Brasilia

RESUMO: Este livro sobre a metrópole brasiliense divide-se em onze capítulos. As escalas territoriais variam entre os capítulos, a depender dos dados disponíveis relativos aos aspectos tratados em cada momento. Há três escalas territoriais: 1) a Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal e do Entorno (RIDE-DF), legalmente constituída, abrangendo 23 municípios, inclusive Brasília; 2) a Área Metropolitana de Brasília (AMB), território mais restrito abrangendo doze municípios, inclusive Brasília, cujas fronteiras foram recentemente propostas pela Companhia de Planejamento e Desenvolvimento do Planalto Central – CODEPLAN, mas ainda sem definição legal; 3) o município polo da metrópole: Brasília. Por vezes, para explicitar melhor o argumento, subdivisões municipais são referidas, p.ex., as Regiões Administrativas em que se subdivide Brasília.
No Cap. 1, quatro linhas são discutidas. Na primeira, vemos o histórico da formação do Distrito Federal e a institucionalização da sua Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE-DF). Discutimos a constituição da RIDE-DF e a contrapomos à proposta da Área Metropolitana de Brasília (AMB), em função das reais relações entre os municípios envolvidos. A segunda linha trata da inserção do DF na hierarquia urbana das Regiões de Influência das Cidades: sua rede de influência direta, sua importância enquanto centro concentrador da Gestão Federal, suas relações externas. Na terceira linha discutimos os Níveis de Integração à dinâmica metropolitana, mostrando que a integração dos municípios mais periféricos da RIDE-DF é muito baixa, aumentando quando se trata da AMB. Na quarta linha, estudamos o Índice de Bem-Estar Urbano (IBEU), que revela, novamente, relações mais fortes entre os municípios da AMB que os da RIDE-DF.
O Cap. 2 pormenoriza padrões morfológicos e de uso do solo da RIDE, da AMB e de Brasília. Revela-se uma estrutura urbana fragmentada e dispersa, de baixas densidades, e de grandes problemas de acessibilidade entre moradia, trabalho e serviços. Tendências correntes apontam para o agravamento de problemas, dada a prioridade do desenvolvimento urbano em áreas distantes do coração metropolita14
Brasília: transformações na ordem urbana
no, ignorando-se a possibilidade de criação de novos bairros dentro do perímetro tombado de Brasília e do seu entorno imediato.
O Cap. 3 analisa a organização social da Área Metropolitana de Brasília e como se expressa espacialmente; estuda comparativamente dados dos Censos de 2000 e 2010 (IBGE). Usa o método das tipologias socioespaciais do Observatório das Metrópoles, mediante a variável ocupação, para mapear e compreender a disposição das pessoas no território. Emerge o modelo de um centro fortemente polarizador de emprego, serviços e infraestrutura, mas com baixa e pouco variada oferta de moradia, localizada em mais de 90% dos casos no anel de núcleos dormitórios que gravitam em torno do polo metropolitano, e a grande distância dele.
O Cap. 4 investiga a desigualdade de renda na RIDE-DF e seus determinantes, utilizando dados sobre níveis de crescimento real per capita, densidade demográfica e desenvolvimento humano, para os anos de 2000 e 2010. Conclui-se que 1) o crescimento econômico real per capita e o desenvolvimento humano contribuem na redução da desigualdade de renda na RIDE-DF, mas em pequena magnitude e 2) a desigualdade de renda é maior nas localidades onde há maior densidade demográfica.
O Cap. 5 trata das grandes transformações sociais, econômicas, tecnológicas e demográficas que marcaram a população brasileira ao longo do último século, e pormenoriza o caso de Brasília. O acelerado processo de urbanização implicou a passagem de uma sociedade predominantemente rural, com elevadas taxas de mortalidade e fecundidade, para uma sociedade na qual se reduziram os níveis de mortalidade e diminuiu o número de filhos por mulher, com consequente mudança na estrutura etária da população. O capítulo situa a “Transição Demográfica” (como é conhecido o processo) na Área Metropolitana de Brasília, comparativamente ao país, e identifica diferentes fases da transição no seu interior, associadas ao processo de produção do espaço metropolitano, caracterizado pela segregação socioespacial.
O Cap. 6 estuda os arranjos domiciliares segundo agrupamento dos espaços definidos pela tipologia socioespacial na AMB, pelos dados do Censo demográfico de 2010. Debate-se os impactos da estruturação social fragmentada do espaço urbano e a produção multidimensional de vulnerabilidades. Destaca-se ainda a estreita relação entre a formação dos arranjos domiciliares e o processo de transição demográfica, e conclui-se que as marcantes desigualdades no processo
Resumo geral 15
de produção do espaço metropolitano – em especial entre os espaços ocupados pelos arranjos domiciliares considerados “modernos” e “vulneráveis” – representam um desafio à garantia do direito à cidade.
O Cap. 7 trata da organização do território e provisões de moradia na AMB. Dados referem-se ao déficit habitacional e às propostas de oferta habitacional e de regularização de parcelamentos urbanos constantes do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal. Revela-se um superávit de unidades imobiliárias com a implantação dos projetos previstos, porém sem atendimento proporcional à demanda por faixa de renda. Corrobora-se os achados do Cap. 2, quanto aos problemas da prioridade na ocupação de novas áreas, em detrimento do adensamento dos vazios existentes entre os núcleos urbanos consolidados.
O Cap. 8 estuda como a distribuição sócio-ocupacional na AMB (Cap; 3) tem efeito de vizinhança e correlatas consequências sobre escolaridade e oportunidades educacionais. A escola não consegue contribuir democraticamente para influir nas diferenças implicadas na segregação espacial. A estrutura da AMB reforça a centralidade do DF, também como concentrador de melhores oportunidades educacionais, que diminuem com a distância ao centro metropolitano.
O Cap. 9 confronta a organização social do território com a mobilidade urbana na AMB. Investiga o espaço construído a partir da variável configuracional, a implicar a leitura da forma urbana como instância condicionadora dos deslocamentos na cidade. A interpretação ampara-se na Teoria da Lógica Social do Espaço ou Sintaxe do Espaço, articulada às perspectivas tradicionalmente inseridas na investigação da mobilidade. Analisa-se a interdependência de fatores a afetarem as condições de deslocamento na AMB, como a) a organização social do território, b) as feições de infraestrutura e caracterização de transportes, e c) a forma urbana.
O Cap. 10, partindo de estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS), analisa como a qualidade de vida relaciona-se ao domínio físico, mensurado pela qualidade do meio ambiente. A qualidade ambiental é condicionada pela presença (ou não) de cobertura vegetal, que influencia no conforto térmico, no comportamento da água da chuva, nas enchentes, e no potencial de erosão. Mostra-se como a disposição espacial é relevante no diagnóstico da qualidade ambiental e de vida. Espacializa-se a cobertura vegetal da AMB entre os anos de 1973 e 2013, com o auxílio de ferramentas de geoprocessamento,
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criando cenários futuros de comportamento de tal cobertura, caso os padrões encontrados permaneçam.
Finalmente, o Cap. 11 estuda como a governança da Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal (RIDE-DF), que envolve a Área Metropolitana de Brasília (AMB), deve ser decorrência de um projeto de desenvolvimento que mobilize agentes atuantes sobre a transformação do território. O capítulo realiza leitura das políticas públicas e dos agentes responsáveis por ações no território constantes dos Planos Plurianuais (PPAs), federal e estadual, do período 2007-2011. Constata-se o caráter governamental do arranjo de governança da RIDE-DF e seu desnivelamento entre entes federados, exclusão do empresariado e suas associações e representações da população. Conclui-se pela necessária corresponsabilidade, a articular políticas públicas de diferentes naturezas em curso, tendo como territórios de centralidade Brasília e Goiânia.

