Gracyelle Costa

A origem da política social no Brasil tem sido atrelada à Lei Eloy Chaves que em 1923 instituiu as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs) para ferroviários, três anos depois estendida a marítimos e portuários. O objetivo geral desta pesquisa é propor uma análise crítica sobre o surgimento da política social considerando as relações étnico-raciais gestadas na sociedade brasileira. Para tanto essa tese inicia com a afirmação de um possível protagonismo negro entre beneficiários da primeira política social no Brasil. Nega a política social de Eloy Chaves como aquela que inaugura esse modelo de proteção social, apresentando suas expressões afrodiaspóricas nas Américas e Caribe nos séculos XIX e XX. E, por fim, produz uma síntese sobre as possibilidades para o entendimento da política social brasileira como parte do projeto de nação que justamente objetivou eliminar o sujeito negro! Ou seja, os resultados desse trabalho demonstram o quão contraproducente é afirmar o protagonismo negro na política social brasileira oferecida pelo Estado, sem as devidas mediações. E que os sentidos da solidariedade e dos laços de proteção social criados e mantidos na Diáspora Africana nas Américas detinham sentidos diversos daqueles propostos pela política social institucional. Conclui que destacar a presença negra entre os “beneficiados” pela Lei Eloy Chaves (1923 e 1926) é importante, num país que apaga qualquer tipo de intervenção e resistência política de sujeitos negros. Entretanto, é preciso compreender as contradições que envolvem a própria política social, situando-a no tempo e no espaço. No caso brasileiro, considerar a emergência da política social e ignorar o projeto de nação e, por conseguinte, a racialização das relações sociais é no mínimo insuficiente. A pesquisa que resultou na presente tese se valeu de metodologia qualitativa, por meio de consulta a dados primários – jornais do início do século XX, imagens e documentação de arquivos públicos; e, secundários, mormente pesquisa bibliográfica nos campos da História Social do Trabalho, Antropologia, Sociologia e Serviço Social.

O artigo tem como objetivo apontar as contribuições contemporâneas da Educação Popular para a formação em Serviço Social e propõe um diálogo entre as produções de Paulo Freire, Frantz Fanon e bell hooks em prol de uma práxis cada vez mais comprometida com o antirracismo, a partir de uma metodologia de análise bibliográfica. A articulação move-se no sentido de abordar a relação entre a pedagogia da autonomia, a educação e o pensamento críticos como caminhos para a prática da liberdade e como princípios intrinsecamente relacionados ao projeto ético-político da profissão, enfatizando os elementos antirracistas que os compõem.

SILVA, Ana Paula P.; COSTA, Gracyelle. Serviço social e a formação profissional na perspectiva da educação popular: por uma práxis pedagógica crítica e antirracista. In: SCHEFFER, Graziela et al (Orgs.) Serviço Social e Paulo Freire: diálogos sobre educação popular. Curitiba: CRV, 2021, pp.129-144.

O presente artigo visa refletir sobre os desafios impostos pelas e para as universidades a partir da adoção de cotas raciais. Entre as principais inovações encontradas ao longo dos últimos 15 anos, temos o surgimento de novos modelos de organização negra, simbolizados pelos coletivos. Mais recentemente, foi criado, no âmbito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Coletivo de Docentes Negras/os da UFRJ, que visa produzir uma aglutinação política de enfrentamento do racismo estrutural e institucional na maior universidade do Brasil-uma das últimas a adotar medidas relativas ao racismo. Pretendemos dialogar com diversos campos teóricos, como autores decoloniais e pós-coloniais e teorias críticas, bem como com reflexões acerca dos movimentos sociais e teorias e abordagens das relações raciais.

From São Paulo and Salvador to austin, Texas, Black women experiencing homeless must confront transnational forces of violence, discrimination, and erasure to forge a life on the streets.

