Rio Grande do Sul, revelam elementos dessa tradição, guardados na memória coletiva. No entanto, o aprendizado pela experiência e oralidade sofreu um atravessamento, nos últimos anos, de gravações em mídias sonoras. Frente a afetação dos processos afro-religiosos pela midiatização, o artigo propõe investigar o consumo das gravações por adeptos de Nação, buscando analisar como a memória individual e coletiva é afetada pela midiatização. O marco teórico estabelecido é os Estudos Culturais latino-americano em diálogo com a Historia e a Estética. Trata-se de um estudo de campo, com abordagem etnográfica, tendo como entrevistados pessoas iniciadas em duas casas da Nação Cabinda em Porto Alegre. A pesquisa aponta que a gravação em mídia sonora tem sido usada no aprendizado dos cânticos por iniciados adultos que não freqüentam rituais fora de sua Casa. Desta maneira, a midiatização dos cânticos tensiona o suporte de transmissão de memória individual, afetando a memória coletiva, cujos sentidos são transmitidos pela experiência e oralidade.
Research Interests:
O artigo tem como objetivo apontar relações estabelecidas pelos jovens entre música e internet, buscando verificar como as informações sobre música são consumidas por jovens moradores da Grande Cruzeiro em Porto Alegre. Trata-se de um... more
O artigo tem como objetivo apontar relações estabelecidas pelos jovens entre música e internet, buscando verificar como as informações sobre música são consumidas por jovens moradores da Grande Cruzeiro em Porto Alegre. Trata-se de um estudo de campo, utilizando referenciais dos Estudos Culturais latino-americanos e ingleses e da Geografia social. As informações obtidas na internet são vestidas simbolicamente pelos jovens para construir ou fortalecer um estilo, que encontra na música seu elemento mais visível.
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Os estudos sobre identidade e pertencimento afrobrasileiro em Comunicação tem sido realizado principalmente a partir da perspectiva da representação. A tese sobre telenovela de Joel Zito Araújo criou um paradigma replicado em outros... more
Os estudos sobre identidade e pertencimento afrobrasileiro em Comunicação tem sido realizado principalmente a partir da perspectiva da representação. A tese sobre telenovela de Joel Zito Araújo criou um paradigma replicado em outros observáveis, como livros didáticos, filmes, telejornais, publicidade etc. Apesar das abordagens construírem-se, principalmente, a partir dos Estudos Culturais, não atendem ao princípio teórico-político de pesquisa que propõe responder O que está se passando? Um estudo sobre experiência, baseado na perspectiva das materialidades, e a ideia de apropriação, cara aos estudos sobre consumo cultural, articulados com saberes e conceitos afro e africanos, possibilitam novas perspectivas de estudos e um forte tensionamento – requerido por pesquisadores como Nilma Gomes (2010) e Paul Gilroy (2007) – da epistemologia euro-moderna hegemônica. Essa proposta surge num estudo de doutoramento que problematiza o papel da música gravada na construção de pertencimento afrobrasileiro, tendo a roda como síntese do processo.
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Este artigo discute o uso subversivo da imprensa como instância de legitimação de contradiscursos. Como principal espaço de visibilidade na sociedade contemporânea, a imprensa exerce o papel de sustentar e reforçar os discursos... more
Este artigo discute o uso subversivo da imprensa como instância de legitimação de contradiscursos. Como principal espaço de visibilidade na sociedade contemporânea, a imprensa exerce o papel de sustentar e reforçar os discursos hegemônicos. No entanto, a lógica mercantilista, em sua busca por novidades, abre espaços para outros discursos. Essa estratégia foi utilizada pelo Grupo Palmares de Porto Alegre para nacionalizar a proposta de 20 de Novembro, como Dia da Consciência Negra.
A música negra brasileira surge de sobrevivências africanas que estão na base da musicalidade compartilhada pelas populações negras fora da África. O mercado de consumo que então se organiza no Brasil vai observar as possibilidades... more
A música negra brasileira surge de sobrevivências africanas que estão na base da musicalidade compartilhada pelas populações negras fora da África. O mercado de consumo que então se organiza no Brasil vai observar as possibilidades massivas dessa música, o que desencadeia uma permanente tensão entre indústria e identidade. Enquanto o mercado captura e lança produtos originados nessa cultura afro, os negros buscam novos ritmos. O samba surge com música síntese da hibridização cultural, remetendo à tradição e à ressignificação local. Essa iniciativa também atendia demandas de reconhecimento dessa identidade. Frente ao cenário de internacionalização da cultura, novos gêneros e estilos atendem às demandas identitárias. O soul e sua derivação com um ritmo mais marcado, o funk, chegarão ao Brasil neste período, iniciando o movimento denominado Black. Esse encontro entre gêneros da diáspora e a recombinação com tradições locais irá produzir diferentes estilos e musicalidades. O mangue beat é considerado o exemplo melhor acabado desses encontros. Esse movimento constitui identidade, pois é a principal sobrevivência dos africanismos que construíram as culturas negras na diáspora. Trata-se, conforme Gilroy (2007), do mesmo mutante, o que se mantém mesmo em transformação de África nas culturas negras fora de África, motivo pelo qual a música é tão importante nas culturas negras.
Research Interests:
O movimento negro moderno, iniciado em meio à ditadura, redirecionou o processo de integração do negro na sociedade brasileira, buscada desde a abolição, mantendo a tradição de resistência. Rompendo com o projeto de assimilação... more
O movimento negro moderno, iniciado em meio à ditadura, redirecionou o processo de integração do negro na sociedade brasileira, buscada desde a abolição, mantendo a tradição de resistência. Rompendo com o projeto de assimilação [branqueamento social], propõe um viés negro para negociar sua inclusão, socialização e o acesso à cidadania através da construção de uma identidade étnica afro-referenciada e de uma agenda política construída a partir dos princípios de resistência e negritude e da busca por reparação. As políticas afirmativas são iniciativas de enfrentamento das desigualdades produzidas durante o período escravista e mantidas pela exclusiva valorização da branquitude que originou diferentes formas de discriminação e o racismo institucional.
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A busca pela cidadania plena tem pautado as reivindicações dos movimentos sociais negros nas últimas décadas no Brasil, principalmente no que se refere ao acesso aos direitos e serviços básicos. Apesar das garantias constitucionais, o... more
A busca pela cidadania plena tem pautado as reivindicações dos movimentos sociais negros nas últimas décadas no Brasil, principalmente no que se refere ao acesso aos direitos e serviços básicos. Apesar das garantias constitucionais, o processo de conquista da cidadania passa pela derrubada de estereótipos, herdados do imaginário escravista, racismos e, ainda, pela superação de uma organização social em torno da branquitude, o que significa subverter o senso comum.
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A tolerância é um dos suportes a partir dos quais as democracias modernas foram constituídas. As características representativas e de universalidade do modelo político estabelecido no Ocidente não se mostraram historicamente inclusivos à... more
A tolerância é um dos suportes a partir dos quais as democracias modernas foram constituídas. As características representativas e de universalidade do modelo político estabelecido no Ocidente não se mostraram historicamente inclusivos à diferença, privilegiando um discurso único de matriz europeia. O debate sobre tolerância desta maneira tem que levar em conta as relações de poder social (FORST, 2009). Por isso, o princípio de tolerância tem em si a questão de autoridade de um grupo, que tolera, sobre outro que vir a ser tolerado. São contra essas normatividades que os movimentos sociais têm militado.
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