Aqui estão a Apresentação, o Prefácio (Ruth Verde Zein), o Sumário, e os enunciados dos mandamentos do meu livro recente 10 Mandamentos da Arquitetura, publicado por FRBH em novembro de 2013. Incluo as ilustrações que abrem cada capítulo (“mandamento”).
Os mandamentos focam questões controversas da arquitetura: seu próprio conceito; diversos modos de sua produção e respectivas implicações sociais; relações entre arquitetura e comportamentos; interesses sociais conflitantes e suas relações com a configuração de edifícios e cidades; distinção entre o fato produzido e a intenção por trás dele; arquitetura e concepção de lugar; dois tipos de implicações da arquitetura – as sintáticas (implícitas à configuração) e as semânticas (convencionais, circunstanciais e históricas); uso da história; teorias do conhecimento.
Lê-se nesta obra que a arquitetura é uma propriedade dos lugares que afeta corpos e mentes. Integra a vida das pessoas, sua identidade como seres sociais. É uma de nossas inúmeras faces.
Não é simples cenário, pois. Resulta das circunstâncias sociais e naturais onde é produzida. Uma vez realizada, mexe com nossa vida, tem efeitos práticos e expressivos nos nossos modos de agir, sentir e pensar, por vezes imprevistos.
O conceito de arquitetura amplia-se em vários sentidos: a arquitetura “de grife” e a popular, anônima; a arquitetura de prédios e a de ruas, bairros, cidades; a arquitetura dos artefatos e a da paisagem natural.
O livro é redigido numa espécie de conversa com o leitor, em linguagem acessível, sem utilizar jargão profissional ou científico, entretanto com a precisão e a profundidade desejáveis mesmo numa obra introdutória: ele visa primordialmente ao público leigo e aos calouros de arquitetura – a arte do espaço. Inscreve-se, portanto, entre obras de “divulgação científica”. Atenção primeira para com o público leigo, sim, mas de forma que arquitetos, professores e pesquisadores da área e de áreas afins não o sintam banal, mas provocativo – pelas ideias contidas e pela maneira de examiná-las. Como é da tradição, leituras complementares são sugeridas para aprofundar o assunto, ao final do livro.
A obra pertence à linha das coleções “primeiros passos”, “uma introdução a...”, “que sei sobre...”, “o que é...?”, mas contrasta com elas em tamanho: é maior que os exemplos tradicionais. Uma busca na rede mundial de computadores revelará obras similares sobre o assunto, de autores brasileiros e estrangeiros. Entretanto, a discussão sobre qualquer tema não se esgota, o conhecimento não para, o mundo se transforma, ideias são eternamente revisitáveis. Mormente em questões controversas.
O livro traz muitos exemplos de Brasília, cidade em que vive o autor, e objeto de suas pesquisas em mais de quatro décadas. Entretanto, a obra lida com uma evidência empírica mais ampla, no tempo e no espaço – explora-se a potencialidade das análises comparativas. Propõe-se uma tipologia que foca primordialmente as implicações sociais da arquitetura: relações arquitetura x sociedade não são lidas como deterministas, mas como relativas a um campo de possibilidades (que podem ou não ser exploradas) e um campo de restrições (que podem ou não ser superadas), concomitantemente. Dos estudos, emerge uma identidade de Brasília como, ao mesmo tempo, uma cidade de excepcionais qualidades e graves problemas urbanísticos.
(Para outras informações, aquisição deste livro ou de outros livros do autor etc., visite o site www.fredericodeholanda.com.br)

A city built in Brazilian midlands by a communist architect in a non-Marxist economy that aspired for social equality had disturbed minds in academia of architecture, sociology, urban planning and other areas for many years. Fascination with utopian plan of a new Brazilian capital had undergone several phases of radically shifting opinions, from the dark description as “the backside of the moon” to positive appraisal of being “more than modern”. And while a wide pool of literature exists analyzing various implications of Plano Piloto this paper will primarily focus on the spatial performance and social implications of superquadras. Superquadras became a new residential typology in Brasilia, a very particular way of spatial organization that was striving to craft new ‘above-modern’ experience of dwelling while forming urban fabric of unique quality. Moreover, as large residential neighborhoods were to account for all housing in the new capital, superquadras were supposed to play primary role in upbringing of new members of Brazilian society. Thus, superquadras become an intriguing point of reference, according to which first, new spatial effects of ideal modernist urban dwelling complex can be evaluated and second, social aspirations embedded in superquadras can be assessed within structural challenges faced by new Brazilian capital.

This article seeks to shed light on how Lúcio Costa’s proposal for Brasilia dealt with the political pressures existent during the years of its. The article seeks to study the duality between urbs and civitas in Lúcio Costa’s design for Brasília, considering its contemporary intense discussions concerning modern architecture, democracy and monumentality as background. Since his ‘conversion’ at the dawn of the thirties, the architect had always shown an eagerness to establish and consolidate the modern architecture in Brazil. Costa had hopes and belief in the possibilities of modern architecture in an intensively developing country as Brazil was during the XXth century. Although he had a generation that would support him, his positions weren’t always identical to those of his colleagues and commissioners. Brasilia is an excellent example of these contrasts. It is rather obvious that the federal capital was built under the motivation to celebrate Kubitschek and his allies’ efforts on consolidating the democratic structure in the country. Likewise, the international debate on architecture made by specialized publications and the CIAMs after the II World War were engaged in merging modern architecture postulations to a representation of democracy in a strict way. Costa’s design of a capital built upon the historical opposition between urbs and civitas, although celebrated, was received with a bit of strangeness in this context. Sometimes, the project was attacked as autocratic or, more often, as ambiguous on its connections with the democratic horizons that were initially expected from Brasilia. In the mismatch existing between Costa and his colleagues and commissioners, it will be studied the hypothesis that Costa deliberately casted himself away from the efforts of the post-war modernist trends to connect monumentality and democracy. Brasília was designed rendering different terms between state and architecture. The argumentation sets form the critics made to Costa’s proposal by his peers, along with an overview on how the architect read the American discussions on monumentality, unfolding in an analysis of aspects of his concept for Brazil’s new capital, and how they glimpse a peculiar elaboration of representative architecture supported by categories of History of Art and Classical Politics. It will be investigated the aspects of these different expectations on how would be the modern capital of a promising country, focusing on the participation of Costa’s own architectural and political views during these years. Such approach was touched by the work of some intellectuals, but its utmost questions remains interesting for research. It will be correlated writings and projects of Costa and they will be contraposed to publications and documents made in a temporal span from the thirties until the mid-sixties. A long critical bibliography was gathered and studied with which the article tries to establish a dialogue in this still of pertinent matter.

