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Corpo e Alma

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CORPO E ALMA

A DESCOBERTA DE SI
PLATÃO - DUALISMO PSICOFÍSICO
Platão afirmava que o ser humano é composto de um corpo físico
material, imperfeito e mortal, e de uma alma, imaterial, perfeita e imortal.
Não se pode pensar no ser humano apenas como um corpo nem apenas
como alma; ele é a ligação indissolúvel entre os dois. Precisaria, no entanto,
ser conduzido pela alma, que é onde residem a razão e o pensamento, para
que sua vida não se perdesse nas imperfeições do mundo físico. Essa teoria,
que considera uma oposição entre os atributos do corpo e da alma, é a base
daquilo que seria chamado depois de dualismo psicofísico. Uma vez
controlados os instintos e as paixões do corpo, a alma pode dedicar-se às
ideias.
ARISTÓTELES - ANIMAL RACIONAL E POLÍTICO
Aristóteles avançou nos estudos filosóficos sobre o ser humano. Desenvolveu
uma teoria na qual distingue os vários atributos da alma, sendo a razão o mais
importante deles, por ser encontrada apenas nos seres humanos. Definiu o ser
humano como um animal racional é um animal político.
Os gregos antigos afirmavam que o ser humano só pensa por meio da
linguagem, o que significa que pensamento e linguagem estão entrelaçados. Ao
afirmar que o ser humano é um animal racional, também Aristóteles quer dizer que
ele é dotado de pensamento e de linguagem.
Para designar tal característica, ele usou a palavra grega logos, que tanto
significa ‘razão’, ‘pensamento’, quanto ‘palavra’, ‘linguagem’.
SOMOS SERES SOCIAIS…
Dessa primeira definição decorre a segunda: se somos seres de
linguagem, se nos comunicamos com aqueles que são iguais a nós, então,
com eles compartilhamos a vida. Por isso somos seres sociais, seres políticos,
que não apenas têm necessidade de viver em comunidade, mas que só
realizam plenamente sua humanidade na vida política. A palavra política tem
origem no termo grego polis, ‘cidade’, e se relaciona ao modo como os gregos
conduziam a vida nas cidades, por meio de debates e discussões públicas.
Animal político, então, seria aquele que só consegue realizar seu potencial no
âmbito da pólis.
IDADE MÉDIA: O HOMEM E DEUS
Mais tarde, com a expansão do cristianismo, a filosofia esteve
estreitamente ligada à religião na Europa. A Igreja católica utilizava
argumentos filosóficos para reforçar os ensinamentos cristãos. O ser
humano era considerado criação e instrumento de Deus. Sendo
assim, o mais importante era conhecer aquilo que o criador espera da
criatura. A pergunta, então, não era “quem sou eu?”, mas sim “como
Deus quer que eu seja?”.
RENASCENTISMO
Entre os séculos XIV e XVI, a situação começou a se modificar. Era
a época do Renascimento, movimento que se difundiu na Europa e
que voltou a valorizar as qualidades humanas. Pensadores
renascentistas propuseram que o centro das preocupações humanas
deixasse de ser Deus (teocentrismo) e passasse a ser o próprio ser
humano (antropocentrismo), como forma de recuperar a “dignidade
humana”.
ILUMINISMO
A ênfase no ser humano marcou o Iluminismo (século XVIII),
movimento que reafirmou a capacidade da razão em superar as
adversidades do mundo. Podemos perceber a importância dada ao
conhecimento na Enciclopédia, uma volumosa coleção que visava
sistematizar todo o saber humano da época e que foi escrita com a
colaboração de inúmeros pensadores iluministas. Voltaire foi um dos
grandes entusiastas do progresso das ciências, das artes e do suposto
avanço da civilização europeia, acreditando que as luzes haviam
chegado para acabar com a superstição e o obscurantismo.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Com a Revolução Industrial do século XIX, ganhariam forma as
preocupações com a “desumanização” trazida pelas técnicas e com a
exploração do homem pelo homem na sociedade capitalista, como você verá
mais adiante. Assim, a razão ganhava uma posição renovada na filosofia,
sendo vista como necessária à crítica dos efeitos de sua própria aplicação.

