Audiovisual

En el ámbito de los estudios visuales y en el análisis cultural, las imágenes que organizan nuestras prácticas se modifican y nos modifican. Ese cambio permanente, constante y vertiginoso nos lleva a indagar y desentrañar cuáles son los móviles que provocan esas transformaciones. El movimiento y el tránsito también emergen en los procesos que conectan íconos o configuraciones gráficas. Las representaciones visuales se recuperan y resemantizan. De este modo, el tránsito acontece como un hilo conductor que enhebra sentidos de un período a otro, de una etapa histórica a otra distante. En este volumen reflexionamos acerca de aquellos procesos que interactúan en la conformación y circulación de las imágenes, vinculados a los recorridos urbanos, los registros de acciones, la transición de figuras en las artes plásticas, la fotografía, la literatura, las temporalidades audiovisuales, la comunicación visual, los espacios museográficos, los archivos, el género, la performance, los ritos populares o las alteridades culturales.

Gabriela Cleveston Gelain, gabrielagelain@gmail.com
Doutoranda em Comunicação e Práticas de Consumo
Escola Superior de Propaganda e Marketing

Daniel Zacariotti, danielzacariotti@gmail.com
Mestrando em Comunicação e Práticas de Consumo
Escola Superior de Propaganda e Marketing

Pensando as estratégias de audiovisibilidade (ROCHA, 2019) de Walter Mercado, primeiramente a partir do documentário “Ligue Djá, o lendário Walter Mercado”, lançado pela Netflix em 2020 e, em profundidade, a partir da página do Facebook Walter Mercado e de suas interações, o presente artigo visa discutir as possibilidades epistemológicas e um
olhar sobre a figura de Walter Mercado - tendo como ponto de partida o giro das ideias iconofágicas (BAITELLO, 2014) e iconoclastas (BESANÇON, 1997).
Acreditamos que a (re)apresentação de Walter Mercado no espaço documental e digital, perpassada pela quebra e reconstrução de símbolos religiosos, ou seja, pela
iconoclastia, possa gerar um processo de construção de conhecimento centrada na ruminação, seguindo Ferraz (2015). Desta forma, a partir da construção e agrupamentos de símbolos religiosos feita pelo astrólogo porto-riquenho, seria apresentado o que aqui chamamos de uma epistemologia performática iconoclasta, ou seja, uma performance que destrói realidades religiosas para construir um novo caminho de fé - voltando ao sentido de ruminação, uma fé
própria de Mercado.

1 Disponível em: https://www.facebook.com/waltermercadotv. Acesso 10/02/2021.

2 A iconofagia, como apresentada por Norval Baitello (2014), é o processo em que ora as imagens devoram os
sujeitos e ora eles as devoram, este processo acontece muitas vezes de maneira simultânea. A ideia é trazida
como apoio à discussão de proliferação das imagens e do abando do corpo em sentido de uma vida a partir de
imagens, uma existência nas imagens repetidas.

3 A ideia de iconoclastia, como apresentada por Alain Besançon (1997), remonta ao movimento iconoclasta
presente no século VIII, durante o Império Bizantino, que ficou conhecido por destruir ícones religiosos, em
especial católicos, após o distanciamento da ideia de Deus do mundo apresentado na Bíblia. Na
contemporaneidade, o conceito descreve a quebra de ícones - fugindo da exclusividade religiosa.
4 O termo (re)apresentação foi desenvolvido por Adriana Amaral, Camila Barbosa e Beatriz Polivanov (2015), o
conceito mostra a (re)apresentação como uma abordagem entre a apresentação e a representação. Um termo que possibilita o entendimento da realidade como apresentada e presentificada a partir de um outro olhar, redefinida, neste caso a redefinição acontece a partir dos objetos empíricos.

Além disso, ao observarmos o astrólogo, a ideia de quebra de ícones se faz presente também em relação às questões de gênero; existe uma reconstrução de uma performance de gênero própria a partir da quebra com normatizações. Em outras palavras, Walter Mercado
subverte as lógicas binárias de gênero a partir de uma performance ruminante. Também compreendemos que Walter Mercado e sua presença televisiva pode estar associada ao
conceito de “Ephemera” de Esteban Muñoz (1996).
Em sequência, também focamos na questão iconofágica, em outras palavras, o fenômeno exercido pela audiovisibilidade de Mercado em que existe um movimento contínuo de consumo das imagens pelos corpos e de consumo do corpo pelas imagens. Neste sentido, se daria uma desconstrução da incorporação em si - pensando a incorporação, no sentido trazido por Taylor (2003), como o espaço ligado às construções performáticas de saber, ou seja, o saber presente nas repetições e transmissões corpo-orais da sociedade.
Nesta lógica, aliando as duas ideias aqui propostas, Mercado, ou seguindo melhor, a (re)apresentação audiovisível de Walter Mercado no espaço documental e digital geraria um processo de desconstrução/reconstrução do sujeito a partir das imagens, em especial, de
imagens de gênero e religião. A iconoclastia e a iconofagia são usadas como armas de
construção de uma epistemologia a partir da performance; a partir de sua relação de
desconstrução e apropriação de ícones e do audiovisual em si, Mercado colabora com uma
nova prática de conhecimento centrada em seu corpo, na incorporação do audiovisual na
relação entre tela e sujeito.
Sendo assim, a partir da observação das imagens de Walter Mercado tanto no espaço
do documentário quanto da página do Facebook, acreditamos que seja possível pensar em
uma prática epistemológica, centrada na ruminação de ícones - através da iconoclastia e da
iconofagia -, exercida por Mercado.

Referências:
AMARAL, A.; BARBOSA, C.; POLIVANOV, B. Subculturas, re(a)presentação e
autoironia em sites de rede social: o caso da fanpage “Gótica Desanimada” no Facebook.
Lumina, v. 9, n. 2, 1 dez. 2015.
BAITELLO JUNIOR, N. A era da iconofagia: reflexões sobre imagem, comunicação, mídia
e cultura. Paulus, 2014.
BESANÇON, Alain, 1997. A Imagem Proibida: Uma História Intelectual da Iconoclastia.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
FERRAZ, Maria Cristina Franco. Ruminações, Cultura Letrada e Dispersão
Hiperconectada. Rio de Janeiro: Garamond, 2015.
MUNÕZ, José Esteban. Ephemera as Evidence: Introductory Notes to Queer Acts. Women
& Performance: a journal of feminist theory: Vol. 8, No. 2, pp. 5-16.
ROCHA, Rose de Melo. Críticas do audiovisível. RuMoRes, v. 13, n. 25, 13 jun. 2019, p.
50-65.
TAYLOR, Diana. The archive and the repertory: performing cultural memory in the
Americas. Durham: Duke University Press, 2003.

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