É quase unânime caracterizar Brasília como “uma cidade moderna”. Descrição pobre. Lucio Costa supera o receituário, estava “desarmado de preconceitos e tabus urbanísticos”. Além dos traços modernos, o arquiteto ousa incorporar influências milenares – terraplenos monumentais, perspectivas barrocas, cidade jardim.
Honrosas exceções à parte, os discursos sobre Brasília são míticos. Os elogiosos ignoram os problemas da Capital, os críticos inventam problemas inexistentes.
Brasília – cidade moderna, cidade eterna procura superar o maniqueísmo do “ame-a ou deixe-a”. Revela ser a Capital uma das mais peculiares cidades do planeta, nos âmbitos metropolitano e do Plano Piloto de Lucio Costa. Mostra seus grandes problemas e suas fascinantes qualidades. As qualidades são estruturais. Essas vencerão o tempo. Os problemas são circunstanciais. Quixotesco lutar por solucioná-los? Talvez. Mas vale tentar. Sempre.

This paper aims to discuss public spaces in the Pilot Plan of Brasilia – the area as originally planned – its conception and a few cases of appropriation and lifestyle that have been transpiring nowadays. The current capital of Brazil arose from a political and historical urge to occupy the heartland of the country. Its design, of a strongly representative character, although not considered an ipsis litteris materialization of the Athens Charter, carried with it an attempt to implement a set of ideas brought forth by the Modern Movement. Breaking with the traditional model of other Brazilian cities by drastically reducing the role of the private segment in the city’s design, as well as in its reading and urban flow, Lucio Costa created a certain potential for appropriation and interaction with the public spaces of the city.
Over time, the profuse and large voids in the city – which have endured incisive criticism for years – have proven to be a venue for mobilization and appropriation. Being so common in Brasilia’s landscape, public spaces, unlike what is seen in other so-called traditional Brazilian cities, make up the urban fabric that reveals the sui generis relationship between public and private within the city. Those characteristics are easily expressed when, for instance, one notices that the buildings in the Pilot Plan were originally conceived – and thus in their majority built – as projections, elevated on pilotis, keeping the land public and enabling wide circulation and permeability for pedestrians. The design represents a new way of organizing the city, always guided by the presence of public spaces.
In order to explore those topics, this work presents a brief overview of the ideas brought forward by the Modern Movement that inspired Lucio Costa’s planning of the Pilot Plan of Brasilia, and also discusses the subject of centrality and profusion regarding public spaces in its configuration, seeing that, as opposed to what is observed in so-called traditional cities, public spaces underlie and constitute Brasilia’s urban fabric. Furthermore, this article seeks to exemplify some of the appropriations that have been taking place in such spaces at present, with particular emphasis on the city’s residential and monumental axes. The importance of voids within the urban fabric, enabling free appropriation and signification on behalf of the population, will also be exemplified, along with the discourse that – also at the planning stage – was vigorously incorporated into the accounts of those who reside in the city.

Este artigo se propõe a destacar aspectos-chave em torno do processo de preservação da obra do arquiteto João Filgueiras Lima (1932-2014), também conhecido como Lelé, no Brasil. No momento em que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) decide iniciar a salvaguarda de seus prédios em Brasília, me parece pertinente levantar questões que remontam às origens de seu envolvimento com a pré-fabricação. Nesse sentido, descobrir como a sequência de falhas atribuíveis a Lelé e sua equipe se tornou um pré-requisito para a pesquisa construtiva do arquiteto é fundamental.
Lelé mostrou que, durante mais de 50 anos dedicados a promover a industrialização da construção no Brasil, os desentendimentos técnicos foram frequentes e decisivos em sua vida profissional. Os fracassos vividos pelo arquiteto durante a construção da Universidade de Brasília (1961-65) – um dos momentos mais significativos da pré-fabricação no Brasil – e depois, durante a ditadura militar (1964-85) – quando se envolveu mais sistematicamente com construtoras e engenheiros – formaram a base de sua capacidade de converter a falta de meios em desafios.
De certa forma, as decisões deliberadas do arquiteto em relação ao método operacional e às diretrizes práticas de sua obra podem apresentar desafios para o poder público interessado nas ações de preservação. Prova disso são os inúmeros edifícios em que os sistemas originais (cobertura, drenagem, ventilação, iluminação, etc.) foram parcial ou totalmente alterados. A questão que se coloca aqui não é se essas mudanças podem ter afetado a funcionalidade ou aparência do edifício, mas como o Instituto do Patrimônio no Brasil poderia aproveitá-las para (re)construir e validar o conhecimento construtivo do arquiteto e, portanto, compartilhar sua maneira de pensar e produzir arquitetura como um objeto técnico, percebida e executada como parte de um processo.

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Preservation challenges of Lelé's rationalized architecture in Brazil

This paper attempts to highlight key aspects around the preservation process of the work of the Brazilian architect João Filgueiras Lima (1932-2014), otherwise known as Lelé, in Brazil. In a moment when the National Historic and Artistic Heritage Institute (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN) decides to initiate the safeguarding of his buildings in Brasília, it seems pertinent to arise questions that trace back to the origins of his involvement with prefabrication. Therefore, finding out how the sequence of failures attributable to Lelé and his team became a prerequisite for the architect’s constructive research is paramount.
Lelé showed that, during more than 50 years dedicated to promoting building industrialization in Brazil, disagreements were rife and decisive at his professional life. The failures experienced by the architect during the construction of the University of Brasília (1961-65) – one of the most meaningful moments for prefabrication in Brazil – and afterwards – during the military dictatorship (1964-85) when he got involved with building companies and engineers more systematically – formed the basis of his capacity of converting the lack of means into challenges.
In a way, the architect’s combined attitude behavior towards operative-based method and practice guidelines may present challenges for the public power interested in the preservation undertaking. Proof of that are the numerous buildings where the original systems (roof, drainage, ventilation, illumination and so forth) were partially or totally altered. The question arising here is not whether these changes may have affected the building’s functionality, but how the heritage institute in Brazil could take advantage of them to (re)build and validate the architect’s constructive knowledge and, therefore, sharping his way of thinking and producing architecture as a technical object, perceived and performed as part of a process.