Os avanços científicos nos séculos XIX e XX, especialmente com a formação


das várias ciências humanas, também trouxeram conhecimentos que
atribuíram novo significado às reflexões sobre o humano no campo da
filosofia.
o que há em nós que nos faz
humanos, tornando-nos singulares
em relação a todos os seres da
NATUREZA versus natureza? Em outras palavras: qual
é a natureza humana? Nessa
CONDIÇÃO HUMANA pergunta está implícita a ideia de
Na busca pelo sentido do humano, uma que existe uma essência humana
pergunta frequente é: que nos distingue, por exemplo,
dos outros animais, dos vegetais,
dos minerais, etc.
NATUREZA HUMANA
Existe natureza humana? - Luiz
Felipe Pondé

versus Disponível em:


CONDIÇÃO HUMANA <https://www.youtube.com/watch
?v=Lo-aC0q661A>.
ARISTÓTELES
Aristóteles ressaltou que os humanos são seres racionais – aquilo que lhes
caracteriza e lhes torna singulares é o fato de serem dotados de razão. Além
disso, se somos dotados de uma natureza humana, significa que já nascemos
com ela. O que fazemos ao longo de nossa vida é transformar em ato essas
potencialidades que carregamos desde o nascimento.

Observando as pessoas, filósofos procuraram evidências que poderiam


confirmar a realização de suas potencialidades. Para alguns, o ser humano se
distingue dos demais seres porque pensa, utiliza a linguagem e a razão, o que
o caracteriza como Homo sapiens.
Alguns filósofos, porém, não ficaram satisfeitos com nenhuma
das caracterizações de uma suposta natureza humana. Eles
afirmaram que o ser humano não é definido por uma
característica universal, ou seja, que esteja presente em todos os
seres humanos, em qualquer época e lugar. Segundo esses
filósofos, o ser humano deve ser caracterizado por aquilo que cada
um faz de si mesmo, de acordo com as realizações humanas no
mundo. Eles tiraram o foco da definição pela essência humana e o
colocaram na existência.
CONDIÇÃO HUMANA
Para saber o que faz de homens e mulheres seres humanos, e não outros
seres quaisquer, seria mais importante estudar a condição humana do que
uma suposta natureza humana.

Essa condição refere-se aos fatores históricos e sociais em meio aos quais
o ser humano vive e, sobretudo, às ações que ele exerce sob sua influência,
sendo capaz de produzir novas condições. Na ideia de condição humana não
há, portanto, uma noção determinada de ser humano, mas uma abertura de
sua compreensão, que está de acordo com a diversidade de nossas ações.
HANNAH ARENT
A filósofa contemporânea Hannah Arendt, por exemplo, compreendia essa
condição como o exercício do que ela denominou uma vita activa (‘vida ativa’,
em latim), que se desdobra nas três atividades humanas fundamentais: o
trabalho, a obra e a ação. O trabalho é a atividade do corpo humano, em seu
aspecto biológico. A obra é a atividade da existência, que consiste em
transformar a natureza e criar cultura. A ação é a atividade política, aquilo que
os indivíduos realizam entre si. A cada uma dessas atividades corresponde uma
condição humana. Ao trabalho corresponde a própria vida, pois ela é
necessária para a realização de todas as atividades. À obra corresponde a
mundanidade, na medida em que os seres humanos criam um mundo por
meio da cultura e é o mundo que possibilita a obra. À ação, por fim,
corresponde a pluralidade, pois ela é requisito para que a política possa ser
feita por todas as pessoas.
A condição humana é o que nos permite que, exercendo
uma vida ativa, sejamos humanos de fato. Contudo, ressaltou
Arendt, essa noção não explica, não define o que somos; ela
nos condiciona, ela nos mostra um horizonte no qual
construímos nossa vida, mas não nos determina de modo
absoluto, como uma natureza humana. Esta só poderia ser
conhecida do ponto de vista de uma divindade, de um ser que
estivesse acima dos humanos; já as condições humanas
podem ser conhecidas, proporcionando às pessoas o
referencial dentro do qual podem se mover e criar.
"Para evitar erros de interpretação: a condição humana
não é o mesmo que a natureza humana, e a soma total
das atividades e capacidades humanas que
correspondem à condição humana não constitui algo
que se assemelhe à natureza humana. Pois nem aquelas
que discutimos neste livro nem as que deixamos de
mencionar, como o pensamento e a razão, e nem
mesmo a mais meticulosa enumeração de todas elas,
constituem características essenciais da existência
humana no sentido de que, sem elas, essa existência
deixaria de ser humana".