Magali Da Silva Almeida, Gracyelle Costa Ferreira, Christen A. Smith &
Michaela Machicote

To cite this article/Como citar este artigo: Magali Da Silva Almeida, Gracyelle Costa Ferreira, Christen A. Smith & Michaela Machicote (2022) Connecting Black Women’s Stories of Survival and Struggle, NACLA Report on the Americas, 54:3, 339-347

O objetivo deste trabalho é apresentar reflexões sobre a relação histórica entre política social, Serviço Social e eugenia no Brasil. Para tanto expõe brevemente como tal vínculo se expressou no início do século XX no Rio de Janeiro e alerta sobre suas possíveis repercussões para a atividade profissional de assistentes sociais no país no presente século. O resultado é parte de uma pesquisa de doutorado2 que recorreu a fontes primárias, jornais, legislações e informativos institucionais, e secundárias, sobretudo, bibliografia disponível no campo da História Social do Trabalho

Resumo: A população negra, sobretudo, mulheres, tem sido público majoritário no acesso a be-nefícios e serviços ofertados pela assistência social brasileira. Assim, o presente artigo é resultado da pesquisa que objetivou compreender a discussão das relações étnico-raciais e de gênero no interior do SUAS, a partir da análise do desenho institucional desta política e do serviço CRAS, além de pesquisa qualitativa junto aos profissionais da área (assistentes sociais e psicólogos/as).O objetivo é refletir sobre limites da transversalidade, a negação da dimensão racial pelos (as) profissionais em nome da "igualdade" e da reprodução de hierarquias de gênero nas famílias atendidas e sociedade. Palavras-chave Gênero; Raça; Assistência social; Política social e população negra; Serviço Social. Social assistance, the link between color and gender of those who need it

Abstract: The black population, especially women, has been the main public in access to benefits and services offered by Brazilian social care. Thus, this article is the result of the research that aimed to understand the discussion of ethnic-racial relations and gender within the SUAS, based on the analysis of the institutional design of this policy and the CRAS service , as well as qualitative research with professionals in the area (Social workers and psychologists). The objective is to reflect on the limits of this transversality, the denial of racial dimension professionals in the name of "equality" and reproduction of gender hierarchies in the families

O texto objetiva apresentar de forma sumária a agenda das políticas públicas brasileiras no enfrentamento das disparidades étnico-raciais e de gênero e na promoção de relações menos injustas nestes termos. O intuito é apresentar ao Serviço Social a relevância da incorporação deste debate como componente da intervenção profissional.

A população negra, com maior presença das mulheres negras, tem-se constituído como público majoritário no acesso a benefícios e serviços ofertados pela assistência social brasileira. A presente pesquisa objetivou compreender, a partir deste perfil dos (as) usuários (as), como tem se dado a discussão das relações étnico-raciais e de gênero no interior do SUAS – Sistema Único de Assistência Social, especialmente em unidades de CRAS – Centros de Referência de Assistência Social e em seu trabalho social em grupos com as famílias por meio do PAIF - Serviço de Proteção e Atendimento Integral às Famílias. Através da metodologia de caráter qualitativo realizaram-se entrevistas com os profissionais de nível superior (assistentes sociais e psicólogos) do CRAS de Teófilo Otoni-MG, a partir do qual se identificou como as identidades assentadas na condição étnico-racial e de gênero têm sido imersas na aqui chamada (in) visibilidade, pautada tanto na produção de estereótipos negativos envolvendo gênero e raça, quanto na manutenção de uma conduta monocromática que “ignora” o segmento negro em nome da “igualdade”, assim como tem-se a responsabilização da mulher pautada na reprodução de hierarquias de gênero no interior das famílias e sociedade. Uma pesquisa que aponta limites, mas que acredita em variadas possibilidades para se garantir uma política pública que preze de fato pela transversalidade da discussão de gênero e raça em seu interior e, primordialmente, aponte para uma visão não fragmentada acerca daqueles que da assistência social necessitam

O artigo se volta para a problematização da assistência social brasileira sob o viés alternativo da experiência das Irmandades Negras no Brasil Colonial e a transição deste modelo de proteção social horizontal para a assistência social estatal, assentada num viés autoritário e, em consequência verticalizado no trato de seus usuários (as), contexto na qual o Serviço Social teve importante papel.