One of the major criticisms regarding the new Brazilian capital inaugurated in 1960 is that no plan was ever included to insert it into its regional context or to organize its urban expansion. While this paper is not entirely opposed to this criticism, it does, however, demonstrate that instruments and concepts current in the field of regional planning of the time had been put forward by scientific commissions since the late 1940s and found expression in resolutions and plans by Novacap for territorial organization and the distribution of public services for food supply, education and healthcare within the Federal District. The analysis focuses mainly on the way in which the satellite towns were conceived during the first years of constructing Brasília. K e y w o r d s : Federal District, Brasília, Pilot Plan, satellite towns, urban and regional planning

R e s u m o : Um dos tópicos da crítica à nova capital do Brasil inaugurada em 1960 é a ausência de um plano com intuito de inseri-la em seu contexto regional ou de organizar sua expansão urbana. este artigo não refuta por completo essa crítica, mas mostra que instrumentos e conceitos então correntes no campo do planejamento regional foram aventados por comissões científicas desde fins da década de 40 e consubstanciaram-se em determinações e planos da Novacap para organização do território e distribuição de serviços públicos de abastecimento, educação e assistência à saúde no DF. A análise atenta sobretudo para o modo como as cidades-satélites foram concebidas nos anos iniciais da construção de Brasília. P a l a v r a s-c h a v e : Distrito Federal, Brasília, Plano Piloto, cidades-satélites, planejamento urbano e regional.

The Brazilian Oscar Niemeyer is rightly acknowledged to be one of the great architects of all time – this is an almost universal appraisal. Controversies do exist, however, about specific aspects of his oeuvre. This book addresses one of them: the way the internal space of his designs relates to the space external to them, be it natural or constructed. The type of “skin” that clads the buildings varies, affording more or less passage between inside and outside (opening vs. closing), more or less visibility between interior and exterior (transparency vs. opacity). The pattern has changed with the passage of time: the older designs are more open and transparent while more recent ones tend to be more closed and opaque. What are the implications of this? How do people feel when they experience the alternatives? How should we assess the transformation?

A expressão cidade-satélite sinonimiza, dentre outras possibilidades, com expansão urbana controlada. Trata-se de um tipo urbanístico aplicado ao longo do século vinte como alternativa ao crescimento disperso das metrópoles. Núcleos urbanos, intencionalmente criados ao redor de uma cidade-mãe, foram inicialmente agenciados como pequenos assentamentos em áreas suburbanas, seguindo a preceitos da teoria Cidade-Jardim. Contudo, foi a partir da II Guerra Mundial que se disseminou por inúmeros países, nas mais diversas dimensões e configurações, tornando-se um dos principais instrumentos de planejamento urbano. Na teoria, além de reestruturar o entorno de capitais e grandes centros congestionados, tais núcleos pressupunham autossuficiência pela oferta de habitação, trabalho e serviços a seus futuros habitantes. No Brasil, sua prática se deu com Brasília e suas dezenas de cidades-satélites, implantadas para conter demandas habitacionais e, simultaneamente, assegurar a integridade do Plano Piloto. Hoje, um cinturão delas orbita o plano de Lucio Costa – de Taguatinga a Sobradinho, de Ceilândia a Gama – e caracteriza a ocupação esparsa do território distrital. Todavia, se a historiografia especializada reconhece e aborda apenas tais exemplares, o presente trabalho vem revelar a existência de uma outra constelação de cidades-satélites para fora dos limites do Distrito Federal. Cidades novas projetadas e criadas entre as décadas de 1950 e 1970 nos estados de Goiás e Minas Gerais com finalidade de dar suporte à nova capital no Planalto Central. Empreendidas pelo setor privado, à margem de políticas e programas públicos, estas cidades constituem-se num segundo cinturão no entorno de Brasília, voltadas à produção de bens alimentícios e materiais para construção civil. Uma história identificada a partir dos métodos pensar e fazer por Atlas, a fim de narrar um capítulo original na história do urbanismo brasileiro.

The Bus Station Platform of Brasília (1957), by Lucio Costa (1902-1998), stands out as a unique work in Brazilian architecture, whilst still underestimated. While Oscar Niemeyer’s palaces sit on a concrete slab that prevent direct contact with the ground, and the apartment buildings in the so-called superquadras (superblocks) are raised on Corbusean pilotis that keep the ground free, the Bus Station – located exactly at the two intersecting axes that give birth to the new Brazilian capital  - merges with the ground, shuffles the boundaries between architecture, landscape and infrastructure and turns out to be almost invisible, both in physical and historiographical terms.
Due to this rooting in the ground and its overall horizontality, the Platform builds an impressive and unmatched modern space, one that seems closely related to an automobile-oriented city and to a notion of landscape that is essentially American.
On closer inspection, however, it is not difficult to find traces of the colonial past of Brazil in the Platform. Particularly when we consider some urban operations that had a profound impact in the landscape of Rio de Janeiro, the former capital which served as administrative core of the Kingdom of Portugal for 13 years (1808-1822).
Our aim here is to explore the possible affinities between Brasília’s Bus Station Platform and infrastructure works related to Portuguese colonial policy in Brazil, from one side, and to a notion of landscape that was growing in the 1960’s in America, from another. To what extent have earthworks that shaped Rio de Janeiro’s landscape in its colonial period fueled the imagination of an architect such as Lucio Costa, and particulary the project of a key work for Brazilian architecture such as the Bus Station Platform of Brasília? To what extent this project reflects the apex and limits of the colonial logic in Portuguese America? And to what extent it recasts an American notion of landscape? Is the limited attention this project has received so far - specially in Northern countries – related to an Eurocentric approach of the Americas that remains rather unchanged? These are some of the questions this paper wants to address, while engaging in the call to rethink colonial and postcolonial cities and landscapes.