ARENDT, Hannah. A condição humana. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. p. 11-12.
Hannah Arendt | A DEFINIR É LIMITAR!

Condição Humana Será que não há algo


prédeterminado em nós?
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v
=_SKPDnviX6o>.
KARL MARX
Marx concede um novo sentido a essas visões. Por natureza humana
entende-se aquilo de propriamente humano que se pode identificar em cada
indivíduo. São considerados, assim, os aspectos biológicos, anatômicos,
fisiológicos e psicológicos, que se expressam no aspecto material da vida
cotidiana. O pensamento marxista distingue entre uma “natureza humana
geral”, que são os aspectos invariáveis em toda a humanidade, e uma
“natureza humana modificada de cada época histórica”, constituída pelos
aspectos particulares de cada cultura e de cada sociedade em um período
histórico específico.
Para Marx, o ser humano muda ao longo da história e, no entanto,
permanece o mesmo. Isso porque ele considerava que o ser humano
constrói-se a si mesmo por meio do trabalho e, conforme se constrói, ele se
modifica. O trabalho, nesse sentido, remete a todo tipo de criação, produção
e transformação que o ser humano é capaz de empreender no mundo. A
construção de si é feita a partir de uma espécie de “matéria-prima”, que é o
próprio ser humano, e essa “matéria-prima” permanece sempre igual. Daí a
possibilidade de falar em uma natureza humana. Na medida em que, ao
trabalhar e transformar a natureza, o ser humano também se modifica, é o
trabalho que faz com que ele seja propriamente humano.

Em outras palavras: para Marx, os seres humanos produzem a si mesmos


por meio do trabalho. O trabalho seria, portanto, fonte de humanidade, de
humanização.
Por condição humana, nos escritos de Marx, entende-se a situação concreta vivida
por homens e mulheres, bem como as características que eles assumem em cada momento
histórico. Na sociedade capitalista do século XIX, Marx afirmava que a condição humana era
a alienação no processo do trabalho, ou o trabalho alienado.
O trabalho alienado é aquele cujo a partir da divisão dos trabalhos, o trabalhador não
conhece o processo geral do trabalho. Ele não tem condições de compreender como a
atividade que ele realiza se encaixa no processo de produção. Outro aspecto é que aquilo
que o trabalhador produz não pertence a ele, mas ao dono da fábrica. Esse aspecto é
essencial, pois revela o fundamento da alienação: a apropriação provada da produção da
riqueza humana. Sob essa ótica, o trabalhador perde sua "humanidade" no processo do
trabalho, uma vez que empenha parte dele mesmo naquilo que produz, mas esse produto
não pertence a ele.
O trabalho deixa de ser fonte de humanização e passa a ser, então, um processo de
“coisificação” do trabalhador; deixa de ser um processo de transformação da natureza e
perde a possibilidade de ser algo criativo, convertendo-se em um processo mecânico e
repetitivo. O trabalho já não é aquilo que faz do ser humano plenamente humano,
tornando-o um animal como qualquer outro.
PARA REFLETIR:
Defina com suas palavras:

O que é Natureza Humana?


E o que é Condição Humana?

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