This article goes towards the analysis around the transversatiliy of the ethnic, racial and gender questions on the Social Assistance policy, focused on Centro de Referência Social – CRAS.Faced withsituations ofextreme poverty and social vulnerability, black women overwhelminglyconstitute thepublic servedby this policy, confirmingstatisticaldata demonstrating theconfluence of thefactorsrace,andgenderinequalities.It also aims to expose and discuss how the institutional design of this public policy discusses forcefully (or not) these cumulative cycles of disadvantage.

O artigo se volta para a análise acerca da transversalidade das questões étnico-raciais e de gênero na política de Assistência Social, com foco no Centro de Referência Social-CRAS. Ante as situações de vulnerabilidade social e extrema pobreza, as mulheres negras constituem majoritariamente o público atendido por esta política, confirmando dados estatísticos que demonstram a confluência entre os fatores raça, gênero e desigualdades. Pretende ainda expor e discutir como o desenho institucional desta política pública problematiza de forma contundente (ou não) destes ciclos cumulativos
de desvantagem.

The article turns to problematic regarding the current face of the state in neoliberal times and its special action before the capital crisis contexts. It is at this juncture that the performance of the state apparatus retracts of their responsibilities before the public social policies and advances to "treatment" of detailed expressions of the social question, by authoritarianism and repression. To discuss this issue we will bring to the fore the relevance of the concept of Thomas Hobbes on the ideal model of State, the powerful and feared Leviathan.

O artigo se volta para problematização quanto a atual face do Estado em tempos neoliberais e sua especial atuação ante os contextos de crise do capital. É nesta conjuntura, que a atuação do aparato estatal recua na sua responsabilização ante às políticas sociais públicas e avança para “tratamento” das aprofundadas expressões da questão social, através do autoritarismo e da repressão. Para discutir esta questão traremos à baila a atualidade da concepção de Thomas Hobbes sobre o modelo ideal de Estado, o poderoso e temido Leviatã.

Resenha do livro "Famílias em território vulnerável: um
estudo sobre proteção social em grupos populares. Campos dos Goytacazes
(RJ)"  de Verônica Gonçalves de AZEREDO ( Essentia Editora, 2015).

Professora do curso de Serviço Social da UFF-Universidade Federal Fluminense e assistente social, Verônica Azeredo brinda o público com mais uma produção caracterizada por grandioso esforço teórico e sensi-bilidade. Fruto de sua tese de doutorado, defendida em 2012, o livro Famílias em território vulnerável: um estudo sobre proteção social em grupos populares conjuga em sua metodologia a articulação entre pesquisa bibliográfica e de campo, com ênfase na história oral. Um método arguto e ne-cessário neste caso, sobretudo, porque o esforço da autora se concentra em captar, no cotidiano de famílias e mulheres de baixo poder aquisitivo, os caminhos percorridos em direção à proteção social. Para tanto, toma o território um dos eixos centrais de sua análise e elege o bairro de Cus-todópolis, situado no distrito de Guarus, na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), como referência. Campos, atravessada pelo rio Paraíba do Sul, revela uma geografia peculiarmente simbólica. O lado do rio em que Custodópolis se encontra tem sido historicamente considerado sob o prisma da representação negativa e identificado como espaço de restrição de oportunidades e limitação no acesso a recursos como trabalho, políticas públicas, infraestrutura etc. Morar nesse território revela, portanto, sentidos e hierarquias construídas a partir do lugar e das relações de poder ali tecidas entremeadas por dimensões de gênero, étnico-raciais, de classe etc., que se expressam em um modo de ser e estar no mundo.

O objetivo deste trabalho é apresentar reflexões sobre a relação histórica entre política social, Serviço Social e eugenia no Brasil. Para tanto expõe brevemente como tal vínculo se expressou no início do século XX no Rio de Janeiro e alerta sobre suas possíveis repercussões para a atividade profissional de assistentes sociais no país no presente século. O resultado é parte de uma pesquisa de doutorado que recorreu a fontes primárias, jornais, legislações e informativos institucionais, e secundárias, sobretudo, bibliografia disponível no campo da História Social do Trabalho.