This dissertation employs a theoretical framework rooted in utopian studies to examine the role of utopia, dystopia, and related concepts in literary and cinematic depictions of Brasília and São Paulo since 1980. By centering the concept of utopianism, understood broadly as “social dreaming,” this project departs from idealized or mythologized representations of Brazil and focuses instead on hopeful imagination. Though national cultural production long reflected optimistic myths about Brazil and its territory, the military dictatorship of 1964-1985 heralded a turn towards pessimism and dystopian aesthetics. Brazilian artists of the current, democratic period negotiate these dual legacies in a predominantly urban society during an era of global skepticism about utopia. While references to Brazil and its cities as utopian or dystopian abound in recent criticism, this dissertation is among the first projects to analyze contemporary cultural production through the lens of utopian studies. Consequently, the primary objectives of this study include surveying the role of utopianism and correlated concepts in recent film and literature, identifying trends among the included works, and considering techniques used to evoke these concepts. My choice of focal cities facilitates comparative analysis of the influence of local history, culture, geography, and urbanism on utopian thought. Whereas Brasília remains closely tied to both utopian yearning and dystopia, critics rarely associate São Paulo explicitly with either concept despite the megacity’s simultaneous embodiment of wealth, dynamism, chaos, and division. The selected texts representing both cities most often respond to a shared baseline of disillusionment with cautious hopefulness. Allegorical and realist dystopian aesthetics remain influential, as does the limited, critical desire outlined in Haroldo de Campos’s theory of post-utopian poetry. Few texts embrace a fatalistic, anti-utopian outlook, while hopeful perspectives breaking meaningfully with the status quo are likewise uncommon. The Federal District is a more frequent site of radical utopianism as authors and filmmakers draw from Brasília’s history of revolutionary aspiration, whereas such ambition is almost entirely absent from the included works centered on São Paulo. Despite this divergence, however, texts using dystopia or post-utopia to critique specific social or ideological phenomena predominate among the included representations of both cities.

APRESENTAÇÃO À 2ª EDIÇÃO

Fui honrado com a publicação da primeira edição de O espaço de exceção pela Editora Universidade de Brasília, em 2002.
Esgotada a edição neste ano de 2018, o copirraite do livro, de acordo com o contrato então celebrado, reverte para mim.
Muita água correu embaixo da ponte desde a primeira edição, quinze anos atrás – novos temas pesquisados, outros livros publicados, enriquecedoras parcerias com colegas docentes e discentes desenvolvidas no âmbito do nosso Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília.
Ideias sobrevivem – talvez as basilares – outras foram ajustadas ao sabor de novos achados. É-me gratificante notar que O espaço de exceção continua a despertar interesse de professores, pesquisadores e alunos, no Brasil e no exterior. O trabalho tem uma dimensão temporal que facilita a sobrevivência: seu fulcro é uma análise histórica baseada em evidências empíricas de lenta superação. Quanto a Brasília, as ideias desenvolvidas posteriormente a 2002 somam-se às reflexões anteriores, mais que as contradizem.
O livro parece despertar a curiosidade ao trazer para a história da arquitetura evidência pouco abordada – como a configuração espacial dos assentamentos hopis, maias, zulus, ashantis... Entretanto, o interesse hodierno na obra reside mais nos aspectos teóricos e metodológicos que nos empíricos – ou assim me parece: a visão que o trabalho transmite, libertando a arquitetura de reducionismos comuns na literatura; a relevância da arquitetura para a sociabilidade,  ao incidir na “dança dos corpos” que estamos permanentemente a desempenhar: encontros e esquivanças, visibilidades e ocultações, nossos vultos a desenharem no espaço e no tempo padrões físicos prenhes de implicações sociais – uma face de nosso próprio modo de existir. Sim, a arquitetura importa na constituição das relações de poder.
Por isso, publico a segunda edição do livro, desta feita por minha editora (FRBH) e com livre acesso pela rede mundial de computadores. Não fiz uma revisão no texto, testemunho de como eu escrevia à época... Assim, a edição é similar à primeira, salvo pequenos ajustes nas ilustrações ou algumas substituições, usufruindo a possibilidade de imagens coloridas. Com muito gosto, torno amplamente disponível minha primeira cria bibliográfica...
Brasília, 10 de abril de 2018.
Frederico de Holanda

Brasilia supports its urban design on the architectural
quality of its buildings, fact that is always relevant to citizens in order to defend the value of their modern arcadia. There is a modern architecture for a modern urbanism. Here, we will approach the architecture projected for Brasilia by foreign architects, who contributed to increase the heritage in the landscape, the urban development and the architecture founded by Roberto Burle-Marx, Lucio Costa and Oscar Niemeyer, promoting the idea that, at least the Plano Piloto, would be designed by exceptional creators. The study of these projects, named the embassies of three European world powers and cradles of the modern universal movement, allows the simultaneous analysis of the modern movement’s evolution, including its depoliticizing that meant the jump to the American continent in the post-war period. This coincidence that is spatial, temporary and programmatically of three generations of modern masters (Costa and Niemeyer included), is the only case in South-America, comparable to the European experiences like it Hansa’s Berlin neighbourhood, headquarters of the Interbau of 1957, or the experimental neighbourhood Weissenhof in Stuttgart, made almost half century before, in 1927.

A obra da artista Marlene Godoy intitulada O Tarô de Brasília (1990) demonstra sua sensibilidade artística perante problemáticas inerentes à história e atualidades da capital federal. Muitos grupos espiritualistas se atraíram para a região com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de uma nova civilização e oferecer suporte espiritual ao centro das decisões políticas do país. A Legião da Boa Vontade faz parte deste contexto e recebeu a obra de Marlene Godoy em seu acervo. Para realizarmos a análise da obra, nos debruçamos sobre o Tarô em seu aspecto esotérico e sobre fontes disponíveis na LBV.
PALAVRAS-CHAVE: Tarô; misticismo; Brasília; Marlene Godoy.


The work of the artist Marlene Godoy entitled The Tarot of Brasilia (1990) demonstrates her capacity to respond to the problems inherent in the history and news of the federal capital. Many spiritual groups have attracted themselves to the region with the aim of contributing to the development of a new civilization and providing spiritual support to the center of the country's political decisions. Legião da Boa Vontade is part of this context and has received the work of Marlene Godoy in its collection. In order to perform the analysis of the work, we focus on the Tarot in its esoteric aspect and on sources available in the LBV.
KEYWORDS: Tarot; misticism; Brasilia; Marlene Godoy.

Este artigo se debruça sobre a obra da Marlene Godoy, analisando a sua visão a respeito de determinadas problemáticas de Brasília, o que inclui questões políticas, sociais, culturais e econômicas através do trabalho artístico: O Tarô de Brasília (1990). Para isso, utilizamos como fonte um caderno de guia turístico presente na Galeria do Templo da Boa Vontade que oferece informações sobre as cartas, que foi elaborado pela própria artista. No momento, escolhemos 11 cartas para a análise, pelo fato de a obra ser extensa e provocar intensas discussões.

O brasileiro Oscar Niemeyer é justamente reconhecido como um dos grandes arquitetos da história – o sentimento é quase unânime. Entretanto, há controvérsias sobre aspectos específicos de sua obra. Este livro considera um deles: relações entre o espaço interno dos seus trabalhos e o espaço externo às edificações, natural ou construído. Varia a natureza da “pele” dos edifícios, facultando mais ou menos possibilidades de passagem entre dentro e fora (abertura x fechamento), mais ou menos visibilidade entre interior e exterior (transparência x opacidade). Há certa tendência no tempo: projetos mais antigos são mais abertos e mais transparentes; mais recentes, são mais fechados e mais opacos. Quais as implicações disto? Quais as sensações das pessoas ao usufruírem as alternativas? Como avaliar a transformação?

El libro que hemos escrito colectivamente, propone comprender las [contra] narrativas patrimoniales de la monumentalidad histórica y nacional en tres ciudades capitales latinoamericanas: Santiago, Buenos Aires y Brasilia. Se parte de la premisa que la definición e instalación de la monumentalidad contiene en sí, idearios y utopías de la nación. Tarea que sabemos, ha sido históricamente privilegio del Estado y su institucionalidad, tendiendo así a una narrativa monolítica y excluyente de la ciudad ideal. Sin embargo, como podremos leer en cada uno de los capítulos, las ciudades y sus monumentos son también espacios en disputa, ya sea a través de la escritura, reescritura o la performance conmemorativa de sus formas resignificadas. En efecto, dichos artefactos culturales, porque se emplazan en el espacio público y sus formas son grandes y bellas, siempre detonan prácticas y representaciones sociales que los resignifican en su vocación primera. A través de su uso, celebración y conmemoración, los monumentos se visten y trasvisten de otros colores, marcas y utopías. Este libro, escrito desde miradas cruzadas, indaga justamente en este ejercicio de representación y subversión de las narrativas históricas contenidas en la forma monumental urbana y latinoamericanas.
En cada una de estas ciudades, veremos que existen lugares (locus) que guardan huellas de la historia que se quiere re-cordar y también olvidar. En todas ellas, los Monumentos Históricos y Nacionales constituyen el objeto y testimonio privilegiado de aquello que la Nación y los citadinos rememoran, y que se conserva porque en su corpus se encarnan verdades dignas de ser preservadas y narradas. Aquello que constituye patrimonio, aquello que pertenece a lo patrio, lleva implícito un ideal de ciudad, de nación y también de ciudadanía. Y aunque históricamente, ha sido tarea del Estado y su institucionalidad la definición e instauración del corpus patrimonial a través de su materialidad arquitectónica, veremos a través de la observación de estas tres ciudades, que siempre toda ideación e instauración de lo patrimonial y monumental, conlleva una disputa por su re-significación y re-escritura. Ello hace que los conceptos de patrimonio y monumento, no sean jamás unívocos, sino una construcción social compleja, de ideologías, prácticas y narrativas históricamente situadas.

Arquitetos um dia pensaram que do lápis brotaria uma nova sociedade. Nos anos 1970 o sonho acabou. A descoberta do equívoco golpeou pesadamente a teoria da arquitetura. Passado o choque, há que recuperar o tempo perdido: a arquitetura não cria por si só uma nova sociedade, mas afeta nossos modos de convívio.
Arquitetura & Urbanidade aborda relações entre espaço e comportamento. Revela atributos arquitetônicos adequados à qualidade de cortês, afável, à negociação continuada entre interesses, à democracia. Demonstra-o em várias escalas: região metropolitana de Brasília, uma pequena cidade, um bairro, residências unifamiliares.

A referência do livro, da primeira edição, é:
HOLANDA, Frederico (org.). Arquitetura & Urbanidade. São Paulo: ProEditores Associados Ltda, 2003. (ISBN 85-7165-016-0).

A referência do livro, da segunda edição, é:
HOLANDA, Frederico (org.). Arquitetura & Urbanidade. 2. Ed. Brasília: FRBH, 2011. (ISBN: 978-85-64222-04-5).

(Para outras informações, aquisição deste livro ou de outros livros do autor etc., visite o site www.fredericodeholanda.com.br)

É indiscutível que, entre todas as obras realizadas por Oscar Niemeyer em Brasília, os palácios da nova capital constituem marcos reconhecidos como patrimônio cultural e arquitetônico do país. O Palácio da Alvorada e os palácios da Praça dos Três Poderes são realizações de primeira ordem, sendo sucesso de público e de crítica, figurando em qualquer lista das principais obras realizadas por Niemeyer. Ao se estabelecer uma relação com a indústria da música, esses palácios estariam no topo da parada de sucessos, sendo os mais tocados e os mais reconhecidos pelo público. Essa consagração é confirmada até mesmo pelo próprio autor, que sempre procurou dar destaque para essas composições do que para outras, consideradas de menor importância. Por outro lado, as obras da Universidade de Brasília, que foram criadas dois anos depois do “lançamento” da nova capital, acabaram entrando para um universo mais underground, raramente citadas nos textos de seu criador, nas suas entrevistas ou palestras. Seriam, dentro da relação do mercado fonográfico, composições “lado B”. Esses edifícios, construídos em concreto pré-moldado e sem a estética palaciana de seus grandes hits em concreto armado, tem uma “pegada” absolutamente distinta, conferida justamente pela utilização industrial dos “instrumentos”, agora mais cadenciados e intencionalmente mais repetitivos, mas em nenhum momento deixar de levar em consideração a harmonia e o ritmo já característicos de seu repertório. Busca-se identificar, a partir de obras menos cultuadas de Brasília, semelhanças e diferenças de um sistema estrutural à brasileira, que privilegia grandes vãos, um menor número de apoios verticais e que tem como alvo uma maior qualidade e versatilidade dos espaços.

Ceplan (Centro de Planejamento Arquitetônico e Urbanístico) era o órgão da Universidade de Brasília responsável pelos projetos da nova Universidade nos anos 1960. O artigo aborda as questões construtivas do Centro e os aspectos que envolvem os interiores e a criação de seu mobiliário.

A presente dissertação de Mestrado é um estudo etnográfico sobre poliamor realizado com o grupo Poliamor Brasília – DF, inaugurado em julho de 2014, formado por sujeitos de faixa etária predominante de 18 a 25 anos, sem distinção de raça/cor e sexualidade. O objetivo de minha pesquisa visou responder ao seguinte questionamento inicial: o que são relações não-monogâmicas para poliamoristas e o que elas dizem a respeito de processos identitários e de conjugalidades no que se referem aos sujeitos de pesquisa? A partir dessa questão mais ampla, persegui aspectos pontuais pertinentes à temática do poliamor: há ou não amor romântico no poliamor? Há ou não estigmatização de suas práticas? Como se dão no grupo versões/perspectivas que congregam os/as poliamoristas? Quais suas diferenças e seus dilemas internos? Para a condução da pesquisa me baseei no método etnográfico, que consistiu em observação participante em espaços virtuais de debates entre os sujeitos membros do grupo, e encontros presenciais periódicos, organizados pelos mesmos. O trabalho de campo entre sujeitos poliamoristas permitiu reflexões sobre possibilidades de acionamento identitário no que diz respeito à dimensão do afeto e do amor. Assim, a etnografia que ora apresento permite vislumbrar algumas das estratégias mobilizadas por estes sujeitos no que tange à constituição de diversas formas de arranjos afetivos. Inclusive, propõem extrapolar o binarismo monogamia versus não-monogamia, tendo em vista que uma forma de relacionamento guarda elementos da outra e vice-versa.

Brasília has precedents that go much farther back in history than is usually acknowledged. The more common discourse on the Brazilian Capital has stressed the originality of Lucio Costa’s project, but this conceals its strong relations with places produced by other cultures far distant in time and space. This book reveals the same underlying logic of examples apparently as di-verse as a modern capital city – Brasilia – pre-Columbian ceremonial centers – as Tikal – Afri-can settlements of the Zulu culture – as the military “kraals” – and French Feudal castles. All are special places in the domain of the cultures that have produced them: they are exceptional spaces.

Brazil’s recent political, social and moral crisis has shaken the country’s democracy and affected its citizens’ belief and trust in the decision-making processes that impact their lives and cities. At the same time, a recent phenomenon happening in many cities around Brazil, and particularly in Brasilia, has given rise to new forms of citizenship. It has been through the reclaiming of public spaces, for social, cultural, economic or environmental purposes that social movements, community organizations and cultural producers have been creating new spaces and new means for action, experimenting with different collective forms of democratic governance and communal decision-making.
By appropriating, transforming and/or reclaiming public spaces for mutual benefit, different actors are engaging in the social practice of commoning, reclaiming their right to the city and redefining citizenship. In this context, this project proposes to leverage the existing initiatives by visualizing, translating, interpreting and representing them in what Teddy Cruz calls ‘tactics of translation’. Under these circumstances, this design proposal is a strategy for the democratic governance of public space. Through different scales, it is meant to reveal and connect the existing practices in order to coordinate and synergize their efforts; it translates and shares the found protocols to amplify and replicate these initiatives; it leverages the existing spaces of collective action as legitimate grounds for decision-making; and, finally, it provides means for a more inclusive and plural governance of public space. Reimagining public space and its governance is inseparable from reinventing the scope of democratic participation and control over our living context. These strategies are meant to gather voices and envision possible futures for Brasilia, designed by and for its inhabitants. It also encourages people to use public space and start caring for, reflecting on and demanding urban and social changes.

RESUMO As relações entre paisagem e patrimônio estão intensamente conectadas da concepção e implantação do Plano Piloto ao processo de acautelamento do conjunto de Brasília como bem cultural. Este trabalho propõe analisar as legislações patrimoniais referentes ao tombamento de Brasília a fim de verificar como a noção de paisagem cultural pode ser estrategicamente adotada na preservação da capital brasileira, portanto, contribui enquanto reflexão crítica sobre o conceito de paisagem cultural a partir do campo do patrimônio cultural. Quanto à bibliografia de referência, partimos dos principais documentos relativos ao processo de reconhecimento de Brasília como patrimônio cultural, destacando Costa (1989; 1991), Campofiorito (1990) e Peralva (1988). Mencionamos as cartas patrimoniais e recomendações internacionais reunidas em Cury (2004) e as legislações patrimoniais incidentes sob o Plano Piloto de Brasília, protegido em três instâncias: pela UNESCO, integrando a Lista do patrimônio Mundial, em 1987; por tombamento distrital pelo Governo do Distrito Federal (GDF), através do Decreto nº 10.829/1987; por tombamento federal pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), através do Processo nº 1305-T-90, regulamentado pela Portaria nº 314/1992 e pela Portaria nº 68/2012. Para discutir o caso do Plano Piloto de Brasília, especificamente, consideramos as noções de paisagem cultural ventiladas no campo da geografia por Ribeiro (2007) e Jucá (2005), bem como as considerações de Sant'anna (1995) e Leitão (2009) sobre preservação do patrimônio urbano. Brasília destaca-se como meio natural em que o homem imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão diversificadas, quanto aos usos, ocupações e dinâmica urbana, configurando-se como objeto que integra atributos arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos resultantes de sua configuração espacial. A cidade derivada do Plano Piloto transformou o espaço natural, principalmente através de movimentações de relevo, de modo a formar uma série de taludes, desenhando novos terraplenos no ambiente para que fosse hasteada. Do projeto à implantação, Brasília modificou não só o sítio natural, mas o modo de viver em sociedades urbanas. Além de exemplar de urbanismo singular, se constitui como produto do agenciamento do homem sobre a natureza, como paisagem planejada e evolutiva, a ser protegida através de gestão compartilhada e a partir de diferentes escalas de preservação.

Este trabalho analisa como o jornalista negro representa a raça negra nos telejornais de Brasília.
Por meio de um levantamento histórico busca-se entender como o negro está inserido na
sociedade, além de verificar historicamente os motivos que o levaram a ter um papel secundário
nos telejornais, principalmente nos cargos em que se faz o uso da imagem, como repórteres e
apresentadores. O que resultada numa representação inadequada da população, já que segundo
o IBGE, mais da metade da população brasileira é composta por negros. Para responder o
questionamento proposto por essa pesquisa, se fez necessário realizar uma análise de conteúdo
das matérias produzidas por duas repórteres negras, bem como entrevistá-las. Conclui-se, após
análise e entrevistas, que o negro não é bem representado nos telejornais de Brasília, não por
culpa das repórteres, mas sim pela ausência de negros em todos os cargos de uma emissora.

Em 1959, o Congresso Internacional de Críticos de Arte (AICA) foi realizado em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. O Congresso contou com uma sessão inaugural e mais oito sessões específicas, cada uma delas tratou de assuntos relacionados e pertinentes à mudança da Capital do Brasil, com a construção de Brasília. As sessões da AICA foram polarizadas por dois debates principais: um, sobre a pertinência do planejamento urbano adotado para se construir a Capital no centro geográfico do País; outro, sobre a atualidade ou anacronismo de se pensar as artes em termos de uma tendência para a síntese. Na sexta sessão, se tratou da relação difícil entre Artes industriais, arquitetura e artes visuais.

This document reproduces the Presentation, the Preface, the Contents, and the enunciation of the "commandments" of my book 10 Commandments of Architecture. For the moment, the book is available only in Portuguese.
The commandments address controversial issues on architecture: the concept itself; various modes of its production and their social implications; relations between architecture and social behaviour; conflicting social interests and their relations with the configuration of buildings and cities; distinctions between the fact produced and the intentions underlying them; architecture and the conception of place; two types of implications of architecture – syntactic (embodied in the configuration) and semantic (conventional, circumstantial, historical); the use of history; theories of knowledge.
In this book, architecture is a property of places that affects bodies and minds. It constitutes the life of people, their identity as social beings. It is one of our many faces. It results from the social and natural circumstances in which it is produced. Once ready, however, it pervades our life; it has practical as well as expressive effects in our ways of acting, sensing and thinking, sometimes unforeseen.

Em 2010, Brasília completa 50 anos de existência, de acordo com o calendário oficial, que data como sua inauguração o dia 21 de abril de 1960. Ainda hoje, as imagens evocadas para contar a história da capital são os grandes estandartes relacionados ao desenvolvimento, ao lado das bandeiras de integração nacional, democratização e modernização do Brasil. As personalidades primeiramente lembradas são os “grandes homens”, que encarnam, até hoje, o sentimento de vanguarda e pioneirismo que deram sentido à obra: o presidente Juscelino Kubitschek, o urbanista Lúcio Costa, o arquiteto Oscar Niemeyer. As características mais emblemáticas na descrição da cidade são a grandeza das suas construções, a arquitetura modernista, o feito de uma grande Capital ter sido erguida em meio ao árido cerrado, no centro do território nacional. No entanto, Brasília possui uma história prévia a sua inauguração, que conta sobre um país excluído dessas projeções ufanistas: o país das desigualdades regionais, do Estado repressor, da hierarquia social, da superexploração do trabalho.

O presente artigo apresenta sinteticamente as pesquisas para a Tese de Doutorado que se encontram em fase de desenvolvimento. Procuramos apreender a história de Brasília a partir de um viés utópico e imaginário, que considera os primeiros momentos de sua idealização, nos quais se destacaram os Inconfidentes em 1789 e o jornalista Hipólito José da Costa no ano de 1808, até o momento de sua inauguração, marcando profundas mudanças no decorrer da década de 60. A nova capital federal brasileira estimulou representações de cunho místico, e é intrínseco concebê-la como uma confluência de crenças advindas de diversos países, principalmente, do Oriente, que se manifesta proeminentemente no fenômeno New Age (Nova Era). Procuramos também mostrar que essa caraterística repercute até a atualidade, através de representações nas artes, nas festas populares e no turismo. As representações e o imaginário são o arcabouço que embasa as discussões teórico-metodológicas. A Nova História Cultural, advinda de um longo processo de intensos debates sobre a cientificidade da História e o seu trato com as fontes, possibilitou ao historiador uma nova ótica a respeito da cultura e impulsionou os estudos sobre religião. O conceito de "representação" se tornou central para compreender as diversas expressões culturais que insurgiram a partir da construção de uma nova capital no cerrado brasileiro.

Esse artigo, integrante de um extenso estudo em desenvolvimento sobre cidades novas implantadas no Brasil Republicano, traz à tona uma peça chave para maior compreensão da ocupação da hinterlândia brasileira. A partir de fontes primárias pesquisadas no Arquivo Nacional em Brasília e de literatura específica, almeja-se revelar os antecedentes e os anos preliminares de Aragarças e suas modernidades. Implantada em Goiás, na divisa com Mato Grosso, Aragarças foi fundada no ano de 1943 pela extinta Fundação Brasil Central (FBC), sendo a cidade sua maior e mais importante obra física. Ao analisar o contexto histórico de sua construção, momento de consolidação de um governo autoritário e progressista (Getúlio Vargas e o Estado Novo), que corroborou fortemente para as ações e produções da “Marcha para o Oeste” (1938), destacar-se-á a importante atuação de personagens, como: João Alberto Lins de Barros, Archimedes Pereira Lima, José Hidasi e Helmut Sick, para a concretização de uma urbe moderna em pleno sertão. A cidade nova, do ponto de vista da arquitetura e do urbanismo, destaca-se por levar ao Brasil Central referências da escola modernista carioca, que mais tarde refletir-se-iam na concepção de Brasília (1957). Igualmente, a aproximação entre Aragarças e Brasília se faz aqui possível – “pensar por atlas” – ao entender a cidade goiana e seus atores como elementos decisivos para a transferência da capital federal de uma região litorânea consolidada para um Centro-Oeste pouco significativo demográfica e urbanisticamente, em fins dos anos 1950.

Contents / Sommario

Brasilia. A utopia come true. 1960-2010 | Brasilia: un’utopia realizzata. 1960-2010
Davide Rampello

Brasilia: My capital, my younger sister | Brasilia, la mia capitale, la mia sorella minore
Maria Estela Kubitschek Lopes

Brasilia, a Utopia in flesh and blood | Brasilia, utopia in “carne e ossa”
Maria Elisa Costa

Brasilia, the (un)planned city | Brasilia, la città (non) pianificata
Alessandro Balducci

Brasilia Pilot Plan / Plano Piloto de Brasilia, 1957
La Memória descritiva del Plano Piloto di Brasilia, 1957
Lucio Costa

The Genealogy of the Plano Piloto | Genealogia del Plano Piloto
Martino Tattara

My Experience of Brasilia | La mia esperienza a Brasilia
Oscar Niemeyer

How Forms arise out of Nothingness | Come le forme nascono dal vuoto
Remo Dorigati

Roberto Burle Marx: the Aesthetics of Space | Roberto Burle Marx: l’estetica dello spazio
Lisbeth Rebollo Gonçalves

A Greeting to Art Critics | Saluto ai critici d’arte
Lucio Costa

A Capital on Trial | Processo alla capitale
Luigi Spinelli

Brasilia’s Open Spaces: Public Grandeur and Possibilities of Private Appropriation | Spazi aperti a Brasilia. Tra volontà di grandeur e possibilità di appropriazione
Antonella Bruzzese

Brasilia: Profiling an Image of the Modern | Brasilia: il profilo dell’immagine moderna
Rodrigo Queiroz

XIII Triennale di Milano, 1964 Brasilia Memorabilia
Mario Piazza

Brasilia Visual
curated by / a cura di Antonella Bruzzese, Gloria Pessina

Brasilia, Brasile: history of a capital | Brasilia, Brasile: la cronistoria della capitale
edited by / a cura di Luigi Spinelli, Antonella Bruzzese,
Gloria Pessina, Martino Tattara

Bibliografia
a cura di Luigi Spinelli

Ao nos colocarmos recentemente diante das imagens arqueológicas da Vila Amaury, dos resquícios da favela sob o lago artificial de Brasília, nossa memória foi ativada por vários outros silenciamentos do passado sobre a construção da capital. Essas recordações nos fizeram ver este afogamento não como um caso isolado, como poderia parecer, mas como uma recorrência e, talvez mesmo, como uma vocação planejada da cidade capital moderna.